O New Deal transformava-se em War Deal: de um lado, o Estado realizava investimentos, concedia empréstimos etc.; de outro, lançavam-se as grandes corporações e os grandes capitalistas numa luta pelo monopólio dos mercados latino-americanos e suas matérias-primas. Por Fagner Enrique
A América Latina e o Terceiro Reich
O ponto alto da ameaça alemã à hegemonia continental americana foi o ano de 1937, quando “a Alemanha atingia o auge de sua ofensiva no sentido de açambarcar o mercado latino-americano” [1]. Em 1937, “a Alemanha tomava o primeiro lugar, isto é, o lugar dos Estados Unidos, como fornecedor do Brasil” [2] e “desafiava Washington, comercialmente, politicamente, em toda a América Latina” [3]. E, além da influência comercial, havia também a influência ideológica, que se mantinha relativamente forte, mesmo quando “os grandes países democráticos faziam um contra-ataque”, levando à diminuição da penetração comercial alemã [4]. “O nazismo não levantava a cabeça apenas na Europa”, escreve Pedrosa, “mas também na América Latina. A Alemanha era uma ameaça não só militar mas sobretudo política a vários países latino-americanos, à frente dos quais o Brasil” [5]. O Terceiro Reich brandia a arma ideológia e a intriga política como ninguém e explorava qualquer incidente político ou econômico que surgisse nas relações Estados Unidos-América Latina, os quais serviam para “abrir brechas” nessas relações [6]. Por causa disso,
a América Latina entrava no campo focal da visão norte-americana. As considerações estratégicas e políticas dominavam o pensamento na Casa Branca e adjacências. A América Latina era para Roosevelt e seus assessores, inclusive os estrategistas militares, um problema militar e político de defesa dos Estados Unidos, antes de ser um interesse econômico. Havia que preparar as defesas americanas nas fronteiras nacionais e nas fronteiras periféricas e extracontinentais. Havia também que livrá-las de todos os inimigos, potenciais ou reais. Toda e qualquer outra consideração devia estar subordinada àquele fim. Isso implica uma série de obrigações [7] dos Estados Unidos para com o resto das Américas abaixo deles: de ordem econômica, de ordem política [8].
Pedrosa faz menção a um inquérito, feito em 1939, em várias regiões dos Estados Unidos, sobre a política a seguir na América Latina em relação à guerra, o qual “traz respostas muito reveladoras dos sentimentos americanos” de então [9]: “o inquérito é organizado por Estados e em cada um deles um comitê o dirige. […] O de Des Moines [capital do Iowa] precisa: ‘Os Estados Unidos são vulneráveis pela América Latina. O Mar das Caraíbas é a nossa fronteira mais fraca’” [10]. Era preciso superar tal vulnerabilidade. Mas a prioridade mesmo era o Brasil. No mesmo ano, os Estados Unidos negociam com o Brasil, em troca da sua adesão aos Aliados, a construção da usina de Volta Redonda e outras coisas mais, pois, com o desenrolar do conflito, os Estados Unidos não teriam “outro caminho para alcançar o inimigo senão pela África, via Brasil” [11].
Era esse o preço do alinhamento. Os Estados Unidos, quer o fizessem ou não de boa vontade, teriam de investir, agora, nas infraestruturas necessárias à industrialização dos países latino-americanos: as chamadas indústrias de base [12]. Como não havia alternativa, foi o que fizeram. E, além disso, teriam de encontrar uma solução para os problemas dos excedentes de exportação latino-americanos, procurando facilitar as relações monetárias e cambiais com as repúblicas latino-americanas [13]. É então que começa uma nova “esquisita generosidade”, semelhante à da “orgia” de empréstimos privados dos anos 1920. Em Março de 1939, em conversações em Washington, o Export Import Bank “põe à disposição do Banco do Brasil uma soma que não devia exceder a $ 19 200 000, destinados a pagar saldos congelados devidos a exportadores norte-americanos” [14]. E mais:
Além do empréstimo mencionado, [os Estados Unidos] estudariam a possibilidade de outro crédito de cinquenta milhões de dólares, empréstimo a cinco ou dez anos para promover o desenvolvimento econômico do Brasil. Prometiam ainda, caso o Brasil o desejasse, pedir ao Congresso autorização para pôr à disposição do Governo brasileiro outros cinquenta milhões em ouro a serem pagos com a futura produção brasileira desse metal. Também se chegava a acordo para liquidar os fundos bloqueados e devidos a norte-americanos com inversões diretas no Brasil, no valor de dezoito milhões de dólares [15].
