Para aprofundarmos a análise sobre a crise do MST, cabe considerar a relação do Movimento não apenas com o governo, mas com as empresas. Por Passa Palavra

Num artigo publicado há pouco mais de um ano, em 5 de fevereiro de 2012, rasgamos uma parte do véu cobrindo “a teia de interesses profunda e silenciosa que está subjacente à violência das instituições” e mostramos que as classes dominantes dispõem de bases especialmente sólidas quando os governos são ocupados por partidos oriundos da esquerda, porque neste caso lançam ramificações mais ou menos vastas no interior da classe trabalhadora. Analisamos neste contexto as relações do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) com a área governamental. E como política e economia estão intimamente articuladas, quando não são dois nomes para a mesma coisa, indicamos alguns dos elos que ligam o MST não só a instituições financeiras oficiais como igualmente a algumas empresas privadas. Este artigo foi prolongado num breve complemento, publicado poucas semanas depois.

A crise sofrida pelo MST, que cada vez mais lhe compromete quaisquer potencialidades anticapitalistas, agravou-se nos últimos anos, como tem sido analisado em vários artigos publicados neste site, na sequência da Carta de Saída assinada por 51 militantes. Recentemente, a reação da direção nacional do MST e da direção estadual de São Paulo à luta dos assentados do Milton Santos marcou uma nova etapa neste declínio. Ao não participar na ocupação da Secretaria da Presidência da República, em São Paulo, em 10 de dezembro de 2012, e ao censurar publicamente aos assentados a ocupação do Instituto Lula, também em São Paulo, nos dias 23 e 24 de janeiro de 2013, o MST retirou ostensivamente a solidariedade a companheiros em luta por discordar das táticas adotadas, pretendendo, assim, se desvencilhar das consequências negativas que poderiam gerar junto a seus aliados no governo. Para aprofundarmos a análise sobre esta crise do MST, cabe considerar mais detalhadamente a relação do Movimento não apenas com o governo, mas com as empresas. Estará o MST aderindo à lógica mercantil e individualizadora propagada pelo capitalismo, inclusive em suas facetas neoliberais?

Se for este o caso, a mudança de orientação é flagrante. Há algum tempo atrás, o MST identificou como um de seus inimigos não apenas o latifúndio tradicional, mas as companhias transnacionais do agronegócio, indicando como uma de suas tarefas “combater as empresas transnacionais que querem controlar as sementes, a produção e o comércio agrícola brasileiro, como a Monsanto, Syngenta, Cargill, Bunge, ADM, Nestlé, Basf, Bayer, Aracruz, Stora Enso, entre outras. Impedir que continuem explorando nossa natureza, nossa força de trabalho e nosso país” [1], o que o levou a realizar ações de ocupação e destruição de centros de pesquisa de monoculturas, sobretudo no sul e sudeste do Brasil.

Mas vejamos o que entretanto tem sucedido.

1. A experiência falhada da Votorantim Celulose e Papel

O programa Poupança Florestal, iniciado em 2004, parece ter sido a primeira tentativa de parceria entre as empresas de produção de celulose e os assentamentos da reforma agrária. No programa, a Votorantim Celulose e Papel (VCP) produziria eucaliptos em parceria com assentamentos localizados na metade meridional do Rio Grande do Sul, sem que a terra fosse colocada como garantia financeira da parceria, servindo para isso apenas a produção. O banco ABN-AMRO Real foi a instituição financeira que se dispôs a financiar o programa, que contava ainda com o apoio técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), limitava a produção a 30% da área da propriedade e buscava o desenvolvimento de produção agroflorestal em sistemas de agricultura sustentável. A região sul do estado foi o local escolhido pela VCP, à época, para desenvolver um projeto de expansão da produção de eucaliptos e de criação de novo parque industrial.

O primeiro encontro entre a VCP e a direção do MST, representada por Ciro Correa, ocorreu em 2004, sendo intermediador Oded Grajew, um empresário defensor da responsabilidade social das empresas e do bom relacionamento entre as empresas e os movimentos sociais. A resposta oficial do MST foi negativa quanto à aliança institucional com a VCP, mas sem que ocorresse uma oposição do Movimento à participação individual dos assentados [2].

Posteriormente, parte da militância do MST e da Via Campesina destruiu uma grande quantidade das mudas plantadas em 2007, em resposta a uma ameaça do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de retirar os lotes a estas famílias, já que à época fugiam às normatizações de espécies a serem plantadas nos assentamentos. Isso foi corroborado pela coordenação regional do Movimento, pois as terras conquistadas para a reforma agrária deveriam, no seu entender, priorizar a produção de alimentos [3].

Contudo, vamos ver que quatro anos depois verificou-se um novo fruto da aproximação do MST às empresas de celulose.

2. O caso Fibria

Em 8 de março de 2006, duas mil mulheres ligadas à Via Campesina, ao MST e a outras organizações do campo realizaram uma ação numa área da empresa Aracruz Celulose, que abriga um centro de pesquisa sobre o manejo do eucalipto, no município de Barra do Ribeiro, no Rio Grande do Sul [4]. Tal ação pretendia denunciar o alegado impacto do cultivo extensivo de monoculturas que, segundo as organizações envolvidas, destruiria a biodiversidade, deterioraria o solo, secaria os rios e geraria poluição e contaminação através das fábricas de celulose. Para tal situação os militantes passaram a adotar a expressão deserto verde e desenvolveram uma campanha de protesto [5].

A Aracruz é uma empresa de capital multinacional, tendo por acionista majoritária a companhia norueguesa Lorenz, com 28% das ações, seguida pelo Banco Safra, pela Votorantim, pela Souza Cruz e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) [6].

