Arranha-céus e túneis (1930) de Fortunato Depero

Por Cristiele Valente

Grande parte das pessoas que eu conheço e convivo entendem a importância do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Ao contrário do Crivela e de grande parte da população brasileira. Defender o museu passa por fazer a crítica de que o trabalhador e a trabalhadora brasileira estão excluídos desses espaços e não entendem a sua importância. Isso também é uma tragédia. Também é uma tragédia que não tenhamos direito a comer, morar ou acessar a nossa cultura e história dignamente. Mas o que eu queria falar mesmo para os meus colegas que estão chorando é que quando o luto passar e a raiva se transformar em vontade de agir, precisamos olhar para a nossa realidade. Eu estudo na UFG e aqui no ICB não temos segurança nenhuma. A manutenção das coleções biológicas depende do trabalho precarizado de estudantes de graduação e pós-graduação. Não existe espaço, trabalhadores qualificados e em número suficiente para cuidar delas. Além disso, há condições de insalubridade em vários laboratórios em que trabalhadores e estudantes estão expostos até mesmo a cancerígenos. Não se tem espaço adequado para convivência e que garanta o bem estar de estudantes e trabalhadores. Alguns prédios do ICB estão em péssimas condições, com rachaduras, encanamento enferrujado e não oferecem segurança contra incêndios, por exemplo. Então eu acho que o jeito de enfrentar a tragédia do Museu Nacional é enfrentando a nossa própria tragédia cotidiana. As universidades brasileiras já precarizadas desde sempre agora estão sofrendo as consequências da PEC.

Retrato de Marinetti (1925) de Enrico Prampolini

Pois bem, a luta contra a PEC agora é cotidiana. É todo dia. A luta na pós-graduação é muito difícil. Somos extremamente precarizados e por isso, trabalhamos muito. É normal estar esgotado após 12 horas de trabalho pra dar conta inclusive das coleções biológicas. É normal se sentir extremamente desmotivado já que por mais que se publiquem artigos e artigos, será impossível conseguir uma vaga para professor ou professora de universidade. O fluxo é continuar precarizado em um pós-doc. Ontem uma amiga falava que o normal agora é ter candidato com três pós-doc concorrendo a uma vaga de professor universitário. Mas a gente precisa se organizar dentro dos nossos cursos para lutar pelas nossas demandas e defender melhores condições de trabalho pra gente. E esse processo, obviamente, inclui defender a universidade, a ciência e as nossas coleções. Não há mais para onde correr, a gente precisa se organizar porque estamos trabalhando mais de 8 horas sem direito nenhum e sem perspectiva de sair dessa. Quem não tá organizado não sabe o que fazer, as ideias surgem a partir da organização.

 

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