As últimas mobilizações em São Paulo demonstram a fragilidade prática e teórica da esquerda num cenário de ascensão e transformação econômica. Por Passa Palavra
Leia aqui tudo o que já publicamos sobre a empresa Fora do Eixo.
I. 2011, São Paulo em cinco mobilizações
Do início do ano até abril houve grandes manifestações da luta contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo. Diferentemente do que ocorreu em 2010 e nos anos anteriores, o público mobilizado passou de 4 mil pessoas e, ao invés de esvaziarem, os atos mantiveram-se cheios e permitiram realizar ações que antigamente chamaríamos de radicais, ou mesmo de ousadas, como a ocupação de um terminal de ônibus na região central e a paralisação de um dos sentidos da Avenida 23 de Maio – uma das maiores da capital do estado. A análise informal de alguns militantes sobre esse “fenômeno” baseava-se nos seguintes elementos: Facebook (com a confirmação de milhares de pessoas nos eventos que chamavam para as manifestações), repressão policial, o próprio valor da passagem (R$ 3,00) e a reunião das forças político-partidárias de oposição na cidade aos governos estadual e municipal. O ciclo de 2011 de lutas contra o aumento da tarifa foi encerrado pelo Movimento Passe Livre-SP, por acreditar que seria a hora de impulsionar uma luta mais abrangente que criticasse estruturalmente o sistema de transporte, com a bandeira da tarifa zero. Desse episódio, os militantes refletiram que havia uma “nova juventude” mobilizada: de classe média, estudantil, ligada nas mídias sociais.
Em abril, após uma entrevista para programa de TV, “Custe o Que Custar”, o CQC, do jornalista Marcelo Tas, levantou-se a polêmica com o deputado federal e militar da reserva Jair Bolsonaro e seu discurso pró-ditadura e moralmente conservador. Durante aquela semana, a polêmica matéria repercutiu pelas mídias sociais, que pressionaram uma cassação por quebra de decoro parlamentar. Em apoio, grupúsculos da extrema-direita marcaram um ato em defesa ao deputado e, espontaneamente, indivíduos atomizados da esquerda convocaram um ato antifascista com o objetivo de impedir a realização da manifestação. O que foi testemunhado pelos que compareceram nada mais foi que um grupo numericamente insignificante de valentões fantasiados de fascistas. Reencenando a Batalha da Praça da Sé, em que os integralistas foram confrontados nas ruas do centro paulista pelos anarquistas, colocou-se em ação um teatro da luta antifascista: palavras de ordem de um lado e de outro. O ato reuniu cerca de duas centenas de pessoas. Quem de fato protagonizou alguma coisa foi o próprio Estado de Direito, o qual deteve alguns membros dos skinheads por serem procurados pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).
Em maio o transporte voltou a ser pauta na cidade. Moradores de Higienópolis [1] organizaram um abaixo-assinado com menos de 5 mil assinaturas para impedir a construção de uma estação da linha amarela do metrô no bairro. Segundo os moradores, a estação faria com que “gente diferenciada” passasse a frequentar a região. Espontaneamente, indivíduos atomizados e blogs “antielitismo” divulgaram o “Churrascão da gente diferenciada”, a ser realizado nas ruas de Higienópolis. Ao menos virtualmente, o evento marcado no Facebook teve mais de 60 mil pessoas com a presença confirmada. No sábado, dia do “churrascão”, cerca de mil pessoas compareceram e, segundo alguns manifestantes, ao todo 2 mil passaram pelo local.
O campo social presente ultrapassou os limites daquele ativista-militante e político-partidário, isto é, se expandiu com pessoas que não participavam das lutas pelo transporte público. No entanto, o caráter pouco contestatório era evidente. Devido à pressão dos manifestantes, o governo estadual voltou atrás e decidiu construir a estação na rica região da cidade, a qual já possui acesso a três outras estações. Assim, o grande mote de revolta dessa manifestação lúdica foi o próprio diagnóstico de quão arcaica e antiquada é a elite de Higienópolis, mas, no limite, não se colocou a questão – essa sim crucial – da própria lógica elitista da construção do metrô em São Paulo, que prioriza o atendimento às regiões centrais e exclui as regiões periféricas. Tornou-se assim não uma manifestação “antielite” ou por transporte público para todos, mas contra essa elite arcaica.
Ainda em maio ocorreu uma nova mobilização. Desde 2004, indivíduos e coletivos pró-descriminalização das drogas – ou ainda antiproibicionistas – convocaram a “Marcha da Maconha” e, de modo análogo aos anos anteriores, a marcha foi proibida pela Justiça por apologia ao uso de drogas e a Polícia Militar reprimiu os manifestantes. Por conta disso, no mesmo dia convocou-se na porta da delegacia [esquadra] uma nova marcha, agora contra a violência sofrida. Logo após esse anúncio, o coletivo Fora do Eixo (FdE) entrou em contato com os organizadores para integrar a articulação da próxima marcha.
Entre 21 e 27 de maio ocorreram duas reuniões presenciais. Na primeira lançou-se o nome do ato, que passou a se chamar “Marcha da Liberdade” e não mais “Contra a repressão policial”. Na segunda reunião, no Studio SP – uma casa de show administrada por Alexandre Youssef [2] –, Pablo Capilé, articulador do FdE, assumiu as tarefas relacionadas à comunicação da manifestação, como transmissão online, e seu coletivo também arcou com os custos das flores que seriam distribuídas no dia. Capilé ainda mencionou a possibilidade de patrocínio da Coca-Cola à marcha; segundo seu argumento, hoje em dia as empresas buscam contato direto com os grupos e movimentos sem que seja necessário expor as suas marcas. De imediato os presentes ligados ao coletivo Desentorpecendo a Razão (DAR) e Movimento Passe Livre discordaram de tal patrocínio.
Uma das pautas impulsionada a partir da repressão pelos movimentos e coletivos de esquerda foi a promoção de um projeto de lei para proibir o uso de armas “menos letais” em manifestações. Pretende-se que seja aprovado um projeto semelhante ao da Argentina. O coletivo FdE, Cláudio Prado (da Casa de Cultura Digital), e membros da rede MobilizaCultura discordaram que fosse necessário pautar qualquer coisa que não fosse a “própria ideia de liberdade”. Esta foi a maneira encontrada para neutralizar politicamente a Marcha.
No dia 28 de maio, a Marcha da Liberdade agregou movimentos como GLBT, Movimento Passe Livre, Marcha da Maconha, organizações políticas e milhares de indivíduos. Os otimistas estimam 10 mil pessoas, já a polícia calculou a presença de 4 mil manifestantes e na transmissão online a cobertura feita por Bruno Torturra, jornalista da Trip, foi acompanhada por cerca de 2 mil pessoas. Um novo ato da Marcha da Liberdade foi convocado para 18 de junho, dessa vez de caráter nacional e, no dia 15 de junho, o Supremo Tribunal Federal julgou e autorizou a realização da “Marcha da Maconha”.
Dessa série de manifestações e atos, extrai-se que as mídias sociais – principalmente o Facebook e o Twitter – mobilizaram conjunturalmente novos setores da classe média, mas, por outro lado, houve também um caráter diferenciado da pauta tradicional dos movimentos sociais e da esquerda em geral. A pauta genérica de algumas delas (e mesmo neutra) ou de grande relação com os direitos individuais – como explicitamente no caso da descriminalização das drogas e da liberdade de expressão – tem possibilitado a aproximação de elementos da classe política – tanto de esquerda como de direita [3] – e também de novas empresas e ONGs com foco no marketing virtual, na publicidade e na cultura.
II. O coletivo Fora do Eixo
A experiência precursora ao Fora do Eixo ocorreu em 2000 com o Espaço Cubo – “a cultura que você não vê na TV” –, fundado por Pablo Santiago Capilé, 31 anos. Na época estudante de publicidade e marketing da Universidade de Cuiabá, Capilé incentivava as bandas da cidade organizando festivais e, assim, formando um mercado cultural independente [4]. Com o crescimento da organização alugaram uma casa de show e, inspirados no conceito de economia solidária de Paul Singer, criaram uma moeda baseada no trabalho envolvido na produção dos eventos, o Cubo Card.
Num novo fôlego para ampliar a rede, no final de 2005, Capilé formou o Fora do Eixo, um coletivo de gestores da produção cultural independente com o objetivo de promover festivais com intercâmbio de bandas e outras expressões artísticas e contando com a articulação de quatro cidades: Cuiabá, Rio Branco, Uberlândia e Londrina. Diferentemente da produção cultural mainstream, o coletivo estimula a cultura fora do eixo Rio-São Paulo. Hoje o Fora do Eixo possui 57 coletivos espalhados pelo país. Segundo a organização, eles possuem a capacidade de realizar 5 mil shows por ano e em mais de 100 cidades. Em seu catálogo figuram algumas estrelas da música independente da atualidade como o rapper Emicida e as bandas Macaco Bong, Mombojó e Vanguart. O organograma interno do Circuito Fora do Eixo pode ser visto aqui.
Desde o início de 2011, membros do coletivo de Cuiabá e Uberlândia se mudaram para São Paulo e inauguraram uma casa no Cambuci como sede do Fora do Eixo – a CAFESP (Casa Fora do Eixo – SP). O aluguel de R$ 4 mil sustenta um espaço para shows, estúdio, salas de reunião e a hospedagem de 18 membros “liberados” que trabalham 24 horas por dia para o coletivo, não recebem salário, mas em troca têm suas despesas pessoais pagas pelos cartões do coletivo; esse investimento individual e comportamental é denominado de se “entregar para a causa” [5].
Atualmente a CAFESP realiza shows todos os domingos com churrasco e cerveja “na faixa”. Mas o principal deste projeto não se trata de festas, conversas e diversão. A sede do coletivo no “eixo” (e não fora dele), como se poderia supor, trata-se de uma estratégia para alcançar o mainstream cultural:
“Agora, com a trama bem costurada em 112 cidades, a estratégia é ganhar o mainstream, atrair artistas com carreiras mais consolidadas e criar um pólo para atrair gente, dinheiro e oportunidades. Em parceria com o Studio SP, principal palco da cidade para novos músicos, já ganharam as noites de terça-feira para agendar bandas do Brasil e da América Latina.” [6]
Para sustentar todo esse recurso material e projeto político-cultural, há uma constante pesquisa de editais para financiamentos públicos e privados combinada com a elaboração e envio de projetos para captação dos recursos neles disponibilizados. Em 2010 inscreveram-se em cerca de 125 editais e, com mais de 30 aprovados, captaram aproximadamente R$ 2 milhões para os projetos (festivais de música, de cinema, de economia solidária, etc.) e R$ 300 mil para as despesas do “institucional” [7]. Um outro aspecto interessante é que eles possuem diversos tipos de cadastro jurídico: associações culturais, empresas, ONGs, casas noturnas. No total são 57 CNPJs [número fiscal] a serviço do FdE, uma fluidez que permite um amplo leque de atuação dentro dos negócios. Além dos editais há também propostas comerciais para emissoras de rádio como a OI FM.
O Fora do Eixo se constituiu e articulou através do programa Cultura Viva do Ministério da Cultura, na gestão do ex-ministro-cantor Gilberto Gil e Juca Ferreira. E fora do governo encontrou o suporte das organizações, empresas e indivíduos que orbitam a “cultura digital” [8].
III. Os embates no Ministério da Cultura
O programa Cultura Viva realizou a distribuição de recursos pelos Pontos e Pontões de Cultura [9], numa parceria direta organizações-governo para fazer cultura. A mudança nas gestões Gil e Juca transformou um Ministério de pequeno orçamento em algo relevante no cenário cultural, com a possibilidade de alteração da Lei do Direito Autoral. No artigo “A economia criativa e a economia social da cultura“, Pablo Ortellado descreve quatro grandes mudanças que ocorreram no Ministério durante esse período: reconhecimento das mudanças das novas tecnologias, política cultural para todos os atores da cadeia produtiva, direito autoral como uma garantia de acesso aos bens culturais e o investimento nos novos modelos de negócios.
Longe de ser uma política de integração nacional através da cultura para forjar a identidade do povo brasileiro presente em outros momentos da história brasileira, o objetivo dos Pontos de Cultura foi estimular uma cadeia de produtores culturais a se intercomunicarem via novas tecnologias para estimular a diversidade cultural brasileira. Ao invés da repetição e massificação da indústria cultural denunciada pelos frankfurtianos, dessa forma haveria a produção “genuína” de cultura, nos quatro cantos do país, isto é, em tese, novos mercados e mais produtores que não precisariam da infra-estrutura produtiva das transnacionais da cultura e dos oligopólios culturais regionais. A prospecção de cultura num primeiro momento abriria a oportunidade para um segundo em que ela entraria na esteira da exportação internacional inserindo a produção cultural brasileira no mercado sul-sul, o que de fato não chegou a ocorrer mas alia-se assim ao pensamento de desenvolvimento nacional do governo Lula.
No entanto, com a mudança no Ministério da Cultura, a ministra Ana Buarque de Hollanda tem confrontado as decisões das últimas gestões, como a retirada do logo do Creative Commons, a paralisação dos editais e premiações, e a reforma da Lei do Direito Autoral. Desta forma, acena para os gestores das transnacionais da cultura e dos oligopólios culturais regionais.
A mudança política tem fechado a porta para os recursos dos pontos de cultura [10] e para as mudanças na Lei do Direito Autoral, as quais beneficiariam o modelo de negócios adotado pelas organizações parceiras e o próprio Fora do Eixo. Em resposta foi fundado o “Partido da Cultura”, o PCult, uma organização suprapartidária contra a ministra Ana Buarque, pela retomada e “continuidade das políticas do Gilberto Gil” e também o MobilizaCultura, uma “rede das redes” para “propor políticas no campo da cultura que radicalizem a democracia” [11].
Para essas organizações do campo da cultura digital, a gestão de Ana Buarque, e num aspecto geral o governo Dilma, estão sendo um “retrocesso das conquistas”. Por outro lado, a prática realizada anteriormente por algumas organizações e coletivos reencena o patrimonialismo, que um entrevistado nos descreve:
“Apesar do discurso e da estética anarquistas de muitos, e da adoção de organizações horizontais, como redes e coletivos enquanto forma de organização, a apropriação do Estado – seus recursos e estruturas – é umas das principais práticas do Fora do Eixo. Já enraizados no aparelho do Estado, principalmente no MinC [Ministério da Cultura] mas não só, participam da elaboração dos editais para projetos culturais e de novos tipos de políticas públicas, como os de promoção do uso de softwares livres e da consolidação da Economia Solidária, cuja articulação entre essas tecnologias e o Estado é de criação e exclusividade deles. Assim, ao incorporarem ao Estado (e não só aos governos) a necessidade de políticas nestas áreas, garantem também a exclusividade na apropriação dos recursos destinados a estas mesmas políticas. O interessante é que por fazerem tudo isso usando de estruturas informais e completamente diferentes das que as organizações político-partidárias e tradicionais grupos empresariais adotam para os mesmo propósitos, é praticamente impossível para um observador desatento ou viciado nas velhas estruturas identificar e combater o novo sujeito formado por este coletivo (ou rede). Outra característica é para a maioria dos membros deste coletivo/rede aumentar o próprio poder já é o mais importante, por mais que para um ou para outro o discurso propalado ainda seja o que os movem, e ao invés de executarem os projetos financiados pelos editais que eles mesmos criaram, usam dos recursos e da estrutura do Estado para se articularem por todo o país e garantirem o tempo livre necessário para o desenvolvimento de novos editais, novos discursos, consolidação de práticas e de tecnologias que os mantêm.”
Nessa perspectiva, para estes grupos como Fora do Eixo e Cultura Digital, o embate se dá numa disputa por quem ficará com aquele quinhão do orçamento do Ministério da Cultura, não que o acesso a ele seja para fins diferentes num caso ou em outro.
IV. Cultura livre e os novos modelos de negócios
Os novos modelos de negócios partem da inovação tecnológica e jurídica realizada pelo Software Livre que, quando transportados para o campo da cultura, criam uma produção com a ausência ou flexibilidade do direito autoral, permitindo assim novas formas de geração de valor. Incentivado pelo Fora do Eixo e pelas organizações que compõem a Cultura Digital, o modelo é conceituado como “open business” (negócios abertos ou novos modelos de negócios, em português). A pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas, Oona Castro, define dois tipos de open business: um é fruto do uso do instrumento legal (licenciamento em Creative Commons, por exemplo) – e o outro, uma situação social, na qual há produção em rede com flexibilização da propriedade intelectual como o mercado tecnobrega do Pará. A cultura resultante desse processo é denominada cultura livre.
O open business é a transformação do modelo de negócios de um mercado monopolista em concorrencial, ou seja, dada a natureza não rival do bem digital e a cópia a custo próximo de zero, o lucro passa a depender da produção material (camisetas, adesivos, etc.) e, principalmente, dos shows; caminha-se assim da renda para os serviços. Para as transnacionais da cultura e os oligopólios culturais regionais, isso significa a modificação do seu papel de intermediador entre mercado e consumidor, e, na dimensão econômica, a extração de lucro por renda é ameaçada.
Advogado e fundador da Creative Commons, Lawrence Lessig afirmou em seus artigos e livros que o termo “cultura livre” (free culture) é análogo ao “livre mercado” (free market). Em seu livro “Free Culture“, Lessig afirma que “a cultura livre que eu defendo nesse livro é um equilíbrio entre anarquia e controle. Uma cultura livre, como um mercado livre, e composta de propriedades. Ela é composta por regras de propriedade e contratos que são garantidos pelo Estado. Porém, da mesma forma que um mercado livre é corrompido se sua propriedade se torna feudal, da mesma forma uma cultura livre pode ser deturpada pelo extremismo nos direitos à propriedade que a definem. Isso é o que eu temo sobre a nossa cultura atual. Foi por causa desse extremismo que esse livro foi escrito.” [12]
Os autores de “Copyright, Copyleft and the Creative Anti-Commons”, Joanne Richardson e Dmytri Kleiner, analisam essa noção de liberdade: “Uma obra é livre na medida em que pode ser comercialmente apropriada, uma vez que a liberdade é definida como a circulação ilimitada de informação e não como algo livre de exploração.” [13]
A ideologia da cultura livre baseia-se na ideia de que a flexibilização da propriedade intelectual com a concorrência proporcionada pelo livre mercado pode estimular a criação e, nesse processo, democratizar a informação e assim as nações caminharem ao progresso. De fato, quanto maior a flexibilização da propriedade intelectual, maior a produtividade dos trabalhadores e, por isso, maior a produção de riqueza a ser apropriada e transformada em mercadoria. Em síntese, a cultura livre é a própria regra do jogo do capitalismo, a apropriação de algo que a classe capitalista não produz.
Dessa forma, a aliança política tática formada por um programa de oposição às transnacionais da cultura e os oligopólios culturais regionais acabou por ocultar a reflexão crítica sobre o que há de surgir em seu lugar.
V. Gestores e a política Fora do Eixo
A principal atividade econômica do Fora do Eixo não é a produção de um produto, mas a comercialização de seus serviços, os quais se especializam através da gerência dos processos da cooperação social, os tais festivais. É por essa razão que se posicionam contra a existência da figura do “intermediador”, isto é, das transnacionais da cultura e os oligopólios culturais regionais e sua relação entre produtores e mercado. No caso da cultura livre trata-se de um conflito no interior da classe capitalista: de um lado, rentistas da cultura e gestores da produção cultural [14] e, do outro lado, gestores da cultura digital e os artesãos da cultura, em que trabalhadores por conta própria na produção de consumo de luxo – de forma a maximizar seus ganhos – posicionam-se ao lado dos segundos sob o embate de produtivos versus improdutivos. Fora desse debate, há artistas que de certa forma preferem manter-se ao lado da “velha” indústria autoral, talvez não ideologicamente, mas pelo privilégio do circuito de apresentação mainstream exclusivo para os artistas das majors; uma típica situação de rentista que quer manter o monopólio sobre determinado bem do qual aufere renda. Resta ainda saber onde ficam os proletários que fabricam as mídias na Zona Franca, os que operam o som, os que produzem equipamentos, os que vendem os ingressos etc.
Os artistas do catálogo do circuito do Fora do Eixo representam um nicho de mercado em crescimento, mas que são consumidos como novidade, o diferente, e da mesma forma que outro produto, o risco da estagnação do mercado também existe. Mas, com a vinda do coletivo para São Paulo, trata-se de expandir o mercado divulgando a marca “Fora do Eixo” em mobilizações de jovens com o perfil consumidor de seus produtos [15].
O trabalho do FdE é fazer serviços para outros. Fazem realmente como um coletivo e não como proprietários de algo. Mas isso é justamente o que os identifica como gestores: possuir o know-how, o trabalho baseado no conhecimento e na gerência dos processos. Um tipo de trabalho que é possível vender e não ficar sem ele, já que conhecimento é um bem não rival.
Mas além dessas implicações econômicas, na esfera política há outras sobre as quais é necessário refletir. Para o Fora do Eixo a cultura é apenas um pretexto e, atualmente, passaram a buscar meios para chegar na política. Segundo Capilé, o coletivo conseguiu nesses 5 anos “musculatura e capilaridade nacional” e no dia 18, na Marcha da Liberdade, vão mostrar a força da organização.
Em entrevista para a coletânea “Produção Cultural no Brasil”, Capilé responde o que pretendem na política formal:
“Pretendemos criar um ambiente favorável para que daqui há trinta anos o presidente da República possa sair de uma perspectiva ligada a isso que nós estamos construindo. Há trinta anos, ele saiu do sindicato, então podemos tentar criar uma plataforma onde a cultura consiga ganhar mais espaço na agenda.”
Não por acaso, o Fora do Eixo possui instituições semelhantes às do governo como o “Diário Oficial FDE”, “Congresso FDE”, “Casa Civil”, etc. Na análise de Capilé, o momento atual com a ministra Ana Buarque de Hollanda é de enfrentamento e, de uma forma geral, isso é possível graças à construção desse (novo) meio de produção. Além da raiz econômica, a projeção na burocracia os configura politicamente enquanto uma classe gestora, classe que em outros momentos históricos possuiu como projeto a renovação das elites. Mas enquanto dispersos em organizações e instituições, os gestores confundem-se com os trabalhadores na sua oposição à burguesia.
Em caráter elogioso, Alexandre Youssef fez recentemente uma análise sobre o FdE:
“Imaginem um liquidificador em que se possa colocar as ramificações da esquerda, com estratégias e lógicas de mercado das agências de publicidade, misturando rock, rap, artes visuais, teatro, um bando de sonhadores e outro de pragmáticos, o artista, o produtor, o empresário e o público. Tudo junto e misturado. O caldo dessa batida é uma nova tecnologia de participação e engajamento que funciona de forma exemplar para a circulação e produção musical, mas que acima de tudo é um grande projeto de formação política.
O Fora do Eixo cria, portanto, uma geração que se utiliza sem a menor preocupação ideológica de aspectos positivos da organização dos movimentos de esquerda e de ações de marketing típicas dos liberais. É, como disse o teórico da contracultura Cláudio Prado, a construção da geração pós-rancor, que não fica presa à questões filosóficas e mergulha radicalmente na utilização da cultura digital para fazer o que tem que ser feito.” [grifos nossos] [16]
Podem utilizar os meios militantes e ativistas para ampliar sua influência política e até para expandir seu mercado consumidor de cultura independente, mas não deixarão de ser o que são – uma classe de gestores que visa renovar a burocracia.
VI. A esquerda fora do eixo
Desde a ascensão do PT ao governo e o processo da oposição virar a ordem, forjou-se um pacto social entre as classes que configura-se através da pacificação dos movimentos sociais [17] e diminuição do desemprego por um novo ciclo econômico; além disso, o acesso ao crédito fácil e o Bolsa Família permitiram às classes mais baixas adentrarem no mercado de consumo básico. E, de forma arrebatadora, a promessa de um futuro dourado estaria garantida com a exploração petrolífera da camada pré-sal que permitirá o ingresso do país na OPEP. O brado retumbante do ex-presidente Lula de que “Nunca antes na história desse país…” expôs que, de fato, não se pode mais designar o Brasil como um país “atrasado” na economia global [18].
A conjuntura econômica liquidou o programa de oposição ao governo, seja de direita ou de esquerda, e suas críticas aos programas do governo transmutam-se de acordo com a maré eleitoral: ora dobrar-se-ia o Bolsa Família, ora o mesmo não passaria de um novo clientelismo. O que restou da generalidade dos críticos de esquerda é a sustentação do “socialismo da miséria” [19] e, sem saber responder à social-democracia brasileira, na melhor das hipóteses formulam-se propostas que não ultrapassam a sua própria lógica, como a crítica às consequências da realpolitik governista, isto é, ao enriquecimento a partir dos cargos públicos.
Nesse cenário de transformação global que elevou a imagem do Brasil a hype – sintetizado na capa da The Economist que apresenta a ignição do Cristo Redentor rumo ao espaço –, o “Churrascão da gente diferenciada” revela o seu caráter politicamente ambíguo, em que a incorporação do discurso “antielitista” passou a ser um recado para a nobre elite de Higienópolis: o futuro dos negócios chegou, não ignorem as novas classes médias, pois, mesmo morando na periferia, a sua empregada também pode consumir uma TV de plasma e ter um carro na garagem. O “churrascão” pode, sim, ser compreendido como um ritual lúdico para profanar – sem deixar de estigmatizar – uma elite deslocada do seu tempo, dando boas-vindas aos mais novos consumidores do mercado brasileiro. Um processo que limita-se à modernização da mentalidade e renovação das elites, e que, por isso, foi incapaz de revelar a incoerência de destinar mais recurso público para a ampliação da oferta de transporte público na região mais rica da cidade.
Sem o teatrinho de luta de classes ou antifascista, o que representa a onda anti-Bolsonaro é a recusa em aceitar uma elite arcaica no poder. Antes, a bola da vez foi o senador José Sarney com a hashtag #forasarney no Twitter. Da espontaneidade das mídias sociais não saiu outra pauta política que não fosse a renovação ou rejeição da elite política e econômica.
Os elementos da composição dessa nova elite passam pelo consumo e sustentação de novos habitus, como se deslocar para o trabalho de bicicleta ou a pé – algo inimaginável para um morador da periferia –, reciclar seu lixo, cuidar de pequenas hortas em casa, consumo de orgânicos, baixar músicas e minutar os momentos do dia numa mídia social. As preocupações políticas passam principalmente pela legalização das drogas e pelo meio-ambiente. Uma geração “pós-rancor” que não se apega a discussões “filosóficas”, como define, de forma elogiosa, Cláudio Prado.
Esse descontentamento com o “Brasil potência” tem sido abarcado pelo movimento liderado pela ex-petista Marina Silva. Se ao adentrar o poder o PT implementou um pacto social e tirou de cena os movimentos sociais, é também através da conciliação de classes que os ambientalistas buscam fazer oposição, seja eleitoralmente, nas manifestações ou na criação de um novo habitus. O clímax desse discurso será ano que vem no Rio +20 [20], evento para o qual diversas organizações já preparam as suas ações.
Juntam-se ao campo de “oposição” os grupos que anteriormente hegemonizavam o Ministério da Cultura, como o Fora do Eixo e as ONGs e empresas da Cultura Digital. Essa coletividade ambiental, “antielitista” e “alternativa” é uma das redes que permeiam a Marcha da Liberdade; um nome neutro que pode tanto servir para a Coca-Cola quanto para ativistas inseridos num projeto de classe.
Mas, o que o Fora do Eixo apropria da manifestação? Eles se apropriam da comunicação para se projetarem, capturar o “status” de organizadores e depois capitalizar esse público em seu circuito comercial. Esse método difere, por exemplo, de uma campanha do PT ou PSDB, pois não utiliza força de trabalho assalariada para construir sua base social. As ações do Fora do Eixo são a propaganda da organização para o alargamento do mercado e a manutenção de atividades gratuitas para angariarem simpatizantes.
Numa manifestação onde a quantidade de pessoas é consequência da divulgação nas mídias (corporativas e sociais) e não uma causa “real” relacionada ao trabalho cotidiano de formação, construção e mobilização, o refluxo de uma hora para outra é iminente. Um processo semelhante a Marcha da Liberdade são os acampamentos em Portugal e Espanha [21].
Nos limites da renovação e modernização das elites, com esta “geração em rede” mascara-se o conteúdo político das ações de um setor ascendente de uma classe dominante para evitar que se perceba isto que é e jamais poderá deixar de ser um confronto político.
NOTAS
[1] Higienópolis é um bairro de classes média-alta e alta de São Paulo. A sua origem histórica remete ao estabelecimento das famílias aristocratas, mas no decorrer do século XX passou a receber migrantes de origem judaica. Consultado aqui.
[2] Alexandre Youssef é um dos fundadores do site Overmundo, que tem em seu staff Ronaldo Lemos e Hermano Viana. Durante a gestão Marta Suplicy foi coordenador da juventude. Hoje é filiado ao Partido Verde e colunista da revista Trip.
[3] Como a ex-petista Soninha Francine (PPS), coordenadora da campanha virtual do candidato à presidência José Serra, que participou da Marcha da Maconha e da Marcha da Liberdade.
[4] “Independente” e “alternativo” são os termos vagos que as empresas encontraram para ocultar que trata-se de um nicho de mercado para o público universitário e similar.
[5] O jornalista Bruno Torturra categorizou a disciplina do coletivo como “espartana”.
[6] Ministério da Cultura, Revista Trip, 12/05/2011, disponível aqui.
[7] A lista dos editais é pública e pode ser acessada aqui.
[8] Cultura digital é a produção baseada nas novas mídias, mas também é o nome da ONG fundada por Cláudio Prado para gerir o programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura. O conceito desenvolvido por essas organizações pode ser lido aqui.
[9] Segundo Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura, o Ponto de Cultura é “uma espécie de ‘do-in’ antropológico, massageando pontos vitais, mas momentaneamente desprezados ou adormecidos, do corpo cultural do País”. Ver aqui.
[10] Artista considera cancelamento de editais do Minc preocupante.
[11] http://www.mobilizacultura.org/site-em-construcao-2/mobilizacultura/
[12] LESSIG, Lawrence. “Cultura livre: como a grande mídia usa a tecnologia e a lei para bloquear a cultura e controlar a criatividade”. São Paulo: Trama, 2005.
[13] RICHARDSON, Joanne e KLEINER, Dmytri. “Copyright, Copyleft and the Creative Anti-Commons”. Berlin, 2006. Disponível aqui.
[14] Sobre a discussão dos gestores enquanto classe, leia a nota 2 do artigo “Extrema-esquerda e desenvolvimentismo (2)”, publicado aqui.
[15] Não será necessária uma análise quantitativa para saber o quanto da esquerda presente nessa série de manifestações corresponde como um potencial público-alvo para os serviços do Circuito do Fora do Eixo.
[16] Ministério da Cultura, Revista Trip, 12/05/2011, disponível aqui.
[17] De fora para dentro, os movimentos sociais passam por um processo de cooptação e pacificação pelo governo, e, de dentro para fora, a burocratização das lutas impede a generalização das relações horizontais e solidárias entre os movimentos. Ver o artigo “Entre o fogo e a panela: movimentos sociais e burocratização“.
[18] O Passa Palavra investiga numa série de artigos as mudanças profundas que o Brasil tem passado, ver aqui.
[19] Ver “Socialismo da abundância, socialismo da miséria“, de João Bernardo.
[20] http://www.uncsd2012.org/rio20/
[21] “A mobilização assembleiária não se inventa de cima para baixo. Ou nasce de baixo, ou não acontece. Ou corresponde a interesses de classe mais definidos, exprimindo contradições reais da sociedade e medindo forças no terreno, ou se ficará sempre pelos limites – estreitos e efémeros – de uma espécie de festa dionisíaca politizada.” Trecho do artigo “Acampados“.
De uma forma geral gostei do artigo enquanto início de uma análise sobre essa nova classe econômica em ascensão desde o advento da chamada Web 2.0.
Acho, no entanto, muito problemático colocar no mesmo saco o movimento “Fora Bolsonaro” (revelando uma ignorância heterossexista à violência sofrida por gays e lésbicas no Brasil), os acampamentos na Espanha (que está muito além de algo meramente “dionisíaco”), e o neo-liberalismo 2.0 em curso no Brasil. São processos políticos muito diferentes que pedem análises de conjuntura bastante específicas
O que eu vejo em comum entre essas 3 questões não é tanto as motivações que lhes originaram, mas a maneira como estão sendo exploradas midiaticamente (incluindo na mídia FaceBook – um novo tipo de mainstream), para construir Aqui e em outros países a imagem do “novo tempo que estamos vivendo” – um “novo tempo” em que a burguesia high tech deseja ver imperando em prol dos seus lucros.
A questão não é negar a necessidade que apontam esses movimentos. É entender quais processos de violência e opressão eles vêm tornando invisíveis (como o próprio texto coloca: quem está fabricando os DVDs?). Dar visibilidade aos limites dessa democracia alternativete e hightech.
Olá Arth e pessoal,
Não consegui entender Arth, de fato, sua objeção em relação ao que está esboçado nesse artigo. Mesmo porque, pelo que me parece, em nenhum está deixado de lado a perspectiva de que análises específicas de determinados contextos devem ser realizadas – e, no mais das contas, são fundamentais.
Alías, se me permite o apontamento, é justamente isso que o texto ensaia. Assim, joga as claras e empreende uma crítica a partir da apresentação da conjuntura paulista, tentando entender como essas diferentes lutas – sim, são distintas – convergem para uma mesma encruzilhada da extrema-esquerda que se envolve nas mobilizações sociais descritas.
No fim das contas, e para terminar, acho que você mesmo destaca o argumento central aqui desenvolvido pelo texto – ou seja,o que significa a emergência de uma nova classe gestorial, sua ambiguidade na relação com a esquerda e suas organizações, as possibilidades de renovação das elites e o fortalecimento da produtividade capitalista decorrente desse processo colaborativo.
Nisso, pelo que consta, estamos de acordo. Daí a importância – como o texto mesmo evidencia e você também ressalta – de jogarmos luz sobre os mecanismos de funcionamento e conflitos sociais que permeiam toda essa “cadeia da cultura livre”.
Abraços!
