O cantar é poderoso (e vem de baixo). Por Poeta em Buenos Aires

Poesia oral e sociedade

SKU902-4-300x300Rock, futebol e política. Quando entrei em contato com o fato de que havia pessoas que “militavam” certas bandas de rock – não apenas as míticas, como Los Redondos ou Viejas Locas, mas também e especialmente aquelas de barrio [de bairro], de circuitos “under” do conurbano [periferia] de Buenos Aires – passei a conceber melhor do que se trata a paixão particular que neste país se dedica à estas três atividades, e que as tornam vertentes de um mesmo fenômeno. A música, a rivalidade, o espetáculo das massas – apropriado e produzido por elas, em sentido contrário à pura passividade espetacular – as tensões entre fazer ou não fazer parte de um algo coletivo, delimitando e expandindo intermitentemente, contextualmente, os limites do pertencimento.

Material

Por mais que existam as fronteiras entre partidos, entre clubes, se existe algo que transita livre são os cânticos, suas melodias, seus temas. Embora a origem de uma melodia possa enquadrar a semântica de suas variações, cada nova variação se torna uma metáfora aberta: ironia, sátira, intertextualidade, cinismo, repaginação, etc. Fato é que o fenômeno nos faz pensar na permeabilidade poética-musical dos diferentes grupos humanos, onde certamente não é a composição acabada o objetivo a ser alcançado. O maior valor é dado à capacidade criativa de formular novas versões e adaptar originais amplamente disseminados (“cultura popular”) transformando sua mensagem para os eventos atuais – onde o repetido recurso à história revela ao mesmo tempo fixações e cristalizações, bem como o espírito vivo de uma sociedade que está atenta aos acontecimentos e seus significados profundos. Isso para quem escuta de fora. Para quem está do lado de dentro se trata de agitar-se e aos demais, de levantar os ânimos e esquentar o físico, de irmanar-se das demais vozes e dos corpos que as emanam. O cantar é poderoso (e vem de baixo).

Os cânticos escolhidos seguem critérios laxos, mas em sua maioria são melodias utilizadas pelos mais diversos grupos, não sendo nenhum considerado como uma “propriedade” de tal ou qual agrupação (política, gremial [categoria de trabalhadores], esportiva, etc). Existem os cânticos que são compartilhados apenas por meio de sua estrutura, abrindo sempre espaço para novas versões, mas existem também aqueles que são cantados identicamente por diferentes agrupações, todas juntas numa mesma marcha ou separadamente em diferentes situações.

1)

Y dale alegria alegria a mi corazón
la sangre de los caídos en rebelión
(bis)
ya vas a ver, las balas que vos tiraste van a volver
y si señor, vamos a llenar de ratis[1] el paredón!

E dá-lhe alegria alegria ao meu coração
o sangue dos nossos mortos em rebelião
(bis)
já vai chegar, o chumbo que cês mandaram já vai voltar
e sem perdão, vamos lotar de polícia no paredão!

[1] Rati: gíria para policial. Outra versão é com yankees.

— Melodia original: Fito Páez, “Y dale alegria a mi corazón”.
— Versão: hinchada Boca Juniors.

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2)

No nos han derrotado, los golpes los desaparecidos
hoy seguimos luchando, con la fuerza de los oprimidos
Como dijo Guevara: “Donde sea, en cualquier continente”[1]
Vamos dando batalla, por un mundo que sea diferente!

Sin miseria, pobreza ni explotación (oh oh)
Sin saqueos, sin ultraje ni opresión (oh oh)

Que se escuche en nuestra américa este grito:
Poder para el Pueblo
Anti-Imperialismo
Patria sin fronteras
Por el Socialismo!

Não fomos derrotados, com golpes e desaparecidos
Nós seguimos lutando, com a força de todo oprimido!
Como disse Guevara: “Onde seja, em qualquer continente”
Vamos dando batalha, que o mundo seja diferente!

Sem miséria pobreza e exploração (oh oh)
Sem chacinas, sem ultraje e opressão (oh oh)

Que se escute em nossa américa esse grito:
Poder para o Povo
Anti-Imperialismo
Pátria sem fronteiras
Pelo Socialismo

[1] Citação não textual das ideias expressadas principalmente em sua “Mensagem aos povos do mundo através da Tricontinental”

— Versão: “No nos han derrotado“, La Victor Jarra (Cumbia Insurgente).

3)

El policía es un cagón, con el fierro y con la chapa[1]
defiende a los que tienen plata, mientras el pueblo va a prisión…
El mano a mano vamo a hacer, aunque tengan los bastones,
porque son unos cagones y los vamos a cojer….

Esses polícia são cagão, com revolver ou à paisana
protegem todos que têm grana, e metem o povo na prisão…
O corpo-a-corpo vai rolar, mesmo que tenham bastões,
porque são todos uns cagões, aqui o bixo vai pegar!

