Yavor Tarinski entrevista Anatoliy Dubovik e Sergiy Shevchenko

 

Yavor Tarinski, do jornal libertário grego Aftoleksi, entrevistou dois anarquistas da Ucrânia oriental. Eles próprios foram politicamente ativos por décadas na região até a invasão de 2014 — quando vieram abaixo quaisquer possibilidades de ação política sem mediações. Ambos são o que muitos tendem a chamar, simplesmente, de cidadãos ucranianos “russófonos”. Esta entrevista foi motivada pelos referendos conduzidos pelas forças de ocupação russas naquela região, e também por causa do ressurgimento de notícias falsas (fake news) sobre sua organização anarquista, a Confederação Revolucionária de Anarcossindicalistas [Революційна Конфедерація Анархістів-Синдикалістів — RKAS], em que ambos participaram e da qual foram fundadores. Continuamos a dar voz àqueles diretamente envolvidos nesta bárbara guerra de violência física e vilificação. Uma voz que Estados e interesses políticos organizados tentam silenciar.

Yavor Tarinski (Y.T.): Olá, e obrigado por disponibilizar seu tempo para falar conosco no meio de uma zona de guerra. Vamos começar conhecendo vocês um pouco melhor. Em qual parte da Ucrânia vocês vivem?

Anatoliy Dubovik (A.D.): Meu nome é Anatoly Dubovik. Tenho 50 anos, sou anarquista desde 1989. Nasci em Cazã (Rússia), e vivo há mais de 30 anos na Ucrânia, na cidade de Dnipro (anteriormente conhecida como Dnepropetrovsk, e antes disso Ekaterinoslav). Isso fica na parte oriental da Ucrânia.

Sergiy Shevchenko (S.Sh.): Meu nome é Sergei Shevchenko. Tenho 48 anos, sou anarquista desde 1988. Nasci e vivi a maior parte da minha vida em Donetsk, o centro da região da Donbas. Em 2014, fui forçado a sair rumo a Kyiv depois que um levante separatista de inspiração russa começou em minha cidade. Estou na linha de frente desde fevereiro de 2022.

Y.T.: Vocês dois são membros conhecidos do histórico grupo anarcossindicalista RKAS. Vocês podem nos contar um pouco mais sobre esse grupo e suas atividades antes da guera?

A.D. e S.Sh.: Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que a RKAS não era só um grupo, mas uma organização. Quando o movimento anarquista começou a reviver na União Soviética, no final dos anos 1980, ele era infestado por irresponsabilidade, falta de estratégia, e por não levar a sério seus objetivos — muitos estavam só “brincando de anarquismo”. A ressureição do movimento anarquista começou em Donetsk quando representantes de vários pequenos grupos, e ativistas individuais que não haviam perdido a fé em seus ideais, reuniram-se para formar sua própria organização. Assim, como alternativa ao até então caótico movimento, em 1994 a RKAS, Confederação Revolucionária de Anarcossindicalistas, nomeada em homenagem a Nestor Makhno, foi criada. Era uma organização — mais precisamente uma organização anarquista – que introduziu princípios de trabalho mais claros: planejamento, sistematização, disciplina interna, divisão de responsabilidades entre seus membros, e por aí vai.

Tudo isso deu bons resultados, ainda que não imediatamente. Alguns anos depois de sua fundação, a RKAS já era uma organização ativa em várias regiões da Ucrânia, e estava relativamente bem. Estávamos envolvidos no movimento operário, no movimento estudantil, tínhamos uma influência significativa no movimento de sindicatos independentes, especialmente entre os mineiros da Donbas, onde representantes da RKAS participaram em comitês de greve locais e regionais. Participamos num movimento pan-ucraniano pela proteção de direitos dos trabalhadores e nos opusemos à deterioração da legislação trabalhista.

Fizemos várias iniciativas editoriais. A primeira foi o jornal Anarquia [1993-2013], publicado por quase toda a existência da RKAS. Também publicamos o Boletim de Análises e Noticiário Anarcossindicalista, e várias publicações para grupos sociais específicos — o jornal operário Voz do Trabalho, o jornal estudantil Unidade, a revista de juventude Ucrânia Revolucionária, e outras. Também distribuímos propaganda e panfletos teóricos de vários autores, desde os clássicos como Bakunin e Malatesta até obras de autores contemporâneos.

