enquanto minha alma, / fuzilada pela densidade produtiva, / se dilacerava / entre as engrenagens / de potentes compressores. Por Bruno Vilas Boas Bispo

Na mansidão da noite temos a impressão de sermos, face ao silêncio, os mestres do mundo. Rimbaud

E você? Poderia
algum dia
por seu turno tocar um noturno
louco na flauta dos esgotos?
Maiakóvski

 

partejei o dia entre rudes ruídos,

gritos de máquinas, chão de brita

o sol, entre um reator e uma torre, nascia

– crepúsculo visto sob a fumaça industrial

 

XV’s! PCV’s! PSV’s!

…..válvulas-

…….flores-metálicas

…..exalam

no ar o peso de mil compostos

……(expurgados  levianamente

……………….sob o véu

……………………condescendente

…………………………….da madrugada)

tão desconhecidos quanto insalubres

cheirando a frutas venenosas

….(o benzeno, sabe-se,

…………carrega doce olor “saputi”)

que venha o gerente executar a loucura que ordenara

cortejei o dia em seu fazimento

lacrimejo levemente, não de emoção,

antes, pela acidez atmosférica,

enquanto minha alma,

fuzilada pela densidade produtiva,

se dilacerava

…..entre as engrenagens

…………de potentes compressores

Quizila!

azoado, zumbi, escuto de memória

o zunido do ranger das máquinas

zaré, zão-zão, zanzo zonzo

.bato-o-cartão.

sigo rumo à casa.

o reflexo trô

………..pe go ainda contabiliza

…………………..precariamente:

caminhos,

casas,

rugas,

carros,

pessoas

e

..noi
……te
………s
………per di
…………….das

“Eu escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível. Fixava vertigens.”

à velocidade da autoestrada

………………….todas as contas são inúteis

há vida dentro de mim, ávida

…………………….“germinal”

não luto contra o sono,

………………apago.

em dois minutos percebo: só cochilava

recordo que
……………….há dias ?adio?
…………………….o gládio
……contra a burguesia

não há organização onde há sono

o inimigo o sabe

resquícios de madrugada

carregam fragmentos de silêncio

……,a cidade acorda após o dia,

quiçá o saberá quem despertou depois

às dez da manhã adormeço

sob os ruídos dessa cidade

que

……jura não conhecer o silêncio

Trabalhadores (Sebastião Salgado)

Ilustrado com uma fotografia de Sebastião Salgado.

2 COMENTÁRIOS

  1. Gosto da estética

    gosto de poêmas politicos.

    gosto das rimas.

    gosto da forma

    gosto do sentido que as palavras teem

    e por fim gosto do ritmo.

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