Por Dantarez

Camaradas, recentemente, com os panelaços anti-Bolsonaro que têm ocorrido por volta das 21h dos últimos dias — especialmente em bairros de classe média — ouvi, algumas vezes, um grito de maniestação que me chamou a atenção — “incompetente”.

Me soou bastante engraçado num movimento anti-presidente, que essa “esquerda” (?) — representada aqui pelas classes médias, pessoas informadas — aponte justamente o “despreparo” do presidente e do governo.

Será que um governo que consegue promover tantos ataques aos trabalhadores em tantos aspectos, atendendo interesses de setores do poder e do capital, é “incompetente”?

O que parece é que essa perspetiva — que deve ter extrema aderência nessa pseudo-esquerda intelectualizada da classe média e das universidades — evoca incompetência porque não percebe o real propósito do governo; como se houvesse uma noção de que “competência” seria algum tipo de governo que “respeite a legalidade e os processos democráticos” (?) ou que promova políticas de inclusão social ao bom estilo do PT. Além disso, parece visualisar o contexto apenas superficialmente — o governo é “incompetente” porque não cuida do meio ambiente, porque não toma medidas de saúde adequadas na pandemia, porque é anti-indígena, anti-LGBT, etc. Enfim… parece que, em certa medida, essa visão está condicionada às pautas sociais amplamente difundidas hoje no mundo por uma certa “esquerda” — e difundidas com intenso financiamento do grande capital.

Enfim, a propósito desses panelaços tive a seguinte conversa com um amigo:

— A direita e a extrema-direita organizam milícias, e a “esquerda” faz o quê?

— Ciranda.

Vamos cirandar.

A imagem que ilustra o artigo é de Michael Wolgemut. A Dança Macabra, de 1493.

4 COMENTÁRIOS

  1. Num aspecto este texto foi extremamente competente: na magnitude da prepotência, perdendo apenas para a competência ainda mais prepotente da burguesia que pretende criticar.

  2. A pergunta que deixo: como esperar competência nos âmbitos sociais de um governo que é fascista? Texto ótimo.

  3. realmente.
    não basta sermos destroçados. temos de ser humildes enquanto somos destroçados.
    temos de humildemente agradecer a todos q nos fizeram chegar nessa situação.
    Digo mais: quem bate panela hj tem de agradecer o privilégio de ter panela para bater.
    Seja grato pela derrota, assim como o Alberto é.
    Como são ingratos…

  4. o fenômeno é novo, e vai merecer reflexão por anos ainda. No passado vimos líderes fascistas, de diferentes cortes, mas que foram extremamente competentes na arte de capitanear e conduzir empreitadas estatais de envergaduras inovadoras. Reestruturações de Estados nacionais de enormes proporções, enquadramentos e arranjos novos capazes de organizar movimentos proletários, esforços industriais e logísticos para realizar guerras e ocupar territórios…
    e no entanto, sabemos tão bem que Bolsonaro não se encaixa de forma alguma neste perfil. Oras, dizer que é fascismo não explica tudo. E há algo de verdade no adjetivo “incompetente”. Mas é claro que não explica tudo. E é óbvio que esta não é a crítica dos setores anti-capitalistas. E sim, é uma crítica perfeita para uma base eleitoral de oposição (e que sim, afetará o voto dos que votaram contra o PT nas eleições passadas e pensarão 2 vezes antes de votar Bolsonaro novamente).

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