Por José de Sousa Miguel Lopes

Tirando a primeira década de independência, assistiu-se em Moçambique, nas últimas quatro décadas, a um progressivo aumento da pobreza (ver aqui). O país enquadra-se, certamente, na previsão feita recentemente pela revista The Economist que aponta para o aumento da lacuna econômica entre a África e o resto do mundo. Segundo a The Economist, até 2030 estima-se que os africanos representarão mais de 80% dos pobres do mundo.

Tentar sair desse empobrecimento, desse caminho perigoso, exige políticas radicalmente diferentes das adotadas até ao momento. Torna-se imperativa uma verdadeira mudança e a implementação de justiça social. Para o efeito, em momentos de crise tão profunda como a que está ocorrendo, Moçambique precisa estar atento e tentar se resguardar da onda ultradireitista que se está ampliando pelo globo. Com efeito, líderes populistas proliferam como cogumelos após forte chuvada, apresentando-se como Salvadores da Pátria. Alimentados por falsas narrativas, anunciam, com a maior desfaçatez, a eliminação rápida de todas as mazelas. No entendimento de Ferrajoli (2025):

Estamos assistindo a uma mutação do próprio capitalismo neoliberal, que até agora devastou a esfera pública e submeteu a política à economia, mantendo, contudo, a separação formal entre as duas esferas. O fenômeno Musk sinaliza uma involução adicional: uma espécie de regressão pré-moderna ao estado patrimonial da época feudal, quando a política não tinha se separado da economia como esfera pública acima dela. Hoje estamos diante do direto governo privado e, ao mesmo tempo, global de setores fundamentais da vida civil e pública. Como se trata de um governo privado, ele também consiste em um poder absoluto. Esfera pública, separação de poderes e direitos fundamentais são conceitos estranhos a ele e incompatíveis com ele.

A nova direita global, que tem uma visão imperialista, mas tem como líder não uma nação, mas um homem fabulosamente rico: Elon Musk. Trump será imperador por quatro anos. Mas o império de Musk está apenas começando, e durará muito mais. Se os liberais não souberem se unir, a Internacional reacionária poderá fazer da democracia uma curiosa recordação.

Em várias partes do mundo, governos progressistas assumiram o poder, mas sem possuírem uma estratégia clara para reconstruir suas sociedades a partir dos restos do neoliberalismo. Muitas vezes, não têm um programa político concreto capaz de superar tal regime de forma contundente. Incapazes de desenvolver uma política que rompa totalmente com o neoliberalismo, muitos desses governos progressistas voltam à imobilidade neoliberal.

Nos últimos cinquenta anos, durante o auge do Consenso de Washington, a maioria das nações mais pobres, como Moçambique, caiu em ciclos de dívida e austeridade, altas taxas de pobreza e profundo desespero.

É neste quadro que a extrema-direita se encontra em ascensão eleitoral no mundo. Sua máxima expressão, Donald Trump, ocupa o cargo mais poderoso do planeta. A direita passou a fazer intensa (des)educação política do povo. As forças progressistas perderam a capacidade de promover grandes mobilizações populares diante da falta de educação política do povo, da excessiva burocratização dos partidos progressistas, da perda de referências históricas. Essa extrema direita fala em nome do povo, mas não constrói políticas que ajudem o povo.

Quando esses partidos políticos chegaram ao poder, não romperam fundamentalmente com o consenso neoliberal, já que a maioria deles continuou a adotar as políticas de desregulamentação empresarial, austeridade social e compromisso com o mercado. Esses partidos não adotaram políticas fortes de protecionismo econômico e bem-estar social.

Essa extrema direita rompeu com o liberalismo social e com formas de libertarianismo convencional com sua religiosidade fortemente conservadora (antiaborto, antifeminismo, homofobia e transfobia) e tradicionalismo geral (seu enraizamento na família nuclear patriarcal e na Igreja, que se transpôs para uma crença no forte líder masculino na sociedade).

Essa extrema-direita, com muita frequência, assume carácter fascizante. Saliente-se que a palavra “fascista” assumiu uma carga moral, que é útil para fins eleitorais, mas não para entender adequadamente a extrema direita. Essa extrema direita não apareceu, como o fascismo fez cem anos atrás, para derrotar as lutas da classe trabalhadora e o movimento comunista, nem tem qualquer problema com as instituições formais da democracia. Tanto os fascistas italianos quanto os alemães queriam suspender os sistemas democráticos e eleitorais e usar todo o aparato repressivo do estado para dizimar o movimento dos trabalhadores e as instituições comunistas. Nenhuma ameaça desse tipo enfrenta atualmente o capitalismo.

No caso específico dos Estados Unidos, a eleição de Trump, um protofascista egomaníaco, como dirigente no país mais poderoso do mundo não pode deixar de ser um alento à ultradireita de todo o mundo, como se viu, por exemplo, no primeiro mandato quanto às relações entre Trump e Bolsonaro.