Tá, a “extrema-esquerda”, nesse caso devem estar falando dos que seguem a concepção leninista de revolução, tem mesmo uma certa dificuldade em lidar com essas novas formas de relacionamento e de envolvimento de uma classe-média “cult bacaninha” que vez em quando resolve pensar em política através de temas como reciclagem, fumaça de carros, ricos arrogantes, amigos gays que apanharam…
Mas, sim, e aí? Ir às ruas levantar cartazes e falar mal de alguma coisa é o fim do processo?!
E desde quando nunca se tentou “economia solidária” ou processos colaborativos de produção economica? Em toda história da humanidade tentaram experiencias parecidas.
Não deu certo porque existe uma estrutura imensa chamada ESTADO. Essa estrutura imensa considera todo o território ao seu redor parte do seu controle. O ESTADO, nos marcos do capitalismo, o sistema político-economico no qual estamos inseridos, é controlado pela burguesia, e fim! Não tem muito o que explicar além disso.
Muito bom o artigo! Parabéns ao PP!
Alguns comentários:
– Fiz parte da geração que se formou no contexto das mobilizações de “resistência global” no Brasil, meio no qual muito dessa discussão de tecnologias alternativas surgiu.
– Sempre foi uma preocupação, para mim, essa noção de que as novas tecnologias (ainda que abertas etc.), sem um projeto político-ideológico que as levasse para algum lugar, seriam prontamente apropriadas pelo mercado. Da mesma maneira que diversos setores alternativos e o discurso ecológico o foram…
– Hoje o que caracteriza, em grande medida, os processos de open source etc. não é mais do que uma forma alternativa para se buscar o mercado. Com um discurso mais modernizado, é verdade. E independente do discurso de “organização horizontal, “rizomática”, ou qualquer coisa que o valha, isso está sendo feito em proveito do capitalismo.
– Parece que parte significativa da esquerda contentou-se com esse projeto do “compro com eco-bag, como orgânico e vou trabalhar de bicicleta”… O que não deixa de ser um tanto cômodo, assim como a “militância” virtual. Afinal, fazendo isso você não apanha da polícia, não tem que trabalhar muito, não corre o risco de ser preso e nem de ser demitido.
– Pensando politicamente, em termos de correlação de forças, o que essa “nova esquerda” — se é que ela é esquerda, pois para mim já se caracteriza como direita — tem a oferecer ao modelo de capitalismo de Estado em que vivemos? Obviamente nada. O projeto não acumula força e foca-se em setores que nem sequer são aqueles que tem sofrido realmente os efeitos do capitalismo.
– Difícil parece ser a articulação de lutas que tenham um evidente corte de classe e que empodere aqueles que lutam para a construção de um projeto político de poder. Difícil e nada “cool”; afinal, trabalho de base que é bom, essa turma — para não dizer a imensa maioria da esquerda — abandonou faz tempo.
– Volto a uma máxima que venho sustentando há tempos. Em relação aos projetos “políticos” desse tipo, qualquer alternativa de servir sopão na Praça da Sé possui sentido mais radical, e ao menos proporciona um contato maior com a realidade… Triste realidade.
Garanto que o pessoal criticado já leu e retuitou o artigo. Mas duvido que tenham algo a dizer além do que já foi dito.
Quando é que o Passa Palavra vai passar a palavra, já que está ficando difícil conseguir acompanhar as matérias colocadas em destaque.
Dessa aqui já não entendi nada, onde é que querem chegar? Sem conclusão, sem sugestão final? Que uma ong “fora do eixo” está tentando (conseguindo ou não) – para colocar no seu cv – se apropriar de uma mobilização popular? Qual a novidade?
Pra começar, o primeiro parágrafo que fala nada com nada sobre umas conversas internas do MPL de São Paulo. O que tem a ver e quem vai entender?
Pulando uns parágrafos rançosos, chega-se a despolitização das Marchas da Liberdade. Não sei de nada. Na página da Marcha, as reivindicações estão mantidas http://www.marchadaliberdade.org/2011/06/a-marcha-pelo-brasil/.
E aí vai embora falando sobre a rede “fora do eixo”. Não tenho interesse em conhecer. Deve ter muitas delas, se aproveitando de brechas e editais, como igualmente tem muitas faculdades de renome, como a FGV, ensinando como fazer. É o capitalismo se ajustando, aprimorando. Repito: qual a novidade, posso saber?
O Irlan falou tudo a respeito.
Brjs.
Manolo, a não ser que o PP tem seu facebook e twitter, duvido. O PP é um blog qualquer, longe do “mainstream”. Quem acessa é quem faz parte da família. Dá pra ver pelos comentários. Quase sempre os/as mesmos/as a comentar.
Brjs
Eric,
Se não há novidade em nada disso, não faz sentido existir espaços de debate. Acabemos com tudo isso e vamos fazer outra coisa da vida. Aliás, a relevância do texto não é a de ter apontado o novo, mas o velho, a forma que o velho se recoloca travestindo-se de novo.
A respeito da marcha da liberdade, você diz que o texto a despolitiza, quando eu vejo precisamente o contrário: põe em evidência questões políticas que estão de fundo. E, para poder enxergar estes forças que estão em jogo por trás da fumaça das aparências, é preciso ir além das meras pautas de reivindicações. Porque, se isso fosse o suficiente para imunizar um movimento de suas contradições, não teríamos por que discutir estratégias de organização, mobilização, etc. Bastaria que fôssemos ao mercado das pautas impossíveis e levássemos a mais radical delas para casa, e pronto.
O artigo não apela para que as pessoas não marchem, apenas chama a atenção para uma contratendência que nasce e se alimenta do próprio movimento, e que, se vencer, fará desta mobilização popular uma grande nova derrota. E só porque não é novidade, isso não é relevante? Mais espantoso é que você coloca entre parenteses aquilo que deveria ser tomado como questão fundamental. Cito: “Que uma ong “fora do eixo” está tentando (conseguindo ou não) – para colocar no seu cv – se apropriar de uma mobilização popular?”
É justamente este conseguir ou não que é o cerne da questão, um desafio prático que está colocado, e para o que o artigo apenas quis chamar a atenção.
Sinceramente, me diga, você não acha que é uma novidade relevante analisar e entender as formas pelas quais o capitalismo vai “se ajustando, aprimorando”?
Abraços,
Taiguara
A reportagem é muito elucidativa e concordo plenamente com a forma que se apresenta o Estado tendo cooptado movimentos de aspiração libertária que, contudo, ainda precisam de um patrão, um patrono e um patrimônio.
Mas discordo da demonização das “redes sociais” (eletrônicas ou não). Elas não são “irreais”, elas são reais, o que elas possibilitam existe e acontece. Elas são tão reais quanto livros, telefone, correspondências, telégrafos, e sinais de fumaça.
Se não fosse a internet, os movimentos “anti-globalização” da virada do século não seriam o que foram. Aliás, o que é este site, Passa Palavra? Pois bem…
Sejamos mais realistas e estratégicos ao pensar as potencialidades dessas redes, já que estamos nelas tanto como peixes quanto como pescadores. Elas são controladas, vigiadas sim, com certeza… mas também são manipuláveis por nós.
Irlan e Eric têm toda a razão. Para quê esmiuçar análises e ter trabalho a raciocinar sobre as coisas em profundidade? A história das lutas sociais não é mais do que uma longa série de vitórias obtidas graças à ignorância e à preguiça mental. Continuemos assim que o destino é certo.
Ótimo artigo, para entender – ao menos a princípio, pois foram vários os pontos levantados – as redes e como a cultura vem se mobilizando para um novo olhar e uma nova ação na conjuntura das produções culturais. Deixo aqui um desabafo e, talvez um grito de socorro: precisamos de coletivos que atuem na educação! Na cultura, são os eventos (que, claro, além de toda luta por financiamento fora do maistream, proporciona encontros de grande importância para discussões, ações e transformações políticas), mas na educação as coisas acontecem mais lentamente, existe um cotidiano de atividades relativemente repetitivas, que envolvem os mesmos atores, relações que tendem a se apagar pela mesmisse e pelo pessimismo. Fica a pergunta de uma não mais jovem e pobre professora, angustiada por meios para a construção de novas saídas para a educação: ONDE ESTÂO OS COLETIVOS – E NÂO ONGS – PARA ENCARAR O BURACO NEGRO DA EDUCAÇÂO? Não sei se é relevante levantar essa questão aqui nesse comentário, mas durante a leitura do texto não conseguia parar de pensar na minha prática… enfim, fica o desabafo!
Olá,
Volto a intervir para esclarecer um lapso. Peço desculpas pelo ocorrido.
E, para além desse ponto, gostaria de chamar atenção para uma interpretação crítica possível sobre a conjuntura de mobilizações atuais – elaborada, justamente, por um colaborador ativo dos “Acampamentos da Espanha”.
Em primeiro lugar, o lapso: no parágrafo que se inicia com a frase “Não consegui entender Arth, de fato, sua objeção em relação […]”, está colocada a seguinte sentença – “Mesmo porque, pelo que me parece, em nenhum está deixado de lado a perspectiva de que análises específicas de determinados contextos devem ser realizadas – e, no mais das contas, são fundamentais”. Peço aos que estão acompanhando o debate que incluiam a palavra “momento” após “nenhum”. Assim, tudo fica um pouco mais esclarecido de minha parte.
Quanto ao comentário crítico elaborado por um colaborador dos movimentos espanhóis, acho que seria de grande valia que as pessoas pudessem acompanhar a intervenção de Manuel Delgado sobre o que ele chama de “peligro ciudadanista”. Cito dois trechos – que, inclusive, dialogam com a questão de “classe” apresentada no excelente comentário de Felipe Côrrea – para instigar a leitura dos interessados:
“[…] lo que pienso –y temo– es que esta movilización se pueda homologar como un episodio más de lo que podríamos llamar el movimientismo ciudadanista. El ciudadanismo es la ideología que ha venido a administrar y atemperar los restos del izquierdismo de clase media, pero también de buena parte de lo que ha sobrevivido del movimiento obrero. El ciudadanismo se concreta en un conjunto de movimientos de reforma ética del capitalismo, que aspiran a aliviar sus efectos mediante una agudización de los valores democráticos abstractos y un aumento en las competencias estatales que la hagan posible, entendiendo de algún modo que la explotación, la exclusión y el abuso no son factores estructurantes, sino meros accidentes o contingencias de un sistema de dominación al que se cree posible mejorar moralmente. El ciudadanismo no impugna el capitalismo, sino sus «excesos» y su carencia de escrúpulos”.
“El ciudadanismo suele concretarse en movilizaciones masivas destinadas a denunciar determinadas situaciones consideradas injustas, pero sobre todo inmorales, y lo hace proponiendo estructuras de acción y organización lábiles, basadas en sentimientos colectivos mucho más que en ideas, con un énfasis especial en la dimensión performativa y con frecuencia «artística» o festiva. Prescindiendo de cualquier referencia a la clase social como criterio clasificatorio, remite en todo momento a un difusa ecumene de individuos a los que unen no sus intereses, sino sus juicios morales de condena o aprobación […]“.
O texto pode ser acessado no endereço em destaque: http://manueldelgadoruiz.blogspot.com/2011/05/el-peligro-ciudadanista-intervencion-en.html
Já o outro artigo, também interessante, sobre diferentes visões desse mesmo fenômeno pode ser consultado em: http://www.derechoaleer.org/2011/05/%C2%BFque-cono-seran-los-perroflautas.html
Abraços!
Sybille,
acompanho as discussões em torno dessas organizaçoes há um tempo e também senti falta desse tema “educaçao”. Agora, lendo o artgo,entendo melhor pq. O Felipe C. foi claro: “o projeto não acumula forças e foca-se em setores que nem sequer são aqueles que tem sofrido realmente os efeitos do capitalismo”. Ou seja: as classes ligadas à educaçao e ao déficit de moradia (os mais pobres) ficaram de fora, não se juntaram. O foco cultural das casas FdE não são as classes mais oprimidas, então isso dificulta essa articulaçao.
Mas + recentemente acho que essa dificuldade não foi por incapacidade, mas, ao meu ver, pq aquelas classes não quiseram participar! A Marcha da Liberdade ficou muito marcada pela da Maconha, e o preconceito prevaleceu em não querer “misturar bandeiras” e “enviar o sinal errado”…a não ser que algo mude muito para a manifestaçao de hj….
Achei bom, interessante pra pensar, mas força a mão.
Sobre o ato anti-bolsonaro, cabe dizer que a principal organização política ali presente era trotskista. Além disso a expansão de grupos de skinheads entre jovens que lutam em academias é grande. É ridículo, como eram ridículos os encontros de bêbados em cervejarias bávaras cantando canções nacionalistas, mas fazem estrago e cerceiam o espaço público com alvos específicos, no caso, nunca contra judeus, por exemplo, mas direcionados em seu alvo no Brasil ao corpo das pautas da direita tradicional, chamada no texto como elite, pois, provavelmente, atem-se ao imaginário de quem os contesta.
Pois bem, eles existem atacam e estão por aí e seguem dentro destas pautas secundárias para se escudar. Estão na polícia, estão nas universidades e atacam as áreas do centro que são frequentadas não só pela classe média, mas pela classe trabalhadora que migra para estas regiões, pois são as únicas áreas de lazer, entre estes, alguns são gays que frequentam as poucas áreas que existem para isso.
E, mais ainda, entre os atacados estavam trabalhadores de casas noturnas e restaurantes que saem no período da noite, eis o motivo da solidariedade por parte de grupos trotskistas e eis que se irmanaram os white powers a causa do Bolsonaro, pois poderiam aí se escudar encontrar apoiadores e crescer.
Na revoada das galinhas verdes não estava apenas anarquistas, era uma frente, e foi reinvidicada por pessoas como Mário Pedrosa.
Acho que muitas vezes padecemos do perigo de analisarmos essas mobilizações convocadas pela internet com o mesmo fetiche de alguns comentários da imprensa. É a redução de uma relação consituída sobre e com um determinado meio, com o meio em si. Ele é pressuposto de onde se constituem relações, mas atrás do computador tem mão e, em outro lado um grupo organizado. E bem organizado por sinal.
O computador associado a internet é um meio de comunicação material que pode coordenar ações, fazer chamamentos cumprindo funções dos panfletos, mas que atinge um grupo específico que se amplia. o que chamávamos apoiadores eventuais. Estes estão em seus afazeres, não são destacados para a militância e podem apoiar pautas e atos eventuais a partir de figuras às quais confiam, em parte, instrumentaliza-se aí a rede de amizades, em níveis e eis a importância do facebook para quem racionaliza e instrumentaliza seu convívio social em função disso. Faltou tocar nessa tecla.
Parte deste embate é ideológico e sociológico, aí, vemos nascer uma possível nova classe dominante, mas que ainda não o é. Importante frisar isso, pois explica o porque ela é capilar e busca se enturmar na esquerda. Eis o ponto em que a podemos comparar à determinados partidos políticos, que podem se fingir de horizontal e anarquista o tempo todo para se imiscuir em redes de organização horizontal.
Eles imitam estruturas de estado para treinar formas de refuncioná-lo, eis um ponto importante que não conhecia sobre o grupo. O brasil só teve duas fontes de quadros gestores de estado, uma primeira foi o partidão, o PC. é fácil notar que hoje estes quadros de organização partidária e estatal que dá uma resposta falsamente representativa dentro de uma estrutura pressupostamente representativa que é o estado foi o que sempre fizeram. Eles estão espalhados por todos os partidos políticos de esquerda e de direita.
A segunda foi permitida pelos institutos de administração pública, lá se formou no final da ditadura, de caráter estritamente estatal, a funcionalização do estado para anular parte das demandas da constituição de 88, quando os liberais saem do bloco de apoio ao regime e vão para uma “oposição” anti estatista e aí, no brasil, financiada pelo instituto liberal, fundação do então pfl, hoje dem, o que chamamos de ideologia neoliberal a partir dos quadros de estado. O estado financiou o neoliberalismo e treinou seus gestores.
No caso, a esquerda volta a fomentar o nascimento de novo grupo de gestores, mas isso é sem mais ? Eles permitem avanço ou retrocesso no setor ? Expropriam ou permitem reapropriar cultura ? Tem sua forma pressuposta na forma indireta de poder extroverso do estado, isto é, de instituições fora do estado que cumprem funções do estado em seu lugar, ou seja, dentro do quadro de mudança neoliberal ?
E digo isso para pensar sua forma, não por ter saudades do estado em si. Para apenas pensar algo que, economicamente lhes é específico.
Mas em terceiro cabe ver o que aconteceu nesta aliança específica.
As pautas que não são especificamente relações de capital x trabalho não interessam à esquerda e não lhe dizem respeito ? Elas deveriam estar com liberais ou na fase liberal, mas como não estão não seriam de interesse da esquerda ?
Discordaria desta posição, mas acho que ela ainda não é formulada pelo coletivo, afinal, vejo denúncias volta e meia sobre questões ligadas a isso. Não acho que todas sejam impossíveis de se realizar no capitalismo, mas racismo, homofobia, origem, religião, machismo, etc, se associam com o capitalismo mantendo modos ainda mais aprofundados de exploração.
Caso óbvio, imigrantes na europa, onde os trabalhadores comunistas de alguns países para manterem um padrão mais elevado de vida, vêem-se na concorrência entre outros trabalhadores em relação à oferta da mercadoria trabalho, criando uma reserva de mercado que os exclui, ou caso vendam só a determinados postos que não terão garantias herdadas da rede de proteção social herdade do wellfare state.
Ponto dois apartheid onde algo parecido aconteceu na concorrência entre os nativo negros e os trabalhadores mineiros estrangeiros, etc.
No caso dos gays em São Paulo, os trabalhadores homossexuais perdem seus espaços de convívio gratuitos, que muitas vezes migram da periferia até estes locais só para poderem levar sua vida social, mas por causa de ataques de white powers eles são obrigados a frequentarem lugares mais caros, que possuem segurança, sendo que muitos não conseguem pagar. Um rede de comércio se forma em torno de sua inssegurança.
No caso da maconha, nem é preciso dizer, o fato de ser criminalizado um hábito social e produzido um oligopólio de produtores, gera impacto na vida de todos os que possuem este hábito comum no brasil e estigmatizado por grupos conservadores. A lavagem de dinheiro, o impacto nas periferias, os comércios paralelos de armas ligados a isso, tudo em torno da proibição de um hábito comum que as pessoas continuarão a ter pois faz parte de certo mecanismo de suportar a vida contemporânea.
Ora de importância grande ou não, o fato é que um grupo de pessoas se manifesta, e é pesadamente reprimido, quase como manifestações de esquerda. Alguns grupos de esquerda organizada tem como pauta estas questões trabalhada internamente e outros surfam no que acontece de novo tentando buscar novos militantes e crescer ou apenas se manter no peque espaço da esquerda institucional hoje.
A partir daí parte da esquerda que bancava o ato se associou a um novo grupo que parecia ter uma estrutura grande e que achou poder se utilizar deste meio. Pois bem, descobriram uma outra coisa, pois o que parecia ser uma nova elite ou meio progressita em aspectos liberais era de um grupo social com redes social organizadas ligadas a um projeto de poder. Neste meio outros grupos de pessoas e políticos estão associados e então aconteceu o que aconteceu, e luta-se internamente entre grupos de esquerda que querem pautar e estes grupos como o fora do eixo.
No entanto, tratava-se apenas da marcha da maconha ? Não, tratou-se depois associada à liberdade de expressão, pauta liberal, mas que, num país onde os mecanismos repressivos da ditadura estão presentes, pode-se ampliar o debate sobre as repressões a atos e, destes, a poder repensar um modo de reduzí-los juridicamente e na opinião pública.
Quando tais grupos citados mobilizaram sua rede social, criou-se uma rede de apoiadores contra a repressão social, entre pessoas que em geral não teriam a opinião voltada para isso e isso, pode gerar pressão, pois todos os atos feitos, ainda estão presos na idéia de pressionar a opinião pública para influenciar o estado.
E este é o problema, até que ponto esta relação foi proveitosa, ou deveria ter sido feita, pois ampliou-se a esfera de apoiadores ou surgiram apoiadores condicionais, isto é, ligados a certas coisas e não outras, de onde a estrutura de comunicação da rede se utilizou para poderem ter outros usos futuros, mas, e aí me parece complicado, se conseguirem desmilitarizar o policiamento de atos e manifestações, conseguem desobstruir um meio de novas conquistas, inclusive aos trabalhadores.
O que faltaria aí, é “sair de banda” e fazer exatamente o que disse o felipe correa, trabalho de base e mobilização, para conseguirmos responder materialmente com uma mobilização auto-organizada e que consiga politizar as questões com todos os pingos nos is necessários, afinal, deve-se saber que nem tudo que parece libertário é libertário tal como conhecemos, pois pode ser libertarian, partidos disfarçados ou mesmo fora do eixo.
Faz dois anos, uma empregada doméstica foi espancada por jovens de classe média no Rio de Janeiro por ter sido confundida com uma prostituta. Não houve nada. Que a “Marcha da Vadias” no Brasil tenha surgido por conta de postagens no Facebook, a respeito de um policial que se pronunciou desonramente a respeito de mulheres universitárias e não em solidariedade real a um caso como este do Rio significa muito em termos de demarcação social. Que o Greenpeace proteste pelo fato de a fabricação de Barbies usar materiais A ou B e não a respeito da exploração de trabalho infantil e degradante na fabricação da mesma boneca ao redor do mundo também é socialmente significativo. Que haja protestos por conta de um empresário ter sido atropelado em uma bicicleta e não por conta dos motoboys que morrem aos montes/dia o mesmo. Os exemplos se multiplicariam.
A luta contra a exploração e o poder foi para o ralo. O discurso agora é: queremos mulheres na tropa de choque, queremos patrões negros, queremos ministras ecológicas, queremos presidentes fumadores de maconha, queremos empresários que andem de bicicleta, queremos patroas que comam soja, promotoras encarcerando o povo. O sujeito apanhou novamente na manifestação, no outro dia tem matéria na Folha mostrando a renovação com mulheres na tropa de choque.
Trabalhei volutariamente/gratuitamente um ano para um coletivo que depois se transformou em ponto de cultura em Assis. No início, bom trato. Depois, mesmo sendo professor gratuitamente, começaram a estabelecer comigo uma relação de patrão/empregado. Não continuei no ano seguinte. Quando eles conseguiram verba do governo federal o leque de atividades diminuiu e ficou mais elitizado, o que importava era somente promover atividades para o grupo e tirar fotos para justificar as verbas recebidas.
Ótimo artigo, a tempos venho refletindo sobre essa forma de atuação da “nova esquerda”. Confesso que em muitas vezes e por alguns anos acreditei em sua “plataforma política (?)” do não político. Como o Felipe C. venho de uma geração que teve como base de suas ações essas novas tecnologias alternativas. Muitos a tomaram como uma objeto político por si só e hoje estão todos buscando rumo, perdidos, ou muito ricos.
Mas também não consigo ver a velha esquerda se contrapondo, nem mesmo ideologicamente a essa nova realidade. Se a conjunção de forças da sociedade tende a um capitalismo de estado baseado em novas formas de opressão e exploração, muito mais dinâmicas e complexas do que as apresentadas a nossos antepassados, nossas estratégias me parecem reféns de um estado democrático que as tolera e que a muito aprendeu a jogar com isso. Acredito que muita reflexão e ação, experimentos, tentativas e mudança sem medo ou “cabresto” ideológico é necessário para nossa geração retomar à esquerda seu papel combativo e tornar nossas propostas novamente cabíveis de execução. Parabéns ao PP por contribuir com isso.
Tenho certeza que o artigo foi lido por quem precisava lê-lo. Devem estar se coçando para escrever alguma coisa, mas acho que preferem fazê-lo privadamente, entre si mesmos.
A marcha em Salvador foi pequena. Deu menos gente que em outras manifestações com pauta mais “tradicional”, contando com o mesmo “público-alvo” e fazendo o mesmo trajeto.
Acredito que todo tipo de manifestação deve ser permitida e respeitada, pois a partir daí estabelece-se o tão apregoado diálogo para as comunidades democráticas. Não importa a forma como um grupo de pessoas se articula para que a manifestação aconteça, seja por redes sociais ou por panfletagens supostamente clandestinas. Quanto ao estratégico ignorar para a relação exploratória entre patrões e empregados, proponho uma integração dos explorados pela via midiática que melhor aprouver. Assim, penso que a ação inteligente e focada pode se concretizar de todas as formas possíveis e não simplesmente desqualificar uma manifestação por conta da forma como ela foi conclamada, mas organizar causas mais justas como o ambiente histórico sugere.
A forma condiciona o lugar onde se vai chegar. Se a forma de organização já está tendendo ao desenvolvimento de novas formas de exploração capitalista, me parece evidente que, por mais justas e belas que forem as causas, se chegará sempre ao mesmo ponto. Assim eu acho que uma das contribuições do artigo é justamente a de mostrar as relações que estão se formando.
Hoje (18/06), no dia das mobilizações: Há algumas horas, o Twitter Oficial da Marcha da Liberdade (com mais de 80.000 seguidores!) convoca as pessoas para um debate animadíssimo organizado pelo grupo Fora do Eixo – os tais empreendedores culturais que, ademais, já devem administrar tb esta conta de twitter. Participam da “twitcam”, não à toa: @PabloCapile, @AleYoussef, @Torturra, @PradoClaudio e @Leandra_leal (atriz global).
Não custa repisar que esta mobilização para audiência (significativa) no twitter já é um resultado concreto do investimento na capitalização das marchas…
Mas voltando à twitcam, eles estão repassando o balanço de todas as marchas em nível nacional, enquanto dão seus pitacos sobre todas as “causas” e “questões” levantadas pelas marchas – numa espécie de esforço de síntese… ou de diálise… ou não.
Algo bastante curioso do “debate” até aqui é que, certamente, a principal tecla batida e rebatida por todos eles diz respeito ao caráter “retrógrado” de todos os partidos, sem exceção.
Eles são o “Futuro”, o “Século XXI”… Eles são o PÓS-RANCOR e o PÓS-PARTIDO em pessoas, em rede, em fluxo…
E, claro: a transmissão foi auto-denominada pelas criaturas de… “Primeiro Programa PÓS-TV”!
Então Xavier, esclareço que de uma forma geral eu gostei e concordei com o artigo mesmo!
O que eu não sei é até que ponto esse necessário diz respeito apenas a uma classe política que está em acsenção, ou se não significa também a configuração de uma nova arena onde as lutas políticas são/podem-ser travadas (através de redes difusas, ao invés de estruturas jurídico-partidárias).
E acho, como disse, muito complicado reduzir a onda “anti-bolsonaro” como simplesmente não se aceitar uma elite arcaica no poder.
Tem muito mais do que isso em jogo ali, e acho que a esquerda de hoje ainda vive uma atomização muito complicada quanto à intersecção entre as opressões de classe, as de gênero, as raciais e o heterossexismo. E, não dá pra esquecer, as ambientais. Não é de hoje o hábito de certos movimentos de esquerda (me vem à cabeça alguns vem específicos) acusarem o feminismo, o movimento lgbt, lutas anti-racistas de “não ter consciência de classe” (mesmo diante de coletivos que incluem isso em sua pauta), que “só com o despertar do proletariado o mundo há de mudar”, etc.
Muitos esquecem que opressão econômica está looonge de ser a única que sustenta o capitalismo. E que todas essas questões colocadas em pauta nas marchas (das vagabundas, da liberdade, etc), no Mov. “fora Bolsonaro”, e nas lutas ecológicas SÃO importantes sim, não são aspectos secundários a ser resolvidos “depois de se haver com a burguesia”.
E aí eu pergunto: como articular esses diferentes movimentos com e derrubar Todos os alicerces o capitalismo patriarcal, senão com a criação de redes? Não essas, sob o modelo do Fora do Eixo, que elidem o conflito na política “anti-rancor”. Mas redes de outra ordem.
Enfim. Não sou contra existirem as marchas da liberdade, da maconha, das vagabundas. O problema é muito pelo contrário: as marchas precisam se multiplicar. O fato de que nesse momento são espaços superficiais, bom, a questão talvez seja: como ocupar esses espaços de forma a introduzir germes de reflexões políticas mais complexas? Como viabilizar que outras questões sejam coletivizadas? Como dar um passo pra algo que esteja além do espetáculo midiático?
(como disse, nem sei se isso que eu escrevo é uma discordância em relação ao texto. Achei a análise ali realmente muito boa, um ponto de partida pra questionamentos importantíssimos).
Gostaria de chamar a atenção das pessoas que estão a ler e comentar este artigo para dois artigos publicados neste site que, infelizmente, passaram despercebidos. Este
http://passapalavra.info/?p=38151
e este
http://passapalavra.info/?p=39994
Espero que a leitura seja proveitosa.
Acho que o comentário do Douglas Anfra aborda muito bem a questão em relação à questão da proibição da maconha, e que pode ser ampliado a outras substâncias tornadas ilícitas há pouco menos de 100 anos, pontua bem alguns dos aspectos envolvidos nisto que é sim uma luta por direitos individuais (e não vejo isso como algo depreciativo a priori) mas que vai muito além disso.
Não acho que a forma rasteira como o texto aponta esta questão (mesmo que obviamente que ela não seja o “eixo” do artigo) ajude a entender um problema social complexo, e dentro do qual há MUITAS alternativas em disputa, e não só as elencadas ao final, como se todos os antiproibicionistas fossem “marineiros” ou coisa que o valha. A direita está muito bem informada da causa, e se organizando há muito para os lucros nem tão futuros que estão no horizonte, e um debate mais sério sobre o assunto urge na esquerda – não creio que pontuações rasas a respeito ajudem neste sentido.
Agora, gostei também do comentário do Danilo. Com um dado preciso, ele retoma uma dúvida constante desde o primeiro momento desta mobilização: vale a pena estar em um processo que tem grande potencial de capitalização por parte de movimentos interesseiros e interessados? Os resultados para eles são claros, os ganhos, mas para nós – ditos anticapitalistas – não há ganhos e avanços também? É possível se locomover neste meio ou é melhor abandoná-lo? Mas abandoná-lo também não é largar o trabalho nas mãos exatamente daqueles que buscam apenas capitalizar o resultado? Como bem disse o Eric, não é novidade este tipo de iniciativa, e ela seguirá existindo independente de nossas vontades, basta termos uma postura “firme em nossos princípios” para evitar que isso aconteça, evitando também qualquer tipo de contato com movimentos que não sejam basicamente nossos mesmos interlocutores de sempre? Não há outra forma de disputa e enfrentamento com estes setores?
Coloco tudo interrogativamente, pois, como participante do movimento criticado no artigo, não me vejo em condições de apontar caminhos aqui. Gosto bastante das ponderações do artigo, e creio que são elucidativas para se entender um determinado ator neste processo, que é muito mais amplo. No entanto, creio que seu tom arrogante – que pra mim se agrava por conta de certo distanciamento com o tema, e portanto distanciamento de todas informações e dilemas políticos concretos de tal mobilização – impede que estas problematizações tenham um caráter de convite a um pensamento conjunto no sentido de buscarmos alternativas interessantes para um trabalho anticapitalista neste emergente movimento de juventude paulistana. Não sei, posso estar errado, mas eu esperava do Passa Palavra uma postura mais parceira – no sentido de busca por caminhos políticos – do que de dedo em riste…
De fato, o artigo é bem interessante, mas tenta abordar e fazer ligações em assuntos demais e acaba fazendo uma bagunça conceitual entre a Cultura digital e a Cultura Livre.
Outro problema é misturar “alhos com bugalhos”, o Fora do Eixo é de fato um grupo, enquanto a Cultura Digital (tratada como um grupo) é um conceito que engloba muita coisa e muita gente, inclusive gente divergente em várias propostas.
Só se esqueceram de comentar que a luta contra o aumento NÃO FOI encerrada pelo MPL-SP; Durante toda a jornada uma série de debates e discussões, num comitê de organização da jornada, foi o elemento de impulso à este grande movimento que tomou as Ruas em São Paulo. Neste comitê estavam presentes vários partidos, independentes e agrupações. Obviamente, o Fde representa um agrupamento da classe dominante, buscando demonstrar-se “esclarecido” e que desviará a seus interesses escusos e comerciais toda a juventude que busca construir o Novo contra a velha exploração, opressão e submissão.
Da mesma forma, a luta contra os fascistas na avenida paulista, não foi encabeçada por nehum deste sagrupamentos citadas; nem MPL, nem DAR, nem sequer~a maior parte dos partidos que, dizem, por princípio,s e necessário, combater o fascismo fisicamente estavam presentes. Apenas alguns anarquistas e, sobretudo, militantes da Ler-QI. É central denunciarmos as manobras dos abastados em buscar hegemonizar e mercantilizar o espírito de luta e subversão que começa a surgir na juventude, inspírada no Munod Árabe e europa, entretanto, da mesma forma, não podemos ser coniventes com oportunismos dentro do Próprio movimento, com “senhores iluminados” que definem exclusivamente o conteúdo e a forma da política a ser levada. Este é um movimento de massas coletivo. Façamo-lo desta forma, com assembl[éias, luta, resistência, construçãio em cada escola, universidade e local de trabalho. Isto é o espírito dos jovens e trabalhadores árabes. Este é o espírito de maio de 68. Este é o caminho da transformação, independentemente realizada pelos trabalhadores e jovens.
Caros,
Concordo que a Cultura Digital pode ser um conceito que englobe vários coletivos mas é também um ponto de cultura coordenado pelo Cláudio Prado e quando o artigo faz alusão ao grupo é a isto que se refere.
Em hipotese alguma basta termos uma postura firmes em nossos princípios para evitar que isto aconteça, precisamos saber analisar os processos e nos posicionar sobre eles de maneira que a reflexão seja coletiva e não apenas com “nossos mesmos interlocutores de sempre”. De fato temos que procurar caminhos para nos mobilizarmos e a crítica é fundamental para a reflexão, particularmente acredito que o caminho para reforçarmos a perspectiva anticapitalista da juventude que esta mobilizada é o trabalho de base, indo para escolas, comunidades, discutindo politicamente de maneira aberta quais são as perspectivas colocadas.
Mais dois artigos interessantes para quem participou das marchas, interessou-se por elas, criticou-as etc.:
http://passapalavra.info/?p=40478
e
http://passapalavra.info/?p=40799
Olá,
Realmente, para meu incômodo, passa ao largo dos comentários aqui apresentados pelas pessoas que não gostaram do texto o momento atual do capitalismo brasileiro – já que, mais do que pano de fundo, essa conjuntura é determinante inclusive para a leitura das práticas e formulação da extrema-esquerda como um todo.
