A «solução final» veio na continuação de medidas que haviam sido anunciadas e promovidas por alguns nomes célebres do eugenismo norte-americano. Por João Bernardo
Esta série de dois artigos desenvolve num outro contexto o terceiro artigo da série «Os náufragos», publicado no Passa Palavra em Setembro de 2009.
Apesar de terem sido, juntamente com os eslavos, as grandes vítimas do nazismo, os judeus não foram bem tratados pelos Aliados. Os anúncios de propaganda de guerra publicados nos Estados Unidos pelas revistas de maior circulação nunca apresentaram soldados norte-americanos com traços fisionómicos que os pudessem identificar como judeus ou oriundos da Europa central, e além de ser muito raro que soldados judeus figurassem em filmes de guerra produzidos em Hollywood, eles eram personificados por actores com feições de tipo anglo-saxónico [1]. Aliás, a indústria cinematográfica de Hollywood evitou referir a questão da perseguição aos judeus [2], assim como o governo manteve secreta a maior parte da informação que mostrava a conversão da política anti-semita de Hitler e Himmler numa chacina sistemática.
Referindo-se ao ocorrido na Polónia durante o último trimestre de 1939, um historiador erudito considerou que «nada havia de secreto relativamente ao terror alemão no Leste. Os pormenores da maior parte das atrocidades eram transmitidos clandestinamente para o Ocidente passados poucos dias. Os diplomatas neutrais em Berlim estavam bem informados. Cartazes afixados nos muros por toda a Polónia anunciavam ao público as execuções» [3]. Sendo assim, mais curiosa ainda se torna a relutância na difusão de informações acerca da chacina dos judeus. Talvez as primeiras notícias do genocídio do povo judaico se tivessem devido ao genial romancista Thomas Mann, numa série de palestras que proferiu através da BBC em Dezembro de 1941 e Janeiro de 1942 [4], embora já em Outubro de 1941 a imprensa aliada recebesse descrições de morticínios efectuados na Ucrânia sob a ocupação nazi [5]. Em Janeiro de 1942 o governo soviético tornou público um relatório detalhado acerca das acções praticadas pelos Einsatzgruppen, os Comandos de Acção Especiais, organizados pelos SS nos territórios conquistados de Leste, e a partir de então as informações sucederam-se, umas mais aterradoras do que as outras [6]. Uma rede clandestina de recolha de testemunhos organizada pelo historiador judeu Emmanuel Ringelblum, cativo no ghetto de Varsóvia, conseguiu transmitir aos governantes polacos refugiados em Londres documentação acerca de um dos campos de extermínio, dando ocasião a que a BBC anunciasse em Junho de 1942 que os nazis haviam inaugurado a política de «solução final» e contribuindo decerto para que o governo polaco no exílio pudesse apresentar em Agosto ao governo dos Estados Unidos um relatório sobre o uso de câmaras de gás e de fornos crematórios [7]. Além disso, em Julho os serviços secretos aliados na Suíça souberam por uma fonte germânica fidedigna que Hitler ordenara a eliminação dos judeus [8]. Estas informações foram confirmadas pouco depois por documentos emanados do Congresso Judaico Mundial e no final do ano por notícias transmitidas por funcionários da Agência Judaica da Palestina [9]. Entretanto, em Novembro, chegara a Londres um membro da resistência polaca, Jan Karski, que, com insuperável audácia, havia penetrado num dos campos de extermínio e pôde descrever pessoalmente ao ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Anthony Eden, e ao próprio presidente Roosevelt os métodos empregues pelos nazis [10]. E o início, em Julho de 1943, na União Soviética, do primeiro julgamento por crimes de guerra cometidos pelo Terceiro Reich nos territórios de Leste contribuiu para divulgar as atrocidades, tanto mais que estiveram presentes vários jornalistas ocidentais [11]. As notícias foram-se acumulando e permitiram uma avaliação a tal ponto exacta da situação que em Junho de 1944 uma revista de Nova Iorque não andou longe da verdade ao calcular entre quatro e cinco milhões o número de judeus vítimas do genocídio [12].
