Por Trampo

O Whatsapp anunciou uma nova política de privacidade que passa a vigorar em 15 de maio (inicialmente a data seria 8 de fevereiro. Na verdade é uma política que reduz a privacidade do usuário uma vez que para continuar a usar o Whatsapp o usuário tem que concordar com a cessão de dados para uso do Facebook. Em princípio dados pessoais que permitam ao Face aprimorar suas estratégias de vendas. Mas quem garante que vai ficar só nisso ? Para melhor entender recomendo a leitura de texto do site Manual do Usuário. Recomendo também que assinem a newsletter deste site.

E o movimento sindical com isso?

Com a popularização e quase universalização de uso do Whatsapp no Brasil as organizações ligadas aos movimentos sociais passaram a utilizar este serviço de mensagens como parte da sua estratégia de comunicação. Com o isolamento provocado pelo COVID 19 as transmissões ao vivo (lives) e o Whatsapp se transformaram nos principais instrumentos de diálogo com as bases sociais destas organizações. Outras plataformas (Face, Instagram e YouTube tem um papel complementar no processo de comunicação.

O Whatsapp ganhou relevância pela simplicidade de uso e por não consumir o pacote de dados móveis do usuário. Com R$10,00 por mês tem-se um serviço próximo ao da telefonia móvel : basta enviar e ouvir os arquivos de áudio. Portanto é ilusão acreditar que os usuários irão migrar para outros serviços por conta da manutenção da privacidade.

Como proceder então?

O movimento sindical lida com muitas informações sensíveis que requerem privacidade. Informações sobre a estratégia de enfrentamento com o patronato e/ou governos. A publicização sem critério destas informações pode comprometer a estratégia de ação sindical e deixar vulneráveis dirigentes e ativistas. Em princípio o conglomerado Whatsapp/Face/Insta pensa em usar algumas destas informações com intenções comerciais. Mais qual a garantia de que não haverá uso político em futuro próximo ?

Creio que o movimento sindical deva centrar sua ação de comunicação em duas vertentes :

  • manter a circulação de informações públicas através do Whatsapp via listas de distribuição e manter canais de diálogo ou informes de serviços prestados pelo sindicato também por este aplicativo. Em paralelo inibir debates sobre a ação sindical neste aplicativo para reduzir a possibilidade de vazamentos;
  • migrar a comunicação interna mais sensível (entre dirigentes e delegados sindicais) ou os grupos de debate sobre estratégia e ação sindical para serviços mais seguros como o Telegram ou o Signal (considero este o mais seguro). Em paralelo esclarecer os trabalhadores sobre os cuidados que se deve ter sobre o uso de redes sociais bem como suas implicações políticas.

E porque o SIGNAL?

Desde a origem o SIGNAL tem esta preocupação com a segurança no tráfego de dados e na preservação da privacidade dos seus usuários. Mas para melhor compreensão recomendo texto específico do mesmo Manual do Usuário.

Por fim uma frase que li em algum lugar enquanto preparava este post; não lembro a autoria nem o veículo:

“NADA GARANTE OPÇÃO SEGURA PARA SEMPRE”

Publicado originalmente aqui.

8 COMENTÁRIOS

  1. O WhatsApp possui uma função de fechar o grupo para que apenas administradores possam publicar. Se bem conversado, o WhatsApp pode concentrar o que consideramos informes ou deliberações mais vagas e deixar para aplicativos mais seguros como o Signal as discussões gerais. É claro que só se terá em vista a permanência do WhatsApp como uma ferramenta útil na medida em que no imaginário dos militantes ele é “mais acessível”. O ideal mesmo é fazermos uma migração completa. O que antes se falava via WhatsApp, falemos no Signal.

    Mas ainda há outro problema, e que demanda tanta atenção quanto: o signal não resolve o problema do WhatsApp da facilidade da dispersão dos usuários (bem colocada aqui https://passapalavra.info/2019/12/129375/) dos assuntos principais. Para isso é preferível migrar para fóruns de discussão onde é possível organizar as pautas, evitando o esgotamento mental dos militantes. Há quem use o mail.riseup.net para isso, mas eu recomendo bem mais o Fórum do Riseup (we.riseup.net). Há quem elogie mais o Protonmail, mas eu não conheço o suficiente para recomendar.