Falando ainda em extrema-esquerda e anticapitalismo, o artigo pode conter – na opinião de alguns, o que é justo – algumas imprecissões ou lacunas. Além disso, o tom pode não ser de agrado geral para aqueles que o leram e tudo mais. Com efeito, nesse caso eu prefiro ficar com as palavras do marxista britânico Raymond Williams:
“Não sendo membros de uma igreja, não devemos nos preocupar com heresias”
(citado por Maria Elisa Cevasco, no livro Para ler Raymond Williams, 2001, pág. 137).
Abraços!
Caros,
Temos varias manifestações ocorrendo pelo mundo de forma espontânea, não tendo muitas destas uma bandeira clara, mesmo assim as ruas tem sido ocupada por milhões de pessoas.
Mas uma coisa é certa, queremos descentralizar o poder, que historicamente sempre ficou na mão de poucos. A procura da democracia REAL de fato. E fome de mudanças rápidas por sinal.
Com novos meios de comunicação, como a internet, o povo tem o poder de escolher informação, já não mais escravizados pelas meios tradicionais, nos quais somos penas passivos. Na intenet você interage, compartilha, multiplica, modifica a informação.
Enfim, chegamos a era da cultura digital, vendo que estamos SIM mais conectados, isso faz com que naturalmente as pessoas se agrupem e troquem informações entre si fortalecendo a sua rede de trocas.
O Fora do Eixo é um exemplo, com mais de 73 coletivos espalhados pelo Brasil, hoje se consolida como maior rede colaborativa de trabalho no mercado independente do Brasil, trocando informações diariamente através plataforma online.
Com uma rede tão fortalecida acho coerente que o FDE tome a frente da comunicação, tendo um centro multimídia bem formado por jornalistas, videomakers, designers, publicitários, editores etc.
Melhor que isso é o poder de articulação do FDE para mobilização de coletivos pelo Brasil para que esses mobilizem regionalmente.
Acredito sim, estamos passando de era da informação para era da colaboração, onde vamos consolidar redes de trocas, tendo estes representatividade e poder de voz, democracia no ato.
Olá! Achei muito bom o artigo. Bastante completo, esclarecedor e mesmo instigante.. Só gostaria de saber, se possível, quem foi que escreveu o mesmo. Não conseguir identificar em nenhum lugar. Muito Obrigado! LJ.
Este artigo está assinado, no lugar habitual, pelo coletivo do Passa Palavra. O autor do artigo é o coletivo do Passa Palavra.
Ahhhh.. Mas aí a informação fica furada, né? Sem saber c/ quem falamos fica difícil qualquer diálogo ou atribuição de validade. f-book: http://www.facebook.com/leo.janz10
Sabemos que há muitos coletivos e pessoas sérias, comprometidas (com um esforço de crítica radical à sociedade em que vivemos), envolvidas na recente construção dessas marchas.
Me parece óbvio que este texto fora produzido pelo coletivo Passa Palavra no sentido de contribuir/fortalecer a reflexão, a discussão e as práticas críticas desses coletivos e pessoas. Seja fortalecer as suas posições autônomas dentro do processo interno de construção dessas marchas; seja para a sua reflexão e práticas coletivas para além deste processo específico.
Gostaria de saber a opinião dessas pessoas e coletivos (como o MPL, o Coletivo DAR, Tribunal Popular, Coletivo Aymberê etc etc) frente ao posicionamento de um comentário como o de DOM, o qual tudo indica ser a posição oficial do tal circuito Fora do Eixo:
//”O Fora do Eixo é um exemplo, com mais de 73 coletivos espalhados pelo Brasil, hoje se consolida como maior rede colaborativa de trabalho no mercado independente do Brasil, trocando informações diariamente através plataforma online.
Com uma rede tão fortalecida acho coerente que o FDE tome a frente da comunicação, tendo um centro multimídia bem formado por jornalistas, videomakers, designers, publicitários, editores etc.”//
É plausível deixar logo a Comunicação(!) de uma relevante mobilização social recente nas mãos de um grupo que a trata como mais uma estratégia (“colaborativa”), entre outras, de disputa do “mercado independente do Brasil”?
LJ, segundo suas palavras o artigo é “muito bom, bastante completo, esclarecedor e mesmo instigante”, e ao duvidar da autoria coletiva do mesmo, você afirma que “a informação fica furada” não sendo mais possível “qualquer diálogo ou atribuição de validade”. O ótimo diálogo e debate que está sendo travado nos comentários é entre idéias (e não entre personalidades), será tão difícil aceitar que um texto possa ser escrito coletivamente e, aí sim, “colaborativamente”?
A forma como são construídas as lutas determina não só o seu caráter, mas também o seu alcance. Já se pode ver, na sua gestação, tendências de onde chegarão e de que forma chegarão lá. O papel de todo mundo preocupado com que as lutas sociais tenham o mair alcance possível é apoiar as características que ajudarão as lutas futuras ou até mesmo aquelas características que permitirão obter vitórias em sua pauta. Mas também tem o papel de fazer a crítica àquilo que, segundo suas concepções de mundo e de futuro, não caminha para um bom lado. E só quando as lutas deste ciclo findam é que fica mais fácil dizer quais foram aqueles que identificaram as tendências mais fortes e criaram as estratégias mais acertadas para apoiar ou combater aquilo que viria a dar certo ou errado (sendo que, para mim, o único parâmetro para decidir o que é certo ou errado é a “bandeira” que a própria luta se dá, o objetivo que pretende alcance naquele exato momento).
Ora, saindo da picuinha barata agora que o diálogo ficou franco, uma das tendências mais forte e que, portanto, merece toda a atenção e crítica, se colocou nitidamente, fazendo com que este artigo tenha alcançado seu propósito principal: uma das vanguardas da geração atual, talvez a que mais tenha legitimidade para se colocar enquanto tal, se constitui enquanto grupo político e tenta canalizar a força ainda muito difusa das atuais revoltas para se constituir em nova elite dirigente.
Durante toda a história da luta anticapitalista buscou-se inverter a lógica das coisas. O que sempre aconteceu é de as tecnologias criadas pelos trabalhadores (e aqui fala-se em tecnologia no sentido mais amplo, incluindo as formas organizativas e não só os artefatos) serem assimiladas pelos patrões. Essa assimilação que, de início, parecia uma vitória porque melhorava significativamente as condições de trabalho, permitiu ao capitalismo recuperar a sua legitimidade e as taxas de lucro e significava, no tempo, a derrota de toda uma geração. Outra geração surgia, e mais uma vez essa dinâmica se iniciava. E mais uma assimilação acontecia.
Vivemos hoje numa época tecnocrática, onde os trabalhadores, para produzirem valor, têm que se apropriar de uma gama muito grande de tecnologias. Já não são autômatos como no taylorismo, nem as aprendem na própria escola que se transformou a fábrica, como no toyotismo. Aprendemos desde cedo, em frente ao computador, jogando videogame, assistindo TV, fazendo cultura e até mesmo contracultura, a sermos úteis à dinâmica de acumulação do capital. Nada mais natural que, pela primeira vez fosse possível uma mudança desta lógica, ou seja, os trabalhadores, pela primeira vez, podem usar da tecnologia do capital para questionar o próprio.
Qualquer um que acompanha algum movimento social ou até mesmo sindicatos e partidos políticos sabe da nossa “defasagem tecnológica” e da nossa luta para incorporar saberes como o de design, publicidade, jornalismo, arquitetura, engenharia, medicina, direito, gestão e por aí segue, no desenvolvimento da luta. Então, “de repente” e de forma muito rápida e articulada, pelo menos nos discursos, isso passa a acontecer. Seria o momento de comemorar tudo isso que nos passa na nossa frente se a forma como está se dando não nos parecesse, mais uma vez, o que sempre foi: uma assimilação das lutas sociais pelo capitalismo.
Portanto, todos esses conhecimentos e tecnologias que estão sendo disponibilizadas por esse grupo e outros tanto que irão surgir com o mesmo caráter, deveriam estar sendo feito de forma colaborativa. Não é o fato de vermos as coisas por uma nova TV, ou uma “pós-TV”, que significa que tudo mudou. O que vai significar que agora sim estamos num novo momento – que por mim pode ser chamado de “geração pós-rancor”, tanto faz, o que importa é que seja consciente de onde quer chegar e dona do seu destino – é o movimento de socializar todo este conhecimento. Não só o acesso a estas tecnologias, mas o controle sobre a sua criação. Por exemplo, não basta aprender a postar um video no youtube, é preciso aprender a fazer o video. Não basta fazer parte de uma marcha, é preciso aprender a organizar uma.
O processo de autoeducação e de compartilhamento de conhecimento com o qual a nossa geração convive e se forma recupera de volta aos trabalhadores a capacidade de controlar o processo produtivo. A proximidade das classes dominantes que essa tendência coloca alguns de nós nos distancia deste desejo. É essa a maior contradição das lutas atuais. Se todo esse conhecimento é monopolizado por um grupo restrito que usa destes conhecimentos da mesma forma que qualquer empresa capitalista os usariam, ou pior, colabora com elas para tanto, então mais uma vez estaremos ferrados. Não precisamos de uma agência de publicidade ou uma assessoria de comunicação ou uma de gestão, precisamos, ao contrário, que no meio da luta a publicidade, a comunicação em si, a gestão e outras técnicas e “ciências” criadas por e para o capitalismo sejam superadas, ressignificadas, disseminadas, socializadas. Façamos da luta também um software live. De código aberto, errando e acertando através da experimentação. Rompendo modelos e criando outros.
E que os hackers não se transformem na próxima classe dominante.
Meu ultimo comentário não é uma posição oficial do FORA DO EIXO.
Com base no texto, o FDE se dispôs a ficar na base da comunicação, e EU não vejo problema nenhum nisso.
abs
DOM,
Fiquei confuso com este seu segundo comentário.
A sua posição é extra-oficial do FDE uma vez que você faz parte do coletivo mas não fala oficialmente por ele? E mais
existe então uma posição oficial do FDE?
A posição oficial do Fora do Eixo é apresentada sempre por seu líder hierárquico Pablo Capilé, invariavelmente influenciado por Claudio Prado, o ideólogo pseudo-hippie e muito bem colocado empresarial e politicamente. Não adianta querer que os subalternos pensem pelo topo da coorporação, aguardemos posicionamento da “diretoria”.
O texto tem inúmeros problemas e o autor deveria conhecer mais e melhor tudo que está rolando, poderia ter entrevistado antes as pessoas, entender melhor certas informaçoes.
EM relaçao ao Pcult por exemplo. O movimento Partido da Cultura existe desde o ano passado (qdo ninguem sonhava que existia Ana de Hollanda) e pretende-se ser uma plataforma de fóruns de debates de políticas culturais. O quanto de conselhos de cultura foram formados em todo o Brasil a partir dos debates provocados pelo Pcult ou qto agentes culturais começaram sua politizaçao e se empoderam do debate político.
Ou qdo diz que nossa única objeçao à gestao da Ana foi porque essas redes homogeneizavam durante Gil/Juca.
Vc concorda com essa política?
Não duvido que pediria para entrar no Mobiliza Cultura.
Marxismo rasteiro sem conexao com o real.
Conheça mano, tamos abertos: Fora do Eixo, Partido da Cultura, Cultura Digital quem for.
Política de escritório nao tem mais vez!
Boa Noite,
Faço parte do Fora do Eixo e gostaria de propor um debate aberto com o coletivo responsável pelo texto. Como entro em contato?
Estamos compilando vários textos, artigos e estudos sobre o FDE pra colocarmos aqui pra avaliação dos que estão debatendo.
Estamos também escrevendo sobre algumas informações equivocadas no artigo e em breve publicamos.
Quem quiser conhecer de perto também estamos a disposição na Rua Scuvero, 282, Cambuci. É só chegar =)
Xavier, interessante seu questionamento. Não me sinto apto a responde-lo no momento, mas certamente tentarei pautar essa reflexão nos espaços onde atuo. Estou gostando muito do debate aqui nos comentários, muito instigantes… no entanto, creio que assim como você identificou que as pessoas não estão problematizando o debate em relação ao atual estágio do capitalismo no Brasil, creio a discussao aqui embaixo tbm nao abordou as questões que o “Arth” fez, e que repito aqui:
“O fato de que nesse momento são espaços superficiais, bom, a questão talvez seja: como ocupar esses espaços de forma a introduzir germes de reflexões políticas mais complexas? Como viabilizar que outras questões sejam coletivizadas? Como dar um passo pra algo que esteja além do espetáculo midiático?” .
Tenho a mesma dúvida. O que o Passa Palavra está propondo é que não há modos de se introduzirem tais reflexões ali, certo? E os outros o que acham?
Gostei da proposta! “Debate Fora do Eixo e Passa Palavra”. Qual o tema central?
Esse site ainda está na fase do rancor, da luta de classes, do marxismo, dessas caretices todas… Não percebe que o mundo mudou, e está mudando cada vez mais alucinadamente!
Nunca vai admitir que tem um pessoal mais conectado com as novidades, que já transcendeu essa caretice toda, faz muito tempo! Por que tanto medo de disputar pela internet os corpos, os corações, as mentes, os mercados?
É como diz o Cláudio Prado: “A internet é a coisa mais porra louca que tem. O maior desbunde do mundo é a internet. A internet é o desbunde total. A internet acaba com a telefonia. A internet acaba com a televisão. Você imagina que porrada que é isto em última instância? É a coisa mais subversiva que tem, mais louca que tem, mas é isso que dá a expectativa do delírio. (…) Isso que está acontecendo agora eu batizei, eu inventei um nome disto: é a molecada pós-rancor, é a atitude cultural pós-rancor. Existe uma coisa rancorosa que está sendo superada, esta coisa rancorosa é a discussão direita/esquerda da política”.
Como complementa o Ale Youssef, no seu incrível texto “O Partido Pós-Rancor”: “O Fora do Eixo cria, portanto, uma geração que se utiliza sem a menor preocupação ideológica de aspectos positivos da organização dos movimentos de esquerda e de ações de marketing típicas dos liberais. É, como disse, o teórico da contracultura Cláudio Prado, a construção da geração pós-rancor, que não fica presa à questões filosóficas e mergulha radicalmente na utilização da cultura digital para fazer o que tem que ser feito”.
E como diria Caê: “La leche buena toda en mi garganta,
La mala leche para los ‘puretas'”
Na boa: chega de caretice, gente!
Viva a Geração Pós-Rancor!
Viva a Marcha da Liberdade!
Viva a Revolução 2.0!
Não me parece que isso seja assim tão moderno. A conjugação «sem a menor preocupação ideológica de aspectos positivos da organização dos movimentos de esquerda e de ações de marketing típicas dos liberais» foi conceptualizada por um político da década de 1930 e da primeira metade da década seguinte, Adolf Hitler. Acerca dessa conjugação podem ficar elucidados com a leitura de Mein Kampf, onde o assunto é tratado exaustivamente.
Muitos comentários em cima do texto, portanto, não li tudo e baseio meu comentários no texto.
Gostei muito do texto, acho uma reflexão importante e coerente a ser feita, já que não costumamos fazer uma reflexão crítica sobre o novo… Só não acho que seja uma nova classe, mas sim uma reconfiguração de velhas classes, comum ao capitalismo…
Não tendo base popular real, a tendência dessa onda de protesto ser rapidamente assimilada à paisagem é tão grande que até a Folha de São Paulo (aquela da “ditabranda”) a estimula no seu caderno destinado especialmente ao público teen:
http://www1.folha.uol.com.br/folhateen/925880-conheca-jovens-brasileiros-que-sao-arroz-de-protesto.shtml
Beijos
Aê, Ju 2.0, pergunta pros mortos pela Polícia se eles são pós-rancor antes de vir aqui papagaiar esse discursinho cínico do seu mentor – que aliás está ganhando muito com esse tal de pós-rancor.
Olá,
O texto é muito bom e mostra a realidade nua e crua. Parabens Passa Palavra.
V.
Olá,
Falando em rancor e pós-rancor, que tal pensarmos – sem ofensas a ninguém, mas apenas colocando para onde leva esse discurso pós-conflitos – os efeitos que tal perspectiva pode representar a partir de um exemplo concreto:
“A gente tinha que repensar a ditadura militar. Por que as pessoas acham… Essa Comissão da Verdade que tem agora. Por que que é isso? Que loucura que é isso? Aí tem que ter anistia pros caras de esquerda que sequestraram o embaixador, e pros caras que torturavam, arrancavam umas unhazinhas, não [risos]. Essa foi horrível [risos]. Mas é, é bem isso. Quem é que vai falar isso? Quem é que vai ter o colhão de achar que bunda de pinto não é escovinha? Porque não é. Não é. Então é o seguinte: a gente viveu uma guerra. As pessoas não estavam lutando por uma democracia, as pessoas estavam lutando por uma ditadura de proletariado. As pessoas queriam botar um Cuba no Brasil, ia ser uma merda pra gente. Enquanto os militares foram lá e defenderam nossa soberania”,
Palestra (durante o Festival da Mantiqueira) em que o cantor Lobão falou, entre outros pontos, sobre a ditadura militar e equiparou – está registrado em vídeo – anistiados de esquerda a torturadores.
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/923570-apos-fala-polemica-sobre-ditadura-lobao-critica-reportagem.shtml
Abraços.
Deixa eu te jogar uma real: se você acha que não existe mais esquerda nem direita é porque você é de direita.
fazendo relato de caso: Fiz parte de uma organização de uma das marchas da liberdade e não sou do FDE. Aqui foi tudo muito rápido, mas a intenção foi levar gente pra rua, mostrar que a “sociedade” pode ter algum peso diante do Estado, que ainda há lugar para manifestações. Foi um encontro festivo, de uma cidade em que não se vê muitas movimentações desse tipo. O fato de não haver partidos ou sindicatos envolvidos, aproximou pessoas e coletivos, que a partir de agora passam a se perguntar: o que a gente pode fazer juntos? uma das ideias é justamente o que alguém sugeriu acima – temos as novas mídias, a internet como meio de produção. Conseguimos produzir e temos acesso a isso. De outro lado temos muitas comunidades com lutas bastante relevantes e que tem dado respostas bastante inovadoras, mas não as conhecemos. Vejo duas vantagens em produzir comunicação e mídia com elas – que a “classe média” não tenha como negar sua existência e que se utilizem dos meios de comunicação como denúncia, organização política e até geração de renda mesmo – muitas comunidades estão apostando seu destino em formas alternativas de mercado, frente à fácil exploração da especulação imobiliária, por exemplo.
Quanto à relação com o FDE durante a organização senti falta de colaboração. Pra mim, que uso software livres, (não acho que seja o caso do FDE) que abrem seu código ao estudo e colaboração, ficou faltando ainda que nessa comunicação de mídias sociais mais desprendimento da posição de “liderança” da proposta da marcha. O caráter despolitizado apareceu forte algumas vezes.
Mas pra gente serviu sim, aproximou pessoas, nos alegrou pela ação na rua e gerou uma vivência que serve como base para pensarmos em como aproximar os movimentos sociais, fazemos isso como autocrítica, inclusive. Acho que a maior inovação é pensarmos em congregar causas, fortalecer a ação uns dos outros. Podemos pensar além de marchas, podemos construir outros diálogos.
Parabéns pelo texto, pra mim ficam as reflexões e menos as acusações.
Só uma observação: os Pontos de Cultura ficaram muito mal retratados, acho que vocês poderiam tentar se aproximar mais para falar sobre eles. FDE não é parâmetro para avaliar o quanto a Cultura Popular de resistência pôde emergir com o Programa Cultura Viva e como a Cultura Digital pode ser apropriada para promovê-la e protegê-la. Houve vários limites e problemas, o cerne, no entanto, é que o financiamento cultural nunca foi tão voltado para a base da cultura. A implantação de centros estatais uniformizados, que vão beneficiar muitas construtoras, como são as Praças do PAC, apresentadas pela nova ministra são sim um retrocesso.
Ai gente: sem paciência pra essa discussão! Depois que eu escrevi já falaram da polícia, da ditadura, de Hitler…
Será que é tão difícil assim se libertar destes temas do passado, e ter um olhar menos careta e mais otimista pro futuro?!?!?! Quanto rancor!!!
Positividade galera! Fazer as coisas com menos rancor e mais tesão!
A Marcha @Liberdade é uma realidade no mundo todo! Vamos multiplicar essa onda!
Beijos libertários até pros rancorosos!
Preguiçaa
Mas vamos lá>> aproveito para dar minha opinião sobre o artigo e sobre os comentários rancorosos.
E defino Rancor na perspectiva desta discussão.
Rancor é uma marca das esquerdas. Nasce da consciência das tiranias. Nasce da indignação. Marx sendo o Arauto Maior das tiranias do século 20, da Era Industrial, do Capitalismo Selvagem, da ganância.
Rancor é esta indignação + fundamentalismo.
Fundamentalismo é a grande doença deste século, que transformou sistematicamente as grandes idéias em dogmas.
Talvez seja o fundamentalismo seja a herança mais perversa da cultura escrita.
Da soma do alfabeto grego com a tipografia de Gutemberg.
Do alfabeto, que são símbolos gráficos que juntos formam fonemas que juntos formam palavras que juntas se propõem representar todas as coisas materiais e idéias passadas e futuras da humanidade.
E da tipografia de Guttemberg que congela (imprime) essas palavras, frases e idéias.
Some-se a isso a sinistra idéia do direito de autor e da forma como o século 20 lidou com tudo isso, congelando palavras e idéias, e temos a fórmula do rancor.
{{{ e pelamordedeus não argumentem que eu sou contra o alfabeto, contra os livros, contra o coitado do autor>>>>}}} cada um destes territórios é eivado para o bem e para o mal como tudo na vida.
Back to the USSR (You don’t know how lucky you are)
Não sou do Fora do eixo. Colaboro com eles.
Considero a proposta do Fora do Eixo o melhor caminho que conheço para uma saida honrosa dos Movimentos Sociais rumo ao século 21. (e que denominei de Pós Rancor).
O Fora do Eixo não é de esquerda e nem de direita.
A grande maioria das pessoas da esquerda e da direita realmente acham que esta polarização define a humanidade, são adeptos conscientes ou inconscientes da Teoria do Fim do Mundo, na qual o Mercado as engole fatal e definitivamente. E contra o qual (Mercado) vocês têm que lutar estoicamente através dos tempos eternamente…
Isso não é novidade: o Tropicalismo foi esculhambado pelas esquerdas todas como massa de manobra do imperialismo americano (instrumentos eletrificados que iriam matar a Música Brasileira etc). Foi também esculhambado pela ditadura militar que os acusava de corruptores da cultura e juventude brasileira e que prendem Gil e Caetano condenando-os ao exílio. A Democracia Grega, conservadora, condena Sócrates pelas mesmíssimas razões.
Em última instância, acho que o problema de vocês, das esquerdas, é este: O Fora do Eixo não é de esquerda. Para vocês, consequentemente seria de direita. E, assim sendo, a discussão está encerrada… não vale a pena… (por isso a minha preguiça, eu que vejo e ouço isso rolar há 40 anos).
Mas olhem só>>> existem os otimistas>> que vêm luz no fim do túnel.
Existe uma “nova esquerda” (digamos assim para efeitos de melhor compreensão desta discussão).
Um movimento político Pós Rancor, que nasce da indignação também nos anos 60.
O movimento Hippie. Antropofagicamente abrasileirado aqui sob a denominação Tropicalismo.
O movimento político Hippie (((é político siim))) é quem pauta no mundo, as questões de hoje.
A Ecologia (nem citada pela direita nem esquerda até 1972 a 1a Conferência Mundial do Meio Ambiente em Estocolmo.)
As liberdades sexuais e das drogas >> ambas esculhambadas pela direita e pela esquerda como a decadência da humanidade.
A agricultura orgânica>> como fator de saúde pública. (contra os trangênicos)
A questão feminina>> (pq o movimento feminista das esquerdas era o como direito da mulher ser igual ao homem nas besteiras do machismo, numa visão extremamente míope do conceito de igualdade)
Sociedade Alternativa…
Tudo isso sem rancor>> com flores e sempre com Tesão Político (foco sim).
Poderia me estender mais…
mas uma última questão:
É o movimento hippie que detecta a Cultura Digital como a mais subversiva realidade rumo a um século 21 (chamávamos de Nova Era na época)
Timothy Leary, um dos profetas do que está acontecendo agora, disse que a cultura do computador era o LSD dos anos 90. LSD era para Leary, um “atalho” para a compreensão profunda “fora do eixo” O eixo sendo tanto a ligação do idivíduo consigo mesmo quanto a compreensão dos caminhos políticos da sociedade.(não quero me alongar aqui nisso pq é tema de um livro… e não de um mail).
É por isso que digo sempre que, NA MINHA OPINIÃO, Marx, hoje não seria marxista, seria um hippie digital.
Não há nada, mas naaada mesmo, mais politicamente subversivo à lógica do capitalismo selvagem do que a Cultura do Digital.
Vejo no Fora do Eixo, uma semente para como de fato mudar o rumo equivocado das esquerdas, reinventando a forma de agir dos movimentos sociais do século 20.
Um amadurecimento ou melhor um renascimento fênix deste movimento tropicalista.
O bonito, a meu ver, é que existem muito mais acertos do que erros neste movimento…
E considero que a indignação equivocada das esquerdas, que se revestem de puro rancor diante do sucesso evidente do que está acontecendo no mundo das marchas, mais um sinal de resistência conservadora do século 20.
O mais grave é ver meninos gritando palavras de ordem>>> fala sério>>> do século 19.
PORQUE NINGUÉM AINDA RESPONDEU SOBRE O DEBATE AO VIVO E PELA INTERNET??
beijos perpexos>>> rssrss mas paternalistas e carinhosos
E ISSO É SIM UMA PROVOCAÇÃO À AMPLIAÇÃO DO DEBATE!
Ok, o artigo propõe reflexões importantes, mas o tom de simplesmente denunciar “heresias no campo da luta social” é evidente, pois não há propostas para a conjectura apresentada.
Não é nenhuma novidade que as novas classes gerenciais surgirão não só de coletivos como o Fora do Eixo, mas também da gestão de diretórios acadêmicos ou de movimentos sociais que também podem vir a atuar como trampolins eleitorais. A estrutura de aparelhamento do Estado naturalmente irá cooptar as lideranças políticas para o processo de formação de novos gestores.
Agora, mais do que apenas denunciar, é importante reconhecer que estas manifestações são essenciais no sentido de evidenciar uma juventude disposta à transformações na sociedade – mesmo que apenas em um nível homeopático. Pior seria se tivéssemos uma juventude apática que não saísse mais de casa para protestar contra nada.
Levando em conta que as mídias sociais estão sendo apropriadas para a mobilização (não esqueçamos que elas foram criadas para fins estritamente capitalistas e de controle social), precisa-se inserir a crítica à democracia social e ao capitalismo tardio através destas mesmas mídias. Mas a eficácia desta estratégia depende de uma retórica convincente e atraente aos olhos desta nova juventude.
Noossa, disse tudo Claudio!
“Sociedade Alternativa…
Tudo isso sem rancor>> com flores e sempre com Tesão Político”!!! Com certeza!!!
E gostei dessa também: “Marx, hoje não seria marxista, seria um hippie digital”. HAHAHA!!! Mas a maioria dos esquerdistas não conseguem sequer conceber isso: falta imaginação!
Na boa, gente: abram um pouco seus corpos e mentes para o Novo!
Experimentem olhar as coisas com um Outro Olhar! Outra Atitude! Deixem fluir mais…
Lendo os comentários de Cláudio Prado e Júh 2.0, vão surgindo aos poucos algumas reações.
A primeira é de risos frente as bases do que essas pessoas sugerem para o movimento do qual participam.
A segunda é de perplexidade frente a tentativa de “imbecilizar” os participantes do movimento com essas propostas.
A terceira é de perceber que o esvaziamento crítico da análise da sociedade atual serve para que estas pessoas venham a se tornar realmente os novos elementos das classes dominantes.
Seguindo a linhagem exposta no comentário de Cláudio Prado vemos que os que eles querem é chegar ao poder (de estado e econômico), como alguns tropicalistas. Com tesão e sem rancor.
O que ainda proporciona um fio de esperança é saber que os trabalhadores não lutam contra o capitalismo por rancor, e sim por uma necessidade de igualdade e pelo fim da exploração econômica e social a que estão submetidos.
Esses comentários só corroboram os argumentos expostos no artigo.
Parabéns ao PassaPalavra pela excelente reportagem, que não fica apenas na investigação empírica e no relato, mas chega nos a proporcionar a reflexão sobre o processo de renovação da elite política em marcha(s).
Como contribuição ao debate, que está bom, sugiro a leitura do recente artigo do Raul Zibechi, Las revoluciones contra las vanguardias ( http://rebelion.org/noticia.php?id=130648 ), em que faz uma leitura positiva destes processos – neste caso, obviamente estou extrapolando a especificidade dos movimentos em SPaulo, tentando pensá-los dentro dessa atual “primavera dos indignados” em boa parte do globo.
Saudações.
O Passa Palavra está fora de eixo?
Pergunto isso porque acompanho o site de vocês há tempos e sempre me pareceu ter uma análise interessante sobre as lutas autônomas e anticapitalistas.
Mas pelo jeito a fonte de vocês neste artigo está furada.
Vocês citam um tal de Claudio Prado, que seria filósofo deste grupo Fora de Eixo (que eu nunca tinha ouvido falar), e é o mesmo que enviou um comentário paternalista falando a velha ladainha (pelo menos desde os anos 1960/70) de que não há mais classes, não existe mais luta, não há mais capitalismo, nem esquerda nem direita, não têm mais opressões, dominações e todo esse blábláblá.
Ora, grandes intelectuais escreveram coisas muito mais interessantes e sofisticadas neste sentido, ainda que eu não concorde nem um pouco com eles, basta ver meia dúzia de artigos que são publicados aqui para perceber que isso é uma invenção furada (de gente rancorosa com a luta?).
Mas o que me deixou perplexa não foi isso, é vocês falaram que existem militantes autônomos, jovens que se pretendem de luta, atuando numa ONG (ou empresa disfarçada de tal) que tem por pressuposto esses argumentos simplórios. Vocês não estariam exagerando não? É isso mesmo? São tipinhos desses que pretendem eleger o próximo presidente do país? Que se juntem com o Justus e o Tiririca então…
Aí, agora mais essa de pós-rancor.
Essa playboizada não toma jeito: ontem era a pombinha do sou da paz, agora é a teclinha do pós-rancor. Aperte a tecla e sorria!
Como escreveu o poeta Marcelino: Já disse. Não quero. Não vou a nenhum passeio. A nenhuma passeata. Não saio. Não movo uma palha. Nem morta. Nem que a paz venha aqui bater na minha porta. Eu não abro. Eu não deixo entrar. A paz está proibida. A paz só aparece nessas horas. Em que a guerra é transferida. Viu? Agora é que a cidade se organiza. Para salvar a pele de quem? A minha é que não é.
E o Edi Rock, a milianos: pra quem vive na guerra a paz nunca existiu, morô?!
A paz e o pós-rancor deles acaba rapidinho no primeiro Perdeu, Playboy! que eles tomam na orelha. Aí reaparece o rancor e eles pedem mais polícia pra cima de nóis! E vem falar de não-rancor logo pra nóis, que tâmo aqui no bang loko desde sempre esperando a hora do revide! Mano, deixa pra lá! Da hora o texto PAssa Palavra!
Só uma pílula: “por mais parcial que seja uma revolta industrial [operária], ela encerra em si uma alma universal; e por mais universal que seja a revolta política, ela esconde, sob as formas mais colossais, um espírito estreito.”
K. Marx [1844], Glosas críticas marginais ao artigo “O rei da Prússia e a reforma social”. De um prussiano. In Novos Temas: Revista de Estudos Sociais e Ciências Humanas (Instituto Caio Prado Jr), v. 02, n. 02.
Bom, já que estão falando de filósofos e cultura, sugiro a leitura do texto do Paulo Arantes (2004. Documentos de cultura, documentos de barbárie – O sujeito oculto de um manifesto. In: ARANTES. Zero à esquerda. São Paulo: Cortez, p. 221-235).
Neste texto ele demonstra como na atual conjuntura político-econômica (sim, ainda existe economia e política), há a consolidação de um Estado penal e perda de direitos sociais.
Neste momento há uma virada do “social” para o “cultural”, elevando a cultura – já banalizada e estilizada – como o campo dileto do novo establhisment global.
No momento em que a arte – devidamente assimilada e domesticada – é vendida e requentada como o velho baluarte contra a barbárie, boa parte dos grupos culturais encontra-se na tarefa de escrever projetos para vender seu produto (para patrocinadores – sobretudo o Estado – por meio de leis de fomento, renúncia fiscal, incentivos culturais).
Esta virada para o “cultural”, como local por excelência da política, o que faz é auxiliar no movimento de mistificação das nada glamorosas fontes reais de poder (sim, ainda existe o poder).
O contraste entre comentários como do Nêgo Bang e do Ronan, por um lado, e os da Júh 2.0 e DOM, por outro, deixam esta mistificação com uma concretude bastante clara.
Se o conteúdo do Fora do eixo é a transformação social e a forma são as redes eletrônicas, o conteúdo é obtuso e a forma hight tech.
O conteúdo vago abre uma remodelação nas formas de dominação e extração de mais-valia, já que é a forma o aspecto principal e apologeticamente indicado como caminho. Tal como qualquer leninista, esse pessoal acredita que o próprio desenvolvimento das forças produtivas levarão ao Céu, ao Tantra, ao Nirvana…. à Glória!!!
A ironia desta história, Alex, é que alguns jovens militantes e intelectuais que um dia já se referenciaram em críticos como o Paulo Arantes, dentre outros intelectuais sérios, hoje também embarcam eufóricos nessa “virada para o cultural” e agora têm como companhia teórica e política os Claudios Prados e Alexandres Youssefs da vida.
Paulo Arantes que chegou a analisar, à sua maneira, o potencial teórico e prático específico de alguns destes jovens em “Pensando por fora”, lá no logínquo ano de 2005 ( http://www.midiaindependente.org/pt/red/2005/06/319788.shtml ).
