Por José R. da Silva Maramonhanga

O revelador discurso do presidente da pocilga senado federal, Davi Alcolumbre, na terça-feira (22), pouco antes de proclamar a famigerada aprovação da destruição da Previdência Social, é mais uma confirmação de que “os direitistas são excelentes professores pelo negativo”; bem como: “o homem necessita ser educado com exemplos tanto positivos como negativos”.[1]

O reacionário Alcolumbre, após agradecer ao bandido-ministro Paulo Guedes e toda sua equipe, louvou a “construção do consenso”, a “busca permanente do entendimento, da conciliação” como um “trabalho fundamental de muitos atores”, destacando os canalhas, senadores Tasso Jereissati, Simone Tebet, deputado Rogério Marinho e o “Parlamento brasileiro, independente de diferenças partidárias… Porque na tramitação dessa matéria, Ministro, Parlamentares de oposição a essa matéria construíram um entendimento nos prazos, na relação institucional, na relação parlamentar.”[2] Essa relação espúria e esse mesmo ensebado discurso também é a tônica dos pronunciamentos dos outros membros das mais diversas sublegendas do partido único da (des)ordem que pululam a pocilga. Como o do escolado oportunista Paulo Paim, um dos mais ativos propagadores dessa “linha da conciliação, do entendimento”[3] — parlamentar há 32 anos interruptos, senador petista perfilado com as traidoras centrais sindicais e todo apodrecido movimento sindical brasileiro, articulador de “frentes parlamentares de defesa” disso e daquilo e outros recorrentes mecanismos de enganação e de confetes para a “nobre” carreira.

Cínico, Paulo Paim em sua página no Facebook, após a aprovação da destruição dos direitos previdenciários, propagandeia que fez “incansável luta”“dei suor e lágrimas”, e regogiza que conseguiu “com muito diálogo, aprovar o destaque que irá garantir o direito à aposentadoria especial por periculosidade”[4]; certamente mirando a futura vaga de candidato à presidência da Republiqueta. Já os oportunistas dirigentes das centrais sindicais e do apodrecido movimento sindical nem deram as caras imundas na espúria votação do Senado. Dias antes (17), na sede da UGT, tinham se reunido com o governo, representado pelo mesmo Rogério Marinho, para discutir propostas de financiamento das atividades sindicais e de novas mudanças na legislação trabalhista. Agora, com os rabos entre as pernas, e sedentos pelas migalhas que esperam auferir nas novas tratativas com o governo e a patronal, sequer foram a Brasília acompanhar o enorme golpe desferido contra os trabalhadores, aposentados e pensionistas.

Mas não se poderia esperar outra coisa dessa corja atrelada e domesticada do movimento sindical e dos mercadores de ilusão que se cevam no chiqueiro que são o parlamento, o movimento sindical traidor e todas as estruturas desse podre e genocida Estado brasileiro. Como afirmávamos, no artigo “Abaixo o podre e traidor movimento sindical brasileiro”, no início do ano: “o movimento sindical, sob a batuta das centrais sindicais, é traidor e está complemente apodrecido. Tal como protagonizou no período que antecedeu a aprovação da famigerada ‘reforma trabalhista’, encena resistência, articula reuniões, assembleias e atos comportados; enquanto promove escusas articulações de bastidores. Nesses entendimentos com sórdidas figuras do governo, dizem falar em nome dos trabalhadores e aposentados mas utilizam essas tratativas para barganhar por seus próprios interesses. Essas reuniões são a continuidade da trilha de traição das centrais sindicais”.[4]

Quem acreditou no “mise-en-scène”, quem acreditou no teatro das centrais, deputados e senadores, agora colhe essa amarga derrota sofrida pelo povo brasileiro com a destruição de nossos direitos previdenciários e trabalhistas.

Errou feio quem dizia, após a vitória da milícia de Bolsonazi e curriola, de que a “luta pela revogação de leis trabalhistas, de arrocho aos direitos dos trabalhadores, contra a ‘reforma da Previdência’ ditada pelos bancos e em defesa do direito e da liberdade de organização e de manifestação exige, de imediato, a unidade de ação no movimento sindical. Com o fim da política corporativista do oportunismo petista na gerência do velho Estado, limpa-se o terreno para a luta por um movimento sindical que imponha a linha de classe como condição para levar a luta à vitória”.[5]

Errou e continua errando feio quem lança exortações para a “unidade de ação” com as centrais sindicais, com os políticos, endeusa e aplica a estratégia de participação no processo eleitoral desse chiqueiro que é o parlamento e de apoio/ocupação de cargos no serviçal, sanguinário e semicolonial Estado brasileiro.[6] Os simulacros de “greve geral” não passaram de teatro para encenações de protagonismo e de suposto cacife para “negociação” no podre parlamento,[7] Chega a serem patéticas as avaliações de setores, ditos mais à esquerda, mas também satélites oportunistas, que mesmo após a traição escancarada, rogam que as centrais “não articulam a força da classe trabalhadora”[8] e insistem em se chafurdar no pântano sob a falácia de “a única saída possível para os trabalhadores, e também para a juventude, é retomar as entidades das mãos da burocracia”.[9]

O caminho vitorioso do proletariado, registrado pela história, é o da demarcação de campos, o da escolha do caminho da luta e não o da conciliação no pântano dos lugarzinhos rendosos e fétidos do parlamento, entidades sindicais pelegas e do Estado. É o de marchar em grupo compacto por sendas escarpadas e difíceis, rodeados de inimigos e quase sempre baixo seu fogo, visando o combate e a derrota do inimigo e não cair no pântano, como destacava Wladmir Lênin.

