Por Primo Jonas e Flor

A passagem dos anos 60 para os anos 70 foi um período bastante conturbado na Argentina. A proscrição do peronismo da vida política do país, a partir do golpe de 55, chamado de “Revolução Libertadora”, havia levado um setor peronista ao combate pelas vias armadas, principalmente por meio de sabotagens e atentados; foi a época da “Resistência Peronista”. Outro lugar privilegiado para albergar os soldados de Perón foi o mundo sindical, que nos anos 60 viu a divisão entre os “ortodoxos”, fiéis ao general e com a missão clara de lutar pelo seu retorno ao país (Perón estava exilado na Espanha de Franco), e os “vandoristas”, em referência ao líder sindical Vandor, que tentavam levar adiante um “peronismo sem Perón”, isto é, atuando como um sindicalismo pragmático e negociando com os diferentes governos. Para além do peronismo, as forças minoritárias dentro do sindicalismo também conformavam polos importantes, com destaque para o setor que foi chamado “independente”, o qual contava com partidários da Unión Cívica Radical (UCR), socialistas e outras forças mais à esquerda, encabeçadas pelo líder sindical Agustín Tosco. Esta grande divisão no mundo sindical gerava uma disputa interna entre os diferentes setores e empurrava até as burocracias mais azedas a realizarem medidas de força para garantir um mínimo de apoio das bases, num contexto nacional volátil, tanto na economia quanto na política.

É este o contexto onde diferentes levantamentos ocorrem em importantes cidades no país. O mais famoso certamente é o Cordobazo (1969), quando operários e estudantes da cidade de Córdoba tomam o controle territorial da cidade por um par de dias. Não foi senão um episódio a mais na agitada luta de classes vivida naquela cidade que recentemente passara por um processo de industrialização, mas um episódio particularmente intenso, responsável por abalar a ditadura que então governava o país e abrir o caminho para o retorno de Perón. Vale lembrar também que nestes anos as organizações guerrilheiras já se encontravam ativas, tinham um espectro que ia desde o peronismo revolucionário (Montoneros), passando pelas organizações de liberação nacional (FAL) até os marxistas de inspiração guevarista (ERP). Suas ações incluíam assaltos a bancos, liberação de presos e o justiçamento de policiais, militares e os considerados traidores do movimento operário (como o famoso assassinato do sindicalista peronista Rucci).

No começo de 1972, neste ambiente nacional de desgaste dos governos militares de fato, o general Lanusse anuncia um aumento nas tarifas de luz nas províncias, que chegariam até 300% para alguns setores em Mendoza. Naquela cidade foram logo formadas coordinadoras No pague la luz!, que agitaram campanhas feitas por meio de cartazes colados pela cidade. Estas coordinadoras tinham uma composição de classe heterogênea, que incluía pequenos comerciantes muito afetados pelo aumento das tarifas, mas também as Uniones Vecinales, pequenas organizações territoriais dos bairros mendocinos. As professoras das escolas públicas de Mendoza não haviam começado o ano letivo por um conflito salarial, ao que se somou no dia 4 de Abril uma paralisação nacional convocada pela central sindical estatal, a CGT. Esses diversos fatores fizeram com que todas as energias sociais convergissem num mesmo dia de protestos, que logo começou com uma repressão desmedida no sindicato de professores.

Diferentes colunas dirigiam-se à sede de governo da província, quando se espalhou a notícia de que a polícia havia reprimido as docentes na porta de seu sindicato. Uma professora havia perdido um olho pelo golpe direto do jato do caminhão hidrante. Essa notícia foi como uma faísca que resultou em uma explosão social completamente inesperada. Todos os relatos e testemunhos revelam que a revolta social que então sucedeu não era esperada por ninguém, tomou a todos de surpresa e foi essencialmente o resultado de uma enorme raiva num contexto de indignação generalizada e deslegitimação social do governo (nacional e provincial). As colunas finalmente chegaram às portas da sede do governo e começaram a apedrejá-la na intenção de tomá-la. Ao mesmo tempo, grupos de jovens sequestravam ônibus que eram abandonados cortando avenidas, repetindo uma tática utilizada nos anos anteriores pelo movimento estudantil contra os exames de admissão universitária (ao que nessa jornada se somou também a incineração dos veículos, dando a medida do descontrole social alcançado nesta cidade tradicionalmente conservadora).

A informação e os rumores corriam as ruas por meio de gritos, levando a que mais e mais pessoas fossem ao centro da cidade, onde a repressão também corria solta. Era a primeira vez que eram utilizadas motos pelas forças repressivas, que estavam sendo auxiliadas pelo exército. Os comércios das avenidas centrais tiveram as vitrines destruídas, e foi a partir destas jornadas que todos os comerciantes implementaram as cortinas metálicas em suas lojas.

Como não havia organização que encabeçasse ou desse algum tipo de direção, a situação de caos se instalou. A polícia, além de deter manifestantes, fazia buscas e apreensões de lideranças sindicais, também entrando em algumas residências em busca de armas (era um período álgido e muitas organizações não especificamente guerrilheiras contavam com suas ferramentas de defesa). Foi instaurado o toque de recolher, desafiado por muitos jovens que eram então detidos pelos controles, o que se repetiu nos 3 dias seguintes. O conflito se transferiu do centro da cidade para o bairros, dado que não havia convocatórias de parte das organizações políticas ou sociais, não havia colunas organizadas, as comunicações estavam obstaculizadas e os eventos eram iminentes. Alguns bairros, como Las Heras, foram palco de conflitos especialmente intensivos, onde a população conseguiu impedir a entrada das forças de repressão por várias horas.

