Comunista tártaro fundamenta a necessidade de integrar de forma mais ativa o Oriente ao processo revolucionário internacional. Por Mirsaid Khaidargalievich Sultan-Galiev
I
A revolução social na Rússia é apenas o início, um dos estágios da revolução social internacional pelo mundo. Cedo ou tarde, deve transformar-se numa forma de luta revolucionária, num combate desesperado e decisivo entre dois inimigos irreconciliáveis, duas forças opostas uma à outra – o proletariado internacional e o imperialismo internacional. As fronteiras e territórios da guerra civil que toma hoje lugar em meio ao antigo império russo devem expandir-se e aprofundar-se tanto em seu conteúdo interno quanto em suas manifestações externas. Gradualmente, com o desenvolvimento da revolução, nesta guerra, que será talvez a última chacina humana no globo, nações e países inteiros serão arrastados contra sua vontade. Isto é inevitável. O velho mundo é muito antigo; ele grunhe e cai, pois está amarrotado e roto. O planeta inteiro, todos os seus átomos anseiam pela sua renovação e exigem-na, exigem serem rearranjados de forma completamente nova. E não apenas para os indivídos particulares da humanidade, mas também para nações e Estados inteiros, como espécies históricas e culturais, chegou a hora decisiva em que cada qual deve escolher seu destino e decidir irrevogavelmente que lado da barricada escolher. Mesmo que não o queiram, devem tomar parte e, conscientemente ou não, tornar-se vermelhos ou brancos.
Vê-se na prática que as coisas se dão deste modo. Ainda não havia ocorrido a revolução de Outubro, mas o trabalho e o capital na Rússia, o proletariado e a burguesia, enquanto duas forças hostis, começaram a se diferenciar, a autodeterminar-se e prepararem-se para a batalha decisiva entre si.
A revolução de Outubro foi apenas o momento do conflito entre estas forças na Rússia, quando a burguesia russa, derrotada em casa, em sua terra natal, foi forçada a transferir a concentração do resto de suas forças para onde conseguiria, por um período relativamente curto, uma existência mais ou menos “livre”: as fronteiras da Rússia e os países da Entente.
Mas a partir daquele momento a luta contra a evolução e a tendência de desenvolvimento de transformação numa revolução mundial tomou um caráter internacional. Na marcha contra o proletariado e o campesinato da Rússia vitoriosos contra a burguesia, não apenas a burguesia russa, mas também partes individuais da burguesia internacional tomaram parte, primeiro desunidas, e depois unificadas e centralizadas; sua força organizativa, onde todas as forças contrarrevolucionárias de todo o globo se encontram, é a Liga das Nações[1]. Ela se transformou numa internacional negra[2], unificando em torno de si tudo aquilo que, de um modo ou outro, pode dificultar ou servir como barreira ao desenvolvimento da revolução.
Estes são os pressupostos das condições gerais do desenvolvimento da revolução social internacional no presente. É somente ao prosseguir-se a partir deles que se pode antever as formas que podem tomar seu desenvolvimento futuro.
Um dos problemas que nossa revolução nos coloca no presente, de forma prática, é a questão oriental. Devemos resolvê-la de imediato. Esta questão, nas condições da realidade moderna e da situação política internacional, não é nem mais, nem menos que uma das fases do desenvolvimento natural da revolução social mundial. Esta é sua inevitabilidade e iminência. Se mesmo nós não quisermos reconhecê-la e a ignorarmos, ela ainda nos afrontaria em todas as suas complicações e complexidades internas e externas. Estaríamos equivocados mesmo se nos confinássemos a uma solução superficial para o problema. Ela precisa de um estudo compreensivo e extremamente cuidadoso, não apenas no nível socioeconômico, mas também no das relações políticas internacionais.
Devemos considerar e predeterminar todas as formas específicas a que o desenvolvimento do Oriente pode levar no curso geral da diferenciação internacional social e de classe neste caso, e só então determinar de uma vez por todas nossa atitude frente a ele com todas as consequências daí decorrentes.