Ao longo do tempo a RKAS evoluiu para algo como uma pequena Internacional — tínhamos seções em outros países, majoritariamente na Geórgia e em Israel. Elas não duraram muito, mas existiram. E até pouco antes do início da guerra [2014], estávamos trabalhando para criar um sindicato anarcossindicalista na Ucrânia, a Confederação Geral Anarcossindicalista do Trabalho. Isso não pôde ir adiante por causa da invasão da Crimeia e da Donbas.

"A 'esquerda' fora da Ucrânia se acostumou a ouvir somente pessoas de Moscou": entrevista com anarcossindicalistas na Ucrânia

Y.T.: Você pode descrever qual foi a reação da RKAS depois do início dos conflitos na Ucrânia oriental em 2014?

A.D. e S.Sh.: O “conflito”, ou seja, a invasão armada, começou no sul da Ucrânia, quando o exército russo ocupou a Crimeia em fevereiro de 2014. O levante separatista de inspiração russa no oeste começou depois, em cerca de um mês.

Estava claro para nós desde o início que a Rússa não poderia fazer qualquer bem à Ucrânia. Por volta de 2014, um regime reacionário e autoritário já tinha se estabelecido na Rússia, negando todos os direitos individuais e sociais, e perseguindo brutalmente e destruindo qualquer atividade independente. É claro, ainda tínhamos muitas questões sobre o Estado e a classe dominante na Ucrânia. Mas ao menos o movimento anarquista e socialista na Ucrânia foi capaz de operar relativamente livre por alguns anos. Basta dizer que, por toda a existência do estado independente ucraniano, não houve um só preso político anarquista por aqui. Ao mesmo tempo, dúzias de nossos camaradas na Rússia foram parar em prisões — culpados pura e simplesmente de suas convicções anarquistas. Assim, estávamos bem alertas sobre o que Putin fez para as ideias libertárias.

A reação da RKAS foi, portanto, irreversível: era necessário resistir ao ataque russo por todos os meios.

Mas imediatamente surgiu, então, um problema. O ponto é que a RKAS foi fundada e existiu por 20 anos como uma organização pela propaganda de ideias, e como organização de apoio a ações anarcossindicalistas. Em outras palavras, como organização adaptada às formas legais e semilegais do enfrentamento pacífico. A guerra mudou tudo, inclusive as tarefas imediatas com que os ativistas do movimento anarquista deveriam se confrontar no aqui e no agora. A antiga organização, as formas antigas de atividade, provaram-se simplesmente insuficientes ou impossíveis sob as novas condições. Novas formas e princípios de trabalho eram necessários, orientados principalmente para a resistência clandestina contra os ocupantes. Isso incluía a resistência armada.

Deste modo, em abril de 2014, houve extensa discussão entre membros da RKAS sobre o novo processo e a estratégia de resistência, cujos resultados levaram à dissolução da organização. Depois disso, começou uma nova fase na história do movimento anarquista na Ucrânia.

Y.T.: Você está ciente de que fora da Ucrânia circula a informação falsa de que a RKAS esteve, de algum modo, envolvida na criação das assim chamadas “repúblicas populares” na Donbas?

A.D. e S.Sh.: Sim, descobrimos em setembro de 2022, por causa de uma publicação numa rede social grega. Esta publicação não tem nada além de falsificações grosseiras e as mentiras mais descaradas. Por exemplo, foi acompanhada por uma fotografia de uma manifestação com pessoas portando bandeiras pretas e vermelhas, com o título: “Membros da RKAS na manifestação anti-Maidan em Donetsk, em 2014”! Na verdade, essa foto foi tirada por nós na manifestação de 1º de maio de 2012, e na faixa que levamos nessa manifestação, retratada na fotografia, se lia claramente: “A nova reforma trabalhista é a escravidão legalizada”. Por outras palavras, não havia nada a favor ou contra Maidan — afinal, esta manifestação teve lugar alguns anos antes de Maidan, em meio à nossa luta contra a tentativa do governo de mudar as leis trabalhistas. O autor da falsa legenda sob esta foto enganou os seus leitores: qualquer pessoa que conheça até um pouco de russo ou ucraniano e possa compreender a legenda na faixa verá na hora que a manifestação não teve nada a ver com os acontecimentos de 2014.

