A luta campesina não é importante por seu mundo ser um reduto pré-capitalista; seu objetivo não é esse mundo e tampouco é aquele de antigamente. Seu valor está em criar relações sociais distintas das capitalistas e oferecer métodos e práticas gestadas pelos trabalhadores. Por JG
Qualquer projeto de sociedade precisa prever determinados tipos de relação entre o ser humano e o meio natural, já que estamos ligados a ele por necessidade e pela gravidade, pelo menos por enquanto. Sugiro pensarmos a discussão recente sobre a esquerda, o campesinato e a natureza com o pé no chão. Se começo com uma analogia com um quê de hippie, não é por outro motivo senão provocação, esse recurso retórico que por bem ou por mal incita ao debate, como temos visto aqui no Passa Palavra. Mas digo pé no chão também por outra razão: proponho começarmos pelos fatos dessa vez, a ver se chegamos às teorias. Quando o culto ao progresso leva à curiosa conclusão de que venenos usados na agricultura fazem bem à saúde [1], é bom partirmos do outro lado da equação – os fatos – já que as teorias tendem a ser mais falíveis que eles.
O ser humano precisa comer. Ao contrário das plantas e de certos micro-organismos, o ser humano necessita buscar nutrientes através da alimentação. Para viver, não basta qualquer coisa, são necessários açúcares, gorduras, proteínas, sais minerais, alguns metais em pequena concentração, e dezenas de tipos de vitaminas. Essa necessidade que parece exaustiva não costuma o ser, devido à grande variedade de alimentos que consumimos – embora haja no mundo quase um bilhão de pessoas famintas [2] e ainda mais pessoas desnutridas, a quem faltam determinados nutrientes, mesmo que possuam calorias suficientes na alimentação. Então, de uma maneira ou outra, teremos que produzir comida. Ora, a hegemonia do agronegócio não é capaz de alimentar adequadamente a população porque produz poucos itens, embora em quantidades cada vez maiores: soja, milho, trigo, arroz, além de produtos não alimentícios, como algodão e diversas plantas que produzem biodiesel. Aqueles que porventura gostem ou achem importante comer a diversidade de frutas, verduras e legumes existentes, necessitam hoje da agricultura familiar. De fato, é essa modalidade que produz a maior parte dos alimentos do país, embora ocupe apenas 24,3% da área utilizada na agricultura, e ela emprega mais de 70% dos trabalhadores rurais [3].
É verdade que várias sociedades agrárias sofreram ondas de fome em épocas anteriores à chamada Revolução Verde, mas isso é necessariamente uma exceção e não uma regra: o surgimento da agricultura em sua forma mais rudimentar, há mais de dez mil anos, foi o que possibilitou o crescimento exponencial da população humana e o estabelecimento das primeiras cidades, cujos moradores se dedicavam a outros empenhos que não produzir ou buscar sua comida, já que havia sobressalente.
A agroecologia, muito mais recente, não é a negação das técnicas na agricultura, mas sim o desenvolvimento de novas, associadas a antigas práticas que se revelaram produtivas e de baixo impacto. Segundo o relatório “Agroecology and the Right to Food”, apresentado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU [4], a adoção massiva da agroecologia poderia duplicar a produção de alimentos no mundo, especialmente em áreas devastadas ou consideradas impróprias para a plantação, devido às diversas técnicas de restauração existentes nos sistemas agroecológicos. O relatório também apontou que a produção agroecológica de alimentos fornece melhor nutrição que a do agronegócio, baseada quase que inteiramente em cereais; além de ser mais resistente a mudanças climáticas e menos dependente de combustíveis fósseis.