A primeira reacção do Departamento de Estado norte-americano foi atrasar e dificultar tanto quanto possível a difusão dessas informações e mais tarde um subsecretário de Estado, ou alguém por ele, chegou a proibir que os canais diplomáticos veiculassem outras notícias do mesmo género [13]. Por seu lado, as autoridades britânicas haviam silenciado a questão a um nível mais profundo. Como os serviços de espionagem britânicos conseguiam decifrar a maior parte das mensagens, mesmo as ultra-secretas, trocadas entre os dirigentes políticos, militares e policiais do Reich, a directiva de extermínio nos territórios ocupados do Leste era perfeitamente conhecida pelo governo de Londres [14]. E tendo a espionagem britânica decifrado desde Fevereiro de 1941 o código secreto dos serviços ferroviários do Reich, o governo sabia que massas sucessivas de judeus estavam a ser enviadas para um pequeno número de campos de detenção que não tinham lugar para os acolher a todos, mas apesar disto a informação não foi divulgada [15]. Por aqui se avalia o cinismo de Churchill ao escrever em Novembro de 1941, num jornal judaico de Londres, que «ninguém tem sofrido mais cruelmente do que o Judeu a indescritível desumanidade infligida nos corpos e nos espíritos por Hitler e pelo seu odioso regime» [16]. Só em Dezembro de 1942 os três países aliados procederam a uma declaração conjunta acerca do extermínio dos judeus, calculando em muitas centenas de milhares o número de vítimas [17], e de então em diante tanto o governo dos Estados Unidos como o do Reino Unido se esforçaram por subestimar o problema e adiar qualquer tipo de solução, recusando-se antes de mais a dar fundos e a fornecer meios de transporte para salvar os judeus [18]. Em Abril de 1943 a conferência anglo-americana das Bermudas, convocada especialmente para discutir as questões suscitadas por este genocídio, absteve-se de propor qualquer iniciativa eficaz [19]. Finalmente, em Janeiro do ano seguinte o governo dos Estados Unidos criou o War Refugee Board, Comissão para os Refugiados de Guerra, mas perante a dimensão da tarefa os resultados obtidos foram insignificantes [20]. «Na realidade», afirmou uma equipa de eruditos pouco dados ao exagero, «tanto os britânicos como os americanos, depois de terem organizado a conferência das Bermudas […], opuseram-se a quaisquer planos de salvamento maciço dos judeus da Europa ocupada» [21].
Mas haverá razão para espantos? Até ao começo da guerra, em 1939, o movimento eugenista germânico foi uma força determinante na Federação Internacional das Organizações Eugenistas [22], pelo que as suas posições eram mundialmente conhecidas. Durante a década de 1920 as publicações eugenistas norte-americanas, em especial o Eugenical News e o Journal of Heredity editado pela American Genetic Association, Associação Americana de Genética, seguiram com interesse as pesquisas dos cientistas raciais alemães e reproduziram regularmente artigos seus, manifestando sem rodeios orientações anti-semitas [23]. Em 1932, depois de ter publicado no seu número de Março-Abril um artigo intitulado «Hitler e o Orgulho Racial», onde se ficara a saber que «os arianos são os grandes fundadores de civilizações […] A mistura do sangue, a poluição da raça […] tem sido a única razão que levou a perecerem velhas civilizações», o Eugenical News inseriu em Setembro-Outubro um novo louvor a Hitler. «O movimento de Hitler dar-lhe-á mais tarde ou mais cedo o pleno poder [e] trará ao movimento nórdico o reconhecimento geral e a promoção pelo Estado», afirmou este artigo. «Quando eles [os nacionais-socialistas] assumirem o controlo do governo na Alemanha, devem esperar-se a curto prazo novas leis de higiene racial bem como uma cultura nórdica consciente e uma “política externa” nórdica» [24]. Em 1933 o Journal of the American Medical Association relatava, sem os pôr em causa, os temas raciais que obcecavam os nazis [25]. Dois anos depois alguns eugenistas norte-americanos e especialistas de genética procuraram levar o movimento eugenista a afastar-se das questões raciais, mas a tentativa permaneceu sem efeito, embora a partir de 1936 o Journal of the American Medical Association se tivesse distanciado das medidas tomadas pelos nazis [26]. Entretanto, no número de Março-Abril de 1936 o Eugenical News louvou «a