Por 01010001

Toda comunicação na internet é insegura por padrão. Ela só se torna segura quando você toma algumas medidas preventivas. Não é por nenhuma teoria da conspiração, mas porque nos trinta primeiros anos da internet não havia a mesma necessidade de segurança que hoje temos. Com bilhões de usuários conectados, a situação é completamente diferente nos dias atuais, mas a infraestrutura de telecomunicações já instalada (cabos, postes, satélites etc.) é tão cara que seria financeiramente inviável trocar tudo para algum padrão mais seguro. Deste modo, a privacidade, a segurança e algum nível de anonimato na internet passam a ser responsabilidade de cada usuário – mesmo que não saibam, mesmo contra sua vontade.

Isto gera problemas de todos os tipos. O primeiro exemplo tem base num fato bastante conhecido: é quase impossível tirar uma informação da internet depois que ela foi publicada. Por isto mesmo, aquelas fotos que algum dia você colocou no Orkut, no MSN, no WhatsApp, no Twitter, no Facebook ou no Instagram podem ter rodado o mundo inteiro sem você saber. Veja o caso do aposentado João Nunes Franco, de 92 anos: em 2012 o blog “Gente de Campo Alegre” pediu sua permissão para publicar uma foto tirada em 1977. O site só queria contar a história dos moradores da cidade, e achou importante este registro. A foto foi copiada, rodou a internet, e foi parar nas mãos do dono da página “Sento a Vara”, onde foi usada para fazer piadas de cunho sexual e ofensivo. Estas piadas aumentaram o público da página, que chegou a ter mais de 4 milhões de seguidores, que passou a fazer camisetas e bonés com a foto adulterada, transformada em meme. Os netos de João Nunes Franco viram a foto, acharam-na parecida com o avô e mostraram-na a ele, que identificou a foto e se desesperou. Processou o dono da página “Sento a Vara”, e ganhou por isto uma indenização de R$ 100 mil – mas quem sabe onde foram parar as fotos, depois que já rodaram o mundo?

A comunicação por internet é bem mais barata que outras formas de comunicação, mas não quer dizer que não tem nenhum custo, ou que empresas como Google, Facebook e outras trabalhem de graça. Por isto mesmo, lembre-se: na internet, quando um serviço é gratuito, a mercadoria é você. O modelo de negócio das grandes empresas da internet é baseado em analisar tudo o que você faz na internet, guardar informações sobre seus hábitos (pesquisas, sites visitados, curtidas, relações etc.) e usá-las para vender espaços de propaganda que conseguem chegar no “público-alvo” com muito mais precisão e a um custo muito menor que a propaganda tradicional em rádio, televisão, jornais, revistas e outdoors. A publicidade e propaganda na internet é um negócio de bilhões de dólares – e é você quem o alimenta a cada vez que acessa a internet, a cada mensagem de WhatsApp, a cada curtida no Facebook ou no Instagram, a cada pesquisa que faz no Google… Veremos nesta cartilha muitos exemplos das violações à privacidade que estas empresas fazem bem na nossa cara, e com nosso consentimento.

É só isso o que estas empresas fazem com as informações assim coletadas? Não, elas também vendem estas informações a outras empresas, que podem usá-las para avaliar o preço do seguro de uma moto, para avaliar aquele empréstimo para a compra da casa própria, para oferecer a você um produto a um preço diferente daquele oferecido a outra pessoa com perfil diferente do seu, para se negarem a te prestar serviços…

Ou vai dizer que nunca ouviu falar de gente que não conseguiu emprego porque tiveram o perfil no Facebook e no Instagram analisados junto com o currículo, e a empresa decidiu por isso que esta pessoa “não tinha o perfil” para a vaga? Em 2011, 16% das companhias utilizavam redes sociais profissionais para contratação de pessoas no Brasil; em 2013, essa fatia deve chegar a nada menos do que 44% – e as redes servem também para dar uma “espiadinha” nas relações dos candidatos fora do processo seletivo e avaliar seu comportamento pessoal.

Com tudo isso, hoje vivemos uma situação em que não é mais você quem decide o que pode e o que deve ficar fora da vista dos outros – são eles (o governo e as grandes empresas) que decidem este assunto por você. Hora de fazer valer sua privacidade e retomar o controle de sua vida!

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