Outro exemplo de mentira descarada: os autores da história sobre a (falsa) ligação do RKAS com separatistas pró-russos se referem a Mikhail Krylov, “um velho veterano da luta de classes dos mineiros de Donetsk”, que “nos chamou à rebelião armada contra o regime de Kiev” e participou na formação do “Ministério dos Mineiros” da República Popular de Donetsk (RPD). Se Krylov chamou ou não alguém para algo, se algo foi formado ou não, agora é irrelevante. Mikhail Krylov esteve realmente envolvido no movimento de trabalhadores independentes em Donbas na era soviética, e teve ligações com o RKAS na segunda metade dos anos 90, quando trabalhámos de perto com o Comitê Regional da Donbas, em cuja liderança Krylov participou. Mas o importante é que há 26 anos atrás ele encerrou qualquer tipo de cooperação com os anarcossindicalistas. Tinha-se tornado há muito tempo um típico líder laboral chato, que se vendeu a seus antigos adversários. Depois de 1998 “entrou na política”, filiando-se a vários partidos burgueses e candidatando-se a cargos eletivos em seu nome. E agora serve aos ocupantes russos.

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Naturalmente, quando vimos este artigo, ficamos furiosos. Contatamos imediatamente camaradas na Grécia, explicamos qual era a verdadeira situação, e a publicação falsa foi retirada de outro website que a reproduziu… Mas não há garantias de que as mesmas mentiras deixem de aparecer em outros websites ou na mídia impressa.

Em geral, há anos nos surpreendemos que muitas pessoas na Europa e na América prefiram obter informações sobre o movimento anarquista ou socialista na Ucrânia não de anarquistas ou socialistas ucranianos, mas de qualquer pessoa fora da Ucrânia. Por que fazem isso, é um grande mistério.

A propósito, devemos acrescentar que a mentira sobre a cooperação de nossa gente da RKAS com a FSB (ou seja, o serviços secreto russo), e sobre a participação da RKAS no movimento pró-russo em Donbas, é apoiada e difundida pela extrema-direita ucraniana! Por isso, aqueles que repetem estas invenções estão do mesmo lado que os nazistas. Bem, talvez eles gostem…

Na verdade, nem antes de Maidan, nem, em geral, em todos os anos em que os membros do RKAS estiveram envolvidos no movimento anarquista, nunca apoiamos nem o separatismo pró-russo na Ucrânia, nem as tendências imperialistas russas. Já no final dos anos 80, a maioria dos anarquistas ucranianos, incluindo os futuros membros do RKAS, estavam ativamente envolvidos na luta pela independência ucraniana. Mais tarde, como RKAS, nos posicionamos firmemente contra a guerra na Chechênia e apoiamos uma Ichkéria independente. Não só isso: algumas de nossas publicações foram impressas em ucraniano, nossa “Rádio Libertadora RKAS” também foi transmitida em ucraniano, e uma de nossas publicações, como já mencionado, tinha o título Ucrânia Revolucionária. Portanto, muito antes de 2014, a posição da RKAS era bastante clara: em favor de uma Ucrânia livre, independente e operária. Esta é a tradição da RKAS, a tradição do movimento anarquista ucraniano em geral. Portanto, historinhas sobre uma “RKAS pró-russa” são completamente idiotas e inaceitáveis.

Y.T.: O que militantes da RKAS estão fazendo desde que a invasão começou?

A.D. e S.Sh.: Aqueles de nós que continuaram nosso trabalho social como anarquistas, fizeram e estão fazendo todo tipo de coisas. A maioria de nós entendeu que mais cedo ou mais tarde a Rússia iria começar uma invasão maciça, que na verdade começou em 24 de fevereiro de 2022. Tanto quanto pudemos, nos preparamos para todas as diferentes formas de resistência: treinamos voluntários em organizações militares não-oficiais, das quais surgiram mais tarde unidades de defesa territorial. E algumas outras estiveram diretamente envolvidas na resistência: em 2014-2015, ex-membros do RKAS criaram grupos ilegais de combate que conduziram guerrilha em Donbas. No Território Livre da Ucrânia, grupos de ex-membros do RKAS também trabalharam em vários projetos sociais, principalmente ajudando crianças refugiadas de Donbas e da Crimeia. Naturalmente, também continuamos nossas atividades culturais e educacionais, e difundimos idéias anarquistas. Assim, não desaparecemos no ar; continuamos nossas atividades e nossa vida como anarquistas. Apenas não mais na forma da nossa antiga organização RKAS.