Segundo João Pedro Stédile, a principal figura do MST, tal ação não devia ser entendida apenas no âmbito do alegado impacto ambiental, pois também se referia à matriz produtiva do agronegócio, baseada no controle das empresas transnacionais, no uso intensivo de insumos [inputs] industriais, na monocultura e na concentração da produção e do comércio em cerca de três dezenas de empresas transnacionais [7]. Ora, isto seria contraditório com as diretrizes do V Congresso do MST em relação às multinacionais do agronegócio. Aquela ação também foi saudada por alguns  intelectuais e muitos militantes como uma nova fase do repertório de intervenção política do Movimento [8], que, para além da ocupação de latifúndios, passava então a lutar contra o capital internacional e financeiro, representado por tais empresas transnacionais [9].

Dado este novo quadro, tanto mais notória se torna a contradição entre o discurso contra o agronegócio e a prática de colaboração produtiva com a Fibria.

A Fibria, produtora de celulose e papel, formada pela junção da Aracruz e da Votorantim, anunciou no final de 2011 o projeto de um assentamento de 10 mil hectares no interior baiano, destinado a assentar mil e trezentas famílias, tendo por parceiros o Incra, o governo da Bahia, chefiado por Jaques Wagner, do PT — o qual contou com a Fibria entre os financiadores da sua candidatura — e o MST. Note-se que em agosto daquele mesmo ano a liderança do MST havia sido recebida na reunião anual estratégica da empresa [10]. Para o presidente do conselho administrativo da Fibria, José Luciano Penido, tal assentamento terá por referência a agricultura familiar e o foco na educação. “Queremos ensinar aos jovens do MST como usar ciência e educação para desarmar um antagonismo desnecessário” [11]. “Desnecessário” para qual dos polos e correspondente a quais interesses?

José Luciano Penido (Fibria) e Márcio Matos (MST) no Assentamento Jaci Rocha

Em 31 de maio de 2012 o site da Fibria anunciou o lançamento do marco fundamental do Centro de Formação, Educação e Pesquisas em Agroflorestas no Assentamento Jaci Rocha, no município de Prado, no extremo sul da Bahia. As atividades se desenvolverão inicialmente num espaço de 12 mil hectares, englobando cerca de mil famílias, localizadas nas cidades de Prado, Teixeira de Freitas e Alcobaça, mas deverão ser ampliadas posteriormente para outras regiões, abrangendo mais assentamentos e comunidades rurais. Estima-se que será um complexo de 20 ha de área total. “O Governo da Bahia, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) e a Fibria, parceiros no projeto ‘Assentamentos Sustentáveis com Agroflorestas e Biodiversidade’ ”, prossegue a matéria comentando os objetivos de tal iniciativa pioneira, “[…] visa dar às famílias do MST assentadas na região e a algumas comunidades de municípios do extremo sul baiano acesso à formação técnica, educacional e organizacional para a produção de alimentos com base nos princípios agroflorestais e agroecológicos e na organização social[12].

Para compreender melhor este caso, importa saber que a “iniciativa pioneira” da transnacional — que detém quase 170 mil hectares apenas no extremo sul baiano — em formar os integrantes do MST nas artes da agroecologia, agrofloresta e organização social se deu após um histórico da ocupação de seis fazendas da empresa pelo Movimento. O diálogo foi desencadeado e intermediado pelos universitários e acadêmicos da Esalq/USP, beneficiando do “decisivo apoio do Governo da Bahia e do Governo Federal”, ambos do PT. “Será o primeiro Centro especializado neste assunto, no mundo, e vai contar com apoio de várias Universidades e Instituições nacionais e internacionais”.

Uma pessoa distraída, que lesse apenas a matéria sem prestar atenção à sua fonte, dificilmente suporia que se trata de um projeto de parceira entre governo, empresa transnacional, MST e Universidades [13]. Com efeito, ele pretende “[…] fomentar uma nova cultura no campo e na sociedade brasileira como um todo, cooperando no delineamento de um projeto popular de país comprometido com a sustentabilidade em todas as suas dimensões”.

Projeto popular de país e sustentabilidade aos quais a transnacional destinou, no ano de 2011, mais de 20 milhões de reais. Este montante visa investimentos em comunidades, contemplando já o projeto de Assentamentos Sustentáveis, em parceria com o MST [14]. Coroar de louros a participação, as benesses da produção de alimentos agroecológicos e a agricultura familiar, e a conquista de mais assentamentos modelos em agroecologia são alguns dos valores compartilhados:

“Os pontos mais importantes de todo esse processo são a conquista dos novos assentamentos, a decisão de se tornarem assentamentos exemplares de um projeto de agroecologia e sistemas agroflorestais para o Brasil e a construção de um Centro de Formação, Educação e Pesquisa em Agroecologia e Sistemas Agroflorestais. A sua importância estratégica para a agricultura familiar brasileira se tornará um símbolo para a construção participativa, pautada pelo diálogo transparente de um Brasil Sustentável”.

Estaria assim a se “desarmar um antagonismo desnecessário”? Conforme os agentes envolvidos: “Muda-se a relação entre capital e trabalho”; “É um marco no convívio do agronegócio com a agricultura familiar”; “A estratégia é superar antagonismos e encarar os problemas historicamente agudos no sul da Bahia”; “Chegamos a um novo paradigma de negociação sobre passivos, diálogo que surgiu a partir de relações conflituosas e se repetirá junto às demais empresas do setor” [15].

Tal estratégia “proativa” de “responsabilidade compartilhada” tem sido fomentada pelo governo federal em outras áreas, como na construção civil, no setor de cana-de-açúcar e no da soja [16].

3. O caso Stora Enso

Em março de 2008 as mulheres do MST e da Via Campesina realizaram uma série de mobilizações em áreas de grandes empresas transnacionais, entre elas a da empresa de celulose de origem sueco-finlandesa Stora Enso, acusada, entre outras coisas, de ter adquirido ilegalmente 56 mil hectares na fronteira com o Uruguai. Tais ações seriam o resultado de duas situações complementares, explica João Pedro Stédile:

“De um lado, a falta de uma política que de fato priorize um modelo agrícola voltado para a soberania alimentar, para os camponeses e para a reforma agrária. E de outro, um projeto contra o abuso do avanço do capital internacional e de suas empresas, que passaram a dominar a agricultura brasileira, sem controle nenhum, trazendo enormes consequências na soberania do território, nos nossos recursos, e na agressão de nosso meio ambiente, por meio da monocultura desenfreada” [17].

