Carta aberta de um jovem maoista à espera da prisão

Por Chuang

 

Assim que o ano de 2022 começou, o mundo recebeu a notícia de que o trabalhador de entregas e organizador Chen Guojiang, conhecido como Mengzhu (盟主), havia sido libertado após quase um ano de detenção. No entanto, a libertação de Mengzhu não significou de modo algum o afrouxamento do controle sobre os ativistas nos locais de trabalho, militantes de esquerda e outros dissidentes na China. Assim que Chen foi libertado apareceram notícias sobre o destino de mais seis presos políticos.

Segue abaixo a nossa tradução de uma carta lançada no dia 4 de janeiro de 2022, do escritor maoista Yu Yixun (余宜勋), anunciando a notícia de sua prisão formal e a condenação de outros cinco jovens de esquerda que atuavam em Fujian. Eles foram presos na primavera passada. O ataque repentino a um grupo obscuro de maoistas é, por si só, um testemunho dos anos de forte repressão contra dissidentes de todos os tipos, visando especialmente organizações, redes e grupos de afinidade de esquerda e de trabalhadores. Uma década atrás, a queda de Bo Xilai fez o chão tremer sob os pés dos militantes de esquerda, tanto simpatizantes quanto críticos de Bo. À medida que o espaço para a discussão política encolheu ao longo da década de 2010, o Estado reprimiu duramente redes feministas, ONGs reformistas de direitos dos trabalhadores, organizações LGBT+, e, claro, jovens marxistas. Muitos militantes de esquerda decidiram limitar sua exposição ao mínimo possível, até que um grupo fez uma ousada e, em última instância, desastrosa demonstração de força no incidente da fábrica Jasic em 2018.

Com os riscos significativos decorrentes da exposição pública impedindo qualquer tentativa de organização aberta, a esquerda clandestina da China (que permanece dominada por vários tipos de grupos maoistas [1]) foi completamente marginalizada — tanto que, de fato, a prisão dos seis de Fujian nos surpreendeu, assim como a muitos outros na esquerda chinesa. Quem são eles? O que eles andaram fazendo? Neste caso e noutros, às vezes parece que a polícia rastreia os ativistas mais rápido do que redes substanciais possam ser formadas. Como resultado, aquelas redes que de fato existem foram forçadas a ficar tão clandestinas que é quase impossível saber quem está nelas e o que fazem, além das poucas pistas online que algumas delas deixam.

Que fique perfeitamente claro para quem defende a administração de Xi [Jinping, Secretário-Geral do Partido Comunista da China]: o Partido nominalmente Comunista da China sempre elogiou Mao e Marx, enquanto sistematicamente perseguia e processava os ativistas maoistas e marxistas mais fervorosos do país. Por exemplo: Qiu Zhanxuan, presidente da sociedade marxista da Universidade de Pequim, foi detido pela polícia como um “aviso” em 2018, enquanto estava a caminho para celebrar o aniversário de Mao, então foi detido novamente em fevereiro de 2019, após o que ele gravou um vídeo dizendo que foi torturado enquanto estava sob custódia. Finalmente, em abril de 2019, ele desapareceu uma terceira vez ao visitar um distrito fabril “para experimentar a vida dos trabalhadores”, e não foi visto desde então.

É provável que nunca tivéssemos ouvido falar dos seis prisioneiros maoistas de Fujian se um deles não tivesse publicado a carta aberta traduzida abaixo. Qualquer outra informação que tenhamos hoje sobre os seis de Fujian é, na melhor das hipóteses, fragmentária. Algumas estão disponíveis a partir de posts em fóruns de esquerda e grupos do aplicativo de mensagens Telegram, enquanto outras pistas vêm de screenshots tirados antes que esses posts pudessem ser apagados. Alguns dos detalhes básicos do caso são confusos ou inesperados, com base no que podemos encontrar a partir de documentos legais (arquivados em RedChinaCn). Esses mostram que cinco jovens associados de Yu foram detidos pela polícia em Pingdingshan, Henan, em 3 de maio de 2021, sob suspeita do crime de ”arrumar brigas e provocar problemas[2], sendo formalmente presos em 1º de junho, e, finalmente, condenados em 30 de dezembro a até dois anos de prisão.

