Por F. Palinorc

Artigo originalmente publicado em inglês por F. Palinorc em abril de 2001 no site “Left-wing Communism: An Infantile Disorder?”. Traduzido por ZEROWORKER ao português, será publicado em três partes semanais no Passa Palavra.

era5Tal como as classes, as gangues são produtos da dominação. Elas provavelmente surgiram quando sacerdotes, chefes militares ou patriarcas de clãs conspiraram contra outros humanos de suas próprias comunidades ou das vizinhas. Pilhagem, guerra e escravidão dissolveram as comunidades primitivas, e as gangues foram formadas nesse processo violento. As relações mercantis, o surgimento da divisão do trabalho, as classes e o Estado modificaram fundamentalmente as gangues, mas não é essa evolução que podemos discutir agora. O que nos preocupa é a existência e persistência das gangues na modernidade, na sociedade capitalista. Falaremos de gangues no sentido político, em especial nas organizações marxistas.

Nos dias de hoje se tornou costume definir a gangue estritamente como uma organização ilegal formada para o lucro, usando extorsão, proteção e fraude. Esta definição jurídica se origina dos Estados, que criminalizam rivais menores. Em casos específicos, como os cartéis de drogas, as gangues podem ganhar proporções e influência nefastas, impregnando o tecido dos leviatãs. Não há nada mais “normal” do que uma gangue.

O que impede que as gangues estatais se exterminem umas às outras é a consciência de que a coesão e o autocontrole asseguram sobrevivência mútua. Abaixo delas, há a massa da humanidade aprisionada pela exploração e pelas fronteiras nacionais. As gangues dominantes aprenderam a negociar e tolerar umas as outras, coexistindo no Estado. O papel da mediação nacional altera a sua função, passando da pilhagem privada para a administração em larga escala e acesso burocrático (e legal) ao tesouro nacional. Dessa forma, os políticos e funcionários modernos compram para si pedigree nacional, legitimidade e rendas. As classes dominantes as excretam constantemente, e numa democracia essa tendência é generalizada na sociedade civil. A fragmentação da sociedade mercantil, e a consequente “guerra de todos contra todos”, cria um solo fértil para as gangues. Enquanto o Leviatã não é perturbado nem minado por isso, as gangues são toleradas mesmo se legalmente proscritas.

As gangues políticas são corpos informais de especialistas, geralmente legais e aspirando à dominação estatal. Porém, seu tamanho reduzido força-as a uma existência instável e precária. No máximo, elas se tornam grupos de pressão para partidos que foram além do estágio de gangue. Quanto maior a gangue, mais ela se aproxima de um partido, que contém algumas gangues chamadas tendências ou facções. Apenas eventos mundiais e nacionais extraordinários propelem as gangues a se tornarem partidos de massa e até atingir o poder estatal. Mas esses momentos são raros e distanciados no tempo. A maioria das gangues tem uma existência relativamente curta. Outras funcionam durante anos como câmaras de tortura para seus membros.

Falta às gangues um significativo e visível sistema de justificação ideológica. O que elas são, elas escondem, sob muitas camadas. Leviatãs têm uma longa lista de ideologias, de Platão a Hobbes, Locke, Jefferson, Hegel e mesmo Schmitt. Tanto quanto se sabe, as gangues não têm tais apologetas. Há muitas doutrinas justificando Leviatãs, mas as gangues carecem desse escudo. Sua função real de dominação é uma incógnita.

Embora as gangues políticas raramente atinjam seu objetivo de poder estatal, sua organização interna imita as funções do Estado. Os membros da gangue são seu proletariado, e seus líderes constituem um tipo de mini-Estado portátil. As gangues são essencialmente conservadoras, independentemente de algumas delas, como a marxista e anarquista, declamarem mensagens radicais ou emancipatórias.

Mas, geralmente, entrar numa gangue é estimulante no início, quando o recruta é convencido de que sua participação vai mudar a história e que ele está entrando numa aventura coletiva para auxiliar a humanidade. Ele também se sente incluído numa comunidade heroica de companheiros com ideias semelhantes. Entrar numa gangue tem sua dimensão libidinal oculta, o que explica o enorme apego e fanatismo de seus membros. No início, um recruta não tem ciência de que será persuadido a perder a maior parte de sua individualidade e tempo livre, e que a falsa comunidade da gangue vai apenas acentuar sua alienação.

É útil citar alguns escritores e críticos que tentaram analisar o fenômeno da gangue.

Maquiavel (1469-1527) temia as gangues porque via nelas a dissolução do Estado virtuoso. O seu “O Príncipe” é a descrição de um Estado renascentista ideal. Maquiavel não descreve as gangues com detalhe, mas elas estão sempre presentes nas entrelinhas. A paranoia de “O Príncipe” parte da preocupação cortante de Maquiavel de que, a menos que um Príncipe virtuoso consolide o Estado, esta máquina será devorada por facções sem princípio e cruéis por si só, ao invés do “bem comum”. Maquiavel entendia bem de gangues, estudou de perto como os Estados do Renascimento surgiram delas. Ele advogava domar o espírito de gangue, esperando que “o país” se beneficiasse do domínio de príncipes virtuosos. De modo utópico, Maquiavel pensava que a ambição autodestrutiva das gangues poderia ser contida e neutralizada pelo Estado moderno.

