O deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ) deve ser muito querido. O PCO desta vez não lhe dedicou apenas um editorial, mas uma seção inteira de seu site para noticiar sua prisão, comparando-a “quase [a] um AI-5”. Segundo a imprensa do PCO, Silveira teria sido preso por emitir uma opinião política. E mais: não haveria crime algum ali. Linha parecida com a de Orlando Zaccone, o “policial antifascista”. Passa Palavra
Do ponto de vista estritamente jurídico – com esse ordenamento jurídico que temos – a prisão do Daniel Silveira tem muitos problemas mesmo.
A decisão do Min. Alexandre de Morais é uma verdadeira gambiarra. Vcs leram a amarração que ele fez pra qualificar o ato do Daniel Silveira como Crime Inafiançável?
Do ponto de vista político, a história é outra.
Enfim, Daniel Silveira que se f****.
— Sobre a questão do Daniel Silveira: Quando a liberdade se reduz àquilo que o congresso judicial determina, cujos membros foram eleitos pelo privilégio concedido pela Fortuna. Representantes, certamente… mas não se sabe de quem. Direito é linguagem. O congresso é o criador das leis. O reduzido congresso consagrado à justiça é o delimitador dos significados das palavras. Direito e moral unidos, precisando apenas de uma corte para se expressar. Descompasso entre valor e texto, entre tempo e espaço. Ao menos a ideia tem de prevalecer. Ao menos isso joga luz sobre a ideologia que o direito consagra e deixa entrever que a democracia e a liberdade são instrumentos de magia que conferem legitimidade a quem as defende, por sua simples enunciação. Ainda bem que temos ocasião para defender a liberdade acima do texto. Ainda bem que temos essa margem de liberdade inclusive para determinar os fatos que se submetem à hipótese normativa. Digo, eu não tenho, mas onze têm. E onze são maioria, pois representam a sociedade. Bem, a ideia de sociedade. Em nome da liberdade não se pode pregar a sua extinção. Em nome da desigualdade, pode, ou pelo menos não é digno de notar para que se crie um equivalente. A universalidade a serviço da igualdade e do excesso de esclarecimento. Se minoria no plano material, maioria, no intelectual. A liberdade tem que ser defendida e a prisão parece justa (legal, já é outra história). Pena que em nome da democracia se pode pregar sua limitação! Pois, a limitação da liberdade vem de onde não há nenhuma ligação com dono da soberania.
[Sugestão de leitura: https://www.conjur.com.br/2021-fev-18/hoffmann-deputado-cometeu-crimes-stf-equivoca-decretar-prisao?fbclid=IwAR3eoHVS2LTAChpHy26rCYuNCzGbu7VvKvyPTwhJ_AoSmt_A78ZHXoE9v9o%5D.
— Quanto ao PCO, me parece preguiçoso tratá-los simplesmente na chave do “Bolsonarismo de esquerda”. É mesmo possível apontar para a elasticidade bravateira do PCO, mas é uma elasticidade bravateira sistemática. A aparente inconsequência, por ser sistemática, me parece (posso estar erradíssima) uma escolha calculada. Não existe espaço político vazio e o barulho do PCO não é mais tão cômico quanto foi no passado. Às vezes, chega a ser um barulhinho constrangedor. Por exemplo, quando eles dizem: “Imperialismo elege Boulos um líder mundial” ou “Boulos cria uma autoimagem artificial com objetivos eleitorais”. Constrangedor… Constrangedor porque não é tão absurdo assim tratar a questão nesses termos. Outro exemplo, vejam só como é constrangedora a política pacifista de uma suposta esquerda que aposta em carreatas como tática de resistência: “Toda a esquerda pequeno-burguesa mostra que sua política não é revolucionária. Mais correto seria dizer que a política de Jones Manoel e a esquerda desarmamentista é uma política hippie, cirandeira, pacifista rasteira. Os comunistas não acreditam nas flores vencendo o canhão, porque isso é simplesmente impossível.”
Se, por um lado, o PCO defende o Lula de forma apaixonada. Por outro lado, os cirandeiros reduziram as oportunidades de debate ao patamar do debate bolsonarista. Se trata de uma redução de linguagem que invariavelmente inviabiliza qualquer embate de ideias. Quem lembra de quando a suposta esquerda reclamava da dificuldade de dialogar com bolsanaristas? Qualquer um que conheça apenas a linguagem dos memes, qualquer um que tenha o virtual como plano principal de sociabilidade, se encontra destituído das ferramentas de linguagem indispensáveis para um debate. Meme não é ideia, não é crítica, é senso comum. Assim como a existência virtual não é existência de fato, pois não passa de um véu. A dificuldade de dialogar com um bolsonarista é a mesma dificuldade de dialogar com um jovem vestido de progressista com seu boné do MST cheirando a OMO. Talvez, o espaço vazio seja o da radicalidade. Que louco vai ser quando se tornar uma radicalidade defender o Lula e se opor aos sem-teto (movimento que a Isadora Guerreiro caracteriza tão bem). Nesse sentido, vejo na aparência cômica do PCO, um constrangimento trágico, e não simplesmente um bolsonarismo de esquerda.
PCO passa palavra para Daniel Silveira, significa bolsonarismo de esquerda. Passar a palavra a Paulo Schwartzman, o que significaria? Outras palavras…?
ÍNDIO METROPOLITANO DIXIT
Paulo Schwartzman no passapalavra: glasnost &/ perestroika. Em outras palavras: glastroika & peresnost…