Por Marcelo Tavares de Santana*
Entramos no mundo da sociedade do espetáculo inicialmente por vontade, criando perfis a serem exibidos na Web ou numa rede social, depois vimos nossos parentes e amigos cada vez mais nessas redes e começamos a entrar por necessidade de conexão, então começamos a entrar por trabalho e começaram os rumores de que era preciso ter uma rede social para não ser visto como terrorista, pois os EUA usavam como critério de avaliação, até que agora vimos esse mesmo país perseguir estudantes estrangeiros a partir de seus dados nas redes sociais. Esse é um cenário que foi previsto, mas que ninguém teve força de evitar, e quando um país exige o cumprimento de suas leis internas pelas chamadas bigtechs, tem sua soberania ameaçada, no caso o Brasil. Quem dera fosse somente uma ficção escrita por George Orwell chamada “2025”, mas nem precisou pois o livro “1984” continua muito atual.
Não estar numa rede social ficou cada vez mais difícil, pois muitos de nossos contatos foram para esses meios, em parte por conta dos benefícios das tecnologias que legitimamente proporcionam avanços no desenvolvimento da civilização, mas, também, muito porque esses contatos muitas vezes têm valor pessoal inestimável, que no mundo tecnológico é chamado de “dados pessoais”. Quanto mais dados pessoais tiver uma rede social mais potencial de atração de novas pessoas ela tem, e mais possibilidades de estudo desses dados pessoais eles têm, e a partir daí que começam os principais problemas que temos hoje. Vamos aqui tratar de alguns desses problemas, como forma de reforço conceitual que precisa ser explicado e difundido cada vez mais.
- Algoritmo bolha: no contexto das redes sociais, algoritmo bolha é o conjunto de funções tecnológicas que analisam as preferências de um indivíduo e empurra conteúdo correspondente a elas. Isso forma uma “bolha” informacional que reforça no indivíduo suas convicções, o que pode levar a perda de contato com argumentos e culturas diferentes das próprias, principalmente se o meio social prioritário forem as redes sociais.
- Seleção cultural: mesmo sem qualquer tipo de estudo sobre os dados dos indivíduos, uma rede social pode oferecer somente conteúdo selecionado conforme políticas da empresa que mantém a rede. É um fenômeno mais associado a serviços de stream, que são uma espécie de rede social onde colocamos nossas avaliações nos conteúdos e algumas vezes não podemos enxergar essas avaliações nem as relações sociais que estão todas mapeadas sem transparência.
- Estudos de marketing: com uma enorme quantidade de dados pessoais, onde os próprios indivíduos produzem, publicam e criam seus grupos, as mantenedoras das redes sociais pode estudar esses dados para gerar relatórios de mercado sobre preferências e tendências do público; certamente as bigtechs o fazem. Esses estudos podem ser vendidos ou utilizados para ações direcionadas nas redes sociais.
- Publicidade direcionada: a partir da análise de dados dos usuários, é possível empurrar conteúdo mediante pagamento. Inicialmente pensado como uma forma de publicidade de produtos, atualmente é amplamente utilizada para publicidade política. Esse tipo de publicidade é potencializado pelos estudos de marketing e pelos algoritmos bolhas, pois ao fortalecer as convicções de um indivíduo fica mais fácil conhecer seu comportamento e empurrar conteúdo com mais assertividade, aumentando a probabilidade de um produto ser comprado ou do conteúdo ser consumido e reencaminhado a outros indivíduos.
- Fake News: as notícias falsas são uma forma de disseminação de conteúdo que imita a técnica de redação jornalística para empurrar conteúdo não comprovável. Funciona dentro da perspectiva da publicidade nazista onde temos o mote “uma mentira contada mil vezes, vira uma verdade”; inclusive Jason Stanley, auto de “Como funciona o fascismo?”, não gosta da ideia de notícia falsa e sugere usar publicidade falsa. Portanto, fake news são ações de publicidade falsa, que pode ser direcionada ou não, onde se pode usar algoritmos bolhas, estudos de marketing e outras técnicas para potencializar tais falsidades.
Tem ficado praticamente impossível se ausentar das redes sociais, principalmente porque houve uma espécie de captura das nossas relações para dentro delas. Existem opções de serviços mais transparentes e as redes federadas públicas , também conhecido como Fediverso, onde os problemas exemplificados aqui tendem a não existir, mas o mais importante nesse momento de disputas de narrativas, onde o Estado Democrático de Direito é ameaçado, talvez seja a informação. Entender esses problemas é fundamental para que cada pessoa possa questionar o quê está vendo, buscar outras fontes para confirmação, não ser vítima de publicidade falsa, etc.
Neste texto, dei preferência a tratar de alguns problemas inerentes às redes sociais que acredito serem os principais para que sejam feitas discussões sobre como chegamos num mundo onde um estudante é perseguido numa democracia por ter sua própria opinião, por conta de assumir seus pensamentos num perfil em uma rede social que quase não teve opção de não ter; ter um perfil social é quase obrigatório no mundo digital. Os cibercrimes não foram abordados porque não foram considerados inerentes às redes sociais, as redes funcionam como apenas como novos meios de crimes.
Precisamos atuar para que cada vez mais pessoas entendam melhor as redes sociais, como funcionam (principalmente as bigtechs) para podermos mitigar um pouco esses problemas sem solução por autoridades. Tem alguma sugestão de tópico a ser abordado nessas questões? Deixe nos comentários.
Boa discussão a todos!
* Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de São Paulo.

Claramente, o texto acima, escrito como material didático, não adota um ponto de vista proletário. No entanto, o objetivo de proteger a “democracia brasileira” da interferência americana por meio das redes sociais é um tanto evidente. Recentemente, a Europa emitiu alertas sobre as tentativas do trumpismo de usar as redes sociais para estabelecer governos ultradireitistas desejáveis. Anteriormente, a influência russa nas eleições já havia sido sinalizada. Assim, a fragmentação do proletariado através das urnas é complementada pelo efeito individualizador das redes sociais. A consciência individual e a educação midiática são impotentes contra essa influência em massa através das redes “sociais”, mesmo que seja apenas por sua natureza difícil e demorada. A burguesia sabe disso e prefere a censura tradicional e a autocensura. Essa censura afeta principalmente as minorias revolucionárias proletárias e, quando combinada com as técnicas das mídias sociais, resultará em uma ditadura do capital ainda mais eficaz.
O proletariado não está interessado na luta interna entre os interesses capitalistas e imperialistas de seus exploradores e opressores. O interesse principal da classe trabalhadora em todos os lugares é compreender que deve se defender coletivamente contra os ataques do capital. Através dessa luta, a consciência de classe proletária, a organização independente e as condições para derrubar todos os Estados burgueses se desenvolverão. Só então haverá verdadeiras mídias sociais. Enquanto isso, assim como aprendemos a contornar a censura, aprenderemos a ver através e neutralizar as técnicas repressivas e de emburrecimento das mídias sociais.
(Translated by Deepl.com)