Ele prevenia os príncipes: “[…] a pessoa que introduzir esta nova forma [de governo virtuoso] faz inimigos entre todos os que se beneficiavam sob a velha forma […]”. O único modo de derrotar esse perigo é que o príncipe use a força: “[…] todos os profetas armados são vitoriosos e os desarmados, destruídos. […] o povo é por natureza inconstante. É fácil persuadi-lo de algo, mas difícil mantê-lo nessa convicção. É por isso que é válido se organizar de tal modo que, quando o povo não mais acredita, pode-se fazê-los acreditar pela força”[1]. No uso variável das estratégias de persuasão e terror contra a sociedade civil, a diferença entre gangues e leviatãs é apenas de escala. Maquiavel era cego para a realidade de que gangues e Estados operam em uníssono e compartilham uma sinergia básica, devido ao fato de que ambos dependem da dominação.

Um crítico notório é Etienne de La Boétie (1530-1563). Em seu “Discurso da Servidão Voluntária”, ele não estava preocupado em aconselhar príncipes, mas repreender a predisposição da humanidade à “servidão voluntária”. De acordo com La Boétie, essa servidão é o que mantém os príncipes no poder. Apesar dessa moralização circular, ele teve um insight profundo sobre a natureza das gangues:

Quem quer que pense que alabardas, guardas, atalaias, servem para proteger e blindar os tiranos está, no meu julgamento, completamente errado. […] Não são as tropas de cavalaria, não são as infantarias, não são as armas que defendem o tirano.

Ele então explica que, se seis gangsters nos quais o tirano confia recrutam 600 adeptos, ele, por seu turno, tem 6.000 atrás de si. “A consequência de tudo isso é realmente fatal” observa La Boétie, apontando que os tiranos com frequência destruíram seus próprios seguidores servis. “[…] quem se dispor a seguir o fio da meada observará que não são 6.000, mas 100.000, e mesmo milhões, que aderem ao tirano por essa corda à qual estão amarrados”[2]. Essa é a verdadeira fortaleza da tirania: a fragmentação da sociedade em cúmplices servis do poder e de chefes de gangues. La Boétie pensava que uma tirania tem quase tantas pessoas corrompidas por ela quantos aqueles a quem a liberdade parecia desejável. Aqui a sociedade parece subsumida nas gangues, possivelmente porque no século XVI, a sociedade civil era relativamente indiferenciada em termos de estrutura de classes.

Georg Simmel (1858-1918) escreveu copiosamente sobre grupos e sociedades secretas. Ele captou bem a sinergia persecutória entre Leviatã e gangue: “a sociedade secreta é considerada tão inimiga do poder central que, mesmo inversamente, cada grupo politicamente rejeitado é chamado de sociedade secreta”[3]. Grupos secretos e gangues existem por causa da carência de subjetividade individual e de autonomia decorrentes da divisão do trabalho. Os indivíduos tentam compensar essa carência entrando voluntariamente em comunidades onde há aparência de individualidade, pelo mero fato de não ser mainstream. Simmel é um dos escritores mais importantes a tratar das gangues, e seus escritos sobre grupos, subordinação e dominação são profundamente pertinentes.

Max Weber (1864-1920) escreveu sobre burocracia, castas, seitas, racionalidade, carisma, poder e autoridade, lançando luz sobre as gangues. Em seus escritos, Weber apoia a “racionalidade” capitalista contra formas subdesenvolvidas de dominação pré-capitalista. Ele foi um leal e consistente apologeta de leviatãs, e, como Simmel, se tornou um fervoroso patriota alemão na primeira guerra mundial.

T.W. Adorno (1903-1969), como Max Horkheimer e Herbert Marcuse, da escola de Frankfurt, analisaram como os indivíduos foram danificados sob uma sociedade crescentemente administrada. Porém, os escritos publicados em inglês de Adorno sobre gangues (rackets, ele usava o termo) parecem dispersos e inacabados. De acordo com Rolf Wiggerhaus, a teoria das gangues desenvolvida por Horkheimer e Adorno permaneceu um “torso inacabado”. É uma pena. Porém, em muito da densa prosa de Adorno, podemos capturar pepitas como: “Alguém que quer mudar o mundo não deve de maneira nenhuma acabar no pântano das pequenas gangues em que videntes definham com sectários políticos, utópicos e anarquistas”[4]. Você foi avisado.

Em Adorno, as gangues parecem ser principalmente criminosas (as econômicas), e o modo como as gangues especificamente políticas operam não é claramente abordado. Porém, muitos insights sobre gangues em “Minima Moralia” são mini-concentrados, ricos em significados.

