Por Asad Haider e Salar Mohandesi

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Apesar da clássica inversão operaísta de Tronti ser bem conhecida e citada, menos se sabe sobre o processo teórico de elaboração que levou a ela. Ao longo de Operários e Capital, a primazia da luta dos trabalhadores é descrita como uma reversão estratégica que tenta identificar e avançar o caráter político do desenvolvimento teórico de Marx, com a experiência de 1848 e os escritos políticos precedendo a análise econômica científica.[1] Em certo sentido, isso representava um novo objeto de enquete. O objetivo não era mais, como foi para a tendência Johnson-Forest ou para o Socialisme ou Barbarie, descobrir atitudes proletárias universais, ou mesmo o conteúdo do socialismo, mas acessar uma lógica política específica que emergia do ponto de vista operário – uma consequência da dificultosa relação entre estratégia e ciência representada pela prática teórica de Marx.

Apesar do que parece ser uma afirmação de alguma suposta identidade da classe trabalhadora, Tronti não procurou defender, na maneira da tendência Johnson-Forest e do Socialisme ou Barbarie, a dignidade do trabalho. Ao contrário, o princípio norteador da “recusa ao trabalho” significava retornar à própria crítica de Marx da ideologia do movimento dos trabalhadores: “Quando Marx recusou a ideia do trabalho enquanto fonte de riqueza e assumiu um conceito de trabalho como medida do valor, a ideologia socialista foi acertada em cheio e a ciência da classe trabalhadora nasceu. Não é por acaso que essa ainda seja a escolha” (222).[2]

Marx repetiu exaustivamente que “o trabalho é pressuposto pelo capital e ao mesmo tempo o pressupõe por sua vez” – em outras palavras, o proprietário do capital pressupõe a força de trabalho, enquanto a força de trabalho pressupõe as condições de trabalho. Sozinho, Tronti escreveu, “o trabalho não cria nada, nem valor e nem capital, e consequentemente ele não pode exigir de ninguém a restituição do fruto integral daquilo que ‘ele criou’” (222). Mas visto que a ideologia socialista tinha se estendido a novas teorias de trabalho e classe, seria necessário “limpar o terreno de qualquer ilusão tecnológica” que tentava “reduzir o processo produtivo ao processo de trabalho, a uma relação do trabalhador com o instrumento de seu trabalho, como se existisse uma relação eterna do homem com um presente maligno da natureza”. Assim como era traiçoeira “a armadilha do processo de reificação”, que começou com o “lamento ideológico” da mortificação do trabalhador pelo maquinário e rapidamente se moveu para propor “a cura mística para a consciência de classe desse trabalhador, como se fosse a busca pela alma perdida do homem moderno” (203).

Ao invés disso, reconhecendo que a “classe trabalhadora é o ponto de partida histórico para o nascimento e crescimento do capitalismo”, o caminho de Marx foi “começar pelo capital para chegar a entender logicamente a classe trabalhadora” (230). Consequentemente, era necessário afirmar que o ponto de vista capitalista poderia alcançar o estatuto de ciência. De fato, a ciência capitalista seria superior às ideologias socialistas, que ainda estavam presas na visão de que “apenas a classe trabalhadora, em particular a pessoa de seus representantes oficiais, é o repositório da verdadeira ciência (da verdadeira história, etc.), e que essa é a ciência de tudo, a ciência social geral também válida para o capital”. Seria muito melhor reconhecer que “na reorganização do processo produtivo de uma grande fábrica, há ao menos tanto conhecimento científico quanto na descoberta de Smith, do trabalho produtivo que é trocado por capital” (172). Querer saber mais sobre a sociedade capitalista pelo ponto de vista da classe trabalhadora “do que os próprios capitalistas” era uma “pia ilusão” e “toda forma de gestão operária do capital prova ser necessariamente imperfeita com relação a uma gestão diretamente capitalista”. O caminho dos trabalhadores não era uma gestão aperfeiçoada, mas a destruição do capitalismo por meio da revolução. “Então do ponto de vista dos capitalistas”, argumentou Tronti, “é completamente correto estudar a classe trabalhadora; apenas eles são capazes de estudá-la corretamente. Mas o nevoeiro ideológico da sociologia industrial não terá sucesso em cancelar a pena de morte que ela representa para eles” (230).

