Foi metalúrgico. Limpou chão de faculdade. Estudou Direito — não para ser advogado, pois (provocava) trabalhadores deviam saber defender-se em qualquer arena. Era só mais um companheiro, que sabia do Direito. Esteve em fábricas e garagens ocupadas. Lecionou para estudantes e lideranças operárias. Nunca saiu nas fotos. O câncer levou-lhe a vida. Em sua homenagem, num galpão recuperado por ferroviários, expuseram quadros que pintara. “Sempre nos falava”, disse um companheiro, “da importância de nos vincularmos primeiro como humanos, antes que operários”. Passa Palavra
Humanos todos são
Proletário e patrão
E os Santos “Lula”
De canudos ou não
Sabem ler a bula
E “vincular”
Através da conciliação
Humanos que exploram
Com humanos que são
por humanos explorados
Então…
O conceito de humanidade
fundada no clamor da ética
foge à razão
torna a luta patética
Vai contra a Revolução
Do trabalhador
À sua emancipação
Na pressa de versar, o poeta preguiçoso não entendeu que o falecido companheiro ressaltava a importância dos vínculos reais entre os proletários, que fossem mais além do utilitarismo político ou sindical, em nenhum momento se fala de conciliar com patrões. Mas entendo que existem esses tipos humanos que têm dificuldade de manter as suas bocas fechadas, sejam eles patrões ou proletários.
Tenho cá pra mim
que as bombas lançadas
em Londres, Hiroshima, Berlim
Originaram-se de decisões
Por humanos tomadas…
Mas vejam, e isso e o maior barato!
Não foram tomadas num sindicato
Nem numa assembleia proletária
Pois a classe que explora
em luta, à classe explorada é contrária
Por isso, se eu não me engano…
não dá para chamar
Todo humano
“De mano”
Litle Boy sempre voa nas asas de um B-29
Mesmo depois de arder em chamas 500 mil casas de papel
Enquanto humanos operários queimam no inferno
Humanos burgueses ascendem ao céu…