Por Letícia
O relato abaixo está circulando em grupos de WhatsApp e se insere no contexto do movimento grevista contra a privatização da escola pública no Paraná.
Meu nome é Letícia e trabalhei como professora de matemática de fevereiro a julho de 2023 no colégio estadual Anita Canet, pela escola Parceira. Eu já dava aula nessa escola antes como PSS, e quando entrou o projeto achei que seria interessante continuar, passei por todos os processos do contrato, prova, entrevista e tudo mais.
Minha primeira decepção foi quando recebi meu primeiro pagamento, pois a promessa é que o salário seria o mesmo, realmente o valor da hora aula é o mesmo, mas a quantidade de hora atividade é reduzida e isso dá uma diferença no valor final, fazendo com que como PSS meu salário fosse mais alto além de ter mais tempo pra planejar as aulas.
A cobrança é bem maior, a maioria dos meus novos colegas ja eram do particular e já estavam acostumados, não questionavam nada, e muitos estão lá até hoje e gostam. Talvez eu também estivesse se não tivesse sido DEMITIDA.
O porquê eu fui demitida até hoje não sei, pois isso não ficou claro, mas olhando para outros colegas que também foram dispensados desconfio que foi por conta de apresentar “muitos” atestados. Eu estava passando por um momento difícil na minha vida particular, cheguei a ter uma crise de pânico durante uma aula, e fui tratada muito mal, como se fosse minha culpa e eu tivesse fingindo por não querer trabalhar, logo depois descobri que estava grávida, e um dia tive um sangramento e tive que sair correndo, isso foi na último dia antes das férias de julho, durante as férias tive um aborto espontâneo, e no retorno as aulas, sem que ninguém perguntasse oque aconteceu comigo eu simplesmente fui demitida. Então além de ter que lidar com toda a dor de perder meu bebê, também tive que lidar com a dor de ser descartada, fazendo com que eu duvidasse da minha capacidade profissional, e isso ainda dói, eu me sinto injustiçada.
Ao longo dos seis meses que trabalhei lá e conversando com alguns ex colegas percebi algumas coisas: a uma grande rotatividade de funcionários, muitas demissões, pedidos de remoção dos antigos QPM, mais cobrança e menos tempo para produção, falta de comunicação, entre outros.
Claro que também tiveram pontos positivos, não posso negar, os alunos ganharam uniformes novos, a escola foi pintada, está mais bonita, a cantina tem nutricionista, tem acadêmicos para substituir os professores que faltam e assim os alunos não ficarem de aula vaga. Mas tudo isso está sendo pago para ser feito, nada é de graça, a escola parceira recebe um valor muito mais alto por aluno do que as escolas estaduais no geral, e esse dinheiro é dinheiro público, não é a empresa que deu tudo isso porque ela se preocupa com os alunos, ela tem lucro em cima disso.
O colégio Anita Canet podia não ser uma escola referência em São José dos Pinhais, mas eu cresci naquela escola, estudei lá, minha mãe trabalhava lá, era uma família. Se hoje sou professora é graças a muitos dos mestres que tive lá, se eu questiono e luto por uma educação melhor é porque tive professores que me ensinaram a pensar além de decorar fórmulas e datas. E me dói ver esses professores saindo de lá, pedindo remoção por não aguentarem a pressão, pois uma escola que já foi uma família se tornou uma empresa, ondem eles fingem que se importam com você mas te descartam na primeira oportunidade, pois empresas querem lucro, e pessoas se tornam apenas números. É esse o futuro da nossa educação? Números e mais números? O futuro depende do hoje, depende da educação, e se permitirmos que eles dominem a educação as esperança de um futuro mais humano reduz consideravelmente, precisamos lutar por uma educação de qualidade de verdade, é não por uma que apenas pareça ser boa.
Se o governo quer realmente melhorar a educação, então ele mesmo pode contratar e capacitar profissionais para isso, pois como teremos uma educação de qualidade se não for investido em profissionais de qualidade? A escola precisa ser um lugar seguro para os alunos e para os professores e funcionários também, com cursos de capacitação, contratação de permanente de funcionários e não com um entra e sai de funcionários. A privatização não é a melhor saída, é apenas uma forma bem cara de gastar o nosso dinheiro, dinheiro público, para dar lucro a empresas.
#Diga não a privatização!
#Vamos a luta!
#Greve já!