Antes de Outubro a meta de Sverdlóv era a destruição da ordem, e após Outubro era sua substituição por outra. Por William Eldridge Odom

I

Sverdlóv aos 19 anos, em 1904.

Nos primórdios do ano revolucionário de 1917 Sverdlóv era uma figura obscura, com pouco em seu retrospecto que sugerisse sua veloz ascensão à preeminência na hierarquia bolchevique. Aos quinze anos de idade, abandonou a escola em Nizhny Novgorod para filiar-se ao comitê local dos social-democratas[1]. Seu sucesso como agitador chamou para si a atenção da polícia, e por volta de 1913 ele já havia passado três anos e meio na prisão, escapado duas vezes da Sibéria e exilado uma terceira vez. Publicara uns poucos panfletos de agitação e tentara infrutiferamente escrever duas obras mais longas durante seu exílio[2]. De acordo com relatos de sua esposa, ele se alinhou com a facção bolchevique desde sua fundação em 1903. Quaisquer que fossem as razões para uma tal sagacidade na escolha de lados na luta faccional do partido, por volta de 1912 Sverdlóv havia se estabelecido, para além de qualquer dúvida, como um leninista. Não muito depois da conferência de Praga ocorrida naquele ano, Lênin expressava confiança suficiente em suas qualidades de bolchevique para cooptá-lo para o Comitê Central. Estranhamente, ele não encontrara Sverdlóv em pessoa antes de 1917. No entanto, sua ação ao fazê-lo membro do Comitê Central naquele momento, quando estabelecia a facção bolchevique como um partido distinto e separado, é indicativa de sua certeza acerca das lealdades de Sverdlóv. Há um quê de verdade na argumentação da esposa de Sverdlóv, de que sua reputação havia sido trazida ao conhecimento de Lênin de boca em boca ainda em 1905; o primeiro registro de correspondência entre ambos surge em princípios de 1913. Lênin recomendou seu trabalho como editor da Pravda (durante o período em que Stálin, que havia sido o editor, visitava Lênin em Cracóvia) e elogiou-o por eliminar o que Lênin descreveu como a atitude conciliatória do jornal frente a outras facções marxistas russas[3]. Mas poucas semanas após haver assumido o cargo, Sverdlóv foi preso, e pelos próximos quatro anos Lênin perdeu-o de vista. Quando estourou a revolução de Fevereiro ele tinha apenas trinta e dois anos, e havia passado a maior parte da sua vida adulta na prisão e no exílio; havia recebido pouca educação formal, e certamente não era um entre os literatos revolucionários; sua reputação era limitada, mesmo nos círculos partidários.

A carreira de Sverdlóv em 1917 e 1918 divide-se tão nitidamente quanto a história partidária bolchevique num período anterior e outro posterior a Outubro. Enquanto chefe organizativo do partido, ele desempenhou tarefas administrativas do começo ao fim, mas antes de Outubro sua meta era a destruição da ordem existente, enquanto após Outubro ela era a construção de um substitutivo para aquela ordem. Tal diferença deve ser tida em conta ao se considerar sua carreira.

Sverdlóv fichado pela polícia czarista em 1910.

Quando notícias dos eventos revolucionários em Petrogrado chegaram à Sibéria na primavera de 1917, Sverdlóv, como muitos outros prisioneiros políticos, começou a fazer seu caminho de volta à capital russa. Quase imediatamente após sua chegada o quartel-general bolchevique enviou-o aos Urais, a área onde era mais conhecido nos círculos clandestinos, para convocar uma conferência partidária provincial, colocar a organização partidária em funcionamento e trazer uma delegação de volta a Petrogrado para a Conferência Pan-Russa do Partido.

Foi durante a viagem de Sverdlóv aos Urais que Lênin chegou em Petrogrado. Os eventos de Fevereiro pegaram todos os partidos revolucionários russos de surpresa, e nem mesmo os bolcheviques em Petrogrado conseguiram encontrar uma política minimamente diferente daquela dos outros agrupamentos de esquerda. Embora sovietes como os de 1905 aflorassem, nenhum partido neles participante estava pronto para desafiar a existência do Governo Provisório ou a continuação da guerra. Lênin surpreendeu todos os líderes políticos, mesmo os de seu próprio partido, ao reverter abruptamente a posição bolchevique. O Governo Provisório deveria ser combatido. Para executar tal política as atividades do partido foram guiadas primeiramente por dois slogans. “Todo poder aos sovietes” expressava a meta imediata de capturar maiorias bolcheviques nos sovietes. Todas as demais políticas foram resumidas no slogan “Pão, Paz e Terra” – promessas que nenhum ourto partido consideraria, senão em parte ou condicionalmente. Enquanto muitos dos colaboradores mais próximos de Lênin acharam a meia-volta difícil de aceitar, Sverdlóv, que retornara a Petrogrado poucos dias antes da Sétima Conferência Pan-Russa do Partido, não era dado a tais receios e apoiou o programa entusiasticamente.