Venenos fazem mal. Os alertas sobre possíveis danos à saúde causados pelo uso de agrotóxicos na agricultura são já bastante antigos. Em 1962 Murray Bookchin [5] publicou seu primeiro livro, “Our Synthetic Environment”, no qual compila dados a respeito do uso de DDT nas plantações, demonstrando que o agrotóxico matava diversos outros animais além das pragas e adentrava na cadeia trófica, chegando inevitavelmente ao ser humano. O produto foi posteriormente proibido, assim como diversos outros agrotóxicos comprovadamente danosos. No Brasil o órgão que regula este uso é a Anvisa, que permite o uso de diversos produtos já proibidos na maior parte do mundo, o que contribui para o país alcançar o topo da lista de consumo de agrotóxicos, apesar de não ser o maior produtor agrícola do mundo [6].
O que leva um agrotóxico a ser proibido ou liberado? Certamente não é a correlação de seu uso com o aumento da expectativa de vida, ainda que ela exista para o uso de agrotóxicos como um todo – a mesma correlação existe entre o aumento da expectativa de vida e a queda do número de piratas no mundo, o aumento do interesse público por reality shows ou do nível de violência nas cidades. A diferença entre correlação e relação causal pode parecer sutil, mas é fundamental para a ciência, incluindo aí testes de toxicidade dos venenos agrícolas. Refiro-me então ao artigo do ecólogo [7] Jean Rémy Guimarães, da UFRJ, que compilou diversas revisões científicas demonstrando o impacto à saúde tanto nos agricultores, por exposição aguda ou crônica a agrotóxicos, causando mais de 350 mil mortes por envenenamento todo ano, assim como o aumento de casos de câncer nos consumidores dos alimentos produzidos com agrotóxicos [8]. Esses resultados não são novidade e a luta contra os agrotóxicos já é uma pauta dentro dos movimentos do campo, como demonstra a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos, iniciada em 2011 pela Via Campesina [9]. É interessante que esta iniciativa não parte dos consumidores, mas sim dos produtores, que têm um interesse direto nessa pauta tipicamente ecológica.
O impacto ao ambiente é um impacto aos que dele precisam. Por que o modelo do agronegócio, baseado na monocultura, precisa inevitavelmente de agrotóxicos? A plantação consecutiva de uma mesma planta por largas extensões de terra, especialmente quando se impede qualquer outra espécie de crescer no local, é um prato cheio para as pragas, que encontram um campo vasto para se multiplicar sem qualquer empecilho; quando todas as plantas foram produzidas das mesmas sementes, não há nem mesmo variação genética entre elas, que poderia acrescentar diferentes defesas ou adaptações nos organismos. Os sistemas agroecológicos se baseiam na plantação de dezenas ou centenas de plantas no mesmo espaço; cada uma pode ser atacada por algumas pragas diferentes, mas dificilmente a praga se espalha às outras plantas e sua tendência é se extinguir na região. Algo similar acontece com o solo, porque cada planta tem exigências específicas de nutrientes que se esvaem da terra quando ela é cortada. Para manter o solo apto ao plantio na monocultura, é necessária uma grande quantidade de adubos químicos, que não são meramente sintetizados em laboratório, mas retirados do solo de outros locais que contenham níveis maiores de nitrogênio, fosfato, etc., passando também por processos químicos industriais. Essa atividade impacta fortemente as regiões de onde se extrai o solo – quem já viu uma fosfateira notou a semelhança que possui a um sítio de mineração [10]. Em um sistema de múltiplas plantas, as exigências do solo são diversas e a renovação das plantas é contínua, de maneira que umas preparam o solo para as outras, devido à suas composições diferentes. É a isto que os ecologistas chamam de equilíbrio da natureza, que não é estático nem eterno, mas se mantido pode permitir aos agricultores produzir alimento sem riscos de contaminação, sem ter que abandonar a terra em poucos anos, ou sem se tornar inteiramente dependentes de produtos que encarecem a produção e financiam as empresas de agrotóxicos, fertilizantes, transgênicos, etc. Essa dependência não garante apenas um amplo mercado para essas empresas, mas também um controle cada vez maior sobre o quê e como se planta, retirando essa autonomia dos trabalhadores rurais.