No Passa Palavra vários artigos analisaram criticamente a noção de soberania alimentar e expuseram as suas raízes históricas (um exemplo pode ser encontrado aqui). Não é nossa intenção retomar agora o assunto. Interessa-nos evidenciar a contradição entre o discurso público do MST e a sua prática de relações com as grandes empresas.

Ainda em 2008, o MST e a Via Campesina se uniram à ONG finlandesa Amigos da Terra e começaram uma campanha de envio de cartas, manifestando-se contra as operações da Stora Enso no Brasil. Neste mesmo ano, a empresa buscou, como consta em seu relatório anual de sustentabilidade, “melhorar a nossa capacidade de lidar com demonstrações e invasões de terra” [18]. Este relatório narra da seguinte forma o conflito com as mulheres do MST e da Via Campesina:

“Em março de 2008, um grupo composto principalmente de mulheres pertencentes a uma organização local de direitos à terra, denominada Via Campesina, invadiu uma das quatro fazendas que temos no Rio Grande do Sul. Os invasores nos acusaram de operar ilegalmente na região e demandaram a expropriação da terra para a reforma agrária. Entramos com um pedido na justiça, solicitando a remoção pacífica dos invasores. Infelizmente, a invasão terminou em violência. De acordo com o relatório policial, 14 pessoas, inclusive um policial, foram feridos, principalmente por causa de disparos feitos com balas de borracha e em decorrência de quedas. Este resultado é totalmente inaceitável para nós e contradiz nossas políticas. Após o incidente, esclarecemos nossos procedimentos internos que tratam de invasões de terra e fortalecemos o diálogo com as autoridades locais, com o objetivo de impedir a polícia usar a força na eventualidade de uma ocorrência similar no futuro. Além disso, estamos tentando restabelecer o diálogo com o MST.”

Ao que parece, tal iniciativa da empresa de restabelecer o diálogo com o movimento surtiu algum efeito. A Stora Enso e o MST concordaram em se encontrar em junho de 2009, e uma ação que poderia ter-se desenvolvido como um confronto de classes foi abafada por uma conciliação entre cúpulas dirigentes.

Da parte do Movimento, João Paulo Rodrigues informou que “Esperávamos resolver as pendências debatendo os conflitos racionalmente com líderes suecos e finlandeses da empresa […] Não somos contra a Stora Enso ou a indústria de papel, mas nos opomos ao modelo de economia que representam, no qual a terra é concentrada em mãos de uma pequena elite” [19]. João Pedro Stédile também se posicionou sobre tal situação, afirmando ser possível o plantio de eucaliptos em pequenas propriedades: “Um pequeno produtor poderia cultivar digamos, dois hectares de eucaliptos numa propriedade de dez hectares. Mas as empresas de papel e celulose não querem este modelo, por julgarem que os lucros são insuficientes. Exigem sempre o lucro máximo, ignorando as consequências sociais e ambientais”. E sublinhou a questão das nacionalidades das empresas e do desenvolvimento do país, numa perspectiva nacionalista que foi analisada criticamente em vários artigos publicados no Passa Palavra (um destes pode ser lido aqui ). Quando se fala em nome de os brasileiros em vez de os trabalhadores, a via de abandono da luta de classes já está aberta e, por conseguinte, fica estabelecida também uma plataforma de conciliação com os interesses empresariais. Escreve Stédile:

“A empresa envia à Finlândia a polpa produzida em suas instalações na Bahia como matéria-prima inacabada. Os brasileiros não se tiram proveito de nada. Os exploradores anteriores, empresas brasileiras, ao menos produziam parte do papel no Brasil. […] De que adianta a empresa pagar, aqui, algumas dezenas de milhões em impostos, se envia centenas de milhões para a Finlândia? O Estado finlandês, maior proprietário da empresa, não se envergonha desta operação neo-imperialista” [20].

Marcelo Durão com o presidente mundial da Stora Enso e o diretor responsável pelo Brasil

Por iniciativa da ONG Amigos da Terra, o MST foi convidado a ir à Suécia e à Finlândia, em abril de 2011, para realizar uma série de debates sobre Soberania Alimentar, Agroecologia, Reforma Agrária, Agronegócio, além de participar da reunião anual de acionistas da Stora Enso. O indicado para participar foi Marcelo Durão, do setor de relações internacionais do Movimento, para quem “O momento mais trabalhado foi a exposição das denúncias dos crimes realizados pela Stora Enso/Veracel no Brasil dentro da reunião anual dos acionistas da empresa” [21], da qual, curiosamente, traz a seguinte informação: “Estas denúncias causaram desconforto por parte da diretoria da empresa e aos acionistas, tanto que após o termino da reunião o próprio presidente da empresa fez questão de vir conversar sobre a importância das denúncias, da presença do MST e que queria estabelecer diálogo aqui no Brasil” [22].

Temos aqui uma contradição flagrante entre, por um lado, as manifestantes que adotaram uma postura de radicalização e crítica às empresas capitalistas transnacionais e, de outro lado, o diálogo das lideranças do MST com os administradores e acionistas destas mesmas empresas. Assim, tais empresas podem mostrar mundialmente em seus relatórios de sustentabilidade que negociam e formam parcerias com os movimentos e comunidades atingidas, enquanto colocam na conta de seus orçamentos algum tipo de desenvolvimento social. Entre a ação direta de confronto com transnacionais e o diálogo com elas, para onde se inclina o pêndulo do conflito de classes?