Daniel Chapo e Venâncio Mondlane | Fonte: Instagram

As débeis forças progressistas, acuadas pelo fundamentalismo religioso, sobretudo, de Venâncio Mondlane, dotado de inegável poder eleitoral, ainda não sabem como enfrentar esse desafio. Um governo que, a partir de agora, pretendesse seguir uma política progressista precisaria encontrar uma estratégia que se pudesse contrapor ao fenômeno do conservadorismo religioso, cujo impacto cultural e político é significativo. O eventual fracasso da extrema direita forneceria uma tremenda oportunidade para os progressistas — contanto que estivessem preparados para assumir a responsabilidade. Infelizmente, parecem ser poucas as esperanças para que os progressistas tenham condições de aproveitar essa oportunidade.

Em Moçambique estamos agora em presença de um conflito entre duas direitas: a frelimista, de Daniel Chapo e a personificada por Venâncio Mondlane, embora esta última seja uma clara extrema-direita

A juventude moçambicana e seus desafios

Vemos hoje adolescentes e jovens perdidos, que adotam ideologias que os fazem sentir que têm um lugar no mundo. Os poderes mais miseráveis manipulam-nos em relação às suas necessidades, à solidão e àquela falta de identidade, de saber quem é, de se sentir acompanhado, de pertencer a alguma coisa.

O eleitor em geral e os jovens em particular, desprovidos de consciência de classe, de relações corporativas (como as sindicais) e imunizados pelos impactos da grande mídia graças às suas bolhas digitais, buscam eleger quem lhes possa garantir um lugar ao sol na praia das oportunidades. Na falta de referências revolucionárias eles votam pensando, primeiro, na prosperidade individual, e não na coletiva.

Esses eleitores pobres manifestam seu inconformismo ao dar apoio aos que ostentam a bandeira da “antipolítica”. Decepcionados com os políticos tradicionais, preferem os arrivistas, os messiânicos, os que ousam contrariar o perfil da institucionalidade política e se glamourizam pelo histrionismo.

A juventude, que tem participado massivamente nas revoltas contra as políticas da Frelimo, está demonstrando seu justo e profundo descontentamento. Como silenciar a alta de desemprego, a fome, a ausência de perspectivas entre muitos outros problemas? Num quadro desta natureza, em que tudo se faz urgente, um perigo pode rondar a genuína vontade de mudança. A juventude moçambicana, com justa razão, apresenta-se bastante agressiva e impaciente. No entanto, como aponta o Editorial do Savana, um dos principais jornais moçambicanos:

A volatilidade da sociedade moçambicana é simplesmente impressionante: a obediência quase que canina com que cidadãos acatam ordens para a desobediência civil, resultando numa revolta de carácter violento de saque, mortes em massa e destruição de propriedade, é típica de um ambiente em que de tão descomandadas e desesperadas, as pessoas já não têm tempo nem espaço para pensar que o que estão a destruir hoje, lhes fará imensa falta no dia seguinte. A intensidade da violência contra seus semelhantes mostra um nível de desumanidade de pessoas que de tanto terem sido desumanizadas elas próprias, perderam qualquer grão de respeito pela vida humana. A manipulação pública, inerente a regimes de inspiração autocrática, só contribui para adensar ainda mais os níveis de violência. (Savana, 03/01/2025).

Neste cenário, será a juventude tão conhecedora das questões políticas, ideológicas, históricas e dos nebulosos meandros da situação que neste momento perpassa o tecido social moçambicano? Será que ela tem um mínimo de conhecimento sobre questões geopolíticas e como elas interferem ou podem vir a interferir no processo moçambicano? Será que ela sabe quem é Trump e Bolsonaro, ambos cultuados por Mondlane? Se não sabem é grave, mas se sabem é mais grave ainda. Conhecem o líder da extrema direita André Ventura, único dirigente partidário português com quem Mondlane se encontrou na sua campanha? E o argentino Javier Millei, o mais feroz defensor de Israel na América Latina? Ou então, ignorando tudo isso, entra de cabeça no anúncio que lhe fazem de que agora tudo vai mudar para melhor, sustentada no argumento de que “pior não pode ficar”.

Venâncio Mondlane e Daniel Chapo: os perigos do evangelismo conservador e da teoria do domínio

Presidente moçambicano Daniel Chapo | Fonte: Facebook

Os dois principais opositores na recente disputa eleitoral são evangélicos. Venâncio Mondlane é pastor e na sua campanha difundiu aberta e fortemente suas posições religiosas fundamentalistas (para mais informações sobre estas suas posições veja aqui). Daniel Chapo, que foi empossado no dia 15/01/2025 “escondeu”, durante sua campanha, seu lado evangélico. Ele pertence à IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), a famosa congregação do bispo brasileiro Edir Macedo. Só agora, na tomada de posse e nos dias subsequentes, decidiu revelar esse seu lado evangélico difundindo fotos onde aparece ajoelhado e orando e também participando em entrevistas onde manifesta sua filiação e suas crenças.