Tanto na monocultura do agronegócio quanto nos empreendimentos necessários para sua manutenção, cursos d’água são contaminados, florestas são derrubadas e o ar é poluído. A natureza não possui mente nem vida própria para se sentir lesada, mas o mesmo não pode ser dito das populações humanas que dependem invariavelmente do ar e da água locais, quando não tiram sua própria vida do usufruto do que produziam as terras.
Plantar pode ser bom. O avanço do agronegócio concentrou a posse da terra e acelerou o êxodo rural, acentuando o processo desordenado de urbanização característico das cidades brasileiras. A cidade concentra uma série de oportunidades que não existem no campo, incluindo serviços de saúde, educação, lazer e trabalho. A maior parte disso tudo não está acessível a quem não tenha dinheiro, e morar em regiões mais periféricas acentua essa exclusão; mas ainda assim a cidade parece oferecer mais do que o ermo campo. Esse é um verdadeiro dilema [11], mas não é um problema intrínseco do campo ou de quem se propõe a fazer agricultura. O campo não só pode ter hospitais e escolas, como também festas, internet banda larga e o que mais os camponeses quiserem. Alguns serviços precisam ser fornecidos pelo Estado e outros podem ser resolvidos pelas próprias comunidades; em ambos os casos, a organização das pessoas se faz necessária, seja para exigir do governo ou para criar e construir coletivamente o que for.
Por outro lado, nós citadinos também perdemos algumas coisas ao não estarmos próximos à natureza e afastados de algumas condições das grandes cidades: trocar banho de rio, comida fresca, bicho de pé e canto dos pássaros por ônibus lotado, roupa social, cinema e mercado 24 horas pode parecer melhor para a maioria dos leitores, mas não é óbvio para todos, especialmente àqueles acostumados com o campo. Além disso, uma análise do nosso entorno cotidiano revela imagens da natureza, flores, animais e paisagens nos quadros das paredes e estampadas em nossos pratos, roupas, toalhas e azulejos, o que parece indicar que são do nosso agrado. As moradas próximas a parques, florestas e praias são mais apreciadas, o que se reflete em seu custo maior, quando isso não implica também em distâncias muito maiores aos serviços da cidade. Também não há registro de algum perfume que busque imitar odores típicos da cidade e da indústria.
De qualquer forma, o que parece claro é que as principais dificuldades da vida no campo são circunstanciais, e a atuação dos movimentos sociais camponeses deve requerer também os meios e serviços que são anseios dos trabalhadores rurais [12].
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Nada disso invalida a crítica ao estéril ambientalismo hegemônico defendido por certas ONGs, pela mídia e até por empresas, de propostas que são reformistas, quando muito, pois usualmente se trata de dar uma pintura verde ao capitalismo, já que a alcunha de sustentável agrega valor aos produtos e satisfaz a consciência dos consumidores. Quando propõe a todos a redução do consumo e o sacrifício individual em “benefício da natureza”, determinado ecologismo ignora a sociedade de classes onde vivemos, na qual os recursos são consumidos de maneira fortemente desigual. O cidadão médio americano, em 2008, emitiu 8 vezes mais CO2 que o brasileiro [13]. Os dados inexistem para diferenciar o consumo entre ricos e pobres, mas podemos esperar abismos ainda maiores entre as classes de cada país do que entre países.
O que se espera do ambientalismo pela esquerda é necessariamente tomar o ponto de vista dos trabalhadores. Afinal, os verdadeiros afetados com secas, enchentes, deslizamentos de terra, comida envenenada, derrubada das florestas, poluição da água, derramamento de metais pesados, etc., são justamente os mais pobres, os moradores dos morros, os indígenas, ribeirinhos e camponeses; aqueles que tiram o sustento diretamente do uso da natureza e os mais vulneráveis à perda desses recursos. Por certo não são eles os principais beneficiados com o modelo de desenvolvimento que leva a essas catástrofes, mas sim grupos empresarias e sua rede de apoio nas classes dominantes.
