A Unión de Bienestar Social para la Región Triqui (UBISORT), organização paramilitar, atacou um comboio [conjunto de viaturas] que ia prestar solidariedade ao Munícipio autônomo de San Jun Copala, no México. Por Francisco López Bárcenas

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A Unión de Bienestar Social para la Región Triqui (UBISORT) manteve sua palavra. Esta organização paramilitar, criada pelo governo do estado de Oaxaca desde 1994 para controlar a região Triqui, voltou a pegar em armas, novamente fazendo com que sangue inocente tingisse as verdes colinas desse território indígena. De acordo com informações que têm circulado publicamente, o ataque teve como resultado duas mortes: a mexicana Beatriz Cariño Trujillo, do Centro de Apoyo Comunitário Trabajando Unidos (CACTUS) [1], e Jyri Antero Jaakkola, observador de direitos humanos, nativo da Finlândia; e mais de uma dúzia de ativistas e jornalistas estiveram desaparecidos durante 48 horas, feridos ou escondidos em algum lugar das montanhas para se protegerem das balas dos assassinos [2].

A cruel ação contra uma caravana humanitária, acontecida no passado dia 27 de abril, teve origem no fato dos ativistas terem tentado romper o cerco imposto pelos agressores ao município autônomo de San Juan Copala, a fim de levar alimentos, roupas e uma mensagem de solidariedade aos seus habitantes, que desde janeiro pelo menos estão sendo mantidos incomunicáveis e sem energia elétrica, pelo fato de terem decidido impulsionar um processo autônomo para as comunidades da região. A agressão foi anunciada, “cantada”, dias antes de ela acontecer. Quando as autoridades do município autônomo confirmaram que a caravana chegaria em breve, a UBISORT disse que não os iria deixar ir e que, se eles chegassem, “não seriam responsáveis pelo que lhes acontecesse”. E cumpriram a sua palavra, com os lamentáveis resultados de pessoas inocentes mortas, feridas e desaparecidas. Mas houve outros acontecimentos que anunciavam a ofensiva na região Triqui. Em 28 de novembro do ano passado, o mesmo grupo impediu os membros do Frente de Pueblos en Defensa de la Tierra (FPDT) de San Salvador Atenco de chegarem ao município autônomo, onde tinham planejado realizar o encerramento da campanha pela liberdade dos seus presos [3].

Daquela vez, muitos pensaram que existira uma aliança entre o governador Enrique Peña Nieto, do estado do México, e Ulises Ruiz Ortiz, de Oaxaca, os governantes mais repressivos desde que começou seu governo, em 2006, para evitar que os dois movimentos de resistência se encontrassem. A hipótese não era assim tão louca, porque, a partir dessa data, a repressão contra o município autônomo aumentou, atingindo o ponto em que estamos agora.

Nesse mesmo dia, os jornais da capital de Oaxaca iniciaram uma agressiva campanha de desinformação, alegando que o município autônomo tinha chegado ao fim. Para dar alguma aparência de verdade às suas declarações, os integrantes da UBISORT nomearam um novo funcionário municipal, Anastacio Hernández Juárez, irmão do líder da organização. Embora as autoridades do município autônomo tenham desmentido (negado) uma ou outra vez essas versões, a campanha continuou, e o sangue na região Triqui continuou correndo. Em 29 de novembro de 2009, as instalações do município receberam a agressão mais violenta desde a sua fundação, mas não só isso, pois a creche local foi baleada também e nesses acontecimentos morreu o menino Elias Fernandez de Jesús e ficaram feridos Tomotelín e Jacinto Velasco, assim como uma outra criança, cujo nome não foi divulgado. Nesse mesmo dia, os atacantes criaram um posto de controle perto da comunidade La Sabana, o mesmo local onde estes dias foi atacada a caravana de militantes, com a clara intenção de construir um cerco sobre os moradores da comunidade.

phpugblpt-350xQuando consideraram que o município autônomo estava suficientemente isolado, lançaram o que eles pensaram ser o seu golpe final. Em 10 de dezembro, um grupo pequeno, mas fortemente armado, despejou as autoridades do município autônomo e deixou lá uma guarda permanente, até 10 de março, dia em que um grupo de mulheres e crianças que apoiam ao município e suas autoridades conseguiu recuperar o controle do local, quando os agressores relaxaram a vigilância; como não foi possível retomar o controle das instalações, começaram a atirar sobre os moradores, tendo ficado ferida a Dona María Rosa Martínez, de 64 anos.

A situação tornou-se tão perigosa que muitas famílias abandonaram San Juan Copala e refugiaram-se em outros bairros ou fora da região, as aulas foram suspensas e até a Comissão Nacional para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas (CDI) encerrou as suas instalações. Apenas a igreja permaneceu aberta, e as pessoas têm de se movimentar com cautela. Era esta a situação até ao momento do brutal ataque à caravana-combóio de observação dos direitos humanos.

Quem é beneficiado pela brutal emboscada de semanas atrás em Oaxaca? É uma questão muito relevante. As respostas podem ser várias. Uma delas é que existem diversos atores que se deslocam na região que, de fato, poderiam ser beneficiados, em termos políticos e eleitorais. Outra, os interesses econômicos que passam nesse sentido. Vamos ter que escavar ao redor para entender o que aconteceu [4], lembrando que a região é considerada estratégica na construção do Plano Puebla-Panamá (o equivalente do PAC na região do México e Centroamérica), plano que agora recebe amplo apoio financeiro, logístico e militar dos Estados Unidos, sob o nome de Iniciativa Mérida (também o equivalente do Plano Colômbia).

Por agora, a coisa mais importante é encontrar formas de proteger a população da brutal repressão, os locais e os que vêm de fora, e exigir que autoridades imparciais, auxiliadas por agências internacionais, possam acompanhar o seu trabalho, começar uma investigação para encontrar os responsáveis e levá-los à justiça. Infelizmente, nem na Federação nem no estado de Oaxaca existe a confiança necessária nas instituições responsáveis pela lei, motivo pelo qual será necessário recorrer a organismos e instâncias internacionais. Pelo bem de todos, não podemos deixar este crime permanecer impune.

No meio de um contexto de violência em todo país, pela atividade sem controle dos grupos do narcotráfico e da intensa atividade militar que supostamente o combate, das próximas eleições em Oaxaca, uma segunda caravana humanitária se prepara, desta vez para o 8 de junho. Confira as novidades e manifeste a sua solidariedade no site: http://autonomiaencopala.wordpress.com/

Notas

[*] Pode-se consultar a versão deste artigo em espanhol, no jornal mexicano La Jornada: http://www.jornada.unam.mx/2010/04/29/index.php?section=opinion&article=009a1pol

[1] Confira o blog da organização CACTUS e algumas das reações internacionais aos acontecimentos: http://cactusoaxaca.wordpress.com/about/

[2] Veja o vídeo com a notícia do ataque no informativo MVS: http://www.youtube.com/watch?v=D0iTJrXuLbM&feature=related
Jornalistas do informativo Contralínea foram resgatados, dois días após o ataque: http://contralinea.info/archivo-revista/index.php/2010/04/27/grupo-armado-ataca-caravana-de-paz-en-oaxaca/

[3] Confira a informação sobre a Campanha Nacional e Internacional por Atenco: www.atencolibertadyjusticia.com

[4] Confira, em espanhol, o ensaio e o livro de Francisco López Bárcenas, para situar os acontecimentos no contexto histórico e político: http://desinformemonos.org/2010/05/para-entender-san-juan-copala/

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