Carta aberta de um jovem maoista à espera da prisão

Os documentos alegam que o grupo, referido ali como “Associação da Cultura Vermelha” (红色文化会) [3], havia registrado pelo menos 4 empresas, controlava mais de 20 contas no WeChat e 10 grupos de chat no mesmo aplicativo, e mantinha um site. Os promotores disseram que os réus tinham um total de mais de 30.000 amigos no WeChat e que eles “publicaram artigos que manchavam a história do partido”, produzindo mais de 1.100 textos e gerando uma receita de cerca de 170.000 yuan (26.655 dólares), principalmente através de pequenas doações dos leitores via WeChat (打赏). Alguns dos artigos que supostamente difamaram a história do PCC incluíam títulos como: “historicamente, XXX é um traidor” e “quem está enquadrando XXX: a verdade sobre o 50º aniversário do Grande Salto para Frente” (com os nomes das figuras históricas omitidos dos títulos). Enquanto outros comentaristas online apontaram que as sentenças e detenções em várias províncias parecem incomumente rigorosas para um caso que não vai além de publicações online, também parece pouco usual que Yu permaneça livre e consiga escrever sua carta aberta e distribuí-la de casa enquanto aguarda julgamento.

A carta de Yu sugere que o caso dos seis de Fujian é apenas a ponta de um enorme iceberg de repressão anti-esquerda que tem continuado silenciosamente, mesmo quando a mídia internacional perdeu o interesse nas consequências do Incidente de Jasic em 2018 e as subsequentes prisões de outros militantes de esquerda, ativistas de direitos dos trabalhadores e feministas em 2019. No contexto de pedir penas de prisão mais curtas, Yu escreve: “Esse ano, em toda a China, muitas pessoas como nós foram presas, mas suas sentenças foram todas de menos de um ano”, citando um exemplo na cidade vizinha de Xuchang. Perguntamo-nos quantos outros casos escaparam nos últimos dois anos, deixando pouco ou nenhum vestígio online. No entanto, isso também mostra que o sistema ainda está longe de ser completamente fechado, e que as pessoas não perderam completamente a esperança. Elas ainda encontram formas de se juntarem e, presumivelmente, de colocar suas ideias em algum tipo de prática offline. Se esse grupo conseguiu publicar 1.100 artigos subversivos lidos por 30.000 amigos no WeChat, nós nos perguntamos quantos anticapitalistas, feministas e outros tipos de dissidentes que tomam maiores precauções de segurança ainda estão conseguindo sobreviver sem atrair atenção indesejada.

Por agora, oferecemos a seguinte tradução com um certo grau de boa-fé na história de Yu, temperada com um certo grau de ceticismo sobre os detalhes do caso e algumas das expressões oficiais, como ”rejuvenescimento nacional“ e a promessa de publicar artigos com mais ”energia positiva“ no futuro. O autor pede explicitamente a misericórdia de pessoas com poder sobre a sua sentença, de modo que tais frases podem ter sido adotadas para esse propósito, em vez de refletir sua própria ideologia. Neste momento, podemos apenas adivinhar, dado que os outros escritos de Yu foram apagados da internet, e entre o amplo espectro dos maoistas chineses contemporâneos há muitos que adotam posições nacionalistas [4]. No contexto de restrições cada vez mais duras do Estado ao pensamento crítico, acreditamos, no entanto, que essa carta ecoa a situação enfrentada por todos os tipos de dissidentes, e de fato por qualquer um expressando descontentamento com a vida capitalista na China hoje. Isso ilustra a perspectiva sombria para aqueles que ultrapassam publicamente os limites oficiais, e que, não importa o quão profunda seja a repressão, sempre há aqueles que continuam a pensar, trabalhar e organizar abaixo do radar.

