Por João Bernardo

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A derrocada do vasto movimento autonomista internacional pujante na década de 1960 e ainda na primeira metade da década seguinte levou à desagregação da convergência social operada entre a juventude universitária e o operariado fabril. O declínio da autogestão nas empresas e o repetido fracasso das suas experiências práticas generalizaram o desânimo e, deste modo, a Contracultura que caracterizara as revoltas estudantis perdeu o rumo, ou o destino último, que os trabalhadores fabris haviam assinalado e já não eram capazes de lhe indicar. Precipitou-se assim uma ruptura ideológica entre o meio estudantil e o meio operário, perceptível sobretudo na transformação do conceito de anticapitalismo.

Enquanto o objectivo das lutas fora a modificação das relações sociais vigentes nos processos de produção e enquanto os trabalhadores haviam conseguido esboçar na prática formas embrionárias de relações sociais inovadoras, o meio industrial apresentava-se como a base que permitiria superar o capitalismo ou, mais ainda, como a base onde o capitalismo estava já a ser superado. Anticapitalistas eram, então, aqueles que pretendiam ir além da economia existente; aqueles que, tomando-a como ponto de partida, estavam já a construir relações sociais que permitiriam suplantá-la. A súbita difusão de que beneficiaram os velhos textos da extrema-esquerda marxista e a instigante criatividade com que surgiram novas análises críticas mais ainda confirmaram essa perspectiva do anticapitalismo.

O declínio das experiências práticas autogestionárias, porém, e a diluição da convergência que ao longo de quase duas décadas havia aproximado a juventude estudantil do meio operário alhearam a Contracultura daquele horizonte do anticapitalismo. Foi este o factor decisivo na decomposição de um movimento ideológico que, aliás, desde início era difuso. O anticapitalismo deixou então de ser entendido como uma superação do capitalismo a partir das novas relações sociais estabelecidas pelos operários nas suas lutas, e passou a ser apresentado como uma recusa da modernidade, com tudo o que isso implicaria. Esta nova versão do anticapitalismo é o epitáfio assinalando o fim das expectativas que o movimento autonomista fizera surgir.

Paradoxalmente, pessoas que viviam em metrópoles onde a fome deixara de ser uma experiência generalizada e onde a esperança de vida atingia médias sem precedentes recusavam confortavelmente a totalidade de uma industrialização que permitira a superação das necessidades materiais mais prementes e fundara uma sociedade livre das preocupações de sobrevivência imediata. Marx e Engels, no Manifesto Comunista, haviam celebrado o progresso capitalista porque «submeteu o campo à supremacia da cidade» e assim «resgatou uma parte considerável da população do embrutecimento da vida rural», mas agora o anticapitalismo passava a ser sinónimo de uma rejeição do progresso. Já não se tratava de conceber outras vias de evolução para a sociedade industrializada, com base em novas relações sociais de trabalho possíveis de desenvolver. Tratava-se de repudiar em bloco toda a economia da prosperidade. A crítica à noção de progresso passou a ser um imperativo, o novo look do anticapitalismo. Mas ainda aqui prevaleceu a aura do progresso, porque não tiveram a coragem de se proclamar pré-modernos e preferiram denominar-se pós-modernos.

Uma vez mais, a arte antecipou realidades que depois se ampliaram, e convém saber que o termo pós-moderno nasceu na arquitectura, em oposição à estética funcionalista que resultara de uma tomada de consciência da civilização industrial. Aliás, se eu tivesse tempo e estivesse a escrever para um público diferente, assinalaria o facto de a primeira corrente estética nascida no marxismo e promovida por um marxista militante, William Morris, ter sido precursora dos pré-modernos travestis de pós-modernos. Não é curioso que assim como se encontra em Marx e em Engels uma noção de «nação revolucionária» que deve ser considerada antecipadora da «nação proletária» de Corradini e de Kita, se encontre também num artista marxista a antecipação do pós-modernismo? Bem fazem os guardiães da fé ao fingir-se distraídos.

Foi naquele meio social pós-moderno, formado por uma Contracultura em desagregação e por um movimento autogestionário em extinção, que ressurgiu a ecologia, enquanto forma drástica de recusa da modernidade.