Mas tudo isso não parecia o bastante e
em setembro de 1940, o Governo [americano] consegue, vencidas as resistências privatistas no Congresso, remodelar o Export-Import Bank, aumentando-lhe a capacidade de crédito e autorizando-o a estender os créditos para além das exportações americanas, quer dizer, para financiar também o desenvolvimento da produção industrial da América Latina. Sintomático é que […] no mesmo dia em que Roosevelt anunciava a remodelação do banco, o Administrador de Empréstimos Federais, Sr. Jesse Jones, comunicava o acordo com o Governo brasileiro para explorar os depósitos de ferro do Brasil. Já é o empréstimo para Volta Redonda. É o primeiro financiamento que o Governo americano faz para fundar a indústria do aço em país estrangeiro e não para americanos privados, mas para um empreiteiro público, o Governo brasileiro [16].
Além do mais, os Estados Unidos não se limitaram a financiar o empreendimento, pois que, através do Export Import Bank, supervisionavam todos os investimentos e forneciam, ainda, assistência técnica, bem como todo o equipamento necessário [17].
Vargas aproveitava-se da conjuntura de disputa entre imperialismos rivais e
dias depois do golpe do Estado Novo, o Governo suspende o pagamento das dívidas externas e institui o monopólio do câmbio. Depois dessas medidas vai barganhar à direita e à esquerda, com a Inglaterra, a Suíça, a França, os Estados Unidos, ajustes de dívidas e atrasados. E com a Alemanha um novo sistema de comerciar [18].
“Na verdade”, afirma Pedrosa, “com a guerra e os êxitos iniciais de Hitler, a ditadura brasileira vacilou bastante antes de alinhar-se com as potências aliadas” [19]. O mesmo se deu, de fato, no que se refere à construção da usina de Volta Redonda. Em 1937, Alemanha e Japão expressam interesse pelas jazidas de ferro brasileiras e chegam a fazer a proposta de assumir os encargos da obra, em troca do monopólio do aço. Vargas recusa-se a aceitá-la. No ano seguinte, Vargas procura a United States Steel Corp., convidando-a a vir ao Brasil. A empresa recusa-se a realizar a obra, pois, naquele momento, a principal preocupação que dominava o mundo empresarial, desde 1929, era não voltar a ter capacidade produtiva sem mercado: “desde a crise, sua filosofia, […] passou a cultivar a escassez e não a superprodução relativa” [20]. Por fim, é o governo americano, no ano seguinte, quem resolve assumir a obra. A estratégia elaborada para a guerra, que consistia em não perder o domínio do continente americano e fazer da América do Sul, particularmente do Brasil, um trampolim para o ataque à Alemanha, o impunha: era preciso fazer do continente “um flanco seguro ante qualquer surpresa, sobretudo da Alemanha” [21].
E, para além do Brasil, no que se refere aos demais países latino-americanos, o New Deal transformava-se em War Deal: como já colocado no artigo anterior, de um lado, o Estado realizava investimentos, concedia empréstimos, firmava convênios de comércio recíproco etc.; de outro, lançavam-se as grandes corporações e os grandes capitalistas, numa modalidade de divisão de trabalho com o governo, numa luta pelo monopólio dos mercados latino-americanos e das suas fontes de matérias-primas [22]. Assim,
o Governo americano, apesar de por vezes encontrar-se em choque com os interesses dos homens de negócios (sobretudo na era rooseveltiana do New Deal e do War Deal) e pretender ao mesmo tempo apoiar até certo ponto movimentos de industrialização na América Latina – consequência da perda dos mercados europeus de importação como de exportação com a guerra e fundados ideologicamente no surto nacionalista que empolgava as suas classes médias e intelectuais [23] – na realidade visava principalmente a fazer da economia latino-americana um apêndice, ou melhor, um complemento das forças norte-americanas mobilizadas para a guerra. No fundo, a América Latina e os Estados Unidos falavam duas línguas: a primeira falava industrialização – desenvolvimento – nacionalismo, independência. Os segundos falavam colaboração, integração, defesa do hemisfério [24].
E continua Pedrosa:
a hora de qualquer país da América Latina, mesmo os mais longínquos, isolar-se havia passado. […] Todo o Continente, norte, centro e sul, tinha de trabalhar para a guerra, transformado num arsenal produtivo e político para a estratégia dos Estados Unidos. […] Encarando-se a si mesmos sozinhos, com uma América do Sul isolada do mundo em guerra, os Estados Unidos acabam vendo formar-se, ou tomando consciência de uma deliberada política de absorção total, financeira, econômica e política da América toda na sua órbita imperial [25].