Notas

[1] Conforme compromissos assumidos no 5º Congresso Nacional, realizado em 2007. Disponível aqui.
[2] Leia aqui. Os assentamentos se localizam em Piratini, Pedro Osório e Pinheiro Machado. Leia aqui, p. 63.
[3] Leia aqui.
[4] Para um relato detalhado destas ações, bem como da cobertura da mídia empresarial sobre estes fatos, recomendamos a leitura da dissertação de mestrado de Maíra Kubik Taveira Mano (2010), pela PUC-SP, Deserto verde, imprensa marrom. O protagonismo político das mulheres nas páginas dos jornais.
[5] Alega-se que, embora verde, esta paisagem não traz mais a diversidade biológica e humana que antes existia na floresta. Pretende-se que na paisagem das monoculturas não se encontram mais os habitantes da floresta e que constitui um espaço deserto, “sem vizinhos e sem fartura”, na linguagem dos moradores que ali ainda resistem. Daí, a expressão deserto verde, já que, segundo o biólogo e pesquisador Augusto Ruschi, o deserto possuiria uma maior diversidade animal do que a monocultura do eucalipto (Ferreira, 2006). Disponível aqui. Ver também aqui e aqui.
[6] ARBEX JR., José. “Haja cruz”. Núcleo Piratininga de Comunicação, abril de 2006. Disponível aqui. Acesso em 10/01/2009.
[7] STEDILE, João Pedro. MST: 25 anos de teimosia. Revista Caros Amigos. Janeiro de 2009.
[8] Ocupações em terras da Aracruz, por exemplo, já haviam sido feitas, como em 2005 pelo MST no Espírito Santo, mas o que deve ficar claro é o caráter político distinto de tal ação no sul do país.
[9] Stédile, 2009, idem.
[10] Leia aqui.
[11] Leia aqui.
[12] Leia aqui. Os grifos são nossos.
[13] Tal modelo de capitalismo verde é apregoado pelo conselheiro do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Ricardo Young: “As empresas nacionais têm buscado formas de trabalhar com a base da pirâmide. A estratégia de desenvolvimento do país ainda não é a economia verde, mas a prontidão está se disseminando nas estratégias de negócios, por conta de um mercado mundial cada vez mais intolerante nas questões socioambientais”. Leia aqui. Essas licenças sociais e ambientais fazem parte do propósito da Fibria: “ ‘Estamos próximos de anunciar nossas metas de longo prazo e entre elas está obter uma licença social para operar’, disse, na sexta-feira, o presidente do conselho de administração da Fibria, José Luciano Penido, em uma mesa de discussões do Prêmio Eco 2011, uma parceria do Valor com a Câmara Americana de Comércio (Amcham). A Fibria recebeu em agosto os líderes do MST em sua reunião anual estratégica. O apoio social às comunidades vizinhas faz parte das metas para 2025, que a empresa espera fechar nos primeiros meses do ano que vem. ‘Queremos divulgar para sermos cobrados’, diz Penido. A empresa persegue o chamado ‘lucro admirável’, uma aceitação social que vai além dos resultados da última linha do balanço.” (do jornal Valor On Line, Sustentabilidade na prática traz resultados, de 05/12/2011; leia aqui.
[14] Leia aqui.
[15] Respectivamente: Paulo Kageyama (pesquisador da Esalq/USP); José Penido (presidente do conselho de administração da Fibria); idem; Márcio Matos (direção nacional do MST). Leia aqui. Que alianças inéditas!
[16] Tais informações foram retiradas da imprensa empresarial e relatórios da própria Fibria. O site do MST chegou a veicular notícia do Ministério Público da Bahia no final de 2011, referente a um projeto de restauração florestal que seria implantado no extremo sul da Bahia, pelas Suzano Papel e Celulose e Fibria Celulose, que teriam assumido compromisso por meio de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), com vista a corrigir danos ambientais causados em áreas irregulares. Leia aqui.
[17] Carta Capital – As multis no alvo dos sem terra, março de 2008.
[18] “Além disso, nos empenhamos em estabelecer um diálogo com os grupos de interesse nestas regiões, por meio de várias iniciativas, a exemplo do programa de boa vizinhança, a metodologia LOAM (Landscape Outcomes Assessment Methodology) do WWF, bem como o “The Forests Dialogue” . Leia aqui.
[19] Leia aqui.
[20] Leia aqui.
[21] “Dentre as ações da Stora Enso/Veracel no Brasil, a perda da biodiversidade é o principal, pois a mata atlântica é o bioma com maior número de espécies (animais e vegetais) do planeta, mas temos a contaminação de nascentes, córregos e lagoas pelo uso de agrotóxicos; expulsão de comunidades da região; diminuição da produção de alimentos básicos; centralização da propriedade de grandes quantidades de terra na mão da empresa; aumento da pobreza; entre muitas outras ações comuns ao modelo do agronegócio.” Leia aqui.
[22] Leia aqui.

Leia a 2ª parte e a 3ª parte deste artigo.

33 COMENTÁRIOS

  1. Desculpem o provável primarismo do comentário, mas leio algures que Marx definia ideologia como

    “Conjunto de idéias que procura ocultar a sua própria origem nos interesses sociais de um grupo particular da sociedade.”

    Mas também que, segundo Lenin, “ideologia é qualquer concepção da realidade social ou política, vinculada aos interesses de certas classes sociais particulares.”

    Aplicando as definições ao contexto do artigo, a radicalização das ações iniciais do MST (confronto) nos casos descritos, seriam as tais “idéias” ou “concepções” que revestem certos interesses; e a forma como foram concluídos os confrontos a explicitação desses interesses na sua concretização (os acordos).

    Ou seja, se antes os ideais coincidiam com os fins desejados, hoje esses ideais são apenas instruentalizados para alcançar outros fins.

