Por Enzo Silva

Caro Jorge Luiz,

Desde a queima da estátua do Borba Gato e o início do debate envolvendo a ação, neste site e em outros espaços, venho refletindo sobre o assunto. O seu artigo, Democracia até tudo queimar, publicado há alguns dias, me estimulou a colocar tais reflexões no papel e tecer algumas breves considerações sobre a atual conjuntura brasileira.

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A esquerda brasileira chama o atual governo de fascista, e com razão. Sabe que o presidente e sua família mantêm relações com o crime organizado e agem de fato como uma organização criminosa, e o chama de miliciano. Sabe que a meta de Bolsonaro é perpetuar-se no poder e instaurar um regime totalitário.

Vê também que o presidente e seus aliados estimulam, sempre que surge uma oportunidade, motins de policiais militares, e que o presidente participa de atos reivindicando uma “intervenção militar com Bolsonaro no poder”; vê que o governo busca armar, não a população, mas seus aliados, por toda parte.

Sabe que ele tem perseguido servidores públicos que lhe fazem críticas ou que se limitaram a cumprir, inconvenientemente para o governo, suas atribuições. Sabe também que as polícias têm aplicado a Lei de Segurança Nacional contra opositores e monitorado “detratores”; que pessoas têm sido presas ou processadas por dizerem o que pensam sobre o governo.

Sabe ainda que, nos regimes ditatoriais, qualquer contestação é duramente reprimida e que o objetivo desses regimes é desestimular, desestruturar, desarticular e reduzir a oposição à impotência, quando não promover a eliminação física de centenas, milhares, às vezes milhões de opositores. E também sabe que nesses regimes o governo busca estar bem informado sobre tudo o que possa colocar em risco o funcionamento do sistema político e econômico e a autoridade de quem está no comando, bem como a ideologia, as mentiras que sustentam o regime.

Por fim, a esquerda sabe que vivemos num país onde o governo atua em diversas frentes para minar a democracia e transformá-la, de dentro para fora, num regime fascista, e sabe que para isso o governo precisa alardear que o Brasil está um caos, dominado pela corrupção, cheio de “comunistas” infiltrados em toda parte, desestabilizando o país, a fé em Deus e a família e sabotando a economia, ao mesmo tempo em que promove, ele mesmo, o caos e uma sucessão interminável de crises, e desafia a autoridade e credibilidade de instituições que podem pôr-lhe um freio ou tenta cooptá-las por dentro, recorrendo para isso aos mecanismos da corrupção. A pandemia veio como uma oportunidade única nesse sentido, e tem sido explorada desde o início.

A esquerda sabe de tudo isso, mas será que age, se expressa e se manifesta de maneira compatível com esse novo ambiente?

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O momento que vivemos requer da esquerda a capacidade de promover relações de solidariedade e a união política dos trabalhadores, bem como a sua autopreservação, tendo em vista a pandemia e o processo de fascistização em curso, condições indispensáveis para que eles se afirmem socialmente como classe em luta contra a exploração, o totalitarismo empresarial e, na atual conjuntura, a substituição da democracia por um totalitarismo de Estado. E, caso sejamos derrotados neste último ponto, para uma resistência eficaz contra tal regime.

Nesse cenário, os militantes de esquerda, antes que seja tarde, terão de aprender, entre outras coisas, a ser discretos, a veicular suas ideias e planejar e realizar suas ações de maneira segura, a estabelecer relações de confiança, a preservar suas identidades, a realizar um lento e cuidadoso trabalho de organização, a evitar a prisão (de si e de outros), a manter em segredo informações que possam colocar a todos em risco e, se forem presos, a resistir à tortura e a não fornecer informações à polícia. Já tivemos dois regimes assim no Brasil e, por erros bastante conhecidos, a esquerda teve muitos de seus militantes, dos mais aos menos ativos, dos mais aos menos preparados, eliminados.

