Por Luís Felipe Miguel

Richard Miskolci foi declarado “persona non grata” por transativistas do Brasil, em abaixo-assinado que inclui organizações, como a Antra, e ex-personalidades públicas, como Jean Wyllys.

Miskolci é professor da Unifesp, pesquisador reconhecido no âmbito das sexualidades. Seu crime? Estar desenvolvendo uma crítica acadêmica ao conceito de “cisgeneridade”.

Ele certamente não pode ser acusado de inimigo dos direitos das pessoas trans. Mas parece que isso não é o importante – que todas as pessoas tenham garantida sua integridade física, dignidade, autonomia.

O importante é impor uma nova leitura dogmática, cujas fragilidades teóricas e inconsistências empíricas não precisam ser sanadas, porque não podem ser expostas – o “cancelamento” é a arma mais eficaz. O que está em curso é uma tentativa de intimidação e de bloqueio do debate.

Tornar “persona non grata” um pesquisador por divergência conceitual? Tem coisa mais inquisitorial que isso?

Vamos esperar que quantas fogueiras identitárias estejam assando hereges antes de reagir contra isso?

A nota da Sociedade Brasileira de Sociologia, que reproduzo abaixo, aponta na direção correta.

“A Sociedade Brasileira de Sociologia vem a público manifestar seu apoio ao professor Richard Miskolci e repudiar nota emitida por transativistas em 7 de novembro de 2023 contra o sociólogo.

Postada em rede social como abaixo-assinado, a nota repreende o
pesquisador e especialista em gênero e sexualidade por sua crítica sociológica à noção de cisgeneridade, declara-o persona non grata e ainda afirma que o abaixo assinado será enviado para sua universidade, o que constitui ameaça.

A liberdade de cátedra é uma conquista da sociedade democrática. Não podemos aceitar nenhuma forma de constrangimento, perseguição e ameaça à ciência e seus profissionais.

Belém, 10 de novembro de 2023
Edna Castro
Presidente da SBS”

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