Foi nesta conferência que Sverdlóv foi eleito ao Comitê Central. Apesar da assistência que dera na preparação da conferência e no reagrupamento de apoio a esta nova política, Lênin não fez força para elegê-lo. Na verdade, como Lênin disse depois a Trótski, a inclusão de Sverdlóv a princípio encontrou resistência. “Havia disputas regulares em torno dela; mas na conferência fomos corrigidos desde a base… com perfeita justificação”[4]. Há uma explicação para esta “correção desde a base”. Sverdlóv conhecia pessoalmente um grande número de delegados, muitos dos quais eram também veteranos da clandestinidade russa. Ele cumprimentou quase todos os delegados à medida em que chegavam e ajudou a garantir-lhes comida e alojamento[5]. O apoio que recebeu na conferência foi, aparentemente, uma expressão genuína dos sentimentos dos delegados. De toda forma, Lênin pediu-lhe que ficasse em Petrogrado a partir de então, e que gerenciasse o secretariado do Comitê Central[6].

Klavdia Novgorodtseva Sverdlova, companheira de Svedlóv, foi presa com ele em 1906 e acompanhou-o rumo ao exílio em 1911.

A conferência não apenas colocou o partido em compasso com a política de Lênin e deslanchou o plano bolchevique para a tomada do poder, mas também marcou o início de um padrão organizativo que perdurou até a morte de Sverdlóv em 1919. A ideia de um partido altamente organizado e resiliente era um traço fundamental, senão o mais distintivo da doutrina bolchevique. Mas o aparato do Comitê Central em Petrogrado, surpreendido pelos eventos de Fevereiro, dificilmente estava à altura das tarefas que se lhe antepunham. Ainda não havia linhas demarcatórias claras entre mencheviques e bolcheviques em muitas partes do país. A disciplina partidária precisava ser reforçada, e, no entanto, ao mesmo tempo o partido bolchevique tinha de se transformar num partido de massa. Para atingir tais metas divergentes Lênin encorajou a rápida coalescência da organização do partido em torno de Sverdlóv, cuja lealdade lhe garantiu poder arbitrário crescente sobre a massa de membros. Ao colocar todos os canais de controle administrativo nas mãos de Sverdlóv, Lênin alcançou um monopólio virtual, vis-à-vis outras figuras de porte no Comitê Central, do comando sobre a ampla base partidária. Neste processo, três períodos podem ser distinguidos: primeiro, o tempo da relativa legalidade bolchevique, de abril até princípios de junho; segundo, a crise do partido em julho; terceiro, as semanas precedentes à insurreição de outubro.

Uma observação preliminar é importante para um entendimento apropriado da influência de Sverdlóv nos assuntos partidários. Durante os oito meses entre a abdicação do czar em março e a insurreição bolchevique em outubro, Lênin esteve em cena por cerca de dois meses; ele foi forçado à clandestinidade em julho e voltou a viver em Petrogrado somente depois de os bolcheviques assumirem o poder. Se o homem que guiou o destino de seu partido com tão seguros fundamentos estava também ausente a maior parte do tempo, como liderou o partido? Quem transmitiu suas instruções? Quem o manteve informado das mudanças sutis na situação em Petrogrado? Trótski, é claro, desempenhou papel significante entre a liderança bolchevique, mas somente nas últimas semanas antes do levante de outubro. Ele integrou-se oficialmente aos bolcheviques em julho, mas foi pronta e voluntariamente preso. Kámenev e Zinóviev estavam, respectivamente, na cadeia e na clandestinidade a maior parte do tempo, e, em todo caso, estavam desqualificados por sua oposição ao plano da revolta. O restante do Comitê Central eleito em abril incluía Sverdlóv, Stálin, Milyutin, Noguín e Smigla. Entre tais homens, nenhum possuía estatura política fora do partido. No entanto, é entre eles que devemos ver o principal assistente de Lênin. Para tal papel Sverdlóv era precisamente adequado por sua posição como chefe organizativo do partido.

Klavdia Novgorodtseva Sverdlova, Yákov Sverdlóv e sua filha Vera em 1918.

Quando Sverdlóv tomou posse do secretariado depois da conferência de abril, tal órgão não passava de um pequeno grupo de cinco ou seis trabalhadoras do partido[7]. Dificilmente possuía a importância no partido que viria a ganhar nos anos seguintes. Não passava de um centro administrativo, e sua responsabilidade era a de custodiar todos os documentos e registros financeiros do partido, datilografar as minutas de todos os eventos oficiais do partido, receber correio e outras comunicações[8]. No palácio Kshesinskaya, em Petrogrado, o secretariado mantinha duas salas e um toalete; uma sala funcionava como escritório, a outra como recepção, e o toalete rapidamente foi transformado num galpão para os arquivos do partido[9]. Apesar de tal arranjo compacto breve ter sido abandonado, e o secretariado ter sido forçado a mudar-se várias vezes ao longo do ano, a composição da equipe permaneceu a mesma. Mesmo em 1918, a única expansão aconteceu quando a esposa de Sverdlóv foi admitida como trabalhadora em tempo integral. Deste modo, o secretariado começou modestamente. Dificilmente poderia ser visto como um posto desejável por membros do Comitê Central como Kámenev, Zinóviev ou Stálin.

