A escritora francesa que neste ano obteve o Prémio Nobel declarou: «Se os homens não tomarem consciência do seu corpo, do seu modo de vida, do seu modo de se comportar e do que os motiva, não vai acontecer nenhuma libertação real para as mulheres». É curioso que uma feminista considere que a libertação das mulheres venha… dos homens. É claro que também poderíamos dizer que os trabalhadores não alcançarão o socialismo enquanto os capitalistas não mudarem de atitude. Passa Palavra

12 COMENTÁRIOS

  1. Este flagrante delito nos leva a entender, em companhia das feministas radicais, que os homens se constituem como uma classe social que explora as mulheres, também entendidas como classe social?

  2. O paralelo lógico do FD me parece bastante inadequado. A libertação de uma classe implica o esmagamento da outra e o fim da própria relação de classe, portanto nenhuma relação amigável está pressuposta, pelo contrário, é guerra e a relação entre os polos é inconciliável. Já a libertação das mulheres em relação ao machismo ou ao patriarcalismo implica sim um alto grau de fraternidade e de mútua relação confluente entre os polos (que aqui não são inconciliáveis) na construção de novas relações de sexo e de gênero, portanto sim, a libertação das mulheres implica revoluções na consciência e na prática dos homens. Não há libertação da mulher como obra tão somente da mulher, assim como a libertação dos homens de seu próprio machismo não é possível enquanto relação do homem consigo mesmo (como se bastasse orar ou tomar consciência de seus privilégios e se desconstruir, ou algo assim) e sim na relação prática e mútua com as mulheres, no erigir de novas relações de sexo e de gênero.

    O contrário disso é a visão identitária, com a qual o FD acaba concordando ao insinuar que os homens não têm papel central na libertação das mulheres (assim como as mulheres têm papel central na libertação dos homens), ou então alguma modalidade de iluminismo.

  3. 1871
    Ora, pois: paralelo diagonal e lógico paradoxal, o flagradel aturde e (bastante!) inadequa alguns notórios colecionadores de ideologemas consubstanciais à pretéritas ortodoxias.
    Definitivamente(?), junto com o tempo das cerejas, foi-se a desconfiança organizada e sua forma-partido.
    Sobrou a tagarelice…

  4. Diante destes e doutros comentários ao longo dos anos e das páginas deste site, confirma-se a única conclusão racionalmente possível, mesmo sob o protesto das toupeiras (velhas ou novas…), que a luta de classes acabou, e já faz tempo… Ela é como a fé que o crente carrega em seu coração para enfrentar o medo da morte… As toupeiras, por não aceitarem a morte, buscam os subterrâneos, onde impera a escuridão, para tão somente aí “enxergarem” a tal luta revolucionária…
    Só sobrevivem as toupeiras (velhas ou novas) graças a um poucos incautos que fazem, por um tempo (pois a “rotatividade” revolucionária é tão intensa quanto à rotatividade no mercado de trabalho), o mesmo papel dos crentes religiosos… Ao invés do culto, dízimo ou das cartas de indulgência, os livros, as palestras, etc…

  5. DEBAIXO DOS PARALELEPÍPEDOS
    E haja niilismo customizado! Mais um ever son choramingando over d[e]ad, sem conseguir calcular com quantos between se faz um among &/ quantos among cabem num between.
    Um patético avatar de epígono decreta (pela enésima vez): a luta de classes acabou!

  6. Um Flagrante Delírio. Ou um flagrante delito que é o próprio Flagrante Delito.

    Não diria que a luta de classes acabou, e sim que o identitarismo está dando é nó na cabeça dos anti-identitários.

  7. E apesar do que escreveram Pablo e outros, sempre houve mulheres, não necessariamente militantes feministas, mas mulheres, que romperam barreiras, desafiaram convenções, enfrentaram, lutaram, sem nunca ficarem esperando uma tomada de consciência da parte dos homens e da sociedade em geral, inclusive outras mulheres, mas agindo. Talvez seja esse o sentido do flagrante delito, não? E talvez haja uma lição mais profunda, de que, em qualquer luta, mais importa agir do que aguardar uma tomada de consciência de quem quer que seja.

  8. sorte nossa que a ação de muitas feministas, e não apenas, nos tem feito tomar consciência sobre nossas formas de pensar e atuar. É surpreendente nossa capacidade, humana em geral, de reproduzir formas arcaicas de sociabilização. Os tais fantasmas das gerações anteriores que continuam assombrando nosso presente.
    Particularmente importante são as ações e reflexões das feministas que se opõe às soluções identitárias, e desta forma ressaltam a importância do papel dos homens na libertação das mulheres.
    Por isso o estranhamento que causa a publicação deste Flagrante Delito. Quantos textos foram publicados neste site a respeito da diferença entre o feminismo excludente e o feminismo não excludente? Para que hoje se surpreendam com uma feminista que considera central o papel dos homens na luta das mulheres…
    Simples lapso? Mudança de posição? Ou vontade de criticar qualquer expressão feminista independente de seu conteúdo?

  9. Ou talvez o flagrante delito ironize o fato de que o feminismo atual (que é majoritariamente excludente) não apenas eleja os homens como inimigos, mas tente introjetar-lhes nas mentes um sentimento de culpa, para que sejam cúmplices no processo de culpabilização… de si mesmos, para que abram caminho ao protagonismo feminino, ou melhor, ao processo de renovação das elites.

    E enquanto isso existem pessoas – homens e mulheres – que se recusam a reproduzir práticas machistas, que na prática apontam alternativas, e sobretudo, como escrevi no último comentário, mulheres que não esperam uma tomada de consciência de quem quer que seja – homens ou mulheres – e passam à ação, sem recorrerem também ao artifício da imposição de uma autoculpabilização a quem quer que seja.

  10. As formas subversivas tornaram-se tão performarivas que tudo virou clichê,quando não,viram blocos na engrenagem mercantil. No fim,quem permanece sólido é o cansaço de todos.

  11. Fagner, existe uma grande diferença entre a culpa e a crítica. Você coloca como se a culpa fosse um instrumento de “opressão” contra os homens, mas existe um perfil de culpa que encaixa perfeitamente num esquema de imobilismo masculino. Pois a culpa é algo estático e definitivo. Já a crítica supõe que estamos em contínua transformação. Logo, o homem que identifica em si as práticas machistas pode recorrer à culpa para nunca ter que transformar-se, sua conduta está determinada por sua biologia e não há nada a ser feito.

    Você não acha que a tomada de consciência de que fala Annie Ernaux não estaria mais próxima desta capacidade humana tão bela, que é poder aceitar a crítica e incorporá-la em ações e pensamentos? Como pode a crítica, em quanto gênero, existir sem algum tipo de aposta de que as cosias podem mudar?

  12. “Heleieth Saffioti já alertava que todos percebem que a vítima precisa de ajuda, mas poucos veem esta necessidade para o agressor. As duas partes precisam de auxílio para promover a transformação da relação violenta. A violência não é fenômeno individual. E certa esquerda que, acreditamos, poderia, além de sonhar, contribuir para desconstruções de velhas relações de dominação, ultimamente tem demostrado ser incapaz de construir novas práticas, na medida em que naturaliza relações que são eminentemente sociais.

    Estaríamos todas nós falando em combate ao machismo em favor de uma outra sociedade, com relações isonômicas ou, antes, afirmando velhas relações de poder, só que agora com a inversão dos polos e reproduzindo as relações de mando-obediência?”

    https://passapalavra.info/2015/05/104166/

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