Por Assembly

As noites russas estão ficando cada vez mais quentes! A consciência das pessoas está despertando e observamos como isso está acontecendo. A foto do título é de Nizhnevartovsk. Por favor, apoie o centro de mídia virtual para atividade comunitária de reparos de Kharkiv, destruída na linha de frente. Para doar você pode acessar essa página.

Como previmos na edição anterior desta investigação, o Kremlin não se atreveu a declarar abertamente uma mobilização geral. No entanto, a prolongada guerra de atrito está forçando ambos os lados a lançar na batalha reservas cada vez menos preparadas. A frota do Mar Negro da Marinha russa, por exemplo, envia pessoal para desembarcar como fuzileiros navais, tanto quanto possível — afinal, devido a enormes perdas, as fileiras da 810ª brigada de Fuzileiros Navais de Sebastopol foram formadas novamente após o extermínio durante o ataque de Mariupol e seu comandante também foi morto lá. As autoridades estão agitadamente tentando compensar as perdas com uma “mobilização oculta”. A Rússia está reabastecendo as tropas da invasão muitas vezes recrutando mercenários não qualificados, prometendo-lhes 300.000 rublos por mês com crédito de anistia, e hoje soube-se que um projeto de lei foi submetido no parlamento russo para abolir o limite superior de idade para o serviço militar. Agora são 40 anos para russos e 30 para estrangeiros.

No entanto, rumores continuam circulando sobre os preparativos do regime russo para uma mobilização geral, apesar de tudo que foi listado acima. Redes sociais e espaços na mídia estão cheios de recomendações e macetes para evitar o serviço militar. Ataques a escritórios de alistamento acontecem um após o outro. Se nos dois primeiros meses da guerra houve apenas cinco desses atos, agora eles chegaram a pelo menos doze! Os incendiários geralmente não são encontrados, indicando a incapacidade do Estado de prevenir e parar a maioria dessas tentativas antes que os ataques aconteçam. Como não há banco de dados digital de conscritos na Rússia, a queima dos documentos paralisa o recrutamento no território jurisdicional.

Na noite de 3 de maio, o centro de recrutamento militar em Nizhnevartovsk foi incendiado. Como podemos ver nessa filmagem, os atacantes incendiaram a entrada usando coquetéis Molotov, mas os policiais chegaram rapidamente e apagaram o fogo com extintores de incêndio. Outro coquetel não utilizado foi encontrado no local. Uma semana atrás, dois suspeitos foram detidos, e processos criminais foram iniciados com a acusação de “vandalismo” e “danos intencionais à propriedade.” Na noite de 8 de maio, duas pessoas jogaram vários Molotovs na janela do escritório de alistamento militar em Cherepovets e fizeram um video sobre isso. A destruição não foi muito grande — duas esquadrias de janelas foram danificadas pelas chamas e a fachada do edifício ficou enegrecida. Na noite de 10 de maio, um coquetel Molotov acertou a janela de uma instalação semelhante em Balashikha. Um incêndio começou no corredor, que foi infelizmente apagado por um guarda que prestou atendimento no local, mas o incendiário não foi capturado. Além de Balashikha, esse escritório também é responsável pelo recrutamento na cidade vizinha de Reutov.

Vestígios de incêndio criminoso no centro de recrutamento de Balashikha
Vestígios de incêndio criminoso no centro de recrutamento de Balashikha

Na noite de 13 de maio, desconhecidos jogaram vários coquetéis Molotov nas janelas do escritório de alistamento do Distrito Central em Omsk. Pelo menos duas janelas foram quebradas. O incêndio atingiu uma área de 30 metros quadrados e alguns arquivos foram danificados.

Por volta das 2 da manhã de 13 de maio, uma tentativa de queimar o escritório de recrutamento militar também ocorreu em Gukovo, perto de Rostov. Coquetéis Molotov acertaram a parede do edifício. O visitante, segundo a redação oficial da mídia estatal, “desapareceu em uma direção desconhecida.”

E depois coisas semelhantes aconteceram em Pronsk.
E depois coisas semelhantes aconteceram em Pronsk.

Na noite de 15 de maio, pelo menos uma garrafa de mistura inflamável atingiu o escritório de alistamento em Volgogrado. O incêndio cobriu uma área de cerca de 20 metros quadrados nas instalações. Apenas uma hora depois, foi relatada uma tentativa de incendiar a esquadria da porta e da janela do escritório em Pronsk (região de Ryazan). O fogo não se espalhou. Na noite de 18 de maio, o alvo foi um centro de recrutamento militar em Shchyolkovo, perto de Moscou. Dois escritórios foram seriamente danificados, incluindo o arquivo com os dados dos conscritos. Nesse video vemos as janelas sendo quebradas, e em seguida o partisan derrama uma mistura incendiária no interior do prédio. Então começa o incêndio. Em todos esses casos, os policiais não prenderam ninguém.