[1] Fierro: arma; Chapa: distintivo policial.

— Melodia original: Kapanga, “El mono relojero“.

4)

Con los huesos de Aramburo[1] vamos a hacer una mesada
con los huesos de Aramburo, vamos hacer una mesada
para que coman los pibes, de la pátria liberada.

Com os ossos de Aramburo vamos fazer uma bancada,
com os ossos de Aramburo vamos fazer uma bancada,
para que comam os jovens, dessa pátria liberada.

[1] Aramburu: militar presidente da Argentina logo após o golpe de 1955 (“Revolução Libertadora”), que derrubou Perón e proscreveu o peronismo no país.

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***

Con los huesos de Aramburo vamos hacer una escalera
con los huesos de Aramburo, vamos hacer una escalera
para que baje del cielo nuetra Evita montonera[1].

[1] Evita: primeira mulher de Perón, figura materna da mística peronista, morre de câncer em 1952. Montoneros: organização da esquerda peronista revolucionária, uma das principais organizações da luta armada argentina dos anos 70.

***

Con el craneo de Aramburu vamos a hacer un cenicero
con el craneo de Aramburu vamos a hacer un cenicero,
para todos los soldados del comando montonero.

Com o crânio de Aramburo vamos fazer um cinzeiro
Com o crânio de Aramburo vamos fazer um cinzeiro
para todos os soldados do comando montoneiro.

***

Con los huesos de Cristina[1] vamos a hacer una escalera
con los huesos de Cristina vamos a hacer una escalera,
para que en las facultades pueda entrar la clase obrera.

[1] Cristina Kirchner.

5)

Ole ole ole olá, ole ole ole olá
como a los nazis les va a pasar
adonde vayan los iremos a buscar[1].

Ole ole ole olá, ole ole ole olá
Como os nazistas, vão apanhar,
aonde forem nós iremos lá buscar!

[1] Referência aos militares após a ditadura, em comparação com os oficiais nazistas que fugiram da Alemanha ao final da guerra e vieram esconder-se na Argentina. Os escrachos públicos aos torturadores foi um dos principais impulsores de um novo ciclo de militância nos anos 90, após o fim espiritual e físico da geração dos 70.

***

Ole ole ole olá, ole ole ole olá
Mira Cristina, que popular,[1]
es el gobierno con más presos por luchar!

Ole ole ole olá, ole ole ole olá
olha a Cristina, que popular,
é o governo com mais presos por lutar!

[1] Variação: Ni progresista, ni popular / Nem progressista, nem popular

***

Ole ole ole olá, ole ole ole olá
somos el pueblo y el carnaval
somos el frente popular y nacional

Ole ole ole olá, ole ole ole olá
somos o povo e o carnaval
somos a frente popular e nacional

***

Ole ole ole olá, ole ole ole olá
no sos ni el pueblo ni el carnaval
vos sos el forro del gobierno nacional

Ole ole ole olá, ole ole ole olá
não são o povo nem o carnaval
são essa merda de governo nacional

***

Ole ole ole olá, ole ole ole olá
a los docentes aumento ya,
a los petroleros la libertad[1]

[1] Petroleiros de las Heras que tiveram a prisão decretada em 2013, alguns com sentenças de prisão perpétua, a partir da morte de um oficial em uma manifestação em 2006 em condições debatidas.

6)

No son bengalas ni luces de colores
Son los trotskistas en platos voladores[1]

Não são rojões nem luzinhas de várias cores
são os trotskistas vindo em discos voadores.

[1] Referência ao posadismo, corrente trotskista fundada por Juan Posadas, que na década de 60 passou a interessar-se por OVNIs e pelos avançados modos de produção socialista provavelmente existentes em outros planetas.

7)

Milicos, muy mal paridos, que es lo que han hecho con los desaparecidos
la deuda externa, la corrupción, son la peor mierda que ha tenido la nación
qué pasó con las Malvinas[1]? Esos chicos ya no están
no podemos olvidarnos y por eso hay que luchar.

Milicos, tão mal paridos, que é que fizeram com os desaparecidos?
Dívida externa, corrupção, são a pior merda que já teve essa nação
O que aconteceu nas Malvinas? Esses jovens já não estão.
Não podemos esquecer e por isso vamos lutar.

[1] Guerra das Malvinas (1982), desatada pelos militares argentinos e que contou com o apoio da quase totalidade da esquerda, inclusive de boa parte dos setores classistas, com a bandeira do anti-imperialismo. Deixou aproximadamente 900 pessoas mortas e muitas outras feridas, durou 2 meses e poucos dias.

— Versão: Marcha Orletti-Corro

***

Troskos, muy mal paridos, contame un poco de tus desaparecidos
en ocho años de represión[1], mientras caían los soldados de Perón
que pasó con Altamira[2], el puto de fue a Brasil
Cuando pararon los tiros, se volvió con Alfonsín[3].

