Por Sindicato Geral Autônomo de Educação do Ceará

Nesta tarde, 10 de junho, o justo salário foi pago aos trabalhadores da LDS, empresa que presta serviço terceirizado de limpeza à UFC (Universidade Federal do Ceará). Sem dúvidas, a pressão feita pela base foi indispensável para que o atraso não durasse ainda mais. Falta ainda o pagamento dos vales-alimentação e transporte. A certeza é que o SIGAE-CE (Sindicato Geral Autônomo de Educação do Ceará) continua lado a lado dos trabalhadores para cobrar o que está atrasado e avançar na conquista de direitos.

Ontem, 9 de junho, a paralisação se deflagrou pela manhã, envolvendo tanto o Campus do Benfica quanto o Campus do Pici. Os trabalhadores denunciaram que, mesmo entre os terceirizados, o setor da limpeza enfrenta muito mais atrasos salariais do que os demais. “A fatura do meu cartão venceu e eu tive que pagar juros por conta do atraso. Quem vai arcar com esse prejuízo?”, relatou um trabalhador.

Enquanto o SIGAE-CE buscava abrir canal de negociação com a Reitoria, foi informado de uma reunião às 14h entre a UFC e o SEEACONCE, sindicato oficial da categoria — que, segundo os próprios trabalhadores, não comparecia quando convocado por eles diante do atraso salarial deste mês. Apesar da manifestação unânime dos trabalhadores paralisados no Campus do Benfica em quererem ser representados pelo SIGAE-CE, por meio de uma comissão formada por dois terceirizados e um estudante, essa participação foi negada, e a reunião aconteceu apenas com o sindicato oficial. No entanto, a pressão da base garantiu a presença de dois trabalhadores terceirizados na reunião — algo raro até então.

Antes dessa reunião, os trabalhadores mobilizados junto ao SIGAE-CE foram alvo de diversos assédios por parte do sindicato oficial, que alegava que a paralisação era ilegal e que haveria retaliações. Um discurso típico de patrão, vindo de quem afirma estar a serviço da categoria. A legitimidade do SIGAE-CE em mobilizar os trabalhadores foi constantemente questionada — um claro ataque à liberdade sindical e ao direito dos trabalhadores de se organizarem como bem entendem. “No Brasil, há quem defenda que o trabalhador está marcado a ferro, tal qual um animal, a uma entidade sindical única. Isso é um absurdo!”, afirmou um coordenador do SIGAE-CE.

A reunião com a UFC terminou com o anúncio de que o pagamento dos salários estaria previsto para hoje (10) — o que foi cumprido. Os vales ficaram de ser pagos ao longo da semana e, até o presente momento, não foi confirmada pela base sua efetivação.

O SIGAE-CE reafirma seu compromisso com a base, estando disposto a fortalecer quantas paralisações os trabalhadores decidirem. Pois quem faz o trabalho acontecer é quem deve decidir — sempre.

Agradecemos toda a solidariedade emanada de norte a sul do país. Sabemos que não estamos sós. Mesmo diante de grandes forças, é o povo quem tem o poder de virar o jogo.

Basta de precarização dos trabalhadores terceirizados na UFC! Avante!

8 COMENTÁRIOS

  1. Lendo essa nota fica no ar a impressão de que existe um fortíssimo interesse desse ‘sindicato Autonomo’ em se auto construir e se auto afirmar. O tempo todo se citando, a faixa, blusas e a própria nota: será que foi escrita por um funcionário da limpeza da UFC?

    Não parece, visto que segue a mesma semântica dos informes da organização que dirige o referido sindicato autônomo.

    Parece mais uma demarcação.

  2. Interessante o comentário acima.
    Vejo essa mesma tendência em outros coletivos que se colocam enquanto ‘porta bandeiras’ em relação aos dilemas da terceirização. Que apesar do nome remeter à invisibilidade e à clandestinidade (a prova de como a linguagem, sendo um recurso estético, é traiçoeira!) transformaram a luta num verdadeiro ‘ted talk’, compondo mesas, falando em nome de trabalhadores e ‘ensinando como se milita’.

  3. Dois comentários muito interessantes. Me pergunto como será que esses coletivos tem acesso às informações internas das empresas e a situação que leva eles a lutarem. Me parece difícil que essas coisas ocorram sem a cooperação ativa dos funcionários (no sentido de romper a disciplina da empresa). Seriam os terceirizados pobres também em pensamento, iludidos pelos malvados organizadores de organizações?

  4. Respondedo à curiosidade colocada acima, não percebi e tampouco emiti, em momento algum, uma negação da participação dos trabalhadores no compartilhamento de denúncias e relatos. A crítica, em ambos os casos, vai em relação ao formato de hetero-organização assumido pelos coletivos, que dá a continuidade à lógica capitalista, além de gerar também situações de personalismo e hierarquização, através da formação de lideranças em meios que se colocam como autônomos.

    Mas há de se reparar, ainda, que militância não é um mar de rosas. Estive nesse meio e já vi assédio ao trabalhador na coleta de relatos por esses mesmos amantes da ‘enquete operária’. Truculência, ofensa e até xingamento. Quem diria!

  5. Lígia, se você espera um processo de luta sem personalismos e surgimento de lideranças, será que não é você que está com uma imagem idealizada da militância como um “mar de rosas”?
    Você traz alguns elementos que poderiam formar uma crítica concreta, mas corre o risco de só “jogar merda” se não os desenvolver. Qual é o seu objetivo?