Alguns de nós estamos agora na frente doméstica, ajudando a defender o povo. Alguns estão na linha de frente de combate com armas na mão, como membros do exército ou das Unidades de Defesa Territorial.

Eles conseguiram até mesmo organizar comitês anarquistas de soldados nas unidades em que servem. Esses comitês defendem os direitos dos soldados, organizam assistência voluntária e realizam treinamento anarquista e atividades ideológicas em suas unidades. Tudo isso será explicado com mais detalhes após a vitória.

Y.T.: Qual era a situação nas chamadas “repúblicas populares” “RPD” [República Popular de Donetsk, nome dado pelos separatistas pró-russos à região], “RPL” [República Popular de Luhansk, nome dado pelos separatistas pró-russos à região] e outros territórios ocupados: anarquistas e outras pessoas de esquerda foram forçados a sair? Havia recrutamento obrigatório de civis para o exército pró-russo?

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S.Sh.: Eu fui forçado a sair de minha cidade natal, Donetsk. Um total de 1,5 milhão de pessoas saiu de Donbas para outros lugares da Ucrânia desde 2014. A população em Donbas era de 6 milhões.

A.D. e S.Sh.: Não é nem o caso que a maioria dos anarquistas e socialistas tenha deixado a Donbas ocupada. (Não sabemos o que você quer dizer com “pessoas de esquerda”: a palavra abrange gente com visões muito diferentes, desde anarquistas a estalinistas, que não têm nada em comum…) Mas o ponto principal é que nos territórios ocupados pela Rússia só há uma possibilidade: ser absolutamente leal ao poder. A alternativa é a prisão, e depois disso não há mais informações sobre as pessoas.

Quanto ao recrutamento de civis na Donbas ocupada para o exército, não houve recrutamento forçado oficial antes de 2022. Mas havia algo mais: após o estabelecimento dos regimes separatistas, o fechamento maciço de empresas começou e seus equipamentos foram exportados para a Rússia. A cada ano se tornava cada vez mais difícil encontrar trabalho em qualquer profissão. O único lugar onde um homem adulto, fisicamente apto, podia realmente ganhar dinheiro, era no exército. E muitas pessoas entraram para o serviço militar. Isto continuou até fevereiro de 2022, quando a “RPD” e a “RPL” anunciaram um alistamento geral. Então, o alistamento forçado tomou suas formas mais incríveis: as pessoas eram recolhidas nas ruas, nos transportes públicos e nas universidades, e levadas aos pontos de alistamento. Alguns dias depois, estes homens estavam na frente de batalha. A maioria deles nunca havia segurado uma arma antes. Eles morreram, e continuam a morrer, em grande número. Na realidade, o alistamento russo em Donbas foi um genocídio da população local. Agora, num futuro muito próximo, o mesmo destino ameaça a população das regiões Zaporizhzhya e Kherson, onde também começou o recrutamento à força para o exército russo.

Y.T.: Qual é a situação social geral desde 2014 nas regiões orientais da Ucrânia ocupadas por separatistas apoiados pela Rússia?

A.D. e S.Sh.: A Rússia sob Putin se tornou essencialmente um estado fascista, onde toda a população está privada de todos os direitos. Nas regiões da Ucrânia que ficaram sob o controle do exército de Putin e dos separatistas pró-russos, a situação é ainda pior do que na própria Rússia. Por exemplo: no final de 2014, houve tentativas de organizar greves nas minas que ainda estavam operando na época, em defesa dos interesses puramente econômicos dos trabalhadores. Essas tentativas foram reprimidas por métodos puramente gangsteristas, sobre os quais só pudemos ler em livros de história do século XIX: as lideranças iniciais e os apoiadores mais ativos das greves foram retirados da cidade, onde foram espancados e ameaçados de morte. Nenhum comício, passeata, manifestação ou outras ações públicas de organizações sociais independentes, incluindo sindicatos, são possíveis: as autoridades pró-russas têm mantido a lei marcial com todas as proibições relevantes desde 2014. De fato, as próprias organizações sociais independentes há muito deixaram de existir nas “repúblicas populares” — como já foi dito, a única forma de vida aceitável ali está associada ao apoio total e incondicional ao regime de ocupação.