O assim chamado situacionismo, em especial Guy Debord, contribuiu enormemente a uma crítica das gangues. Em “A Sociedade do Espetáculo”, de Debord, há insights contundentes sobre a aterrorizante perda de individualidade mediante as separações na sociedade capitalista. Em Debord encontram-se temas profundamente elaborados sobre a alienação, inspirados em textos de Marx, Adorno e provavelmente Simmel. No entanto, o grupelho em torno de Debord parece ter se engajado em muitas atividades de gangue, incluindo megalomania de grupo e as usuais expulsões de tipo esquerdista.

De Fredy Perlman, “As Dez Teses sobre a Proliferação de Egocratas” foi influenciada pelo situacionismo e pelo jovem Baudrillard. Suas teses são concisas e não fazem concessões às “organizações militantes”, isto é, gangues, inclusive situacionistas.

Jacques Camatte escreveu extensivamente sobre a base social (ou a-social!) das gangues. Suas visões sobre gangues podem ser encontradas concentradas na longa carta-ensaio “Sobre Organização” (1969). É uma exposição devastadora das gangues, e é superior à abordagem de Adorno, na medida em que Camatte disseca as gangues políticas (principalmente esquerdistas e de ultraesquerda) de um modo abrangente e extenso, ligando-as à total dominação do capital.

era01O bolchevismo, como o marxismo em geral, tem pouco entendimento das gangues. O próprio bolchevismo surgiu como uma gangue política, e subiu ao poder estatal depois de se tornar um partido temperado nas mobilizações de massa contra o regime czarista. Isso lhe deu o “direito de nascença” para mais tarde desmoralizar e esmagar o proletariado e o campesinato insurgente. Talvez por isso os teóricos bolcheviques mais famosos, como Bukharin, Rakovsky e Trotsky, tenham sido incapazes de autocrítica quando enfrentaram o desdobramento do stalinismo. Nenhum deles podia aceitar que o bolchevismo tivesse dado via livre para um Estado capitalista fortalecido na Rússia, com um estrato totalitário que foi efetivamente uma classe dominante estatal. Rakovsky chegou próximo de admiti-lo, mas recuou desta conclusão.

Podemos dizer que as gangues políticas modernas têm estas características gerais:

– Elas giram em torno de um guru, um líder carismático (Weber) ou “egocrata” (Perlman). O guru é geralmente homem, embora também se conheça gangues dirigidas por mulheres;

– O guru estimula e controla uma hierarquia centralizada e despótica. Ele confia numa facção interna de conspiradores, que trama permanentemente contra os membros da gangue. Nenhuma gangue é regida por consenso ou por métodos participativos transparentes;

– As gangues têm uma plataforma política ou programa, usualmente de tipo messiânico. Uma das tarefas do guru é herdar, ou traçar, e manter essa plataforma. As gangues tentam influenciar o mundo à sua volta publicando regularmente (ou mantendo um website). Para eles, influenciar outros significa recrutar, e não contribuir para uma clarificação em andamento da consciência;

– As gangues recrutam indivíduos que voluntariamente entram e são sistematicamente persuadidos da infalibilidade do guru. Uma vez recrutado, o objetivo da gangue é alienar os indivíduos ainda mais, fazendo-os cortar muitos de seus elos com a sociedade. Isso não é uma conspiração consciente, mas um processo em que recrutador e recrutado iludem a si mesmos e uns aos outros. O primeiro, pela negação do que acontece na gangue, e o segundo, pela suspensão do pensamento crítico;

– As gangues aspiram tornarem-se permanentes, mas são constantemente interrompidas pela dissenção interna, dissidências e competição de gangues rivais. As divergências políticas são raramente tratadas – elas são substituídas pelo faccionalismo pessoal e pela competição por posições e hierarquia. Daí o uso generalizado de bodes expiatórios e ataques ad hominem [N. do R.: ataques “contra a pessoa”, no sentido de que se contrapõe certo argumento por meio do pôr em descrédito quem o disse];

– Paradoxalmente, a sobrevivência das gangues depende do faccionalismo interno e de inimigos externos. O clima de paranoia e busca de bodes expiatórios fortalece o controle do guru. Ele é reforçado por expurgos recorrentes. Novos rivais, formados frequentemente por membros expulsos, concentram os instintos de sobrevivência da gangue, criando paroxismos de ódio e estimulando uma mentalidade de estado de sítio. Essas “crises” centrípetas e centrífugas, ambas cuidadosamente encenadas, ajudam na sobrevivência das gangues;

– As gangues mais venenosas tentam se organizar de modo militar. Isso as ilegaliza e coloca-as em confronto direto com o Leviatã. Essa tendência esvazia de membros femininos e aumenta enormemente a disfunção dos militantes. Tais gangues tendem a existir mais nas periferias do sistema, onde leviatãs são fracos e dependem principalmente do terror direto para sobreviver. Esse método de domínio desata uma guerra indiscriminada entre leviatãs e gangues opostas, em que o terror e o extermínio são os únicos métodos para afirmar a dominação;

Mas de onde os membros das gangues saem? No renascimento e na época do iluminismo, a crescente divisão capitalista do trabalho liberou camadas de profissionais e de gente culta, não mais beneficiários da igreja e do patronato real.

