Além de muitos anarquistas, de muitos libertários e também de Bolsonaro, quando ele defende que os shoppings e as igrejas continuem abertas, agora o Esquerda Diário publicou um artigo afirmando que a quarentena obrigatória é «mais típica da Idade Média do que [de] uma sociedade desenvolvida científica e clinicamente, e que traz consigo a centralização do poder, a restrição das liberdades e a militarização». Se estudassem alguma coisa de História, porém, saberiam que na Idade Média e na Renascença não era a plebe quem ficava de quarentena. A plebe ficava atafulhada nas cidades e aldeias insalubres, para morrer em massa. Era a aristocracia quem fugia para os seus palácios de campo e que aí se fechava. Para passarem o tempo contavam histórias, e várias obras literárias daquela época adoptaram esse modelo, sendo a mais conhecida o Decameron, de Boccaccio, ou também, de certo modo, o Heptameron, de Margarida de Navarra. Em suma, a quarentena era uma arma de defesa dos ricos, e os pobres estavam condenados a não fazer quarentena. Passa Palavra

5 COMENTÁRIOS

  1. O texto fala contra o Estado policial e a militarização da quarentena. Visivelmente vcs deturpam o sentido original do texto do esquerda diario espanhol. Descontextualizam o texto original de forma oportunista. Lamentavel esta obsessao do passa palavra em forjar um falso espantalho. Que é uma fantasia desconectada de posicionamentos concretos e fáticos das orgs de esquerda mais relevantes para sair num infantil e obsessivo denuncismo contra um fictício negacionismo de esquerda. Mesmo q todos concordem c a quarentena qualquer critica a romantizacao da quarentena capitalista e militarista sera tratada de negacionista pelo passa palavra?
    Brutal perda de tempo e de latim.

  2. mero lapso teórico… Até que essa galera manda bem as vezes. Merecem meus parabéns pelo fôlego em denunciar as condições de trabalho por todo o país, mas em perspectiva revolucionária eu fico com o Passa Palavra sem dúvidas.

  3. O texto publicado no Esquerda Diário ignora algo que é fundamental. O SARS-Cov-2 é transmitido numa velocidade muito grande: não existe hoje continente que não tenha registrado casos cada vez mais numerosos da COVID-19. Não há vacina e o tratamento médico disponível para os casos graves consiste em internar a pessoa e tentar mantê-la respirando, ao mesmo tempo em que são administrados diversos medicamentos e terapias em diversas situações (o protocolo do manejo clínico da COVID-19 pode ser conferido aqui: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2020/fevereiro/11/protocolo-manejo-coronavirus.pdf). Ora, se as pessoas não podem ainda ser imunizadas e se não há estrutura hospitalar instalada suficiente para o tratamento de tantas pessoas sofrendo complicações respiratórias ao mesmo tempo, a única solução é promover quarentenas, se necessário impô-las, ao mesmo tempo em que é ampliada a estrutura existente e são produzidos mais equipamentos e os cientistas trabalham incansavelmente para desenvolver vacinas e testar antivirais e outras possíveis terapias. Portanto, não são “alguns cientistas” que recomendam as quarentenas, como faz crer o texto. E isso não tem nada de medieval, pois as quarentenas são articuladas a um esforço produtivo e de pesquisa e desenvolvimento de tratamentos, medicamentos e vacinas nunca antes visto. Ou seja, as quarentenas se inserem no que há de mais moderno em termos de soluções técnicas e científicas para uma pandemia global que é a primeira da história. A luta de classes não deixou de existir em meio à pandemia, mas criticar as quarentenas e pretender, como faz o texto publicado no Esquerda Diário, que não tem havido esforço verdadeiro para apresentar “soluções médicas efetivas” é ignorar o trabalho e as recomendações de centenas de cientistas altamente engajados na busca de uma saída para a crise. Com isso a esquerda desmerece o trabalho dos cientistas e põe em dúvida a seriedade do seu trabalho, promove a desobediência e a desconfiança em relação às quarentenas e coloca em risco não apenas os desobedientes e desconfiados como também todas as demais pessoas, atrapalhando assim o trabalho dos cientistas, e por fim acaba legitimando a imposição das quarentenas à força e estimulando a militarização e o Estado policial. Seria o momento de promover uma auto-organização dos trabalhadores em prol dos seus interesses de classe mas articulada aos esforços dos cientistas e dos médicos, lutando para que os trabalhadores não experimentem uma regressão violenta em suas condições de vida, sem porém sabotar um esforço que é pela preservação da própria humanidade.