Se julgarmos os homens não pelo brilho dos seus discursos ribombantes nem pelos lustrosos ternos que envergam, nem pelos pomposos títulos que a si mesmo se dão, senão pelos atos e ideias que propagam e suas nefastas consequências para o povo, veremos que urge o total desmascaramento dessa corja, a denúncia da total falência das traidoras direções do movimento sindical, dos partidos políticos eleitoreiros e do processo eleitoral farsante.

O verdadeiro caminho é o da luta pela Revolução Social e não pelas reformas sociais. O caminho é o de “lutar com as massas, viver com as massas, trabalhar com as massas” — merecer a confiança das massas e ousar desferir golpes no inimigo. Como registra a história e demonstram as ondas de revoltas populares que, vira e mexe, se levantam e espalham-se pela América Latina e por todo o mundo — luta na perspectiva, não da participação no Estado burguês e seus aparatos apodrecidos, e sim a conjuração por sua destruição, forjando novas formas de organização e de combate.

Quixeramobim, 22/10/2019

Notas

[1] Mao Tsé-Tung, Rechazar la ofensiva de los derechistas burgueseshttps://www.marxists.org/espanol/mao/escritos/BBR57s.html.
[2] https://www25.senado.leg.br/web/atividade/notas-taquigraficas/-/notas/s/23832.
[3] https://www25.senado.leg.br/web/atividade/notas-taquigraficas/-/notas/s/23791.
[4] https://www.facebook.com/paulopaim/.
[5] https://passapalavra.info/2019/03/125464/.
[6] https://anovademocracia.com.br/no-218/9980-editorial-greve-geral-contra-o-corte-de-direitos-e-o-golpe-militar-em-curso.
[7] https://www.pstu.org.br/centrais-chamam-a-intensificar-mobilizacao-contra-reforma-e-preparar-dia-de-luta-em-12-de-julho/.
[8] https://ctb.org.br/noticias/movimentos-sociais/nota-das-centrais-greve-do-dia-14-foi-um-sucesso-e-tera-continuidade/.
[9] http://www.esquerdadiario.com.br/Reforma-da-previdencia-e-aprovada-sob-silencio-ensurdecedor-das-Centrais-Sindicais.
[10] http://www.esquerdadiario.com.br/CUT-e-CTB-se-reunem-com-Maia-e-negociam-acordos-via-reforma-da-previdencia-Parem-de-negociar-nossos.

1 COMENTÁRIO

  1. Já bem dizia Engels, em 1852, sobre o cretinismo parlamentar:
    “Estes pobres homens, fracos de espírito, no decurso das suas vidas, geralmente, bastante obscuras, estavam tão pouco acostumados a algo de parecido com o êxito que acreditaram realmente que as suas emendas mesquinhas, aprovadas por uma maioria de dois ou três votos, mudariam a face da Europa. Desde o começo da sua carreira legislativa, tinham-se imbuído, mais do que qualquer outra fracção da Assembleia, daquela doença incurável, o cretinismo parlamentar, uma perturbação que penetra as suas desafortunadas vítimas da convicção solene de que o mundo inteiro, a sua história e futuro, são governados e determinados por uma maioria de votos naquele particular órgão representativo que tem a honra de os contar entre os seus membros e que todas as coisas que se passam fora das paredes da sua câmara — guerras, revoluções, construções de caminhos-de-ferro, colonização de novos continentes inteiros, descobertas de ouro na Califórnia, canais centro-americanos, exércitos russos e tudo o mais que possa ter alguma pequena pretensão a influenciar os destinos da humanidade — não é nada comparado com os incomensuráveis acontecimentos que dependem da questão importante, seja ela qual for, que nesse preciso momento ocupa a atenção da sua ilustre Casa. Foi assim que o partido democrático da Assembleia, ao contrabandear eficazmente algumas das suas panaceias para dentro da “Constituição Imperial”, começou por ficar obrigado a apoiá-la, apesar de, em todos os pontos essenciais, ela contradizer terminantemente os seus próprios princípios frequentemente proclamados; e, por fim, quando esta obra híbrida foi abandonada pelos seus principais autores e lhe foi legada, aceitou a herança e defendeu essa Constituição monárquica, mesmo em oposição a todos os que, então, proclamavam os próprios princípios republicanos que eram os seus.”

    Setembro de 1852 – Friedrich Engels – “Revolução e Contra-Revolução na Alemanha”

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