Carta aberta de um jovem maoista à espera da prisão

Seis camaradas de Fujian presos: uma carta de despedida aberta de um jovem maoista [5]

Caros camaradas,

Boa noite a todos, o meu nome é Yu Yixun. Sou do condado de Minqing, Fujian. O número da minha identidade é (…). O meu número de telefone é (…) [6]. Sou o principal culpado entre os seis amigos vermelhos [7] que atuam em Fujian e que foram presos além das fronteiras provinciais. No dia 30 de abril de 2021 [8], fomos detidos pela Polícia da Internet do Distrito de Xinhua em Pingdingshan, Henan, por suspeita de “arrumar brigas e provocar problemas” por causa da publicação de uma grande quantidade de “informações falsas” online.

Devido a uma doença, ainda não fui levado para o centro de detenção e estou temporariamente em casa.

Hoje é dia 31 de dezembro de 2021 (20:35). É com profundo pesar que escrevo esta carta, dizendo adeus neste momento aos meus camaradas em toda a China.

Essa manhã, cinco dos meus seis funcionários foram condenados, sendo a sentença mais pesada dois anos de prisão, e as outras menores que um ano.

Desde que entrei no caminho da propagação do pensamento de Mao Zedong em 2019, sabia que este dia chegaria. Não há nada de errado em propagar a cultura vermelha, então talvez o problema fosse que éramos “politicamente incorretos”. Por que digo isso? Amigos que leem frequentemente meus escritos podem ter adivinhado algumas das razões, já que enquanto propagava o pensamento Mao Zedong também fiz um contraste entre o Presidente Mao e a segunda geração de líderes. Não posso negar que ao longo de três anos, sob nomes como o Sr. Bai Yun (Nuvem Branca) e o Sr. Wu Yun (Nuvem Negra), publiquei mais de mil artigos desacreditando um certo líder chamado Deng, tendo alguma “influência”.

De acordo com o Estado, sou culpado de uma série de crimes, incluindo “arrumar brigas e provocar problemas”, “distorcer a história”, e “querer reabilitar personagens negativos”.

Olhando para trás, me tornei atraído pelo pensamento Mao Zedong e desenvolvi um grande anseio pelo socialismo da era Mao primeiramente devido a muitos artigos antigos de Deng Liqun [9] que li. Comecei a tentar entender Mao e a aprender com ele. Durante esses três anos de estudo, me reuni com vários outros jovens que também estavam interessados na cultura vermelha.

Mas foi porque eles me ouviram que, no final das contas, todos nós chegamos a este resultado. Eu os prejudiquei! Para mim, dois anos de prisão podem não ser tão assustadores, já que posso ler livros no centro de detenção, e posso escrever na prisão. Mas os outros são apenas crianças, por isso será muito mais difícil para eles lidar com isso psicologicamente.

Desde que fomos presos em 30 de abril de 2021, estas palavras ficaram presas em meu coração. Hoje, finalmente, sinto algum alívio ao expressá-las.

Carta aberta de um jovem maoista à espera da prisão

Todos eles são de famílias pobres. Duas das garotas são de uma família oficialmente designada como “empobrecida”, sua casa fica nas montanhas. Devido aos meus ideais sobre propagar a cultura vermelha, agora eles estão na prisão. Seus nomes são: Zhang Zhijing, Qiu Pingqin, Yu Chaoquan, Qiu Pinghui, Huang Yao e Huang Xiaochun [os seis funcionários, dos quais cinco foram presos]. Quatro são garotas, a mais nova, Huan Xiaochun, tem apenas 18 anos. Qiu Pingqin e Qiu Pinghui são irmãs vindas da cidade rural de Zunyi, em Guizhou — a família foi oficialmente designada como “empobrecida”. Qiu Pinghui e Yu Chaoquan são casados e têm dois filhos que ainda são menores de idade, e agora terão de ser criados pelos seus avós idosos, que não possuem boa saúde. Mais importante, além de Zhang Zhijing, nenhum dos outros trabalha para mim há mais de três meses. Huang Xiaochun, Qiu Pinghui e Yu Chaoquan só haviam trabalhado por menos de um mês [10].