Sentindo-se acossado pela forte religiosidade do seu opositor Venâncio Mondlane e das multidões de apaniguados que o seguem, Daniel Chapo tenta mostrar que também segue os preceitos de Deus, afim de ganhar simpatizantes. Começou timidamente se ajoelhando entre muros, mas deve ter percebido que precisa de escancarar em público seu lado evangélico. Só que é uma luta desigual neste campo. Daniel Chapo está a lutar contra um pastor e seu vasto rebanho já consolidado e ele só agora descobriu que deveria copiar o pastor para tentar trazer para seu lado, alguns indecisos. Repito, no campo religioso, parece-me que para Daniel Chapo é uma batalha perdida.

Assim, o que parece estar a emergir em Moçambique é o evangelismo conservador, uma versão reacionária do cristianismo. O horizonte político moçambicano parece estar a dar os primeiros passos para mergulhar mais fortemente numa visão de mundo que se está espalhando por todo o planeta através das missões que as organizações evangélicas estadunidenses exportam para muitas partes do mundo. São mensagens populares apoiadas em agressivas campanhas de penetração em comunidades locais, através de redes sociais, rádios, televisões e publicações por onde difundem seu credo para dominar o mercado religioso.

Venâncio Mondlane | Fonte: Observador.pt

E agem com astúcia, combinando as tradições patriarcais com as agendas nacionalistas locais mais retrógradas. Querem restaurar um país e ordenar a sociedade segundo as leis de Deus. Isto se traduz em uma ênfase hierárquica da autoridade masculina e uma política baseada “na lei e na ordem”.

São pessoas que se opõem aos direitos de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais, ao aborto, à imigração, à redistribuição de renda e a qualquer tentativa de abordar as desigualdades sociais, pois apoiam sem rodeios o capitalismo de livre mercado. Também são muito propensos a negar a existência do racismo.

Além disso, enquanto muitos defendem a democracia liberal, o evangelismo conservador está cada vez mais inclinado a tendências autoritárias. Apoiam as lideranças fortes, mostram muito pouca preocupação com a supressão de direitos civis e acreditam que a violência política pode ser justificada se é para proteger sua visão do que deve ser um país. Venâncio Mondlane expressa, com clareza, sua posição quanto ao uso da violência política:

No dia 18/01/2025, uma das 25 medidas propostas pelo líder opositor Venâncio Mondlane para os primeiros cem dias de governação em Moçambique é mandar matar um polícia por cada manifestante morto. Recorre, assim, à Lei de Talião do Antigo Testamento: “Chamem-me agitador: o povo está sendo morto!”, afirma ele. (RODRIGUES. 17/01/2025)

Dominam com habilidade a tecnologia moderna para disseminarem mensagens e são incrivelmente acolhedores quando as pessoas entram pela porta de sua igreja desencantadas com um Estado que não lhes oferece qualquer resposta.

Os evangélicos oferecem um senso de comunidade e identidade a seus fiéis, em uma época caracterizada pela incerteza econômica e de mudanças culturais. São formados na crença divina da prosperidade, que promete sucesso aos seus adeptos, tanto neste mundo como no próximo.

Transmitem a ideia de que se alguém é “obediente” e busca a bênção de Deus, receberá sua recompensa na forma de felicidade pessoal e sucesso financeiro.

Misturam habilmente a caridade com a evangelização. Distribuem refeições gratuitas, elaboram programas extraescolares e oferecem ajuda individual à margem das políticas estatais contra a pobreza e a desigualdade. Venâncio Mondlane já participou nesse tipo de atividade.

Aproveitam-se da devoção de seus seguidores para se apresentarem como a única opção política realmente cristã.

Há uma grande quantidade de dinheiro por trás dessas igrejas, suas redes e organizações, que reúne destacados pastores que se aliam a bilionários para obterem elevadas doações privadas. Por outro lado, milhares de evangélicos em vários lugares do mundo, doam 10% de sua renda mensal para suas congregações.

E esse dinheiro é usado para pagar os pastores (que enriquecem de forma desmedida) e a toda a sua equipe de assessores, para construir edifícios, financiar missionários, comprar recursos educacionais e alimentar a divulgação. Além disso, as editoras evangélicas são um grande negócio. Os best-sellers evangélicos costumam vender milhões de cópias, apesar de serem bastante simples e de qualidade questionável. Os circuitos de conferências que organizam também são extremamente lucrativos, e a música e suas rádios se transformaram em indústrias com um gigantesco alcance.

