Por Zeppo Molotov

Ontem conversava com alguns camaradas sobre a onda lulista que invadiu a militância “autônoma’” e citávamos alguns exemplos de amigos e conhecidos que ao longo do tempo foram perdendo a crítica em relação ao PT e ao Lula para dar lugar às análises que caminham cada vez mais para a defesa dos mesmos. Um camarada disse uma frase que me percebeu demasiada emblemática e que por sua vez me pareceu mais acertada nesse momento: “é difícil manter a perspectiva em tempos de refluxo das lutas”.

O fim dos coletivos autônomos foi decretado e isso se deu devido à incapacidade prática desses coletivos. Mas e agora? O que faremos? Será esse o momento de nos envolvermos no projeto de “reconstrução” do PT enquanto “partido da classe trabalhadora” ou radicalizaremos nossas posições, verticalizaremos e subverteremos ainda mais a realidade? São perguntas vazias demais e que talvez seja impossível apresentar respostas imediatas. Uma coisa é acertada: é impossível ficar à margem dessa questão!

Duas coisas me ocorreram durante essa discussão e que não estavam maduras naquele momento (talvez não estejam ainda).

Primeiro, até que ponto a defesa do lulismo deve ser feita? Até a reestruturação? Não seria isso uma tática falha no sentido de que, se nos posicionamos enquanto “anticapitalistas”, iremos iniciar um plano de defesa de uma instituição puramente capitalista e que já demonstrou inúmeras vezes não estar ao lado dos trabalhadores? Bem, penso que sim. Se nos propomos a radicalizar a crítica às instituições políticas, por que estamos então fazendo o processo inverso? Talvez seja isso o exemplo do Bordiga na Itália, onde declaradamente se posicionou pelo abstencionismo eleitoral e doravante se tornou parlamentar. Repito: é difícil manter a perspectiva em tempos de refluxo das lutas(?).

A segunda questão me parece da mesma forma um tanto quanto vazia, embora seja a que defendo. Radicalizar nossas ações implica em quê? A afirmação pontuada anteriormente – sobre o fim dos coletivos autônomos – é a que me parece mais acertada, embora observe que nem só o identitarismo seja o responsável. Como se organizar coletivamente numa militância que parece estar mais ao lado da polícia do que se irromper na luta contra o Estado burguês e seu aparelho de manutenção do capital? Me parece inviável, mas ainda assim, como fazer? O que se torna mais emblemático é a afirmação de que estamos fazendo algo e o me parece ser uma espécie de “Síndrome de Nechayev”. Dizemos ter uma organização gigantesca, com ações cada vez mais radicalizadas, mais horizontalizadas e diretas, porém no fim não se configura de forma concreta, tal como “prometemos”. Mas ainda, qual o caminho? Tais respostas me parecem ainda mais difíceis de responder de forma imediata, pois acredito que elas só poderão ser solucionadas no âmbito coletivo e anticapitalista.

O que observei, e que ainda me parece devaneio, é que durante períodos de refluxo as ações individuais tendem a crescer. Explico: ao fim de uma luta, um coletivo, um movimento, as ações em conjunto deixam de acontecer, tal como antes. Alguns se tornam isolados politicamente, mas ainda não desistiram de sua atuação e, não vendo possibilidade de ser construir uma nova organização de imediato, passam a lutar de forma independente, e é possível que nesse processo sejam absorvidos pela estrutura dominante, passem a defender pautas e interesses que eram alheios ao seus. Talvez isso explique de certa forma essa onda lulista que invadiu a militância “autônoma”, não sei.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here