Sob a orientação enérgica de Sverdlóv, todavia, o trabalho do secretariado expandiu-se rapidamente. Uma de suas funções principais era supervisionar e coordenar o trabalho de todas as organizações provinciais. Parte da correspondência entre o centro partidário e as províncias já foi publicada, e a partir dela pode-se ter uma ideia do modo pelo qual o secretariado desempenhava sua função[10]. Começou-se por aumentar a distribuição de jornais partidários, panfletos e outros tipos de literatura de agitação. As necessidades dos comitês partidários locais não se restringiam, é claro, a literatura partidária; especialmente aguda era a escassez de agitadores treinados e a demanda sobre o secretariado para supri-los não podia ser atendida. A reação provincial a tal escassez manifestou-se como um sentimento de abandono, que encontrou expressão na acusação de que o Comitê Central, de fato, não era nada além do “Comitê de Petrogrado”, por conta de sua aparente incúria com o restante da Rússia. Durante o Sexto Congresso do Partido, em julho, Sverdlóv reprimendou os delegados por tal atitude ao declarar que os camaradas reclamantes, quando instados a se explicar, em geral respondiam que nem Lênin, nem Zinóviev tinham ido falar em sua cidade ou vila; tais respostas, ele concluiu, traíam uma falta de apreciação das amplas demandas feitas ao Comitê Central.

O palácio Kshesinskaya, na época em que o secretariado dos bolcheviques lá funcionava.

Um esforço adicional por parte do secretariado para reforçar seus laços com as províncias cumulou numa avaliação da situação política e do estado da organização partidária em cada localidade. Em maio, um questionário contendo trinta e oito questões foi rascunhado, e em junho ele havia sido enviado a 218 organizações locais[11]. Delegados reuniram-se para o congresso partidário de julho preencheram setenta outros questionários semelhantes. Estas investigações buscavam estabelecer um panorama detalhado do tamanho, estrutura e atividade dos grupos bolcheviques, e também informar-se acerca de outros partidos na área, a atitude local perante a guerra e a questão camponesa, e a compleição política dos sovietes locais. As respostas poucas vezes foram completas, mas certamente forneceram o centro com uma noção da atmosfera política onde quer que organizações bolcheviques existissem.

Em adição às informações, o secretariado também demandou contribuições financeiras das províncias. Na correspondência pouco aparece sobre este assunto até o final do verão e começo do outono, mas a esta altura foi dada atenção séria à cobrança de dez por cento da renda regular de cada organização local e de quarenta por cento em coletas especiais. A questão das finanças bolcheviques ainda está em aberto [N. dos T.: em 1966] e não pode ser discutida aqui em sua totalidade. Mas pode-se observar que Sverdlóv estava embrenhado em todas as discussões acerca de assuntos financeiros com membros do partido nas províncias e tinha autoridade decisória quando eram suscitadas no Comitê Central. Ele também mantinha registros de todas as transações e expedia fundos sujeitos à aprovação do Comitê Central. A gestão dos cordões da bolsa somou uma alavanca a mais na crescente máquina administrativa de Sverdlóv.

Mesmo nos meses do verão, quando a expansão da membresia partidária estava em alta, o secretariado encontrava tempo para expressar interesse nas personalidades e confiança política de delegados eleitos para encontros e candidatos a postos eletivos. A prerrogativa de veto era cuidadosamente mantida pelo centro. A capacidade do secretariado de exercê-la deve-se em grande medida a Sverdlóv, cuja memória para nomes e rostos era lendária. Trazendo consigo um bom conhecimento das pessoas com quem havia trabalhado na clandestinidade, ele aumentou seu círculo de conhecidos diariamente ao recepcionar a maior parte dos visitantes ao quartel-general do partido. Trótski, quando encontrou Sverdlóv pela primeira vez em junho, mostrou-se surpreso com “o número de camaradas de cujo horizonte político ele tinha uma ideia clara…” e com sua habilidade de antecipar o modo pelo qual vários grupos dentro do partido responderiam a certas questões[12].

À medida que a autoridade de Sverdlóv sobre as províncias crescia, crescia também sua responsabilidade administrativa no centro partidário. Em junho, ele foi encarregado de um escritório organizativo no Comitê Central, que deveria convocar um congresso do partido em julho. Este assim chamado “Orgburo” era um corpo de ligação entre os seguidores de Trótski e os bolcheviques, e deveria preparar uma fusão dos dois grupos no congresso. Concebido como um subcomitê temporário, o Orgburo permaneceu operante após a fusão, tendo Sverdlóv como, aparentemente, o único membro permanente. Em tal capacidade, ele convocou e organizou todos os grandes encontros partidários havidos a partir de então.

Elena Stásova, primeira secretária do partido bolchevique, depois ajudante de Sverdlóv.