O evangelismo faz emergir um sinal de alerta na defesa da democracia

No país mais poderoso do mundo, na tomada de posse de Donald Trump no dia 20/01/2015, podemos constatar como ele está rodeado de inúmeras lideranças religiosas. Com efeito:

“A bênção será dada pelo rabino Ari Berman, reitor da Universidade Yeshiva; pelo imã Husham Al-Husainy, do Centro Islâmico Karbalaa em Dearborn, Michigan; pelo pastor Lorenzo Sewell, da Igreja 180 em Detroit; e pelo reverendo Frank Mann, padre da Diocese de NovaYork”, observa a José Lorenzo (15/01/2025). O comitê inaugural de Trump também informou que o presidente eleito participará novamente dos cultos inaugurais na Igreja Episcopal de St. John, no centro de Washington, bem como de um culto de oração na Catedral Nacional de Washington. (IDEM).

Até mesmo em meio à guerra na Ucrânia se pode constatar como a força da religião evangélica consegue que promover alianças entre os inimigos que se digladiam no campo de batalha. Com efeito, após a invasão russa à Ucrânia, os Estados Unidos e a Europa encontraram-se na linha da frente da batalha contra a Rússia quando, até nessa guerra, existia uma forte aliança de interesses entre evangélicos estadunidenses e empresários russos ortodoxos. Algo similar acontece com a religião: a Internacional reacionária produziu alianças inesperadas entre religiões, não só dentro do próprio cristianismo — católico, ortodoxo ou neopentecostal — mas até estabelecendo acordos contingentes com o Islã, contornando na ponta dos pés a contradição de que muitos dos partidos europeus de extrema direita têm propostas claramente islamofóbicas.

Desde 2010, as instituições europeias registaram um aumento muito significativo na atividade de grupos de pressão religiosos. Igrejas e organizações confessionais realizaram mais reuniões políticas em Bruxelas do que grandes empresas como a Google ou a gigante do tabaco Phillip Morris. Os dados refletem a preponderância do cristianismo — que inclui católicos e protestantes — cuja capacidade de influência é apoiada por um sólido apoio econômico. O lobby da Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia (Comece) contava um orçamento de mais de um milhão de euros em 2019, segundo dados do Registo da Transparência da EU. (ALABAO, 2025).

Constata-se, pois, um espantoso crescimento das Igrejas evangélicas, cuja maioria de fiéis faz uma leitura salvacionista da Bíblia (pauta de costumes) e não libertária o que faz perigar as democracias. Os pobres estão optando pelas Igrejas evangélicas, nas quais encontram acolhimento e suporte social, inexistentes na maioria das paróquias católicas.

Os dois principais políticos de Moçambique, Daniel Chapo e Venâncio Mondlane, são ambos evangélicos, sendo o último pastor. No início do atual governo verificam-se sinais de que estes opositores começaram a dialogar. Nas questões religiosas, certamente, a sintonia será perfeita.

Face a essa sintonia, uma pergunta perturbadora não pode deixar de ser feita: estará se desenhando, a curto ou médio prazo, a edificação de um Estado Teocrático em Moçambique, à boa maneira iraniana?

Um Estado Teocrático ajuda a imposição ilegítima do controle político, diminui o espaço de liberdade que resta aos cidadãos. Com ele a Bíblia se sobrepõe à Constituição. Contra os mitos e a crença nos milagres ou aparições sobrenaturais, temos a ciência e a democracia. Saibamos usá-las em prol do pacífico convívio, sem perseguições e mentiras, santas ou seculares. Se a democracia ostenta defeitos, suas mazelas confessadamente têm origem em seres humanos que erram e podem corrigir seus equívocos. Com a teocracia nenhum limite obriga o governante, pois seus decretos são divinos. No fundo de todo teocrata dormita um totalitário. É tempo de aprender tal lição da história religiosa e política.

As forças progressistas, acuadas pelo fundamentalismo religioso dotado de inegável poder eleitoral, ainda não sabem como enfrentar esse fator que constitui o substrato cultural.

É preciso que se reaja a essa escalada bíblica, antes que tenhamos todo poder político tomado por pessoas terrivelmente evangélicas! Como reagir é a questão. Tendo em conta a aceitação que se deve ter pelo diálogo inter-religioso, pode parecer uma quebra de respeito à diversidade o combate a uma vertente religiosa específica. O caso reside no conhecido paradoxo: só não podemos ser tolerantes com os que desejam abolir a tolerância. Só não podemos abrir diálogo com os que pretendem abolir o diálogo, a diversidade, a liberdade. Faz-se necessário pensar estratégias de libertar a consciência do povo enganado e cooptado e denunciar e combater os falsos líderes que o exploram e oprimem.

Não menos importante é o crescente alastramento da chamada “teologia do domínio” que defende a subordinação das esferas pública e privada aos preceitos religiosos. É uma doutrina que prega a necessidade de os cristãos assumirem o controle sobre todas as áreas da sociedade, incluindo governo, educação e cultura, para implementar uma nação sob “princípios bíblicos”. Essa ideologia ameaça diretamente a laicidade do Estado e a diversidade religiosa, fundamentais em uma sociedade democrática. A adoção dessa teologia por líderes religiosos e políticos em Moçambique gera preocupações sobre os riscos de uma agenda que busca impor valores religiosos específicos a toda a população.