Alguns membros dessas camadas foram empregados como funcionários estatais. Vários permaneceram desempregados, ou subempregados. Essas camadas “flutuantes” são a principal base social das gangues políticas. Historicamente, elas aspiravam a:

– influenciar a política do Estado;

– ser empregadas pelo Estado;

– conquistar o Estado para governá-lo de acordo com sua ideologia e doutrina. O Estado não era mais um atributo da realeza, mas d”O Povo”. Devido à tendência de capitalismo de Estado, o próprio Estado se tornou uma unidade de capital extremamente cobiçada. Sua capacidade como coletor de impostos, administrador do orçamento e do banco nacional, além das empresas estatais, fizeram dele um conglomerado capitalista ideal. Gangues de todos os credos se formaram para atingir o status de partidos, passo necessário para alcançar o poder estatal e chegar aos cofres do Estado.

O poder estatal é o objetivo final das gangues políticas. Trotsky pensava nisso quando disse que “toda tendência política séria aspira à conquista do poder [do Estado]” [5].

O sociólogo italiano liberal Gaetano Mosca (aprovado depois pelos fascistas) observou que “a ideia de que cada indivíduo separado deve ter uma parte igual no exercício da soberania só poderia ter surgido depois que o absolutismo burocrático quebrou todos os velhos grupos e destruiu todos os poderes soberanos intermediários entre o Estado e o indivíduo” [6]. Essa concepção de indivíduos soberanos e iguais está no coração da política burguesa, e é ligada a uma sociedade de produção mercantil generalizada.

Desde o início, o capitalismo necessitou de muitos desses indivíduos separados e educados. O desenvolvimento científico e tecnológico do sistema requereu um vasto número de especialistas. Max Nomad, o discípulo de Waclaw Machajski [ele próprio um crítico das gangues marxistas], tinha a dizer sobre isso o seguinte:

Apertado entre os capitalistas e os trabalhadores manuais emergiu um estrato sempre crescente de neo-burgueses ou não-ainda-tão-burgueses engajados em ocupações intelectuais ou quase intelectuais. “Trabalhadores intelectuais”, “empregados privilegiados do capital”, “nova classe média” – estes são os vários termos usados indistintamente para essa maravilhosa variedade de pessoas: titulares de cargos, professores, profissionais, técnicos, clérigos, especialistas comerciais e financeiros, jornalistas, escritores, artistas, políticos, revolucionários profissionais e agitadores, organizadores sindicais e assim por diante. Em resumo, uma vasta multidão de pessoas educadas e semieducadas, todas elas “sem propriedades”, que podem ou não ter formação universitária, mas que conseguem sobreviver sem recorrer ao trabalho manual ou ao trabalho inferior de escritório.

Mas estes tinham uma perspectiva principalmente conservadora, não desejando perturbar a paz social e arriscar suas próprias rendas privilegiadas. Contra esses apoiadores do status quo, se arregimentam os “[…] ‘de fora’, os jornalistas desempregados ou mal pagos, conferencistas, universitários graduados e subgraduados, ‘advogados sem clientes e doutores sem pacientes’ [Marx], ex-trabalhadores educados em busca de cargos de colarinho branco – em suma, todo esse diversificado exército de intelectuais sem dinheiro e esfomeados, que estão insatisfeitos com o sistema atual e são com frequência ativos militantemente em vários movimentos radicais ou fascistas. São os membros desse grupo que tem a ambição de eliminar a classe capitalista dos consumidores parasitas e de estabelecer seu próprio domínio em um sistema baseado no controle governamental ou propriedade das indústrias, e numa distribuição de renda desigual” [7].

Não é preciso aceitar a amarga descrição conspiratória de Nomad para concordar de modo geral com a sua definição. Esses indivíduos atomizados forneceram a base para as gangues políticas e seus gurus.

No fim do século XIX, o marxismo se tornou a ideologia da facção mais extrema e sistematicamente radical de políticos especialistas. Após constantes derrotas e massacres, o proletariado aprendeu a ser cauteloso com pequeno-burgueses radicais (1830-1848 na França e na Europa central). Outros ideólogos substituíram essas gangues recuperadas. Nesses países, partidos marxistas e anarquistas e sindicatos conseguiram se implantar numa minoria do proletariado. Em 1914, a maioria dessas organizações apoiou seus beligerantes Estados em guerra na Primeira Guerra Mundial. Elas fizeram o mesmo no segundo mundo, quando o stalinismo provou conclusivamente que a revolução de outubro havia terminado numa catastrófica contrarrevolução.

era6Essas derrotas históricas confirmaram que o proletariado não precisa de partidos políticos. Sua emancipação pode se tornar uma realidade através de uma superação mundial e coordenada do valor e pela dissolução da propriedade privada (inclusive estatal). As necessidades do proletariado contradizem a existência de classes sociais e de toda dominação política. Falar que o proletariado precisa de “partidos revolucionários” contradiz a natureza dessa classe, que é fadada a se dissolver na emancipação comunista da sociedade. A existência de gangues, que falam em nome do proletariado, é assim um resquício retrógrado de um período de derrota histórica e de ilusão em massa.