No que toca à produção de comida e à vida camponesa, há diversos interesses dos trabalhadores a se levar em conta. No curto prazo, é necessário que se produza alimento em quantidade suficiente, que o trabalhador possa usufruir do que produz e que não se exponha a rotinas extasiantes ou condições ruins de trabalho. Além disso, no médio e longo prazo é também interesse dos trabalhadores que estejam consumindo alimentos saudáveis, sem agrotóxicos que tragam problemas de saúde à sua família, além de não estarem danificando muito o ambiente no qual habitam e de onde tiram seu sustento, de modo que não necessitem migrar para novos locais mais distantes e com menor infraestrutura, nem perder seu vínculo com vizinhos, amigos e o próprio local.
O capitalismo falha em todos esses objetivos, o que explica que a vida no campo seja complicada e muitas vezes promova o êxodo rural assim que ele seja possível. O modelo do agronegócio, baseado na monocultura e no uso intensivo de insumos e veneno, mesmo se fosse coletivizado, ainda seria desfavorável aos trabalhadores rurais no médio e longo prazo, por produzir poucos tipos de alimentos, com uso de produtos nocivos, e pelo impacto no meio onde vivem.
A luta campesina não é importante por seu mundo ser um reduto pré-capitalista; seu objetivo não é esse mundo e tampouco é aquele de antigamente. Seu valor está em criar relações sociais distintas das capitalistas e oferecer métodos e práticas gestadas pelos trabalhadores. Se é verdade que o socialismo não é a volta a um tempo pré-capitalista mas sim sua superação, também é verdade que ele só pode ser realizado pelos trabalhadores, através de seus métodos e não de outros. Para além da luta necessária pela terra, é no seio da organização do campesinato que se desenvolvem novas maneiras de responder às demandas básicas humanas e também outras que surgirem no caminho – nesse sentido deve caminhar a agroecologia, forjando um viver da natureza que seja do interesse dos trabalhadores em todos os níveis: emancipador, saudável, prazeroso na medida do possível, e tão livre quanto possa.
Notas:
[1] Confira a série de textos de João Bernardo “O mito da natureza” aqui, aqui e aqui, além de uma réplica e uma tréplica.
[2] Sobre a fome no mundo, consultar: http://www.fao.org/hunger/en/.
[3] Censo Agropecuário – Agricultura Familiar 2006. IBGE, Comunicação Social, 30 de setembro de 2009, disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_impressao.php?id_noticia=1466.
[4] “Para poder alimentar nove bilhões de pessoas em 2050 precisamos urgentemente adotar as técnicas agrícolas mais eficientes conhecidas até o momento. Os estudos científicos mais recentes demonstram nesse sentido que, onde reina a fome, especialmente nas zonas mais desfavorecidas, os métodos agroecológicos são muito mais eficazes para estimular a produção de alimentos do que os fertilizantes químicos”, afirma Olivier De Schutter, Relator Especial da ONU sobre Direito à Alimentação e autor do informe “Agroecology and the Right to Food”, relatório apresentado na 16ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em 8 de março de 2011. Disponível em: http://www.srfood.org/images/stories/pdf/officialreports/20110308_a-hrc-16-49_agroecology_en.pdf.