Por mais que nos pareça que o curso geral da política internacional que adotamos na revolução social esteja completamente correto e não precise de correções, ainda assim se faz necessário concluir que a questão oriental precisa de ajustes sérios. É triste, mas temos de admitir que até o momento todas as medidas que tomamos para estabelecer a relação correta entre a Rússia soviética e o Oriente foram, até recentemente, casuais e paliativas. Nesta área, não houve qualquer conduta firme e notável resultante de uma política planejada e confiantemente determinada.
No pior dos casos, tratou-se um reflexo e reconhecimento de nossa própria impotência, como no caso da retirada das tropas russas da Pérsia[3], e no melhor dos casos uma expressão de simpatia e uma promessa de apoio às aspirações revolucionárias do Oriente, como se fez depois da rebelião afegã contra os ingleses[4] – mas nada além disto. Um caráter mais ou menos definido começará a emergir de nossas ações a este respeito apenas a partir do momento em que forem esclarecidas as falhas da revolução social no Ocidente, quando o próprio curso dos acontecimentos (a derrota dos espartaquistas na Alemanha[5], o fracasso de uma greve geral de protesto contra a intervenção nos assuntos russos e a queda da República Soviética Húngara[6]) nos leve, finalmente, à verdade simples de que sem a participação do Oriente é impossível realizar uma revolução social internacional. Mas mesmo agora tais medidas ainda não estão plenamente estabelecidas, como lhes exigem as leis do desenvolvimento adequado da revolução social.
A tarefa deste artigo é uma análise mais ou menos completa da questão.
(Publicado originalmente em Zhizn Natsionálnostei, 38 (46), 1919.)
II
O sistema soviético, como expressão do comunismo, é a antítese do Estado burguês-capitalista. Estes dois sistemas não podem coexistir pacificamente lado a lado. Podem tolerar-se apenas temporariamente, até que o lado que haja obtido a preponderância de formas, por menor que seja, atacará inevitavelmente o mais fraco.
Por força da lei básica do desenvolvimento da revolução socialista, foi necessário que a Revolução Russa desde seus primeiros dias se desenvolvesse numa revolução mundial; de outro modo, os sovietes na Rússia teriam tornado-se um pequeno oásis no mar agitado do imperialismo, arriscando a obliteração a cada minuto pela tromba d’água da bacanal imperialista mundial.
Os líderes da Revolução de Outubro entenderam tal situação perfeitamente bem e tentaram canalizá-la na direção da corrente internacional. E não poderia ter sido de outro modo, ou a revolução socialista na Rússia teria perdido todo seu significado interior.
Mas de um ponto de vista tático este processo de desenvolvimento da revolução foi direcionado incorretamente. Parece correto em algumas de suas manifestações externas (o movimento espartaquista na Alemanha, a Revolução Húngara, e por aí vai), mas em sua totalidade tem um caráter unilateral. Este unilateralismo consiste no fato de que toda a atenção dos líderes foi voltada para o Ocidente. A tarefa de tornar a Revolução de Outubro numa revolução socialista internacional foi compreendida como a transmissão da energia mecânica a Revolução Russa para o Ocidente, quer dizer, para a parte do mundo onde a contradição dos interesses de classe do proletariado e da burguesia aparece de modo mais agudo e aberto e onde, por tal razão, parecia existir uma base relativamente sólida para o sucesso da revolução de classe.
Devido à ignorância do Oriente e do medo que inspirou, a ideia da participação do Oriente na revolução internacional foi sistematicamente rejeitada.
É verdade que os Estados europeus ocidentais, inclusive sua aliada, a América, parecem ser os países onde todas as forças materiais e “morais” do imperialismo internacional estão concentradas, e tudo indicava que seus territórios estão destinados a tornarem-se o campo de batalha principal na guerra contra o imperialismo. Mas de modo algum podemos dizer com plena confiança que é suficiente fortalecer o proletariado ocidental para derrubar a burguesia ocidental. Esta burguesia é internacional e mundial, e sua derrubada demanda uma concentração de toda a vontade revolucionária e de toda a energia revolucionária do proletariado internacional como um todo, incluindo o proletariado do Oriente.