A este respeito, a pesquisa do ponto de vista da classe trabalhadora seria distinta da sociologia capitalista, visto que suas descobertas seriam orientadas para a organização dessa destruição. Isso indica a questão da “composição política”; como Tronti escreveu, “a pesquisa teórica que temos conduzido sobre os conceitos de trabalho, força de trabalho, classe trabalhadora, não passa de um exercício no caminho para a descoberta prática de uma conquista de organização” (259). Esta linha específica de pesquisa, que surge da enquete operária e, na história do operaísmo, às vezes se afasta bastante dela, necessita de uma investigação separada. Por enquanto, vamos nos debruçar sobre os conceitos de trabalho, força de trabalho e classe trabalhadora, tendo em vista que eles complementam e sistematizam as descobertas da enquete operária e da categoria de composição de classe.

Antes mesmo de perguntar o que significa dizer que a classe trabalhadora conduz o desenvolvimento capitalista, temos que perguntar o que significa dizer classe, e de fato esta é a questão absolutamente central da elaboração teórica de Tronti. Para Tronti, a teoria de classe não pode se restringir ao local da produção e nem mesmo necessariamente começa lá. Sua exposição começa com a observação de Marx no volume 2 do Capital: “A relação de classe entre o capitalista e o trabalhador assalariado já se encontra assim presente, já pressuposta, no momento em que os dois se confrontam entre si no ato D-T (T-D do lado do trabalhador)” [Nota do Passa Palavra: D-T é uma abreviação para Dinheiro-Trabalho, e vice-versa].[3] Com efeito, Tronti afirmará que “para Marx não há dúvida de que a relação de classe já existe em si mesma [an sich] no ato da circulação. É precisamente isso que revela, que traz à tona, a relação capitalista durante o processo de produção” (149).[4]

Sua análise discute as linhas de Marx que seguem:

O dinheiro pode ser gasto nessa forma somente porque a força de trabalho é encontrada em um estado de separação dos seus meios de produção (incluindo os meios de subsistência como meios de produção da própria força de trabalho); e porque essa separação somente é abolida pela venda da força de trabalho para o proprietário dos meios de produção, uma venda que significa que o comprador está agora no controle de um fluxo contínuo de força de trabalho, um fluxo que de forma alguma deve parar quando a quantidade de trabalho necessária para reproduzir o custo da força de trabalho for realizada. A relação do capital aparece apenas no processo de produção porque ela existe implicitamente no ato da circulação, nas diferentes condições econômicas básicas em que o comprador e o vendedor se confrontam, na sua relação de classe.[5]

O que pode significar que uma tradição teórica tão conhecida pelo seu foco no local de produção comece com uma teoria não apenas do valor, mas da classe, que é centrada na troca? Helmut Reichelt comentou sobre essa escolha encarada na análise econômica entre, por um lado, o trabalho enquanto uma “categoria quase ontológica” que apresenta “trabalho humano abstrato substancializado como a substância do valor”; e do outro lado, uma explicação do processo social especificamente capitalista que constituí a “validade [Geltung]” da atividade humana como trabalho abstrato e a forma natural dos produtos como valores – em outras palavras, a determinação do que é contado como trabalho na troca.[6] Para Reichelt, essa é a base da teoria avançada de Marx sobre o valor e podemos observar Tronti seguindo essa linha: “O trabalho concreto se realiza a si mesmo na infinita variedade de seus valores de uso; o trabalho abstrato se realiza a si mesmo na igualdade das mercadorias como equivalentes gerais” (124).

Em uma aventurosa retomada dos Manuscritos de 1844 de Marx, contra a sua apropriação humanista, Tronti argumentava que os escritos iniciais de Marx sobre a alienação representaram uma teoria inicial e incompleta do trabalho abstrato, que surge da separação característica da propriedade privada.[7] Mas essa explicação somente seria plenamente desenvolvida em O Capital. Enquanto para Castoriadis O Capital significava pouco mais do que objetivismo econômico, ele levantou a questão fundamental da comensurabilidade presumida na troca – que, como aponta Reichelt, é central para o “duplo caráter” da “riqueza da sociedade burguesa”: “uma massa de um sem-número de valores de uso que enquanto quantidades abstratas e homogêneas podem ser ao mesmo tempo agregadas em um produto social”.[8] A relação de valor destina-se a explicar a forma da “igual validade” que permite que diferentes produtos sejam dados como equivalentes na troca.[9]

Uma teoria das relações de classe específicas da sociedade capitalista, então, não pode se negligenciar a explicar como a capacidade de trabalhar pode possivelmente ser parte de um sistema de troca: como a força de trabalho pode ser trocada por um salário, inserida dentro de um sistema de circulação em que as mercadorias são dadas como equivalentes de acordo com seus valores. Mas essa questão somente pode ser respondida dentro do contexto de uma análise histórica que se abre para uma definição de classe. O trabalho abstrato é constituído na troca, mas a típica troca do capitalismo é dinheiro/força de trabalho; então como essa relação de classe constitutiva surge, em que proprietários de dinheiro e proprietários de força de trabalho se confrontam no mercado, e qual é a sua relação com o processo de desenvolvimento capitalista?