Como qualquer regime fascista, as autoridades russas e seus governos fantoches em Donbas consideram que é seu dever interferir na vida pessoal dos indivíduos. Em primeiro lugar, na vida das pessoas que não compartilham os chamados valores “tradicionais”, ou seja, as visões mais conservadoras da seção ultraconservadora da Igreja Ortodoxa Russa. A orientação sexual “errada”, ou a religião “errada”, são razões suficientes para que uma pessoa seja perseguida, assediada, demitida de seu trabalho, presa. É claro que não existem organizações LGBTI na “República Popular” de Donetsk (RPD) e Luhansk (RPD) — é simplesmente impossível que existam.

Ao mesmo tempo, a maioria das organizações religiosas protestantes, gregas e católicas que existiam antes de 2014 foram dissolvidas. As Testemunhas de Jeová e os Mórmons, cujas atividades também são proibidas na Rússia, são particularmente perseguidos, e duramente perseguidos.

A principal coisa que você deve saber sobre os regimes da RPD e da RPL é que seu objetivo é destruir QUALQUER dissidência e suprimir QUALQUER desobediência. Isto é o que os coloca ao mesmo nível dos piores exemplos de regimes do passado, como a Alemanha nazista ou a URSS de Stalin. Isto é o que não nos deixa outra escolha senão lutar contra estes regimes.

Y.T.: No entanto, é impressionante a facilidade com que os separatistas pró-russos assumiram as cidades de Donbas nos primeiros dias do conflito de 2014. Não parece que tenha havido muita resistência por parte das autoridades ucranianas. Pelo contrário, é como se tivesse ocorrido uma mudança de regime organizada “de cima”.

"A 'esquerda' fora da Ucrânia se acostumou a ouvir somente pessoas de Moscou": entrevista com anarcossindicalistas na Ucrânia

A.D. e S.Sh.: Sim, não houve resistência das autoridades locais aos levantes separatistas nas cidades das regiões de Donetsk e Luhansk. Na melhor das hipóteses, as autoridades desapareceram e se afastaram dos acontecimentos. Na pior das hipóteses, elas lideraram a revolta! Isto se aplica à administração política, a toda a liderança da polícia, aos serviços secretos da SSU [Serviço de Segurança da Ucrânia, ao mesmo tempo a autoridade policial e a agência de espionagem deste país], ao Ministério Público e assim por diante.

No entanto, houve resistência, mas ela vinha simplesmente de pessoas comuns sem nenhuma autoridade particular. Em março e abril de 2014, foram realizados comícios pró-Ucrânia em Donetsk e outras cidades, onde muitas pessoas se reuniram. Estes comícios foram atacados por separatistas. As primeiras vítimas da guerra em Donbas foram aquelas mesmas pessoas que foram espancadas com bastões ou seqüestradas por soldados pró-russos, levadas para fora da cidade e executadas lá. Tudo isso é considerado como bastante conhecido.

Y.T.: Vocês estão sabendo, apesar disso, que fora da Ucrânia, alguns canais alternativos de desinformação afirmam que os “verdadeiros” militantes de esquerda na Ucrânia apoiam os separatistas e o poder ocupante (e, como dissemos antes, até mesmo seu grupo foi caluniado com notícias falsas semelhantes)? E em geral, que eles estão tentando retratar o conflito como um conflito entre o “4º Reich” ucraniano e a frente progressista pró-russa?

A.D. e S.Sh.: Sim, é claro, sabemos disso. E esperamos que seus leitores já tenham visto como são “progressistas” as ações das autoridades pró-russas.

Mas na verdade, quase todos os anarquistas ucranianos estão agora resistindo de alguma forma a Putin e à invasão russa. E conhecemos muitos marxistas anti-autoritários ucranianos que estão na mesma posição, por exemplo, o grupo Movimento Social, o sindicato independente Defendendo o Trabalho, o conselho editorial da revista socialista Commons e outras iniciativas. Estes e outros grupos são pouco conhecidos fora da Ucrânia, mas isto simplesmente porque a “esquerda” fora da Ucrânia (novamente: não sabemos quem eles são) estão acostumados a ouvir apenas gente de Moscou. Em nossa opinião, isto significa que, para muitos que vivem fora da antiga União Soviética, o império soviético ainda está vivo hoje. Pelo menos em suas mentes, em suas fantasias.

É tão estranho quanto ouvir notícias sobre eventos e processos no México ou na Argentina de pessoas em Madri, notícias sobre a Índia e o Canadá de pessoas em Londres!

