Por Passa Palavra

Na segunda-feira, dia 29 de Julho, o Partido Comunista Português (PCP) emitiu um comunicado (aqui) considerando que as eleições ocorridas na véspera na Venezuela «reafirmaram o apoio popular ao processo bolivariano» e saudando «o conjunto das forças progressistas, democráticas e patriotas venezuelanas», que teriam derrotado o «projeto reacionário, antidemocrático e de abdicação nacional». O Partido manifestou-se igualmente contra as «manobras de ingerência nas eleições da Venezuela» e acrescentou: «O PCP denuncia as ações internas e externas que visem pôr em causa a legitimidade, colocar em causa o processo eleitoral e os seus resultados, à semelhança do que se verificou em anteriores atos eleitorais por parte das forças de extrema-direita golpista». Para que não houvesse confusões, o PCP mencionou ainda a «vontade do povo venezuelano livre e democraticamente expressa nas urnas».

Este comunicado não difere de algumas outras proclamações de partidos de esquerda e de extrema-esquerda em vários países, nomeadamente no Brasil. São declarações muito úteis, porque mostram o tipo de sociedade que essa gente quer instaurar.

Porém, dois dias depois, o secretário-geral do Partido Comunista Venezuelano, Óscar Figuera, entrevistado por um jornal português (aqui), perguntou aos dirigentes do PCP: «Acham que conhecem a Venezuela melhor que nós?» Com efeito, o Partido Comunista Venezuelano conta-se entre as muitas forças políticas que duvidam dos resultados eleitorais apresentados pelo governo de Nicolás Maduro.

E as perguntas de Óscar Figuera continuam: «Sabem como os trabalhadores e os sindicalistas que reclamam os seus direitos são presos? Sabem que os sindicatos não podem realizar as suas eleições porque [Nicolas Maduro] interveio judicialmente, porque o governo não tinha possibilidade de vencer junto dos sindicatos? Se eles sabem que se está a destruir parte da Amazónia como consequência da forma como se exploram as minas neste país? Se eles sabem que não se respeita a Constituição nos processos [judiciais], e que se incrimina quem o Estado considera que está a cometer um delito político?…» E Óscar Figuera concluiu: «Vale a pena perguntar-lhes se sabem tudo isso. E em consequência, se o nosso “partido irmão” está a privilegiar a situação do governo da Venezuela na geopolítica e não vê o que se está a passar com a classe trabalhadora e o povo venezuelano às mãos de um governo burguês».

Para que não restassem dúvidas, o secretário-geral do Partido Comunista Venezuelano afirmou: «Sabemos que o PCP considera que a Venezuela está num processo revolucionário, que tem um presidente com uma política patriótica, o que não é verdade porque o governo está a entregar a riqueza do país às grandes empresas internacionais».

«Acham que conhecem a Venezuela melhor que nós?», perguntou o comunista venezuelano aos comunistas estrangeiros que defendem o regime de Maduro. Pela nossa parte, sugerimos-lhes que em vez de se limitarem a beneficiar do turismo político a expensas do regime bolivariano, emigrem para a Venezuela. Por que não vão para lá trabalhar?

A fotografia em destaque é de Marina Calderón.

2 COMENTÁRIOS

  1. “O PT saúda o povo venezuelano pelo processo eleitoral ocorrido no domingo, dia 28 de julho de 2024, em uma jornada pacífica, democrática e soberana. Temos a certeza de que o Conselho Nacional Eleitoral, que apontou a vitória do presidente Nicolas Maduro, dará tratamento respeitoso para todos os recursos que receba, nos prazos e nos termos previstos na Constituição da República Bolivariana da Venezuela. Importante que o presidente Nicolas Maduro, agora reeleito, continue o diálogo com a oposição, no sentido de superar os graves problemas da Venezuela, em grande medida causados por sanções ilegais. O PT seguirá vigilante para contribuir, na medida de suas forças, para que os problemas da América Latina e Caribe sejam tratados pelos povos da nossa região, sem nenhum tipo de violência e ingerência externa.”

    Nota da executiva nacional do PT no site oficial do partido
    https://pt.org.br/nota-da-executiva-nacional-do-pt-sobre-eleicoes-na-venezuela/

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