O papel da família, a essência da educação e o significado da liberdade, tudo é defendido numa perspectiva cristã. Apoiar candidaturas fundamentalistas que defendam pautas moralistas e antiestatais é algo fora do ordenamento democrático.

No Brasil, por exemplo, muitas igrejas incentivam os jovens a ingressar em cursos-chaves para ocupar posições de influência. O objetivo é contrapor o criacionismo “bíblico” àquilo que designam como “ensino ateu”. Pretende-se que os alunos que se envolvem nestes cursos se tornem palestrantes equilibrados, pesquisadores curiosos e defensores resilientes de uma cosmovisão bíblica.

Foto: Publico.pt

Os promotores do “legado cristão” defendem um Estado mínimo e o “autogoverno”, principalmente no que se refere à educação e à cultura (o que favorece o domínio da manipulação e doutrinação para as quais são treinados incansavelmente). Em sua maioria, são inimigos das políticas públicas, principalmente as que buscam o acolhimento e dignidade das minorias e a “diversidade”.

A “teoria do domínio” prega que os cristãos têm a missão de governar todas as esferas da sociedade — incluindo política, educação, mídia e economia — para estabelecer os valores cristãos como padrão universal. A execução dessa teologia ameaça o princípio do Estado laico e pode retirar os direitos de minorias religiosas e sociais.

O Salvador da Pátria como elemento central do Populismo

Entramos no século XXI como uma era sinistra, em que paixões de um escuro passado estão sendo mobilizadas novamente contra as forças da democracia de um modo diferente de tudo que vimos desde os anos 1930.

Os moçambicanos não estão imunes aos atentados conta a democracia e parecem sentir um quase vazio de poder, que possibilita o surgimento de líderes populistas que se apresentam como Salvadores da Pátria.

Uma coisa é dizer, com toda a justiça, que o “prazo de validade” da Frelimo terminou há muito tempo, outra coisa é receber de braços abertos qualquer aventureiro que aparece prometendo este mundo e o outro. Que Venâncio Mondlane fala muito bem, como muitos dizem, é evidente. Aliás, se o modelo de comparação for o último presidente do país, Filipe Nyusi, então Venâncio Mondlane é um génio da oratória. Mas não basta falar bem e fazer belas promessas. É fundamental fazer uma espécie de Raio X daqueles que se propõem ser os Salvadores da Pátria. Basta analisar um pouco a geopolítica mundial, sobretudo após a I Guerra Mundial nas últimas décadas, para encontrarmos dezenas de Salvadores da Pátria e populistas. Dois exemplos, entre muitos outros, de “salvadores da pátria” foram Benito Mussolini na Itália e de Adolf Hitler na Alemanha, nas décadas de 1920 e 1930.

Como sabemos, Salvadores da Pátria não existem. São como o Homem Aranha ou a Mulher Maravilha, maravilhosos nos filmes e desenhos animados, mas não fazem parte do mundo real. Neste ninguém colocou em risco a humanidade mais do que esses salvadores da pátria, cheios de verdadeiras ou supostas boas intenções.

Os que acreditam nesses facínoras, por ignorância e fé, são os maiores prejudicados. Os que realmente criam valor e oportunidades são transformados em bodes expiatórios e acabam sacrificados após serem difamados, demonizados e humilhados. Os salvadores da pátria querem mesmo é enriquecer e manter o poder. Esses aventureiros nada produzem, nada criam, não conseguem nem exercer suas funções mais básicas, porque estão preocupados em controlar o povo para espoliá-lo. Infelizmente, o povo não percebe como o sistema é perverso e ele é a vítima. Somente quando a situação chega num ponto ultrajante, alguns se revoltam e recomeça o ciclo.

Se o establishment hoje é o centro neoliberal, então certamente qualquer desafio a ele será populista.

Hoje, o termo populismo precisa ser ampliado para incluir alguns aspectos-chave, como a necessidade de aceitar o capitalismo como eterno, encolher os aspectos do Estado que fornecem bem-estar social e regulam os negócios, expandir o aparato repressivo do Estado para evitar qualquer desafio ao status quo e reconhecer a centralidade dos Estados Unidos como líder do sistema mundial.

Presenciamos o suporte crescente direcionado a um populismo de direita que vê a democracia liberal como um anacronismo. Os sinais são claros. Ao redor do mundo, indivíduos, grupos e políticos vomitam desordenadas incitações de ódio e intolerância, legitimando e apoiando abertamente o racismo, a homofobia e outras selvagens formas de nacionalismo.

O que tem surgido desse abismo do poder autoritário é uma atualizada versão da política demagógica e a normalização de uma maré de ignorância com naturalização da crueldade. Um resultado direto é o crescente apoio de um populismo de direita, que trata com ódio e desdém tanto os indivíduos privados de necessidades básicas para sua subsistência – incluindo moradia, alimentação e água limpa — como as populações imigrantes deslocadas de sua terra natal por conflitos e expropriações das forças globais do capitalismo.