Os êxitos bolcheviques em maio e junho deram vez a sérios reveses em julho. O entusiasmo das multidões revolucionárias em Petrogrado cresceu mais rapidamente do que a habilidade dos bolcheviques em controlá-lo, e nos primeiros dias de junho grandes massas de manifestantes reuniram-se nas ruas carregando bandeiras e slogans bolcheviques. Os líderes partidários tentaram a princípio contê-las, mas então, de certo modo aturdidos quanto ao que fazer, buscaram assumir a liderança das turbamultas rebeldes. Estouraram conflitos com tropas leais ao governo, e os bolcheviques logo se viram acusados de haver planejado toda a confusão. Circulavam rumores de um levante bolchevique em preparação, alguns líderes partidários foram presos, e elementos antibolcheviques danificaram a gráfica de Priboy onde a Pravda era produzida[14]. Sverdlóv tornou-se cônscio quanto à seriedade da situação primeiramente quando, nas primeiras horas de uma manhã, descobriu a gráfica destruída. Alertou Lênin e cuidou dos preparativos para que ele pudesse se esconder no distrito de Vyborg, em Petrogrado[15]. Lênin, enfim, com a assistência de Stálin, fugiu para a Finlândia. Zinóviev também escapou para a Finlândia, mas Kámenev foi preso. Trótski se entregou pouco tempo depois[16].

Como os mais articulados líderes bolcheviques foram varridos da cena em Petrogrado, Sverdlóv foi deixado com a tarefa de manter o quartel-general partidário intacto. A equipe do secretariado escapuliu do palácio Kshesinskaya para o apartamento de Stásova, uma de suas integrantes mais antigas[17], e pouco tempo depois mudou-se para uma escola para rapazes[18]. Sverdlóv publicou uma curta brochura na qual clamava que as batalhas de rua se deviam inteiramente à provocação governamental; que as manifestações eram uma expressão espontânea da reivindicação pelas massas da tomada do poder pelos sovietes; e que os bolcheviques tentaram manter a ordem, mas foram impedidos de fazê-lo pela polícia, que havia atirado na multidão[19]. Ao mesmo tempo, despachou uma carta para todas as organizações partidárias provinciais, explicando a crise em termos parecidos e descrevendo o clima entre os trabalhadores do partido na capital como animado e confiante; ele asseverou adiante que o congresso partidário vindouro seria convocado tal como planejado[20].

Por meio de sua reação competente, Sverdlóv salvou o partido do colapso, reformou suas fileiras numa base semiclandestina e pôs-se ao trabalho de reconquista do terreno perdido. Em pouco tempo, a Organização Militar Bolchevique, cuja imprensa não havia sido danificada, publicava um substituto à Pravda, e sob a gestão de Sverdlóv mesmo a gráfica de Priboy foi rapidamente consertada. Os preparativos para o Sexto Congresso do Partido continuaram, embora o cronograma original não pudesse ser seguido à risca. Apesar de tudo, o partido executou a retirada em boa ordem.

Como estes eventos demonstram, a esta altura a gestão prática dos assuntos partidários estava majoritariamente nas mãos de Sverdlóv e de sua equipe no secretariado. Seu papel foi reforçado pela ausência de Lênin, Trótski, Kámenev e Zinóviev. O próprio Trótski esclarece a questão. Em meio à crise

que se abateu sobre o partido, aquele homenzinho de óculos comportou-se como se nada de desagradável houvesse acontecido. Continuou a designar pessoas a suas respectivas tarefas, encorajou quem precisava de encorajamento, aconselhou e, quando necessário, deu ordens. Ele foi o autêntico “Secretário Geral” do ano revolucionário, embora não ostentasse o título. Mas ele foi o secretário do partido cujo líder político indisputado, Lênin, permanecia na clandestinidade. Desde a Finlândia Lênin enviava artigos, cartas, rascunhos de resoluções, acerca de todas as questões básicas de política. Apesar de o fato de estar à distância tê-lo levado com frequência a erros táticos, permitiu-lhe com muito maior segurança definir a estratégia do partido. A liderança cotidiana coube a Sverdlóv e Stálin[21].

Como Trótski menciona, Stálin também estava presente em Petrogrado em julho e desempenhou papel ativo no quartel-general bolchevique. Alguns historiadores concluíram que, quando Lênin fugiu, a liderança do partido recaiu em grande parte sobre os ombros de Stálin. De fato, ele apresentou o relatório político no Sexto Congresso do Partido, e figurou significativamente no debate político nele travado. Mas ele não determinou a política do partido: tal função ainda pertencia a Lênin, apesar de seu isolamento na Finlândia. Stálin editava o jornal do partido; ele dialogava, como Sverdlóv, com líderes provinciais que visitavam Petrogrado; e trabalhava para disciplinar as frações bolcheviques nos sovietes citadinos. Mas ele certamente não comandou o quartel-general bolchevique. Se Stálin tivesse sido forçado a entrar na clandestinidade ou fugir de Petrogrado em julho, é duvidoso que o aparato partidário sofresse muito; em contraste, a ausência de Sverdlóv teria sido um sério golpe no centro, e poderia ter solapado inteiramente a coesão partidária.