Ora, a rejeição da modernidade em bloco pressupõe uma confusão entre tecnologia e técnicas. Uma tecnologia é um sistema global que, por assim dizer, materializa relações sociais genéricas. Por um lado, cada tecnologia exprime um dado sistema social e não pode ser transportada para um sistema diferente; por outro lado, uma tecnologia determina o carácter das técnicas que a integram e das relações que elas estabelecem reciprocamente. Não existe, porém, simetria entre a tecnologia e as técnicas, assim como não existe entre uma língua e as palavras que a compõem. Uma técnica pode ser retirada da tecnologia em que se gerou e que a inspirou e ser introduzida noutra tecnologia, passando então a obedecer às normas ditadas por esta nova tecnologia, que lhe impõem as formas que de então em diante irá assumir e as relações que irá estabelecer. Basta pensar na invenção da roda e no conjunto de domesticações que caracterizou a passagem para o neolítico, com a pluralidade de usos que desde então e até hoje lhes têm sido dados, para verificarmos a plasticidade das técnicas.

Essa plasticidade permite que as técnicas do capitalismo venham a ser usadas como instrumentos para a construção social de uma nova tecnologia e, portanto, para a fundação material de uma nova sociedade. Não se trata de edificar o socialismo com as forças produtivas tal como elas existem no capitalismo, ou seja, recorrendo à tecnologia capitalista. Trata-se de desenvolver e expandir as relações sociais geradas nos processos de luta nas empresas até que seja possível reorganizar as forças produtivas, reelaborando então as técnicas existentes e articulando-as numa nova tecnologia. O movimento autogestionário prosseguido ao longo da década de 1960 e na primeira metade da década seguinte começara a esboçar o uso de técnicas geradas ou desenvolvidas no capitalismo para fundar com elas uma possível nova tecnologia. Foram pequenas experiências, incipientes mas prenhes de possibilidades. Em suma, em vez de pretender uma inversão da História, pretendia-se ultrapassar o capitalismo.

Confundir as técnicas com a tecnologia e recusar as técnicas com o pretexto de que arrastarão consigo necessariamente toda uma tecnologia é um erro tão crasso que só pode entender-se como pretexto para encobrir qualquer outra coisa. A ecologia é uma forma de recusa regressiva do capitalismo, o que significa, se os seus promotores ousassem explicar as consequências do que defendem, que se voltaria a um estádio de tão baixa produtividade e de infra-estruturas tão precárias que ficaria dizimada uma parte considerável, se não a maior parte, da população mundial. Para empregar um neologismo que infelizmente se banalizou, a ecologia é genocidária. Decrescimento… Zero… Entenderam o que quer dizer?  Aliás, no mundo actual a fome generalizada, as epidemias crónicas e a baixa esperança média de vida só persistem nos países onde a indústria é escassa e a agricultura é arcaica e que, portanto, mais se aproximam do paraíso ecológico. Mas, obviamente, não é aí que encontramos defensores da ecologia.

Desde 1977 que a crítica à ecologia tem sido um dos principais eixos do meu trabalho, insistindo nas consequências económicas catastróficas que inevitavelmente decorreriam da aplicação de técnicas arcaicas. Numerosos especialistas prosseguem esta linha de argumentação sem que sejam refutados os números que indicam, e aliás os próprios ecológicos são os primeiros a esquecer as desgraças que previram quando a realidade os vem desmentir. As críticas ecológicas da economia industrial compõem-se de uma sucessão de calamidades anunciadas, nunca acontecidas. Pelo contrário, há a possibilidade de verificar na prática as consequências de uma introdução generalizada dos princípios ecológicos no Cambodja sob o regime dos Khmers Vermelhos, na segunda metade da década de 1970, e no Sri Lanka no início de 2021. Curiosamente, os ecologistas deslizam sobre estes acontecimentos como se eles não tivessem ocorrido. Mas não vou alongar-me sobre os absurdos económicos da ecologia, porque já os tratei com detalhe noutros escritos e nomeadamente no ensaio Contra a ecologia, publicado no Passa Palavra. Basta-me chamar a atenção para o assunto. Agora, no contexto de um movimento autonomista em ruínas, a questão principal que nos surge é a proveniência da ecologia, porque a sua génese histórica revela plenamente os efeitos trágicos da extinção do projecto autogestionário.