Porém, como nos mostra o artigo de Emerson Martins, Uma estupidez monumental, que destoa do tratamento que a esquerda tem dado à queima da estátua do Borba Gato em São Paulo, a ação foi marcada pelo amadorismo e exposta nas redes sociais pelos próprios participantes, levando à prisão de um motorista que não sabia estar participando de algo que pudesse incriminá-lo — posto depois em liberdade provisória, deverá responder a um processo penal e, de agora em diante, será monitorado cotidianamente — e de mais três pessoas, depois de assumirem a participação no ato e entregarem-se voluntariamente à polícia, uma delas tendo sua prisão temporária prorrogada.

Temos aí algo para refletir: tantas gerações de militantes foram educadas para evitar a prisão, pois disso dependia a continuidade da luta, a sobrevivência e a integridade física e mental dos militantes e de pessoas próximas… Evitar a prisão era também evitar o exílio, a perda do emprego, o fim da carreira acadêmica, o fim do casamento, a perda de contato com pais, irmãos, filhos, a incapacidade de defender-se de acusações falsas, de defender a própria honra, de defender a própria família, muitas vezes também punida… Era evitar que outros camaradas passassem pelas mesmas coisas…

Se o que o momento requer da esquerda é a capacidade de aprender a lutar garantindo a sua autopreservação, a queima da estátua do Borba Gato foi, não um passo à frente, como você escreve no seu artigo, caro Jorge, mas muitos, muitos passos atrás. O único passo em frente talvez seja em direção a mais uma derrota da esquerda, por um regime mais repressivo que o atual, o qual só não virá e, se vier, só será efetivamente combatido — e eventualmente derrotado — se tal incapacidade for superada.

E o cenário se agrava ainda mais porque aquele totalitarismo empresarial, mencionado acima, promove globalmente, tanto nos países democráticos quanto nos ditatoriais, sob governos de direita ou de esquerda, um nível nunca antes visto de coleta, armazenamento, cruzamento e análise de dados a nosso respeito, bem como sistemas de vigilância cada vez mais sofisticados e difíceis de burlar, colocando-nos a todos numa situação de gravíssima vulnerabilidade e, pior, estimulando mesmo que nos coloquemos voluntariamente numa tal situação.

Há de se perguntar, pois, se ações como a da queima da estátua do Borba Gato, da forma como foi feita, com as motivações dos seus participantes e com tais repercussões, colaboram ou não para as lutas dos trabalhadores.

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Além disso, vivemos sob um governo que está em guerra aberta contra a cultura, desarticulando e privando de recursos tanto a produção científica e o ensino quanto os artistas e suas instituições, e deixando que vire pó a memória cultural de um país continental, de diversidade cultural ímpar, conhecido em todo o mundo por uma riqueza cultural e artística imensurável.

Como bem colocado no artigo de Emerson Martins, a queima da estátua do Borba Gato revela um desconhecimento completo acerca daquele objeto enquanto obra de arte e do artista que o concebeu, mais um sintoma da aversão da esquerda ao conhecimento e ao debate estético, entendidos como algo elitista, descolado da realidade dos trabalhadores: mas, se é assim, que lhes resta? A indústria cultural de massas e sua estética da barbárie, agora exacerbada pelas redes sociais e muito bem manejada pelo bolsonarismo das lives improvisadas e dos memes.

Assim, pergunto: a queima da estátua do Borba Gato colabora ou não para a cultura popular e para as lutas dos trabalhadores, num momento em que o governo trabalha arduamente para sabotar a instrução geral da população, seu contato com o conhecimento científico, seu acesso à memória artística e cultural do país, enquanto, por outro lado, difunde-se uma cultura e uma estética da barbárie, suporte e veículo indispensável para o regime que se pretende instaurar, regime este que, segundo João Bernardo, foi eminentemente estético e transformava a revolta num espetáculo encenado nas ruas destinado ao reforço da ordem?