Para Lefort e Castoriadis, baseando-se no Manifesto Comunista, a precondição do capitalismo foi a revolução burguesa. Para Lefort, a burguesia tinha que ser entendida como integrante de “um grupo homogêneo com uma estrutura fixa” que possuía “interesses e horizontes em comum”; o proletariado, por outro lado, reduzido a suas funções econômicas atomizadas, teria que se unificar através de sua luta contra a burguesia.[10] O capitalismo representou a reformulação da sociedade de acordo com o interesse coletivo da burguesia.

Para Tronti, começando pelas formas de permutabilidade generalizada características do capitalismo, uma explicação da burguesia era simplesmente impossível. Para um sistema em que a troca típica e definidora era dinheiro/força de trabalho, a premissa inicial deveria ser a constituição de uma classe com nada a vender senão a força de trabalho, o trabalhador livre constrangido economicamente, mas não legalmente, a vender sua força de trabalho em troca de um salário. Isso, para Tronti, era a constituição do proletariado: “a devida passagem histórica do trabalho para a força de trabalho, que é do trabalho como escravidão e serviço para a força de trabalho como a única mercadoria capaz de submeter a riqueza ao valor, capaz de valorizar a riqueza e, portanto, produzir capital” (139). Mas o proletariado tinha que entrar na troca não com uma classe, mas com capitalistas individuais, cujo único interesse “coletivo” era seu instinto compartilhado de competir entre si:

O ponto de partida histórico vê na sociedade capitalista os trabalhadores de um lado e os capitalistas do outro. Aqui novamente está um dos fatos que se impõe com a violência de sua simplicidade. Historicamente nós podemos falar de um capitalista individual: esta é a figura socialmente determinada que preside a constituição das relações capitalistas de produção. Como tal, ao menos no desenvolvimento clássico do sistema, essa figura histórica não desaparece, não é suprimida ou extinta, mas apenas organiza a si mesma coletivamente, socializando-se, por assim dizer, em capital, precisamente como a relação de classe. Do outro lado, nós não podemos falar do trabalhador individual em nenhum momento histórico. Em sua figura material e socialmente determinada, o trabalhador é desde o nascimento organizado coletivamente. Desde o início os trabalhadores, enquanto valores de troca do capitalista, aparecem no plural: o trabalhador no singular não existe (232-3).

Sob esse aspecto, o capitalista individual persiste e continua a empenhar-se na troca mercadológica que caracteriza o capitalismo. Mas a classe capitalista é “sempre algo mais e algo menos que uma classe social. Algo menos, já que os interesses econômicos diretos não cessaram e talvez não cessarão de se apresentar divididos no lado capitalista. Algo mais, porque o poder político do capital agora estende seu aparato de controle, dominação e repressão para além das formas tradicionais assumidas pelo Estado, para envolver toda a estrutura da nova sociedade” (233).

Uma vez que a força de trabalho é trocada pelo salário, Tronti argumenta, introduzindo uma distinção terminológica nas categorias de Marx, o proletariado se recompõe como classe trabalhadora: uma força de trabalho que é cooperativa, coletiva, dentro do processo de trabalho. Esse processo contínuo de socialização do trabalho é a primeira fonte de mais-valia relativa; ele depois necessitará de desenvolvimento tecnológico para sua expansão futura. Aqui Tronti desenvolve o ponto implicitamente sugerido por Panzieri; mas enquanto o último começou com o trabalhador individual cuja força de trabalho estava integrada no plano da fábrica, Tronti identifica um processo de recomposição de classe.[11] Entre o proletariado e a classe trabalhadora Tronti vê “a mesma sucessão histórica e a mesma diferença lógica que nós já encontramos entre o vendedor da força de trabalho e o produtor de mais-valia” (161).

A luta por um dia de trabalho normal, para Marx tão fundamental na exposição lógica da mais-valia relativa, manifesta a luta de classes em termos que também estruturaram o proletariado: a luta para reduzir uma massa heterogênea à mercadoria força de trabalho e a recusa de ser reduzido a isso. Essa recusa é o que move o capital a agir em seus interesses coletivos; nessa luta o capital se constitui politicamente como uma classe, que se torna um imperativo absoluto no período de 1848. Os escritos de Marx sobre 1848 mostram “o encontro e a sobreposição do conceito abstrato de trabalho com a realidade concreta do trabalhador”. Nesse ponto, Marx poderia suplementar suas reflexões anteriores e intuitivas sobre o trabalho abstrato com a descoberta das características peculiares da mercadoria força de trabalho: “a mercadoria força de trabalho como classe trabalhadora” (161).