Sverdlóv representado no cinema, em filme de 1940

Desde junho Sverdlóv vinha cuidando dos preparativos para o Sexto Congresso do Partido, cujo objetivo principal era fundir os mezhrayontsy e os bolcheviques[22] Os detalhes foram trabalhados na Conferência de Petrogrado, que Sverdlóv presidiu[23]. Após a retirada para a clandestinidade, Sverdlóv providenciou tudo para que o congresso se reunisse no distrito de Vyborg sob a guarda de trabalhadores armados. Ele presidiu os procedimentos e apresentou relatórios sobre as questões práticas do partido. O número de membros havia crescido de 80.000 em abril para 200.000 em julho; cerca de quatro mil mezhrayontsy haviam ingressado no partido; e as despesas crescentes estavam dificultando a arrecadação de fundos[24]. Enquanto isto, a contribuição de Stálin ao partido foi relativamente magra: ele participou no congresso, mas envolveu-se numa disputa com a Organização Militar Bolchevique acerca da publicação de jornais. Num relatório escrito esta organização listou como uma de suas queixas o modo despótico com que Stálin representava o Comitê Central; Sverdlóv, assistido por [Félix Edmúndovich] Dzerjinsky, substituiu Stálin para tratar do assunto[25].

No outono os eventos voltaram mais uma vez a favorecer os bolcheviques. O primeiro-ministro, Kérenski, os havia convocado para ajudar a derrotar a marcha do general Kornílov sobre a capital, e pouco tempo depois conseguiram maioria no soviete de Petrogrado. A maior parte dos líderes bolcheviques aprisionados foi libertada. Lênin permanecia clandestino, mas tinha liberdade suficiente para expor sua nova linha tática. Ainda que revivesse mais uma vez o slogan “Todo poder aos sovietes”, a experiência de julho havia aparentemente removido qualquer dúvida que pudesse ter acerca da necessidade de um levante armado. Em setembro, Lênin começou a pressionar em favor de sua reivindicação pela ação revolucionária junto ao Comitê Central. As atividades de Sverdlóv a esta altura interessam por duas razões. Primeiro, elas provavelmente influenciaram as estimativas de Lênin quanto ao sucesso de uma revolta; segundo, Sverdlóv provou ser um apoiador extremamente eficaz da política insurrecional de Lênin e ajudou-o a sobrepujar a maioria dos membros do Comitê Central.

Os ganhos bolcheviques na zona rural aparentemente encorajaram Sverdlóv a adotar um ponto de vista otimista a respeito das perspectivas do partido. Incluem-se na coleção publicada de seus escritos vinte e sete cartas destinadas a organizações provinciais escritas entre setembro e o começo de outubro[26]. Elas dão a impressão de que Sverdlóv estava recebendo relatos favoráveis destes organismos. Nestas mesmas semanas, de acordo com sua esposa, ele também recebeu numerosas visitas de velhos associados dos tempos da clandestinidade, que relatavam as condições nas províncias em tom semelhante. Sverdlova menciona como quatro velhos camaradas em particular – [Filipp Isayevich] Goloshchyokin, Kosarev, [Gavríl Ilích] Myasnikóv e [Fiódor Andrêievich Serguêiev] Artiôm – exerceram forte influência sobre seu ponto de vista acerca dos assuntos provinciais[27]. O nome de Goloshchyokin dá credibilidade ao relato de Sverdlova porque se sabe que ele havia sido depositário da confiança de Sverdlov em outras ocasiões. Eles fugiram juntos pelo Ienissêi liquefativo abaixo ao escapar do exílio na primavera de 1917[28]; Goloshchyokin reaparece em 1918, quando foi enviado por Sverdlóv numa missão especial envolvendo o assassinato do czar. Os relatórios que Goloshchyokin e outros associados lhe trouxeram foram passados a Lênin na Finlândia, que, como Leonard Schapiro destacou, pode muito bem ter se baseado pesadamente neles para determinar suas táticas durante o outono de 1917[29].

Filipp I. Goloshchyokin, velho bolchevique que participou da execução da família Romanov

Assim como fizera com a gestão do centro partidário, Sverdlóv encarregou-se de vários projetos que aumentaram sua influência tanto nas províncias quanto na capital. O primeiro deles, o rascunho de diretrizes para organizações de vilas conhecidas como zemlyachestva (literalmente, associações de colegas de trabalho camponeses), começou na primavera[30]. Os objetivos ostensivos de tais corpos eram educacionais e culturais, mas, na realidade, os bolcheviques lutavam por fazer deles “organizações de fachada” para o partido. Os resultados aparentemente ficaram aquém das expectativas, apesar de Sverdlóv ainda relatar sobre as zemlyacestva no outono. Ele também tomou a seu cargo a fundação de uma organização que proviria uma base para um controle dos corpos municipais em escala nacional. As dumas citadinas e vários comitês voluntários eram muito ativos no apoio ao esforço de guerra e na gestão de assuntos locais, mas a extensão da penetração bolchevique em tais órgãos é difícil de avaliar. Sverdlóv presidiu um congresso municipal, e a organização publicou um periódico que, todavia, fracassou logo após a primeira edição[31].