Nestes últimos meses, consultei o nosso advogado sobre todas as formas de os defender [11]. Esperava que pudéssemos ter um julgamento justo, mas não é isso que teremos no final.

Este ano, em toda a China, muitas pessoas como nós foram presas, mas todas as suas sentenças foram menores que um ano, enquanto as nossas se prolongam por dois anos.

Será que essas penas de prisão não são demasiado longas?

Em um caso semelhante este ano, na cidade vizinha de Xuchang, quatro camaradas foram condenados a dez ou seis meses, então por que as nossas sentenças são tão longas? Tudo o que fizemos foi publicar os nossos pontos de vista online. Mesmo que isso fosse errado, vale uma pena de dois anos?

Não é bom para os jovens preocuparem-se com as questões nacionais? Mesmo que suas palavras sejam radicais, acho que a principal [punição] deva ser educativa, em vez de correr para esmagá-los com um punho de ferro logo na primeira oportunidade.

Será que [vocês/eles] querem que todos os jovens fiquem apenas ”deitados e imóveis“ (躺平), sem dizer ou se importar com nada? Se as únicas vozes que restam nesta sociedade fossem apenas as que cantam louvores, isso não seria uma coisa horrenda para toda a nação?

O Secretário-Geral Xi solicitou em várias ocasiões que estudássemos os ideais elevados da geração mais velha de revolucionários, incluindo Mao Zedong, por vezes até citando frases, poemas e anedotas de Mao. Creio que chegou finalmente a melhor hora para a nossa geração testemunhar o grande rejuvenescimento da nação chinesa. As minhas ações na propagação do pensamento de Mao foram justas. Embora as minhas opiniões tenham levado à nossa situação atual, já que critiquei um certo líder central da segunda geração [isto é, Deng Xiaoping], no final das contas tudo isso só pode ser considerado uma contradição interna entre o povo. Se pudessem me dar uma oportunidade de fazer as pazes e começar de novo, eu revisaria seriamente meus erros e insuficiências do passado, melhoraria ativamente, e publicaria mais artigos com energia positiva .

Carta aberta de um jovem maoista à espera da prisão

Penso que o Direito Penal é a categoria mais rigorosa do Direito, logo, ao aplicá-lo, temos de considerar o conceito de “moderação e contenção”. Isto é, o Direito Penal deve ser evitado, a menos que seja necessário, devendo, nesse caso, ser aplicado o mais levemente possível.

Como expresso no Direito Penal, isso é chamado de “o princípio de que a punição deve ser proporcional ao crime e à responsabilidade do infrator ao cometer esse crime.”

Quando a lei dá lugar à tirania (恶法), perde naturalmente a sua autoridade, e as ações judiciais baseadas nela são comprometidas. Isto contradiz os objetivos básicos do Direito Penal.

A força de dissuasão do Direito Penal não reside na severidade da punição, mas na sua certeza (必然性). Seria um grande erro substituir a certeza pela severidade.

Voltando ao tema das penas de prisão [dos meus funcionários], nesse caso, será que o Direito Penal perdeu a sua intenção original?

Um tribunal deve ser um lugar onde os suspeitos possam sentir-se à vontade. Se a decisão do tribunal fosse convincente, usando as leis mais apropriadas para conduzir um julgamento justo, isso não seria útil na reabilitação dos suspeitos? O objetivo básico do Direito Penal não é prevenir crimes, em vez de punir?