[5] BOOKCHIN, Murray. Our Synthetic Environment – revised edition. Joanna Cotler Books, 1975. O trabalho de Bookchin foi citado algumas vezes no presente debate, mas, à parte a referência por parte de João Bernardo de um livro de Janet Biehl, com quem Bookchin escreveu, seus argumentos não foram considerados. Murray Bookchin desenvolveu o campo da Ecologia Social, que sustenta que os problemas ecológicos estão assentados em problemas sociais, e é frequentemente lembrado dentro da esquerda como um ecologista sensato, preocupado sobretudo com os seres humanos. Apesar de propôr transformações radicais na relação homem-natureza, foi um grande crítico dos primitivistas e dos proponentes da chamada Ecologia Profunda, que estabelece os “interesses da Natureza” acima dos humanos. Bookchin buscava uma sociedade politicamente descentralizada e libertária, que usasse a tecnologia buscando emancipar o ser humano dos trabalhos manuais e da escassez. Seu trabalho forneceu base teórica para muito do movimento agroecológico atual.
[6] http://www.oeco.com.br/reportagens/25276-como-andam-os-agrotoxicos-no-brasil.
[7] Ecólogo, aqui, representa o estudioso da Ecologia, o ramo científico que estuda a relação entre os seres e o meio físico, apesar da comum interpretação do termo como sinônimo de ambientalista. Embora evidentemente relacionados, não se trata de uma via de mão dupla: os ambientalistas utilizam os trabalhos da Ecologia, mas esta se pauta através da pesquisa científica e não das cartilhas do Greenpeace.
[9] Sobre a campanha, conferir: http://www.mst.org.br/Campanha-contra-o-uso-de-agrotoxicos. Além disso, o filme “O veneno está na mesa”, de Silvio Tendler, contém muitos dados e pode ser assistido em: http://www.youtube.com/watch?v=8RVAgD44AGg.
[10] Uma simples busca por imagens é reveladora: http://bit.ly/z7mhLe.
[11] Lembro-me de uma família de militantes do MAB que me hospedou em um estágio de vivência. Os pais haviam lutado por vários anos em ocupações para pressionar o governo a reassentá-los após sua terra ter sido inundada na construção de uma hidrelétrica e eles conquistaram um assentamento onde levavam uma vida que me parecia bastante agradável. Seus filhos, porém, tinham como sonho ir viver na cidade; soube recentemente que o filho mais velho se mudou para tentar ser jogador de futebol. A situação é comum nos movimentos da Via Campesina, que busca evitar que todos os jovens abandonem o campo, sendo a própria militância um dos fatores para a permanência de muitos.
[12] Outra opção muitas vezes ignorada é a agricultura urbana, que rompe a velha dicotomia entre campo e cidade. Topos de prédios, terrenos baldios e outros espaços mal utilizados podem frequentemente ser usados para produzir comida, como já fazem várias entidades comunitárias e alguns grupos de agroecologia pelo Brasil, embora dificilmente a atividade gere empregos.
[13] http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_carbon_dioxide_emissions.
excelente texto, parabéns. vamos ver se o debate não reproduz contextos, lenguagem e estratégia de ´´guerra´´, tomara. na real, os textos do pp são bons, mas dá muita preguiça ver gente ´´matando´´ outros por aqui, inclusive um povo que diz questionar o ´´poder´´.
Gostei muito do texto, com qualidade e realmente centrado na autonomia dos trabalhadores. Mas toda vez que o assunto é campo sinto falta dos próprios. Aqui escrevem professores, vendedores de livro, artistas, fotógrafos, filmadores, assalariados de vários tipos, estudantes mas quando se trata do campo, cadê o camponês? É sempre citadinos discursando no lugar deles, a mim fica um tanto estranho.
Não sei se o autor reparou nos comentários à tréplica de João Bernardo, mas o que fica ali evidente é que, no caso dos anti-ecológicos, não se faz apologia da monocultura, nem do uso de agrotóxicos que prejudicam a saúde do trabalhador rural, nem coisa do tipo: “plantar não é bom” ou “o ser humano não precisa comer”.
O que se fez foi contestar a apologia de um modo de vida, ou um modelo de economia, idealizado, como fez Mix (até agora em silêncio diante da tréplica): o modelo do sub-consumo, do camponês que “de vez em quando, tem até queijo para comer (que maravilha!)”.