E hoje corremos o risco de ver alguns desses rapazes, outrora críticos autônomos, agora entusiastas das infinitas perspectivas da “molecada pós-rancor”, com suas novas posições e possibilidades, Pensando para os Fora do Eixo e outros thinktanks da alta-gestão cultural do país.
E la nave vá!
“A destruição do passado – ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas – é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem.”
Eu lí quase todos os comentários, mas o: “Deixa eu te jogar uma real: se você acha que não existe mais esquerda nem direita é porque você é de direita.” é o melhor, disparado, hahaha… ô Ju 2.0, se o fato de ter rancor de Hitler é ser careta, sou caretassa…. genteeee, a discussão nem passa por aí… a verdade é que os “2.0” (não todos) socaram na cabeça que a política, a clássica política, é careta e querem reiventar… mas usam dos mecanismos tanto liberais quanto de esquerda… Aproprim-se da política careta como basde – óbviu – porque isso é imprescindível, primordial… admitam isso pelamorde Deus, Jah, seja lá quem for… Política é pautada em esquerda e direita e fim. Acho massa a marcha da liberdade e as propostas de se apoderar da era digital… mas sem um pingo de crítica política, sem pautar em nada, sem pautar NA HISTÓRIA, não se chega a lugar algum…
“Os olhos dos sem memória não veem nada!” .. E é por conta da história mal contada que a gente se movimenta, viu Sra. Ju 2.0… é por que incomoda, é pq é inadmissível, é pq se sente rancor mesmo que as pessoas optam pela mudança…
Se tivéssemos memória de peixe, não teria pq movimentar, marchar, apenas perdoar… ia ser lindo!
E irreal….
Recomendo a leitura de um artigo do marx denominado “sobre o comunismo grosseiro”. E faço questão de lembrar que classe média é produto da ideologia, e a mesma não é detentora dos meios de produção. Há um erro muito sério em denominar a classe média como “nova elite” em antagonismo a uma “elite arcaica”.
O artigo possui uma pesquisa muito boa. Mas erra feio em jogar tudo no mesmo balaio. Demonstra que qualquer mobilização política que não seja uma “mobilização ideal” está falida. As belas almas nunca farão nada além de discordar.
O artigo cita a passagem do lucro à renda. Mas não pensa articulações frente a isso.
O texto pode até ter deixado de enxergar algumas possibilidades. Mas para bom entendedor, o que foi enfatizado nos comentários do próprio Dom mostra que em relação a RFE o texto acertou na mosca.
Procurem conhecer os pontos FDE em seus estados e cidades.
Vejam o que eles estão fazendo nesses lugares, os eventos, as atividades que participam. Vocês verão muita ação e prática politica, cultural, economica…que nada ou pouco tem a ver com discursos…mas que mobilizam pessoas, mudam processos, criam debates.
Se são da elite ou não, não me importa. Só prefiro ver gente realmente criando e se mexendo, do que ler esses comentários de intelectuais de meia-tigela que pegam trechos de livros pra conseguir dizer alguma coisa.
E vá lá né, viver e falar de passado não muda o presente, e nem garante um futuro brilhante pra ninguém. Conhecer os téoricos, é sim importante, mas não nos dizem tudo.
Outra coisa, não me venham com esse discuro de que só o cara que tomou bala de borracha ou é um trabalhador pode querer mudar ou é o lutador legítimo de sua causa.
Vamos falar do social, do político e do cultural juntos, não são separados.
Estamos no meio do processo, da construção…ninguém está advogando que está eternamento correto, mas criando modos de debater, conhecer. As marchas foram em sua maioria uma colcha de retalhos, e daí? Se 1 ou 2 pessoas saíram dela sabendo um pouco mais sobre algum debate, ou com energia pra seguir em frente em alguma pauta, ótimo!
TEm muita gente por aí realmente fazendo algo por sua comunidade, para os que estão próximos…seja via coletivos ou não, seja via música, teatro, cinema. E nisso tudo, ter parceiros comerciais e conhecidos não é nenhum crime, mas pode garantir que muitas pessoas possam ter acesso gratuito à vários bens culturais. Vocês querem que eles gastem o dinheiro com o que?
Vamos debater, comunicar, dialogar…seja pela internet,os antigos ‘mosquitinhos’, conversas de bar. o pós-rancor é um termo muito válido sim, assim como tantos outros que estão no texto acima e nos comentários. Vamos agir e pensar mais, e não ficar nesse eterno dedo apontado…
Não tentem desmerecer os processos, mas sim conhecer.
Beijos.
Galera,
Continuamos a propor o Debate Público com o coletivo Passa Palavra, temos tentado falar com eles mas não obtivemos respostas.
Podemos fazer qualquer dia, onde acharem melhor. E como disse convido-os para conhecerem a Casa FDE em SP uma das sedes do movimento pelo brasil.
Temos todo interesse em ampliar o debate.
bjs!
Opa! Almofadinhas desmascarados e nervosos, adorei! Muito bom Passapalavra!
Só gostaria de lembrar aos comentadores do texto que o maior erro que se pode cometer e confundir a Marcha com o Fora do Eixo. São coisas distintas. O texto não critica a Marcha, não diz que ela não deve mais acontecer, que é um retrocesso e coisas do tipo. Enfim, o texto, na minha opinião, peca exatamente por não falar da Marcha. A crítica dele toda é da apropriação indevida que este grupo aí está fazendo das mobilizações atuais e, principalmente, a forma como está fazendo isso e pra onde está nos levando. É a primeira tentativa de mostrar quem são esses aí, que até então vivem chupando os editais do governo e tirando onda de revolucionários (revolucionários 2.0, além da esquerda e da direita, sem rancor e com muita alegria, mas financiados pelo dinheiro público).
F.,
acho que seu comentário acaba legitimando boa parte das críticas feitas pelo artigo. É claro que os discursos não transformam uma realidade, contudo, juntar-se à ação, à prática política, cultural e econômica construída seja lá de quem for (nas tuas palavras “Se são elite ou não, não me importa”) me parece até piada. Imagina só, que felicidade poder participar do processo de construção de algo que depois vai me reprimir, dominar, explorar…
E seguem os comentários insensatos. As pessoas para refletirem sobre suas práticas não precisam ser intelectuais. Aliás, se pensarmos um pouquinho mais a fundo nesta questão, veremos que uma teoria não está desligada de uma prática. Ela surge da necessidade de sistematização e reflexão sobre algo concreto.
Sobre a legitimidade de quem luta, lembre-se que o legítimo e ilegítimo só são estabelecidos sob a ótica dos que estão em disputa…. então….. sim, existe disputa, existe grupos que sobrevivem mediante dominação e controle de outros. E é por este fato que este artigo tem causado tanta repercussão. Como você mesmo diz “Estamos no meio do processo, da construção … ninguém está advogando que está eternamente correto” então pergunto: por que tanto incomodo em receber uma crítica? Ah, já sei, é um argumento que acabou destruindo a base em que o FDE tentava legitimar sua prática enquanto hegemônica dizendo-se alheia à esta sociedade animalesca e voraz.
F, se há alguma coisa que o texto mostra é conhecimento sobre os processos em que o coletivo em questão está envolvido. Por outro, você já não parece conhecer muito da história de seu país, ou saberia o papel que os “parceiros comerciais” tiveram e têm na cooptação de lutas sociais.
Acho que o Luther Blisset bate em uma tecla bastante importante nesse debate. Acredito que mais do que fazer uma reflexão crítica do FDE o texto peca por não refletir sobre a possibilidade de construção de diálogo como uma rede de jovens dispostos a transformação na sociedade.
É um agente político novo que precisa ser estudado com mais generosidade pela nossa parte, com mais pesquisa e mais interesse. Quando o Luther fala que “a eficácia desta estratégia depende de uma retórica convincente e atraente aos olhos desta nova juventude, nada mais é que entender quais os canais de relações possíveis com essa transformação em doses homeopáticas.
Quem será que está conseguindo dialogar com essa juventude? Os partidos? Os diretórios Acadêmicos? Não vejo isso. Ou mudamos o interlocutor ou perderemos a juventude.
Quem garante que esse jovens do FDE já definiram qual é seu programa político? Quem garante que não estão dispostos a se reinventar a partir de um diálogo com outros grupos? Quem garante que os meninos tem mais certezas do que dúvidas? Como enxergamos uma juventude que começa a achar que a militancia e subsistência estão no mesmo barco? Se eles falam que a cultura é meio será que não podemos ajudá-los a pensar o fim?
Dei uma pesquisada no google e vi algumas manifestações do FDE, vi a carta de princípios do movimento, vi o calendário de congressos estaduais, regionais, vi debates, seminários, o tal PCULT e até universidade. Pretensiosos sim, muitas vezes, mas muito mais próximo da esquerda brasileira do que o texto faz crer.
Gostaria de participar desse debate, caso realmente aconteça. E torço pra que aconteça!
Por isso vejo esse debate presencial como algo bastante interessante.
O comentário do Claudio Prado na sua twitcam que quem apanha nas manifestações tem a mesma vibração de quem bate foi, no mínimo hilário.
“a CAFESP realiza shows todos os domingos com churrasco e cerveja `na faixa`”
Como a Casa Fora do Eixo fica próxima do Glicério poderia acontecer a “Marcha dos Famintos” aos domingos para a população. Esse sim seria o churrascão da gente diferenciada.
Nada a ver?
Back to business….
http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/931316-poli-usp-quer-captar-verba-para-pesquisa-nos-moldes-de-harvard.shtml
Poli-USP quer captar verba para pesquisa nos moldes de Harvard
O orçamento anual da Universidade Harvard (EUA), considerada a melhor do mundo, beira os R$ 6 bilhões. Mas só 20% desse montante vem do governo americano.
O resto do dinheiro é uma soma de anuidades, doações e rendimentos dos chamados “endowments”, fundos de investimentos da instituição.
Esse é o modelo importado pela Escola Politécnica da USP, que agora terá seu fundo de investimentos –iniciativa pioneira nas universidades públicas brasileiras.
Assim como em Harvard, o fundo será gerenciado por uma empresa, a Endowments do Brasil, responsável por aplicar o que virá do setor privado e de ex-alunos.
“O dinheiro permanecerá intocável. Os dividendos da aplicação serão revertidos em recursos para pesquisa”, explica José Roberto Cardoso, diretor da unidade da USP.
A escola ganha autonomia para financiar parte de seus trabalhos sem depender de agências de fomento e do Estado (85% dos R$ 2,89 bilhões liberados pelo governo à USP são consumidos pela folha de pagamento da universidade).
A iniciativa, no caso da Poli, veio dos próprios alunos. Foi o Grêmio da Poli que criou o “endowment” e fez a primeira doação: R$ 100 mil. Agora, a expectativa é por recursos vindos de fora.
“Esperamos que o fundo desenvolva uma cultura de doação que ainda não existe no país”, diz Danielle Gazarini, presidente do grêmio.
A falta de “costume” em doar e receber doações é tão grande que a própria USP não contabiliza quanto dinheiro extraorçamentário recebe.
Cardoso diz que a ideia é difundir a proposta internamente na universidade. “Já fomos procurados por algumas unidades da USP para falar da nossa iniciativa.”
Por enquanto, a estrutura gerencial do fundo é pequena. A Endowments do Brasil tem alguns sócios, e só. “O custo do gerenciamento não consumirá mais de 10% do valor que se resgate”, diz Felipe Sotto-Maior, um dos diretores da empresa.
Por isso, não está previsto inicialmente uma equipe de captação de recursos, ou seja, pessoas responsáveis por contatar os ex-alunos e seduzi-los para que contribuam.
Em Harvard, há 150 funcionários gerenciando os vários “endowments” da universidade e fazendo a captação. De acordo com Sotto-Maior, o fundo pode ainda ajudar a aproximar o setor produtivo da universidade.
Mas as empresas não vão interferir no gerenciamento do fundo. Quem decidirá quais projetos receberão os recursos será um conselho, afirmam os idealizadores. “Será como uma agência de fomento: o pesquisador submete um projeto e o conselho avalia”, diz Cardoso.
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Com um adendo de um blogueiro gringo http://tupiwire.wordpress.com/2011/06/19/endowment-fever-crimson-tide-on-the-rio-pinheiros/
The Folha de S. Paulo reports: The University of São Paulo plans to imitate Harvard, establishing a private endowment to be filled up by alumni and, one suspects, principally, corporate sponsors, and then magically quintupled by ronin financial rocket scientists from Connecticut.
What is odd in this puff piece, however, is that while Harvard has been a purely private university since its founding as a Puritan sermonizer’s academy in sixteen something something, USP has always been a public university, free of cost to qualified students and subsidized directly by state funds. If I am not mistaken, this state of affairs is black-letter Constitution.
Given that state of affairs of utter category confusion, then, it seems hard to maintain the “just like Harvard” analogy. Nevertheless, the Folha works it.
Harvard, considered the best university in the world, has a budget of nearly R$ 6 billion. But only 20% of that sum comes from the American government.
Considered by whom? And wasn’t that endowment up to USD 36 billion just a few years ago?
Furthermore, that that much taxpayer money goes to subsidize a private institution with such plentiful means of its own actually seems sort of shocking — especially given the amount of defense-related contracts this sum represents, and the free-booting anarcocapitalism that has supplanted Veritas as the school’s official ideological compass.
The rest of the money is the sum of a set of annuities, donations and income from so-called “endowments”, which are investment funds belonging to the institution.
This is the model imported by the Escola Politécnica at USP, which now has its own investment fund — a first among public Brazilian universities.
Again: Harvard private. USP public. Harvard Business sells the naming rights to chairs of its business school faculty the same way baseball stadiums sell their naming rights to cell phone operators nowadays. Tell us again how self-sufficient its research is and appears to be?
Just like at Harvard, the fund will be managed by a third-party firm, Endowments do Brasil, which will invest what is received from private donors and alumni.
“The principal is untouchable. The dividends will be plowed back into research funding”, explains José Roberto Cardoso, director of Poli-USP.
In this way, the school gains some autonomy from research incubators run by the State — 85% of the R$ 2,89 billion given to USP is consumed by university payroll.
And now it will be able to produce research without having to pay anyone a salary to produce it?
In the case of Poli the idea came from the students themselves. It was the «Grêmio da Poli» that created the “endowment” and made the first donation: R$ 100,000. What the institution hopes for now is money from outside [the school, the state, Brazil].
The peculiarly Brazilian twist given to the concept of “managing innovation” continues to fascinate me, though I do not have as much time to follow up on it.
All I can say as an alumnus of a private liberal arts college run on the Oxford model and a gigantic state university run into the ground on the principals of social entrepreneurship is that the autonomous university system in Latin American countries is a model not to be cast aside lightly.
The pitch from Endowments do Brasil — surely there is a Portuguese word that can be pressed into service for “endownment”, such as the plain old FIP? — seems pretty greasy to me.
Harvard, Yale, Cambridge, Ford Foundation and the Bill and Melinda Gates Foundations consolidated their financial independence using endowments organized by each of them, and each of these entities withdraw each month a great deal of the financial resources they need to operate.
Correct me if I am wrong, but Ford and Gates consolidated their financial independence with predatory business practices — oiled with the blood of the workers, if you will — and then endowed Ivy League universities to stamp out junior managers preprogrammed with that same predatory frame of mind.
I personally am not ready to consider any university top-notch that still maintains a legacy admission policy — like Yale and Harvard, both of which admitted George W. Bush because of who his father was.
A Esquerda nos Eixos e o novo ativismo
Ivana Bentes
Pretendia escrever um texto de avaliação sobre as Marchas da Liberdade em todo Brasil quando vi este artigo na rede, sintomático da perplexidade de certos setores da esquerda tradicional com as mudanças e crise do capitalismo fordista e as novas dinâmicas de resistência e criação dentro do chamado capitalismo cognitivo (pós-fordista, da informação ou cultural).
Crise e desestruturação que tem como horizonte a universalização dos meios de produção e infra-estrutura pública instalada, a constituição de novos circuitos e mercados e a emergência de uma intelectualidade de massa (não mais o “proletariado”, mas o cognitariado) com a possibilidade da apropriação tecnológica por diferentes grupo (software livre, códigos abertos, cultura digital).
Crise e paradoxo onde o próprio crescimento gera e multiplica precariedade, mas também novas dinâmicas e modelos.
O capitalismo da “abundância” produz crise ao entrar no horizonte da gratuidade/compartilhamento/colaboração com uma mutação da própria idéia de “propriedade” (ver a crise do Direito Autoral).
O texto percebe as mudanças, estruturais, mas não consegue ir além nas conseqüências e funciona como uma caricatura que busca demonizar as novas dinâmicas sociais e culturais pós-fordistas e despotencializar a cultura digital, o midiativismo e as estratégias de apropriação tecnológicas das redes, inclusive a apropriação de ferramentas como o Facebook, twitter e outras para causas e objetivos próprios, como fizeram os árabes e os espanhóis, hackeando as novas corporações pós-fordistas.
Falta ao texto (além de diagnósticos equivocados sobre a “nova classe dominante”) um arsenal teórico minimamente a altura das mutações, crises e impasses do próprio capitalismo.
Há uma frase sintomática neste artigo que me chamou atenção e que esclarece em muito sobre “quem” fala e de “onde” fala sob a assinatura anônima/coletiva:
Diz: “é praticamente impossível para um observador desatento ou viciado nas velhas estruturas identificar e combater o novo sujeito formado por este coletivo (ou rede).”, referindo-se ao Circuito Fora do Eixo a quem os autores atribuem _ numa teoria “conspiratória” que não esconde uma envergonhada admiração_ praticamente tudo o que está acontecendo de mais interessante na cena do ativismo brasileiro!
A frase explicita o medo diante das novas dinâmicas que estão sendo inventadas e experimentadas “fora do eixo” da esquerda clássica, criando experiências e conceitos que explodem o arsenal de teorias maniqueístas fordistas de uma esquerda pautada pelo capitalismo do século XX, incapaz de enxergar as “revoluções do capitalismo”, dentro “do” capitalismo e que vem sendo discutidas pelo menos desde maio de 68 ou logo depois quando, por exemplo, os teóricos-ativistas Gilles Deleuze e Félix Guattari lançaram o extraordinário manifesto “O Anti-Édipo ou Capitalismo e Esquizofrenia”, de 1972. Ou que ignora as análises sobre as mutações do capitalismo tematizadas por um teórico comunista como Antonio Negri, nos livros “Império” e “Multidão”, dois clássicos contemporâneos.
A frase dá bem a dimensão desse medo e incompreensão do novo e aponta a própria incapacidade de ver dos autores do artigo.
O observador “viciado nas velhas estruturas” é exatamente “quem fala” neste texto, que também se entrega, medroso e preocupado, com a perda do seu próprio protagonismo. Perda de toda uma esquerda fordista que funciona hoje como a “vanguarda da retaguarda” mais conservadora até que muitas dinâmicas do próprio mercado!
Entre os problemas mais gritantes destaco:
1.O texto não consegue configurar que os movimentos e articulações, ainda que incipientes, das marchas das liberdades em todo Brasil não são “a nova classe dominante”, mas a emergência de um movimento transversal, “movimento de movimentos”, com dinâmica própria e singular em cada território, com uma pauta heterogênea, aberta e em construção, sem “central única” ou “comando” dos “iluminados”, que se auto-organiza e cujos “fins” não foram dados a priori!
2. Não se trata de uma “nova classe média liberal”, nem “nova classe dominante”, “despolitizada”, mas de um arranjo transversal que junta e agrega o chamado precariado urbano, a nova força de transformação no capitalismo contemporâneo.
3. Ou seja, movimentos como os das marchas (e tantos outros) ou o Circuito Fora do Eixo são a base de um novo ativismo contemporâneo, a da emergência do precariado cognitivo, ou cultural, ou seja, da explosão e da percepção que o sistema trabalhista fordista e previdenciário clássicos não dão mais contas da dinâmica de ocupações ‘livres’ (mesmo que frágeis e sem segurança) no capitalismo da informação. E que essa precariedade e autonomia não significa apenas “vitimizar” e “assujeitar” é uma potência para novos arranjos, alianças e lutas.
4. O Circuito Fora do Eixo é, no meu entender, um dos mais potentes laboratórios de experimentações das novas dinâmicas do trabalho e das subjetividades. Que tem como base: autonomia, liberdade e um novo “comunismo” (construção de Comum, comunidade, caixas coletivos, moedas coletivas, redes integradas, economia viva e mercados solidários).
Estão FORA do eixo/fetiche da esquerda por trabalhadores assujeitados na relação patrão/empregado! Mas tem enorme potência para articularem não apenas a classe média urbana, mas se articularem com os pobres e precários das periferias e favelas, ao se conectarem com outras redes como a da CUFA e outras, que junta os jovens negros e pobres para outras marchas como a do Direito a Moradia, em preparação. Além de outras articulações sem medo de “aparelhamentos” seja das corporações, dos partidos, ou do Estado. Sem demonizar as relações com os mercados, mas inventando e pautando, “criando” outros mercados, fora da lógica fordista do assujeitamento.
5. Ou seja, o Fora do Eixo entendeu que o modelo na produção cultural é o modelo de funcionamento do próprio capitalismo.
Não mais o capitalismo fordista da “carteira assinada” mas o dos zilhões de free-lancers, autônomos, diplomados sem empregos, sub-empregados, camelôs, favelados, contratados temporários, designes, artistas, atores, técnicos, que ou “vendem” sua força livre de trabalho com atividades flutuantes temporárias, ou se ORGANIZAM e INVENTAM o próprio emprego/ocupação e novos circuitos, como tem feito de forma incrivelmente bem sucedida o Circuito Fora do Eixo, resignificando e potencializando o imaginário de jovens no Brasil inteiro.
Uma esquerda pós-fordista que está dando certo, que inventa estratégias de Mídia, que inventa “mercados” solidários, contrariando os anunciadores do apocalipse.
6. A ideia de que, para se ter “direitos”, é preciso se “assujeitar” em uma relação de patrão/empregado, de “assalariamento”, é uma ideia francamente conservadora. O precariado cognitivo, os jovens precários das economias da cultura estão reinventando as relações de trabalho; os desafios são enormes, a economia pós-Google não é fordista, não é melhor nem pior que as velhas corporações, mas abre para outras dinâmicas e estratégias de luta, EM DISPUTA!
Não vamos combater as novas assimetrias e desigualdades com discursos e instrumentos da revolução industrial!!! Como faz o texto na sua argumentação redutora e tendenciosa.
Não é só o capitalismo financeiro que funciona em fluxo e em rede, veloz e dinâmico. As novas lutas e resistências passam por essas mesmas estratégias.
O Fora do Eixo está apontando para as novas formas de lutas, novas estratégias e ferramentas, que inclui inclusive PAUTAR AS POLITICA PUBLICAS, PAUTAR o Parlamento, PAUTAR A MIDIA, Pautar a Globo, como as marchas conseguiram fazer! Ser bem sucedido ai, onde muitos fracassaram, é o que parece imperdoável!
Há um enorme ressentimento no texto, mal disfarçado, diante de tanta potência, lida pela chave mesquinha da “luta por poder”, “captalização de prestígio”, da “nova classe dominante”. O objetivo infelizmente parece ser o de desqualificar, rotular e “neutralizar” os que são os novos aliados de uma radicalização do processo democrático no Brasil, que estão inovando na linguagem e nas estratégias. “Perigo” que ameaça a jovem/velha esquerda, que perde protagonismo em todas as esferas, incapaz de dialogar com esse novo e complexo cenário, com todos os seus riscos. Experimentar = se expor aos riscos.
7. Como dizem os ativistas italianos: “Odeia a Mídia? Torne-se Mídia”. A velha esquerda foi incapaz de fazer frente as velhas corporações, perdeu para a mídia de massas, conseguiu pautar algumas politicas públicas, mas está francamente perdida no capitalismo dos fluxos e das redes. Não sabe como resistir, nem inovar, nem experimentar, nem ousar. Está tristemente na retaguarda do próprio mercado!!!
8. O artigo parece ter como horizonte a luta por cartórios do século XIX!!! Com estratégias e palavras de ordem abstratas, um “anticapitalismo” vago que perdeu o sentido. Pois as novas lutas são em FLUXO, são modulações, não são MOLDES PRE-FABRICADOS, não são sequer anti-capitalistas, no sentido estrito, pois estão hackeando o capitalismo, se apropriando de suas estratégias para resignificar o COMUNISMO das redes, no sentido mais radical de um comunismo DENTRO do próprio capitalismo, esquizofrenia do sistema que produz hoje um horizonte do COMUM, que temos que construir e pelo que temos que lutar.
9. É preciso dizer ainda que “não existe UM outro mundo”, não existe “fora do capitalismo” (como diz Guattari e Negri) só existe esse mundo aqui, em processo, mutante, imanência radical, e é deste mundo aqui (um rio que vem de longe…) que iremos inventar outros tantos mundos, no plural.
10. O Fora do Eixo, nas suas práticas de criação de comum e comunidades (que o texto detecta mas distorce) e politização do cotidiano, não é o “inimigo” a combater, estão forjando as novas armas para os movimentos em fluxo, então criando redes, fazendo midiativismo, estão relendo e re-inventando, de forma empírica e genial, dinâmicas e processos decisivos dos embates políticos: situacionismo, Maio de 68, experiências de Seatle, hackerativismo, cultura livre, estão na deriva e na luta. A “geração em rede” não mascara nenhum tipo de “conteúdo político oculto e perigoso” que precisa ser desmascarado, ela é o novo conteúdo e linguagem política, ela encarna as novas lutas e está inventando futuros alternativos. (IB)
Ivana,
Citar um monte de pessoas legais não vai me fazer acreditar que esse underground wannabe mainstream é, de alguma forma, revolucionário, ou bom.
Fico abismada ao ver pessoas que trabalham com tecnologias colaborativas dizer que assinatura coletiva é o mesmo que assinatura anônima.
Desculpem-me a extenção dos recortes do comentário de Ivana Bentes, mas acredito serem eles sintomáticos dos argumentos de classe expostos neste espaço.
“incapaz de enxergar as “revoluções do capitalismo”, dentro “do” capitalismo”
“O texto percebe as mudanças, estruturais, mas não consegue ir além nas conseqüências e funciona como uma caricatura que busca demonizar as novas dinâmicas sociais e culturais pós-fordistas e despotencializar a cultura digital”
“E que essa precariedade e autonomia não significa apenas “vitimizar” e “assujeitar” é uma potência para novos arranjos, alianças e lutas”
“O Circuito Fora do Eixo é, no meu entender, um dos mais potentes laboratórios de experimentações das novas dinâmicas do trabalho e das subjetividades”
“Mas tem enorme potência para articularem não apenas a classe média urbana, mas se articularem com os pobres e precários das periferias e favelas,”
“Além de outras articulações sem medo de “aparelhamentos” seja das corporações, dos partidos, ou do Estado. Sem demonizar as relações com os mercados, mas inventando e pautando, “criando” outros mercados, fora da lógica fordista do assujeitamento.”
“o Fora do Eixo entendeu que o modelo na produção cultural é o modelo de funcionamento do próprio capitalismo. ”
“a economia pós-Google não é fordista, não é melhor nem pior que as velhas corporações, mas abre para outras dinâmicas e estratégias de luta, EM DISPUTA!”
“O Fora do Eixo está apontando para as novas formas de lutas, novas estratégias e ferramentas, que inclui inclusive PAUTAR AS POLITICA PUBLICAS, PAUTAR o Parlamento, PAUTAR A MIDIA, Pautar a Globo”
“Pois as novas lutas são em FLUXO, são modulações, não são MOLDES PRE-FABRICADOS, não são sequer anti-capitalistas, no sentido estrito, pois estão hackeando o capitalismo, se apropriando de suas estratégias para resignificar o COMUNISMO das redes, no sentido mais radical de um comunismo DENTRO do próprio capitalismo,”
“estão relendo e re-inventando, de forma empírica e genial, dinâmicas e processos decisivos dos embates políticos: situacionismo, Maio de 68, experiências de Seatle, hackerativismo, cultura livre, estão na deriva e na luta.”
Esta aí, claramente exposta, a tentativa dos novos gestores em criar condições para assimilar as lutas em favor de novos patamares de produtividade capitalista, reforçando a precariedade da vida da atual classe trabalhadora. Proporcionar alianças de classes, “pautar” as instituições de dominação e exploração, criar mercados “solidários” e “novas” moedas, etc. Esse é o objetivo desses novos gestores. Tentar enquadrar as lutas e manter a revolta dentro da ordem capitalista.
O comentário de Ivana Bentes reforçou e confirmou o caráter justo dos argumentos expostos no artigo.
Salve,
Texto fundamental, acerta em cheio na discussão e talvez justamente por isso tenha causado tanta repercussão.
Aos defensores do “pos-rancor” eu digo: é facil nao ter rancor sendo rico, bem alimentado, tendo um bom emprego, morando numa casa boa, estudando em boas escolas, para vocês eu recomendo o seguinte video:
FACÇÃO CENTRAL – Isso aqui é uma guerra
http://www.youtube.com/watch?v=kT0iic4-4YQ
Para os defensores do “nem esquerda e nem direita” eu digo: A direita adora vocês, enquanto defendem as liberdades individuais de uma maneira despolitizada a direita deita e rola, vocês tentam seduzir os jovens com uma militancia facil e aprovada pelo estado e são os primeiros a frear qualquer ato que fuja do script, isso nao é novidade, a voces eu dedico o seguinte video:
SIN DIOS – LA IDEA EN VIVO EN SP (legendado)
http://www.youtube.com/watch?v=bdVDO2Q10NU
Mas nem tudo é tristeza, acredito na pedagogia da luta, um ato de revolta vale muito mais que duzentos intelectuais, autogestão, apoio mutuo, solidariedade são coisas que nao se aprendem nos livros.
A las barricadas, nas ruas e na vida.
Mauricio
É curioso que o comentário de Ivana Bentes tivesse sido colocado praticamente ao mesmo tempo que foi publicado este artigo
http://passapalavra.info/?p=41431
Sugiro aos leitores que comparem o comentário e o artigo.
Ivana,
Acho que você fez considerações importantes em relação ao FDE, mas que do meu ponto de vista melhor se adequariam aos chamados novos movimentos, incluindo o indymedia, as rádios livres (Guattari, citado por você, foi um dos participantes da pioneira Radio Alice na Itália) ou ainda os hackers do Wikileaks.
Existem sim grupos que estão hackeando as estruturas capitalistas, se apropriando de tecnologias em busca de uma superação do capitalismo.
Mas é importante lembrar que o contrário também ocorre frequentemente (e esse é o caso presente): o fluxo capitalista hackeando grupos através de uma retórica puramente estética, onde celebram-se discursos sobre horizontalidade e auto-organização, mas na prática há apenas uma postura que visa o lucro, o mainstream, os editais. As corporações e os estados ganham com as estatísticas de apoio cultural/social e com a construção de uma faxada descolada, que respeita o meio ambiente, que usa software construído colaborativamente, etc.. Até a Globo.com tem se promovido nesse sentido (venha trabalhar conosco hackers, nós usamos software livre!!)
O capitalismo rizomático não irá libertar as populações indígenas ou os semi-escravos que exploram silício ou que produzem processadores no oriente. É nesse sentido que não podemos perder o mote anti-capitalista. Fiquemos atentos, pois a raiz aprendeu como se disfarçar de rizoma!
Estive nas Marchas em Floripa, depois de ter passado a semana inteira a greve por ser professor ACT estadual, quem estava na marcha aqui a grande maioria ativistas de outras frentes como o Grupo de Ação Feminista, Ativistas do MPL e da Frente, antigos companheiros que tem uma longa data em movimentações libertárias, militantes do movimento GLSBT, dava para dois ou três pessoas ligadas aos pontos presentes, mesmo esses conheço de longa data são as mesmas pessoas que estão nas ruas quando a mobilizações contra o transporte coletivo e dão visibilidade para as lutas comunitárias como é caso do Pontão Ganesha.
Não era uma marcha massiva e nem ao menos menos legítima que nossa luta no magistério, havia um diferencial consequência dos desdobramentos do próprio ativismo autônomo da cidade que ao longo dos últimos anos foi perdendo muito da sua história e conteúdos, não só por causa das políticas do MinC, mas por algo comum a outros coletivos e redes, as pessoas foram saindo e indo atuar em outras lutas e deixando lacunas significativas nos grupos que faziam parte.
Quando fala que o debate é sociológico e ideológico acho que há uma questão sobre Floripa que me parece pertinente e diz respeito a leitura que os anarquistas precisam se aproximar das lutas populares.
Isso acho que é consenso para maioria das pessoas que e autodefinem como anarquistas, autônomas e de esquerda radical na cidade, o que não é consenso é forma de se organizar.
Tentou-se em um encontro do grupo de apoiadores da FARG introduzir concepções do anarquismo social em Floripa, boa parte delas acho que foram aceitas, o problema que para introduzir as teses da corrente foi feita uma leitura bastante pobre da história da lutas de cunho libertário na cidade, o que causou um certo desconforto principalmente em ativistas ativos de longa data porque de certa forma sem meias palavras foram colocadas numa berlinda que jogava a água fora com a criança dentro.
Sobre essa questão:http://acratastudiorum.blogspot.com/2009/04/primeiro-coloquio-do-anarquismo-social.html
Texto do Camarada Cleber Rudi
Em resumo a marcha aqui foi composta pelas mesmas pessoas que atuam no CMI, estudantes,pela GAFE, pela na Frente pelo transporte público, no movimento GLBT e por aí vai… Todos somos passíveis de crítica, mas no momento realmente o que é mais importante é nos fortalecer, debater e ir para ação, ao invés de se digladiar em nome de teses…pois estamos sendo engolidos pelo capitalismo web 2.0 como pelas velhas oligarquias e classe política local.
Sobre os textos sugeridos achei ótimo o lembrete.
Texto importante. Desde que estou no estágio e sendo vigiado, impossível ler todos os comentários. Por isso, é provável que eu repita coisas já ditas.
Senti um certo fatalismo no artigo, como se a mera forma contraditória como se deram as novas mobilizações vão necessariamente restringir o conteúdo das lutas: parece não se levar em consideração que a história das lutas/revoluções sempre estiveram abertas e em disputa. Acho muito oportuno chamar atenção para a relação entre o projeto do metrô de Higienópolis/churrasco da gente diferenciada e as novas exigências do capitalismo brasileiro, com a incorporação de novos mercados e a pressão sobre setores “arcaicos” da elite.
