Por Passa Palavra

 

Na Alemanha o partido Alternativa para a Alemanha (AfD), conhecido pelas suas posições favoráveis a uma saída do euro, foi atacado num comício por um grupo de activistas de esquerda.

É, de facto, uma boa notícia saber que na Alemanha há mais gente ajuizada e sensata à esquerda do que na periferia da zona euro. De realçar que estes activistas de esquerda atacaram explicitamente um partido que tem como grande reivindicação o fim do euro e que é dinamizado a partir de sectores que romperam com o partido da Democracia Cristã: a CDU da chanceler Angela Merkel. O partido AfD tem sido dinamizado por vários economistas e académicos da direita conservadora e por um ex-presidente da Federação dos Industriais Alemães (BDI). Entretanto, a BDI diverge destas propostas, como pode ver-se pelos aplausos que o liberal Mario Draghi (Presidente do Banco Central Europeu) recebeu num evento organizado por aquela confederação patronal em Março passado. Sendo assim, é legítimo afirmar que o AfD é fundamentalmente constituído por sectores minoritários e marginais no seio da classe dominante.

Pelas informações existentes, é também legítimo afirmar que a saída do euro é, nos centros de poder da União Europeia, uma proposta política central apenas em meios refractários das classes dominantes provenientes de filiações conservadoras, e em meios políticos da direita mais extrema. Em França tem sido a Frente Nacional, de Marine Le Pen, a maior difusora dessa via absolutamente nefasta para as condições de vida dos trabalhadores e para o futuro das lutas sociais na Europa.

E aqui entra um outro aspecto interessante da contestação ao comício do AfD, a que aludimos acima. A saber, o facto desse partido antieuro estar atento para que não entre gente de extrema-direita no seu seio. Ora, enquanto na Alemanha (e até por quase toda a Europa) as teses da saída do euro são vistas como um património da direita mais à direita, e em torno do qual as várias direitas batalham entre si, em Portugal (como em Espanha) é a esquerda que faz dessa via um cavalo de batalha.

Pudera que fiquem escandalizados e insultem quando lhes apontamos a convergência de posições com a extrema-direita. Mirados ao espelho, os nacionalistas facilmente trocam as voltas ao lado direito e ao lado esquerdo. É preciso dizer-lhes que, independentemente do braço onde seguram a sua bandeira nacional, o corpo é o mesmo.

2 COMENTÁRIOS

  1. Vocês pensam que a esquerda desconfia do euro em nome da bandeira e do escudo nas moedas, em nome do hino nacional, mas não é isso, desconfia do euro na medida em que desconfia que impede o país de se desenvolver economicamente e de se autonomizar politicamente.

    É engraçado que Merkel, sendo a favor do euro, já diga que a Grécia não deveria ter entrado no euro, talvez venha a dizer o mesmo de Portugal. E dí-lo E pelas mesmas razões – impreparação da economia grega para o contexto do euro.

    A tirada de Merkel quer dizer também que a Grécia e o que há a decidir sobre a sua economia, passa a ser tema de campanha na alemanha, lá onde os gregos não votam. Bela democracia essa que é esse vosso federal-fascismo.

    Mas vocês não devem preocupar-se. Em Portugal o PS, o PSD e o CDS estão basicamente de acordo com vocês em relação ao euro e à UE portanto o caminho é esse aí que vocês defendem.

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