Por Passa Palavra

O SPGL (Sindicato de Professores da Grande Lisboa) é o maior sindicato de professores do Portugal. Aqui entrevistamos Ana Gaspar, da sua Direcção actual.

Mas desde já queremos aproveitar este ensejo para anunciar uma iniciativa que se enquadra neste assunto. O Passa Palavra organiza, em Lisboa, no próximo dia 18 de Abril (sábado) entre as 15h e as 18h, uma mesa-redonda e debate, aberta ao público, sobre o tema “A luta dos professores e a defesa da Escola Pública”. Nele estarão presentes sete convidados: António Avelãs, presidente do SPGL; Sérgio Niza, do MEM (Movimento da Escola Moderna); Mário Machaqueiro, da APEDE (Associação de Professores e Educadores em Defesa do Ensino); Carmelinda Pereira, da CDEP (Comissão para a Defesa do Ensino Público); Jaime Pinho, do MEP (Movimento pela Escola Pública); Octávio Gonçalves, do PROMOVA (Professores – Movimento de Valorização); e Ilídio Trindade, do MUP (Mobilizar e Unir os Professores). O debate, moderado pela professora universitária Rita Delgado, será gravado e dele extraído um dossiê a publicar no Passa Palavra. Este evento acontecerá no Teatro da Comuna (Praça de Espanha). Passa Palavra

Passa Palavra (PP) – Por que lutam os professores portugueses presentemente, e qual foi a evolução dessa luta nos últimos anos?

Ana Gaspar (AG) – Os professores portugueses lutam pela defesa da escola pública pós-25 de Abril, democrática , construída com tanta vontade de ”mudar de vida”, a vida dos professores e das Escolas, intrínsecamente ligada á d@s menin@s deste país ainda tão desigual. As questões-chave são: o novo ECD [Estatuto da Carreira Docente] que impôs uma avaliação de professores “punitiva “ e não formativa, a divisão economicista da carreira única dos professores em duas carreiras distintas: professor e titular  e, finalmente, a gestão democrática das escolas, ao recusarmos o modelo empresarial de gestão, aliás tão “abalado“ recentemente.

PP – Por que luta o SPGL em particular? O que a distingue a acção dos sindicatos da de outras estruturas, como a APEDE, o MUP, o MEP, o PROMOVA ou a CDEP? Qual é a relação, se é que existe, entre as estruturas sindicais como a FenProf ou os sindicatos regionais, e aquele tipo de movimentos?

AG – O SPGL tem estas bandeiras de combate, sendo o maior sindicato dentro da Fenprof e tendo no seu seio um conjunto de dirigentes que espelham o horizonte político e partidário, vasto e fraterno, da nossa esquerda. Os movimentos nascem, ao que sei de visões legitimamente diversas das sindicais ou como “oposição“ aos sindicatos e com interesses por vezes mais afunilados – por exemplo, a questão dos professores que não passaram a titulares…

A relação Fenprof/movimentos é não institucional. Cada vez que temos uma acção da Plataforma, fazemos um apelo a tod@s, inclusive movimentos. E alguns, a seu pedido, já foram recebidos pela Fenprof. Na área do SPGL já tem havido reuniões em escolas, com a presença de movimentos.

PP – Que factores foram, a teu ver, decisivos para a espectacular mobilização que já por duas vezes os professores conseguiram para as suas manifestações (em 2007 e 2008)?

AG – Esta é uma luta que data de há dois anos, com a saída de um novo ECD, e que nesse ano culminou com uma greve aos exames. Com as medidas postas em prática, os professores sentiram-se desrespeitados, acossados por este governo em que muitos votaram e reviram-se nos apelos que a Plataforma fez no sentido da realização das manifs. Quero salientar o enorme esforço de mobilização feito pelos nossos dirigentes sindicais, em inúmeras reuniões sindicais, de manhã à noite. A Plataforma, convocada pela Fenprof desde o início, foi também um factor de inclusão.

PP – Nesta luta, os professores têm tido apoio concreto de outras classes profissionais – da educação ou não -, dos estudantes e dos pais de alunos? Ou consideras que essa luta se tem limitado, ou que alguém a procura limitar, aos interesses restritos dos professores?

AG – Penso que ainda estamos no início e sou d@s que se batem pelo alargamento a tod@s que estiverem com esta luta decisiva. No entanto tem havido apoio dos estudantes. A confederação de pais representada pelo sr. Albino [CONFAP] tem-nos sido adversa. Mas a questão da Educação é mais lata, creio, e todos os apoios são necessários. Sem exclusão !

PP – Que saída – profissional e/ou política – pensas que pode haver para esta confrontação com o governo? Como avalias as possibilidades actuais de os professores sairem vencedores?

AG – Esta é uma maratona: não é uma luta de resultados e visibilidade imediatos. Fazemos parte de um movimento mundial pela defesa dos direitos básicos, rejeitando o paradigma das opções neoliberais. Aquele mundo nâo nos serve! Em Portugal, também a prática de cidadania se vai instalando. E o direito à revolta…

PP – Que outros aspectos desta luta, não referidos acima, entendes realçar?

AG – A minha “dama “ é esta: a nossa escola pública pós-25 de Abril tem uma tradição, já feita ”ciência de educação”. Não copiaremos ventos que nada têm a ver connosco. E não voltaremos à escola fascista, discriminatória e bacoca [boba].

PP – Realizou-se, em 14 de Março, em Leiria, o Encontro Nacional dos Professores em Luta. O SPGL esteve presente? Se sim, que perspectivas práticas de lá saíram para a vossa luta?

AG – O SPGL não foi convidado para o Encontro de 14 de Março e as notícias que temos são dispersas. Aparentemente nada de novo surgiu. A nós, movimento sindical, cabe-nos continuar a luta pela defesa da Escola Pública. E, como diz o Paulo Sucena, continuarmos a ser “eco e voz “. Mas, na sequência desse Encontro, os cinco movimentos acabam que pedir para serem recebidos pela Fenprof, o que irá acontecer muito em breve.

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