A palavra ecologia foi cunhada por Ernst Haeckel, e a celebridade que ele alcançou como biólogo não deve fazer-nos esquecer a linhagem política em que se inseriu. Depois de ter seguido a vertente mais explicitamente racista do darwinismo e de ter sido um entusiasta da eugenia, adversário activo das mestiçagens, Haeckel terminou a vida em 1919 nos meios políticos em que se gerava aquilo que em breve iria ser o nacional-socialismo alemão e injuriando em termos violentamente anti-semitas a república dos conselhos da Baviera. Quando Haeckel definiu que «a política é biologia aplicada» estava a iniciar um clamor que os seguidores de Hitler ecoariam literalmente mais tarde, ao proclamarem que «o nacional-socialismo não é mais do que biologia aplicada». Aliás, não deixa de ter lógica que a ecologia, fundada por um inimigo da revolução dos conselhos e precursor do nacional-socialismo, tivesse ressurgido sobre os escombros do movimento autogestionário.

Todos os fascismos promoveram, em tons variados mas com igual persistência, o mito do campesinato. Nem sequer parecia estranho que ao mesmo tempo que prosseguiam activamente a industrialização, quando não governavam até países muito industrializados, esses regimes assegurassem aos camponeses a primazia na arte e nos discursos. Presos à terra por raízes ancestrais, obrigados pelo trabalho agrícola aos ritmos rotineiros e aos grandes ciclos anuais, os camponeses seriam alheios à luta de classes moderna e constituiriam, afinal, uma fonte de estabilidade social e um esteio do equilíbrio político. Era este o mito. Mas era mais do que isso, porque as raízes que ligariam o camponês à terra uniriam de igual modo a humanidade ao mundo natural, que supostamente deveria manter-se alheio às inovações técnicas. Foi por este viés que o mito do campesinato serviu de fundamento à ecologia, que também ela supunha a existência de uma natureza que deveria ser preservada da acção da economia. Depois, várias percepções líricas dispersas foram concentradas e codificadas pela ecologia e contribuíram para lhe completar a imagem.

O nacional-socialismo germânico levou a formas extremas o mito de um campesinato enraizado na terra quando o transpôs para termos raciais. Blut und Boden, Sangue e Solo — estas duas inseparáveis noções formavam o âmago da ecologia nacional-socialista e continuam hoje, sob uma ou outra forma, a sustentar toda a metafísica ecológica. O nacional-socialismo destacou-se por promover uma noção mística da natureza, uma verdadeira veneração religiosa em que a natureza era entendida como supra-humana. A ignorância histórica era grande, porque nenhum grupo social, por mais rudimentar que fosse, teria sobrevivido sem exercer uma acção controladora sobre a natureza; ou, muitas vezes mais exactamente, uma acção contra a natureza, porque ela se revelava hostil, uma ameaça permanente exigindo uma defesa sem pausas. A natureza domesticada tinha de ser preservada dos perigos oriundos das áreas bravias. Mas o que interessava aos nacionais-socialistas era o mito, e nenhum mito assenta numa verificação histórica. São invenções destinadas a legitimar, não a explicar.

«Primeiro ecologista da Europa», foi como Léon Degrelle chamou mais tarde a Hitler. E Degrelle sabia do que falava, porque além de ter sido o chefe dos fascistas da Valónia atingira um posto elevado na hierarquia dos Waffen SS. Com efeito, as primeiras reservas naturais da Europa foram criadas pelo Terceiro Reich e em 1935, precisamente quando se promulgavam as chamadas Leis de Nuremberga, destinadas a garantir a preservação e a supremacia da raça nórdica, foi publicado um conjunto legislativo, de uma amplitude sem precedentes, com a finalidade de assegurar a preservação da natureza. A protecção da raça superior e a protecção da natureza obedeceram a uma inspiração única. O apoio dos ecologistas não se fez esperar, e em 1939 estavam inscritos no Partido Nacional-Socialista 60% dos membros das principais associações de protecção da natureza que haviam existido durante a República de Weimar.

Em Dezembro de 1942, quando os nacionais-socialistas mobilizavam o que julgavam ser a raça nórdica para escravizar o que julgavam ser a sub-humanidade eslava, o Reichsführer-SS Heinrich Himmler promulgou um decreto acerca da forma como o solo deveria ser cultivado nos territórios conquistados à União Soviética, onde se lê: «Os camponeses da nossa raça esforçaram-se sempre cuidadosamente por aumentar os poderes naturais do solo, das plantas e dos animais e por preservar o equilíbrio de toda a natureza. Para eles, o respeito pela criação divina é o padrão de toda a cultura. Assim, para que os novos espaços vitais se tornem uma pátria para os nossos colonos, uma condição prévia fundamental é o ordenamento planificado da paisagem, de maneira a mantê-la próxima da natureza». Qualquer ecologista dos nossos dias encontra aqui o espelho das suas convicções.