Trotskistas, tão mal paridos, me contem um pouco dos seus desaparecidos!
Em oito anos de repressão, enquanto caiam os soldados de Perón
Quê aconteceu com Altamira, ele fugiu para o Brasil
Quando os tiros pararam, voltou com Alfonsín.

[1] Duração da última ditadura argentina (1976-83)
[2] Altamira: um dos principais quadros políticos do trotskismo argentino, eterno candidato a presidente pelo Partido Obrero, desde 1989.
[3] Primeiro presidente argentino eleito após a última ditadura, pela Unión Cívica Radical (UCR), partido senil liberal populista de centro.

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8)

Que nos vengan a ver, que nos vengan a ver
esta es la clase obrera que se prepara para el poder

Que venham aqui ver, que venham aqui ver
essa é a classe operária que se prepara para o poder.

***

Que nos vengan a ver, que nos vengan a ver
somos trabajadores que avanzamos por el poder[1].

Que venham aqui ver, que venham aqui ver
somo trabalhadores que avançamos para o poder.

[1] Variação: hasta el poder / até o poder.

— Versão: Marcha En Repudio a EPN

9)

Que cagazo que cagazo
caminan por la calle los hijos del Cordobazo[1].

Que cagaço que cagaço
caminham pelas ruas os filhos do Cordobazo.

[1] Cordobazo: revolta popular e proletária na cidade de Córdoba no ano de 1969 que abalou o regime militar de Juan Carlos Ongania. Pouco depois este renunciaria e organizaria a abertura para eleições democráticas finalmente no ano de 1973, em meio às negociações para a volta de Perón ao país.

***

Que cagazo que cagazo
la FUBA piquetera hija del Argentinazo[1].

[1] FUBA: Federação Universitaria de Buenos Aires, organização central do movimento estudantil da Universidade de Buenos Aires (UBA). Esse canto surge em 2002, quando os setores da esquerda aliados pela primeira vez ganham as eleições contra a Franja Morada, organização estudantil da UCR, partido que por muitas décadas dominou as instâncias administrativas e políticas universitárias no país (e segue dominando reitorias e setores docentes). Argentinazo: revolta popular ocorrida no final de 2001, quando grandes porções da pequena burguesia se unem aos setores proletários tradicionais e desempregados, ao ser anunciado um Estado de Sitio no país. Foram dezenas de mortos entre os dias 19 e 20 de dezembro, 5 presidentes entre o dia 19 de dezembro e o 1 de janeiro.

Versão da torcida da argentina durante a Copa do Mundo no Brasil, em 2014.

10)

Somos de la gloriosa juventud argentina
la que hizo el cordobazo, la que peleó en Malvinas
la de Robi Santucho[1], la de los Montoneros
la de la patria libre para los compañeros
para los compañeros…

Somos a gloriosa juventude argentina
aquela do Cordobazo, a que lutou nas Malvinas
a de Robi Santucho e a dos Montoneros
A da patria livre para os companheiros
para os companheiros…

[1] Roberto Santucho: Quadro do Partido Revolucionario de los Trabajadores (PRT), partido marxista-leninista que nos anos 60-70 teve um braço armado importante, o Ejército Revolucionario Popular (ERP), ativo principalmente no norte do país.

— Melodia original: Victor Heredia, Todavía cantamos
— Versão da Hinchada Del Basurero (Gimnasia y Esgrima La Plata), “Aca esta la gloriosa“.

***

Esta es la gloriosa juventud piquetera
la que corta la ruta junto a la clase obrera
la que lo corrió Duhalde[1], la que aguenta en el puente[2]
la que hechó De la Rua el veinte de diciembre[3]
el veinte de diciembre…

[1] Presidente argentino da direita peronista que assume após a crise de 2001; responsável pelo “Massacre de Avellaneda”, no qual caíram Dario Santillán e Maxi Kosteki, deixando também outras 33 pessoas feridas por balas de chumbo. Com a repercussão do caso, adianta as eleições e passa o mandato para Néstor Kirchner em 2013, que ganha com 22% dos votos devido a que o outro candidato mais votado (nada mais que Carlos Menem, com 24%) retira sua candidatura após o primeiro turno.
[2] Ponte Pueyrredón: local tradicional das marchas piqueteiras por conectar a capital federal com a zona sul do conurbano, a zona periférica mais pobre. Foi palco do Massacre de Avellaneda.
[3] Presidente que foge da Casa Rosada em um helicóptero em meio à rebelião popular desencadeada após decretado o estado de sitio no país. Deixa a presidência nesse mesmo dia.