  2. Ao ler este texto e o comentário acima lembrei-me de que um jornal de Lisboa, o Diário de Notícias, publica hoje um artigo sobre a situação política nos Estados Unidos em que, a certo passo, diz o seguinte:

    «O FBI alertou para o potencial de violência em todas as capitais do estado e disse que está a seguir uma “grande quantidade de conversas online”, incluindo apelos a protestos armados. Mas luta contra o tempo: a decisão de o Twitter e do Facebook em encerrarem as contas de extremistas e do próprio Donald Trump, bem como de a Amazon ter cortado o armazenamento da rede preferida pela extrema-direita, supremacistas e adeptos de teorias da conspiração, o Parler, tirou estas hordas do radar, mas não acabou com elas. “Uma das vantagens que tínhamos quando esses grupos marginais estavam disponíveis e comunicavam abertamente através do Facebook, Twitter e Parler, é que era uma forma de código aberto para acompanhar o fluxo do interesse pelos protestos”, comentou o sargento Nick Street, relações públicas da brigada de trânsito que fornece segurança ao Capitólio estadual do Utah.»
    O artigo completo pode ser lido aqui.

    Ou seja, as autoridades não sabem se é melhor silenciar ou deixar falar para saber o que se diz. E se agora se referem à extrema-direita e aos fascistas, não pensam de forma diferente no que diz respeito à extrema-esquerda. A extrema-esquerda devia aprender com isto, mas como não aprende nunca com nada…

  3. Quando alguém para de procurar o Satori, de procurar iluminações, é porque chegou ao fim da procura: não existe Satori.
    E não existe inferno, também.
    Então, digamos que o Satori nada mais é do que a percepção de que não existe Satori.
    ALLEN GINSBERG

  4. Achei curioso o título, na minha experiência no movimento sindical quase todas as vezes que propus algum debate sobre segurança digital causei estranhamento, ou fui ignorado, ou fui desacreditado. Tb (ao menos em SP) são bastante raras as organizações q atuam no ambiente de trabalho de forma suficientemente séria a ponto de terem o q temer por suas atividades sindicais.

  5. Basicamente a esquerda usa whatsapp, a extrema esquerda usa Telegram ou Signal, ambos serviços centralizados sob poder de corporações, ao invés de plataformas descentralizadas aonde é possível às organizações terem domínio. Mas como se diz no popular: Isso dá Likes?

    O Crimenthinc foi uma das vítimas recentes, ao serem banidos do Facebook/Twitter,numa paulada das corporações contra os “extremismos”. “A lição já sabemos de cor, só nos resta aprender” já dizia a canção do Beto Guedes.

  6. Estamos deixando espaçar o principal, a extrema direita se move feito enxame de abelha quando o tema é a luta de classes, a comunicação é apenas um dos meios do terreno da guerra de classes,por isso que ela se movimenta para onde for necessário. Se as plataformas comerciais censuram, eles mudam para Parle, Telegram é a bola da vez, ou outra. Ou seja, a Comunicação é um componente da Luta de Classes da extrema direita,e ao contrário da esquerda -presa em si própria inércia-seus partidários não se prendem a detalhes tecnológicos e comodidades. A extrema direita é eficiente,não sem razão vem dando o tom das tais narrativas mundo afora.

  7. claramente existem 2 lados desta questão. Um deles é a segurança dos e das militantes. O outro é a difusão de informação. As redes socias oferecem uma armadilha para ambos lados da questão. Primeiro porque seduz as pessoas a acreditarem que estão em um ambiente neutro, “democrático”. Segundo porque estimula a produção de bolhas informativas e o narcisismo. O resultado desta armadilha é que se termina girando em falso, em uma prática inofensiva e de pouco alcance. Basta ver que o caldo bolsonarista não foi cultivado no Facebook, mas sim no whatsapp. Isto é, em um sistema de comunicação onde não se põe em jogo a imagem de si mesmo, e que está mais baseado nos vínculos pessoais já existentes do que no público espectador de figuras intangíveis.

  8. O que vocês consideram o “ponto zero” numa navegação segura, que não deixa dados sensíveis/particulares pelo caminho?

    É possível que isso seja popularizado? Ou o conhecimento técnico exigido afasta o usuário comum de uma navegação segura?

    É interessante que isso seja popularizado? Ou só é possível pensar em segurança para grupos pequenos?

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