Aqui já se colocava um problema, que mais à frente levará as economias latino-americanas a um grave entrave. De um lado, “a América Latina só em parte é complementar economicamente à América do norte; de outra parte, ao contrário, é competitiva” [26]. Os Estados Unidos eram “de longe a melhor equipada das grandes potências em questão de matérias-primas essenciais […]. E toda a perspectiva do desenvolvimento é tornar o grande país cada vez menos dependente dos outros países” [27]. As facilidades proporcionadas pelos Estados Unidos, para a solução da questão dos excedentes de exportação dos países latino-americanos, deixarão, mais à frente, de vigorar. Uma jornalista americana, Dorothy Thompson, escrevia, nos anos 1940: “temos que comer produtos sul-americanos e não somos bastantes para comê-los” [28]. De outro, os investimentos dos Estados Unidos em projetos de industrialização e modernização dos países latino-americanos entrarão, a partir do momento em que a Alemanha deixar de representar uma ameaça (real ou potencial) à sua hegemonia continental, em declínio. Os Estados Unidos voltar-se-ão, então, para a reconstrução da Europa. Durante a Segunda Guerra Mundial, a balança de pagamentos passa a ser favorável aos países latino-americanos e verifica-se um acúmulo de saldos em ouro e divisas, o que fez parecer que o caminho para o desenvolvimento havia sido, enfim, encontrado [29]. Mas, infelizmente, para os países latino-americanos, a guerra teria fim e, com ela, a cooperação econômica e financeira dos Estados Unidos.
No caso do Brasil, o entrave viria a ser superado, mais à frente, durante o “milagre econômico” da Ditadura Militar, com um novo recurso ao nacional-estatismo, quer dizer, ao nacionalismo desenvolvimentista e ao capitalismo de Estado [30].
O big business e o Terceiro Reich
Contudo, voltando à questão do perigo que representava, para os Estados Unidos, a penetração do Terceiro Reich no continente americano, não eram apenas as lideranças latino-americanas identificadas ideologicamente com o fascismo, tal como Vargas, que preocupavam o governo americano. Os próprios “homens de negócios” americanos representavam, de certo modo, um entrave tanto à aplicação da política da boa vizinhança quanto à realização do esforço americano de preparação para a guerra.
Em primeiro lugar, para o big business, era absolutamente desprovido de sentido que o governo americano concedesse créditos e negociasse investimentos e acordos comerciais com países devedores (ou “expropriadores”). Muitas das empresas americanas com grandes capitais na América Latina, “pelos seus homens mais representativos”, chegaram a dar mostras de que o seu objetivo era “uma simples volta ao big stick” ou algo como “uma série de sanções econômicas em represália às ações confiscatórias de vários governantes latino-americanos, a fim de obrigá-los a devolverem as propriedades norte-americanas aos antigos donos” [31]. Os “homens de negócios” americanos resistiam à política da boa vizinhança, mesmo que ela consistisse, tão somente, em “suprimir a política de força [para com a América Latina]”, substituindo-a por “uma colaboração econômica essencialmente favorável aos interesses americanos” [32].
Em segundo lugar, corporações privadas americanas colaboravam com cartéis alemães [33], tanto na América Latina quanto fora dela, os quais eram instrumentalizados pelo governo alemão para emperrar a economia de guerra americana, a ponto de ser formada, em Junho de 1938, uma comissão do Congresso americano para apurar o que se estava passando [34]. Muitas dessas corporações exerciam atividades fundamentais para a economia de guerra americana. Um jornalista, citado por Pedrosa, escrevia, em 1941, que “já era evidente cedo no outono de 1940 […] uma escassez de 4 milhões de ferro gusa, lâminas de aço e estruturas” e que “a capacidade de aço seria inadequada para a defesa e as necessidades civis” [35]. A indústria de aço americana, todavia, opunha-se a qualquer expansão e um de seus porta-vozes, um certo Sr. Tower, afirmava que “a indústria de aço não prevê nenhuma necessidade de qualquer adição extensiva na sua capacidade” e que “seria muito mais prático suprir as necessidades do governo cortando temporariamente nas formas menos vitais de consumo” [36]. Outros dois jornalistas, citados por Pedrosa, afirmavam, em 1941, que “os homens mais práticos do aço preferem esperar no futuro por um tempo de escassez e de preço inflacionário” [37]. Enfim, vários trustes americanos “foram acusados oficialmente, de práticas restritivas e de convênios de patentes e de preços entre eles e, sobretudo, com trustes alemães” [38]. E, em Fevereiro de 1942, o Procurador-Geral Thurman Arnold testemunhava perante a referida comissão do Congresso, fazendo as seguintes acusações:
1. O Governo dos Estados Unidos tem sido taxado com preços excessivos e desrazoáveis por materiais de guerra essenciais, resultantes de convênios entre companhias domésticas [e] estrangeiras e propostas colidentes nos contratos com o Exército e a Marinha. 2. Companhias estrangeiras (principalmente alemãs) têm-se apoderado de patentes e entrado em combinações de cartéis nos Estados Unidos relativas a materiais de guerras essenciais, com o fito e o efeito de bloquear o desenvolvimento americano e criar escassez. 3. Tem havido divisões do mercado mundial por meio de acordos de patente entre companhias domésticas e estrangeiras que dão a interesses estrangeiros o direito de determinar onde e como as companhias americanas podem vender certos suprimentos militares. 4. Parece notório que informações militares vitais tenham sido abertas a companhias estrangeiras através do requisito de descrever item por item o pagamento de direitos nos acordos de licenças de patentes [39].
