Por Ana Luísa Pinto

Originalmente publicado aqui em 03 de junho de 2019.

ALERTA! DENÚNCIA!

Neste fim de semana, mais especificamente no sábado 05 de julho, uma tragédia aconteceu. Era uma noite fria em que os 5ºC estavam longe de ser o maior problema.

De Perdizes, fiz um pedido na Rappi Rappi e ao receber a entrega, eu e meus companheiros (Fernanda Ribeiro, Marcella Dinelli Veterinária e Guilherme Makansi) fomos surpreendidos pelo mal súbito de Thiago.

Thiago era entregador desta empresa e finalizava seu serviço antes de ir para a casa, quando começou a sentir-se mal.

Narrou dor de cabeça forte, náusea e pressão baixa. Junto a isso, ele tremia muito e vomitou algumas vezes.

Começamos a tomar as providências e enquanto ligávamos para o SAMU SAMU 192 SÃO PAULO, pegamos cobertores para que ele se aquecesse. Em seguida, entramos em contato com a Rappi que, sem qualquer sensibilidade, nos pediu para que déssemos baixa no pedido para que eles conseguissem avisar os próximos clientes que não receberiam seus produtos no horário previsto.

Foi então que pedimos o contato de algum familiar e ele, balbuciando, nos encaminhou para a sua irmã Dayane. Explicamos a situação e ela, prontamente, se propôs a nos encontrar na calçada em que aguardávamos a ambulância.

Thiago desmaiou. Parecia que ele estava tendo uma convulsão, seu corpo e membros todos rígidos e sua respiração bastante dificultosa fazia bastante barulho.

Muito assustados, viramos ele de lado para que não se engasgasse e disparamos mais ligações para o SAMU Serviço De Atendimento Samu e Bombeiros. Fizemos todos os testes que nos orientaram pelo telefone e enfatizamos diversas vezes a urgência do caso.

Sem qualquer resposta que nos indicasse que o socorro estava vindo, paramos dois motoboys na rua que nos ajudaram a pensar em soluções.

Mais ligações pra rappi, mais ligações pro samu, mais ligações pros bombeiros e nada. Até para a polícia ligamos, sem resposta.

Foi neste desespero que resolvemos pedir um Uber para levá-lo, nós mesmos, para o Hospital. Sua irmã já havia chegado e Thiago continuava inconsciente, sem nenhum reflexo.

Carregamos ele para dentro do carro sob o argumento de que omissão de socorro é crime, mas nada adiantou. O Uber se recusou a fazer a viagem.

Nesta mesma hora, um carro com amigos de Thiago chegou, rapidamente o transferiram de um carro para o outro e saíram em disparada para o Hospital das Clínicas, bem próximo de onde estávamos.

Ele deu entrada na UTI e seu diagnóstico era AVC.

Hoje, recebemos a ligação de sua ex-mulher, Marisa, e ele havia falecido.

Thiago deixa uma filha pequena e a sensação de indignação em todos nós. Foram duas horas aguardando socorro e a omissão de seus empregadores e do Estado nos causa profundo sofrimento.

Lamentamos muito esta e todas as outras vidas perdidas em função do descaso e violência a que somos submetidos pelo poder público e pelas relações precarizadas de trabalho.

Importante ressaltar que até a própria posição do Uber em negar atendimento revela não só uma postura individual, mas reitera a situação precária de trabalho.

Somos pela vida, pela humanização e, principalmente, pela justiça. Não vamos nos silenciar diante deste acontecido e vamos mais fortes buscar a garantia de direitos.

Peço que compartilhem se possível, para que possamos ter ao menos um posicionamento da Rappi e do Estado.

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