  6. Lígia tocou em um ponto importante: a imposição de lideranças externas às lutas concretas. E esse é um problema oriundo da hetero-organização.

    É claro que qualquer processo de luta envolve o surgimento de lideranças entre os agentes envolvidos (além de personalismo, intriga, brigas, rachas, traições etc.) mas até que ponto é válido e legítimo enquadrar um processo autônomo de luta com faixa, cartaz, sindicato (basta usar o adjetivo ‘autônomo’ e fica tudo certo?), nota e linguagem alheios à categoria?

    A nota do Sindicato Autônomo é explícita ao expor a adesão à dicotomia DIREÇÃO X BASE. Acho estranho para um sindicato que se autoproclama como autônomo.

    Posso estar enganado, mas a impressão que dá pelas fotos, pela nota, pela linguagem, pelo vídeo do instagram é a de que a luta é um mero detalhe: o importante é afirmar o sindicato e sua direção.

  7. O SIGAE-CE é filiado à FOB, e por tabela filiado internacionalmente à AIT anarcossindicalista. É, portanto, parte de uma linha de atuação de “frente de massas” de um setor do movimento anarquista. Bastava uma pesquisa rápida na internet para descobri-lo, sem precisar de insinuação nenhuma. Já o SEEACONCE é filiado à CTB, o que pressupõe que em algum momento foi (não sei se ainda é) hegemonizado pelo PCdoB. A notícia evidencia duas coisas: uma conquista trabalhista simples por parte de uma categoria (sabendo que nem sempre o simples é fácil); e uma disputa por hegemonia e direcionamento das lutas dessa categoria, travada entre um grupúsculo anarquista e um partido dito comunista muito maior, e extremamente burocratizado. Como a disputa pela hegemonia sobre a categoria, por si só, diz respeito apenas à “contagem de base” entre aqueles dois grupos, cabe inverter a linha da discussão teológica e clerical dos últimos comentários para perguntar o óbvio: como a categoria tem aproveitado a disputa entre as duas organizações que querem hegemonizá-la para arrancar dos patrões alguma conquista concreta? É por essas “frestas” que se pode ver a extensão e os limites da autonomia das lutas diárias de uma categoria de trabalhadores, não com picuinha sobre nomes ou estilo de atuação de quem nunca se disse “autonomista”.

  8. O jeito que tratam uma organização de base (o SIGAE-CE) parece como se ele fosse um autômato que não é gerido por trabalhadores sem subvenções ou liberados. Que, inclusive, se organizam dentro de uma concepção industrial de sindicalismo, como dá para ver em sua carta de fundação. Onde só enxergam uma hetero-organização (o outro organizando os terceirizados), é possível enxergar uma organização industrial que rompe justamente com o corporativismo dos ofícios particulares ou frações específicas por vínculos trabalhistas (o caso dos terceirizados). O comentador Curioso foi bem assertivo quando provocou: Os terceirizados não tem agência? Eles não podem construir uma entidade como esta e chamar de sindicato? Uma entidade que tenha tais características que conquistem objetivos imediatos? E não é também do interesse deles afirmar um instrumento útil que tem sido deslegitimado em uma ação direta realizada?

    Não faria sentido estudantes acreditarem nesta abordagem por envolverem pessoas que enxergam que são fundamentais para o ambiente de estudo/trabalho onde estão inseridos? Inclusive vislumbrando, frente as inúmeras mobilizações estudantis falhas e insuficientes dos últimos tempos, que o caminho está em uma aliança destas?

    Sinto muito como se esvaziasse o caráter de classe de todos os outros sujeitos (estudantes, professores…), desconsiderando sua inserção industrial na produção capitalista no contexto educacional. Também sinto que existe um espantalho de acreditar que a organização, ao se autoproclamar autônoma, acredita que é imune a falhas. Claro que não! Isso é uma dialética constante entre autoridade e liberdade que está presente em todos os grupos, mesmo os que não se autoproclamam nada. Agora, o nome de uma organização tem sempre razões diversas. Táticas, estratégicas, místicas etc.

    Não querendo ser professoral, mas não é claro que a militância que atua em locais de trabalho vive nessa gangorra entre um “basismo” e um “elitismo”, na visão de Ademar Bogo? Isso não é surpresa para ninguém. Se existe uma base (um grupo social de trabalhadores), o que se critica é a legitimidade de uma entidade que cada vez mais se sustenta na legalidade para negociar pela base. É diferente do que uma abordagem autônoma, como a desta iniciativa, que busca sempre caminhar como expressão da base em movimento. Mas fico a pensar se isso não é óbvio. Esta entidade, dita autônoma, pode se perder e burocratizar-se? Sim! Como tudo na vida. O importante é não confundir o instrumento com o objetivo, para não perseguir velhas sombras ou largar algo que funciona por conta de fantasmas. Só quem não faz, não tem como errar.

    PS: Manolo, na internet da pra ver que a FOB solicitou pedido de filiação à CIT (Confederação Internacional do Trabalho) e não a AIT; e também que a sua estratégia é o Sindicalismo Revolucionário e não o Anarcossindicalismo. E isso tem sintonia com o SIGAE-CE que é uma entidade federada. Só isso mesmo. :)

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