Assim, na contramão da estratégia prosseguida pelo Estado americano desde a última década do século XIX, voltada para a quebra dos vínculos dos países latino-americanos com qualquer potência europeia, associam-se, durante a guerra, grandes corporações privadas americanas e os ditos cartéis alemães instrumentalizados por Hitler, tendo em vista a partilha dos mercados da América do Sul. Segundo Joseph Borkin e Charles Welsh, citados por Pedrosa:
a preeminência alemã nos mercados sul-americanos foi possível somente porque as organizações americanas concordaram em não competir naquela área… Em quase todos os casos em que a América do Sul foi reservada pelos convênios de cartéis e monopólios alemães, as subsidiárias e agentes destes constituíam a cunha pela qual esperava (a Alemanha) realizar seus objetivos na guerra próxima, o controle econômico para furar o bloqueio das exportações alemãs e manter, à vista dos países latino-americanos, o fluxo dos bens alemães ali, importante ao prestígio comercial alemão. Daí resultaria a queda da influência inglesa e americana [40].
E conclui Pedrosa: “decididamente para os homens de negócios, da Alemanha como dos Estados Unidos ou de alhures, a guerra, quando não é negócio vantajoso, é apenas um condicionamento mais aborrecido ou difícil para a continuidade dos negócios por cima das fronteiras nacionais” [41].
Todavia, a estratégia alemã de dominação política na América Latina é derrotada e a Alemanha é, ao fim da guerra, “de novo esmagada, destroçada fisicamente, dividida” [42]. Falaram mais alto, para as lideranças nacional-desenvolvimentistas latino-americanas, os investimentos, os empréstimos, os convênios de comércio recíproco firmados com os Estados Unidos. É possível perceber, no entanto, que os “homens de negócios”, o big business, parecem querer prosseguir uma estratégia imperialista própria, alheia à do Estado.
Notas
[1] Mário Pedrosa, A Opção Imperialista, [S.l.], Civilização Brasileira, 1966, p. 147.
[2] Id., ibid., pp. 137-138.
[3] Id., ibid., p. 135. Em outro trecho, Pedrosa afirma que “a Alemanha nunca se distinguiu, na sua categoria de potência imperialista, como grande exportadora de capitais ou investidora no exterior, pelo menos não em escala comparável à Grã-Bretanha, França e Estados Unidos (id., ibid., p. 151)”. E prossegue: “o peso do esforço alemão em geral se concentrou no plano comercial, na conquista de mercados (id., ibid., pp. 151-152)”. Contudo, acrescenta, mais à frente: “a Alemanha não era um competidor comercial comum que bons negociantes privados americanos, mesmo ultra bem equipados em organização, recursos e técnica de venda, pudessem vencer numa guerrilha de preços ou de outras vantagens no plano comercial privado. O seu comércio exterior era guiado por outro princípio. […] O contraste com as exportações americanas era patente, pois que estas visavam a retornos cada vez mais altos de seus capitais, salvo quando foi – como durante a guerra – para monopolizar e estocar minerais faltosos. A Alemanha nazista visava à dominação política em escala mundial (id., ibid., pp. 171-172)”.
[4] Id., ibid., p. 150.