  4. Em outro artigo, desta vez escrito por sua seção brasileira, eles defendem que:

    “Por um lado, essas medidas autoritárias expressam um velado uso político da pandemia para que o governo de extrema-direita de Bolsonaro reforce suas medidas policialescas e repressivas de controle da população. Por outro, são absolutamente ineficazes para controlar a disseminação e o contágio pelo Covid-19.”

    http://www.esquerdadiario.com.br/A-quarentena-e-o-COVID-19-que-tipo-de-cuidados-deveriam-ter-os-contaminados

    E a solução perfeita seria orar para que Jesus nos desse testes para toda a população brasileira, fazendo com que seja possível uma quarentena APENAS PARA INFECTADOS. Enquanto isso não ocorre, a quarentena e isolamento da população é “absolutamente ineficaz”, segundo os especialistas do Esquerda Diário. A conclusão do artigo é de que tudo isso mostra que o capitalismo não dá mais, nós aqui podemos acrescentar que tudo isso mostra que essa esquerda inconsequente e ignorante também não nos serve de nada.

  5. Num artigo que publiquei há dias neste site, um leitor colocou um comentário chamando a atenção para um texto no Facebook de Deivison Nkosi. Diz o autor que «seguir apenas repetindo que “para a Perifa a quarentena é um luxo inalcançável” é contraproducente e não resolverá o problema que está por vir, aliás, acaba revelando um tipo de negacionismo irracional». Trata-se de um texto de grande importância, que mostra o que poderá ser uma auto-organização dos trabalhadores em tempos de pandemia. Reproduzo aqui na íntegra o texto de Deivison Nkosi:

    «Salve família, tenho lido muitos relatos coerentes lembrando que em uma sociedade desigual como a nossa a quarentena é privilégio para poucos e que nas quebradas (das periferias ou dos centros) ou mesmo para o povo que vive nas ruas o bagulho é diferente. Nestes lugares os trabalhadores (a maioria preto/as) são jogados à situações degradantes de moradia, saneamento, trabalho e transporte precários e, por isso, não podem se dar ao luxo de seguir as recomendações da Organização Mundial de Saúde.

    Escrevo este post para concordar com essa preocupação, mas também para fazer algumas considerações que podem ser importantes daqui para frente:

    1. É fundamental denunciar essa Necropolítica de classe e raça que impede que tenhamos acesso à iguais condições de cuidado contra esta e outras epidemias (as outras mortes de sempre não tiraram férias enquanto o Novo Corona entra em cena). NO ENTANTO, seguir apenas repetindo que “para a Perifa a quarentena é um luxo inalcançável” é contraproducente e não resolverá o problema que está por vir, aliás, acaba revelando um tipo de negacionismo irracional. Este é o momento de pensar, partindo dessa correta constatação, O QUE FAZER.

    2. um grande desafio, neste momento, é convencer o nosso povo (especialmente os/as nossos/as mais velhos/as) de que a situação é séria e requer cuidados difíceis, mas necessários: cancelar aquele bom papo no bar, aquele churrasco, o beijo no rosto ou na boca, e, por que não? adotar a saudação wakandiana, rsrs. Isso não significa ignorar que o nosso povo vai ter que continuar pegando o trem e busão lotados, vai seguir se expondo enquanto trabalha de forma precária (pq a maioria é “autônomo” ou operário mal pago). A questão que precisaremos pensar, a partir de agora é: CASO NÃO SEJA POSSÍVEL SE ISOLAR, que redução de danos podemos inventar e utilizar? Quais meios e estratégias devemos desenvolver para nós defender o máximo possível?
    – se não posso me isolar em casa, posso, pelo menos, evitar cumprimentar dando as mãos ou beijo no rosto nos locais públicos?
    – se tenho que pegar o busão ou o trem, posso usar máscara? Se não tenho máscaras, há outros recursos como lenço (gangsta ou trap stile), máscara k-pop ou qualquer, bandana ou coisa parecida que posso usar ou improvisar?
    – se precisei usar transporte público ou pegar em dinheiro ou mercadoria de outra pessoa: da para usar álcool em gel após cada contato com o corrimão do busão ou as mãos das pessoas? se não tiver álcool em gel, da para improvisar lenço umedecido ou mesmo uma garrafinha de água com detergente?
    Talvez um dia se discuta o grau de eficiência destas medidas que estou indicando ou os epidemiologistas indiquem outras formais mais efetivas, mas por hora, a pergunta mais sensata deve ser: “quais os meios disponíveis em cada realidade que podemos lançar mão para diminuir o máximo possível a vulnerabilidade ao contágio?”. Esse debate é tão importante quanto a constatação de que a quarentena não chega na favela.