Pelo menos o autor, do artigo que agora comento, colocou as demandas dos trabalhadores rurais acima das ilusórias demandas de uma natureza agredida e revoltada (a nova Gaia?!). Quando o autor fala em uma agroecologia cujo fundamento é garantir a manutenção da produtividade, sem o uso de substâncias nocivas à saúde humana e que prejudicam o ciclo produtivo, nada mais faz do que nomear com vocabulário inovador uma prática milenar, a de manipulação dos elementos naturais orgânicos visando aumentar sua produtividade a um nível inexistente na natureza.
Mas, aí, novamente são as demandas dos trabalhadores rurais e não “as da natureza”: saímos, portanto, do âmbito misantrópico da ecologia, mas não adentramos o terreno do socialismo. A agroecologia, tal como o autor a entende, já é uma demanda capitalista, há um tempo. O capitalismo desenvolve cada vez mais a capacidade de explorar a força de trabalho, mas sem sujeitá-la a uma exaustão física e uma opressão fabril (ou rural?!) que torne o processo da exploração insuportável. O capitalismo quer trabalhadores saudáveis fisicamente e moralmente satisfeitos. Nesse sentido o biólogo pode substituir o químico; os produtos orgânicos podem substituir os venenos. E os trabalhadores, que lutam contra os produtos químicos prejudiciais à sua saúde, poupam o trabalho daqueles que pensam e chefiam o processo produtivo.
Agora reflitamos, um pouco apenas: se a maior parte da produção de alimentos é realizada segundo o modelo da agricultura familiar, e se a maior parte dos alimentos é envenenada, então são as famílias camponesas que estão nos envenando com os agrotóxicos, e se envenenando nas plantações! Não é o diabólico capitalismo anti-ecológico, nem os diabólicos socialistas anti-ecológicos, mas as famílias camponesas cristãs e ecologicamente corretas, que prezam o equilíbrio com a natureza, mas que tem que produzir cada vez mais alimentos, e em menos tempo, para não serem tragadas pela concorrência com outras famílias camponesas cristãs e ecologicamente corretas!
Além do mais, se são as famílias cristãs e ecologicamente corretas que produzem a maior parte dos alimentos, a fome que vitima muitos brasileiros é causada pelo fato de que elas produzem para o mercado e não para alimentar pessoas famintas, muitas delas vivendo no campo! Você pode ser um camponês, que vai à missa e preza os bichinhos e as plantinhas do campo, mas se alguém quiser comer a sua comida… que pague muito bem, obrigado! Depreende-se, daí, o quanto o camponês é revolucionário, pelo menos nas atuais condições. “Os laços de solidariedade do campo”, se é que existiram da forma como idealizam alguns livros didáticos de história, desapareceram há muito tempo. Vivemos no capitalismo e os camponeses da agricultura familiar, que são proprietários e não são burros, sabem disso.
É preciso, portanto, diferenciar o camponês do proletário rural, e, ambos, do sem-terra. Esse já é um bom começo.
É Super interessante essa ciência da Agroecologia artigos que vemos em sala de aula nos transporta para a prática dessa matéria importantíssimo para o futura da nossa agricultura atual sem uso de agrotóxicos que vemos hoje em dia … Obg
Aluno da IFPB- Curso Agroecologia 2012.1 turno tarde cidade de Pícuí
Eu estou mim apaixonando por agroecologia,estou trabalhando no meu sítio plantando tudo so no esterco de galinha e de gado do proprio sítio e estou vendendo na feira livre do cabo de santo agostinho,aumentou minha renda em 50% e toda familia esta se alimentando melhor com verduras e legumes sem agrotoxicos,sou uma agricultora q trabalho na agricultura familiar eu e meus
filho(as,muito obrigada por este espaço beijos e
Quinta, 17/05/2012 – 16h38
Engenho Ipiranga recebe visita de comunicadores de diversos estados do Nordeste
Um grupo de comunicadores de todos os estados do Nordeste conheceu nesta quinta-feira (17/05) a Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS), desenvolvida no Engenho Ipiranga, localizado na zona rural do Cabo de Santo Agostinho. Essa tecnologia social que gera uma nova alternativa de trabalho e renda para a agricultura familiar é uma iniciativa da Fundação Banco do Brasil (FBB), em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS) e é executado pela Associação de Orientação às Cooperativas do Nordeste (Assocene). No Cabo, conta com o apoio da Prefeitura. A visita dos comunicadores ao engenho foi acompanhada por representantes do governo municipal e do BNDS e faz parte da programação do 4º Encontro de Jornalistas do Nordeste realizado pela FBB, em Ipojuca, que acontece até esta sexta-feira (18).