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Voltamos à questão do perigo, para a esquerda, de ceder ao fetiche da estética da revolta e romantizá-lo. Trata-se de um dos pontos de convergência da extrema-esquerda com a extrema-direita, conformador do fascismo. Faz-se novamente necessário, portanto, insistir na distinção que se deve fazer entre revolta e revolução e na necessidade de articular manifestações de rua com lutas nos locais de trabalho, sejam eles espaços físicos, pressupondo a cooperação de trabalhadores ocupando as mesmas instalações, ou virtuais, pressupondo uma cooperação semelhante, só que fragmentada em plataformas digitais.

Faz-se também necessário insistir na questão dos cuidados digitais e da preocupação com a segurança na militância: ações impensadas, meras provocações, feitas não apenas de maneira insegura mas também consoante o fetiche da superexposição nas redes sociais, não apenas possibilitando mas se empenhando na identificação dos envolvidos e deixando inúmeras provas e indícios, servem apenas para difundir uma cultura de militância completamente avessa aos cuidados, digitais ou não. É disso que precisamos no momento?

Pior, reduzindo a luta anticapitalista a um espetáculo e a uma encenação, a um ato simbólico, a um “gesto heroico” representativo da revolta, contribuem para desviar o foco da extração (bem mais discreta) de mais-valia relativa, que acomete trabalhadores inseridos num contexto de renovação do quadro tecnológico, aumento da produtividade e ganhos salariais, e da extração (não tão discreta) de mais-valia absoluta, que atinge trabalhadores inseridos num contexto de perenidade do quadro tecnológico e redução salarial ou aumento da jornada de trabalho.

Os trabalhadores continuam sujeitos a uma exploração mais ou menos opressiva, mas, se tiverem propensões mais esquerdistas, podem pelo menos se contentar com o fato de haver alguém “fazendo alguma coisa”, mantendo acesa a chama da revolta, pensando residir aí a fagulha da revolução ou, pelo menos, depositando aí a esperança de uma nova esquerda. Pelas mesmas razões algumas pessoas acreditam em Deus e depositam as suas esperanças na segunda vinda de Cristo ou, conforme o gosto de cada um, na segunda vinda de Lula.

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O pior de tudo é que a esquerda esteja interpretando tais acontecimentos como uma retomada da radicalidade política. Acontecimentos que, novamente, do ponto de vista da autopreservação da militância, representam um grande fracasso, e forneceram, ainda, outra oportunidade para o bolsonarismo alardear que o país vem sendo desestabilizado pelos “comunistas” e precisa de um regime que imponha a ordem, enquanto Bolsonaro desarticula por dentro a ordem existente.

Além do mais, fica difícil defender a cultura das investidas do governo, que a destrói de propósito, quando são os próprios esquerdistas quem a destrói sem saber, por ignorância. Trata-se, a meu ver, caro Jorge, de um erro, e um erro muito grave.

O radicalismo — radicalismo de verdade, que atinge a raiz dos problemas e não cede a qualquer tendência conciliadora, adepta do compromisso — não será renovado se não formos capazes de olhar ao redor e perceber que a situação exige um comportamento muito diferente, e passar da constatação à ação.

Em destaque, uma obra de Georg Grosz (esq.) (1893-1959); a outra ilustração é de Otto Dix (dir.) (1891-1969)

10 COMENTÁRIOS

  1. 1.《A esquerda sabe de tudo isso, mas será que age, se expressa e se manifesta de maneira compatível com esse novo ambiente?》

    A quase totalidade da Esquerda sequer sabe, e não quer saber e tem raiva de quem sabe, quanto mais agir em consequência frente a este cenário de ascensão do fascismo, em suas insidiosas metamorfoses atuais.

    E nem poderia ser diferente, pois foi exatamente a negação da quase totalidade da Esquerda quanto às causas primordiais desse novo ambiente o que permitiu seu desenvolvimento.