Não era suficiente, contudo, concluir que trabalhadores assalariados primeiro se constituíram como uma classe quando eles se tornaram vendedores de força de trabalho e foram assim incorporados no capital. Era imperativo não “fixar o conceito de classe trabalhadora em uma forma única e definitiva, sem desenvolvimento, sem história”. Assim como a “história interna do capital” tinha que incluir “a análise específica das variadas determinações assumidas pelo capital no curso de seu desenvolvimento”, contra as fáceis suposições trans-históricas de uma teleologia “materialista histórica”, uma “história interna da classe trabalhadora” teria que “reconstruir os momentos de sua formação, as mudanças em sua composição, o desenvolvimento de sua organização de acordo com as variadas determinações sucessivas assumidas pela força de trabalho enquanto força produtiva do capital e de acordo com as experiências de diferentes lutas, recorrentes e sempre renovadas, com as quais a massa dos trabalhadores se equipa enquanto únicos adversários da sociedade capitalista” (149).

E de fato essa explicação da dinâmica transformação histórica e reconstituição da força de trabalho era necessária pela relação social de mais-valia e pela unidade da circulação com o processo de produção: “A história dos diversos modos em que o trabalho produtivo é extraído do trabalhador, isto é, a história das diferentes formas de produção de mais-valia, é a história da sociedade capitalista do ponto de vista da classe trabalhadora” (170). Isto é precisamente devido ao duplo caráter do trabalho, a descoberta mais valiosa de Marx, em que ambos os aspectos foram decisivos. Enquanto não se poderia derivar o caráter abstrato do trabalho do nível do valor de uso e do trabalho concreto – isto é, essa não era uma questão de abstração como um efeito psicológico da administração do tempo na fábrica – a valorização do valor não poderia ocorrer sem o valor de uso da força de trabalho:

o trabalho, a utilização da força de trabalho, é o trabalho do operário, um uso concreto, uma concretização do trabalho abstrato – o trabalho abstrato que se encontra já por sua vez reduzido à categoria de mercadoria e que realiza seu valor no salário. Portanto, o passo onde o trabalho abstrato se transforma e toma a forma concreta do trabalhador é o processo de consumo da força de trabalho, o momento onde ela se torna na ação o que ela era apenas em potencial, o passo da realização do valor de uso como força de trabalho, assim dizendo. O que já estava presente na operação venda/compra como uma relação de classe pura e simples, elementar e geral, adquiriu definitivamente a partir desse ponto o seu caráter específico, complexo e total (166).

Esse caráter complexo e total é implicado pela forma cooperativa e coletiva da classe trabalhadora. A menos que as forças de trabalho individuais sejam levadas à associação, elas não podem “fazer valer [far valere]”, numa escala social, o caráter especial da mercadoria força de trabalho em geral, isso quer dizer que não podem tornar o trabalho abstrato concreto, não podem realizar o valor de uso da força de trabalho, cujo consumo efetivo é o segredo do processo de valorização do valor, como um processo de produção de mais-valia e, portanto, de capital” (205).

Dentro desse processo nós podemos vislumbrar a localização teórica do conceito de composição de classe: “O vendedor de força de trabalho fornece assim o primeiro estágio elementar, o mais simples, de uma composição em uma classe de trabalhadores assalariados: é por essa razão que uma massa social constrangida a vender sua força de trabalho permanece a forma geral da classe trabalhadora” (149). Mas esse permanece sendo um estágio elementar, assim como Marx concluiu em seu capítulo sobre o dia de trabalho, “nosso trabalhador emerge do processo de produção parecendo diferente de quando ele entrou nele”; entrando enquanto um vendedor de força de trabalho (“um proprietário contra outro proprietário”), o trabalhador sai sabendo que o processo de produção é uma relação de força e que para proteção “os trabalhadores têm que juntar suas cabeças e, como uma classe, compelir a passagem de uma lei, uma todo-poderosa barreira social pela qual eles podem ser impedidos de vender a si mesmos e suas famílias à escravidão e à morte pelo contrato voluntário com o capital”.[12] Para Tronti, essa diferença é “um salto político”: “É esse o salto que a passagem pela produção provoca naquilo que podemos chamar de composição da classe trabalhadora ou mesmo de composição da classe dos trabalhadores” (202).

As fotografias que ilustram o artigo, exceto a última, são de Lewis Hine.