O Presidente Mao disse uma vez: “deixem o povo falar, o céu não vai cair.” Penso que os ministérios competentes superestimaram a minha importância. Sou apenas um jovem normal nascido nos anos 1990 que publica alguns artigos online. O céu realmente não vai cair. Me levaram muito a sério.

Hoje tenho que escrever todas estas coisas para que todos possam conhecer a nossa situação. Pelo menos daqui a alguns anos, saberão que alguns jovens em Fujian que amavam Mao Zedong, que estavam cheios de vitalidade, que ousaram dizer a verdade, foram para a prisão com dignidade.

Espero também que as amplas massas de amigos vermelhos avaliem o que significa “arrumar brigas e provocar problemas” — foi isso o que fizemos? O que está escrito no terceiro artigo da Constituição? [12] Se não consegue resolver um problema, deveria lidar com as pessoas que o causaram?

Quando esta carta for publicada, provavelmente já não terei mais acesso à comunicação. A próxima parada é o centro de detenção, depois disso, a prisão. Mas não tenho medo! Se essa chamada (呐喊) pode ajudar meus funcionários a sair da prisão apenas um dia antes, terá valido a pena.

Carta aberta de um jovem maoista à espera da prisão

Estou implorando por um julgamento justo para os meus funcionários. Se os ministros competentes puderem ler isso, espero que [vocês/eles] possam decidir de acordo com casos semelhantes em toda a China, de modo que possam dissipar nossas dúvidas.

Cuidem-se, grandes massas de amigos vermelhos! É difícil evitar contratempos na estrada da propagação da cultura vermelha. Acalmem-se todos. Mesmo que esteja no centro de detenção, continuarei estudando e pesquisando o pensamento de Mao Zedong, contribuindo com o último resquício da minha força para o grande projeto de rejuvenescimento nacional!

Até daqui a uns anos, camaradas. Agora vou para a prisão.

Yu Yixun

31 de dezembro, 2021

 

Notas dos Tradutores [para o inglês]

[1] A esquerda clandestina da China continua dominada por vários tipos de grupos maoistas e outras formações leninistas, apesar da proliferação silenciosa de várias correntes de esquerda antiautoritárias ao longo da última década. Planejamos delinear as diferentes correntes e debates que caracterizam a situação política não oficial da China de maneira mais sistemática em um trabalho futuro. Enquanto isso, por favor consulte ”A State Adequate to the Task: Conversations with Lao Xie [Um Estado Adequado à Tarefa: Conversas com Lao Xie], na segunda edição do nosso jornal, Chuang 2: Frontiers [Fronteiras], e vários posts em nosso blog, como “Seeing through https://chuangcn.org/2019/07/jasic-2-reignite-interview/Muddied Waters, Part 2: An Interview on Jasic & Maoist Labor Activism” [Enxergando através de águas enlameadas: uma entrevista sobre Jasic e o ativismo operário maoista] e o prefácio de “Smart, Disaffected & Unseen” [Inteligente, Descontente e Invisível].

[2] Esta é provavelmente a acusação mais comum aplicada aos dissidentes na China, explorada em nosso artigo “Picking Quarrels” [Arrumando brigas]

[3] Não sabemos se o próprio grupo usou esse nome ou se foi apenas atribuído a eles pela polícia, mas o fraseado sugere ser o nome real de uma empresa ou plataforma de mídia.

[4] Um dos principais divisões entre os maoistas chineses desde a década de 1990, que vamos explorar em trabalhos futuros, é a divisão entre os nacionalistas e internacionalistas — uma divisão que geralmente, mas nem sempre corresponde com a entre as posições “reformista” vs. “pró-revolucionária” que proclamam os “verdadeiros socialistas” dentro do PCC (ou, em alguns casos, “camponeses”) vs. “trabalhadores” (e alunos de origem pobre) como o potencial sujeito político de luta para a mudança que os maoistas querem ver. Embora debates sobre o tema tenham endurecido até se tornarem uma clara divisão por volta de 2012, com os nacionalistas, em geral, dando suporte crítico para a administração de Xi e os internacionalistas se tornando seus inimigos jurados, existem ainda alguns que atravessam a cerca, e a linguagem ambígua de Yu pode refletir tal ambiguidade ideológica — se não for mera retórica destinado a provocar a misericórdia do Estado.