Ao atacar o imperialismo internacional apenas com o proletariado da Europa ocidental, deixamos total liberdade de ação e manobra o Oriente. Enquanto o imperialismo internacional, representado pela Entente, dominar o Oriente, onde é senhor absoluto de toda a riqueza natural, então por mais tempo terá garantido resultados exitosos em todos os seus conflitos no campo econômico com as massas trabalhadores de seus países de origem, pois poderá sempre “calar-lhes a boca” ao satisfazer suas demandas econômicas.
Nossas esperanças desesperadas de apoio revolucionário do Ocidente no decurso dos últimos dois anos da revolução na Rússia confirmam eloquentemente esta tese.
Mas mesmo se o trabalhador europeu ocidental consiga a vitória sobre sua burguesia, ele ainda colidiria inevitavelmente com o Oriente, porque como último recurso a burguesia europeia, seguindo o exemplo de sua amiga em apuros, a burguesia russa, concentraria todas as suas forças em seus “distritos remotos”, e primeiro que tudo no Oriente. Não hesitaria, no decurso da supressão da revolução socialista na Europa ocidental, em utilizar o ancestral ódio nacional de classe do Oriente contra o Ocidente, sempre vivo no peito do Oriente no que diz respeito à Europa ocidental ser a portadora do jugo imperialista, e lançaria uma campanha de bloqueios contra a Europa.
(Publicado originalmente em Zhizn Natsionálnostei, 39 (47), 1919.)
III
Ao examinar-se o Oriente do ponto de vista socioeconômico, vê-se que quase todo ele é objeto de exploração pelo capital europeu ocidental. É a principal fonte de material para a indústria europeia, e sob este ponto de vista constitui-se num material revolucionário altamente inflamável.
Se fosse possível computar o grau de exploração do Oriente pelo capital ocidental, e por meio desta sua participação indireta na emergência do poder da burguesia europeia e americala que o explorou e continua a explorar, então veríamos que a parte do leão da riqueza material e espiritual dos “brancos” foi roubada do Oriente, e construída às expensas do sangue e suor de centenas de milhões das massas laboriosas de “nativos” de todas as cores e raças.
Foi necessário que dezenas de milhões de aborígenes da América e da África perecessem e que a rica cultura dos incas fosse completamente obliterada da face da Terra para que pudesse ser formada a América contemporânea, a “amante da liberdade” com sua “cultura cosmopolitana” de “progresso e tecnologia”. Os orgulhosos arranha-céus de Chicago, Nova Iorque e outras cidades foram construídos sobre os ossos dos “peles-vermelhas” e dos negros torturados pelos desumanos donos de plantagens, e sobre as ruínas fumegantes das cidades destruídas dos incas.
Cristóvão Colombo! Como este nome fala aos corações dos imperialistas europeus. Foi ele quem “abriu” o caminho para os saqueadores europeus da América, Inglaterra, França, Espanha, Itália e Alemanha; todos participaram igualmente no saque, na destruição e devastação da América “nativa”, erigindo às suas custas suas cidades capitalistas e sua cultura burguesa. As invasões da Europa por Tamerlão, Gengis Cã e outros príncipes mongóis, em toda a crueldade de sua força devastadora, empalidecem ante o que os europeus fizeram nesta América por eles descoberta.
As teses expressas no começo deste artigo são chocantemente confirmada por todo o desenvolvimento subsequente do imperialismo europeu ocidental quando, depois de saqueada a América “nativa” e tendo-se saciado com ela, voltou sua atenção para o Oriente, tendo a Índia como seu objetivo principal, que, quase desde os primeiros dias da aparição do imperialismo europeu, não cessou de suscitar nele um sentimento de cobiça.
Toda a história das cruzadas e a longa série de guerras imperialistas burguesas posteriores do Oriente representam uma política meticulosamente calculada de escravização econômica do Oriente pelos feudalistas europeus ocidentais e seus descendentes, e esta política foi finalmente coroada com sucesso quase total.
Se se examinasse as relações entre os países europeus ocidentais e o Oriente durante a última fase, isto é, no começo da guerra mundial imperialista, ver-se-ia que o Oriente estava se espremendo e contorcendo-se convulsivamente nas garras do capital internacional.