Na esfera mais restrita da organização partidária, Sverdlóv tornou-se o elo entre o Comitê Central e a Organização Militar. A relação entre estes dois órgãos havia sido prejudicada pelo despotismo de Stálin e pela tentativa da Organização Militar de afirmar o que reivindicava serem suas prerrogativas invioláveis. Em parceria com Dzerjinsky, Sverdlóv restaurou o controle do Comitê Central e resolveu o problema das finanças da Organização, que aparentemente a havia levado a buscar um status autônomo[32]. Quase todos os principais empreendimentos partidários envolveram Sverdlóv. Era por meio dele que os quadros de trabalhadores do partido eram obtidos, que a coordenação entre várias atividades era garantida, e as instruções eram transmitidas à base partidária.

Durante o Primeiro Congresso Pan-Russo dos Sovietes em junho, Svedlóv e Stálin assumiram a responsabilidade de disciplinar a delegação bolchevique e foram subsequentemente eleitos para o comitê executivo central do congresso (VTsIK). Durante o verão e outono, Sverdlóv continuou a participar do VTsIK. Sua função principal era garantir que as políticas do partido fossem compreendidas e seguidas pela facção bolchevique do comitê. Ele também se interessava, todavia, pelo soviete da cidade de Petrogrado e sua facção bolchevique. O clímax desta conexão com o soviete de Petrogrado veio em outubro, quando Trótski, que havia recentemente se tornado presidente, deu ao Comitê Militar Revolucionário do soviete a tarefa de preparar o levante. Deveria ser, é claro, um levante bolchevique, e enquanto o pseudônimo de “soviético” ajudou a ocultar os reais objetivos dos insurrectos, eles tiveram de se voltar para o aparato bolchevique em busca de apoio material. Não antes de 16/29 de outubro o Comitê Central designou Sverdlóv e outros quatro membros seus para unirem-se ao Comitê Militar Revolucionário; mas Sverdlóv já trabalhava de antemão com seu presidente, e tudo indica que somente ele, entre os cinco designados, tomou parte no trabalho[33].

No interior do Comitê Central, os apelos de Lênin pela insurreição foram recebidos com apatia e procrastinação. A atitude de Sverdlóv foi uma exceção. Não apenas apoiou Lênin, como se dispunha a ignorar o Comitê Central e distorcer fatos para conseguir aprovação para a revolta. Em setembro, quando Lênin começou a escrever ao Comitê Central, urgindo por ação, foi Sverdlóv quem leu em voz alta a epístola suplicante de Lênin, “Os Bolcheviques Devem Tomar o Poder”, para um círculo restrito (uzkiy sostav) do comitê[34]. Não convencidos, e talvez mesmo um pouco amedrontados, os presentes aprovaram uma moção que adiava a discussão de todas as cartas de Lênin até que o comitê inteiro pudesse ser convocado. Kámenev sentiu que o adiamento não era suficiente e propôs uma resolução, que não conseguiu fazer aprovar, rejeitando as reivindicações de Lênin e instruindo todas as organizações partidárias a receber ordens apenas do Comitê Central. Inferia que Lênin poderia optar por ignorar o Comitê Central e apelar diretamente ao partido para que agisse. Apesar das atitudes cautelosas manifestadas no comitê, Sverdlóv divulgou o conteúdo da carta para as bases partidárias, e aconselhou propositalmente os trabalhadores da fábrica Putilov a tomar medidas práticas como a aquisição de armas e munição[35].

Sverdlóv ao lado de Lênin em 1918, durante manifestação comemorativa de um ano da Revolução de Outubro

No princípio de outubro, Lênin visitou Petrogrado sob disfarce para confrontar o Comitê Central com sua resolução. Na noite de 10/23 de outubro ele ergueu-se e tomou a palavra imediatamente após Sverdlóv, que leu o costumeiro relatório acerca da situação revolucionária por todo o país. Trótski, que estava presente na reunião, diz que Lênin tinha combinado de antemão com Sverdlóv que ele fizesse um relatório altamente favorável a um levante. O relatório foi decididamente otimista. Dizia que o exército, em todas as frentes, estava repleto de agitação revolucionária; em Moscou, o governo usava cossacos para forçar as tropas de volta à linha; a frente do norte estava seriamente perturbada pela deserção… a frente romena era palco para uma série de conferências bolcheviques[36]. Lênin encerrou seu apelo citando relatórios especiais que Sverdlóv recebera de Minsk e insistiu em que serviam como ponto de partida para a ação revolucionária[37]. Na contagem final de votos, sua resolução foi aprovada, mas encontrou oposição.