No entanto, em 5 de maio, um processo criminal foi iniciado contra o anarquista Denis Kozak, de 19 anos, da região de Rostov, por “apelos públicos na internet em favor do terrorismo ”. A pena é de até 7 anos de prisão. Denis conduziu agitação anti-guerra em VKontakte, onde os policiais encontraram seu comentário sobre o bombardeio do escritório do FSB de Arkhangelsk em 2018 “justificando as ações de Mikhail Zhlobitsky”. Não foi difícil encontrá-lo, e forças especiais invadiram sua casa na aldeia de Mokry Gashun. Eles divulgaram calúnias que Denis compartilha da ideologia do nazismo e do fascismo ou que agiu sob ordens de agências de segurança do Estado ucraniano. A perícia, é claro, confirmou que “os materiais postados por Kozak contêm declarações sobre o reconhecimento da ideologia e prática de ações violentas e/ou destrutivas como corretas e que precisam de apoio.” Agora Denis está sem poder partir. Dois meses atrás, também escrevemos sobre a captura de dois anarquistas em Tula suspeitos de vandalismo contra carros com suásticas em Z.

“Generais para a forca” e “mate um general” nas ruas de Moscou
“Generais para a forca” e “mate um general” nas ruas de Moscou

“Generais para a forca” e “mate um general” nas ruas de Moscou

Como já relatamos anteriormente, em um comício anti-guerra em Moscou no dia 6 de março, duas pessoas foram detidas com componentes de dispositivos incendiários. Segundo os investigadores, como se viu, Vladimir Sergeyev e Anton Zhuchkov queriam atear fogo a vagões vazios com os coquetéis Molotov encontrados na mochila de Sergeyev. Durante a prisão, ambos tomaram uma dose letal de metadona. Eles passaram uma semana no CTI (Centro de Terapia Intensiva) e quase não sobreviveram. Em seus depoimentos, Anton e Vladimir também declararam sua intenção de cometer suicídio.

Sergeyev explicou querer tirar a própria vida porque estava “envergonhado do que está acontecendo na Ucrânia agora”, e Zhuchkov, durante o interrogatório, disse que tentou se envenenar porque “não queria ver o que estava acontecendo no mundo: guerra na Ucrânia, eventos no Donbass. Eu também tinha medo da guerra nuclear. Eu queria tirar minha própria vida porque não queria ver o que aconteceria a seguir.” No início, eles foram acusados de “preparação para o vandalismo”, que tem uma sentença relativamente curta — até 3 a 5 anos. Mas depois que o FSB se interessou pelo caso, as acusações foram endurecidas: agora é “preparação para um ataque terrorista”, que ameaça com uma sentença de até 10 anos de prisão. Para pagar por um advogado para Vladimir Sergeyev, 200.000 rublos são necessários no período de investigação preliminar. Graças a parentes e pessoas atenciosas, 150.000 já foram arrecadados. Os detalhes de pagamento para os outros 50.000 rublos estão nesta postagem.

O comunista Ruslan Abasov, de 20 anos, e o anarquista Lev Skoryakin, de 22 anos, foram mantidos na prisão por quase cinco meses depois de uma manifestação pacífica contra a repressão política perto da sede do FSB em Moscou. Anteriormente, eles estavam juntos no centro de detenção pré-julgamento de Butyrka, e Ruslan era constantemente transferido de uma cela para outra por agitar seus companheiros de cela. Devido à sua transferência para outro centro de detenção, ele ficou sem comunicação, mas um advogado conseguiu vê-lo em 18 de maio e descobriu o que aconteceu. Dessa vez Ruslan foi transferido devido ao seu estado de saúde. Ele ficou gravemente doente com meningite e passou muito tempo no Centro de Terapia Intensiva. A recuperação é outra história: ele estava deitado algemado e sob escolta! Felizmente, ele sobreviveu e está sofrendo uma recuperação lenta e difícil. A esquerda em Moscou forneceu laticínios para restaurar de alguma forma a sua imunidade depois dos antibióticos. Não há nenhuma esperança de que as medidas preventivas aplicadas a Ruslan sejam mitigadas devido à doença. Como observa o Livro Negro do Capitalismo, no romance clássico “The Gadfly”, um revolucionário gravemente doente também foi amarrado com correias em uma cama na prisão. Isso foi na Itália do século XIX — e essa agora é a Moscou do século XXI!

Logo, Davi não teve medo e saiu para lutar contra Golias. À medida que a guerra se torna cada vez mais uma guerra de posição, a luta social na retaguarda se intensificará cada vez mais. A guerrilha espontânea do povo começou e parece estar crescendo.

Finalmente, nesta semana vimos um novo fenômeno na parte ocupada do Donbass: protestos de mulheres em frente a escritórios de alistamento exigindo o retorno de maridos e filhos mobilizados à força pelos russos e seus representantes [proxies]. Veja um material acerca da pesada derrota desses recrutas perto de Kharkov e as condições bestiais descritas por seus parentes. Por outro lado, acrescentamos um relatório sobre a exploração da equipe local do Médicos Sem Fronteiras e sua baixa eficiência em comparação com os voluntários auto-organizados de Kharkov.

Informações sobre as ações em solidariedade aos revolucionários nessas câmaras de tortura russas podem ser enviadas para [email protected]

Liberdade para conscritos! Armas para o povo!

Artigo traduzido por Marco Tulio Vieira e publicado originalmente, em inglês, no Libcom. As imagens utilizadas no artigo foram reproduzidas do original.

1 COMENTÁRIO

  1. “Esta guerra de ontem, esta guerra de hoje deve convidar, acima de tudo, a uma luta séria e fundamentada contra a guerra em si ”

    Pierandrea Amato e Luca Salza

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