Há uma questão bastante simples, que o artigo, porém, não leva em consideração: a intervenção e disputa dos movimentos/lutas no sentido de dar uma orientação anti-capitalista, apresentar os limites das manifestações, enfim, a possibilidade de mudar os rumos das coisas.
Não é novidade a incorporação dos métodos de resistência e as formas de organização desenvolvido em momentos de luta ativa e coletiva dos trabalhadores pelo capitalismo como forma de dinamizar a exploração. As novas formas de organização do trabalho, como sabemos, não são “vitórias” acumuladas pelos trabalhadores, mas atendem às novas formas de super-exploração (flexibilização, organização em rede, disseminação da ideologia da participação, etc.). Esta incorporação exige preparo e maior capacidade crítica da militância, mas sinceramente, não fui convencido de que a incorporação encerra a possibilidade das lutas diversas (citadas no artigo) conjugarem-se em um movimento anticapitalista – o que evidentemente passa pela derrota dos setores políticos denunciados no texto.
Se o objetivo é esse, uma das exigências foi dita em termos muito simples por um cara por quem eu tenho muito respeito e que realmente não tem nada a ver com este site/espaço. Carlos Marighella: o segredo da vitória é o povo. Ou, mais especificamente, o desafio é dar um conteúdo de classes aos embates e apontar a alternativa socialista.
Conheço pouco a teoria dos gestores, então não vou falar sobre isto sem ler mais sobre. Mas sempre que leio coisas que tratam desta teoria, sinto a impressão de que os diagnósticos são muito bons, mas acabamos saindo desarmados politicamente.
Finalmente, acho que o ponto alto do artigo é a crítica ao grupo Fora do Eixo e a relação entre as novas mídias e as novas formas de mercado de consumo e exploração do trabalho no âmbito da cultura. Vou repassar pro pessoal da minha banda
abs
Eu acho que o texto cumpre uma função importantérrima de alertar que, sim, está se estruturando um novo projeto de poder. Toda a discussão sobre “software livre” e “web 2.0” (e importante entender que esses dois movimentos não são sinônimos) é muito ambígua entre duas intenções diferentes: ampliar o acesso da tecnologia à camadas excluídas X a construção dum novo tipo de mercado fluido e flexível.
Essa falta de clareza é uma jogada estratégica na qual os militantes que Realmente acreditam na democratização me parece que estão usados (inclusive como mão de obra barata – posto que trabalham “por amor à causa”).
Fala-se do “arcaísmo das esquerdas”.. bom, problemas de articulação entre teoria, análise de conjuntura, e prática, existem entre diversos coletivos. Isso inclui as leituras marxistas, mas também não se pode negar o elitismo do movimento LGBT, as hierarquias de poder no movimento feminista, entre outros. Falam do Marx, mas muitos militantes por Software Livre são dogmaticamente apaixonados por Pierre Levy, que analisou a internet nos anos 90 – desde quando MUITA coisa mudou.
Os pós-rancor também falam do dogmatismo marxista, mas não sabem arrotar outra coisa senão as cartilhas deleuzo-guattarianas, enfim…
O dogmatismo não está numa teoria ou noutra. O dogmatismo está numa realidade que separa a construção de teorias analíticas da realidade que pretenderiam transformar. Negar a opressão de classes TAMBÉM é um dogmatismo.
E beleza, muitos teóricos já vem refletindo que o contexto de produção do capitalismo contemporâneo mudou. A questão da “produção imaterial” vem gerando formas de opressão que já não envolvem mais apenas o operariado clássico – aliás, vem criando maneiras de produzir que já não precisam mais incluir operários num quadro regular de trabalho.
Isso cria uma situação em que as fronteiras entre classe média e baixa mudam muito, dependem muito mais do “saber” (o tal “know how”) do que propriamente de “títulos”.
Mas não quer dizer que essas fronteiras desapareceram!
Inclusive porque, junto da opressão de classe, está a opressão racial (cada vez mais diluída e piorada nos últimos tempos). A raça é um fantasma que a maior parte dos movimentos não vem conseguindo lidar Mesmo.
E a geração “pós-rancor” ocupa novamente a Avenida Paulista!!
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/933568-grupo-promove-abraco-coletivo-em-ato-pela-paz-na-av-paulista.shtml
“Até policiais militares deram um tempo na ronda e deram as mãos aos pedestres apressados.”
Gostaria de sugerir então que o Passa a Palavra organize o debate. Em nenhum momento nos propusemos a organizar ou assumir a paternidade do debate, só queremos debater.
O Ao Vivo é sempre bacana, tet-a-tet, com mediadores, pessoas perguntando, assistindo, o contraditório exposto diretamente. Isso não inviabiliza a continuidade do debate em artigos, textos e respostas nos comentários mas com certeza cria novas possibilidades de ampliação.
Existe restrições também a pessoas ou só a entidades? Alguma outra entidade ou pessoa ai que esteja dentro dos critérios/padrões aceitáveis pelo PASSA PALAVRA poderia puxar esse debate? Estamos e continuamos a disposição.
Bjs!
O Passa Palavra já hoje de manhã deu a sua resposta à questão do debate:
http://passapalavra.info/?p=41431
O artigo, ao meu ver, apontou entre outros, um interessante problema, o do gerenciamento do Movimento pela Liberdade por uma dada coletividade baseada num dado discurso. Que discurso é esse? Sim, uso a palavra “discurso” e não Ideologia porque para muitos esta última está fora de moda! Estou tentando entender que discurso é esse, e, parece-me, o seu pressuposto pode ser explicado da seguinte maneira: o capitalismo está aí, é um fato consumado e, dessa forma, ao invés de destruí-lo (isso seria idéia de rancorosos, só os rancorosos querem acabar com o mal pela raiz!), devemos utilizar das mesmas estratégias empresariais para sobreviver. Mas, e quais são as estratégias? Dado o desenvolvimento da tecnologia, as relações de trabalho foram alteradas, não é mesmo? E não cabe mais o emprego de trabalho braçal, de formas arcaicas, estas são coisas do passado, assim como o repertório da Esquerda! Portanto devemos estimular a criatividade, a motivação, a desenvoltura, o tesão, enfim, as habilidades dos sujeitos. Essa lógica é a mesma utilizada nas empresas que sabem a importância do “ativo intangível” para dinamizar e potencializar a produção, com o pretexto de que as pessoas envolvidas terão maiores oportunidades de trabalho e poderão participar no processo decisório. A esse tipo de gestão é dado o nome de Trabalho Compartilhado. Esse modelo de gestão tem por objetivo a maior e melhor produtividade, bem como a satisfação do cliente e dos trabalhadores envolvidos no processo. O que não é revelado nesse modelo de gestão pelos seus entusiastas? À custa de quem a qualidade da produtividade e a eficiência são garantidas? Quais são as formas de controle que são encobertas por essa forma de gestão? Quem são os sujeitos – qual a sua cor, raça e condição social – possuidores das habilidades e competências desejadas pelos empreendedores da era pós-tudo?
Me incomoda profundamente a expressão “pós-rancor”, lembra a expressão “transição pacífica”, que é usada basicamente pela centro-direita brasileira.
Mais um registro: a marcha da liberdade reuniu cerca de quarenta pessoas em brasília.
mano que da hora! a casa caiu pra esses plyboys fora do eixo, ein? é como disse o nêgo bang no seu comentário: ontem era o sou da paz, hoje sou pós-rancor! kkkkk! e agora os maluco entraram em choque com a máscara no chão, né não? é como o eike batista e o luciano huck nas favelas lá do rio junto com o afro reaggea fazendo festival de cultura! kkkk!
Sei lá, se a polícia passa dando a mão, isso é indicativo de que a manifestação é politicamente inválida?
Manifestação válida é só aquela que a polícia desce o cacete?
Meio rasteiro esse pensamento.
Bem, o que dizer….
Concordo com algumas coisas que a Ivana fala, concordo que a lente da esquerda tradicional em dicotomizar tudo se tornou obsoleta…. acredito que certas dimensões táticas de transformação podem ser pensadas e experimentadas,sem dogmas….
O problema eh tentar resumir isso a um modelo, e dar a esse modelo uma representação UNIVERSAL, aonde o Claudio Prado comete o mesmo erro do seculo XIX, ao tentar definir a famigerada ‘geração pós-rancor’ como novo modelo. Ora, pos-rancor, de CU,é rola.Como não ter rancor diante de tantas barbaridades cometidas contra a vida humana, com a expropriação do tempo da pessoas de forma cada vez mais violenta.
TEMOS EH QUE ASSUMIR NOSSO RANCOR!!! RANCOR é muito diferente de ressentimento. Temos eh que tornar esse rancor produtivo, torna-lo movimento, articulando diferentes setores da sociedade…. como a marcha poderia ter feito mais nao o fez….porque a marcha nao podia ser contra nada….uhhhhhh….. somos a favor de tudo, tudo lindo…..copacabana mon amour…. ISSO ESTA FORA DA REALIDADE DA MAIORIA DOS BRASILEIROS. Temos que ser contra muita coisa sim, ter rancor de pagar uma passagem cara pra ser tratado como gado. ter rancor de tomar tapa na cara de policial, ter rancor de um estado que sempre beneficia grandes empresarios em prejuizo da populacao,como no caso de Belo Monte…..
COMO ASSIM PATROCINIO DA COCA-COLA mano? vcs tavam de sacanagem, querendo desarticular ou o que? PQ é muita falta de senso de ridiculo. VCS nao reconhecem como a grande s corporacoes prejudicam e expropriam a vidadas pessoas, da natureza, da vida em geral?
Em suma, eu nao tenho nada contra o Fora do Eixo, e ateh ontem achava a experiencia deles bem interessante. Nesse sentido concordo em parte com a Ivana, de que essas experiencias podem ser bacanas.
Mas discordo profundamente dela, no mesmo ponto em que o Claudio Prado peca, ao tentar universalizar eles como representantes da nova geração de ativistinhas globais… E nesse processo o FDE parece ter mudado de foco da sua atuação e busca se tornar o porta-voz de algo, contraditorialmente ao seu discurso de horizontalidade e redes…. como entender que a noca super sede do Fora do EIXO seja em SAO PAULO???????????? Fora do Eixo???
Em suma, acho que nao eh pra demonizar todas as experiencias de cultura digital, redes, nem grupos que buscam se sustentar por editais e outras formas de financiamento. Isso seria o cumulo do dogmatismo idiota. A questao eh se na pratica eles estao transformando sua realidade local.
O problema é a tentativa de UNIVERSALIZAÇÃO de um discurso e a tentativa de uma institucionalização de um porta-voz com uma visão bastante equivocada do mundo. Isso desarticulou o que poderia ser um ato muito potente, unindo periferia e centro, em um ato sem força nenhuma……….a marcha da liberdade foi um fracasso………………(ah nao, apareceu na globo…)
Eu como não estou por dentro dessas marchas e nem sabia o que era “Fora do Eixo” fiquei meio indiferente ao artigo.
Mas pelos comentários dos defensores e envolvidos com o tal Fora do Eixo, só posso dizer que o artigo foi por demais suave, muito brando e até pouco crítico em relação a tal organização.
Para constar, quem comentou algo sobre o “Pensando por Fora” do Paulo Arantes, realmente não sei com que base escreveu que houve uma cooptação ou uma virada de lado daqueles aos quais ele se dirigia. Todos, com exceção talvez de um ou outro, continuam vendoo mundo na perspectiva de uma luta de classes.
opressão é ter de ler isto tudo para não ter a menor expectativa de entendimento ou avanço, deveria estar sendo criada a ponte para explicar aos meninos o que eles não sabem. fico preocupado com uma discussão que precisa ser impessoal, anonima, em textos e analises que indicam apuro intelectual, e medo, muito medo de ser desmentido por mais uma geração, na prática diária. desacredito de uma discussão anonima que para fazer valer seu ponto precise desmascarar o adversario, ad hominem, apontando o dedo – gestionando, fazendo a gestão do campo politico. não consigo estabelecer o desinteresse, o desapego às segundas intenções em quem diz que quer propor alternativas ao capitalismo mas não expõe seu plano de poder. mas ruim mesmo é não topar conversar! aproveitem este instante de visibilidade, ele será tão fátuo quanto o futuro que se preve para movimentos sem dono.
Caros, aproveito para enviar esse texto do Sandro Fornazari que deixa claro que as marchas da liberdade, os Pontos de Cultura, o ativismo dos coletivos estão muito mais próximos da proposição (que vem com o Maio de 68!!!) da emergência das diferenças e minorias (negros, feministas, periferias, homossexuais, etc.) do que do limitado conceito de “lutas de classes”.
Filosofia prática
Uma das noções norteadoras do pensamento político de Deleuze e Guattari é a de que uma filosofia política que se preze, hoje, deve estar centrada na análise do capitalismo e de seus desenvolvimentos. O interesse por Marx, por parte dos autores de O anti-Édipo e Mil platôs, é a análise do capitalismo como sistema imanente que se reproduz sempre em escala crescente, incorporando inclusive as forças produtivas que se constituem, originalmente, à sua margem e, no mais das vezes, em resistência a ele. Se essa análise, contudo, desloca a si mesma em relação ao debate marxista, é porque soube criar novos conceitos para pensar a singularidade da experiência política da Europa pós-68.
Entre eles, o conceito de linha de fuga (ao invés de contradição) para explicitar os movimentos constitutivos de cada sociedade para além dos regimes jurídicos e institucionais que visam a uniformização e o regramento da vida social.
Além disso, o conceito de classe dá lugar ao de minoria, que não se define pelo número, pois ela pode ser mais numerosa que uma maioria. A maioria se apresenta como um modelo que procura se impor como norma, enquanto a minoria é antes um processo que uma adequação ao mesmo (modelo); a minoria é um devir-outro, uma ruptura com o mesmo e uma abertura para o novo enquanto processo de criação.
Nesse sentido, pode-se perguntar se o Brasil contemporâneo não vive um processo de esfacelamento dos modelos majoritários (o homem branco morador dos bairros não-periféricos das grandes cidades do Sul-Sudeste) e por um intenso e múltiplo devir-minoritário: devir-negro, devir-mestiço, devir-mulher, devir-homossexual, devir-nordestino, devir-índio, devir-periferia, que vale para cada brasileiro que se vê arrastado por esses caminhos de criação, que é também o caminho de criação de si como outro.
O debate político que se propõe se define a partir de uma filosofia prática e passa pela produção de sentido, antes que pela decifração do real. Decifrar o real é encontrar o sentido como dado a priori que já comporta em si um esquema de valores estabelecidos que justifica o real tal como ele é, levando a esquivar-se diante da miséria, resignar-se diante do intolerável. O que se propõe é um pensamento que, na apreensão mesma do intolerável, responda enfaticamente através da produção de novos sentidos e valores, numa prática que renuncie a toda política de compromisso com os valores vigentes que resultam na imensa fabricação da miséria humana, material e espiritual. (…) Assim, o pensamento se afirma enquanto prática imanente decorrente das forças da experiência vivida em sua singularidade: não há filosofia que não seja filosofia política. (Sandro Kobol Fornazari)
Em 29 de março de 1845 escrevi a meu irmão Pavel:
“Não me trateis por cruel; é tempo de que nós nos libertemos de um sentimentalismo impotente e irreal; é tempo de sermos homens, homens tão fortes e tão constantes no ódio quanto no amor. Sem perdão, mas guerra implacável a meus inimigos, pois esses são os inimigos de tudo o que há de humano em nós, os inimigos de nossa dignidade, de nossa liberdade.
Nós por muito tempo amamos,
Queremos finalmente odiar.
Sim, a capacidade de odiar é inseparável da capacidade de amar.”
Ivana Bentes,
Me surpreende a afirmação de que o conceito de “luta de classes” é limitado e no seu lugar se propõe falar em ‘minorias’, ou lutas de minorias. Conceitos não são neutros, e eles expressam objetivos, valores. Ora, o conceito de luta de classes expressa a visão de que existem exploradores e explorados, opressores e oprimidos. Há na sociedade quem manda e quem obedece. Ora, a propriedade privada é base disso na sociedade capitalista.
Até mesmo os neozapatistas, tão exaltados por’pós-modernos’ (e por mim também), explicitam que a tomada dos meios de produção foi a base para o avanço até mesmo das condições de vida das ‘minorias’ (sejam as mulheres das próprias comunidades zapatistas, sejam os próprios indígenas zapatistas como um todo). A expropriação dos latifundiários de Chiapas, que praticamemnte escravizavam os trabalhadores (indígenas), se tratou do que, senão de luta de classes? (“O Neozapatismo e os Velhos Meios de Produção” http://passapalavra.info/?p=2280)
Me surpreende também o uso que é feito do discurso teórico de Negri e outros e ao mesmo tempo se coloca a luta de classes como algo anacrônico. Há uma equizofrenia teórica nisso.
Poderia citar inúmeras passagens e Negri, Hardt ou Virno para desfazer essa leitura equivocada de que os conceitos deles significariam um fim do proletariado ou da luta de classes ou algo que o valha. Mas deixo aqui apenas uma:
“Exploração deverá significar de fato, apropriação de uma parte ou de todo o valor que foi construído em comum. (Este “em comum” não quer dizer que, na produção, trabalhadores e patrões estejam juntos: absolutamente não! A luta de classe continua!) A emergência do comum que se dá no processo produtivo não elimina o antagonismo interno à produção, mas o desenvolve – imediatamente – no nível de toda a sociedade produtiva. Trabalhadores e capitalistas se chocam na produção social, porque os trabalhadores (a multidão) representam o comum (a cooperação), enquanto os capitalistas (o poder) representam as múltiplas mas sempre ferozes – vias de apropriação privada” (Negri, Cinco Lições sobre o Império, p.266-267).
Nossa gente… Que discussão bizarra!!
O argumento do pessoal do Fora do Eixo é uma mistura de comunidade do Orkut, com comentários das notícias do UOL e do Centro de Mídia Independente. Sinceramente, acho que a diferença de argumentação é tão abissal que não compensa discutir. Parece a mesma coisa de tentar fazer um funcionário “veste a camisa” do Google compreender que o patrão dele é um filho da puta, ao passo que ele acha que não só a empresa é legal, cool, moderna, mas que possibilita saídas alternativas ao mundo que vivemos…
Eu tinha achado que o PP deveria ir ao debate e detonar esse pessoal, mas confesso que mudei de posição; desse mato não sai nem mato, quanto mais coelho…
Conselho ao pessoal do FdE: encontrem alguns amigos, dêem abraços coletivos, façam muito sexo e não tenham rancor, nem da milicada que arrancou unha de torturado, queimou a cara deles com cigarro, estuprou membros da família, pendurou por três dias no pau de arara… O mesmo vale para a canalha que administra o nosso Estado e que, enquanto rouba dinheiro, mata um monte de fome, por falta de saúde etc. O mesmo para os donos das empresas que nos exploram, para a polícia que nos mata na periferia, para os proprietários de terra que matam os sem-terra etc., não é mesmo? Façam tudo isso e desocupem os fóruns das pessoas sérias (rancorosas?), que têm interesse em discutir seriamente as lutas, a partir de uma perspectiva de transformação social.
***
Atenção, atenção, revolucionários!!! Fórmula da revolução:
Abraço coletivo + amor livre + amor ao inimigo + novo sujeito revolucionário, o “precariado” (aliás, comentei no artigo da autora que a única coisa que me parece precária nisso tudo é a argumentação deles) + alimentos orgânicos + fazer compras de eco-bag + utilizar Linux + defender Web 2.0 + 50 mulheres que não usam sutien (e adicionando algumas pitadas de cortes de cabelo radicais — o Neymar tá nessa! –, roupas modernas e um discurso acadêmico com algumas pós-modernidades que ninguém entende direito) = REVOLUÇÃO! É BA-TA-TA!
Afinal, como já dizia o Hakim Bey, a revolução é aqui e agora…, não é?! Pena que para 90% do país não seja assim… Isso tudo funciona para quem, de uma maneira ou de outra, está inserido no capitalismo. Mas isso já é um discurso “mofado”… Coisa de militante, né? Caiu com a URSS… Inclusive, a única noção de esquerda da turma é o marxismo ortodoxo. E volto a dizer: entre essa política do FdE e o sopão na Sé, sopão na cabeça!
Lembrando do Foucault, autor que a modernidade-nagô adorar se apropriar — sem, no entanto, retirar antes tudo aquilo que presta dele: nessa realidade, a paz é a guerra institucionalizada.
oi a todos.
Sou Artista Visual simpatizante de varias Marchas como a da Maconha que levou o STF a reconhecer o Direito Pacifico de Expressão.
Tenho máximo interesse em acompanhar e participar da evolução de novas formas de mercado, principalmente porque não participo do mercado tradicional das artes.
Como Artista, estou interessado em retardar ao máximo a organização de qualquer coisa que pretenda hierarquizar as relações na WEB, que precinto ser questão de tempo e poderosos interesses.
Gosto dos movimentos iniciados na gestão GIL/JUCA. Admiro muito dos que ali estão atuando e muito dos resultados já alcançados.
No momento que procuraram trazer para si a organização da Marcha da Liberdade falharam e mostraram realmente um braço partidário e político de seus interesses para alem dos Movimentos Culturais.
A Marcha da Liberdade a principio bastante motivada pelos acontecimentos em torno da Marcha da Maconha em SP e ate mesmo pela marcha dos Bombeiros no Rio, ficou esvaziada com a decisão do STF a respeito aos Direitos de Expressão.
A marcha tornou-se uma Marcha para Liberdades de Qualquer Coisa o que é um exagero pois se era por motivos específicos deveria chamar-se Marcha da Liberdade Disso ou Daquilo.
Assisti a uma mobilização nacional, onde o conteúdo era menos importante que sua organização. Em outros palavras, os Fins justificando os Meios.
Não posso compartilhar de movimentos que promovam a desinformação apenas para sedimentar lideranças e interesses pessoais.
Essa e uma visão objetiva que não precisa de grandes argumentos teóricos.
Abraços.
Para aqueles que acham que as classes não existem mais, gostaria que me falassem o que vem a ser essa luta travada a duras penas, com prisões e assassinatos, que estes trabalhadores pobres travam nos mais escondidos rincões do país:
http://passapalavra.info/?p=41512
Uma luta de trabalhadores rurais contra uma transnacional que impulsiona o Brasil Potência. Vamos tentar explicar-lhes que isto não existe mais, que eles são arcaicos e caretas, fruto de um passado que teima em não desaparecer.
Quem sabe se continuarmos com os olhos fechados… ou melhor, com os olhos apenas apontados para o sul (do país e pro umbigo)…
Felipe C., ninguém do Fora do Eixo se posicionou aqui até agora, a unica fui eu, propus o debate presencial que não foi aceito.
Acredito que o artigo do Passa Palavra e o Artigo da Ivana já são bons o suficiente pra definir quais os campos de disputa estão colocados.
Nos próximos dias outros artigos estarão saindo sobre o tema, que ajudam ainda mais a dar luz a esse debate. Dessa forma não acredito que seria mais saudável ficarmos dando voltas aqui nos comentários sendo que os artigos estão ai e um debate público pode ser organizado.
Já deixamos bem claro que estamos querendo debater e a resposta do Passa a Palavra é que não aceita participar de um debate organizado por uma “entidade capitalista”. Então por que não organizam o debate? Felipe, chame você o debate, estaremos lá, quando quiserem, onde quiserem, com os convidados que quiserem colocar também.
Nossas infos estão todas publicadas, públicas, abertas, como o próprio autor do artigo teve acesso, tanto aqui na casa quanto nas nossas paginas que deixam tudo disponivel pra download e para demais pesquisas.
A Casa também tá aberta para quem quiser vir conhecer e se aprofundar. E o debate ta proposto.
Em suma, estamos a disposição. Querem uma resposta detalhada item por item do artigo? Podemos fazer e postar aqui mesmo no Passa Palavra se nos derem abertura. Querem que compilemos mais artigos que escreveram sobre o FDE podemos trazer os links aqui também.
Aqui no Passa Palavra a maior parte dos leitores tendem a concordar com o artigo, la no Mobiliza Cultura a maior parte se identificam mais com o artigo da Ivana. Ou seja, esse debate não é mais somente sobre o FDE ou seus métodos é sobre visões e programas politicos distintos, que poderiam ser complementares.
Sendo assim, o debate está só começando e um encontro presencial reverberaria mais, ampliaria o debate e traria novos agentes pra discussão.
Nenhum dos que comentaram aqui se dispõe a puxar?
bjs!
E por falar em artigos o Emir Sader publicou um hoje:
A rebeldia dos jovens que nos faz tanta falta
Entre tantas frases estimulantes e provocadoras que as rebeliões populares no mundo árabe e agora na Europa, essencialmente protagonizada por jovens, fizeram ecoar pelo mundo afora, a que mais nos incomoda – com toda razão – é aquela que diz: “E quando os jovens saíram às ruas, todos os partidos pareceram velhos.”
Aí nos demos conta – se ainda não tínhamos nos dado – da imensa ausência da juventude na vida política brasileira. O fenômeno é ainda mais contrastante, porque temos governos com enorme apoio popular, que indiscutivelmente tornaram o Brasil um país melhor, menos injusto, elevaram nossa auto estima, resgataram o papel da política e do Estado.
Mas e os jovens nisso tudo? Onde estão? O que pensam do governo Lula e da sua indiscutível liderança? Por que se situaram muito mais com a Marina no primeiro turno do que com a Dilma (mesmo se tivessem votado, em grande medida, nesta no segundo turno, em parte por medo do retrocesso que significava o Serra)?
A idade considerada de juventude é caracterizada pela disponibilidade para os sonhos, as utopias, a rejeição do velho mundo, dos clichês, dos comportamentos vinculados à corrupção, da defesa mesquinha dos pequenos interesses privados. No Brasil tivemos a geração da resistência à ditadura e aquela da transição democrática, seguida pela que resistiu ao neoliberalismo dos anos 90 e que encontrou nos ideais do Fórum Social Mundial de construção do “outro mundo possível” seu espaço privilegiado.
Desde então dois movimentos concorreram para seu esgotamento: o FSM foi se esvaziando, controlado pelas ONGs, que se negaram à construção de alternativas, enquanto governos latino-americanos se puseram concretamente na construção de alternativas ao neoliberalismo; e os partidos de esquerda – incluídos os protagonistas destas novas alternativas na América Latina -, envelheceram, desgastaram suas imagens no tradicional jogo parlamentar e governamental, não souberam renovar-se e hoje estão totalmente distanciados da juventude.
Quando alguém desses partidos tradicionais – mesmo os de esquerda – falam de “politicas para a juventude”, mencionam escolas técnicas, possibilidades de emprego e outras medidas de caráter econômico-social, de cunho objetivo, sem se dar conta que jovem é subjetividade, é sonho, é desafio de assaltar o céu, de construir sociedades de liberdade, de luta pela emancipação de todos.
O governo brasileiro não aquilata os danos que causam a sua imagem diante dos jovens, episódios como a tolerância com a promiscuidade entre interesses privados e públicos de Palocci, ou ter e manter uma ministra da Cultura que, literalmente, odeia a internet, e corta assim qualquer possibilidade de diálogo com a juventude – além de todos os retrocessos nas políticas culturais, que tinham aberto canais concretos de trabalho com a juventude. Não aquilata como a falta de discurso e de diálogo com os jovens distancia o governo das novas gerações. (Com quantos grupos de pessoas da sociedade a Dilma já se reuniu e não se conhece grandes encontros com jovens, por exemplo?)
Perdendo conexão com os jovens, os partidos envelhecem, perdem importância, se burocratizam, buscam a população apenas nos processos eleitorais, perdem dinamismo, criatividade e capacidade de mobilização. E o governo se limita a medidas de caráter econômico e social – que beneficiam também aos jovens, mas nãos os tocam na sua especificidade de jovens. Até pouco tempo, as rádios comunitárias – uma das formas locais de expressão dos jovens das comunidades – não somente não eram incentivadas e apoiadas, como eram – e em parte ainda são – reprimidas.
A presença dos jovens na vida publica está em outro lugar, a que nem os partidos nem o governo chegam: as redes alternativas da internet, que convocaram as marchas da liberdade, da luta pelo direito das “pessoas diferenciadas” em Higienópolis, em São Paulo, nas mobilizações contra as distintas expressões da homofobia, e em tantas outras manifestações, que passam longe dos canais tradicionais dos partidos e do governo.
Mesmo um governo popular como o do Lula não conseguiu convocar idealmente a juventude para a construção do “outro mundo possível”. Um dos seus méritos foi o realismo, o pragmatismo com que conseguiu partir da herança recebida e avançar na construção de alternativas de politica social, de politica externa, de politicas sociais e outras. Os jovens, consultados, provavelmente estarão a favor dessas politicas.
Mas as mentes e os corações dos jovens estão prioritariamente em outros lugares: nas questões ecológicas (em que, mais além de ter razão ou não, o governo tem sistematicamente perdido o debate de idéias na opinião pública), nas liberdades de exercício da diversidade sexual, nas marchas da liberdade, na liberdade de expressão na internet, na descriminalização das drogas leves, nos temas culturais, entre outros temas, que estão longe das prioridades governamentais e partidárias.
Este governo e os partidos populares ainda tem uma oportunidade de retomar diálogos com os jovens, mas para isso tem assumir como prioritários temas como os ecológicos, os culturais, os das redes alternativas, os da libertação nos comportamentos – sexuais, de drogas, entre outros. Tem que se livrar dos estilos não transparentes de comportamento, não podem conciliar nem um minuto com atitudes que violam a ética publica, tem que falar aos jovens, mas acima de tudo ouvi-los, deixá-los falar. Com a consciência de que eles são o futuro do Brasil. Construiremos esse futuro com eles ou será um futuro triste, cinzento, sem a alegria e os sonhos da juventude brasileira.
Lenissa, se você percebe que os comentários lá e cá são diferentes, é porque percebeu que as pessoas lá e cá pensam tão diferente que sequer estão a fim de dialogar. E isto não é porque lá e cá só tem birrento. Não! É porque as pessoas que escreveram comentários lá e as que escreveram comentários cá talvez tenham histórias de vida e desejos tão diferentes que um não pode se realizar sem prejuízo do outro. E viva a diferença, não?
Talvez justamente por isso ninguém queira puxar debate algum. O próprio pessoal do PassaPalavra já disse isso, mas você ainda insiste. Ou não deu pra ver ainda que ninguém quer ser público ou figurante pro seu espetáculo?
Não vejo como espetáculo, debates presenciais são muito normais, acontecem sempre em todos os lugares e apresentam resultados bastante interessantes.
Sei que as pessoas pensam diferente e até por isso um encontro presencial colocaria essas diferenças frente a frente e ninguém se esconderia no seu quadrado, na sua zona de conforto.
Aproveito pra colocar aqui o comentário do Capilé na lista da Marcha sobre o tal “patrocinio da coca cola”:
“Fabricio,
Só entrei pra dizer que esse papo de patrocínio da Coca Cola é uma grandecíssima de uma mentira inventada. O contexto do papo avaliava patrocínios de festivais de música no brasil.
E o que foi colocado era que no meu ponto de vista não havia muita diferença entre ser funcionário dos Frias e um festival captar um patrocínio da Coca-Cola. Em nenhum momento falamos de Coca Cola na marcha da liberdade!
Sem falar que nenhum dos autores do artigo estavam presentes no papo, pegaram a info via “telefone sem fio”, repassada por terceiros.
abs!”
É interessante os “pós-rancores” republicarem um texto do Emir Sader para “combaterem o rancor”. Isso mostra a falta de embasamento político e crítico da “tchurma das redes”, um discurso que no fundo quer ocultar a luta de classes e, principalmente, os conflitos sociais. Nessa lógica os inimigos são: a Microsoft (até ela liberar o código, depois ela vira parceira!), o Mc Donalds (até eles colocarem um sanduiche vegetariano no menu!), o governo Dilma (até eles botarem de volta a galerinha ié-ié-ié-neo-tropicalista-digital), a indústria fonográfica (até liberar o download!) e por aí vai. Tudo que beneficia e privilegia os negócios dessa galera – ops, melhor dizendo o EMPREEDIMENTO SOCIAL (bela tucanada!) – é bom, tudo que escorre para a concorrência é ruim. O discurso de qualquer empresa é “geramos empregos”, o discurso da cultura digital é “geramos empregos e…e.. tesão!!!”. E dizer que isso aí é militância, ativismo, “guerrilheiros culturais”, “agentes da contra-cultura” … é o caralho! É muita falcatrua, isso sim! E tem coisa nessa área digital que precisa mais é ser denunciada no Ministério Público e no Ministério do Trabalho. Gente trabalhando aí de graça pra esse povo montar em cima, “trabalha ae, pela causa!”. Qual causa?
Já o fora do eixo parece mais uma firma mesmo. Ninguém lá recebe salário e acham que são livres por não terem “patrão”. O cara se fode de trabalhar, bota o quanto gasta numa planilha, tem que morar na mesma casa e tudo isso travestido de “militancia”… porra, se isso não é o velho capitalismo, é o que? Ah!!, é moderno porque usa Macs, smartphones, facebook, twitcam? No máximo é um capitalismo de Estado, ops, ou melhor, de rede! Fica mais suave né?
Enquanto eles são “livres” e curtem a sua “autonomia” (mas vai bater de frente com os “parceiros de negócios” pra ver no que dá! Vai desagradar os clientes pra ver o que acontece com a firma!), o Tonhão, o Silva e a turma-toda-de-trabalhadores-que-não-existem-mais puxa os cabos de fibra óptica e, do outro lado do mundo, a chinesada respirando silicio na fábrica-que-não-existe-mais. É um mundo do faz de conta, de quem vive atrás da telinha do computador, é só precisa fazer um “twittaço” pra derrubar o ditador.
A coisa fica mais esquizofrênica quando o coordenador dos caras diz que daqui alguns anos vai sair dessa cena descolada o proximo presidente. Porra, mas tomar o poder não é o programa de sempre? É a mesma ladainha com o discurso de redes, de “pos-capitalismo”, caos, hakim bey, “zona autonoma permamente”… Fica aí a pergunta: quem será o próximo Dirceu? E o próximo Genoino? Quem vai fazer o caixa 2 para bancar a aprovação de projetos da “cultura pós-digital”(curtiram o termo? Inventei agora, ó que dá caldo pra edital hein!)? Mas tudo isso passa batido diante da imagem do nosso astro pop do capitalismo global, Lula da Silva.