11)

Si el boleto no está, qué quilombo que se va armar!
Si el boleto no está, qué quilombo que se va armar!
Te cortamos la calle y te tomamos la facultad!
Te cortamos la calle y te tomamos la facultad!

Se o passe [estudantil] não vem, vai ter bagunça de verdade!
Se o passe não vem, vai ter bagunça de verdade!
Vamos travar a rua e ocupar a faculdade!
Vamos travar a rua e ocupar a faculdade!

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12)

Vamos compañeros, hay que poner un poco más de huevo,
estamos todos juntos nuevamente
la educación del pueblo no se vende, se defiende!

Vamos companheiros, temos que botar o corpo mais um pouco,
estamos todos juntos novamente
a educação do povo não se vende, se defende!

— Versão da Greve Nacional dos Bancários, Buenos Aires.

13)

Soy piquetero señor, lo llevo en el corazón
los vamos a echar a todos a la puta madre que los parió.
Señores soy piquetero, toda la vida voy a luchar
seguimos cortando rutas y a la rosada[1] vamo a llegar
palazos, balas de goma, la bonairense y la federal[2]
a mi no me importa nada, me sobran huevos para luchar.

Sou piquetero sim senhor, lá dentro no coração
vamos botar pra correr a toda essa corja de cuzões.
Senhores sou piqueteiro e toda minha vida eu vou lutar
seguimos bloqueando estradas e na rosada vamos chegar.
Porradas, borrachadas,, a estadual e a federal,
eu não ligo para isso, me sobra corpo para lutar!

[1] Casa Rosada: sede do governo federal argentino. Pode ser interpretado como ocupar a sede do poder, mas também quanto ao fato de que a plaza de Mayo, logo em frente, é o palco inescapável das grandes manifestações políticas do país durante todo o século XX e o começo do XXI.
[2] Referencia à polícia estadual da província de Buenos Aires e à polícia federal.

— Versão da Unión de Juventudes por el Socialismo (Partido Obrero): “Soy piquetero señor“.

14)

tacho_cantandoUnidad de los trabajadores!
Y al que no le gusta,
se jode! se jode!

Unidade dos trabalhadores!
E aquele que não gosta,
se fode! se fode!

Mobilização em Puerto Madero, Buenos Aires.

15)

A ver a ver, quien dirije la batuta
los estudiantes
o el gobierno hijo de puta, yuta[1], puta

Quem é quem é, quem dirige a batuta
os estudantes
ou o governo e os polícia, milicia, fascista.

[1] Yuta: gíria para policial.

— Versões 1, 2 e 3.

As imagens que ilustram o artigo são do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN)

2 COMENTÁRIOS

  1. Sobre a 4), é com base na melodia de Ay Carmela?

    Sobre a 12), em 2011 no Chile os estudantes também cantavam:

    “Vamos compañeros, hay que poner un poco más empeño,
    salimos a la calle nuevamente
    la educación chilena no se vende, se defiende!”
    (Dá pra ouvir nos 02:50 desse clipe: https://www.youtube.com/watch?v=ReSAjxLh_Nc)

    Era bem animador! Já pensei numa tradução para o português mas é um ritmo que simplesmente não pegaria aqui.

    Fiquei lembrando do Encontro Nacional do MPL em 2013. Dava pra ter feito uma coletânea com as músicas que cantavam em cada cidade. Algumas eram paródias, outras eram reinterpretadas de lugar pra lugar, mudando o nome dos terminais de ônibus ou a forma de se falar algumas palavras (“catraca” pode ser “roleta”, “borboleta”; “cobrador” pode ser “trocador”), mas ali, e principalmente naquele ano, era muito forte a sensação de que se vinha de um processo social comum.

  2. Caio, a 4 não é com base em Ay Carmela (mesmo porque as primeiras versões são bem peronistas). Veja aqui uma versão:
    https://www.youtube.com/watch?v=AgOSiIufkew

    Sobre os chilenos, a última, a 15), também é bastante cantada pelos estudantes secundaristas chilenos. De fato, o primeiro e o terceiro vídeos são chilenos — ajuda o fato de que a palavra “yuta” também lá é usada como giria para policial.

    Sobre “fazer pegar”… é uma bela questão, bem paralela a fenômenos políticos e de militância. Tem a ver com tradições anteriores, momentos especiais de receptividade e também aquilo que eu menciono no começo do texto, a “militância de coisas”.
    A história do cantinho argentino no Mundial (Brasil decime qué se siente…) é um bom exemplo: um pequeno grupo de pessoas “militou” o canto até que massificou de forma completamente desmedida. Inventaram a versão, tweetaram para pessoas famosas (ninguém deu bola), panfletaram a letra numa concentração de torcedores argentinos antes do primeiro jogo e colaram em uma das pessoas que estava tocando bumbo para que ela os ajudasse a promover a música.
    https://www.youtube.com/watch?v=q1ftC4nkTU4

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