Em “A Revolução Socialista”, Kautsky observou: “quanto menor o número de indivíduos que tomam parte em dado movimento social, menos esse movimento aparece como um movimento de massa – então menos o geral e o necessário são evidentes para eles, e mais o acaso e o pessoal predominam”. Kautsky estava se referindo a seitas socialistas, sem suspeitar que esse fenômeno, onde o “acaso e o pessoal predominam”, se tornaria comum na sociedade uma vez que a atomização se generalizasse. Indivíduos descontentes são mais atraídos para as gangues, não para grandes corporações leviatânicas como partidos, igrejas oficiais e sindicatos.

A forma partido político é a forma ideal da classe dominante capitalista. As classes dominantes atuais têm uma ala política – isto é, partidos, porque é preciso apenas uma minoria de especialistas para governar para essas classes (um produto da divisão do trabalho). Presumir isto também para o proletariado é algo que se baseia numa falsa analogia. Ou seja, que uma minoria do proletariado possa também representar toda a classe, como acontece com a classe capitalista. Na classe explorada e comunista, qualquer partido que clama representá-la se torna um estrato estranho sobre ela, atado à sociedade dominante. Essa justificação não é um erro “substituísta”, mas uma expressão das necessidades da exploração.

Algumas vezes a necessidade de um partido é justificada pela “heterogeneidade” da consciência de classe no proletariado. Isso é ilusório, porque a fragmentação social do proletariado e, portanto, suas várias falsas visões sob o capitalismo, não pode ser resolvida por uma minoria permanente de especialistas. Essa justificação leninista pretende que a divisão do trabalho do capitalismo, que produziu a heterogeneidade, tenha algum potencial emancipatório. Porém, a fragmentação só pode ser reduzida e finalmente resolvida pelas lutas explícitas e expansivas pelo comunismo. Apenas elas permitirão a participação ativa mais abrangente não só dentro do proletariado, mas também de toda humanidade indo além do valor e do Leviatã.

Mesmo se concordássemos que a fragmentação proletária produz uma especializada consciência “teórico-prática” numa minoria, disso não decorre que essa minoria é uma “vanguarda política”. Pelo contrário, a experiência histórica confirma que essas “vanguardas” são gangues por causa de sua estrutura militarizada, práticas de culto, fragmentação e isolamento frente ao proletariado como um todo. Sua ideologia permite ao capital recuperar essas gangues tão logo se formam. A ideia de que essas gangues expressam os pensamentos e necessidades da classe trabalhadora é um clichê de onipotência, ocultando os apetites destrutivos que existem dentro destas gangues. Com um instinto refinado, elas farejam no proletariado sua bucha de canhão para banhos de sangue apocalípticos (tomadas da Bastilha ou do Palácio de Inverno).

Se a ideia de partido proletário for aceita, também será aceita a ideia de que ele será o partido estatal dominante. O leninismo sempre foi uma ideologia leviatânica.

(Continua…)

As imagens que ilustram a primeira parte do artigo foram retiradas do filme “Once Upon a Time in America” (1984), de Sergio Leone

Notas:
[1] The Prince and other Political Writings. London: Everyman, 1998, 55-56.
[2] De La Boétie, Etienne, The Politics of Obedience, The Discourse of Voluntary Servitude. Montréal: Black Rose Books, 1997, 78.
[3] Simmel, Georg. The Sociology of Georg Simmel. New York: The Free Press, 1964, 376.
[4] Horkheimer, Max & Adorno TW. Dialectics of Enlightenment. New York: The Seabury Press, 1972, 254.
[5] Trotsky, Leon. ‘Terrorism and the Stalinist Régime in the Soviet Union’ (from The Case of Leon Trotsky). New York: The Pathfinder Press. 1974. 16.
[6] Mosca, Gaetano. The Ruling Class. New York: McGraw-Hill, 1965, 381.
[7] Nomad, Max. Masters Old and New. Edmonton: Black Cat Press, 1979, 1-2.