No cerne desta ecologia metafísica está a invenção da agricultura biodinâmica em 1924 por Rudolf Steiner, o fundador da antroposofia. Dez anos mais tarde a agricultura biodinâmica começou a ser promovida por Walther Darré, que em 1930 havia sido nomeado conselheiro de Hitler para as questões agrárias e se encarregou desde Junho de 1933 até 1942 do Ministério dos Abastecimentos e da Agricultura, além de ser Führer dos Camponeses do Reich e ter chefiado o Departamento Central de Raça e Colonização dos SS desde o final de 1931 até 1938 com a patente de Obergruppenführer, o segundo mais alto escalão dos SS. Um currículo ecológico! Mas Steiner e a antroposofia, embora contassem com apoios influentes no Partido Nacional-Socialista, deparavam também com a hostilidade de outras facções, e Darré, recorrendo à conhecida prudência de alterar o nome para não mudar o conteúdo, converteu biodinâmica em orgânica.

A agricultura orgânica foi a doutrina agrícola oficial do Terceiro Reich, e é elucidativo saber que os SS eram proprietários do Instituto Germânico de Pesquisa Nutricional e Alimentar, o empreendimento de agricultura orgânica mais vasto em todo o Reich e com maior sucesso comercial, situado junto ao campo de concentração de Dachau, onde a mão-de-obra era barata porque não precisava de ser paga. Aliás, houve vários outros investimentos dos SS na agricultura orgânica, e Himmler não estava a referir-se a outra coisa quando decretou que «os camponeses da nossa raça esforçaram-se sempre cuidadosamente por aumentar os poderes naturais do solo, das plantas e dos animais e por preservar o equilíbrio de toda a natureza». Falta dizer que ao lado do campo de Dachau o Instituto Germânico de Pesquisa Nutricional e Alimentar cultivava igualmente plantas pseudo-medicinais, já que a crença na eficácia das mezinhas é um dos artigos de fé da ecologia.

Os dados económicos são hoje abundantes e incontroversos, e também não escasseiam experiências práticas para mostrar a falta de produtividade da agricultura orgânica, mas isto pouco importava no contexto do metacapitalismo nacional-socialista, em que as decisões ideológicas, e acima de tudo o racismo, prevaleceram sempre sobre os interesses da economia. Os ecologistas actuais são os legítimos herdeiros deste metacapitalismo, porque subordinam igualmente os resultados económicos aos preconceitos ideológicos. O carácter regressivo da ecologia não poderia ser mais bem assinalado.

O movimento ecológico actual herdou a visão nacional-socialista da natureza, mas não sem um hiato no pedigree, porque a censura estabelecida após 1945 pelas potências vitoriosas, e entusiasticamente aplaudida por toda a esquerda, fez cair no esquecimento a complexidade ideológica do fascismo. Aliás, as autoridades ocupantes do que havia sido o Terceiro Reich mandaram destruir os manuais escolares onde estavam expostas as teses nacional-socialistas sobre ecologia e biologia. Esta ruptura de continuidade mostra que a pulsão de fundo do irracionalismo ecológico é suficientemente poderosa para criar de novo aquilo que fora deixado em suspenso. É certo que se mantiveram fios ténues. Os velhos fascistas, na discrição obrigatória em que sobreviviam, continuavam a reproduzir os seus ideais, e a ecologia era um deles. Mas o auditório era escasso e o eco era nulo.

Foi só na década de 1970 ou por vezes ainda nos últimos anos da década anterior, com a dissolução das esperanças autogestionárias e a desagregação da Contracultura, que começou a surgir nos países anglo-saxónicos e na República Federal da Alemanha uma audiência de esquerda para teses agro-ecologistas que até então haviam sido conotadas exclusivamente com o fascismo, e de lá se expandiram ao resto do mundo. Enquanto durou o activismo estudantil, animado pela autogestão operária, o ambientalismo não teve público. Depois, as luminárias da ecologia quiseram tudo menos recordar a génese das suas ideias e, infelizmente, os antifascistas actuais não lêem textos escritos por fascistas e querem proibir os outros de os lerem. De ambos os lados foi obscurecida a ligação da ecologia aos fascismos e sobretudo ao Terceiro Reich.