    As definições de ideologia foram buscadas aqui:

    http://praxishistoria.no.comunidades.net/index.php?pagina=_01

  2. sem maiores comentários, em outro caso cheguei a argumentar politicamente artigos publicados neste sitio, mas esse art. superou, em relação ao autor ou autores deste só podemos ter duas definições ou ibecilidade politica ou uma tremenda canalhice politica……ibecilidade a ponto de não compreender as coisas e achar que o mst tem o controle absoluto das familas assentadas ou canalha a ponto de se comportar de maneira identica aos articulista da veja, globo etc.pa combater o MST.

  3. Nilcio Costa,

    Você tem certeza de que leu o artigo? Não se está falando apenas de “famílias assentadas”, mas de militância e direções, que, como sabemos, não agem de livre e espontânea vontade.

  4. Nilcio, te entendo totalmente, essa galera nao aprende, melhor a gente nao fazer como eles, nao vamos gastar nossa energia nisso, tem milhoes de coisas pra construir… mas sim, é triste!

  5. O MST faz parte de um grupo de organizações de esquerda que defendem as empresas nacionais e o governo Dilma. É um equívoco enorme, que está levando o Movimento para estas posições de aproximação com empresas.

  6. certamente que li o art. ocorre que estão se utilizando de elementos descontextualizado. e mais, moro no assentamento milton santos e acompanheir passo a passo toda a jornade de luta deselvolvida pelo mst em prol do milton santos, ai quando o articulista afirma que o mst negou solidariedade aos assentados do milton santos fica claro qual o objetivo do art. da mesma forma que numa anaise fora de contexto afirma levianamente que o mst negou solidariedade às familias apenas por não assumir ação do inst lula. ai sim beira a canalhice…não da pra discutir politicmente neste nivel…

  7. Nílcio Costa,
    No seu primeiro comentário, o sr. argumentou que 1) as iniciativas empresariais analisadas neste artigo se deveram simplesmente a famílias assentadas e que 2) o artigo é similar aos materias publicados pela Veja e pela Globo.
    Ora, quanto ao seu primeiro argumento, as negociações frustradas com a Votorantim Celulose e Papel, analisadas no § 1 do artigo, foram conduzidas, do lado do MST, pela direcção deste Movimento, representada por Ciro Correa. A associação entre a Fibria e o asentamento Jaci Rocha, analisada no § 2 do artigo, foi negociada com o próprio MST, além do Incra e do governo da Bahia, como texto deixa claro. Em 2011, a direcção do MST foi ao ponto de participar na reunião estratégica anual da Fibria. Quanto ao caso Stora Enso, analisado no § 3 do artigo, os contactos com a direcção dessa companhia transnacional foram realizados por um membro do sector de relações internacionais do MST, como o texto também deixou claro. Por conseguinte, aquele seu primeiro argumento é totalmente desprovido de razão de ser.
    Quanto ao seu segundo argumento, ele é improcedente. Se a tal revista disser que a terra é redonda, não é por isso que ela passa a ser cúbica. Trata-se de saber se os factos que o Passa Palavra analisou neste artigo são ou não exactos. E o sr. não mostrou que fossem inexactos.
    No seu segundo comentário o sr. abandona com desfaçatez os argumentos usados anteriormente e passa a invocar um novo argumento, que aliás em nada se relaciona com as iniciativas empresariais do MST, o de que este Movimento não retirou a solidariedade às famílias do assentamento Milton Santos aquando das recentes jornadas de luta. O Passa Palavra acompanhou de muito perto essa luta, como se pode ver aqui
    http://passapalavra.info/?p=70939
    Ora, o Milton Santos ocupou a Secretaria da Presidência em São Paulo e o MST escolheu essa ocasião para declarar no seu site que as famílias ocupantes não faziam parte daquele Movimento (veja-se o meu comentário aqui:
    http://passapalavra.info/?p=69071
    e a discussão que gerou). Além disso, quando o Milton Santos ocupou o Instituto Lula, em São Paulo, o MST declarou que tel ocupação era «inócua, ineficaz» (veja-se o meu comentário aqui:
    http://passapalavra.info/?p=71413
    e a discussão que gerou). Se isto não é negar a solidariedade ao Milton Santos, o que é? Não se trata de «argumentos descontextualizados», como o sr. escreveu, mas, pelo contrário, de argumentos inseridos no contexto. Infelizmente.

  8. Lendo esse artigo, lembrei de um debate travado dentro do movimento de ação direta britânico dos anos 90 (Earth First, Reclaim The Streets, etc), em que se discutia como as lutas antiestradas, mais do que destruir o capitalismo, acabariam por fortalecer umas empresas em detrimento de outras. Quem percebeu isso não foram os militantes, mas os próprios capitalistas – na época, foi uma “consultora antiprotestos” (!) chamada Amanda Webster quem disse: “o advento dos movimentos de protesto trarão vantagens no mercado para aquelas empreiteiras que podem lidar com eles efetivamente”.

    Entre os paralelos que podemos traçar entre o caso britânico e o MST, há a ação de sabotagem (central entre os britânicos, “inovação do repertório” no MST) e o discurso ecológico (esse é um ponto que imagino que o PP poderia desenvolver bem). Entre as diferenças, talvez, dá pra pensar na estrutura dos movimentos. O movimento britânico, horizontal (com os mil problemas da “tirania das organizações sem estrutura”), tem como traço marcante a existência de espaços permanentes, publicações de artigos, de reflexão e debate sobre a prática militante. Já o MST tem uma estrutura que divide dirigente e base, e escassos espaços de debate aberto sobre estratégia – esse segundo ponto foi, talvez, a principal crítica e motivo de saída dos 51. Essa diferença talvez explique porque aquilo que no Reclaim The Streets apareceu como autocrítica, no MST tenha sido incorporado pela dirigência como uma postura do movimento, com base num discurso nacionalista.
    (Infelizmente né, porque o MST é um movimento de base popular e bem mais relevante que o RTS…)

    Meio tenebroso também ver o silêncio dos leitores aqui nos comentários… Esse texto deveria gerar mais polêmica do que aquele do Fora do Eixo… Às vezes parece que o MST tem, mesmo dentro da extrema-esquerda, um status de indiscutível, inquestionável, como se pensar os problemas do movimento significasse dizer não à luta!