Referências

[1] Mario Tronti, Operai e capitale (Turin: Einaudi, 1966), 128, 179, 209-10, 220, 256. As traduções desse texto são nossas, com a incalculável ajuda de Evan Calder Williams, salvo indicação em contrário. Nós também consultamos proveitosamente a tradução francesa de Yann Moulier-Boutang e Giuseppe Bezza, disponível online em multitudes.samizdat.net. Referências posteriores ao original em italiano são dadas no texto.
[2] Aqui, é claro, Tronti recorda o Critique of the Gotha Programme de Marx.
[3] Karl Marx, Capital, Volume 2, trans. David Fernbach (London: Penguin, 1978), 115; Tronti cita essa passagem em Operai e capitale, 144-5.
[4] Isso também é citado em Zanini, “Philosophical Foundations,” 50. O artigo de Zanini é um dos poucos textos em inglês que aborda a análise econômica de Tronti.
[5] Marx, Capital, Volume 2, 115; segunda frase citada por Tronti, Operai e capitale, 148-9.
[6] Helmut Reichelt, “Marx’s Critique of Economic Categories,” trans. Werner Strauss and ed. Jim Kincaid, Historical Materialism 15 (2007): 11. É importante notar que o operaísmo não era sempre capaz de transitar entre as duas visões; enquanto a “categoria quase ontológica” de Reichelt se refere à concepção que compreende o trabalho abstrato como gasto de energia fisiológica, mensurável nas calorias, o operaísmo seria às vezes cativado pelo trabalho como o “fogo ardente e moldante”, que é por vezes sugerido na análise de Tronti dos Grundrisse como “um livro mais avançado” do que O Capital. (Tronti, Operai e capitale, 210; translated in Murphy 339). Os Grundrisse cumpriram um papel ambíguo na história do operaísmo, fornecendo novas energias teóricas enquanto também obscureciam as rupturas no pensamento econômico de Marx. Uma pesquisa futura terá que elaborar essas distinções claramente, especialmente para ir além da problemática dos Grundrisse de “capital em geral”; veja Michael Heinrich, “Capital in General and the Structure of Marx’s Capital,” Capital and Class 13:63 (1989).
[7] Esse argumento é apresentado na introdução a esse ensaio, páginas 123-43, com atenção a uma série de outros manuscritos anteriores de Marx.
[8] Helmut Reichelt, “Social Reality as Appearance: Some Notes on Marx’s Conception of Reality,” trans. Werner Bonefeld, Human Dignity, eds. Werner Bonefeld and Kosmas Psychopedis (Aldershot: Ashgate, 2005), 40. Reichelt termina esse artigo (65) com comentários sobre a categoria de classe que, ao contrário de Tronti, não conseguem incorporar a atenção especial de Marx pela constituição histórica do proletariado e a sua recomposição no processo de trabalho.
[9] Reichelt, “Marx’s Critique,” 22.
[10] Lefort, “Proletarian Experience”; veja também um argumento um pouco diferente, que se refere ao trabalho assalariado e o desenvolvimento tecnológico em paralelo à revolução burguesa, em Castoriadis, “Modern Capitalism and Revolution,” 259-60.
[11] Compare a Raniero Panzieri, “Surplus Value and Planning”: “O relacionamento entre os trabalhadores, sua cooperação, aparece apenas depois da venda de sua força de trabalho, que envolve o simples relacionamento de trabalhadores individuais com o capital”. É importante notar que enquanto a explicação feita em 1964 por Panzieri se baseava na substituição da competição pela planificação, a descrição de Tronti do “planejamento do capital” um ano antes nos Quaderni Rossi representava isso como o nível mais alto do desenvolvimento da socialização do capital ainda mediada pela competição, na procura individual do capitalista por lucros maiores que a média: “Empresas individuais ou atividades produtivas inteiramente ‘privilegiadas’, em conjunto da função propulsiva de todo o sistema, constantemente tendem a quebrar a partir de dentro do capital social total para subsequentemente se recompor em um nível maior. A luta entre os capitalistas continua, mas agora funciona diretamente dentro do desenvolvimento do capital”. A planificação representava a extensão do despotismo do capital ao Estado, não uma nova fase substituindo o capitalismo competitivo: “A anarquia da produção capitalista não está cancelada: está simplesmente organizada socialmente”. Veja “Social Capital”, disponível online em libcom.org e o original reunido em Operai e capitale, 60-85.
[12] Marx, Capital, Volume 1 , 415-6.

Este artigo foi traduzido e dividido em nove partes pelo coletivo Passa Palavra. A versão original está em Viewpoint Magazine.

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