A dúvida grande é: será que essa garotada fora do eixo vai repetir todos os passos do PT e lá no fim do túnel quando chegar no poder dizer que foi “traída” quando o presidente tiver que negociar com o lobby de empresas a implementação das sacolas “ecobags”?
Enfim, muito duvidoso do quão novo é esse “ativismo”, já que sabemos pra onde nos levou o sindicalismo do ABC. Uma discussão pertinente, apesar das falcatruas de sempre.
Quanto a resposta e reações do coordenador do fora do eixo é o mais esperado numa situação política. Ou será que já esquecemos dos clássicos? http://www.youtube.com/watch?v=-6tctSdm9Nc
Caluniadores
Mentirosos
Caluniadores
Mentirosos
Caluni…
A publicação do artigo “A esquerda fora do eixo” e sua repercussão são um fato a ser comemorado por duas razões: por publicizar um debate que estava acontecendo fora do espaço público e por trazer a primeiro plano algumas questões centrais da luta contemporânea. Gostaria de ressaltar o primeiro motivo, em particular, porque ele permite que o debate avance e bloqueia os efeitos nefastos da intriga e da difamação na qual a crítica se converte quando acontece apenas num circuito restrito em ambiente privado. Neste sentido, o Passa Palavra dá continuidade à missão do jornal O Combate com o qual mantém certa filiação histórica. O que não me parece muito de acordo com essa missão é a recusa em participar de um debate sugerido pelo Fora do Eixo com uma alegação que simplesmente desqualifica o adversário, colocando-o apressadamente e sem lhe dar voz, no campo do empresariado. Tenho sérias dúvidas se o coletivo do Passa Palavra tem elementos para fazer essa qualificação de maneira sustentada.
De todo modo, não gostaria de discutir o coletivo Fora do Eixo, não porque o assunto é sem interesse – muito pelo contrário – mas por que simplesmente tenho poucos elementos para contribuir com o debate e acho que a própria disposição do coletivo em responder é o ponto de partida mais adequado.
O que gostaria de fazer é responder a algumas afirmações e concepções do artigo no que diz respeito à constituição do campo da cultura livre e da relação entre a contracultura e a luta social. Acho que o artigo traz os elementos certos para o debate, mas nem sempre de maneira apropriada. Chamo a atenção para alguns pontos centrais:
* Em primeiro lugar, o artigo “A esquerda fora do eixo” sugere que o processo de constituição da cultura livre foi movido pelo empresariado: “A ideologia da cultura livre baseia-se na ideia de que a flexibilização da propriedade intelectual com a concorrência proporcionada pelo livre mercado pode estimular a criação e, nesse processo, democratizar a informação e assim as nações caminharem ao progresso. De fato, quanto maior a flexibilização da propriedade intelectual, maior a produtividade dos trabalhadores e, por isso, maior a produção de riqueza a ser apropriada e transformada em mercadoria. Em síntese, a cultura livre é a própria regra do jogo do capitalismo, a apropriação de algo que a classe capitalista não produz.” O que essa leitura deixa de levar em conta é precisamente a agência do processo que descreve. A plataforma da cultura livre não foi impulsionada pelas empresas, muito pelo contrário – ela foi e até hoje é fortemente resistida pelo grande capital que opera as chamadas indústrias culturais (do livro, da música e do audiovisual). Quem esteve impulsionando esse processo sempre, desde o começo, foram ativistas, alguns dos quais vindos do campo liberal (no sentido americano do termo) e outros do campo da esquerda, no sentido europeu (no seu espectro mais amplo). Os ativistas liberais queriam persuadir o empresariado de que havia possibilidades de negócio não exploradas e buscavam conciliar uma “modernização” da indústria cultural com a democratização do acesso à informação, já que haveria queda na barreira de preços dos produtos culturais. Os ativistas da esquerda enfatizavam o processo de desmercantilização da cultura e a constituição de formas coletivas de produção e distribuição da cultura que retomavam, em nova chave, experiências pré-capitalistas dos bens comuns (commons). O artigo aponta corretamente que houve uma “aliança política tática formada por um programa de oposição às transnacionais da cultura e os oligopólios culturais regionais”, mas está completamente equivocado ao afirmar que se ocultou “a reflexão crítica sobre o que há de surgir em seu lugar.” A discussão sobre as implicações políticas desta aliança anti-velha-indústria e de como lutar para que o processo de transformação em curso se oriente mais para a desmercantilização da cultura e menos para a modernização da indústria por meio de novos modelos de negócio foi o cerne dos debates de toda a esquerda que esteve envolvida no campo da cultura livre. O artigo também falha ao não ressaltar a agência do processo que foi movido por ativistas, contra uma indústria resistente e recalcitrante. Assim, não pode discutir as implicações teóricas e políticas que são a essência da interpretação autonomista da história de que as transformações estruturais do capitalismo são exógenas, frequentemente vindas da luta social.
* O segundo ponto que gostaria de comentar é a leitura classista da luta pela cultura livre. Eu compartilho com o Passa Palavra o diagnóstico geral de que a estrutura de classes da sociedade capitalista fordista foi (e, em certa medida, ainda é) tripartite e não binária. Ela tinha três classes: uma classe de proprietários cujos rendimentos advinham da rentabilidade da propriedade e que se reproduzia por meio da herança, uma classe de gestores profissionais que comandavam o processo produtivo e se reproduzia por meio do sistema de ensino superior e uma classe de trabalhadores despossuídos de propriedade e competência formal profissional. A distribuição das classes era muito variável de acordo com o papel que cada nação ocupava no sistema capitalista mundial, mas, para simplificar o argumento, tinha a estrutura típica 1:10:90. O elemento chave da organização desta estrutura, além da propriedade privada e do trabalho assalariado, era que a organização fordista separava a concepção da execução do trabalho e limitava o acesso às funções de concepção por meio do monopólio profissional. No entanto, há evidências muito sólidas e de muitas décadas de que essa estrutura está mudando: nas empresas, consolidam-se práticas de gestão pós-fordistas onde os trabalhadores recebem muitas (mas não todas) atribuições gerenciais e há uma ampliação do acesso ao ensino superior que, em alguns países, caminha para 40% da força de trabalho. Embora inconteste, essas transformações não têm linhas gerais completamente claras, na minha opinião. Algumas questões: qual o impacto das novas ocupações de nível superior para o sistema produtivo?; caminhamos para novos tipos de hierarquia na estrutura produtiva que não é mais determinada pelo acesso escasso às ocupações profissionais? quais?; essa delegação de tarefas gerenciais para os trabalhadores modificou efetivamente a natureza do trabalho produtivo cuja essência agora seria simbólica, como querem os autonomistas franco-italianos? (lembrando que, mesmo nos Estados Unidos, onde o processo está mais avançado, 60% da força de trabalho ainda manipula produtos e não símbolos e que esse crescimento americano pode ter tido como contrapartida a ampliação do trabalho industrial fordista nos países semi-periféricos); por que certos tipos de trabalho como o de telemarketing, no coração do setor de tecnologia de informação e comunicação, ainda se organizam de maneira fordista? Eu não conheço respostas satisfatórias para essas e outras questões, mas acho que devemos olhar para este mundo que se transforma e não para o mundo fordista que aos poucos desaparece.
* Por fim, gostaria de comentar as novas formas de luta que acompanham esse processo de transformação da estrutura de classes. Essas transformações da natureza do trabalho e da estrutura de classes começaram a ser sentidas claramente nos anos 1960 e, na minha opinião, estão claramente ligadas à emergência da contracultura, às novas demandas sociais características destes segmentos e a uma culturalização da luta social que vemos, para pegar casos extremos, no maio francês, nos yippies americanos e nos indiani metropolitani da Itália (no Brasil, por especificidades da conjuntura nacional, não veremos essa intersecção no tropicalismo). A drástica ampliação do ensino superior e a massificação das tecnologias de informação comunicação, “culturalizaram” as “camadas médias urbanas” o que repercutiu na forma de expressão das suas lutas, inclusive quando tiveram orientação anticapitalista. Nas lutas desses setores urbanos médios, assim, vagamente definidos, a expressão da luta tem uma dimensão cultural ineliminável e as demandas são crescentemente “pós-materiais” para usar um jargão sociológico. Como as lutas destes setores médios – tanto dos emergentes, como os do já consolidados – se articulam com a dos trabalhadores, inclusive com aqueles que ainda vivem no regime fordista, num cenário de rápida transformação é a questão em aberto a ser investigada. Não sei se a marcha da liberdade que o artigo discute dará frutos, mas o crescimento de mobilizações deste tipo – altamente culturalizadas e com os segmentos médios urbanos – são obviamente uma tendência marcante. Na verdade, no cenário atual, são a novidade mais distintiva para a qual os antagonistas do sistema capitalista deveriam voltar seus olhos. Por isso, quando texto ironiza a forma e o conteúdo deste tipo de luta (“os elementos da composição dessa nova elite passam pelo consumo e sustentação de novos habitus, como se deslocar para o trabalho de bicicleta ou a pé, reciclar seu lixo, cuidar de pequenas hortas em casa, consumo de orgânicos, baixar músicas e minutar os momentos do dia numa mídia social”), ressaltando a forma das lutas de meados do século passado, ele não ajuda a compreender o presente, nem a discernir as tendências do futuro. Nos anos 1860, Karl Marx viva num mundo predominantemente agrário, cuja maior parte da classe trabalhadora era camponesa. Ele não teorizou sobre a luta no campo, mas sobre o incipiente mundo industrial. Acho que ainda é a atitude adequada a seguir.
Pablo, Marx teorizou sobre o mundo urbano porque ele vivia nele e seu contato com o Engels lhe possibilitava acesso a informações do meio industrial privilegiadas. Ainda, a vida nas bibliotecas, o acesso aos livros, tinha uma base material que lhe permitia discutir esse mundo industrial. A possibilidade que ele tinha de compreender o que se passava no campo, com a vida que tinha, é semelhante a tua capacidade de saber quais são os conflitos hoje dentro, no interior, do Grajaú ou no interior de Francisco Morato tendo a formação e vivendo no meio em que vive.
E-mail q escrevi na lista de e-mails da Marcha da Liberdade:
“Pessoal, a coisa é bem simples. Por esquerda, entendemos os indíviduos
e os grupos que têm uma perspectiva e projeto de luta contra o
capitalismo. Qualquer forma de capitalismo, seja ele selvagem,
bem-estar social, ecocapitalismo ou o que for…
Há várias esquerdas, mas didaticamente é possível dividir em dois
ramos: a esquerda que acha que a transformação ocorrerá pela tomada
(violenta ou via eleitoral) do poder do Estado e a esquerda que acha
que isso se dá pela construção do poder popular, pelo trabalho de
base.
Os pós-modernos que dizem que, nos tempos atuais, não há como dividir
o mundo entre direita e esquerda, na minha opinião, mesmo que
inconscientemente, agem pela manutenção do capitalismo. Ser contra o
capitalismo e agir de forma organizada para a superação do capitalismo
é ser, pura e simplesmente, de esquerda. Se não houver luta de classes
nesse sentido, o capitalismo continuará se reproduzindo de diversas
formas diferentes… E continuará produzindo desigualdades: classes
opressoras e classes oprimidas; pois isso está na essẽncia do modo de
produção capitalista, a exploração e a dominação de uma(s) classe(s)
por outra(s).
A cultura livre é uma questão muito interessante. Eu sou dos mais
partidários do Linux e do Copyleft, mas é um discurso neutro, que pode
ser apropriado tanto por quem luta contra o capital, como por quem
quer sua manutenção. Ou mesmo por esses que dizem que não são nem de
esquerda, nem de direita, mas que, inconscientemente ou não, agem para
reprodução do capitalismo.
A questão dos gestores é bem complexa: não se trata da classe
oprimida, isso é óbvio, né? Os argumentos utilizados no artigo são
também bem adequados ao que se chama de ‘movimento de economia
solidária’, pois trata-se princialmente de um movimento de entidades
gestoras (incubadoras públicas, universitárias, gestores públicos,
entidades de fomento com Anteag, Unisol Brasil, Cáritas, etc).
Mas prestem bem atenção, não estou dizendo que o trabalho da economia
solidária não é louvável, mas apenas que está mais próximo de um
trabalho ongueiro de terceiro setor, do que de luta social; apesar de
um setor da Ecosol ter um discurso anti-capitalista, por uma
transformação social. Contudo a Ecosol tem um projeto político bem
claro, pois trata-se de trabalhar por um modo de produção alternativo
ao capitalista.
Com relação ao Fora do Eixo, acho super louvável o trabalho que fazem
de fomento a cultura. Acho que a organização do grupo é bem
surpreendente e inovadora. As coisas lá parecem que funcionam. Mas, no
que diz respeito à questão política da coisa, há uma certa
ambiguidade, pois não há um projeto político claro. Neste sentido, o
Fora do Eixo nem de economia solidária poderia ser chamado, na minha
mera opinião pessoal. E, neste mesmo sentido, o Fora do Eixo é visto
com certo receio pela esquerda, pois a marcha, se é que havia, perdeu
seu propósito de luta social e popular.
A marcha peferiu convocar a classe média despolitizada, que nem sabia
pq estava lá direito, via rede sociais em vez de tentar aproximar as
classes mais oprimidas e os movimentos sociais da luta. Inclusive,
como dito no artigo, parte da organização da Marcha preferia colocar
pautas ambiguas em destaque, que nem fedem nem cheiram, como
liberdade. Apesar da esquerda da Marcha ter conseguido colocar em
pauta a questão concreta da regulamentação das armas menos letais, o
destaque dado pela mídia ficou na questão da liberdade de expressão,
do uso da maconha, … Ou seja, algumas liberdades individuais (sem
querer menosprezá-las)…
Assim, a bolha que se formou, já estourou. O caldo secou… A Marcha
esvaziou-se… Quando saiu a decisão do STF (uma puta de uma vitória),
a marcha da liberdade perdeu sentido. Perdeu pq não havia conteúdo
político de fato, pq as classes que serão responsáveis pela superação
do capitalismo não estavam presentes, pq não foi feito um trabalho de
base anterior à mobilização.
Infelizmente, na minha opinião, foi isso que aconteceu. Não quer dizer
que não houve coisas boas, né? Houve sim, afinal sair na rua é legal e
divertido. Isso só pode ser bom! Tão bom quanto balada e cerveja…
Mentira vai, algumas organizações conseguiram alguns quadros a mais
para suas organizações, isso tb é legal. Mas, e a luta popular?
Afinal, o que é revolução?
Só um esclarecimento: não sou do Passa Palavra e, apesar de
conhecê-los e concordar com muitas coisas do artigo, acho que eles
poderiam ter dialogado mais com os grupos envolvidos na Marcha, para
não criar um mal-estar desnecessário.
Abs,
João.”
IVANA – Achei interessante esse trecho para colocar algumas colocações:
“Estão FORA do eixo/fetiche da esquerda por trabalhadores assujeitados na relação patrão/empregado! Mas tem enorme potência para articularem não apenas a classe média urbana, mas se articularem com os pobres e precários das periferias e favelas, ao se conectarem com outras redes como a da CUFA e outras, que junta os jovens negros e pobres para outras marchas como a do Direito a Moradia, em preparação. Além de outras articulações sem medo de “aparelhamentos” seja das corporações, dos partidos, ou do Estado. Sem demonizar as relações com os mercados, mas inventando e pautando, “criando” outros mercados, fora da lógica fordista do assujeitamento”.
Em certo sentido me parece que sugere que se submeter a reestruturação e flexibilização é uma opção e não uma condição determinada das próprias transformações no mundo do trabalho que afeta principalmente a juventude, mesmo a esquerda não ortodoxa vem narrando as consequências no cotidiano das pessoas submetidas as relações de trabalho flexível.
Quando se fala em assujeitamento me parece que muitas das relações de trabalho flexível não são assujeitadas e fetichizadas, ao dizer vamos hackear o capitalismo e o Estado, muitos dos jovens ativistas de classe média puderam ganhar a independência financeira ao mesmo foram perdendo sua autonomia tornando-se peças chaves para desenvolvimento de novas formas de exploração e apropriação capitalistas patrocinadas por prêmios e editais do governo.
O patrão governo/MInC/Ong é tão ou mais explorador a diferença é que conseguiu fazer algo que politicamente parecia impossível, fragmentar a reflexão sobre as ações do governo, que se por uma lado promove editais de inclusão digital, por outro deixa inalterada a estrutura monopolizada da comunicação de massa, cria espaços de discussão para ouvir a sociedade civil, mas no primeiro sinal de desagrado dos setores conservadores dentro das instituições publicas privadas descarta tudo que foi debatido e proposto nos fóruns.
Quando fala de Medo de aparelhamento parece que esquece os desdobramentos das lutas sociais, a manutenção de velhas estruturas centralistas e clientelistas nos partidos políticos e o quão são anti-democráticos muitas vezes esses sujeitos em relação aos movimentos e comunidades em luta, não é por medo, é por coragem de buscar na sua atuação junto aos movimentos sociais urbanos laços de solidariedade para construção de projetos populares que possam trazer de volta as esferas de decisão hoje colonizadas quase que exclusivamente pelos interesses de mercado que muitos ativistas não se filiam a projetos patrocinados pelo governo.
(volto depois para questionar o ditos mercados alternativos não fordistas)
Olha, é por essas e outras que tem gente que fala que a história do Brasil é conhecida por concialiação de interesses, já que, né, tem gente que insiste em apontar que “luta de classes é caretice” (SIC).
E mais…
“Nunca vai admitir que tem um pessoal mais conectado com as novidades, que já transcendeu essa caretice toda, faz muito tempo!” /
Quer dizer, então, que tem uma vanguarda 2.0, é? Hmmm… Interessante, hein. Repetindo o passado, bom saber. Tão liderando o quê? A destruição da História? Fukuyama mandou um beijo. Esse sim, grande sujeito, não? Cheio de TESÃO.
Eu queria ver esse pós-rancor todo de vocês durante um golpe civil-militar como o que rolou há pouco em Honduras. Ou vão dizer que golpe de estado é careta, também? Era só o que me faltava…
“Fomos levados, ao contrário de muitos intelectuais contemporâneos, a reafirmar, a relegitimar a validade das lutas sociais, das lutas de classe. Insisti muito nisso durante toda a viagem porque acho que temos de parar de pensar na relação entre a autonomia e as lutas sociais em grande escala em termos de uma lógica dualista, pois já estamos fartos de saber onde isso nos leva”. (Micropolítica, p. 292)
“Sem dúvida este tipo de determinação continua existindo. É óbvio que os antagonismos sociais fundados nas relações estratégicas de força — relações de classe, de casta etc. — não desapareceram, e dependem de niveis específicos de análise e de referência. As abordagens a partir das contradições econômicas e sociais permanecem válidas”. (Micropolítica, p. 140-141)
quem diz que os mortos não se defendem???
Não tô entendendo muito o pq do foco numa juventude que é infima. O debate seria a falta de representatividade no povo dessa galera com mais de 30 anos.
Amigos, queria muito conseguir citar todos os comentários que me inspiraram e deram oq pensar, mas a coisa ficou difícil… basta dizer q a discussão ta dahora…
vou tentar dizer umas coisinhas… e desculpem se ficar confuso e eu mudar de assunto… tentei explicar oq estou pensando (ainda q não tenha ctz de q esteja pensando exatamente oq está escrito) com a maior clareza possível e maneirar nos conceitos, pois o lugar que é “só” deles, digamos assim, é outro (mas confesso q é foda)… oq nos leva ao primeiro ponto:
essa discussão toda de há ou não classes, de atualizar os instrumentos teóricos é precisamente algo da alçada dos conceitos… os conceitos na verdade não são nada de especial, não “descobrem” a verdade de nada, eles ajudam a pensar e, portanto, a viver (pois só encontram sua verdade na práxis dos homens) e tem que de alguma forma ser explicados – pode ser dum jeito acadêmico (e talvez seja esse o lugar “de direito” do conceito, aquele em q se o apresenta da forma mais “conceitual”), mas tb pode ser dum jeito esquisito qualquer, o lance é q os tais conceitos têm que funcionar no texto, e eles só funcionam quando se desdobram, se enrolando uns nos outros e com mais um monte de coisas não conceituais, e não simplesmente quando se encadeiam como se estivessem dados pela natureza a priori do discurso (ao que se dá o nome de blablablá)… isso quer dizer q não pode usar conceitos aqui e na vida??? CLARO Q NÃO! é só que não adianta usá-los pra dizer “o meu é melhor do que o seu”, meu amigo… vc tem q usá-los pra dizer mais alguma coisa, pra fazê-los dizer aquilo que eles “são”, ou pra fazê-los “ser” alguma coisa pra quem lê, digamos assim… e isso não ta só no nome deles, tampouco em apreensões muito gerais, ou de contexto – pois eu uso os conceitos do meu jeito, eu tenho então que fazê-los funcionar assim (ou então posso tentar fazê-los funcionar do jeito de ngm, que é um pretenso jeito de “todo mundo”, o famoso jeito certo, que não é nada = blablablá = deixar as coisas como estão)… isso certamente se aplica à longa história do marxismo, sua transformação numa coleção de jargões e palavras de ordem que supostamente seriam as únicas a derrotar as “ideologias”, mas também se aplica à “dogmatização” em geral (mais ou menos no sentido q o arth falou ali em cima)… ai não só Marx (q certamente não é marxista nem seria hippie), mas Deleuze & Guattari tb viram cartilha (q tristeza)… aí “capitalismo cognitivo”, “transversalidade”, “redes”, “rizoma” (e a própria palavra de Deus se houver uma) são igualmente “palavras de ordem abstratas”, ainda que articulados com todo o entusiasmo, positividade, otimismo – sem rancor… como disse o Marcelo lá em cima: “citar um monte de pessoas legais (inclusive o Sandro Kobol, que não tinha nada com isso, e teve seu pequeno e despretensioso texto introdutório/convite ao coloquiodeleuzeguattari.blogspot.com colocado aqui completamente deslocado e sem explicação/funcionalidade) não vai me fazer acreditar que isso é, de alguma forma revolucionário ou bom”… citando pessoas legais e dizendo quase a mesma coisa: a linha de fuga, o diferente, não garante porra nenhuma!!! o capital se apóia nela, a transforma em inovação (o velho em roupas novas, o igual com um aspecto diferente), expande seus limites, e é assim que, realmente, ele pode ser tanto fordista, solidário, pós-industrial e o caralho a quatro… mas enfim…
o texto do PP é bacana, mas não pq denuncia o FdE, e sim pq “mapeia” de alguma forma – e acho q é isso q os caras mais ou menos querem… ficou meio na cara (não só graças ao teor do texto, mas por exemplo pelo final do comentário do João – “acho que eles [pp] poderiam ter dialogado mais com os grupos envolvidos na marcha para não criar um mal-estar”) que a necessidade de fazer isso foi sentida por muita gente depois q o FdE entrou na marcha da liberdade e coisa e tal, ou seja, que, à sua moda, quis se colocar como um interlocutor político (pois não há interlocução q não seja) ou como uma entre outras “dinâmicas e estratégias de luta, EM DISPUTA” (mas a luta em si tb não garante nada, pois pode-se mesmo lutar em prejuízo próprio)… o clima de denúncia e a forma como se acaba mobilizando os conceitos certamente determinam o traçado e as proporções do mapa e devem ser considerados na sua utilização, mas eles empobrecem tanto qto a história de dizer “a esquerda tradicional está atrasada”… é q em ambos o caso o papinho de “meu conceito é melhor que o seu” acaba sendo mais importante do q fazer o conceito funcionar… e aí fica uma impressão que me parece equivocada dos dois lados… enquanto o discurso “tradicional” dá a entender que uma coisa como o FdE é uma estratégia consciente de uma espécie de burguesia onipresente/onisciente, o discurso que se pretende “contemporâneo”, dá a entender que tudo não passa dum complô, duma articulação intencional de “certos setores da esquerda tradicional”… sei lá, mas eu acho q se a gente olhar um pouquinho pra como as coisas acontecem, as estratégias não parecerão assim tão intencionais como se atendessem sempre a interesse sempre determinados… acho mesmo que os amigos marxistas (uso essa palavra pra simplificar e não pq simplesmente defina uma porção de gente diferente assim – não q seja algo do q se envergonhar) se preocupam de fato com o FdE e reconhecem sua presença, a ponto de precisar mapeá-lo segundo seus instrumentos, sem por isso serem capangas do Stalin… da mesma forma, imagino de verdade q a professora tb deva se entusiasmar genuinamente com o FdE, sem que necessite ser uma apologeta burguesa infiltrada, à serviço de meia dúzia de bilionários q manipulam a economia global – e acho tb q ela deve ter o embasamento teórico necessário, bem como os caras do pp, só q é difícil resistir a essa tentação de dizer que “o meu é melhor q o seu” qdo os conceitos estão mais ou menos bem formados na nossa cabeça… (mas eu não tenho a menor pretensão de ser neutro)
enfim… o lance do PP sobre o FdE pra mim parece ser esse (pelo menos no q diz respeito ao serviço q acredito que o artigo presta): “os caras tão aí, parecem ter grandes pretensões, parecem estar mesmo crescendo e vão conseguir ficar, então a gente tem q saber qualé q é”… ora, tem q fazer um mapa q os “explique” não só em si, mas em sua relação com esse mundão de meu deus… ainda q se entre no mapa através dum modelo enviesado, dum decalque deslocado q corre o risco de deixar escapar muita coisa – só não dá pra não fazer… e eis q nessas de “denunciar”, os caras fizeram o mais importante: não estenderam o mapa só em cima da mesa da casa de alguém, com um garrafa de breja fazendo peso de um lado e uma peça da massa mais verde e saborosa, do outro, pra não deixar a parada sair voando com o vento – eles colocaram/desdobraram o mapa na rede e fazendo isso, não só deram algo pra mta gente pensar (na crítica, bem como na propaganda do FdE), mas tb fizeram a política mais limpa (tanto qto ela pode ser), deixando claro: “a gente vai se cruzar por aí, a gente vai se enfrentar, a gente pode até se ajudar, mas a conversa aqui é outra”…
é claro q eu posso estar viajando e devo mesmo estar – imagina qto tempo gastei nessa parada… mas, dito isso, queria ainda falar mais ou menos oq penso sobre o fora do eixo (pois eles me preocupam desde o começo qdo parecia só uma galera se agilizando pra fazer um role bacana de rock na cidade) aproveitando, simultaneamente, para desfazer umas confusões teóricas q estão em fluxo por aqui (pois é… os fluxos tb não garantem nada) e q põem em causa dois dos pensamentos mais bonitos (e, na minha opinião mais harmoniosos entre si no seio mesmo de suas discordâncias) a q temos acesso pra pensar esse mundo louco q nos cerca e que não seria exagero classificar como um verdadeiro desbunde (oq tb não garante nada – mto pelo contrário)… como bom marxista, certamente, me sinto mais alinhado ao artigo do PP, cuja “anacronia”, entretanto, não posso deixar de reconhecer e criticar…
partamos dessa “anacronia”…
ela existe porque o capitalismo realmente muda e pq ele só existe mudando (posto q seu próprio desenvolvimento provoca crises – financeiras, ecológicas, de modelo produtivo –seguidas sempre de recuperações mais ou menos forçadas)… ele muda mais uma coisa fica: o CAPITAL ou a LÓGICA do capital (não à toa d&g dizem do capitalismo q ele é uma axiomática, um conjunto de regras lógicas aplicável a variadas situações)… a lógica do capital só é abstrata em parte, pois ela se expressa na vida e se produz nas relações sociais, impondo-se como condição a priori da apropriação da natureza (no sentido mais amplo possível, aquém do eixo natureza-cultura) por nossa parte, e reproduzindo suas próprias condições… essa lógica se expressa por toda parte e onde ela surge, aparece como lógica do MERCADO… pq a forma mercadoria não é inocente, não é nada dada… acho q ngm vai conseguir negar que ela recobre uma porção de relações sociais… assim, ela mantém uma mega-burguesia global, exploradora “em última instância”, que tem influência quase direta sobre a vida de “todos e cada um”, por meio de estratégias e interesses sistemáticos (de classe)… mas o mercado tb planta uma burguesia dentro de nós, q não sabe onde começa e onde acaba a exploração… é aqui que Deleuze & Guattari podem ajudar a pensar o atual estado da luta de classe: não é certamente pq eles dizem que não há mais classes (disso o guattari se defendeu ali em cima), mas sim pq nunca houve mais que uma classe “real”, quer dizer, NUNCA HOUVE SENÃO UMA ÚNICA CLASSE CUJA ATUAÇÃO POLÍTICA TEM COMO RESULTADO IMEDIATO (quer dizer, IMANENTE, a tal atuação) A MANUTENÇÃO DE SUA PRÓPRIA CONDIÇÃO DE CLASSE: e essa classe é a BURGUESIA… é ela que só existe quando CRIA um proletariado à sua “imagem e semelhança”… plantaram um burguês dentro de cada um de nós, E ISSO É QUE QUER DIZER “MAIORIA” EM D&G NO FINAL… é a “universalização” (num sentido em que falar de universal só pode ser equivocado, como disse o Pajeu Belo Monte) do modo de vida burguês… não se trata mesmo do modo de vida de UM burguês, seja o da acumulação primitiva, do fordismo ou do “capitalismo cognitivo” (daí precisarmos tb acompanhar suas transformações)… trata-se de UM MODO DE VIDA QUE TEM O CAPITAL COMO SEU LIMITE IMANENTE OU QUE O ADMITE COMO UM “PRESSUPOSTO NATURAL OU DIVINO” RESPONSÁVEL POR FORNECER AS CONDIÇÕES DE TODA A PRODUÇÃO SOCIAL (e é nesse “TODA” que o bendito sempre alarga os limites, mutante q é – pq pro capital tanto faz se vc é a Ford, o Google, o mercadinho da esquina, a EMI ou o Capilé, ele sempre se adapta)… aí a leitura que Deleuze e Guattari fazem de Marx, citada pelo Sandro Kobol e transcrita pela Ivana, parece fazer um pouco mais de sentido…
ora, se o capital opera por movimentos de maioria, é possível que, por um hábito que já data de séculos, possamos ser tentados a concluir disso, por oposição, que minoria = bom… seria até fácil e confortável… pode ajudar a se posicionar frente ao destino, a “delirar” a história universal (ou a ter consciência dela, como diz o Marx da Ideologia Alemã) e a desejar movê-la, fazê-la avançar, ser otimista (amar) e ter ódio ao mesmo tempo, porque essas coisas não se excluem e não há revolução que não as necessite igualmente (e o ódio, depois de abandonada essa ideia deplorável do Édipo, pode se liberar pra ser uma potência social ao nível de TODAS as nossas forças produtivas e mesmo do nosso burga interior, e não uma mera manifestação patológica ou instintiva de subjetividade ou individualidade)… e aqui, se o perigo do ódio é o ressentimento (PÓS-RANCOR DE CU É ROLA), o perigo do otimismo é a ingenuidade, é ser demasiado voluntarioso achar q basta a gente ser legal q tudo vai ficar numa boa (TROPICÁLIA E HIPPIES FALHARAM AQUI)… mas o perigo ta por aí… toda hora… vc pode ser o carinha duma banda querendo fazer um som, pode ser um militante político (partidário ou “independente”), um agente do Estado querendo fazer políticas públicas “democráticas” ou então um professor… pra citar gente legal: não adianta temer, tem q procurar novas armas, resta manter sempre os mapas em dia, estar pronto pra mudar de ideia e direção às vezes, mas tb sem se reprimir demais – “é preciso ser atento e forte/não temos tempo de temer a morte”…
mas o lance é que não adianta dizer que a(s) “minoria(s)” seria(m) “boa(s)” em oposição ao movimento majoritário do capital, que nos reduz TODOS nós a um “burguês interior” (pois, cada um que precise comer e dormir é obrigado desde a mais tenra infância a ter um)… não basta, portanto, que a gente chame “minoritários” os grupos/movimentos com que simpatizamos, que nos entusiasmam… isso quer dizer que não adianta nem ser proletário no sentido mais clássico – e Marx já sabia disso… é que a oposição à maioria obedece ainda à lei da “imagem e semelhança” ao metro-padrão burguês (isto certamente em proveito do nosso burguês interior e de nós mesmos, q temos q comer e dormir e mais ainda dos burgueses “reais”, que enterrando de vez nossa metade bricoleur, nos impuseram essa coisa de ter interesses pessoais pra sobreviver)… mas por outro lado, as minorias guardam, é verdade, a potência de verdadeiros movimentos menores, no sentido de movimentos inatingíveis pelo movimento majoritário “capital/lógica de mercado” – mas aí é que ta o desafio, porque o capital invade tudo… meu amigo, VC TA CAGANDO E NÃO DEIXA DE GERAR MAIS-VALIA PRA ALGUÉM – e não deixa de alimentar uma porção de burgueses “interiores” que tiram do seu cocô um “ganha-pão” honesto…
nesse sentido, acho q o FdE, tem sim uma vocação MINORITÁRIA: mas é aqui que acredito que mora o perigo (além é claro do seu aspecto “espartano”, um tanto amedrontador, mas que acaba rondando todos os grupos), já que isso só quer dizer que sua condição pode ser mais ou menos marginal frente aos grandes capitais, mas não propriamente às relações do capital – um exemplo disso é que a relativização da propriedade intelectual só se justifica alimentando um CRESCENTE mercado de serviços variados (até o cúmulo dum patrocínio da c-cola), comércio e promovendo mesmo alguma influência sobre o Estado, influência, é verdade, legítima, acredito q honesta e prevista mesmo na estrutura do nosso Estado democrático burguês… ora, não é nada mto diferente da criação da previdência social, que relativizou a “nudez” do trabalhador, organizando uma poupança compulsória dos salários que fosse capaz de administrar da superpopulação relativa ao menor dos incidentes biopolíticos… ora, nesse último caso, é verdade que os resultados não foram só ruins/opressores, mto pelo contrário: os gloriosos e inspiradores anos 60 têm um pouco a ver com isso… e afinal, que há de errado em querer tornar a vida suportável – em alguma medida boa? quer dizer, suportável ao nível do capital, pois a gente ta aqui e agora e o mundo é UM, é sempre a última chance – seja vc a professora, o cara da banda, o truta do movimento ou o agitador cultural… e tai uma qualidade dos “bons” marxistas: ELES NÃO ESQUECEM DISSO
mas enfim, isso tudo quer dizer que nada impede que uma iniciativa como o FdE possa entusiasmar em alguma medida, que ele possa mesmo vir a ser UM berço de experiências interessantes e menores, que comecem a fugir de alguma forma das relações do capital – mas isso não é fácil, isso na verdade é MUITO FODA, ainda mais quando vc ta física e mentalmente exaurido (se vc tem que comer e dormir – e ter diversão e arte – é provável que esteja), e isso não tem fórmula nem sujeito de direito – e é aí complicou de verdade… é que se todos temos um burguês interior que nos veste a irresistível carapuça do proletário, todo mundo também guarda a potência das linhas de fuga que esse parasita esmaga – quer dizer as potências das nossas forças produtivas, da natureza… e se só existe UM mundo, que é esse aqui mesmo, ele não deixa de ser também um império dentro do qual podemos sempre construir um outro novo – aí é questão de fomentar as tais linhas, fazer mundos, nossos mundos, cada vez maiores (de tamanho), cada vez melhores – quem sabe um dia não desaba o império todo? (mas a linha de fuga, por si, não garante porra nenhuma…)… ora, o FdE pode até vir a conseguir fomentar algumas linhas, gerar coisas diferentes, q tenham efeitos e não apenas discursos anti-capitalistas, mas por enquanto isso não aconteceu… na esfera institucional isso é claro, mas na artística também acho q é assim, pois todo esse difuso “fênomeno indie”, digamos assim, que assola o Brasil [e o mundo] nos últimos anos e q “põe em cheque” o “mainstream” da INDÚSTRIA é menos um movimento propriamente estético/artístico do que um deslocamento de mercados de entretenimento, cuja existência se justifica por si e não pela cultura que se supõe produzir (e no mais, cultura é algo q se produz sem q se precise querer ou planejar)… mas isso é menos um problema do FdE em específico ou uma questão “pessoal” com os artistas empolgados e bem intencionados que a ele se vinculam (conheço alguns)… parece mais um problema “da nossa geração” (pra usar um termo em voga), que tem mais é que descobrir como se aproveitar desse movimento de mercado, como fazer ele deslocar certas coisas de vez… a impressão q tenho entretanto é só q, se vier a acontecer no FdE a mais insignificante (e não menos devastadora) das fugas, se vier a se manifestar algo de “revolucionário”, isso seria algo que não fugiria apenas às relações do capital (como pressuposto “natural” da produção), mas também à própria vocação (minoritária) do FdE – e novamente, isso é menos por culpa deste grupo específico do que porque as fugas acontecem exatamente onde não se espera (afinal, que nobre feudal esperava, no início, estar liberando os elementos da própria ruína? que burguês primitivo e que camponês expropriado imaginava estar participando da história?)… resta então ficarmos à espreita das tais linhas em toda a parte que possam aparecer (e não é isso que fazemos aqui? não é isso que nos faz ir às marchas – e mesmo na cerveja, no baseado e na balada, não é isso que alguns de nós fazem com frequência – e não sem uma boa dose de amor/otimismo/ingenuidade?)…
mas enfim, isso tudo começou com aquela história de que ainda que se tenha motivos suficientes para se desconfiar, para se abrir o mapa na mesa (e na rede), nada impede que o FdE seja, à esquerda, um interlocutor político (pois não há interlocução que não seja) a se levar em conta e mesmo um potencial aliado – e isso não é bem uma questão de opção, pois os caras tão aí, fazendo (mta coisa bacana até) e crescendo (mas seria esse crescimento uma estratégia consciente de “novas elites” ou uma consequência lógica, imanente ao modo de vida do capital se espalhando? afinal, é isso que faz um negócio – coisa q o FdE não se envergonha de ser: CRESCER)…
pra terminar, duas palavrinhas
q história é essa de “geração isso”, “geração aquilo” – mas que raio de novidade tem nisso, mano??? coisinha mais démodé…
e esse papo de debate ao vivo??? eu confesso q posso e devo estar bastante por fora, mas acho q a galera q propôs essa ideia tb não ta sacando direito a potência do digital… essa merda aqui É ao vivo… e as possibilidades de levar a REDE adiante são MUITO maiores do que numa conversa entre poucos interlocutores, com tempo, mediação e coisa e tal… dá mais trabalho? tem q ler um monte de coisa q não te interessa? tem q procurar aquilo que te interessa, que te toca? tem q duvidar e caçar mais informações? tem que esperar dias? pois é por isso mesmo que é ótimo – glorioso, na verdade… se a gente não é contra o tal de gutemberg, é precisamente pq ele deu a chance dos debates durarem indefinidamente – escritos… garanto que, com todos os recursos da internet (usando links e coisa e tal – e olha q nem sou 2.0) o FdE tem a chance, aqui, de se “defender” devidamente e de convencer aqueles que com ele podem se alinhar ou simplesmente querem debater… transformar as coisas em “eventos” parece interessar mais à coca-cola e quem mais quiser capitalizar em cima da atividade alheia (EXPLORAÇÃO) – só não nos iludamos: fazendo essa propaganada do FdE, por exemplo, já estamos rendendo capital a alguém, oq nesse mundo, definitivamente, não é pecado…
foi mal aê, pela vomitada e tudo mais, mas sabe cumé, a gente se empolga… eu só queria ajudar…
O passado é História e a História não acabou como você tanto quer, providência cósmica A.K.A. Fukuyama. Só lamento.