    3. Agora, se o bagulho virar The Walking Dead, (com comércios totalmente fechados, crise de abastecimento, caos social e saques em desespero), talvez, teremos que nos antecipar e ir organizando grupos comunitários (os coletivos de quebrada, partidos, organizações comunitárias serão fundamentais) e redes/comitês/articulações amplas de defesa da saúde para suprir as ausências do Estado nas quebradas: fazendo compras para os mais velhos ou com dificuldade de locomoção; arregimentando doações de itens de higiene para moradores de rua e os mais necessitados; e eventualmente, pensando estratégias de socorro (locomoção para hospitais, e até velórios, se for o caso) e até de segurança das quebradas, pq o medo e a necessidade extrema podem libertar monstros horríveis no que há de melhor em nós… tudo sem esquecer a própria segurança!

    4. Para além de tudo isso, os momentos de crise oferecem ótimas oportunidades para colocar em reflexão, ao mesmo tempo que agimos, que sociedade é essa que nos coloca nessa situação de vulnerabilidade e, sobretudo, que sociedade queremos daqui pra frente e qual é o papel dos bens públicos como o SUS, diante do interesse comum. O capitalismo está entrando em uma das maiores crises já vistas nos últimos anos e A SOLUÇÃO DELES é aumentar a precarização da NOSSA vida através de reformas (na verdade, deformas) que destroem a educação, renda, moradia e, sobretudo, de saúde dos NOSSOS. Como um urubu que sobrevoa a carniça que ainda nem veio à óbito, Paulo Guedes já está propondo aproveitar o momento pra “acelerar as reformas”. “É a nossa destruição que eles querem, física e mentalmente o mais que puderem” (Racionais, Mcs). Por outro lado, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, ao constatar que o capitalismo está cagando para a nossa segurança, aponta o caminho: ameaça fazer greve, reivindicando uma licença remunerada para os trabalhadores. Na França e Itália explodem uma série de greves espontâneas – mesmo sem a participação das burocracias sindicais – reivindicando licenças remuneradas (o grande Capital tem gordura de sobra para isso, mas só o fará se estiver pressionado pelos trabalhadores). O momento exige que transformemos o medo em auto-organização e que utilizemos os meios tradicionais de afastar ou confundir as pessoas (Zap-zap, insta, face, telegran) e mesmo aquela JBL possante a serviço do Pancadão para dar a letra certa e organizar redes de ajuda mútua e partilha de informações.

    Por fim, é mais que o momento de politizar a distribuição desigual de recursos de saúde e saneamento e nos apropriarmos desta luta (independente de qual igreja teórica a nossa militância se baseie). O Sistema Único de Saúde (e também as pesquisas de saúde que podem nos salvar neste momento) vem sendo atacados por este governo messiânico e fundamentalista, mas mesmo antes destes ataques, o SUS já chegava com mais precariedade aos territórios negros, rurais, quilombolas, ribeirinhos e, à população de rua ou dos cortiços dos grandes centros urbanos (o Racismo institucional). Há o risco deste Racismo Institucional se repetir agora, no momento de crise… Ao acompanhar um parente ou amigo necessitado, que precisar do Sistema de Saúde, teremos que nos colocar como militantes da saúde pública e universal (princípios do SUS) e neste momento, se informar sobre com funciona o Sistema e, principalmente, sobre os movimentos de defesa da saúde pode nos ajudar muito.

    Penso que este é o momento das Redes Ativistas de Saúde se apresentarem para a população como mediadores e aglutinadores do que chamamos de Controle Social das políticas de saúde, de forma a ajudar as pessoas comuns e militantes de outras áreas a não lutarem sozinhas. Seguiremos defenderemos o SUS com toda a nossa força, mas sabemos que a Necropolítica tem endereço, especialmente em momentos de crise.

    Hora de colocar nossas teorias em prática e, mesmo sob isolamento biológico, romper o isolamento social e político a que fomos confinados e acabamos aceitando nos últimos anos. Hora de forjarmos o novo, assumindo a dianteira dos nossos próprios corres. O “nós por nós” nunca fez tanto sentido!, mas ele deve ser muito mais amplo do que imaginávamos ou definharemos confinados em nossas verdades inertes!»

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