Sem informações e ameaçadas de despejo, famílias do Grajaú realizam protesto no centro da cidade. Por Passa Palavra
Ao som de instrumentos de uma bateria de escola de samba, cerca de 100 moradores do Parque Cocaia, bairro localizado no distrito do Grajaú, na zona sul de São Paulo, ocuparam o saguão da Central da Habitação (prédio ligado à Secretaria Municipal da Habitação-Sehab) no centro da cidade.
Nos últimos dias, funcionários da Prefeitura têm feito marcação com spray em dezenas de casas que devem ser removidas e realizando cadastros das famílias. Moradores e militantes da Rede Extremo Sul, que organizou a ação, ainda afirmam que os funcionários não dão maiores explicações, mas pressionam para que eles deixem o local em troca do famoso auxílio-aluguel de 400 reais.
Iniciada por volta das 11h30 desta quarta-feira (20), a ação exigia que alguém da nova gestão municipal, que fosse inteirado do Projeto Mananciais, os atendesse e oferecesse informações mais detalhadas sobre as obras do Parque Linear, que há anos atormentam várias comunidades daquela região, devendo afetar milhares de famílias, como já registramos aqui.
Tentativa de cárcere privado
O portão do prédio chegou a ser fechado pelos seguranças da Sehab quinze minutos após a ocupação, o que gerou uma grande tensão entre manifestantes, policiais militares e civis e famílias que chegavam para ser atendidas.
Apesar do insistente pedido por parte dos manifestantes, policias e seguranças não permitiam que o portão fosse aberto, nem para quem quisesse sair nem para quem quisesse entrar. Lá dentro, outros seguranças impediam até que as pessoas usassem o banheiro. Já por volta das 12h30, o advogado do movimento ameaçou denunciar aquela atitude como “cárcere privado”. Só então, cerca de dez minutos depois, o portão foi reaberto.
“Quem é o líder?”
Enquanto aguardavam a chegada do representante da Secretaria que os atenderia, batucando no saguão do prédio, os moradores eram abordados por alguns funcionários do órgão. Eles solicitavam que as famílias nomeassem algumas lideranças para se sentarem à reunião. Mas, o que havia sido combinado previamente era que, qualquer que fosse o representante, ele teria de se reunir com o conjunto dos moradores, e não apenas com uma comissão.
A conversa com o Secretário Adjunto
Pouco antes das 14h, finalmente, o novo Secretário Adjunto da Sehab, Marco Antônio Piasi, chegou ao local para ouvir as famílias do Parque Cocaia. Num primeiro momento, Piasi recusou-se duramente a apresentar o seu posicionamento perante todos, exigindo que uma comissão fosse formada.
“A gente não veio aqui pra montar um grupo político pra conversar. A gente quer resolver a situação” – esbravejou um morador. No entanto, após intensa pressão por parte dos moradores, ele aceitou fazer a conversa em público.
Foi então lido por um dos manifestantes a carta de reivindicação, que destacava, entre outros pontos, a necessidade de se apresentar com clareza à comunidade afetada quais são os verdadeiros planos para aquela região (a carta pode ser acessada aqui ). Frente a isso, Piasi argumentou que o Projeto ainda precisava ser concluído tecnicamente antes de ser apresentado. Mas comprometeu-se a mostrá-lo para as famílias – lá na comunidade – dentro do prazo de 60 dias.
Espantava aos moradores o fato de estar em pleno andamento o processo de remoção das casas mesmo sem haver um projeto pronto, que apresente mínimas alternativas à comunidade. “A gente mora há 20, 25 anos no local. Aí tem que sair com bolsa-aluguel? Não tem condições” – reclamou um morador.
Visivelmente nervoso com a situação, o Secretário prometeu também interromper as marcações de casas e os cadastros enquanto o projeto não for tecnicamente concluído e formulada uma proposta habitacional para as famílias atingidas, o que ficou registrado pelas várias câmeras que filmaram a negociação.