Toda a Ásia e a África foram divididas pela Europa em “esferas de influência”, com aceitação formal e fictícia de “independência” de alguns Estados mais proeminentes como a China, a Pérsia e a Turquia.
A grande guerra imperialista foi o último estágio desta política, o estágio onde o imperialismo internacional, pressentindo sua morte iminente, declarou guerra contra si próprio.
Hoje a vitória da Entente sobre a Alemanha proporcionou uma solução temporária para a Questão Oriental – o domínio da Entente imposto sobre o Oriente.
Já hoje, ainda que a situação não esteja completamente clara, os interesses contraditórios no Oriente dos integrantes básicos da “Santa Aliança” começam a tornar-se visíveis, e cedo ou tarde um confronto sério deverá ocorrer entre os poderosos Estados imperialistas, todos em competição pelo primeiro lugar na pirática “Liga das Nações”.
Não se deve nunca esquecer que, se de um lado o Oriente como um todo está completamente escravizado pelo Ocidente, de outro lado sua própria burguesia nacional aplica uma não menos pesada pressão “interna” sobre as massas laboriosas do Oriente.
Não devemos nem por um minuto esquecer o fato de que o desenvolvimento da revolução socialista internacional no Oriente não deve de forma alguma limitar-se apenas à derrubada do poder do imperialismo ocidental, mas deve ir além. Depois desta primeira etapa, uma segunda deve ser alcançada. Esta segunda etapa é a complexa questão da derrubada da burguesia clerical-feudal oriental, que finge ser liberal, mas é na prática brutalmente despótica e capaz de, em nome de seus próprios interesses egoístas, mudar sua postura frente a seus antigos adversários estrangeiros.
Deve-se sempre lembrar de uma coisa: o Oriente como um todo é a principal fonte de nutrição do capitalismo internacional. No evento de uma guerra civil socialista mundial, este é um fator extremamente favorável para nós e extremamente desfavorável para os imperialistas internacionais. Privados do Oriente, e tendo suas ligações com a Índia, Afeganistão, Pérsia e todas as suas outras colônias africanas e asiáticas cortadas, o imperialismo europeu ocidental murchará e morrerá uma morte natural.
Mas ao mesmo tempo o Oriente é o berço do despotismo, e não estamos nem um pouco a salvo da possibilidade de que, após a derrubada do imperialismo europeu ocidental, emirja um imperialismo oriental que, por enquanto, está sob a pesada pressão de seu colega europeu. Não há garantia contra a possibilidade de que os senhores feudais da China, Índia, Pérsia ou Turquia, tendo-se libertado com nossa ajuda, não se unam com o Japão imperialista e mesmo com algum outro imperialismo europeu, e não organize uma campanha contra os “libertadores” para salvar-se por tais meios do contágio do “bolchevismo”.
(Publicado originalmente em Zhizn Natsionálnostei, 42(50), 1919.)
Notas
[1] [Nota do texto original] A Liga das Nações foi uma organização intergovernamental internacional que operou entre a primeira e a segunda guerras mundiais. Originou-se em 1919 e foi sediada em Genebra. Seus fundadores foram os estados que participaram da guerra ao lado da Entente ou que uniram-se a ela. Nos primeiros anos de sua existência, suas atividades eram obviamente hostis ao Estado soviético. Foi um dos centros da organização da intervenção armada contra o nosso país.
[2] [Nota da tradução] Referência às Centúrias Negras/ (Чёрная сотня / Chornaya sotnya), um movimento ultranacionalista russo surgido no início do século XIX, fervoroso defensor da Casa dos Romanov e oposto a qualquer perda de poder autocrático pelo monarca reinante. As Centúrias Negras também foram conhecidas por suas doutrinas russocêntricas extremistas, pela xenofobia, pelo antisemitismo e pelo incitamento a pogroms. Seu nome é traduzido comumente como “Cem Negros”, mas, em primeiro lugar, a palavra russa para “cem” (o número) é сто / sto, e em segundo lugar a palavra russa сотня / sotnya tanto pode referir-se à “centena” quanto à “unidade militar composta por cem soldados” – ou seja, uma referência evidente à centúria romana.