Gritam por aí aos 4 ventos que “o Fora do Eixo” é a nova esquerda e que a luta agora (???? vocês não sabem do passado mesmo, né?) é da liberdade das minorias, das liberdades individuais e deixam de lado a luta de classes. (Ô simplismo, hein? Pra quê tanto nome de intelectual jogado na tela?) Ou seja, esquecem novamente da História (ai, ai), esquecem que em 1999 esse debate já tava no AUGE, tava nas ruas de SEATTLE e em 2001, nas ruas do Brasil. E digo mais, pelo menos naqueles dias tava pautado de maneira muito mais incisiva o desejo de transformação radical, agora nem isso. Tão pagando de vanguarda deslumbrada, tão achando que esse é o caminho pra PÓS-SAÍDA (risos) e realmente, se não forem sinceros e encararem a enorme limitação do projeto de vocês, o único caminho que vai rolar é PÓS-QUEBRAR-A-CARA. Pulem do barco enquanto é tempo.
“O Circuito Fora do Eixo é, no meu entender, um dos mais potentes laboratórios de experimentações das novas dinâmicas do trabalho e das subjetividades. Que tem como base: autonomia, liberdade e um novo “comunismo”. (BENTES, Ivana. Editora Pós-Sem-Noção. 2011)
Aqui http://foradoeixo.org.br/institucional as palavras discordam de BENTES, pois não tem nada de anticapitalismo, nada de autonomia, nem novo comunismo. Párem de querer pagar que tão querendo alguma transformação radical e admitam a domesticação do capitalismo ao menos. Sejam sinceros. Se apropriaram dessas manifestações em prol do tal do devir-minoritário (SIC) e tão achando que tão mudando o mundo.
Outra coisa, falando como se tivesse numa banca de doutorado o tempo inteiro ninguém (nem o tal do devir-minoritário) nunca vai entender porra nenhuma do que querem.
E antes que eu me esqueça, vai falar de pós-rancor pros parentes dos 6 trabalhadores rurais assassinados só em uma semana de junho.
Claramente, a galera da decada d 90 não enxerga a luz no fim do tunel e esse pessoal novo q não viu o novo refeito não tá esperando a rasteira q vai levar. Pq com tanto web 1.0 e 2.0 não existe mais uma troca? Vamos ficar limitados a meia duzia d lista d mail com um milhão d seguidores poscamaradas?
O texto erra ao fazer uma analise das marchas centrada no Fora do Eixo. Mas acertou em escolher esse coletivo empresarial como alvo.
De resto, a quantidade de comentários e textos de resposta deixa claro que o debate está muito mais amplo do que seria um debate “presencial”. Já que o “Fora do Eixo” disse estar a “disposição” para debater, peço apenas que os membros do “Fora do Eixo” também escrevam um texto de resposta, ao invés de uma série de comentários confusos e fragmentados.
Esse artigo um pouco confuso mostra como o capitalismo se reinventa permanentemente, inclusive nos protestos (?!) bem comportados.
Caro Leo Vinicius,
Em relação ao seu esclarecimento quanto ao comentário sobre o “Pensando por fora”, de Paulo Arantes: sim, me referia a estes “um ou outro” que você indica, exatamente para provocá-los a participarem deste debate – e deixarem bem claros seus novos posicionamentos quanto ao tema.
Jovens militantes que participariam desta coletânea prefaciada pelo texto “Pensando por fora” (a qual vc tb integraria, certo?!); e jovens intelectuais que frequentavam assiduamente os “Seminários das Quartas” na USP, agitados pelo Paulo Arantes, em quem ele provavelmente tb pensava ao escrever tal texto.
Alguns dentre os quais, no entanto, tornados gestores menos de 10 anos depois, embarcaram entusiasmados no novo modelo de “gestão da cultura livre” implantado pelos Ministros Gil e Juca Ferreira ao longo dos oito anos de Lula – um dos panos de fundo fundamentais da crítica deste artigo: jovens como, por exemplo, o Prof. Pablo Ortellado e o (Pós-)Gestor do Minc Afonso Luz, para pegar “uma ou outra exceção”, respectivamente, da tal coletânea e do seminário.
Desculpe-me se soou uma crítica injusta em relação aos demais companheiros como você, Manolo, Marco Fernandes e outros jovens intelectuais que tb participariam daquela coletânea e, obviamente, “continuam vendo o mundo na perspectiva de uma luta de classes”. Até mais que isto: como se sabe da atuação recente de vocês, não embarcaram entusiasmados em nenhuma dessas “neo-ondas” “contra-culturais” de “cultura livre” supostamente “mais sintonizadas ao século XXI”, acompanhados desses Claudios e Ivanas, mesmo que supostamente mantida no discurso uma perspectiva de “luta” à “esquerda”.
O próprio refinado comentário feito acima, neste meio tempo, pelo Pablo Ortellado, confirma esta entusiasmada “virada cultural” pela qual passaram/passam alguns daqueles jovens:
Pablo acusa o Passa Palavra de se recusar a um debate com o Fora do Eixo, ele mesmo recusando-se (“por falta de elementos…”) a criticar este grupo empresarial que é seu aliado não-de-hoje nas pressões circunstanciais contra a atual gestora do Minc, Ana de Holanda – pela volta do modelo Gil-Juca.
Ele ressalta o protagonismo atual não das novas indústrias culturais que chega a citar, mas dos “ativistas de esquerda” e do potencial de “desmercantilização da cultura” da nova economia da “cultura livre”, ignorando deliberadamente todo o protagonismo “colaborativo”, implícito ou explícito, material ou simbólico, deste poderoso Open Business que tem sido esmiuçado detalhadamente ao longo desta discussão.
Por fim, destaca o potencial, para as lutas sociais (inclusive dos “trabalhadores que ainda vivem sob o regime fordista”), desta supostamente nova “virada (contra)cultural” e do protagonismo das “camadas médias urbanas” com demandas “crescentemente pós-materiais”, corroborando no final das contas o principal pós-argumento de Claudio Prado, Pablo Capilé, Ivana Bentes e cia: de que o Passa Palavra seria mais um sítio com olhar da esquerda de “meados do século passado”, “não ajudando a compreender o presente, nem a discernir as tendências do futuro”.
Ora, caro Leo Vinicius, em minha opinião se tem uma coisa para qual a trajetória recente do Passa Palavra e este debate todo estão contribuindo é justamente para melhor “compreender o presente, e discernir as tendências do futuro”. De uma perspectiva prática e teórica anti-capitalista, bem entendido.
E no sofisticado comentário de seu então companheiro-de-coletânea vemos o quanto é simples, para esta neo-esquerda, ou neo-direita, ou neo-pós-tudo, recorrer inclusive a Marx para dissimular o seu novo ajuste teórico e prático – à direita.
Neste caso vale ainda mais re-lembrar outra citação também bem conhecida no meio, esta de Bertolt Brecht: “De nada serve partir das coisas boas de sempre, mas sim das coisas novas e ruins”.
Saudações, Leo! E desculpe-me mais uma vez caso o primeiro comentário tenha soado uma generalização injusta!
Essas pseudos-teorias que abusam de neologismos baratos (e compreensíveis apenas para suas seitas) servem para tentar garantir a algum acadêmico férias mais longas e cômodas (e para o séquito de bolsistas [ou aspirantes a isto] tentar adentrar nas pós de universidades públicas, geridas como feudos por esses professores e professoras).
Este processo é repetido em larga escala, ao entenderem que o problema não é o modo de produção capitalista, mas apenas o seu modelo de repartição. A consciência da injustiça se dá pela ideia de justiça, desconsiderando a opressão econômica. Querem suprimir os abusos do capitalismo, mas não o capitalismo.
Pudera, tal qual urubus, vivem da carniça pública com suas verbas de pesquisa e editais. E com a influência possibilitada por estarem com a caneta do feudo universitário nas mãos vão angariando favores aqui e acolá.
Ao invés do voo da Minerva, temos o voo do Urubu.
Escrevo rapidamente para o ‘camarada histórico’. Muitas das pessoas reunidas em torno da coletânea “Pensamento em movimento”, que seria prefaceada com o texto do Paulo Arantes linkado por você estão aqui nos comentários – Felipe, Leo, Manolo e agora eu – e numa posição contra Claudio Prado e cia. Simpatizei com os teus comentários, escrevo isso apenas para deixar claro que a posição do Pablo (ou falta de posição?) nesta conversa não reflete a posição de todos nós.
Opa, minha internet tinha caído e só vi a sua resposta ao Leo agora, depois de ter conseguido enviar meu comentário. E para não ser injusta, aproveito para dizer que, naquele momento, quem nos agregou em torno desse livro e inclusive convidou o Paulo para escrever o tal texto foi o Pablo, junto com o Velotrol. Apenas discordo da posição que ele tomou nesta discussão aqui e achei importante deixar isso claro, ainda que eu não esteja animada a escrever.
Só queria acrescentar que meu comentário acima foi relativo ao texto da Ivana Bentes e comentários de júh 2.0 e providência cósmica.
Opa de novo – confundi os pseudônimos “camarada história” com “Recuperação Histórica”. A minha mensagem era para o/a “Recuperação Histórica”.
Comentário rápido, para não deixar certas atitudes não respondidas: infelizmente, não se está fazendo aqui um debate respeitoso e baseado em argumentos, mas apenas difamação e desqualificação torpe, anônima e com uma injustificável recusa em debater. Não vou responder a argumentos ad hominem (neo-gestor, aliado de grupo empresarial, neo-direita etc) e esperava mais (consideração, respeito) de (ex?)companheiros com quem militei. Para responder os pontos colocados, ainda na esperança do reestabelecimento do debate qualificado:
* Minha perspectiva é classista e anticapitalista – expus em síntese minha leitura da estrutura de classes no capitalismo fordista e pós-fordista que já desenvolvi noutros lugares. Gostaria de ver, como resposta, uma leitura, ainda que sintética, da estrutura de classes do capitalismo atual – não do capitalismo dos anos 1950, mas desse capitalismo no qual um quarto da força de trabalho trabalha com computadores, mesmo num país como o Brasil; no qual o trabalho é precarizado e baseado no empreendedorismo individual; e no qual o acesso ao ensino superior dobra a cada dez anos.
* Não ignorei “deliberadamente todo o protagonismo ‘colaborativo’, implícito ou explícito, material ou simbólico, deste poderoso Open Business que tem sido esmiuçado detalhadamente ao longo desta discussão.” O papel do open business está claramente colocado no meu artigo e em outros textos que escrevi (por exemplo, aqui: http://www.gpopai.org/ortellado/2011/02/os-nacionalistas-da-cultura-%E2%80%9Ccreative-commons-e-entreguismo%E2%80%9D/). Se os autores do artigo conhecessem o tema, saberiam que o open business é um projeto de certos ativistas liberais (como os chamei) e que as empresas que adotaram essa abordagem não desempenham nenhum papel relevante no processo de desenvolvimento das indústrias culturais. Apesar disso, esses novos modelos de negócio eventualmente virão a desempenhar um papel relevante e por isso precisam ser combatidos desde já, como venho defendendo há vários anos. Toda minha trajetória política nos últimos anos consiste em buscar maneiras de promover a desmercantilização da cultura, barrando ao mesmo tempo o potencial de reorganização da indústria. De novo, a crítica anônima que me foi feita é puramente difamatória, porque não se apoia em argumento algum e em nenhum elemento objetivo do que escrevi.
* Não fiz uma “nova ‘virada (contra)cultural'”. Quem acompanha o que escrevi nos últimos anos sabe que eu sempre vi a potência dos novos movimentos justamente na intersecção entre contracultura e anticapitalismo. Essa é minha chave de leitura para o movimento antiglobalização. Escrevo sobre isso há mais de dez anos. Aliás, como muitos dos companheiros que escrevem no Passa Palavra, eu também vim da contracultura.
* Finalmente, não estou defendendo o Fora do Eixo. Não tenho qualquer relação com eles que não a participação pontual em certas redes. Saudei a publicação do artigo e apenas critiquei a atitude infantil de recusar o debate que eles propuseram.
Acho que isso é mais do que suficiente para um debate que está sendo realizado mais com base em acusações do que na troca de ideias.
Pela lógica uspiana do Dr. Pablo fica assim: as lojas Marisa são pegas explorando trabalho infantil em regime de semi-escravidão. Um site faz um texto crítico desta realidade. A empresa propôe debater a questão. Uma mesa ao vivo transmitida pela net sobre o trabalho e suas novas configurações, a subjetividade, enfim.
Quem está sendo infantil? Faça o favor! Vai vender carnê do Baú.
Por favor considere que a minha reação pública veio justamente da impressão de você ter desqualificado o Passa Palavra publicamente em seu texto. Entendo que você fez isso com cuidado e em tom inicialmente elogioso, mas você não é nada ingênuo, conhece o Fora do Eixo e deveria saber o significado do que estava fazendo ao publicar esse texto. As pessoas te respeitam muito, não o contrário, por isso uma amiga próxima se sente à vontade para chamar a sua atenção. Ainda assim, avalio que errei ao comentar aqui. Porque concordo com você que o momento é de debate de idéias e eu estou sem ânimo algum para escrever sobre este assunto. Precisamos sim refletir sobre/compreender a situação que vivemos e, mais que isso, repensar todo um projeto político. Mas onde, como, com quem?
Pablo,
O quê está se fazendo aqui em todos os níveis, seja na discussão sobre o tema geral (suscitada pelo artigo), seja nesta discussão específica com você, é um debate baseado em uma série de argumentos bem concretos. Argumentos duros não são sinônimos de desrespeito, difamação ou de desqualificação: simplesmente de duras divergências, o quê leva inclusive ao crescente distanciamento do companheirismo político entre quem (outrora) compartilhava das mesmas trincheiras e, hoje, já não compartilha mais.
Quando sugeri que você se tornou gestor, aliado (ainda que involuntário) de novos grupos empresariais, sofrendo assim uma guinada à direita (apesar da retórica classista e anticapitalista que possa preservar), estou me baseando justamente na sua atuação e teorização recentes, inclusive sobre o tema da “nova economia de cultura livre” e do “movimento da cultura livre”. Vamos então voltar aos argumentos concretos…
“Uma leitura, ainda que sintética, da estrutura de classes do capitalismo atual”, como você pede, a meu ver passa fundamentalmente por não subestimar o papel e o crescente poder econômico-político que os novos gestores ligados ao Open Business – e Open Cultural Business especialmente – desempenham em todos os setores da sociedade atual. Ao contrário, na minha leitura – que acredito ser semelhante à leitura do coletivo Passa Palavra, pelo que leio em seus textos – tais novos gestores estão na vanguarda da atuação das novas grandes corporações, seja em parcerias diretas, seja em “colaborações” indiretas – as quais de tão indiretas, de tão dissimuladas e/ou de tão imateriais tornam-se mais difíceis de serem criticadas. O resultado, no entanto, é bem concreto: subordinação crescente dos trabalhadores – principalmente os diretos dessas corporações, ou indiretos em suas redes colaborativas – a taxas de produtividade cada vez maiores, gerando acúmulos crescentes tanto para a nova classe de gestores, como para os sócios das grandes corporações associadas / patrocinadoras destes neogestores.
Deliberada ou involuntariamente, talvez por esta dificuldade de se fazer a crítica (pelas várias mediações que esta neoforma de mercantilização se dá), você tem subestimado o papel destes novos gestores na renovação da dominação (capitalista) neste início do século XXI, tanto na sua recente atuação política como na sua teorização. Inclusive neste comentário acima. Cito: “o open business é um projeto de certos ativistas liberais (como os chamei) e que as empresas que adotaram essa abordagem não desempenham nenhum papel relevante no processo de desenvolvimento das indústrias culturais”.
Pior que isto: tem corrido o risco de se tornar um teórico deste pessoal, dando legitimidade a eles – em especial ao considerarem como parte do “movimento de cultura livre”. Ao ponto de aceitar participar de fóruns comuns deste suposto “movimento de cultura livre” junto a alguns desses grupos empresariais de neogestores – não deixando de reforçar a sua suposta legitimidade política. Nomeadamente: reuniões recentes contra a ministra Ana de Holanda junto ao Claudio Prado, Ivana Bentes, Fora do Eixo, Campus Party, entre outros grupos de neogestores.
Ao subestimar o papel econômico desta nova classe (ou rede?) pós-rancor de gestores superconectados – que aqui em São Paulo têm como vanguarda junto e misturada a atuação de coletivos como Fora do Eixo, ONG Casa de Cultura Digital, Petrobrás Cultural, Instituto Overmundo, Instituto Aprendiz, Studio SP, Revista Trip, Itaú Cultural etc etc; e no Rio tem AfroReaggae, Natura Cultural, Fundação Roberto Marinho, Cufa, Luciano Huck, Eike Batista, Cacá Diegues e Reginas Casés da Periferia, Vale Cultural etc etc – a meu ver você comete um erro crasso, afinal estamos tratando dos principais grupos político-econômicos que mais têm se fortalecido nos últimos anos de “gestão participativa” em nível federal. E que mais tem se apropriado do trabalho material (que ainda existe!) e do peso simbólico das classes periféricas, as quais seguem sendo cada vez mais exploradas sob as mais diversas e flexíveis (duras) formas, em tempo integral.
E fiz questão de elencar acima grupos e pessoas do eixo Rio-SP que, supostamente, em seus textos recentes, fariam partes de distintos setores da indústria cultural (“a velha e/ou a nova indústria cultural”) também para demonstrar o quanto esta fronteira é tênue, e dinâmica. E sua fluidez se dá em maior escala exatamente no terreno da apropriação do conhecimento coletivo, de ações culturais, sociais e simbólicas, e em todas aquelas searas onde seja possível se apropriar de conhecimento e de tecnologias concentradas para incremento da produtividade. Os quais, muitas vezes em seus textos, aparecem como os Bens Comuns / “Creative Commons” – cuja defesa do caráter emancipatório do “livre-consumo” meio que coloca em parênteses o contexto de capitalismo turbinado (de poder altamente concentrado) no qual estes bens estão sendo produzidos, comercializados e (a forma que estão sendo) consumidos.
Sim, isto é mais uma página da renovada capacidade capitalista de recuperar distintas formas de sociabilidade, e de resistência (inclusive “contra-cultural”), algo que a meu ver você pela sua trajetória deveria estar enxergando melhor se continua, como diz, pretendendo “promover a desmercantilização da cultura, barrando ao mesmo tempo o potencial de reorganização da indústria”. Creio que você, no mínimo, não tem conseguido enxergar este processo à altura das suas renovadas sofisticações e perigos.
E a meu ver isto se dá, entre outras coisas, por um distanciamento concreto das lutas sociais não “das camadas médias urbanas” (termo que facilmente corre o risco de se tornar um recurso retórico para se referir às movimentações dirigidas por estes gestores), mas dos trabalhadores que permanecem sendo sobre-explorados pelas velhas e pelas renovadas formas de incremento da produtiva dominação (agora com um verniz crescentemente contracultural e colaborativo) surgida da “open alliance” destes neogestores com os velhos gestores de grandes corporações. Sejam aquelas formas flexíveis de dominação (como o crescente exército de periféricos que se enrola todo no sistema de agiotagem das mensalidades das inúmeras uniesquinas que se multiplicam, vendendo acesso ao “conhecimento high-tech”); sejam as formas de dominação absoluta, nuas e cruas, baseadas no controle direto pela violência criminal, policial e penal.
Se você estivesse mais conectado às ruas, Pablo – como um dia já esteve, inclusive tendo sido reprimido por isto – entenderia melhor que não estamos nem perto de viver uma “wikidemocracia”, e que inclusive o “debate público e pacífico” é impossível numa sociedade dominada por velhos gestores militares e neogestores conectados, ambos habituados a fazerem rastreamentos e a bolarem estratégias violentas de combate contra os seus inimigos anticapitalistas. Entenderia, portanto, a necessidade que muitas vezes nós anti-capitalistas temos de recorrer a pseudônimos… Talvez entendesse melhor também aquilo que, a meu ver, deve ter levado o coletivo Passa Palavra a recusar o “debate”, verdadeiro twit-espetáculo, proposto pelos super-conectados fora do eixo…
O quê não impede de já termos conversado pessoalmente sobre alguns dos assuntos aqui tratados; de seguirmos este excelente debate por aqui, num sítio aonde temos tempo-espaço de amadurecer e bem registrar nossos argumentos; nem impede de voltarmos a debater pessoalmente na próxima ocasião não-espetacular que tivermos.
Afinal, caro Pablo, de livre esta nova cultura e estas novas ferramentas aqui têm muito pouco…
O Ortellado tentando salvar o debate e um bando de amarelão com pseudônimo tento piti… Belo nível hein? Estava até o momento recomendando acompanhar os desdobramentos por aqui do assunto por aqui, mas pelo visto, os donos da razão da esquerda-naftalina não estão afim de compartilhar a sapiência com a massa “despolitizada”. Viés de confirmação é um veneno, “camaradas”.
Salvar o debate para quem, Skarnio? Para mim não há nada a ser salvo. Eu estou achando que este debate começou como uma avaliação de um coletivo sobre uma outra organização e levantou uma série de questões: a relação de independência dos veículos de comunicação da esquerda autônoma; a responsabilidade de tratamento de fontes consultadas etc., mas já superou essa barreira. Estamos, nós da esquerda autônoma e anti-burocrática, vivendo alguns anos de “isolamento”. Temos muitos grupos e projetos individuais, mas não um projeto coletivo hegemônico, por falta de uma palavra melhor.
Tivemos o movimento dos movimentos (os de verdade, não estas organizações empresariais em pseudo-redes), AGP, depois as lutas em torno da comunicação, como o CMI e as rádios livres; e, depois (para encurtar o caminho, lembrando que há muitas outras lutas, é claro) o MPL, como um amadurecimento da luta de base com uma perspectiva de conquistas em políticas públicas. Após o “auge” do MPL houve uma debandada e acho que estamos numa etapa ainda inicial de formulação de um novo projeto coletivo político que amadureça todas as nossas experiências passadas e que consiga aglutinar a maioria de nós.
Esta discussão aqui pode ser isso: um embrião para nos atualizarmos, mas numa perspectiva anticapitalista, sempre! Nessa perspectiva é bom termos consciência que este debate pode ter eclodido em São Paulo, mas chegará nas demais cidades Brasil afora. Lugares em que não existe Passa Palavra, ou Fora do Eixo, ou demais pessoas aqui citadas. Devemos levar o conteúdo do debate, os paradigmas aqui colocados: atualização do movimento anticapitalista do tipo anti-burocrático e, do outro lado, (sim, do outro lado), a atualização da cooptação e deturpação dos nossos termos e propostas pelos deslumbrados com novas formas do capital.
E não adianta, Skarnio, tentar usar palavras como “naftalina”. Imagino que muitos aqui se sintam até lisonjeados, pois significa que seus esforços não começaram anteontem. Tampouco a tentativa de confundir esquerda autoritária com esta nossa, fazendo passar por novidade algo igualmente velho: a manutenção do status quo.
Entre os problemas mais gritantes, Ivana Bentes destaca…
por Frederico Neto*
Provavelmente os gestores, pesquisadores e produtores de cultura devem ter recebidos por e-mail e nas mídias sociais o texto da pesquisadora e professora da ECO/UFRJ, a Dra. Ivana Bentes, intitulado “A esquerda nos eixos e o novo ativismo”, que busca desqualificar o editorial do site Passa Palavra sobre as recentes mobilizações em São Paulo e a fragilidade prática e teórica de uma “nova” forma de ativismo político e estético emergente no contexto contemporâneo.
Não é de se estranhar a repercussão do texto da Dra. Ivana Bentes e seus possíveis desdobramentos em outros artigos e eventos a serem realizados pela pesquisadora ou com a presença da pesquisadora. Esse mesmo tipo de investida já foi testemunhada quando a pesquisadora revolveu atacar o filme Cidade de Deus, de Fernando Meirelles e Kátia Lund, após a sua boa recepção de público e crítica.
Um oportuno precedente:
Em 2001 após a repercussão do filme Cidade de Deus no Festival de Cannes, a pesquisadora Ivana Bentes publica no Jornal do Brasil o texto-manifesto “Da estética à cosmética da fome” (1), onde busca uma ligação da estrutura narrativa do filme (denominada de pós-clássico pelos críticos e teóricos de cinema) com os pressupostos políticos e estéticos modernos do Cinema Novo, em especial o manifesto “Eztétyka da Fome” de Glauber Rocha, utilizando a etiqueta-analítica “cosmética da fome” para denunciar a representação estilizada da violência do tráfico nas favelas cariocas.
Em uma segunda investida, em 2002, após a estréia do filme nas telas brasileira, publica no jornal O Estado de São Paulo o editorial “Cidade de Deus promove um turismo no inferno”, obtendo, com a repercussão midiática do texto, a condição de referencial teórico na polêmica que deflagrou. Posteriormente vieram os artigos acadêmicos, as pesquisas e, é claro, os seminários e os painéis nos fóruns de discussão de cultura.
No artigo-resposta “O dragão da cosmética da fome contra o grande público”, Fernando Mascarello, crítico e pesquisador de cinema, problematiza a etiqueta-analítica cunhada por Ivana Bentes e aponta uma “meticulosa calibragem para a repercussão na mídia, ajustando-se, assim, ao ‘mercado’ da discussão intelectual” (2). Destaca o caráter legitimador/patologizador de um discurso que se apoia no referendo de um público ávido por elementos para o exercício de uma distinção social, no sentido sociológico do termo.
Citando e comentando alguns destaques feitos por Ivana Bentes:
A seguir um trecho que busca desqualificar o editoral do site Passa Palavra, se ancorando em um esclarecimento e compreensão que só a pesquisadora julga demonstrar ter:
“O texto não consegue configurar que os movimentos e articulações, ainda que incipientes, das marchas das liberdades em todo Brasil não são “a nova classe dominante”, mas a emergência de um movimento transversal, “movimento de movimentos”, com dinâmica própria e singular em cada território, com uma pauta heterogênea, aberta e em construção, sem central única” ou “comando” dos “iluminados”, que se auto-organiza e cujos “fins” não foram dados a priori!”
Mais radical na sua argumentação, esse outro trecho busca desqualificar o coletivo que assina a autoria do editorial, apontando como conservadora e desatualizada qualquer perspectiva classista, remetendo ao clichê “fluxo”, em caixa alta, que é moda nos estudos de comunicação e cultura:
“O artigo parece ter como horizonte a luta por cartórios do século XIX!!! Com estratégias e palavras de ordem abstratas, um “anticapitalismo” vago que perdeu o sentido. Pois as novas lutas são em FLUXO, são modulações, não são MOLDES PRE-FABRICADOS, não são sequer anti-capitalistas, no sentido estrito, pois estão hackeando o capitalismo, se apropriando de suas estratégias para resignificar o COMUNISMO das redes, no sentido mais radical de um comunismo DENTRO do próprio capitalismo, esquizofrenia do sistema que produz hoje um horizonte do COMUM, que temos que construir e pelo que temos que lutar.”
Aqui outras generalizações teóricas como “novas dinâmicas de trabalho”, frequente nos estudos sobre a globalização e “laboratórios de experimentações” que está totalmente fora de contexto, um conceito tirado da cartola:
“O Circuito Fora do Eixo é, no meu entender, um dos mais potentes laboratórios de experimentações das novas dinâmicas do trabalho e das subjetividades. Que tem como base: autonomia, liberdade e um novo “comunismo” (construção de Comum, comunidade, caixas coletivos, moedas coletivas, redes integradas, economia viva e mercados solidários).”
Nesse trecho, a seguir, a pesquisadora busca uma etiqueta-analítica para definir o Fora do Eixo com a pérola “esquerda pós-fordista”, para um grupo que não é simpático com denomicações clássicas de espectro político e ideológico como esquerda e direita, mas que prefere ser etiquetado de alternativo e independente:
“Ou seja, o Fora do Eixo entendeu que o modelo na produção cultural é o modelo de funcionamento do próprio capitalismo. (…) Uma esquerda pós-fordista que está dando certo, que inventa estratégias de Mídia, que inventa “mercados” solidários, contrariando os anunciadores do apocalipse.”
Mais generalizações sobre as potencialidades políticas do Fora do Eixo:
“A ideia de que, para se ter “direitos”, é preciso se “assujeitar” em uma relação de patrão/empregado, de “assalariamento”, é uma ideia francamente conservadora. O precariado cognitivo, os jovens precários das economias da cultura estão reinventando as relações de trabalho; os desafios são enormes, a economia pós-Google não é fordista, não é melhor nem pior que as velhas corporações, mas abre para outras dinâmicas e estratégias de luta, EM DISPUTA!
Não vamos combater as novas assimetrias e desigualdades com discursos e instrumentos da revolução industrial!!! Como faz o texto na sua argumentação redutora e tendenciosa.