Quanto aos estalinistas… Eles podem dizer o que quiserem, podem usar as bandeiras mais vermelhas do mundo, mas, na real, são uma força reacionária subserviente ao nacionalismo russo e ao imperialismo russo. A “esquerda” ocidental olha para os nomes dos partidos de nossos países aqui e pensam algo assim: “Oh!, deve ser gente importante!” Por exemplo, em nosso país havia o famoso “Partido Socialista Progressista da Ucrânia”. Com este nome tão retumbante, este partido organizou eventos conjuntos com um dos principais ideólogos do nacionalismo russo moderno e do fascismo absolutista, Alexander Dugin, utilizando imagens e vocabulário racistas e homofóbicos em sua propaganda. Podem ser considerados “de esquerda”, mas neste caso nem Marx, nem Lênin, nem Trotsky poderiam ser “de esquerda” em qualquer sentido.

Y.T.: De fato, a invasão russa da Ucrânia revelou alguns problemas profundamente enraizados nos movimentos libertários e de esquerda em todo o mundo. Embora esses movimentos tenham sido tradicionalmente contra o autoritarismo, acontece que existe uma porcentagem não tão pequena de pessoas, mesmo entre aqueles que se consideram anarquistas e libertários, que expressam, pelo menos indiretamente, seu apoio à invasão de Putin, porque para eles o objetivo geopolítico da Rússia de ganhar terreno contra a OTAN vale até mesmo muitas vidas civis perdidas na guerra, ou na criação de um novo regime mafioso nos territórios ocupados. Qual, na sua opinião, é o futuro dos movimentos anarquistas do mundo à luz da divisão entre o que poderíamos chamar de “estritamente geopolíticos” e os anarquistas sociais?

A.D. e S.Sh.: Estamos convencidos de que muitos socialistas e mesmo libertários em todo o mundo estão presos aos conceitos e realidades do século passado, não percebendo que o mundo mudou muito. E este é um enorme problema que acabou de se tornar aparente com o início de uma nova série de ações agressivas por parte da Rússia.

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Lembramos que a Ucrânia não foi a primeira vítima do imperialismo russo moderno. Houve invasões russas da Geórgia e da Moldávia nos anos 90. Houve uma guerra colonial no Cáucaso, que continuou até os anos 2000. Os tanques russos voltaram a entrar na Geórgia em 2008. A Rússia tem intervindo na Síria desde o início da década de 2010. As tropas russas foram usadas para suprimir a revolta no Cazaquistão em janeiro de 2022. A guerra na Ucrânia é simplesmente uma nova escala de violência por parte de Moscou, o que não acontece na Europa há muito tempo, mas não é algo fundamentalmente novo para a política de assassinato, destruição e ocupação promovida por Moscou.

A “esquerda” que apoia a Rússia hoje a vê como algo parecido com a URSS da segunda metade do século 20. Não percebe que até mesmo a conversa de “socialismo”, “justiça social” e “Estado-nação” usada na época caiu há muito tempo, e as pessoas na Rússia estão privadas da maioria dos direitos e vivem em condições sociais, econômicas e diárias terríveis. As pessoas na Rússia vivem em um estado policial e são perseguidas por sua nacionalidade (como os tártaros da Crimeia)[1] , por suas crenças religiosas (como pertencer às Testemunhas de Jeová, aos Mórmons ou às seitas não ortodoxas do Islã), sem mencionar a perseguição por suas crenças em oposição ao status quo. Dois exemplos: o matemático e anarquista de Moscou Azat Miftahov foi acusado de quebrar uma janela nos escritórios do partido governista Rússia Unida. Ele foi julgado por este crime hediondo, e em 2021 foi condenado a seis anos de prisão. Os anarquistas Dmitry Chibukovsky e Anastasia Safonova, da cidade de Chelyabinsk, nos Urais, colocaram uma faixa em uma cerca que dizia “O FSB [Serviço de Segurança Federal, serviço secreto russo] é o principal terrorista”. Eles foram condenados a 2,5 e 2 anos de prisão por este ato. Isto só até 10 de setembro de 2022.

A esquerda vê a Rússia de Putin como uma alternativa à OTAN, como um rival da OTAN. Em certo sentido, eles estão certos: a Rússia é de fato oposta à OTAN. Mas eles não vêem, e não querem ver, que a alternativa russa significa apenas um desejo, pela Rússia, de seguir sua própria política, independente mas igualmente (se não mais) imperialista.