Ora, o vazio histórico em que a ecologia se apresenta torna-lhe mais fácil servir de lugar onde se cruzem os temas tradicionalistas herdados da direita radical e do fascismo clássico com certas preocupações surgidas na extrema-esquerda, e este cruzamento e o eco de cada um dos lados no outro têm constituído um processo gerador do fascismo pós-fascista. Há decerto casos em que partidos situados na extrema-direita não manifestem adesão à ecologia, mas então é no interior do próprio movimento ecológico que o fascismo ressurge, inevitavelmente gerado pela visão mística de uma natureza supra-humana. Assim, além de contribuir para a formação do fascismo por oferecer um quadro propício ao cruzamento entre os extremos políticos, a ecologia contém em si mesma, pela sua origem e pelas concepções que a definem, o gérmen de um fascismo. Ainda há poucos anos, durante a pandemia, foi sob a égide da ecologia que se encontraram todos os que recusavam as vacinas e demais medidas preventivas, juntando-se a extrema-esquerda delirante e a extrema-direita necrófila.

Na primeira parte vimos a possível relação entre a «nação revolucionária» e a «nação proletária». Na segunda parte vimos como a luta internacional do proletariado desarticulou as nações e o que sucedeu depois. Na terceira parte vimos como a guerra mundial de 1939-1945 fundou a consolidação geopolítica das «nações proletárias». Na quarta parte vimos uma nova vaga de internacionalização das lutas e quais os seus resultados. Em seguida, na sexta parte veremos como os identitarismos transportaram o fascismo clássico para um contexto geopolítico transnacional. Na sétima e última parte veremos as transformações internas sofridas pela classe trabalhadora e a crise terminal dos marxistas.

Referências

As citações de Marx e Engels encontram-se em Karl Marx e Friedrich Engels, Manifeste du Parti Communiste et Préfaces du «Manifeste», Paris: Éditions Sociales, 1973, pág. 36. A frase de Haeckel vem citada em University of California Museum of Paleontology , Ernst Haeckel (1834-1919) [s. d.] aqui e o lema do Partido Nacional-Socialista encontra-se em Edwin Black, War against the Weak. Eugenics and America’s Campaign to Create a Master Race, Nova Iorque e Londres: Four Walls Eight Windows, 2003, págs. 270 e 318 e também em Stefan Kühl, The Nazi Connection. Eugenics, American Racism, and German National Socialism, Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press, 1994, págs. 36 e 121 n. 39. A frase de Degrelle encontra-se em Léon Degrelle, Le Fascinant Hitler!, Klow, Syldavie: L’Étoile Mystérieuse, 2006, págs. 105-106. O decreto de Himmler está citado em Peter Staudenmaier, «Fascist Ecology. The “Green Wing” of the Nazi Party and its Historical Antecedents», em Janet Biehl e Peter Staudenmaier, Ecofascism. Lessons from the German Experience, Edimburgo e San Francisco: AK Press, 1995, pág. 16.

As ilustrações reproduzem obras de Bridget Riley (1931-        ).

6 COMENTÁRIOS

  1. Prezado, João Bernardo

    Se o conhecimento mais amplamente difundido tende representar os interesses das classes dominantes, principalmente através dos meios universitários, como entender que, sendo a ecologia um entrave ao desenvolvimento das forças produtivas, essa mesma classe dominante (a nível mundial, seja em países desenvolvidos, seja subdesenvolvidos) promove a ecologia (e identitarismo)? Nesse sentido, os facismos, não seriam, na verdade, uma forma, ainda que contraditória, de desenvolvimento destas mesmas forças produtivas, ou seja, no desenvolvimento desigual e combinado?

  2. José Manoel,

    Respondo muito resumidamente, porque estou em viagem. A ecologia tornou-se hegemónica nos departamentos de estudos sociais, e isto não incomoda as classes dominantes, porque afasta os estudantes dos problemas dos trabalhadores. Mas np âmbito científico e técnico os empresários agricolas investem tudo na agricultura moderna e produtiva. Só a produção de luxo, destinada à elite, é, ou diz ser, ecológica e orgânica.