[5] Esta é uma tradução do título sob o qual a carta foi publicada online em um post de um autor desconhecido em 4 de janeiro. Assumimos que foi um repost de onde Yu publicou originalmente, visto que a carta é datada de 31 de dezembro, e as duas últimas linhas foram repetidas no topo (omitido aqui). Role a tela para baixo para ver a carta chinesa original.

[6] Removemos o número de identidade do autor e o número de telefone, embora ambos estejam disponíveis na carta original. Muito provavelmente eles foram colocados para mostrar a sinceridade do autor, e para provar a sua identidade. No entanto, esta informação privada não é de real importância para a nossa tradução.

[7] “Amigos vermelhos” (红友) é um termo novo e ainda pouco comum, que também traduzimos como “camaradas” ao longo da carta. Podemos apenas assumir que foi criado para distinguir do uso, agora quase universal, do antigo termo para “camarada” (同志) para significar LGBTQ+, e para ser mais politicamente específico do que outras substituições que têm sido populares nos últimos anos, como “pessoas compartilhando aspirações em um caminho comum” (志同道合的人).

[8] Essa data difere dos documentos judiciais que encontramos, que dizem que foram detidos no dia 3 de maio, formalmente detidos no dia 1º de junho e condenados no dia 30 de dezembro. Não sabemos como explicar esta discrepância.

[9] Deng Liqun (邓力群, 1915 – 2015) foi um teórico e também uma das principais figuras da “velha ala esquerda” do PCC na década de 1980. “Purgado durante a Revolução Cultural, Deng voltou na década de 1980 como um dos membros mais proeminentes da ala esquerda do partido na esteira dos acontecimentos que levaram aos protestos na Praça Tiananmen em 1989. Ele defendeu a economia planejada no estilo da ortodoxia comunista e se pronunciou contra as reformas econômicas pró-mercado e a liberalização política. Retirou-se da política ativa em 1987, depois de não conseguir obter apoio interno suficiente para ganhar um lugar no Politburo, o que foi parcialmente atribuído à sua posição ideológica linha dura, mas continuou a agitar a linha de esquerda.”

[10] A cópia do texto do documento do Tribunal disponível para nós neste momento contêm mais informações sobre os cinco detidos. Aqui está um breve resumo de algumas das suas informações pessoais presentes no documento: Zhang Zhijing (sexo masculino, 31 anos) de Sanming, Fujian, escolaridade ensino médio incompleto; Yu Chaoquan (sexo masculino, 31 anos) do condado de Minqing, Fujian, escolaridade ensino médio incompleto; Qiu Pingqin (sexo feminino, 27 anos), de Zunyi, Guizhou, escolaridade ensino médio incompleto; Qiu Pinghui (sexo feminino, 28 anos), de Zunyi, Guizhou, escolaridade desconhecida; Huang Xiaochun (sexo feminino, 19 anos), de Fuzhou, Fujian, escolaridade ensino médio. Parece, então, que o indivíduo chamado Huang Yao pode não ter sido preso.

[11] A frase diz literalmente: “Eu pensei em todas as maneiras, consultando um advogado, defendendo-os, e assim por diante.” Ainda não está claro se eles realmente consultaram um advogado.

[12] Este pode ser um erro tipográfico da parte do autor, já que o terceiro artigo da Constituicão trata do centralismo democrático, enquanto o trigésimo quinto artigo se refere à liberdade de expressão.

 

Este artigo foi traduzido por Marco Túlio e as artes que ilustram o texto são da autoria de Xu Hongming (1971-).

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