  9. Intessante o comentário do Caio. Pensar as razoes da falta de polemica, existem várias, podem citar outras: 1) falta de real vivencia militante com xs do MST (diferente da galera do Fora do Eixo), 2)limites e falta de auto-crítica do movimento autonomo/libertário no Brasil que pensa que sao o máximo e chegam pra “ensinar” e nao pra “aprender” da sabedoria dos movimentos sociais. Agora, a polemica sobre o fora de eixo – entre outras coisas- foi motivada por um tom que continua nesse artigo que sinceramente tem bastante tons academicos, alem de muita masturbacao (masculina?:). Queria que chegasse o dia em que eu deixasse de ter “vergonha” de defender a autonomia em ambiente de movimento social! Pensar os problemas dos movimentos nao é negar a lutar, mas um pouco de cuidado com as palavras e o tom da crítica sao bem-vindos, fora que é bastante estratégico, coisa que esse texto e outros pecam pela ausencia. Axé

  10. Infelizmente, como é de se esperar, vários artifícios de desqualificação vão sendo levantados para se desviar daquela que é a pergunta central deixada pelo artigo: o MST mantem ou não parcerias com empresas privadas?

    Até agora, ninguém (militante ou apoiador) veio aqui dizer que não.

    Abraços

  11. Acho que há outras questões interessantes que o artigo levantou:

    (1) Um movimento grande como o MST não é livre de contradições, e é a partir destas contradições que podemos tentar encontrar tendências do seu desenvolvimento futuro. Na contradição entre ações de enfrentamento a transnacionais e ações de aproximação com transnacionais, que tática está levando a melhor? Qual delas tende a se desenvolver mais, e qual dela tende a ser progressivamente abandonada?

    (2) Que setor do movimento — base de acampados/assentados ou coordenações — está tocando qual destes campos da contradição? E como cada um se vê neste processo, e ao outro?

    (3) Já ouvi amigos que leram este artigo falarem que tudo isto se trata de “questão de tática”. Pode ser que sim. Se analisarmos a coisa com perspectiva histórica, há “táticas” tão ou mais complicadas vindas de gente que em geral se tem como “santos da revolução”. Mas toda tática vem em função de uma estratégia. Aí pergunto: a que estratégia respondem estas táticas de aproximação com empresas transnacionais? E quais os resultados imediatos destas táticas sobre as lutas que o MST trava?

  12. O problema Taiguara é que o limite entre (auto)criticar e criticar pra destruir é muito tenue, nesse caso, como em vários, o PP ultrapassou esses limites, nao é a toa que a extrema-esquerda se parece tanto a extrema-direita, com certeza, o PP depois desses artigos até poderia ser convidado pra esse forum em Rosario, assim que convido a reflexao sobre o modo que se faz as críticas e inclusive em que lugar é estratégico faze-las, que conste que nao sou filiada ao mst, sou autonoma que acredita nos movimentos sociais, que inclusive vejo que vcs tem várias razoes dessa crítica ao mst, mas o tom destrutivo afasta e nao provoca o diálogo: http://www.kaosenlared.net/america-latina/item/52788-argentina-rosario-repudiamos-el-encuentro-de-la-derecha-internacional.html?tmpl=component&print=1

  13. Certinho, Alice, argumentar esse tipo de provocação é inutil, pseudos intelectuais adoram ser respondidos para ter palanque…ter com que falar….

  14. Alice, talvez então podemos começar a conversar.

    Você diz que não é militante do MST e que acha necessário refletir sobre a forma e o espaço de fazer a crítica. Minha cara, a depender da evolução recente deste movimento, e não fazendo você parte da sua direção, você não teria essa chance nunca. Agradeça ao Passa Palavra por abrir essa oportunidade.

    Se bem entendi, você diz que o problema é o tom da crítica, e não o seu conteúdo. Ok. Da minha parte, acho que, até que se argumente de forma consistente contra o que está dito, o tom é justo. Afinal, o artigo expõe relações entre empresas inquestionavelmente capitalistas e talvez o mais importante movimento social brasileiro, que nasceu com horizontes e estratégias anticapitalistas, e que hoje habita o imaginário de quase toda a militância que se diz de esquerda no país. Até que se demonstre infundadas as evidências, isso me parece grave.

    Mas, tudo bem, deixemos o tom do artigo para lá e, por favor, me responda. Na sua opinião, a argumentação do artigo tem alguma correspondência com a realidade? Se não tiver, por favor, apresente algum dado, alguma informação que pelo menos a questione. E se tiver, me diga se você também avalia como algo grave. Se achar que não é grave, apresente para os leitores alguma leitura política que justifique essas relações.

    Abraços

  15. Hoje lí por diversas verdes as postagens relacionadas ao MST: Parte 1,2 e 3, chegando a conclusão que o Passa Palavra chegou também à sua crise terminal. Se não pela crítica, pela ausência da critica capaz de apontar alguma coisa. De novo, e outra vez: O Passa Palavra parece estar apaixonado por si mesmo, por todas as palavras que por aqui passou,e, por que não dizer, por sua própria palavra.

    Nenhum reparo às criticas do Passa a Palavra ao MST, longe disso. É tão cristalina a crítica que elimina qualquer possibilidade de contra argumentos. Talvez, por isto mesmo,seja possível dizer que a crítica do Passa a Palavra perdeu-se num emaranhado de insignificâncias. Não pela crítica em si mesma, seu percurso ontológico, digamos,mas pela ausência de qualquer campo de efetividade.Uma crítica que se tornou demasiadamente metafisica para se permitir algum sentido.