Acompanhe a série

Rackets! (gangues, bandos) – parte I

Rackets! (gangues, bandos) – parte II

Rackets! (gangues, bandos) – parte III

5 COMENTÁRIOS

  1. Às vezes os partidos, e não somente as gangues, funcionam como “câmaras de torturas para seus membros”: http://passapalavra.info/2013/06/78276 (Emancipação ao contrário: relatos de dois ex-trotskistas (1) e (2) – publicados neste site). Creio que esses espaços, corriqueiramente, são mais cheios de gente debaixo do que de cima. No entanto como são raras as chegadas ao topo sem que o sujeito tenha passado certo tempo sendo temperado no andar de baixo, as câmara de torturas invariavelmente estão abertas a todos, são frequentadas por ambas as ordens, mudando apenas a escala de representação, pois sabe-se que o andar de cima apresenta regalias (dinheiro, status, poder…) que podem funcionar muito bem como antídotos ao sofrimento imposto pelas câmaras de tortura ou até mesmo ser o espaço que desenha a câmara e o perfil das vagas, determinando, assim, quem irá ocupá-la; por mais que o andar de cima negue todas essas vantagens e realizações. Interessante, ainda, é notar a componente servidão voluntária, não tão voluntária assim, é verdade – consideradas as pressões do próprio grupo, dos dirigentes, da ideologia, das punições internas, pretensões de cargos de poder… -, na trajetória de quem passa temporadas nessas câmaras e não chegam a virar as costas ao partido e seguir a vida.

  2. Antes de tecer alguns comentários, aviso que já li o texto integral em ingles, o que pode influenciar um pouco os comentários específicos que farei sobre este trecho do texto. Primeiramente, o texto é uma dessas agulhadas boas no pensamento fácil e confortável. Seu autor claramente é alguém que conhece bastante a história e os ambientes da extrema-esquerda, algo que pode ser visto também no único outro texto que encontrei dele na internet, onde ele elogia, com muitas críticas, o livro de Holloway “Mudar o mundo sem tomar o poder” (https://thediscourseunit.files.wordpress.com/2016/05/arcp3-complete-issue.doc)

    Esta primeira parte do texto apresenta alguns argumentos e aspectos que o colocam entre uma antropologia e uma tipologia sociológica dos grupos e especialmente dos grupúsculos políticos. Mas algo no meio disso fica confuso e misturado. Ele diz que as gangues reproduzem o Estado, comparando os membros braçais como o proletariado e os líderes com os gestores, mas essa comparação me parece forçada, pois o Estado é um aparelho que media entre classes sociais, e o próprio texto mostra que os membros das gangues vêm quase sempre da mesma classe social de “trabalhadores intelectuais” frustrados — gestores em potencia ou em ato. Creio que a verdade do argumento vai no sentido da estrutura militarizada de mando, que é a interpretação institucionalista do Estado. Nesta tipologia um pouco escorregadia, no decorrer do texto parece que podemos incluir nas gangues todo tipo de organização, como sindicatos, partidos, células clandestinas, exércitos populares, agrupamentos estudantis. Mas quando chegamos a outro momento do texto, vemos que alguns traços são os essenciais, embora com critérios dificilmente compartilhados por um grande número de pessoas: “Nenhuma gangue é regida por consenso ou por métodos participativos transparentes”, “Para eles, influenciar outros significa recrutar, e não contribuir para uma clarificação em andamento da consciência;”, “O primeiro, pela negação do que acontece na gangue, e o segundo, pela suspensão do pensamento crítico;”. São boas
    descrições do que encontramos com frequência nas organizações de extrema-esquerda, mas são critérios muitas vezes subjetivos: a suspensão do pensamento crítico é facilmente igualado à um coletivo de pessoas que pensam diferente do que o crítico espera delas, a “clarificação em andamento” não é necessariamente idêntico a não unir-se a um grupo, a transparência tem limites complexos quando a auto-defesa se faz necessária — são critérios maleáveis e sempre sujeitos à diferentes contextos.

    Depois há uma boa referência à classe dos gestores e seu modo de funcionamento, sua busca política-econômica para encaixar-se nos circuitos econômicos por meio do poder. Mas em seguida o autor passa a falar da forma partido como se gangue e partido fossem idênticos, negando a diversidade de formas que estava indefinida no começo. Por fim fala da vanguarda, e de forma surpreendente diz que toda vanguarda “são gangues por causa de sua estrutura militarizada, práticas de culto, fragmentação e isolamento frente ao proletariado como um todo.” Parece estar fazendo uma referência às vanguardas auto-intituladas, típicas dos partidos de tradição leninista para quem a vanguarda é o partido, como se essa fosse a única forma de haver uma vanguarda. Mas não fica claro se o autor pensa ser possível existir qualquer outro tipo de vanguarda ou se para ele a vanguarda não existe senão no discurso partidário. Parece fazer parte dos ataques do autor à ideia de heterogeneidade da classe trabalhadora, ainda que o maior ataque seja direcionado à particulares conclusões lógicas desta heterogeneidade e não a existência ou não desta.
    Me faz pensar: para o autor, por exemplo, os marinheiros e operários de Kronstadt, os operários que militaram ativamente os conselhos de fábricas e que primeiro organizaram as guardas vermelhas nas indústrias, para ficar apenas no episódio russo, não seriam eles a vanguarda da revolução russa? Estariam eles no mesmo nível de consciência política que os sindicalistas mencheviques, que os serviçais fieis ao parlamento, seria tudo uma grande massa impossível de ser analisada de forma dinâmica?