[5] Id., ibid., p. 128. Em outro trecho, escreve o autor: “O momento político vivido pelo Brasil então na esfera nacional corresponde na esfera internacional a uma luta de acesa rivalidade entre a Alemanha nazista e os Estados Unidos rooseveltianos. Há coincidências perturbadoras. Quando a influência alemã em ascensão ganha posição hegemônica no intercâmbio com o Brasil, a estrela da Ação Integralista sobe em flecha nos céus políticos do Brasil. Em 1937, a Alemanha ocupa o primeiro lugar entre os exportadores para o Brasil. A 10 de novembro do mesmo ano é o golpe instaurador do Estado Novo, de inspiração ideológica francamente nazi-fascista. A preparação do golpe de Estado foi sustentada, publicamente, pela Ação Integralista, militarizada, uniformizada, mobilizada permanentemente, senhora das ruas do Rio de Janeiro, numa imitação, do uniforme aos processos, slogans e gestos, do nacional-socialismo alemão. Há paralelismos curiosos entre os movimentos nazistas nas ruas de Berlim que precederam a subida de Hitler e os movimentos integralistas que precederam o golpe getuliano de 10 de novembro de 1937. Os integralistas desfilaram fardados diante do Palácio da Guanabara, em frente a Getúlio Vargas, que lhes fez a saudação integralista. Em Berlim, dias antes da ascensão ao poder dos nazistas, suas milícias penetraram o Wedding, o famoso reduto operário vermelho, desfilando na própria Alexander Platz, onde se situava a sede do Partido Comunista alemão e por ela passavam em desafio, sentindo-se já praticamente vitoriosos (id., ibid., pp. 138-140)”.
[6] Cf. id., ibid., pp. 148 e 150.
[7] Obrigações frentes às quais se indignavam os “homens de negócios” americanos, que as aceitavam somente enquanto um expediente temporário, com prazo fixo para acabar. Veremos isso mais de perto, mais à frente.
[8] Id., ibid., p. 94.
[9] Id., ibid., p. 93.
[10] Id., ibid., p. 93.
[11] Id., ibid., p. 145.
[12] “Elas [as nações latino-americanas] esperam da Casa Branca não somente belas palavras, de que a Casa é fértil, ou uma proteção militar na eventualidade de uma arribada às suas plagas de tropas de assalto nazistas, mas cooperação mesmo no plano econômico, no plano do progresso social e nacional. No plano das relações puramente econômicas a decalagem continuava intransponível entre as pretensões das repúblicas latinas e as concepções econômicas rígidas e justificadamente egoístas dos governantes norte-americanos. Mas o segundo Roosevelt, keynesiano decidido, internamente, no plano das medidas econômicas e financeiras de combate à depressão e reformista no estilo da social democracia europeia, […] só muito dificilmente poderia fugir-lhes às reivindicações. E assim que foi oportuno tentou atendê-las, embora violando os preceitos liberais, em nome dos quais clamavam os interesses dos investidores privados norte-americanos. Nesse contexto, alguns empréstimos de capitais públicos e convênios de estabilização de preços foram feitos por ele. Mas sempre em nome de uma circunstância excepcional, de uma conjuntura extra-econômica, de considerações, em suma, de ordem política (id., ibid., p. 54)”.
[13] Id., ibid., p. 131. Os Estados Unidos absorveriam, no futuro, por exemplo, já durante a guerra, 26 milhões de sacas de café ofertadas pelos países latino-americanos, contra uma procura de, no máximo, 16 milhões de sacas (id., ibid., p. 183).
[14] Id., ibid., p. 129.
[15] Id., ibid., p. 129. Em Junho de 1939, Roosevelt pretendia obter do Congresso, além do mais, “um crédito de quinhentos milhões de dólares, a curto e longo prazos, a governos estrangeiros para promover o comércio internacional, a serem ‘gastos nos Estados Unidos e empregados no desenvolvimento e reconstrução dos países tomadores de empréstimo’ (id., ibid., p. 128)”. Mas o Congresso se negou a liberar o crédito. “Só bem mais tarde, quando a Alemanha ia dominando a Europa, o Congresso correu a aprovar as proposições presidenciais. Já era a guerra plena – 1940 (id., ibid., p. 128)”.
[16] Id., ibid., p. 131.
[17] Id., ibid., p. 133.
[18] Id., ibid., pp. 144-145.
[19] Id., ibid., p. 141.
[20] Id., ibid., p. 132.
[21] Id., ibid., pp. 127.
[22] Id., ibid., p. 71.