O populismo de direita oferece uma noção pseudodemocrática de política, em que as decisões não são informadas por evidências e a ação coletiva desaparece diante do simbólico mito de um líder totalitário e poderoso. Nesse discurso, a política torna-se personalizada na imagem de um demagogo, sustentada graças à suposta ignorância das massas, tratadas como um verdadeiro “rebanho”. A emergência desses líderes da extrema direita pode ser exemplificada com a ascensão de Donald Trump nos Estados Unidos e de Jair Bolsonaro no Brasil. Mas também já podemos notar a capilarização desse fenômeno, com versões regionais e locais dessas figuras na política. Constata-se que se articulam perfeitamente com os evangélicos quase como se fossem irmãos siameses. Aí estão Daniel Chapo, mas, sobretudo, Venâncio Mondlane conduzindo os seus rebanhos em terras moçambicanas.

Promessas de benefícios e privilégios são a chave que denuncia o populista demagogo. Quando chegam ao governo, grande parte dessas lideranças se limita a propor mudanças do status quo centradas em políticas públicas. É o caso, por exemplo, das regras mais restritivas sobre imigração — como nas normas sobre pedidos de asilo, visto de permanência para trabalho, e a expulsão nas fronteiras. Ou seja, populistas usualmente são reformistas, não querem subverter o regime vigente.

Vejam-se algumas das promessas que Venâncio Mondlane já anunciou:

Imensa gente em Moçambique vê Venâncio Mondlane como o salvador da pátria. Ele acha-se um novo messias que, como Moisés a conduzir os hebreus através das águas apartadas do Mar Vermelho, fugindo do exército do faraó, vem libertar os moçambicanos do jugo da Frelimo para transformar o país na terra que mana leite e mel, em que ele vai construir três milhões de casas em cinco anos, uma linha férrea da Ponta do Ouro até Mocímboa da Praia, e criar uma linha de crédito de 600 milhões de dólares para os empresários e investidores que viram os seus armazéns e infraestruturas destruídos pelos “manifestantes” nos dias de Natal (VAZ. NPCTB, 13/01/2025).

Portanto, o problema das falsas promessas e da ameaça de líderes populistas esconde um problema maior e mais profundo que diz respeito à incapacidade das elites políticas e dos partidos tradicionais de satisfazer as demandas da sociedade, abrindo espaço para que discursos e atitudes populistas ganhem saliência. É o que está acontecendo agora em Moçambique. Segundo Costa (2025):

Mas o que vejo dele [Venâncio Mondlane] é um discurso populista primário, de instrumentalização do justo descontentamento em relação ao poder estabelecido, mas sem fornecer qualquer alternativa programática ou propostas objetivas. É um discurso comum a todas as variantes do fascismo dos tempos atuais que vemos eclodirem por todo o mundo.

Mesmo no interior do Podemos, partido com o qual Mondlane firmou um Acordo, os conflitos internos não demoraram a surgir e se apresentam de forma contínua. Nesses conflitos, a imagem de Mondlane revela um personagem pouco confiável. Para Albino Forquilha, líder do Partido Podemos que aceitou o ingresso de Mondlane no seu Partido: “Venâncio Mondlane violou reiteradamente, e de forma grave, os termos do referido acordo, em múltiplas ocasiões, desde o período da campanha” (MUSSANHANE, (06/01/2025, p. 2).

O problema está na decisão do Podemos de tomar posse no dia 15/01/2025 e Mondlane afirmar que o Podemos não pode aceitar tomar posse, porque ainda se está a lutar pela verdade eleitoral. Conforme o investigador do Centro de Integridade Pública (CIP), Lázaro Mabunda:

O Podemos diz que essa luta já se esgotou, porque os acordos do Conselho Constitucional são irrecorríveis, mas Mondlane está a dizer que não. Ele não está contra a tomada de posse, mas está contra a tomada de posse neste momento em que ainda se está a lutar pela verdade eleitoral. (MABUNDA, apud NÁDIA, 2025).

Na verdade, o que Mondlane deseja mesmo é ser Presidente da República de imediato. No entendimento de Vaz (18/01/2025):

E para atingir esse objetivo, vale tudo — se necessário, destruir infra-estruturas públicas e privadas, promover o caos nas cidades e vilas, apunhalar a economia, incendiar o país. Desde meados de outubro, já lá vão três meses, Venâncio, o messias moçambicano, o iluminado, tem conseguido provocar sucessivas paralisações em Maputo e em algumas outras cidades moçambicanas, causando muito mais do que incómodos pessoais passageiros, ele tem causado danos sérios à nossa economia.