Não é só o capitalismo financeiro que funciona em fluxo e em rede, veloz e dinâmico. As novas lutas e resistências passam por essas mesmas estratégias.
O Fora do Eixo está apontando para as novas formas de lutas, novas estratégias e ferramentas, que inclui inclusive PAUTAR AS POLITICA PUBLICAS, PAUTAR o Parlamento, PAUTAR A MIDIA, Pautar a Globo, como as marchas conseguiram fazer! Ser bem sucedido ai, onde muitos fracassaram, é o que parece imperdoável!”
Em relação a pressão ou articulação feita para pautar as demandas e influenciar nas políticas públicas, o FdE e derivados, não diferem dos ruralistas, evangélicos e demais estratos sociais no seu corporativismo. O Fora do Eixo apenas participa da disputa por fundos públicos.
Outro trecho desqualificando a perspectiva classista do site Passa Palavra, com ataques de cunho legitimador/patologizador, como na polêmica com o filme Cidade de Deus; sublinhei o termo “ressentimento”, que é muito comum nos estudos sobre cinema brasileiro:
“Há um enorme ressentimento no texto, mal disfarçado, diante de tanta potência, lida pela chave mesquinha da “luta por poder”, “captalização de prestígio”, da “nova classe dominante”. O objetivo infelizmente parece ser o de desqualificar, rotular e “neutralizar” os que são os novos aliados de uma radicalização do processo democrático no Brasil, que estão inovando na linguagem e nas estratégias. “Perigo” que ameaça a jovem/velha esquerda, que perde protagonismo em todas as esferas, incapaz de dialogar com esse novo e complexo cenário, com todos os seus riscos. Experimentar = se expor aos riscos.”
Por fim, nota-se que o texto não é dirigido para o Passa Palavra, não é uma reposta a análise feita; aproxima-se mais de um consolo teórico e ideológico para os ativistas do FdE, Cultura Digital e afins.
Cronologia:
Em 17/6/2011 foi publicado pelo Passa Palavra, em seu site, o artigo “A esquerda fora do eixo” [http://passapalavra.info/?p=41221], iniciando a polêmica.
Em 22/6/2011 foi publicado no blog Trezentos, o texto “A esquerda nos eixos e o novo ativismo” [http://www.trezentos.blog.br/?p=6056] de Ivana Bentes. Na mesma data, o Passa Palavra recusa o convite feito pelo principal ativista do Fora do Eixo, Pablo Capilé, e anuncia uma reflexão em seu próprio jornal a respeito da polêmica instaurada com o texto “Domingo na Marcha” [http://passapalavra.info/?p=41431], o primeiro de uma série.
Em 23/6/2011, o professor da USP, o Dr. Pablo Ortellado, comemora a polêmica em seu blog com o texto “Capitalismo e cultura livre” [http://www.gpopai.org/ortellado/2011/06/capitalismo-e-cultura-livre], onde aponta algumas falhas na análise do Passa Palavra, mas sem deixar de compartilhar a leitura classista feita pelo site.
Em 24/6/2011, o texto “A esquerda fora do eixo” já contava com mais de 130 comentários no site Passa Palavra, incluindo textos de Cláudio Prado da Casa de Cultura Digital, o texto e comentários de Ivana Bentes e Pablo Ortellado, além de uma crítica deste último.
Enquanto o texto do Passa Palavra circula por alguns blogs e demais mídias sociais utilizado por ativistas e militantes de movimentos; o texto de Ivana Bentes é publicado em vários sites e blogs ligados a gestão cultural, incluindo o portal Cultura e Mercado [http://www.culturaemercado.com.br/pontos-de-vista/a-esquerda-nos-eixos-e-o-novo-ativismo] e no site do jornalista Luis Nassif [http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-esquerda-nos-eixos-e-o-novo-ativismo].
Notas:
* Bacharelando em Cinema pela FAP/CINETVPR, gestor cultural, cineclubista e pretenso realizador e pesquisador de cinema.
“Da Estética à Cosmética da Fome”, Jornal do Brasil, julho de 2001. Assim que tiver uma versão digitalizada eu publico no blog. Coloquei o link para um artigo acadêmico decorrente dessa polêmica.
Ver a página 12 do artigo de Fernando Mascarello no link abaixo.
Referências:
Glauber Rocha – Eztetyka da Fome – http://www.tempoglauber.com.br/glauber/Textos/eztetyka.htm
Fernando Mascarelo – O dragão da cosmética da fome contra o grande público – http://seer.ufrgs.br/intexto/article/view/4076
Ivana Bentes – Sertões e favelas no cinema brasileiro contemporâneo: estética e cosmética da fome – http://publique.rdc.puc-rio.br/revistaalceu/media/Alceu_n15_Bentes.pdf
Ivana Bentes – Cidade de Deus promove um turismo no inferno – http://www.consciencia.net/2003/08/09/ivana.html
Ivana Bentes – A esquerda nos eixos e o novo ativismo – http://www.trezentos.blog.br/?p=6056
Passa Palavra – A esquerda fora do eixo – http://passapalavra.info/?p=41221
Passa Palavra – Domingo na marcha – http://passapalavra.info/?p=41431
Pablo Ortellado – Capitalismo e cultura livre – http://www.gpopai.org/ortellado/2011/06/capitalismo-e-cultura-livre
Obs.: Nos textos feitos por Ivana Bentes e Pablo Ortellado não há referência as suas titulações acadêmicas, mas nos emails que recebi a referência a esse pedigree catedrático, por isso a utilização. Esse texto não segue as regras da ABNT e não é um artigo ou manifesto, só uma breve análise.
Frederico Neto. Muito boa tua postagem e observação. O Luís Nassif, que não é um blogueir0 -ele tem prédio, equipe de jornalistas e é pago via Petrobras e outras – também publicou o texto da Ivana. Os caminhos sociais de ambos os textos mostram bem quais posições eles representam. Para ver como o virtual é bem real. E a falsa polêmica anonimato/não anonimato é apenas um corte entre quem tem está com um nome com frutos a colher, ligado as redes do poder, e aqueles que as combatem de onde podem.
Enfim, que um dos blogueiros oficiais do governo tenha dado guarida ao texto da Ivana mostra bem o corte que foi feito. Boa observação.
Ao Recuperação Histórica,
Sinceramente, embora possa discordar de algumas posições do Pablo (Ortellado), não vejo guinada à direita nas suas posições, e se chamar o outro de gestor para desqualificar sem ter uma base mais factual, é melhor largar esse conceito. E sinceramente também, achei o seu primeiro comentário dirigido a ele bastante desqualificador (e desqualificado por tabela), aparentando mais alguma raiva ou ranço do que qualquer coisa.
Sobre fazer trabalho em conjunto com ONGs, partidos etc. contra inimigos comuns, qualquer um na esquerda que de fato se engaja em algo sabe que na altura das nossas forças isso é inevitável em algum momento, se queremos ter algum resultado prático, mesmo que pontuais. São as tais das ‘alianças táticas’. Por que será que o MST de alia pontualmente com o Greenpeace, por que será que movimentos autônomos se aliam pontualmente com Partidos. Por que será que se criam frentes com liberais contra criminalização, pela liberadade de presos políticos etc.?
Do que eu discordo do Pablo quanto ao tema: não acho que os movimentos da juventude, e dessa juventude tenha sido algo “marcante” nesse tempo. Acho que a juventude tem sido a ponta de lança do liberaqlismo e individualismo ultimamente, e não vejo nada que aponte para que ela tenha algum protagonismko maior em uma transformação social num sentido socialista, ou mais socialista. O que não quer dizer que ela possa desenvolver movimentos que contruibuam para acirrar ou expressar conbflitos sociais.
Caro Leo Vinicius:
Eu apresentei em meus comentários bases bem factuais para qualificar esta mudança recente do Pablo rumo à classe dos gestores: mudança nos espaços e formas de atuação política; mudança da perspectiva teórica; assunção de novos postos; alianças “táticas” constantes com outros tantos neogestores. Nada irreversível, porém…
Surpreende-me que logo você tente desqualificar a minha qualificação por ela, sim, talvez carregar um certo Rancor… (“alguma raiva ou ranço do que qualquer coisa”). Virou pecado agora também entre autonomistas?
Ainda sobre as tais “alianças táticas” que você cita: há de se ver se são “alianças táticas” realmente, bem como em quais espaços outras estratégias (para além das táticas) estão sendo discutidas e feitas na prática. Porque esta ladainha das “alianças táticas”, em toda história da esquerda, nós conhecemos muito bem. A começar pelas tantas ocasiões que esta retórica serve para abafar qualquer crítica ou auto-crítica da base, em nome de outros interesses das direções.
O quê sinceramente achei estranho foi esta “aliança tática” do Pablo ter se estendido inclusive contra o sítio Passa Palavra – ao corroborar o pós-argumento de que este sítio seria mais um com olhar da “velha esquerda”. Como leitor há mais de um ano do sítio eu me pergunto: de onde o Pablo tirou “elementos” pra fazer esta desqualificação?
Por fim: aquilo que vc critica no Pablo quando ele ressalta o “caráter marcante” inclusive de movimentações “liberais, individualizantes”, quando não ações empresariais, da juventude talvez possa ser explicado pela própria postura recente do Pablo: de distanciamento e alienação em relação a outros espaços e lutas, e de cristalização das “alianças táticas” com a vanguarda destes gestores liberais / grupos empresariais.
A observação do Frederico Neto foi no alvo. Os rastros virtuais dos dois textos confirmam a composição social e são uma espécie de explicação rastro-cibernética da análise.
Os batalhões se formaram: de um lado, doutores, blogueiros de governo, pesquisadores a soldo estatal, produtores, artistas ávidos por emprego, gestores da cultura, intelectuais pró gestores da cultura. Dou outro, ativistas e a ralé de anônimos.
Esse Fora do Eixo é uma franquia cultural de novo tipo, uma marca, uma empresa. No campo da cultura, empresas são ainda pega verba do Estado. E o campo da cultura é o campo da cultura. Em nenhum outro canto há tanto malandro com marketing libertário. Nem na universidade. Empresa é empresa. Umas vendem salsichas, outras vendem shows do Criolo Doido. Só não me venham com papinho.
Aliás, notar que muitos destes gestores da cultura começam sua vida empresarial com pequenos empreendimentos tais como festas de república, encontros disto e daquilo e etc.
Tendo a concordar com o camarada d. sobre a necessidade de nós da esquerda anticapitalista e autônoma começarmos a nos organizar melhor e a pensar projetos de sociedade, mobilizações concretas para mudar a sociedade e se contrapor as novas formas que o capitalismo se apresenta. E isto tem que incluir os grupos que participaram da marcha como a OPA, o DAR, movimentos sociais como o MPL e a Rede Extremo Sul, iniciativas comunicacionais como o CMI, o Passa Palavra e a Rádio Varzea, coletivos como o Autonomos F.C.
Enfim a necessidade de integração das lutas, isto passa por pensar a comunicação e a web 2.0 mas não apenas isto, passa por articularmos as lutas na cidade e pensar em como atuar neste espaço.
Gostei deste comentário abaixo num primeiro debate ao Vivo do Fora do Eixo na internet. O pessoal do Passa Palavra “se recusa a participar de debate com projetos “anticapitalistas” (risos) o que dá bem o tom do dogmatismo e da vontade de ficar falando dentro de um grupelho fechado, entre eles, os puros, dessa curiosa Igreja Dogmatica do Apocalipse!!! O ideologo do Passa Palavra , joão Bernardo, (portugues) é um sujeito (tive que ir ao Google pois nunca ouvi falar) que lançou a teoria dos gestores e aplicam isso de forma automatica (tipo manualzino e cartilha) aos mais variados fenomenos e movimentos. Saem colando a etiqueta!!! So existem ELES os puros revolucionarios e o “resto”, com quem nao dialogam para nao se contaminarem. Risos!
Os Passa Palavras mesmo (quantos avatares aqui nas respostas e logins fakes?ha ha ha)sao uma especie de novos gestores das ruinas do dogmatismo. Vao gerir uma massa falida, he he he! Enquanto todos os demais movimentos discutem entre si, fazem aliancas, debatem e vão das redes as ruas e vice-versa eles continuarao no conforto da sua seita, tomando o chazinho das Cinco entre eles e julgando o mundo. Uma juventude que ja nasceu VELHA!
Viva o não-dogmatismo e a inteligencia!
André Azevedo da Fonseca 25/06/11 17:21 escreveu
A coisa está pegando fogo, hein!?
Fiquei muito tentado a entrar da discussão, mas preferi me conter para analisar mais e continuar estudando.
Aqui entre nós, vejo que há excesso de má vontade no artigo do PassaPalavra. Não sou desses paranóicos que adoram teorias conspiratórias, mas o texto quase parece uma retaliação. Talvez, para desqualificar o Fora do Eixo e, portanto, desqualificar os modelos que vocês estão propondo ou, quem sabe, as críticas que fazem ao novo MinC.
O texto se apropria da estética de um artigo acadêmico para sugerir respeitabilidade (tem referências bibliográficas, divisão em sub-capítulos), mas a primeira acusação (de que o FDE está enraizado nos aparelhos do Estado) vem de “um entrevistado” não identificado. Ou seja, uma opinião decisiva vinda de uma fonte totalmente anônima. Quem disse isso? De onde a pessoa diz? Quais os seus propósitos? Não sabemos. Portanto, podemos questionar: Qual a validade de uma opinião anônima? Isso demonstra o caráter panfletário, e não analítico, do texto.
Há um equívoco quando associam a criação do Partido da Cultura ao combate á Ana de Hollanda, pois o PCult é anterior. Seria mais correto associá-lo ao clima de mobilização estimulado pelas conferências de cultura. (O que acha Capilé?) É interessante notar que o texto interpreta esse diálogo entre governo Luls e sociedade civil de forma pejorativa, entendendo a dinâmica como uma mera “pacificação dos movimentos sociais”.
É perceptível também que o texto se prende às noções tradicionais da política e da disputa por poder em instâncias partidárias, além de estar ainda refém das dicotomias ideológicas do século XX (“esquerda?” “liberal?”).
É visível que os autores ignoram a discussão sobre culturas híbridas de Canclini (as culturas “populares” são ressignificadas e se relacionam com o mercado com mais naturalidade do que o purismo dos folcloristas gostaria de ver em suas idealizações ) e Martin- Barbero (que mostra as tramas de cumplicidade entre discursos hegemônicos e subalternos e critica o esquematismo dos frankfurtianos, inadequados para as realidades da América Latina). E mesmo Maffesoli, que ao contrário de Bourdieu (que também é ótimo. Eu usei muito em minha tese), evidencia a importância do componente lúdico e mítico nas novas configurações políticas expressas pelas tribos urbanas. (O FDE tem algumas características da tribo maffesoliana, mas tampouco se enquadra por completo no conceito.)
Ao afirmar que o FDE passou a “buscar meios para chegar na política” o texto mostra não perceber que o FDE já está fazendo política no campo da cultura, do comportamento, do cotidiano, estabelecendo vínculos transversais entre cultura, política e mercado. Mostra que os autores do texto estão presos à visão tradicional, ainda em voga (e mais: perfeitamente legítima, por que não?! ) encontrada nos projetos políticos pessoais de parte significativa de ativistas desta mesma geração, porém partidários de outras organizações, tais como a UNE, a UJS, o Rotaract, o LEO, etc. E o curioso é que isso (a perspectiva cultural da política do cotidiano) nem é propriamente uma novidade do século 21. (Lembro-me de ter ouvido isso muito nos encontros do SOMA com Roberto Freire nos anos 1990.)
É injusto também sugerir que o combate à Ana de Hollanda estaria ligado a uma suposta dificuldade de obter recursos do Ministério da Cultura. Um dos pontos interessantes da sustentabilidade dos FDE é precisamente a competência que eles desenvolvem para elaborar projetos e captar recursos nas mais diversas fontes de financiamento público, privado , do terceiro setor e, recentemente, por financiamento coletivo. Ora, falar que o FDE garante a “exclusividade na apropriação dos recursos” com uma Lei Rouanet que autoriza a Disney Ice captar 5 milhões é muita má vontade.
Se os autores tivessem mesmo a vontade de compreender, ora, teriam entrevistado alguns membros. Acusar o Fora do Eixo de agir “sem a menor preocupação ideológica” é desconhecimento. André
Azevedo da Fonseca 25/06/11 17:21
Este meu comentário é o centésimo quadragésimo quinto, se não surgir outro antes de eu o enviar. Se o Passa Palavra é um grupelho dogmático e ultrapassado e se as suas críticas ao Fora do Eixo são improcedentes, por que motivo tanta preocupação com elas?
“O texto se apropria da estética de um artigo acadêmico para sugerir respeitabilidade (tem referências bibliográficas, divisão em sub-capítulos)”.
Primeira vez que vejo requisitos básicos de clareza e fundamentação (como divisão em subtítulos e apontar as referências que embasam afirmações) serem qualificados como “estética de um artigo acadêmico”.
Parabéns novamente ao site pelo artigo. Apesar de não tão aprofundado, o artigo bate na questão central, que é o esvaziamento do classismo nestes movimentos “ditos” libertários. Digo “ditos” libertários, por que há muito pouco do classismo dos movimentos políticos libertários de contestação social e que visavam uma ruptura radical com o domínio econômico capitalista.
Organizar-se em rede ou “horizontalmente” ou negar os partidos políticos não é pré-requisito para considerarmos um movimento essencialmente libertário. Assim como assumir o voto nulo (a direita o fez em algumas eleições) ou usar software livre (o metrô, OPPORTRANS, gerida pelo Daniel Dantas, usa) não caracteriza ninguém como grande revolucionário.
Essa idéia de que o proletariado foi substituído por um “cognitariado” que a Ivana Bentes assume, é simplesmente esdrúxula. Convido a estes expoentes da classe média “sem rancor”, a pegarem um trem do ramal Japeri, às 07h da manhã na cidade do Rio de Janeiro para verificarem “empiricamente” a presença da exploração e da precarização do trabalho e dos direitos básicos do trabalhador, típicos de século XIX. É só sair das torres de marfim das universidades para comprovar que as estruturas básicas de dominação continuam atuantes e operando à despeito dessas verborragia pós-estruturalista (de direita) de “revolução dentro do capitalismo”, que pra mim é mais um eufemismo caricato e mal digerido para “modernização conservadora”.
Para não me acusarem de falsa polêmica, é importante fazer um adendo: As transformações do capitalismo não se dão homogêneamente, nem ocorrem em todos os lugares da mesma forma. Do ponto de vista da historiografia, isto já está devidamente debatido. Podemos utilizar como exemplo a polêmica historiográfica em torno da economia colonial que pôs em terra as interpretações tradicionais. O capitalismo convive, do ponto de vista econômico, com estruturas pré-capitalistas, sem nenhum pudor…
Caracterizar o proletariado como “cognitariado” é generalizar um aspecto do modo de produção capitalista; reafirmo que é um aspecto, pois a questão central de dominação ainda está mantida, a propriedade privada dos meios de produção, que nenhum facebook, twitter ou estratégia de rede, vai mudar, sem construir um projeto de poder popular gerido por e pelas bases.
A discussão é muito boa mesmo, mas fiquei meio encucado com uma coisa: por que a confusão entre público e privado não é devidamente aprofundada? Ela é exposta no depoimento de entrevistado para o texto no seguinte trecho: “Já enraizados no aparelho do Estado, principalmente no MinC [Ministério da Cultura] mas não só, participam da elaboração dos editais para projetos culturais e de novos tipos de políticas públicas, como os de promoção do uso de softwares livres e da consolidação da Economia Solidária, cuja articulação entre essas tecnologias e o Estado é de criação e exclusividade deles”, que expõe as estratégias de mapeamento e divisão dos recursos públicos por entidades de diversas naturezas (não só o FDE, mas de muitas outras – não só do terceiro setor – que estão dentro do Programa Cultura Viva e outras iniciativas das Políticas Públicas). A princípio, não vejo problemas em querer pautar a mídia e as políticas públicas para questões que sejam de interesse público… problemático é infiltrar-se nestas discussões a fim de garantir privilégios e espaços conquistados, por meio de amizades, colaborações e outros métodos pouco transparentes como os descritos na referida passagem. Este ponto é apresentado, mas perde relevância face à outras leituras e conclusões que aparecem posteriormente no texto. Tanto é que quase não é tocada nos comentários.
Gostaria de destacar também os comentários breves de Wagner Pyter. Eles acenam para um desejo, que creio ser de todos, da ampliação do debate e da participação da população na discussão das questões levantadas.
Querem saber como o Fora do Eixo trata os artistas que se apresentam em seus eventos?
Bem pós-rancor. Aliás. Pós-rancor até o talo.
http://www.facebook.com/notes/bernardo-pacheco/sobre-o-cancelamento-do-show-do-elma-no-cedo-e-sentado-studio-sp-noite-fora-do-e/175633829156691
http://www.facebook.com/note.php?created&¬e_id=175667769154865
Convido à leitura de um texto que busca dialogar com o Passa Palavra:
http://www.quadradodosloucos.com.br/1612/sair-dos-eixos-a-esquerda-1/
Saudações.
Interessante o artigo e mais ainda a discussão. Me intriga um pouco o motivo do coletivo ser anônimo, afinal não estamos na China nem no Iran. Menos ainda entendo porque se recusar ao debate presencial com “capitalistas”, vamos combinar… Vocês são monges, vivem de caridade? Onde fica este espaço “fora do capitalismo”?
É pena alguns comentários, mais do que o texto, cheiram a naftalina sim, pré-sunga-de-crochê-do-gabeira. Conheço algumas lideranças do FDE, das quais eu mais discordei do que concordei até hoje, mas não pensaria em desqualificar alguém quem FAZ a História por que não LEU a História. Isso sim seria ser elitista, num país de tão poucos leitores. Se dá para ser feliz sem ler Freud, desculpem, acho que dá para ser de esquerda sem ler Marx (Tem quem prefira o o Evangelho, por exemplo)
Sim, minha geração botou o Lula lá, foi uma realização e tanto, só ficamos com o ônus de explicar para as próximas alguns acordos pragmáticos, sobre os quais só me ocorre dizer: “era o que a casa oferecia”, “era isso ou nada” ou “não ficou provado o mensalão”. (Talvez vocês se sintam confortados com alguma citação, mas não sei se vai colar com a garotada.)
É nesse mundo que as crianças estão crescendo agora.
Governar com participação da sociedade é ainda um sonho em construção, e ter de distinguir a todo o momento interesse público do privado não é mole.
Quanto ao guru digital do pós-rancor, eu acho uma roubada, fazer o que… até os Beatles, que eram os caras, tiveram o deles. Cada um na sua. Mas que tem amplos setores da esquerda que (ainda!) não incorporaram o ambientalismo na sua agenda, ah, isso tem.
Álvaro Santi,
De antemão, não faço parte do passa palavra e nunca tive contato com o coletivo.
Eu te pergunto: desde quando o coletivo passa palavra(pp)é “anônimo”? Vc já percebeu que os textos publicados são em sua maioria assinados individualmente? Dá um tempo. Outra: quem iniciou o debate público e aberto foras os caras do Passa Palavra. E o que o FDE quer é participar de um “debate” nos moldes que eles desejam. Isso sim é centralismo autoritário. O debate já está sendo feito e os caras do FDE não tem tido capacidade de argumentar. O que foi dito pelo PP continua sem resposta: o FDE é uma empresa capitalista e, assim sendo, não serão capazes de mudar a história. E mais: ninguém espera que o FDE cite Marx neste debate, mas sim que se posicione e isso não tem sido feito. Ivana Bentes não é do FDE e Júh 2.0 tá amando a vida do jeito que ela é.
Esse debate me lembra outro,muito, muito antigo. Quando Lenin, no clássico (e infeliz) Que fazer?, criticava o culto ao espontaneísmo das massas, pois ela nunca iria além do economicismo (ou seja, jamais superaria os limites do capitalismo). Com base nisso, nos anos seguintes,e com uma série de desculpas, vieram o aniquilamento dos sovietes, a proibição das frações e, por fim a NEP! Legal o texto do passa palavra, aponta uns probleminhos sérios, mas e daí? Desqualificar não ajuda muito, embora a crítica seja necesária. O texto ficou com sabor de dejavu. Falta instrumental teórico? Os Grundrisse tem mais a oferecer pra reflexão sobre os novos tempos e novas alternativas.
Fico impressionado com esta tentativa de vários comentários realizados aqui de conectar o passapalavra a uma suposta ortodoxia de esquerda. Já é mais do que notório que o coletivo do passapalavra posiciona-se de forma heterodoxa dentro do campo das esquerdas e dentro deste campo é um crítico ferrenho de toda a esquerda tradicional. Acusá-lo de “leninismo” é mal caratismo, quando está mais do que exposto que o passapalavra não corta só na “própria carne”, mas vai além de sua crítica ao abrir espaço para um amplo leque ideológico e teórico, que me parece possuir em comum, o anticapitalismo e a luta contra a burocracia.
Ao expor uma visão crítica e radical desses movimentos supostamente libertários ou radicais, o passapalavra acabou desmoronando o castelo de ilusões que cerca determinados movimentos supostamente modernos e libertários e que utilizam para isso, um arsenal teoricamente radical, tomado/transfigurado de empréstimo de movimentos históricos, classistas e antiburocráticos da classe trabalhadora.
Eu sinceramente acho importante que alguém assuma a discussão sobre estas “novas” tendências neo qualquer coisa, esquerda cool, anti-rancor, pós-hippie com uma péssima leitura de autores “pós-estruturalistas”. Quando me refiro a “novas” tendências, digo isso simplesmente porque de forma tímida o que temos ai não parece ser muito diferente do que aconteceu e ainda acontece em países europeus e nos estados unidos, ou seja, assumir o mote de “comprometimento político”, resultando num produto interessantemente vendável, numa estética de rebeldia facilmente assimilável pelo poder e absolutamente sedutora a jovens de classe média sedentos por identidade e diferenciação de grupo. Ao que parece, estas tendências chegam paulatinamente ao Brasil e assumem uma roupagem diferente e até certo ponto preocupante, visto que estamos no Brasil. Ora, é só olhar para os lados minha gente, basta dar um rolê por ai que as contradições te solapam com uma chapa no peito e uma pisada na cabeça – como foi exposto anteriormente por diversas pessoas e de diferentes maneiras ao longo do debate. Voltando ao início, acho importante a discussão, mas como ela é desanimadora! A minha vontade é apenas de dizer a todas pessoas que gastaram uma enorme disposição tentando demonstrar o quão estas novas tendências são preocupantes, QUE VOCÊS NÃO ESTÃO SOZINHOS! Basta olhar com atenção aos ótimos comentários de pessoas comprometidas verdadeiramente com a classe explorada. No que diz respeito à nova galere descolex, que os deixe! Deixe que caminhem! Vamos fazer votos para que eles peguem suas bicicletas, suas bombas de sementes, façam bastante sexo, amigos, programas de computador, shows musicais e o que mais eles quiserem fazer em nome de si mesmos – e de seus amigos – e que tenham boa sorte nesta empreitada e que se divirtam bastante. Deixe que fiquem glamourisando a luta social enquanto não fazem a mínima idéia do que exatamente isto significa. Porque no fundo, nós sabemos que é disso que se trata, não é? E porquanto, parece importante apenas sabermos quem são os nossos companheiros e companheiras e quem tá aqui de bunda-lelê.
Tem um outro tópico da discussão que me interessa particularmente, que diz respeito à crítica que se faz a esta galera no que diz respeito às propostas em editais do governo para financiamento de suas atividades. Bem, se por um lado temos uma galera que está fazendo isto de maneira esquisita. E de outro lado movimentos que não se ajustam a estas ações, tais como MPL, entre outros. Como ficam os “grandes movimentos sociais”, tais como o MST e tantos outros vinculados a lutas por moradia e de catadores de recicláveis que se vinculam a estes editais para financiar pontualmente determinadas atividades? É claro que cada caso tem sua particularidade. Mas acho que tenho uma tendência a não pensar os casos que conheço como uma atitide pelega, pelo contrário, me parece a única maneira de certos movimentos – estes sim, compostos pela classe trabalhadora – financiarem suas lutas e ganharem a projeção que eles tem. O que vocês acham a respeito?
Tomás, apressadamente deixo a minha opinião.
Pra mim está claro que esta é uma das contradições nos grandes movimentos sociais, quando os mesmos concorrem a editais e usam destes recursos para se financiarem. Mas é completamente diferente do que acontece com os “pós-rancorosos”. Primeiro, os movimentos sociais não têm CNPJ e usam de associações e/ou outras estruturas formais para conseguirem tais recursos (pra resumir, vou chamar tudo isso de “instituições”). Então, passa a ser um ponto importante de análise a relação dos movimentos para com estas instituições. Quem controla quem? Eu diria, rapidamente, que cada caso é um caso. Já no caso dos “pós-rancorosos” não há movimento (social, no sentido que defendemos) ou, se há, ele é complementar às instituições. Depois disso, é preciso compreender que os movimentos sociais, por mais capturados que eles estejam por forças estranhas aos trabalhadores e por práticas um tanto quanto contraditórias para com a sua própria bandeira e história de lutas, não estão enraizados no aparelho do Estado. Pode ter um ou outro representante lá dentro, mas esse acaba atuando muito mais em benefício do seu partido do que do movimento que é a sua real base social. Desta forma, os recursos que são ganhos para o Movimento, no qual boa parte se não a maioria fica retido na instituição mediadora, são carimbados para atividade A ou B, conforme define o edital. O movimento não pode usar, por exemplo, para comprar casas ou terrenos, ou para fazer camisetas e faixas, ou financiar os seus congressos. No máximo, fazem algumas atividades para prestar contas e usam o resto dos recursos para “liberar” os seus militantes. Se é certo ou é errado não vou entrar no mérito da questão, o que quero expor é que nem chega perto do que está a fazer esse pessoal do Fora do Eixo. Eles estão criando os editais e usando dos recursos com total liberdade. Aliás, essa prática não é velha. O Banco Mundial, por exemplo, ao financiar as atividades em países periféricos, determinava quais instituições e quais técnicos deveriam operacionalizar os projetos e os recursos, e obviamente só os técnicos e instituições dos países naquele momento centrais tinham o conhecimento e as tecnologias para atender tais requisitos, e desta forma ao receberem os juros da dívida feita, os países centrais tinha os recursos de volta duas vezes. Primeiro porque os técnicos e as instituições eram dos países de origem do capital e retornavam aos seus países com os recursos, e segundo porque os pagamentos também eram retornados a eles. Nem sei porque lembrei disso, nem é mais atual nesta fase transnacional do capitalismo, mas a prática me pareceu bastante similar. Não estou querendo dizer com isso que as instituições são sujas e os movimentos sociais limpos. Eu até digo pra você que conheço algumas destas instituições, mesmo poucas, que se colocam a serviço das lutas. E há muitos movimentos sociais que já deixaram de o ser faz muito tempo para eles mesmo virarem t ais instituições. O central aqui é que não é os movimentos sociais que cooptam o Estado através dos editais, assim como faz grupos com práticas semelhantes ao Fora do Eixo. Acontece exatamente o contrário: os editais é que são instrumentos de cooptação das lutas, de abrandamentos dos movimentos, de subordinação deles aos técnicos que sabem concorrer a estes editais e ao Estado que decide como, quando e porquê libera os recursos. Se eu tenho alguma solução fácil pra sair desse dilema? Nem uma difícil, quanto mais… Nem por isso vou fechar meus olhos pra isso e, sabendo da importância dos movimentos sociais para o avanço das lutas, tenho mais é que viver esta contradição por dentro.
Caros,
A quem interessar minha segunda nota sobre esta discussão, em que analiso os textos de Ivana Bentes e Pablo Ortellado: http://razaocritica2.blogspot.com/2011/07/lutas-sociais-e-fetichismo-notas-sobre.html
(devido a extensão, não vou colar aqui para não atrapalhar o debate).
Abraços.
O texto é bem interessante, apesar de talvez exceder o foco nos aspectos negativos das lutas contemporâneas da juventude.
Já a discussão, desculpem-me, debate mais longo assim tem que ser no cara-a-cara, olho no olho. Não tenho saco pra isso, e desconfio de quem se entrinchera atrás do teclado (o qual não necessariamente é o caso de todos envolvidos)…
Como o riseup sempre nos lembra: “Saia da internet e vá para as ruas!” rs.
Atrasado em ralação à discussão, apenas li esse artigo hoje. Mesmo assim quero registrar seu elogio, pois faz uma analise correta, não deixa-se enganar pelas formas aparentes que guardam um conteúdo reacionário.
A ideologia cque prevalece nessa onda de “cultura livre” justamente esconde o MOVIMENTO REAL DOS TRABALHADORES – um discurso com a idéia de que a produção industrial está sendo superada, que a figura do operário é coisa do passado e coisas neste sentido. Isso nada mais é sintoma do abismo que separa essas “lutas” das lutas do conjunto da classe trabalhadora (cuja própria existência é posta em cheque!). Portanto nada mais importante neste artigo do PASSAPALAVRA do que o seguinte trecho:
“Resta ainda saber onde ficam os proletários que fabricam as mídias na Zona Franca, os que operam o som, os que produzem equipamentos, os que vendem os ingressos etc.”
Salvem – ou republiquem aqui no PP, afinal, eles não se importarão com a cópia, presumo – este texto primoroso, que propõe, em resumo, uma sociedade onde o importante é ser feliz e trabalhar de graça:
Chama-se Capitalismo Livre: http://www.trezentos.blog.br/?p=7909
“Podem utilizar os meios militantes e ativistas para ampliar sua influência política e até para expandir seu mercado consumidor de cultura independente, mas não deixarão de ser o que são – uma classe de gestores que visa renovar a burocracia.”
E 4 anos depois, a tendência se materializa:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/01/1573759-grupo-fora-do-eixo-da-expediente-no-minc-antes-da-posse-de-novo-ministro.shtml
“O que foi (e de certa forma, através de suas ramificações, ainda é) o Fora do Eixo? A centralização, através de um esquema velado de pirâmide, de várias ações culturais independentes/subsidiadas por leis de incentivos em diferentes esferas (seja municipais, estaduais, federais) e com um Deus Solar, que é o Pablo Capilé”
O programa inteiro: https://www.youtube.com/watch?v=WZUZFZmYry4