    Estes e outros argumentos me dão a impressão de que o objetivo do autor é fazer uma crítica de toda organização política, proletária ou não, mas ele não consegue se desfazer da crítica ao modelo da tradição leninista e recorre à categorias antropológicas e sociológicas para tentar ver em qualquer agrupamento parcial que não seja a totalidade da classe uma reprodução dos traços leninistas clássicos, por isso não pode deixar de fazer referência à tomada do Estado como aspecto essencial, como se fosse a maçã inconsciente de qualquer grupúsculo, anarquista, marxista, qualquercoisaista.
    Vejamos nas partes seguintes se me equivoco com os argumentos.

  3. Críticas muito interessantes as do Lucas. Em particular as críticas aos aspectos muitas vezes subjetivos do texto.

    Quanto à ideia de vanguarda, que o texto critica, e a questão de se “os marinheiros e operários de Kronstadt, os operários que militaram ativamente os conselhos de fábricas e que primeiro organizaram as guardas vermelhas nas indústrias, para ficar apenas no episódio russo, não seriam eles a vanguarda da revolução russa?” Podem até ser chamados com esse nome (“vanguarda”), mas essa identificação só se mantém se a luta desses proletários fracassa, ou seja, se não se difunde além dessas identidades, no sentido de uma associação prática universal que suprime as compartimentações da sociedade capitalista (empresas, empregos, quarteis, nações, escolas, famílias etc), supressão pela qual o proletariado se constitui em classe autônoma contra a classe dominante por toda parte. Se não alcança isso, se não difunde a luta autônoma se dissolvendo, essa “vanguarda”, quanto mais se torna permanente, mais ganguista é condenada a ser: quanto mais “ativista” e “militante”, mais recuperada será, já que, quanto mais se perpetua, mais “em simbiose” estará com a sociedade capitalista, até ser um elemento plenamente funcional dela, inclusive encarregada de suprimir sistematicamente a luta do proletariado. A história tem exemplos sem fim dessa dinâmica, que é a dinâmica de todas as contra-revoluções, ou seja, de todas as derrotas do proletariado enquanto classe autônoma.

    Então, parece válida a ideia de “vanguarda” enquanto irrupção que se difunde rapidamente para se dissolver. Enquanto isso não ocorre, a tendência comunista (no sentido de busca prática da autonomia da classe nas relações sociais de produção contra o capital) do proletariado existe simultânea com sua tendência sustentadora do status quo, a de ser capital variável, submerso no fetichismo da mercadoria, na sociedade do espetáculo, como cidadãos vendedores/compradores de mercadorias livres e iguais sob o policiamento “protetor” do Estado, ainda que, ao contrário da classe proprietária, a única mercadoria que tenham a vender seja a si próprios. Evidentemente, a sociedade capitalista só se perpetua se a tendência comunista, que o próprio capital não pode deixar de estimular (já que o capital não pode existir sem incessantemente privar os proletários de suas próprias condições de existência, a acumulação do capital), for constantemente controlada e subssumida na outra tendência, a tendência espetacular (a de ser capital variável), em que a competição dos proletários pela obediência à classe dominante para sobreviver faz da gangue (oficial ou não oficial) a forma predominante de relação entre pessoas.

    Quando um grupo aparece dizendo representar essa tendência comunista, se acreditando uma “vanguarda” que vai guiar com suas ideias o proletariado, ele sem perceber está acolhendo e afirmando a tendência espetacular, afirmando o idealismo, voluntarismo, platonismo etc (o exemplo clássico disso é o leninismo, mas é idêntico ao o que ocorreu historicamente no anarquismo, pois não importa a ideologia, nem o objetivo declarado) pelos quais constituem gangues, e, muitas vezes, suas consolidações como organizações, federações, partidos, sindicatos etc. Caso tenham curiosidade, em contraposição a essa perspectiva espetacular, desenvolvemos algumas posições, que já expomos em alguns textos, entre os quais:

    – Contra a estratégia
    http://humanaesfera.blogspot.com.br/2016/07/contra-estrategia_13.html

    – Ação direta VERSUS trabalho de base
    http://humanaesfera.blogspot.com.br/2015/05/acao-direta-contra-trabalho-de-base.html

    – Autonomia, “classe média” e auto-abolição do proletariado
    http://humanaesfera.blogspot.com.br/2015/09/autonomia-proletaria-e-auto-abolicao-do.html

    Também vale muito a pena ler a carta de Camatte citada no texto:

    – Sobre Organização: As Gangues (dentro e fora do Estado) e o Estado como Gangue, Jacques Camatte & Gianni Collu.
    https://libcom.org/library/sobre-organiza%C3%A7%C3%A3o-gangues-dentro-e-fora-do-estado-e-o-estado-como-gangue-jacques-camatte

  4. ONDE FALTA LUTA & AUTO-ORGANIZAÇÃO, SOBRA GANGUE…
    Ala esquerda do capital (multiculturalistas & genéricos cis/trans: fulan*s&beltran*s heromartiridolatrad*s) a.k.a. aspirantes a gestores. Escoteiros sobrevivencomungantes modjus, freelancers & funcionários de carreira da ideia absoluta empunham a chama votiva.
    Seu óbolo: miríades (gotas de sangue) pela (contrar)revolução, pintada de vermelho &/ preto? Agitprop racket service : around the world – bllsht!