O objetivo geopolítico da Rússia não é de modo algum deter o imperialismo ocidental, mas fazer da Rússia novamente um império, mais poderoso, agressivo e desumano do que o “Ocidente” convencional. O Estado russo, tendo suprimido a liberdade e a independência em casa, não pode trazer nenhuma liberdade e independência para outros países.

A “esquerda” pró-russa não vê isso. Para usar a analogia do romance de George Orwell, 1984, essa “esquerda” se alinha com o Grande Irmão da Eurásia contra o Grande Irmão da Oceania.

Esses militantes de “esquerda” são uns idiotas.

Quanto ao futuro. Não estamos particularmente interessados no futuro e nas perspectivas da “esquerda” e dos movimentos socialistas de Estado ao redor do mundo. Nós somos anarquistas, e pensamos antes de tudo no movimento anarquista. Nosso slogan permanece o mesmo que sempre foi: a emancipação dos trabalhadores é um assunto para os próprios trabalhadores! E a divisão entre os anarquistas sociais e aqueles que você chamou de “geopolíticos estreitos” ainda nem sequer aconteceu, infelizmente. Nem todos percebemos, ainda, que esta divisão será necessária e inevitável.

Y.T.: Gostaríamos de saber sua opinião sobre os referendos sobre a anexação dos territórios atualmente ocupados de Donbas à Federação Russa. Até que ponto podem ser considerados a vontade de um povo, dada a existência do exército de ocupação e da repressão brutal? Vimos que tais referendos têm sido realizados desde 2014 com cédulas transparentes e outros pontos problemáticos na Crimeia, então podemos assumir que esta é uma parte importante da estratégia russa?

A.D. e S.Sh.: Hoje em dia, enquanto dando entrevistas, a Internet está repleta de vídeos dos territórios ocupados mostrando como são conduzidos os “referendos”. Qualquer pessoa pode ver que não há seções eleitorais ou urnas, transparentes ou não. Nos vídeos podemos ver que grupos de pessoas, 4-5 pessoas, entre as quais sempre há duas pessoas em uniformes militares com armas, percorrem os apartamentos dos cidadãos e lhes pedem para assinar as “cédulas de voto”. Isto não é um referendo. Isto é um teste total à lealdade da população aos ocupantes, que está literalmente ocorrendo sob a mira de rifles automáticos.

"A 'esquerda' fora da Ucrânia se acostumou a ouvir somente pessoas de Moscou": entrevista com anarcossindicalistas na Ucrânia

Há outro ponto importante. Um plebiscito é um conceito legal. O “referendo” de hoje foi chamado pelas autoridades estatais. Isto significa que o “referendo” de hoje deve ser conduzido de acordo com a lei estatal. Mas com que lei se realiza exatamente um “referendo” nos territórios ocupados? A lei russa não diz absolutamente nada sobre referendos, nenhum referendo jamais foi realizado na Rússia desde 1991. A lei ucraniana, por outro lado, estipula que um referendo só pode ser realizado em todo o território do país, e não em regiões individuais. Em outras palavras, mesmo de um ponto de vista formal, esta é uma ação sem sentido, que não pode ter nenhuma conseqüência legal.

Estamos certos de que qualquer pessoa comum pode entender por si mesma em que acreditar sobre este “referendo”.

Y.T.: O que o futuro reserva para a Ucrânia após o fim da guerra? Ouvimos dizer que a UE está pressionando o governo ucraniano a aprovar nova legislação antissindical, e que a enorme dívida nacional não foi cancelada ou reduzida.

A.D. e S.Sh.: Após a vitória da Ucrânia na guerra, uma nova luta nos espera, pelos interesses sociais e econômicos do povo ucraniano. Sim, agora o governo já está aprovando novas leis antissindicais e, mais amplamente, antitrabalhistas. Mas esperamos que, após a vitória, tenhamos boas perspectivas para o desenvolvimento e ativação do movimento social e anarquista, pelos seguintes motivos.

Primeiro, o povo da Ucrânia já derrotou o agressor de certa forma, pelo menos venceu a primeira etapa da guerra. Isto aconteceu no final de fevereiro e março de 2022, quando a resistência na frente de batalha contrariou o plano original da blitzkrieg, o plano para uma rápida tomada de controle da Ucrânia. O povo viu sua própria força, sua própria capacidade de resistir a um inimigo externo. É pouco provável que tolerem silenciosamente um ataque futuro de um inimigo interno.