    Para ser possível chocar o ovo da serpente, em seu ninho deve haver: crise estrutural do Capitalismo, crise de hegemonia e de representação e crise do movimento revolucionario.

    O momento de entrada no labirinto, dentro do qual até hoje perambulamos sem rumo, se deu com a supressão de Junho de 2013, que retornou como sintoma mórbido nas manifestações contra Dilma em 2015 e ainda agora nos assola com criaturas monstruosas e fenômenos bizarros.

    Portanto, eis a questão: qual a ação compatível com este ambiente?

    2. 《Há de se perguntar, pois, se ações como a da queima da estátua do Borba Gato, da forma como foi feita, com as motivações dos seus participantes e com tais repercussões, colaboram ou não para as lutas dos trabalhadores? 》

    Sendo a motivação declarada dos participantes abrir um debate, a ação teve êxito, por mais que em si tenha fragilidades ou pudesse ter outra configuração.

    Numa situação de imobilismo sistematicamente fomentado, para manter cativos o debate e a prática na via eleitoral-institucional, foi aberta pelo fogo uma picada em outra direção.

    Assumir a pauta é fazer avançar a luta dos trabalhadores, sempre com a certeza de tratar-se um caminho de idas e vindas, de muitos tropeços e também de aprendizados insubstituíveis que só o próprio movimento pode proporcionar.

    O mais importante: foram trabalhadores precarizados e moradores da periferia que se auto-organizaram para concretizar a ação, e não por coincidência os mesmos participantes da organização do histórico breque dos aplicativos em 2020.

    Não será nenhuma vanguarda teórica quem iluminará o rumo para eles, e sim a luz das chamas que forem capazes de acender.

    Portanto, eis outra questão: em meio ao incêndio qual a contribuição dos intelectuais para fazer avançar a luta geral?

    continua…

    *** *** ***

    《O radicalismo […] não será renovado se não formos capazes de olhar ao redor e perceber que a situação exige um comportamento muito diferente, e passar da constatação à ação.》

    E qual seria este comportamento muito diferente?

    É a questão cuja resposta pode deflagrar um novo ciclo de lutas, compatível com este novo ambiente de ascensão do fascismo à brasileira.

    O texto indica algumas características importantes desse comportamento.

    • Aprender a lutar se preservando para a luta.
    • Promover relações de solidariedade e a união política dos trabalhadores.

    Qual termo é o determinante: lutar ou se auto-preservar?

    Se a busca de protagonismo heróico é uma das patologias da luta política, não compreender o heroísmo imanente à própria luta é fazer da auto-preservação pessoal um limite e não condição circunstancial da continuidade da luta, mesmo que seja por outros meios.

    Lutar é fazer História, mas sempre a luta se processa sob circunstâncias sobre as quais não se tem escolha.

    O que deve ser preservado é a luta, ainda que através de recuos táticos ou mudança de estratégia.

    Muitas vezes a preservação individual não é possível.

    Quem a isto não quiser, ou não for capaz de compreender, deve se inserir no processo de luta numa posição afastada da linha de frente.

    Há muitas formas de participar, embora nenhuma delas venha com seguro total de auto-preservação pessoal.

    Como promover solidariedade e união política na luta?

    Nem sempre uma revolta conduz à revolução, de fato pode ser capturada e degenerar no fascismo. Contudo, não pode haver revolução se não há revolta.

    Se estamos num ambiente de ressurgimento do fascismo, é porque há muita revolta, mesmo muda e contida ou distorcida e inconsequente.

    A solidariedade e a união política só tem consistência quando formadas em torno de lutas concretas do cotidiano.

    Nestas lutas, por mais singelas e localizadas que forem, estão todas as contradições do Capitalismo contemporâneo.

    É a revolta com as insuportáveis condições de vida que leva as pessoas a lutarem.

    E a Revolução não está distante e separada das lutas do cotidiano, ao contrário nasce delas como a única possibilidade de terem sucesso.