Na sessão seguinte do Comitê Central, Sverdlóv ergueu-se e tomou a palavra para dissipar a apreensão de Kámenev acerca da revolta. ”…A maioria não está contra nós, ela só não está conosco ainda“, declarou[38]. Então, de acordo com as minutas da reunião, ele mostrou evidências de que a força do partido havia inflado para 400.000. Este número parece ser uma fabricação deslavada, pois na primavera seguinte Sverdlóv reportou ao Sétimo Congresso do Partido que seu número de membros havia aumentado para 300.000[38]. Quando os dissidentes, Kámenev e Zinóviev, divulgaram seus pontos de vista à imprensa, Sverdlóv mais uma vez manifestou-se fortemente em contrário, e esteve entre os que exigiram a demissão de Kámenev do Comitê Central[39].

Nenhum outro membro do Comitê Central aceitou o chamado de Lênin para um levante tão rápida e consistentemente quanto Sverdlóv. Mesmo Trótski, que se inclui com Lênin e Sverdlóv entre os mais insistentes quanto à revolta, discutiu com Lênin sobre o momento adequado para o levante. Sem dúvida, houve outros leninistas convictos como [Andrêi Serguêievich] Búbnov, [Moisei Solomonovich] Uritsky e Dzerjinsky, mas sua influência no partido não se igualava à de Sverdlóv, e apeser de seu rápido apoio ao plano insurrecional, eles não estiveram na linha de frente clamando por ele como Sverdlóv o fizera. Todavia, quando a insurreição finalmente mudou-se para as ruas, Sverdlóv desapareceu nos bastidores. Ele foi postado no quartel-general revolucionário com a tarefa de manter a comunicação com o posto de comando alternativo na Fortaleza de Pedro e Paulo e de manter vigia sobre o Governo Provisório.

Jovem Sverdlóv. Foto de infância em 1900.

Em conclusão, para se apreciar a importância e o serviço de Sverdlóv a Lênin nos meses que levaram à tomada de poder pelos bolcheviques, é útil primeiramente resgatar o estado de coisas que Lênin encontrou quando retornou à Rússia. Depois de forçar seu partido a dar meia-volta em suas políticas, aquilo de que mais ele precisava era de apoio confiável na execução do novo programa, não de discussão sobre sua eficácia. As características pessoais e talentos de Sverdlóv não eram os de um ideólogo, mas os de um conspirador. Com seu acume político e energia abundante para as tarefas cotidianas, é compreensível que Lênin nele depositasse sua confiança e lhe desse amplas responsabilidades. Uma segunda consideração é a exigência criada quando Lênin escapou para a Finlândia. Ele precisava de alguém em Petrogrado em quem pudesse confiar, e o monopólio de funções administrativas exercido por Sverdlóv fazia dele um confidente lógico. Em terceiro lugar, o forte apoio de Sverdlóv à política insurrecional de Lênin provavelmente fez contribuição significativa à sua aprovação em face de considerável oposição. Pouco tempo depois, os eventos demonstraram não apenas a sagacidade do julgamento de Lênin, mas igualmente a correção da avaliação de Sverdlóv quanto à situação nas províncias. Passados quatro dias da tomada de poder em Petrogrado, levantes bolcheviques aconteceram em Minsk, Carcóvia, Samara, Cazã, Ufa, Iaroslavl e Mahilou[40]. Quando se é lembrado de que Lênin apresentou sua resolução ao Comitê Central em 10/23 de outubro, a uma mera quinzena antes da revolta, e que o assunto estava em debate mesmo após os acontecimentos, fica obvio que muito da preparação para a insurreição estava sendo feita antes da aprovação rancorosa do Comitê Central. A ação bolchevique nas cidades provinciais indica que as intenções insurrecionais de Lênin gozavam de simpatia bastante ampla no seio do partido, uma atitude que, como Sverdlóv corretamente avaliou, diferia daquela do Comitê Central. Como o elo principal entre o centro partidário e as organizações provinciais, Sverdlóv deve ter sido também responsável por qualquer presciência que os líderes provinciais pudessem ter acerca das ações iminentes em Petrogrado.