    Nas quebradas da vida existem momentos assim, nos quais nos vemos falando para nós mesmos, um monólogo indefinível e sem fim: Não é chegada a hora de passar a palavra adiante, abandonando o deserto que isto aqui se transformou, recheado de tristes teoremas e de significados, não sera o momento do balanco final?

    um abraço amazónico, afetuoso mas cético.

    Ariston

  16. Hmm. “Metafísico”. Com dados e fontes, mas “metafísico”. Acho que o metafísico é quem critica sem ir aos argumentos, mas ao órgão que os veicula. É a velha falácia “ad hominem”, conhecida desde os tempos de Aristóteles. Mas ops, esperem, o “metafísico” é o Passa Palavra…

  17. Esse Passa a Palavra! Incurável narcisista, perdeu o ser do ente no ‘percurso ontológico’ da crítica: metafisicalizou-se, enfim… Salve-se quem puder, é o furdunço no badalhocal!!!

  18. Pelo teor de certos comentarios me senti forçado a parabenizar o PP pela competência com que desmascara mais um embuste capitalista travestido de “esquerda” (seja lá a definição que isso tomar) chamado MST. Os parabéns vão no sentido de servir de estímulo para que se persevere neste caminho já que até o desejo de que este veículo para se pensar as lutas desapareça figura entre as reações aqui manifestadas.
    a fúria, os xingamentos, as desqualificações são sintomáticos de que o balão da ilusão está a ser furado.

  19. Bingo Ariston!
    Compañerxs do PP,
    como dizem xs neoliberais e o marx: “toda crise é momento de oportunidade”.
    Assim que desejo sinceramente que esse momento seja utilizado pra reflexao. Trabalhar o ego, o desejo de “poder” e a humildade na certeza de que sempre se está aprendendendo é bom pra todxs nós! Mas só se aprende com a prática (com a caminhada) porque teoria sem prática e prática sem teoria nao caminham juntas. O tempo dirá que caminho(s) decidiram…
    Que venha a sabedoria!
    Vida longa ao Passa Palavra!
    Vida longa a autonomia!

  20. Esta crítica contextualiza uma análise fundamental sobre o MST que é a forma de sua organização burocrática e os interesses advindos a partir desta cizão fundamental entre dirigentes e dirigidos. A teria das classes de Marx parece se aplicar neste caso, e esta parceria com empresas transnacionais e o abandono do locus de luta contra o capital para um “progresso nacional sustentável” revela os interesses da cúpula que se alia ao governo e as burguesias, buscando garantir seus próprios interesses enquanto burocrátas.

    O tiro da crítica dado em direção a um movimento que está no campo das emoções de militantes “de esquerda” que vêm suas atuações cada vez mais limitadas por projetos reformistas irá causar inevitavelmente um rancor e desespero, na falta de auto-crítica revolucionária.

    PP, continuem produzindo material teórico para a luta cultural,
    Hasta.

  21. Se na parte 3 o debate é epistemológico, aqui o debate é ontológico, quando não de impor ao PP uma crise inexistente. E tudo isto como elementos de uma tentativa de interdição ao debate sobre problemas graves de um movimento que, apesar de enorme e quem sabe talvez por isto mesmo, vive contradições terríveis. Tanto pior para a luta de classes.

    Fora da internet o debate sobre este ensaio tem me parecido mais sincero. Por isto tenho trazido alguns dos argumentos para cá, para ver se se consegue debater alguma coisa além das ofensas e dos academicismos.

    Conversando sobre o artigo com um amigo meu que é de um grupo de juventude muito ligado ao MST, ele argumentou que o caso da Fibria/Veracel no Extremo Sul da Bahia é uma retirada tática, pois não havia outra saída possível. De fato, quem conhece a situação dos conflitos sociais no Extremo Sul da Bahia sabe que o eucalipto domina o panorama agrário, que as empresas ligadas ao setor mandam e desmandam no território que vai do norte do Espírito Santo até a região em questão, que compram lideranças com picapes zero, que cercam os pequenos produtores com um “mar” de eucalipto para inviabilizar qualquer outra forma de agricultura e forçar os arrendamentos de terra… Salvo por abnegados como a equipe do Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul da Bahia (CEPEDES) (http://www.cepedes.org.br), a Veracel conseguiu eliminar toda a resistência que lhe era feita. Aliar-se à Veracel e tentar conseguir, pela brecha da “responsabilidade social”, alguma alternativa para os acampados e assentados, foi, segundo este meu amigo, questão de sobrevivência.

    Discordei deste meu amigo quanto ao momento em que esta retirada tática começou e quanto à necessidade desta retirada tática quando ela foi começada. A meu ver, a aliança com a Fibria é um atestado de que o MST continua existindo no Extremo Sul da Bahia, mas que é outro movimento usando a mesma sigla. Tocado pelas mesmas pessoas, mas submetido agora aos limites de um “projeto” “financiado” por um “apoiador” “institucional” que se brincar vira “parceiro”.

    Em suma, uma derrota estratégica, que faz do Extremo Sul baiano território interditado à reforma agrária. Acho que é preciso partir desta derrota para pensar em outros patamares de luta, em outras formas de organização — em suma, admitir a derrota é o primeiro passo no caminho do retorno aos problemas de estratégia e tática essenciais a um movimento anticapitalista. Mas é claro que nem o MST nem qualquer outro movimento admitirão uma derrota deste tamanho. Jamais. Pega mal. Aí aquilo que é da ordem da sobrevivência material — necessidade incontornável — é elevado ao nível da mais avançada luta anticapitalista.

    Apesar das divergências inconciliáveis entre o que eu e meu amigo defendemos, é muito melhor discutir neste nível, onde há sinceridade e envolvimento entre quem discute, que ficar no rame-rame que alguns defensores do MST têm mantido aqui.