    Enquanto sob o Capitalismo, absolutamente todas as lutas estão fadadas ao fracasso, de um modo ou de outro, mais cedo ou mais tarde.

    Não é isto que devemos temer, tampouco é motivo para desânimo, muito menos se trata de derrotismo.

    Por que lutamos?

    Certamente não por pequenas efêmeras vitórias. Com certeza pela consciência e capacidade de organização para lutar melhor.

    As lutas concretas do cotidiano são a forma de união política que deve de ser promovida, em torno delas erguendo redes de solidariedade, inclusive de auto-preservação.

    Contudo, isto só de viabiliza caso seja colocado numa perspectiva pós-capitalista. Portanto, revolucionária.

    Como fazê-lo?

  2. Muito bom o texto.

    arkx Brasil,

    Você está equivocado que a queima da estátua foi feita pelos “os mesmos participantes da organização do histórico breque dos aplicativos em 2020”.
    Essa foi a impressão equivocada que as mídias de esquerda deram, pois viram seu discurso refletido no discurso do Galo e o elevara a liderança dos entregadores, quando na verdade ele não era. E aí está a questão. Trata-se de uma esquerda fechada em si mesma. Tão fechada em si mesma que já não apreende quem de fato organiza as mobilizações de classe: acabam achando que são aqueles na classe que também estão fechados em si mesmos.

  3. Leo V,

    Posso estar equivocado, claro. Mas não formo opinião através da mídia dita de Esquerda.

    Especificamente quanto ao Galo, me baseio não apenas em suas intervenções nas diversas mídias e redes sociais, como numa entrevista com ele da qual participei.

    Embora ele nunca se tenha declarado como organizador e liderança do movimento como um todo, é fato sua participação no surgimento dos Entregadores Anti-fascistas, grupo que de alguma forma, em maior ou menor grau, contribuíu na greve e na divulgação da luta.

    Estar fechado em si mesmo é hoje uma característica geral, não apenas de setores da Esquerda, e o que se encontra por toda parte são bolhas.

    As bolhas sempre existiram, como também o sectarismo típico da Esquerda, mas as redes sociais e o ambiente virtual as exarcebam.

    Após 2 artigos e vários comentários, o coletivo PassaPalavra ainda não conseguiu explicitar nenhuma crítica consistente à ação de atear fogo na estátua do Bandeirante estuprador, que a invalidasse politicamente.

    Fica a impressão de um mal disfarçado incômodo causado talvez pelo sucesso do ato em abrir um debate, do qual o próprio PassaPalavra vem participando, aparentemente a contra-gosto.

  4. Até que tudo vire cinzas?

    Borba Gato queimou
    O Galo foi preso
    O Galo foi solto. Entre o Espetáculo e o cotidiano, os dias seguem cinzentos.
    De modo estridente os anarcas pedem mais fogo, outros pedem votos.
    A antropóloga, de sua cadeira giratória Conforsit Genebra, brada por mais ação direta, o professor retuíta, o copia e cola compartilha Mastodon agora.

    A polícia reúne, com risos e sangue nos olhos, dados digitais displicentemente deixados pelos “ativistas”. Dona Marilda, lá na zona leste, reúne seus pertences em mais um despejo, junto com seus dois netos largados para trás por mães com vidas que viraram cinzas décadas antes de nascerem.

    O Editor reúne textos para mais uma coletânea, malgrado os custos dos correios, agora privatizado. Tudo que é público virando cinzas.

    A Amazônia queima, o Pantanal queima, até a Turquia está sob chamas, enquanto na Califórnia os termômetros disparam 48 graus. a mudança climática é cinza nas miradas diárias.

    Borba Gato queimou
    A Esquerda virou cinzas.

    De algum lugar na matrix

  5. arkx brasil, quantos artigos a respeito do incêndio assinados pelo Passa Palavra foram aqui publicados?

    Isto mesmo: nenhum. Portanto, de onde vc concluiu que a opinião do coletivo é esta ou aquela?