grande importância da política racial alemã», num artigo assinado por Clarence Campbell, presidente da Eugenics Research Association, Associação de Pesquisa Eugenista [27]. No mesmo ano, Marie Kopp, uma eugenista norte-americana que havia percorrido o Reich para observar com minúcia a política racial escreveu artigos e proferiu conferências enaltecendo o que vira e assegurando aos seus compatriotas que o anti-semitismo não se devia a quaisquer motivos religiosos — o que decerto o tornaria inaceitável para os bons protestantes anglo-saxónicos — pois os judeus eram definidos não pelas suas práticas religiosas mas pelo seu sangue [28]. No ano seguinte outra autora, Hilda von Hellmer Wullen, considerando a Alemanha «o maior laboratório existente de experiências eugénicas», explicou aos leitores do Journal of Heredity que se tratava de «um esforço concertado» para «alterar as características inatas da população graças a agências mantidas sob controlo social»; e o artigo concluía afirmando que a Alemanha «reconheceu antes de que fosse demasiado tarde (e antes de qualquer outra nação ter dado passos significativos nesta direcção) a importância biológica de melhorar o stock racial pondo em acção todos os meios possíveis ao seu dispor que contribuam para esse importante objectivo» [29].
O aval foi igualmente concedido por Lothrop Stoddard, um dos dirigentes da Eugenics Research Association, que tivera o privilégio de ser recebido no início da guerra pelas principais figuras políticas e científicas do Terceiro Reich. Numa obra publicada em 1940 ele explicou que o racismo de Hitler tinha duas componentes distintas. Uma delas, que seria um «fenómeno passageiro», postulava a existência de diferenças fundamentais entre as raças e considerava a mestiçagem como um mal absoluto. Mais importante seria a outra componente, que dizia respeito à melhoria da raça e correspondia aos objectivos e aos métodos da eugenia. «No interior da Alemanha, a questão judaica é considerada um fenómeno passageiro», anunciou Stoddard ao público norte-americano, «estando já resolvida em princípio e ficando em breve resolvida na prática mediante a eliminação física dos próprios judeus no Terceiro Reich» [30]. E em Abril de 1942, vários meses depois de terem sido divulgados os primeiros relatos do genocídio, o Journal of Heredity publicou um artigo de um especialista norte-americano em genética, Tage U. H. Ellinger, contando a visita efectuada a um grande instituto eugenista de Berlim durante o Inverno de 1939-1940. «O problema em si é bastante simples se se souber que a erradicação deliberada do elemento judaico na Alemanha não se relaciona de modo algum com qualquer perseguição religiosa. Trata-se apenas de um projecto de reprodução selectiva em grande escala, com o objectivo de eliminar daquela nação os caracteres hereditários da raça semita. Se isto é ou não desejável é um assunto que nada tem a ver com a ciência. Trata-se somente de uma questão de orientação política e de preconceito. É um problema semelhante àquele [que] os americanos resolveram a seu próprio contento relativamente à sua população de cor. A história das formas cruéis como a vida foi tornada insuportável para milhões de infelizes judeus alemães pertence exclusivamente ao reino vergonhoso da brutalidade humana. Mas quando se levanta o problema de saber como deve ser prosseguido da maneira mais eficaz o projecto de reprodução selectiva, depois de a sua conveniência ter sido decidida pelos políticos, então a ciência biológica pode prestar ajuda mesmo aos nazis». Ellinger chegou ao ponto de apresentar o genocídio como uma espécie de filantropia. «Aquilo que vi na Alemanha fez-me pensar muitas vezes se por detrás do tratamento infligido aos judeus não estaria a ideia subtil de os desencorajar de procriarem crianças condenadas a uma vida de horrores. Se isto sucedesse, o problema judaico resolver-se-ia por si mesmo numa geração, mas teria sido muitíssimo mais caridoso matar os infelizes de uma só vez». Afinal, os SS foram, segundo os desejos de Ellinger, mais caridosos do que subtis. Parece-me indiscutível que o extermínio dos judeus era conhecido, ao lermos neste artigo: «Tal como as coisas estão na Alemanha nazi, é evidentemente uma questão quase de vida ou de morte ter a etiqueta de ariano ou de judeu» [31].