[3] [Nota da tradução] Referência à cessação de hostilidades entre a Rússia soviética e a Pérsia, firmada em definitivo no Tratado de Amizade Russo-Persa de 26 de fevereiro de 1921. De acordo com os termos do tratado, eram anulados todos os acordos prévios havidos entre os signatários, incluindo o então quase centenário Tratado de Torkamanchay que pôs fim à Guerra Russo-Persa de 1826-1828 e concedeu ao Império Russo vários territórios no Cáucaso (incluindo a Geórgia, o Azerbaidjão e a Armênia); além disto, persas e soviéticos concederam-se direitos recíprocos de navegação no mar Cáspio. O propósito original deste tratado foi a prevenção do uso do território persa pelas forças contrarrevolucionárias brancas como base para ataques à Rússia soviética, como vinha ocorrendo desde 1918; outro propósito foi apaziguar o governo fortemente anticomunista e antissoviético instaurado pelo golpe militar de fevereiro de 1921 na Pérsia. Seu resultado mais imediato, entretanto, foi a cessação do apoio russo ao Partido Comunista Persa e à República Socialista de Gilan, uma república soviética estabelecida em território persa em junho de 1920 com apoio militar russo; a assinatura do Tratado de Amizade Russo-Persa, junto com a assinatura do Acordo Comercial Anglo-Soviético (16 mar. 1921), sinalizaram a mudança de direção dos russos, que retiraram suas tropas e seu apoio político e financeiro a esta nova república socialista pouco depois da assinatura dos tratados. A figura mais notória do movimento Nehzat-e Jangal que sustentara a república, o nacionalista islâmico gilaki Mīrzā Kūchak Khān, morreu congelado em dezembro de 1921 nas montanhas de Talesh, teve seu corpo decapitado por um latifundiário local e sua cabeça foi depois exposta em Rasht, sua cidade natal e capital de Gilan.
[4] [Nota da tradução] Trata-se, muito provavelmente, da Terceira Guerra Anglo-Afegã (maio-ago. 1919). A guerra foi encerrada com a assinatura do Tratado de Rawalpindi em 8 de agosto de 1919, que resultou no reconhecimento da independência do Afeganistão pela Inglaterra e da demarcação da fronteira entre Índia (então dominada pela Inglaterra) e Afeganistão no passo Khaibar.
Traduzido, revisado e anotado pelo Passa Palavra a partir do original em russo disponível nas Obras escolhidas de Mirsaid Sultan-Galiev e da tradução disponível neste link. Este artigo faz parte do esforço coletivo de traduções do centenário da Revolução Russa mobilizado pelo Passa Palavra. Veja aqui a lista de textos e o chamado para participação.
Cuidar dos detalhes é importante. Reparem no que disse Sultan-Galiev:
Consequência a tirar daí: unir-se à burguesia local primeiro para libertar o Oriente, e depois combatê-la. Duas etapas de luta a serem travadas uma após a outra, não duas frentes simultâneas de luta.
Duas etapas sucessivas ou duas frentes simultâneas é um falso dilema. São, efetivamente, dois momentos cogredientes de um mesmo processo: revolução permanente (a de Marx, não a de Trotsky).
Acho que o razonamento de Sultan-Galiev está bem marcado por uma época onde o imperialismo tomava a forma de exércitos de ocupação. O problema é essa adaptação ao contexto atual, e por essa linha vão as organizações de esquerda terceiro-mundistas que agitam consignas como a necessidade de uma “segunda independência” dos países latinoamericanos — para só então dar um combate contra a burguesia local. O debate com muitas organizações de diferentes matizes nacionalistas passa pela caracterização destes nossos territórios hoje em dia: colônia? “semi-colônia”? classe feudal? É que da mesma forma que existem trotskistas hoje ainda defendendo o “impasse econômico” de capitalismo, e daí derivam suas absurdas consignas de transição, também estão aqueles que consideram países como o Brasil como nada mais que uma colônia, economicamente semelhante ao que era há mais de 200 anos atrás.