    PP, qual a sua opinião?

    Um última pergunta, arkx brasil. Te incomoda tanto – em meio à turba de posts e matérias elogiosas aos pirômanos – a existência de 2 ensaios críticos ao ato? Nem isso pode existir? Ah sim… há também um ensaio muito bem escrito favorável à aventura iconoclasta.

    Arkx brasil, se queres opiniões idênticas as tuas, basta abrir o instagram; ali terás espelhos para dar e vender.

  6. Cuca,
    Obrigado. Não sabia que o PassaPalavra tem Instagram.
    Vou acessar e dar ima olhada.

  7. arkx Brasil,

    Assim como você não foi convencido da ineficácia política da adita ação, eu não fiquei convencido da eficácia.
    E sinceramente, dizer que a ação foi feita “para abrir o debate”, é simplesmente o discurso legitimador de quem realizou a ação após haver mandado de prisão.
    “Abrir debate” está longe de ser o único parâmetro para avaliar uma ação. Além disso, vale a pena “abrir esse debate” a esse custo? Ainda mais sabendo que logo deixa os noticiários e cai no esquecimento, diante da avalanche de informações e notícias de todos os dias? Um ato isolado abre um debate para ser fechado no dia seguinte.

  8. Leo V,

    Só estou convencido da maioria das críticas serem inconsistentes, incompletas, muito mais revelarem a respeito de quem as emite e pouco contribuírem para a análise e desdobramentos do fato.

    Você coloca a questão do custo, também a ela me referi em comentário postado no artigo anterior.

    Toda ação carrega um risco intrínseco. Embora ele deva ser minimizado ao máximo, não é possível suprimí-lo de todo.

    Exemplo:
    Um protocolo de segurança exigiria o transporte da quantidade de pneus necessária numa única vez, em veículo de compartimento de carga fechado e sem qualquer sinal de identificação em sua lataria externa.

    Entretanto ainda sim seria possível rastrear sua trajetória, através das dezenas de câmeras de segurança espalhadas por toda a parte.

    Também não é correto caracterizá-lo como ato isolado, pois ocorreu na manhã das manifestações do Fora Bolsonaro, com elas demarcando uma importante diferença pelo método de ação.

    Quanto ao salto organizativo, sobre o qual indaguei em outro comentário, trata-se de propaganda pelo ato que através do debate gerado causou uma mobilização, a ser canalizada em formas de organização.

    E não apenas por quem concretizou a ação, em especial por quem se pauta pela autonomia como meio e fim.

  9. O último comentário de arkx Brasil contém alguns equívocos:

    1) Quando escreve que o risco deve ser sempre minimizado, mas não pode ser suprimido, parte do pressuposto de que quem escreveu o texto (eu), quem está criticando a ação (outros que intervieram no debate) e todas as gerações de militantes que se preocuparam com a segurança e criticaram ou se opuseram a ações do tipo nunca corremos riscos nem estamos dispostos a corrê-los. Mas, veja, muitos de nós são militantes que correm riscos o tempo todo e estão dispostos a corrê-los, embora pelas razões certas.

    2) Está para ser demonstrado o “salto organizativo” mencionado por arkx Brasil, pois mobilização via redes sociais é uma coisa, mobilização de fato é outra. Além disso, uma ação como essa, da forma como foi feita, leva frequentemente os militantes a terem de se mobilizar para a soltura ou absolvição daqueles que se expuseram e colocaram a si e aos demais em risco. Mais pessoas são obrigadas a se expor, colocando-se na linha de frente da defesa de quem foi preso ou está sendo processado.

    3) Por fim, caberá esse tipo de exposição no contexto de um regime voltado para a eliminação (assassinato, tortura, mutilação, exílio, longas penas privativas de liberdade, etc.) de opositores? A pessoa vai agir de maneira estúpida para “abrir um debate” num regime com censura, vai “abrir um debate” com quem quer prendê-la ou matá-la? Creio que não.

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