Referindo-se a Harry Laughlin, a segunda mais importante figura do movimento eugenista norte-americano, uma historiadora escreveu que «as montanhas de materiais que Laughlin coligiu acerca da ciência racial e da “questão judaica” na Alemanha, muitos deles publicados em órgãos conceituados como o New York Times, não deixam dúvida de que os americanos, se o quisessem, podiam ter estado bem informados acerca da política racial nazi» [32]. Perante todos aqueles textos e conhecendo as estreitas relações que uniam os eugenistas norte-americanos aos seus colegas germânicos, vejo a outra luz a indiferença com que certa opinião pública dos Estados Unidos acolheu as notícias sobre o assassinato em massa dos judeus e o afã do governo em dificultar a sua difusão pelos órgãos de informação. Em vez de constituir qualquer novidade, a «solução final» vinha na continuação de medidas que desde há bastante tempo eram anunciadas e promovidas por alguns nomes célebres do eugenismo.
Pode ler aqui a segunda parte deste artigo.
Notas
[1] George H. Roeder Jr., The Censored War. American Visual Experience during World War Two, New Haven e Londres: Yale University Press, 1993, pág. 50.
[2] Angus Calder, The Myth of the Blitz, Londres: Jonathan Cape, 1991, pág. 214; C. R. Koppes, «Hollywood», em I. C. B. Dear e M. R. D. Foot (orgs.), The Oxford Companion to the Second World War, Oxford e Nova Iorque: Oxford University Press, 1995, pág. 543; G. H. Roeder Jr. , op. cit., pág. 127.
[3] Martin Gilbert, The Second World War, vol. I: From the Coming of War to Alamein and Stalingrad, 1939-1942, Londres: The Folio Society, 2011, págs. 46-47.
[4] Howard M. Sachar, A History of Israel. From the Rise of Zionism to our Time, Nova Iorque: Alfred A. Knopf, 1976, pág. 238.
[5] Lenni Brenner, Zionism in the Age of the Dictators, Londres e Canberra: Croom Helm, Westport: Lawrence Hill, 1983, pág. 230.
[6] Id., ibid., pág. 230.
[7] Martin Gilbert, op. cit., vol. I, pág. 392; Emmanuel Ringelblum, Crónica do Ghetto de Varsóvia, ed. org. por Jacob Sloan, Lisboa: Morais, 1964, págs. 317-318; «Ringelblum, Emmanuel», em I. C. B. Dear e M. R. D. Foot (orgs.), op. cit., pág. 949; Howard M. Sachar, op. cit., pág. 238. Acerca das transmissões da BBC ver também Carmen Callil, Má Fé. Uma História Esquecida de Pátria e Família, Colares: Pedra da Lua, 2009, págs. 321, 350 e 364. Segundo Martin Gilbert em op. cit., vol. I, pág. 384, o jornal clandestino do Partido Socialista Polaco publicara estas informações também em Junho.
[8] «Schulte, Eduard», em I. C. B. Dear e M. R. D. Foot (orgs.), op. cit., pág. 982.
[9] Lenni Brenner, op. cit., pág. 231; Martin Gilbert, op. cit., vol. I, pág. 408; Raul Hilberg, The Destruction of the European Jews, Londres: W. H. Allen, 1961, pág. 718; Howard M. Sachar, op. cit., pág. 238.
[10] «Belzec», em I. C. B. Dear e M. R. D. Foot (orgs.), op. cit., pág. 123; «Karski, Jan», em id., ibid., págs. 643-644.
[11] Martin Gilbert, op. cit., vol. II: From Casablanca to Post-War Repercussions, 1943-1945, pág. 518. Acerca de outro julgamento, realizado em Dezembro de 1943, ver id., ibid., vol. II, pág. 560.
[12] I. F. Stone em The Nation, 10 de Junho de 1944, reproduzido em Katrina Vanden Heuvel e Hamilton dos Santos (orgs.), O Perigo da Hora. O Século XX nas Páginas do The Nation, São Paulo: Scritta, 1994, pág. 247. Poucos meses depois, um judeu de Dresden calculou que seis ou sete milhões dos seus correligionários tivessem sido mortos. Ver a entrada de 24 de Outubro de 1944 do diário de Victor Klemperer em Martin Chalmers (org.), To the Bitter End. The Diaries of Victor Klemperer, 1942-1945, Londres: The Folio Society, 2006, pág. 430.