    A tradução lusobrasuca de Rackets será o golpe de misericórdia na despótica arrogância das vanguardas autoproclamadas. Partidistas ou não.
    De novo, o sempre novelhOVO: substituísmo vanguardista, messiânico & rempli de soi-même.
    Lucas & Humanaesfera, apesar (ou por causa?) de suas divergências, olhos fixos na meta, avançam.
    Amigos da Revolução Social, cada um a sua maneira, situam concretamente a denúncia do fenômeno RACKETS – incluída sua cotidiana banalização – no bojo da crítica teórica&prática da economia política.

  5. Tive incômodos semelhantes aos do Lucas quando li o texto pela primeira vez. Minha impressão (e é só uma impressão) é a de que a visão de Capital-Estado do autor é tributária ao Kurz, e talvez venha daí essa intuição/hipótese do Lucas de que ele critica, ou acaba criticando, toda e qualquer forma de organização – pois o Kurz é ótimo para mostrar o caráter [auto]destrutivo do capital e sua barbárie, mas é péssimo em termos de apontar qualquer saída frente às dinâmicas objetivas do capital e sua lei do valor, o que leva ao imobilismo prático.

    Parece que o Palinorc estende (não sem toda razão) a questão do Comunismo não poder ser gerido senão pela totalidade dos homens com a questão da forma organizativa (necessariamente uma não-totalidade dos homens, ao menos enquanto não “triunfa”) através da qual poderíamos superar o sistema, ou seja, uma parcela organizada dos trabalhadores em luta estaria sempre, por ser parcela, contaminada pelo “clichê da onipotência” das gangues enquanto vanguarda que expressa “os pensamentos e necessidades da classe”.Mas isso é necessariamente assim em toda e qualquer luta que se inicia, e segue sendo assim enquanto a classe autoorganizada não “triunfa”, daí o imbróglio entre a demolição da resposta bolchevique e o desejo de uma resposta não-leviatânica, que se ensaiou muitas vezes, mas que não está redonda e provavelmente só ficará pela prática inovadora de lutadores persistentes. Em todo caso, a crítica ao modelo bolchevique de aspiração ao poder é poderosa, daí o maior valor do texto, na minha opinião, e daí o valor das indagações do Lucas, independentemente de qual seja a visão do Palinorc ou do porquê de tal visão.

    Outra questão importante do texto é que ele mostra aspectos largamente ignorados (embora vividos na pele de quem milita) da luta pela conciliação (impossível?) entre individualidade e doação do sangue em projetos coletivos. Elucidar a formação das gangues no bojo dos trabalhadores organizados é um mérito muito grande deste texto, e aí a formulação ulícínicirúrgica de que “onde falta luta e autoorganização sobra gangue” é precisa, desde que entendamos que não é de fora e sim na luta e autoorganização que brotam as gangues políticas (“de esquerda”), sempre e quando se imponha a hetero-organização, ou seja, sempre que as novas relações sociais ensaiadas na luta autoorganizada não se estendem à totalidade do modo de produção e vence, então, a contrarrevolução, seja com armas, bombas, canetas e modalidades [tbm pós] modernas de pão salarial e circo midiático. Fica então muito bem delineado: a resposta bolchevique é leviatânica e enquanto tal contrarrevolucionária. Mas as novas relações sociais comunais feitas pela totalidade dos indivíduos autoorganizados não será atingida sem organização e sem organismos de luta contra o capitalestado. Apelar para a ética de dirigentes dos organismos, por mais ponta-firme que sejam em seu caminho até a direção, é uma bobagem, é esperar que o Rambo volte do Vietnã e vá cuidar de orquídeas. Então, a crítica pode até ser apenas negativa e parar na destruição do bolche, já não seria pouco, mas convenhamos que a água batendo na bunda demanda mais, e aí, que munição temos à disposição nos anais das derrotas passadas? criação de organizações que contem com mecanismos de controle que garantam a decisão coletiva das questões centrais, formas organizativas com espaço para a oxigenação de ativismos e iniciativas espontâneas dos militantes, e o que mais? Um legado autonomista que não chegou a se consolidar nem na teoria e nem na prática e já está capengando no esquecimento do legado dos que tombaram, largamente corrompido, no que resta vivo, pelo câncer individualista, que no modelo bolchevique não faz tanto estrago porque lá há espaço para a convivência da disciplina revolucionária com o individualismo dos militantes aspirantes – mesmo que só o ID saiba – não só ao selo de humanistas-imprescindíveis-para-o-mundo-taqui-o-meu-facebook-me-liga-gatx, mas a gestores.

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