    No caso do Terceiro Reich a ideologia ecológica foi aplicada contra a produtividade económica. Remeto para o que escrevi sobre esse caso no capítulo do Labirintos do Fascismo intitulado O Nacional-socialismo como Metacapitalismo. Do mesmo modo o caso do Cambodja sob o rehime dos Khmers Vermelhos. Mas quanto a isto, os ecologistas olham para o lado.

  3. Prezado João Bernardo, e como fica Donald Trump Donald, um político próximo ao fascismo, que “tem uma visão controversa sobre o aquecimento global, considerando-o “uma das maiores fraudes de todos os tempos”. Durante seu mandato, ele revogou mais de 100 regras ambientais, impactando as emissões de gases de efeito estufa, que são responsáveis pelo aquecimento global. Além disso, Trump retirou os EUA do Acordo de Paris, um tratado internacional que visa limitar o aumento da temperatura global. Sua postura e ações o posicionaram como uma figura polêmica no debate sobre mudanças climáticas, sendo frequentemente criticado por ambientalistas e cientistas (globo.com)”?

  4. José Manoel,

    Pelo mesmo motivo, vou ter de resumir muito. As iniciativas de Trump, nesta sua segunda administração, são contrárias à produtividade e ao desenvolvimento capitalista. Ele pretende beneficiar exclusivamente a indústria petrolífera e para isso cancela as energias renováveis, nomeadamente a eólica e a solar. Do mesmo modo, toda a sua política tarifária é contrária ao desenvolvimento económico.

    Quanto à questão climática, será bom recordar os ciclos seculares de aquecimento e arrefecimento, bem como os períodos muitíssimo mais longos, glaciares e inter-glaciares, que este planeta tem atravessado, mas esta seria uma conversa demorada.

  5. Citando um arquiteto/designer do grupo Other Forms:

    “Nossa geração de designers, se essa é de fato a voz que está falando aqui […] nós realmente descobrimos uma felicidade surfactante que pôde mesclar esses discursos , originalmente imisturáveis – Marx e Heidegger, Benjamin e Barthes – em uma borbulhante espuma Sloterdijkian? Ou. Se essas palavras são prédios e cidades, esses textos são ruínas? Talvez devam ser tratadas como os destroços empilhados sobre destroços que o anjo da história vê continuamente atirado a seus pés, mas quando, na próxima seção(alerta de spoiler!) ‘nós’ indentifiquemos com o Angelus Novus, de uma tão cowabanga, riders-on-the-storm e presunçosa forma, que elas parecem mais com as ruinás heróicas amadas pelas gerações de Românticos – Pegue qualquer caminho que você goste, de Hölderlin e Goethe, por Schinkel (e Albert Sperr, se você estiver se sentindo brutal), até Aldo Rossi e John Hejduk ou quaisquer sejam as luzes guias da falsa dicotomia sempre-verde do cinza versus branco, “pósmodernismo” é – então por absoluta catástrofe visto por um quebrantado judeu desenraizado, enfaticamente não-heróico e perseguido pela morte, que apesar de ter estado quase sempre em exilio correndo por sua vida, ainda conseguiu olhar para ambos, passado e futuro com brilhante lucidez.”

    No livro Super-Structures do Experimental Jetset de 2021, tradução livre.

  6. Engraçado que a sociedade do futuro comunista, idealizada por Willian Morris, é o retorno à Idade Média rural. Em seu “Notícias de Lugar Nenhum”, de 1890, a sociedade comunista, que estará por vir, é retratada como um conto de fadas, repleto de bucolismo romântico, em que os felizes cidadãos dessa fantástica sociedade, confraternizam-se em campos de trigo, se divertem em embarcações conduzidas por barqueiros no rio Tamisa, recebem buques de flores silvestres nas festividades e que esses venturosos orgulham-se da pouca tecnologia, o comunismo é a volta para a roça e para o artesanato. Só olhar para o universo do Senhor dos Anéis que verá a sociedade comunista de Morris. O regresso a natureza e a vida campestre, era composta por agricultura de jardinagem, por trabalho artesanal, pela inexistência de dinheiro e, aonde eram cidades, a velha Londres, os cortiços operários e as zonas industriais, abriu-se espaço para as árvores e a selva. A utopia comunista de Morris e o seu romantismo medieval influenciou a literatura fantástica do conservador Tolkien. O universo estético da literatura utópica do marxista britânico, é um esboço do mundo que os ecossocialistas querem para o futuro da humanidade, nada de novo, só velharias de um passado longínquo.

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