  22. Tem gente defendendo o MST falando mal do “egocentrismo” ou do “narcisismo” do Passa Palavra, mas nenhum quis explicar o porquê do artigo ser tão errado ou absurdo assim. O texto possui dados mas ninguém os contesta; possui um argumento que gerou fúria, mas ninguém rebate. Parece que o Passa Palavra mandou um míssil para a caaba da esquerda mais “tradicional”… quem são os narcisistas mesmo?

  23. Recontar a piada é desagradável. Mas, duro – mesmo! – é ter que explicar a ironia…

  24. Parabens ao texto, camaradas. Infelizmente este é um dos pouco espaços que temos pra dialogar entre diversas leituras. Me parece que os militantes do MST que estão comparando o PP com a veja e acusando o sitio de “narcisista” deveriam pensar melhor então porque estão debatendo com a “extrema-esquerda” (se ela “parece tanto com a extrema-direita”), talvez porque estão no centro, fazem a consciliação. A verdade é que este espaço de diálogo não existe no interior do movimento e alguém que ja conviveu mínimamente com a militância pode saber disso. Inclusive a Escola Nacional F.F. mostrou isso ao proibir a entrada de formadores que expunham a crítica pra dentro do movimento, foram cortados pela direção. A Fíbria é um exmeplo de que o movimento cortou seus canais de diálogo com a esquerda, tal qual fez o PT, para privilegiar a “política do possível”. Na verdade não cortou, mas faz justifica-se nos meios de esquerda como este para manter a aparência de que possui uma estratégia anti-capitalista. A militância que tiver a capacidade de reconhecer os erros e manter a perspectiva revolucionária é a única que pode ser capaz de pensar um novo projeto para combater o rei. O bobo da corte não faz revolução, só graceja praquele que tem a coroa. Infelizmente gostaría de ter debatido questões de estratégia, mas os defensores do movimento estão comprometidos com a defesa da “única alternativa possível”. Quem é nascisita mesmo?

  25. Ulisses ta botando uma banca de Arnaldo jabor…

    Eaí, alguém me diga, não são, de fato, esses os rumos que o MST está tomando, e se consentirem que o são, poderemos conversar sobre a eficácia destas alianças…

  26. Nem Paulo Jabor, nem Arnaldo Francis – olha a ironia aí, gente!!!
    Remeto ao passa palavra de 30/8/2012: “Posso prometer ser sincero, mas não imparcial.” Goethe
    Portanto, entre o passa palavra e o mst, meu coração não balança.
    Sinceramente, sem qualquer ambiguidade ou ironia: fico com o passa palavra.

  27. Paulo Henrique,

    Esse financiamento é através do Finapop, projeto de financiamento idealizado pelo Eduardo Moreira.

    A questão não é o financiamento, a questão é saber quais são as relações de produção.

    Numa sociedade socialista haverá crédito e financiamento também.

    Linhas de crédito para agricultura familiar (o que inclui assentados do MST) “sempre” houve pelo Banco do Brasil. Qual a novidade de assentados do MST pegarem crédito e financiamento? Você espera que eles vão viver de que?
    Uma empresa recuperada e “autogerida” não pode pegar financiamento bancário por pureza ideológica?

    A questão com essa financiamento via Finapop é fugir dos juros extorsivos dos bancos. Quem financia coloca o dinheiro ali mais por querer financiar um empreeendimento que converge com sua visão política. Buscando maximizar renda, o investidor colocaria seu dinheiro em algo que rendesse mais (5,5% é pouco). Pelo menos em parte é um financiamento solidário.

    Eles estão “vendendo” isso como transição pro socialismo? Não.

    Ou pra ser ideologicamente socialista tem que continuar miserável trabalhando com uma enxada, sem recurso a tecnologia?

    Que isso possa levar a contradições, mas claro que pode. Mas qual ação não conterá contradições ou potenciais contradições enquanto estivermos no capitalismo? Já dizia Malatesta que no capitalismo nunca podemos viver do jeito que gostaríamos, e estamos sempre em algum tipo de contradição.

  28. Leo V, não me coloco contra o financiamento. Isso não faz nenhum sentido. Mas pelo que eu entendi da matéria o financiamento se dá para o setor privado, não? E o investidor que financiar a empreitada vai abocanhar uma parte do produto final, não? Ao que me parece, abriu-se a porteira, embora o número de bois que passem por agora seja pequeno. Me parece que está no caminho de ser de fato uma SA.

  29. O Finapop pode até vir a ser uma boa idéia, mas em sua primeira rodada, em meados de 2020, não foi além de propaganda enganosa.

    Então o investimento mínimo foi de R$ 100 mil, com o total captado de R$ 1milhão sendo alcançado através de uma ação entre meia dúzia de investidores-amigos.

    O montante financiou benfeitoria de processamento (portanto, para incrementar a produtividade) na COOPAN, considerada a maior produtora de arroz orgânico da AL.

    O Finapop não financiou diretamente o MST, e muito menos a luta pela terra, e sim uma das famosas cooperativas com faturamento anual da ordem de dezenas a centenas de milhões de Reais.

    E aqui está o nó no qual tudo fica amarrado, a começar pelo tema da postagem principal (MST S.A.): qual a contribuição concreta dessas cooperativas para o avanço da luta pela terra?

    Passando para outras palavras: ao menos parte do lucro das cooperativas é investido na luta pela terra, ou se tornaram não mais que empresas capitalistas focadas em seu próprio crescimento?

    O problema não são as contradições, pois são inescapáveis, e sim como com elas se dá a tensão: para impulsionar ou arruinar as lutas e os movimentos?

    Indo além: sob o Capitalismo há possibilidade de empresas de cooperativismo escaparem da lógica da acumulação e da competitividade?

    Se há, qual o custo econômico e qual o ganho político?

    Com certeza são questões que há muito tempo, antes mesmo da data de publicação desta matéria, estão alhures das preocupações e prática do MST.

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