Fonte da imagem: Youtube

Um possível e urgente caminho para a resolução dos problemas que Moçambique enfrenta

Para provocar aquilo que se designa por Transformação do Conflito é preciso que uns percebam o problema dos outros. Perceber — um exercício básico — não significa concordar. Significa, tão somente, recolher informação para ajudar as partes a resolverem os seus diferendos. É sempre bom lembrar que a paz se faz com o inimigo. Na opinião de Vaz (13/01/2025):

Sejamos, porém, optimistas, iremos ultrapassar esta tormenta que estamos a viver no nosso país, como já superámos outras. Apesar de salteadores mafiosos no poder, apesar de messias fascizantes a quererem substituí-los. Iremos curar as feridas e voltar a viver unidos. Com visões diferentes, mas com o mesmo amor pelo país.

O revolucionário africano Amílcar Cabral nos ensinou que o objetivo da libertação nacional é “a libertação do processo de desenvolvimento das forças produtivas nacionais”. Portanto, a formulação de uma nova teoria do desenvolvimento para o Sul Global, em geral, e para Moçambique, em particular, também é um retorno à origem de nossas lutas pela libertação do imperialismo e do neocolonialismo. É a partir do resgate dessas lutas que urge traçar o caminho para as aspirações de justiça social de Moçambique.

Como diz o ditado, “a arrogância precede a queda”. Quando se juntam apoiadores de salvadores diferentes, o resultado só pode ser catastrófico, mesmo. Quando a arrogância de apoiadores são reflexos do candidato, então, este só tem a perder. Não se desejam deuses inatingíveis no poder. Respeite-se o slogan “Não somos servos, somos povo”. Deseja-se na governança quem olhe para o povo como uma entidade merecedora de respeito e não como servidores fiéis.

São ainda milhões os que preferem a sensatez, o diálogo, a busca por soluções realistas, não fantasiosas. São eles os que rechaçam a política da vingança, que acaba arrastando a situação para o pior.

É compreensível a revolta dos jovens moçambicanos. A frustração tinha que ter uma válvula de escape, mas agora é preciso ir em busca de serenidade. É preciso um intenso e genuíno diálogo entre as principais forças em disputa.

É fundamental reforçar a educação cívica e a conscientização sobre os valores democráticos para impedir que visões teocráticas comprometam os direitos fundamentais de todos os cidadãos. Para muitos, o desafio está em equilibrar a liberdade religiosa com a necessidade de preservar um Estado laico e inclusivo, garantindo que nenhum grupo imponha suas crenças sobre toda a sociedade.

O vocábulo “sensatez”, oposto de insensatez, deve começar a aparecer, ainda que temeroso, na boca de quem prefere pensar numa solução viável da crise, que implique limar arestas, juntar ideias distintas, dialogar até à exaustão.

A célebre frase do pensador italiano, Giuseppe Tomasi di Lampedusa fez-me soar um alerta. Diz ele que “Algo deve mudar para que tudo continue como está”. Mesmo com esse alerta, eu desejo fortemente ser contrariado pela frase de Lampedusa. O povo moçambicano merece dias melhores.

Quando uma crise ocorre, as ações tomadas dependem das ideias circulando no seu entorno. Então, talvez a função básica seja desenvolver alternativas às políticas existentes, mantê-las vivas e disponíveis até que o politicamente impossível se torne o politicamente inevitável.

Um aspecto da maior relevância que deve ser observado numa democracia é a transparência. Se não fizermos um esforço para uma renovação, reinvenção e reinstalação dos valores democráticos, o que vencerá serão as trevas. Às vezes, as sociedades optam por cometer suicídio por ignorância. Há cinquenta anos ninguém dizia que a Terra era plana, o que aconteceu para que nos dias de hoje haja tanta falta de cérebro, tanto desespero?

E o que fazer com o desespero, com a sensação física do desespero? O que fazer quando parece não haver mais saída, que nada vai mudar substancialmente a situação em que nos encontramos, que nada pode ser feito? Segundo Franco Berardi, esta é a principal questão da política hoje. Mas uma política que vá além da política. Porque o desespero não vai desaparecer por decreto-lei, argumentos ou explicações. É algo do corpo, está ligado ao corpo, que contamina toda a alma, e a possui. Um desespero que se traduz em todos os lugares em agressão. A prepotência dos fortes — “nada é como antes” — transforma-se em guerra contra os mais fracos. E o desespero dos fracos procura retribuir, vingar-se.

Como é possível interromper uma psicose (um delírio) em massa? Ou seja, como escapar do contágio do desespero agressivo ou vingativo?

Esta é uma questão central de uma política que vai além da política, uma política que sabe ouvir e dialogar com os corpos, com o que acontece nos corpos e através de suas necessidades básicas, chegar ao espírito! Todos os que enlouqueceram fascinados pela linguagem do triunfo sobre o próximo, se farão a pergunta: Ganhar o quê? O mundo é controlado, manipulado pelo 1% de milionários e estes, teleguiados por 0,1% dos mesmos! Somente eles podem ganhar! A ilusão, como sempre, termina em decepção. Grandes expectativas levam a novas frustrações. A Esperança recaiu no Desespero. Um desespero que hoje, como no passado, dá um giro para a direita. É sabido que desesperados votaram massivamente em Trump, em Bolsonaro, em Milei: os humilhados, os quebrados, os arruinados, material e mentalmente. Não estaremos vendo em Moçambique um quadro semelhante?