O PAIS foi implantado no Cabo desde 2010 e está beneficiando 48 famílias. Na implantação da tecnologia, a Assocene realiza uma capacitação com o agricultor e o técnico agrícola do município. Em seguida, cada família recebe um Kit PAIS, que é instalado na propriedade do agricultor. O kit inclui um galinheiro e, ao seu redor, são plantados quatro círculos com hortaliças folhosas, frutos e raízes. Além disso, também é disponibilizado um sistema de irrigação e toda infraestrutura para que a tecnologia funcione de maneira adequada. Todo o cultivo é realizado de forma orgânica, sem uso de agrotóxicos e de qualquer produto que venha trazer danos para a saúde e também para o meio ambiente.
De acordo com a coordenadora do projeto pela Assocene, Débora Costa, a iniciativa é o início de uma construção da agroecologia na agricultura familiar. “Com esta tecnologia e as práticas orgânicas que são repassadas, o agricultor pode produzir alimentos, preservar o meio ambiente e gerar renda para sua família”, pontuou.
Para o secretário de Governo e Orçamento Participativo do município, Luiz Pereira, o desenvolvimento acelerado da região e a consolidação do Complexo de Suape geraram um grande aumento no crescimento populacional, por isso existe um papel fundamental do homem do campo nesta fase que o Cabo está vivendo. “A oferta de alimentos precisa acompanhar essa velocidade, por isso estamos apoiando os produtores agrícolas e incentivando cada vez mais a agricultura familiar, pois são eles que abastecem a cidade com alimentos mais saudáveis para a população”, declarou.
Segundo o superintendente de Desenvolvimento Rural do município, Carlos Eduardo Barreto, o cenário da agricultura do Cabo está mudando e se desenvolvendo a cada dia. “Antes, o município era movido pela monocultura da cana de açúcar, agora, o agricultor tem um amplo mercado para difundir diversos tipos de produtos para incrementar ainda mais a sua renda familiar”, enfatizou.
Dona Neide Cristina Rodrigues, 54, agricultora e proprietária do Kit Pais do Engenho Ipiranga, contou que há nove meses, desde que o sistema foi implantado na sua propriedade, a sua vida mudou para melhor. “Essa maravilha que chegou ao Cabo aumentou a minha renda em 50% e ainda melhorou a época da entressafra, quando geralmente faltava alimento na comunidade, mas agora não falta mais”, comemorou. A assessora de comunicação do Banco do Brasil de Fortaleza, Rosa Seabra, ficou encantada com o trabalho. “É muito importante que este belíssimo trabalho que é realizado aqui seja divulgado para que a população tome conhecimento do cuidado em que são produzidos estes alimentos”, destacou.
De acordo com o superintendente de Abastecimento do município, Nelson Mendes, desde 2011 foram disponibilizados pela prefeitura alguns boxes do Mercadão para que 20 famílias incluídas no PAIS pudessem comercializar seus produtos. “Isso ajudou na nossa oferta de alimentos e na qualidade dos produtos oferecido”, informou.
Texto: Loyane Farias – Secom/Cabo
Fotos: Ivan Melo
ate breve