[23] “A luta interimperialista na América Latina, se frequentemente provocou, direta ou indiretamente, violentos choques políticos internos nos nossos países, quando interesses ingleses instalados em certos setores e encurralados a uma defesa em descanso contra a penetração americana se agarravam a facções e grupos políticos nacionais dominantes para não ser desalojados de suas posições, por outro lado concorreu poderosamente para despertar entre os jovens intelectuais da terra os primeiros sintomas de uma consciência anti-imperialista, quer dizer, nacional. A primeira geração marxista do Brasil divulgou essas noções. O Partido Comunista, balbuciante, teve nesse sentido papel saliente na esquematização do problema, denunciando a política que se travava no Brasil em 1930 e ia desembocar em guerra civil como uma luta entre imperialistas americanos e ingleses (id., ibid., p. 60)”.
[24] Id., ibid., pp. 62-63.
[25] Id., ibid., p. 86. Em outro trecho, escreve o autor: “nunca país metrópole nenhum levou tão longe o esforço de readaptação de toda uma economia primária a ser suplementar de uma economia desenvolvida. Nunca o monopólio de tudo – fontes de matérias-primas, exploração das mesmas, comércio, mercado interno e externo, reserva de campo de inversões – foi mais completo que ao termo da guerra. Foi a situação mais clássica que já apareceu de economia dependente ou colonial e também a mais moderna (id., ibid., p. 243)”.
[26] Id., ibid., p. 84.
[27] Id., ibid., p. 89.
[28] Id., ibid., pp. 130-131.
[29] Id., ibid., p. 243.
[30] Durante o “milagre econômico”, segundo um historiador, “construiu-se um ‘modelo econômico’ com forte investimento do Estado em setores não lucrativos ou de baixa lucratividade inicial, mas imprescindíveis ao crescimento (energia, estradas, siderurgia, telecomunicações) e garantidores de alta lucratividade para o grande capital, assim como a maior abertura possível do país ao capital estrangeiro (com a inevitável desnacionalização da economia). Um tal ‘modelo’ implicava instrumentos de financiamento e de poupança interna eficientes e processos de concentração de renda muito significativos, uma vez que contemplava a criação de um mercado interno dirigido fundamentalmente para os estratos sociais mais altos (a grande burguesia, seus executivos e quadros gerenciais, camadas urbanas altas e segmentos das classes médias) (José Paulo Netto, Pequena história da ditadura brasileira [1964-1985], São Paulo, Cortez, 2014, p. 147)”. Segundo outro, “na tradição fundada pela ditadura varguista, o Estado [nos anos 1970] voltava a incentivar, regular, financiar e proteger, intervindo ativamente nos mais variados setores econômicos. Além disso, reforçava o papel das empresas estatais. […] Com base nas empresas estatais e nos capitais privados nacionais e estrangeiros, formou-se uma aliança de interesses análoga à que se constituíra sob o governo presidido por JK, na segunda metade dos anos 1950. Nessas combinações, o poder público aparecia, em todos os setores, como que hipertrofiado – no crédito, nas finanças, nos investimentos, na infraestrutura, nas exportações. O país, comparado a um imenso canteiro de obras, foi tomado por incontida euforia desenvolvimentista (Daniel Aarão Reis, Ditadura e democracia no Brasil: do Golpe de 1964 à Constituição de 1988, Rio de Janeiro, Zahar, 2014, pp. 80-81)”.
[31] Mário Pedrosa, A Opção Imperialista, [S.l.], Civilização Brasileira, 1966, p. 167.
[32] Id., ibid., p. 168.
[33] Nesse sentido, dois autores, citados por Pedrosa, Joseph Borkin e Charles Welsh, afirmam: “a Alemanha havia organizado uma espécie de central de cartéis que nas mãos do ditador alemão se transformou num formidável instrumento não mais para obter lucro apenas, mas para alcançar vastos fins políticos e sociais (id., ibid., p. 156)”.
[34] Cf. id., ibid., p. 169.
[35] Id., ibid., p. 133.
[36] Id., ibid., p. 133.
[37] Id., ibid., p. 133.
[38] Id., ibid., p. 169.
[39] Id., ibid., p. 169.
[40] Id., ibid., p. 162.
[41] Id., ibid., p. 163.
[42] Id., ibid., p. 163.
Esta série reúne os seguintes artigos:
1) a aurora do imperialismo americano
2) um imperialismo de novo tipo
3) a América Latina diante da guerra
4) o contexto da Guerra Fria
5) a América Latina em xeque
6) as reformas contrarrevolucionárias