[13] John Morton Blum, V Was for Victory. Politics and American Culture during World War II, Nova Iorque e Londres: Harcourt Brace Jovanovich, 1976, págs. 176, 179; Lenni Brenner, op. cit., pág. 231; Henry L. Feingold, Bearing Witness. How America and Its Jews Responded to the Holocaust, Syracuse: Syracuse University Press, 1995, págs. 81, 173; Raul Hilberg, op. cit., págs. 718-720; Howard M. Sachar, op. cit., pág. 238.
[14] Martin Gilbert, op. cit., vol. I, págs. 250-251, 259, 264-265, 272, 410.
[15] M. R. D. Foot, SOE. An Outline History of the Special Operations Executive, 1940-1946, Londres: The Folio Society, 2008, pág. 231.
[16] A carta de Churchill publicada no Jewish Chronicle de 14 de Novembro de 1941 encontra-se citada em Martin Gilbert, op. cit., vol. I, págs. 297-298, que cita na pág. 434 declarações de Churchill no mesmo sentido num discurso proferido em Londres em 29 de Outubro de 1942.
[17] Martin Gilbert, op. cit., vol. I, págs. 449-450; Raul Hilberg, op. cit., pág. 719.
[18] Bernard Avishai, The Tragedy of Zionism. Revolution and Democracy in the Land of Israel, Nova Iorque: Farrar, Straus and Giroux, 1985, págs. 161-162; Henry L. Feingold, op. cit., pág. 7; Howard M. Sachar, op. cit., págs. 238-239.
[19] «Bermuda Conference», em I. C. B. Dear e M. R. D. Foot (orgs.), op. cit., pág. 128; John Morton Blum, op. cit., pág. 178; Henry L. Feingold, op. cit., pág. 83.
[20] Henry L. Feingold, op. cit., págs. 8, 84; «War Refugee Board», em I. C. B. Dear e M. R. D. Foot (orgs.), op. cit., pág. 1260.
[21] «Palestine», em I. C. B. Dear e M. R. D. Foot (orgs.), op. cit., pág. 864.
[22] Sheila Faith Weiss, The Nazi Symbiosis. Human Genetics and Politics in the Third Reich, Chicago e Londres: The University of Chicago Press, 2010, págs. 50, 56.
[23] Edwin Black, War Against the Weak. Eugenics and America’s Campaign to Create a Master Race, Nova Iorque e Londres: Four Walls Eight Windows, 2003, págs. 281 e segs.
[24] Citados respectivamente em id., ibid., págs. 297 e 298.
[25] Id., ibid., págs. 301-302.
[26] Id., ibid., pág. 313.
[27] Esta passagem do artigo de Clarence Campbell encontra-se citada em id., ibid., pág. 315. Ver igualmente Sheila Faith Weiss, op. cit., pág. 277.
[28] As declarações de Marie Kopp encontram-se resumidas e citadas em Edwin Black, op. cit., pág. 315.
[29] Estas passagens do artigo de Hilda von Hellmer Wullen estão citadas em Sheila Faith Weiss, op. cit., pág. 278.
[30] O texto de Lothrop Stoddard está sintetizado em Stefan Kühl, The Nazi Connection. Eugenics, American Racism, and German National Socialism, Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press, 1994, págs. 61-62. As citações encontram-se em Edwin Black, op. cit., pág. 318 e Stefan Kühl, op.cit., pág. 62.
[31] O artigo de Tage U. H. Ellinger encontra-se citado em Edwin Black, op. cit., págs. 415-416. Ver igualmente Stefan Kühl, op.cit., pág. 60.
[32] Sheila Faith Weiss, op. cit., págs. 281-282.