Nossos tempos estão doentes com o “sim, é possível”. Diante do “querer é poder” como mandato da época que nos estressa e esgota, assumir a impotência como alavanca, comparar-se com o impossível e o trágico é algo perturbador.

Resignação? Radicalização do desespero, isso sim. A descrença em todas as consolações, nas ilusões voluntárias, nas promessas políticas. É possível imaginar um político que não peça a nossa ilusão, a nossa fé? Um político que diga “não é possível”, decepcionando crenças e libertando-se assim dos deveres?

Destruir a Esperança como expectativa e crença, para que as esperanças possam talvez ressurgir em letras minúsculas, como atividade e a partir do vazio. Somente no extremo do desespero, uma vez destruídas todas as ilusões, é possível reencontrar a esperança novamente.

Para finalizar, o grande desafio, para enfrentar a pobreza e a miséria visando um Moçambique verdadeiramente soberano, é unir as forças progressistas capazes de imaginar e lutar por um Moçambique no qual o fascismo neoliberal não mais exista e onde a promessa de uma genuína democracia se torne mais que um sonho utópico ou um discurso oportunista.

A situação do país apresenta tal complexidade que falar em forças progressistas parece algo fora do lugar. Claro que tem gente progressista, mas que, no momento atual está acuada, pois a onda da extrema-direita incute medo. Mas quando a situação se acalmar, quem sabe não vão começar a ouvir-se essas vozes?

Não haverá justiça social sem mobilização popular nem futuro em que valha a pena viver sem luta coletiva. É preciso tratar a questão da democratização do poder a sério, com esforços contínuos para desenvolver uma forte aliança republicana e democrática contra a aliança evangélico-populista.

Toda gente pretende saber, de imediato, quais os rumos que o país vai tomar. O que atrás apresentamos são apenas meras sugestões sobre o que deveria ser feito de acordo com nossos valores e nossa visão de mundo. Assegurar certezas num momento político tão complexo é algo que pode acabar no “reino das frustrações”.

Referências

ALABAO, Nuria. Internacional Antifeminista, uma radiografia In: Outras Palavras. https://outraspalavras.net/direita-assanhada/internacional-antifeminista-uma-radiografia/ (17/01/2025).

COSTA, João Vasconcelos. #15 – No Moleskine, “Europa 2025” e “Depois de Moçambique, Angola?”, mais as secções habituais. Por baixo da espuma. https://joovasconceloscosta.substack.com/p/15-no-moleskine-europa-2025-e-depois (04/01/2025)

FERRAJOLI, Luigi. Fascismo-liberal, também o espaço é privatizado. In: IHU – UNISINOS https://www.ihu.unisinos.br/647771-fascismo-liberal-tambem-o-espaco-e-privatizado-artigo-de-luigi-ferrajoli? (13/01/2025)

LORENZO, José. In: Religion Digital https://www.religiondigital.org/jose_lorenzo/ (15-01-2025).

LORY, Gregoire. Interferência de Elon Musk nos debates nacionais irrita a Europa. Euronews. In: https://pt.euronews.com/my-europe/2025/01/08/interferencia-de-elon-musk-nos-debates-nacionais-irrita-a-europa (08/01/2025).

MUSSANHANE, Sebastião. Comunicado de Imprensa. (06/01/2025).

NÁDIA, Issufo. Acordo entre VM e PODEMOS: “Não houve transparência”. In: DW África, 2025. https://www.dw.com/pt-002/n%C3%A3o-houve-transpar%C3%AAncia-nem-do-ven%C3%A2ncio-nem-do-podemos/a-71267996 (10/01/2025).

RODRIGUES, António. O Público, (17/01/2025) https://www.publico.pt/2025/01/17/mundo/noticia/venancio-mondlane-manda-matar-policia-manifestante-morto-2119194

SAVANA. Editorial. Maputo, (03/01/2025).

ST.CLAIR Jeffrey. In: Counter Punch. https://www.counterpunch.org/2025/01/10/roaming-charges-hurricane-of-fire/ (11/01/2025)

VAZ. Álvaro Carmo. NPCTB, 1/25, (13/01/2025).

_____________NPCTB, 2/25, (18/01/2025).

VIRISSIMO, Vivian. Cinco mais ricos do mundo dobram patrimônio em 3 anos enquanto 60% ficam mais pobres. Brasil de Fato. https://www.brasildefato.com.br/2024/01/15/cinco-mais-ricos-do-mundo-dobram-patrimonio-em-3-anos-enquanto-60-ficam-mais-pobres (15/01/2024).

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here