Este artigo está dividido em três partes:
Introdução
Parte I
Parte II

Notas
[1] Ya. M. Sverdlóv, Izbrannyye proizvedeniya [Obras escolhidas], Moscow, 1959, I, pp. v-vi.
[2] Ibid.
[3] Isaac Deutscher, Stálin: A Political Biography, New York, 1949, p. 115.
[4] L. D. Trótski, Lênin, New York, 1925, p. 157.
[5] K. T. Sverdlova, Iakov Mikhaylovich Sverdlóv, Moscow, 1960, p. 253.
[6] Leonard Schapiro, The Communist Party in the Soviet Union, New York, 1959, p. 161.
[7] Sverdlova, op. cit. p. 252. (N. dos T.: Sverdlóv foi precedido em tal função por Elena Dmítrievna Stásova (1873–1966); com a morte de Sverdlóv em 1919, ela o sucedeu brevemente até 1920, quando o Comitê Central a substituiu por Nikolay Krestinsky (1883–1938) e Stásova, de volta à organização local bolchevique em Petrogrado, foi indicada para trabalhar como agente da Comintern na Alemanha. Sobre Stásova, cf. Barbara Evan Clements, Bolshevik Women, New York: Cambridge University Press, 1997; Branko Lazitch and Milorad M. Drachkovitch, Biographical Dictionary of the Comintern: New, Revised, and Expanded Edition. Stanford, CA: Hoover Institution Press, 1986; o papel de Stásova como primeira secretária do partido bolchevique e “zeladora da memória do partido” anteriormente a Sverdlóv foi detalhado por Jane McDermid e Anna Hillyar em Midwives of the Revolution: female Bolsheviks and women workers in 1917, London: UCL Press, 1999.)
[8] Ibid. p. 253.
[9] Ibid.
[10] Perepiska sekretariata TsK RSDRP(b) c mestnymi partiynymi organizatsiyami [Correspondência do secretariado do Comitê Central do POSDR(b) com organizações partidárias locais], I, Moscow, 1957.
[11] Ibid., pp. 25-7.
[12] Trótski, Lênin, pp. 75-6.
[13] Sverdlóv, op. cit., II, p. 284.
[14] E. H. Carr, The Bolshevik Revolution, 1917-1923, London, 1950, I, p. 91.
[15] Sverdlova, op. cit., pp. 266-7.
[16] Carr, op. cit.
[17] N. dos T.: note-se, mais uma vez, o papel destacado de Elena Dmítrievna Stásova no secretariado do partido bolchevique. Nas fontes citadas na nota 7, afirma-se que Stásova não apenas ensinou diversos membros do partido a codificar e decodificar mensagens, como também servia como ligação do exterior para a Rússia no esquema de difusão clandestina do jornal Iskra.
[18] Sverdlova, op. cit., p. 253.
[19] Sverdlóv, op. cit., pp. 88-109.
[20] Ibid., II, pp. 24-5.
[21] Trótski, Stalin, p. 214.
[22] Ibid., p. 217.
[23] Sverdlóv, op. cit., II, pp. 16-19.
[24] Shestoy s’yezd RSDRP (bol’shevikov): protokoly [O Sexto Congresso do POSDR (bolcheviques): protocolos], Moscow, 1958, pp. 36-8.
[25] Protokoly Tsentral’nogo Komiteta RSDRP(b), Avgusta 1917–Fevralya 1918 [Protocolos do Comitê Central do POSDR(b), agosto 1917–fevereiro 1918], Moscow, 1959 (citado daqui em diante como Protokoly TsK [Protocolos do CC]), p. 6.
[26] Sverdlóv, op. cit., II, p. 40-78.
[27] Sverdlova, op. cit., p. 281.
[28] Ibid., p. 238.
[29] Schapiro, op. cit., p. 173.
[30] Sverdlóv, op. cit., II, p. 51.
[31] Protokoly TsK [Protocolos do CC], p. 63.
[32] Ibid. p. 40.
[33] Trótski, Stalin, p. 232.
[34] Protokoly TsK [Protocolos do CC], pp. 55-7.
[35] Sverdlova, op. cit., pp. 279-80.
[36]Protokoly TsK [Protocolos do CC], p. 84.
[36] V. I. Lênin, Sochineniya [Obras], XXVI, Moscow, 1949, p. 161.
[37] Protokoly TsK [Protocolos do CC], p. 147.
[38] Sed’moy S’yezd Rossiyskoy Kommunisticheskoy Partii (stenographic report) [Sétimo Congresso do Partido Comunista Russo (relatório estenográfico)], Moscow, 1918, p. 20.
[39] Protokoly TsK [Protocolos do CC], pp. 106-7.
[40] N. N. Sukhanov, The Russian Revolution 1917, ed. and trans. Joel Carmichael, London, 1955, p. 667.

Traduzido e revisado pelo Passa Palavra a partir do original publicado na The Slavonic and East European Review, vol. 44, nº 103 (jul. 1966), pp. 421-443, e disponível neste link. Seu autor, William Eldridge Odom (1932-2008), foi um general de três estrelas do Exército estadunidense (equivalente ao general-de-divisão no Exército brasileiro), e diretor da Agência Nacional de Segurança no governo Reagan. Sua carreira de 31 anos na inteligência militar concentrou-se basicamente em assuntos relativos à URSS. Depois de aposentado, tornou-se professor universitário em Yale e especialista em política externa no Hudson Institute; ficou famoso por suas críticas abertas à Guerra no Iraque e às medidas do Patriot Act. Este artigo faz parte do esforço coletivo de traduções do centenário da Revolução Russa mobilizado pelo Passa Palavra. Veja aqui a lista de textos e o chamado para participação.

1 COMENTÁRIO

  1. É curioso que a despeito da chamada do texto e do tom anti-bolchevique do general americano, a conclusão acaba reforçando a admiração pelo trabalho de Sverdlóv, mostrando que suas convictas articulações revolucionárias, na linha de Lênin, conseguiram contornar as posições mais recuadas presentes no Comitê Central e ir ao encontro do anseio insurrecional disseminados entre os militantes “de base” do Partido, cuja sondagem e avaliação foi corretamente feita por ele, jogando um papel fundamental na Revolução. Vai ver que o texto guarda para a última parte a promessa de um Sverdlóv monstro/stalinista avant la lettre…

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