Sobre essa questão do anti-semitismo, não estará a faltar analisar uma dimensão talvez bem mais importante, a do anti-semitismo como visão do mundo que se pretende anti-hegemónica e mesmo anti-capitalista, que concebe o mundo como manipulado secretamente por uma cabala de judeus através do suposto controlo por estes, dos media, da finança internacional, do movimento comunista, etc? O judeu cosmopolita, estranho e não fiel à nação, introdutor dos males modernos e urbanos numa comunidade nacional tradicional reputada como sã. Parece-me que é esta dimensão que ainda é actual, mesmo em partidos de esquerda e no islamismo político, e sobretudo em várias teorias da conspiração que são cada vez mais populares e que fazem notar a sua presença fora da internet, como por exemplo, na recente ocupação de Wall Street.
Olá,
Lógico que a partir de outra perspectiva – e com outra intenção e temática em vista -, acho interessante ler esse artigo aqui:
“Sale boulot: uma janela sobre o mais colossal trabalho sujo da história (uma visão no laboratório francês do sofrimento social)” – de Paulo Eduardo Arantes.
Eis o resumo desse escrito:
Este artigo é uma contribuição para a genealogia contemporânea do que se convencionou chamar trabalho sujo. Mais especificamente, é um comentário da noção de “trabalho do mal” elaborada por assim dizer a quatro mãos por Christophe Dejours e Joseph Torrente a partir de uma visão histórica do Holocausto, baseada na descoberta da experiência coletiva do “trabalho atroz” como chave explicativa da destruição dos judeus na Europa. Em resumo, a revelação de como o horror do Terceiro Reich deriva da imposição do genocídio como um trabalho de massa realizado por uma legião de colaboradores zelosos. Uma hipótese até então adormecida na melhor historiografia que precisou esperar a intensificação do sofrimento social pelo trabalho sujo do neoliberalismo hoje para enfim despertar e sugerir este curto-circuito explosivo num verdadeiro diagnóstico de época.
Palavras-chave: Christophe Dejours; Joseph Torrente; Trabalho sujo; Trabalho atroz; Zelo; Holocausto.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20702011000100003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
Tanto os filmes quanto os livros de história escolar, ao contrário, mostram os Estados Unidos como salvadores dos judeus, que sem eles teriam sido extintos. Ou seja, a história que chega ao grande público é outra.
Se o quadro colocado pelo autor é exato, o que faz com que os judeus não denunciem com o mesmo fervor as democracias como cúmplices ou mesmo co-autoras do genocídio? Por que o desinteresse dos Estados unidos em ajudar os judeus não é denunciado nos livros de história para a população e nos filmes? Por que os judeus não fazem tal denúncia? Também eles desconhecem a real história?
Obs: temo que o Paulo Arantes tenha mais impacto no país pela quantidade de ministros, prefeitos e secretários que se formaram nos seus grupos de estudo do que pela difusão de sua obra.
Renata,
Não foi por acaso nem por gosto pela ostentação que coloquei todas as fontes neste artigo, como no outro que se seguirá, como se se tratasse um texto académico e não de divulgação. Fi-lo porque sei que a questão é desconhecida do grande público a um tal ponto que deixa muita gente surpreendida. Mas fi-lo também para mostrar que a questão é inteiramente conhecida pela literatura académica, e desde há muito. A obra de Raul Hilberg sobre o genocídio, que é a primeira grande obra académica acerca da questão, e que ainda hoje é um monumento, expôs com toda a clareza a passividade dos governos dos Estados Unidos e do Reino Unido, como os leitores poderão ver no artigo seguinte. Assim, a grande questão é: por que motivo a hitoriografia académica, mesmo conservadora ou francamente de direita, expõe factos que a historiografia de best seller, as revistas e os filmes de shopping center não divulgam, ou distorcem? A guerra fria e o apoio maciço prestado pelos Estados Unidos ao Estado de Israel fez com que os sionistas ocultassem deliberadamente estes aspectos da história. E para entender esse ocultamente é indispensável recordar a diferença — quando não, por vezes, a oposição — entre sionismo e judaísmo, como eu tive já oportunidade de fazer noutro artigo publicado neste site. Mas a explicação não é assim tão simples, porque a mesma diferença entre a análise feita pela historiografia académica e a análise feita para o grande público ocorre relativamente a muitas outras questões, não só para esta.
muita coisa para ler! quero resumo do resumo por favor de preferencia em áudio ou impresso desde já agradeço.