Após 3 dias de convulsão e caos, soldados patrulhando as ruas e a renúncia do governador, o general Lanusse anuncia a suspensão do aumento das tarifas, a vitória da revolta popular na cidade de Mendoza (que também havia sido seguida em menor medida em outras cidades importantes da província, como San Rafael, e por outra capital próxima, San Juan). O saldo da repressão foi aproximadamente 500 detenções e 3 mortes. Estas jornadas inesperadas de violência social de massas não foi reivindicada por nenhuma das principais forças políticas do país, nem no momento nem hoje em dia.

El agua de Mendoza no se negocia

La lucha por el agua es una lucha histórica en la provincia de Mendoza, que no sólo ha sido contra gobiernos y leyes sino también contra su propia geografía. La administración y cuidado del agua que baja de la cordillera dando vida a los oasis de la zona es lo que permite que este territorio sea habitable y cultivable. Esta administración se expresa en el consumo cotidiano teniendo horas asignadas al riego, restricciones de uso y orden de prioridad para su consumo. Existe lo que se llama la “ley del agua” la cual establece una jerarquía de prioridades entre diversos usos: primero para consumo humano, luego el agrícola, después el industrial y finalmente el recreativo. Esta característica hace que para los habitantes de Mendoza la lucha por este recurso se sienta propia. Una de las grandes amenazas es la instalación de mineras metalíferas en estos territorios ya que para la extracción de metales como el cobre, zinc, oro, potasio y otros más, se utilizan grande volúmenes de agua. Si bien la minería funciona y es legal en la provincia, hay una larga historia de resistencia para restringir su actividad. Las primeras movilizaciones al sur de la provincia en los departamentos de San Carlos y General Alvear lograron la concreción de un proyecto de ley de ampliación de la reserva provincial de la Laguna del Diamante, donde se encuentran los glaciares más importantes de la provincia y por lo tanto los repertorios de agua. El lobby minero en conjunto con los gobiernos de turno intentan, sin lograrlo, cada año vetar esta ley. Esta ley además suspendía toda actividad minera y metalífera hasta que la provincia sancionara su plan ambiental. El gobernador Julio Cobos la veta en 2006, y surgen entonces, en diferentes lugares de la provincia, las Asambleas Populares por el Agua, logrando en 2007 la aprobación de una nueva ley, la 7722, que si bien no impide la actividad minera, sí prohíbe el uso de sustancias tóxicas como cianuro, acido sulfúrico, mercurio y otras durante los procesos de explotación de los recursos minerales, y obliga al ejecutivo que mande cualquier proyecto a la legislatura para que lo ratifique o lo rechace. Desde entonces hubo varios proyectos mineros que fueron rechazados (como San Jorge) y frente a intentos de derogarla fue ratificada por la Suprema Corte de Justicia.

Con las elecciones nacionales en 2019 asume en la secretaria de minería el lobbista minero Alberto Hensel con el aval del gobierno peronista de Alberto Fenandez. En Mendoza tanto radicales (UCR) como el Partido Justicialista (peronistas), se manifestaron a favor de la modificación de esta ley. En una sesión express y recién asumido el nuevo gobierno provincial de Suarez (UCR), el 20 de diciembre la cámara de diputados implementa la llamada “ley cianuro” con 36 votos afirmativas y 11 en contra. Si bien en Mendoza las asambleas por el agua y otras organizaciones ya estaban movilizándose, a partir de ese día el descontento fue cada vez mas fuerte, en distintas regiones de la provincia se organizaron cortes de ruta y movilizaciones. El 22 de diciembre sale desde San Carlos una caravana a pie, a la cual se fue sumando gente de distintos departamemtos en dirección a la casa de gobierno de la capital mendocina a 100 km de distancia. El 23 a la mañana la caravana llega a la capital y junto con personas que llegaban del norte y de la misma ciudad se concentran en las puertas de la casa de gobierno para exigir la derogación de la ley cianuro. Luego de varias horas al rayo del sol y el calor agobiante del verano mendocino, el gobernador Suarez sale a decir que no habrá modificación. Frente a un repudio generalizado y ya con mayor tensión, la policía comienza reprimir con gases y balas de goma. Si bien no hay un gran enfrentamiento, la gente decide concentrase nuevamente en el km 0 de la ciudad. Con la policía acechando e intentando dispersar, la movilización vuelve a la entrada de la ciudad y se convoca un cacerolazo a las 19h en contra de la represión. Ya con más de 16 horas seguidas de movilizaciones constantes por el cetro de la ciudad, el cacerolazo se vuelve marcha y esta se hace cada vez mas grande, sin tener una cabecera definida se comienza a caminar por toda la ciudad hasta la madrugada. Esto fue acompañado de cortes de rutas del paso a Chile en Uspallata, y cortes de rutas en todas las entradas a la ciudad y al sur de la provincia. La movilización fue creciendo día a día, con festejos navideños colectivos y brindis en los cortes de rutas. Con cada vez más carteles por las calles y banderas apoyando el agua en las puertas de las casas, se llega a amenazar con la cancelación de la fiesta Nacional de Vendimia (actividad económica y cultural muy importante para la provincia). El 30 de diciembre a solo 10 días de la modificación de la ley, el mismo parlamento que aprobó la modificación tuvo que dar marcha atrás y derogó la nueva ley cianuro.

As fotografias utilizadas são do Mendozazo de 1972.

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