Em segundo lugar, o anarquismo não tem nada a ver com o fato de um punk com alfinetes de segurança na orelha pixar o “A na bola” na parede. Não é nem mesmo de um respeitável cientista de óculos dando mais uma palestra sobre os pensamentos e idéias de Proudhon ou Bakunin. O anarquismo é a capacidade das pessoas de resolverem seus próprios problemas sem o envolvimento do Estado e de outras estruturas hierárquicas. Resolver problemas baseados na auto-organização e na ampla interação de iniciativas locais. Não importa como chamam a si mesmos. O que importa é a substância, não o nome. No momento, existe um grande número dessas iniciativas auto-organizadas não estatais na Ucrânia. Elas lidam com uma variedade de questões, desde ajudar refugiados e guardar pequenas comunidades até fornecer aos militares tudo o que eles precisam. Neste sentido, a Ucrânia hoje segue práticas anarquistas mais do que muitas outras sociedades do mundo.

A propósito, não é esta uma boa imagem para dissipar um pouco o mito do “regime nazista” na Ucrânia?

Y.T.: Qual é, em sua opinião, a escala do atual contra-ataque? Ele pode ser considerado um ponto de inflexão na guerra? E quais são as perspectivas para os regimes nacionalistas de Putin e Lukashenko?

A.D. e S.Sh.: A escala é visível para todos: em três semanas, o exército ucraniano expulsou as tropas russas de toda a região de Kharkiv, e está gradualmente deslocando os combates para a região de Luhansk. A propósito, os russos estão tentando invadir a região há cinco meses. Agora o ritmo da ofensiva diminuiu consideravelmente, o que é bastante normal: sempre foi assim em todas as guerras. Se esta ofensiva será um ponto de inflexão, isso fica para historiadores do futuro.

 

Os regimes nacionalistas fascistas de Putin e Lukashenko irão inevitavelmente entrar em colapso. Quando e como isso vai acontecer — todos nós o veremos com nossos próprios olhos.

Y.T.: Foi dito que a invasão poderia terminar com algum tipo de negociação, com o Estado ucraniano abrindo mão de certos territórios para manter sua soberania independente sobre todas as outras regiões ucranianas.

A.D. e S.Sh.: Todas as guerras terminaram com a paz, mas nem todas as guerras terminaram com negociações. Por exemplo, as negociações não foram necessárias para terminar a guerra contra a Alemanha nazista: os nazistas foram destruídos e Hitler cometeu suicídio em seu bunker. O mesmo destino pode esperar Putin. Especialmente porque ele já preparou um bunker para si mesmo há muito tempo.

O compromisso de que está falando (ceder parte do território para manter a soberania do resto da Ucrânia) é impossível. Não é nem porque a entrega de alguns milhões de ucranianos ao regime fascista de Putin seria traição. A Rússia de hoje há muito mostra sua incapacidade de capitular, de coexistir pacificamente com os países vizinhos que escolheu como suas vítimas. Isto foi evidente nas duas guerras coloniais no Cáucaso. Nos anos 90, o povo checheno infligiu uma séria derrota ao exército russo e o governo russo concordou com a paz. Os anos seguintes foram passados preparando-se para uma nova invasão da Chechênia insubmissa, e quando uma nova força ainda mais poderosa foi reunida, o exército russo recomeçou tudo de novo.

A sociedade ucraniana se lembra desses eventos, e sabe que a única garantia para a paz será a completa derrota do exército russo, a destruição do regime de Putin e mudanças muito sérias no Estado e na sociedade russa. É provavelmente muito cedo para discutir as formas específicas destas mudanças, mas não podemos mais viver sem elas.

Y.T.: Muito obrigado por seu tempo! Cuide-se e continue lutando por uma Ucrânia mais livre, além do capitalismo e do estatismo!

A.D. e S.Sh.: Obrigado! Viva uma Ucrânia livre e independente!

"A 'esquerda' fora da Ucrânia se acostumou a ouvir somente pessoas de Moscou": entrevista com anarcossindicalistas na Ucrânia

Notas

[1] Desde o início do conflito entre a Rússia e a Ucrânia em 2014, há uma minoria notável que sofreu muito, mas poucos falam sobre o assunto — os tártaros muçulmanos da Crimeia. Desde o início da ocupação russa da Crimeia, as forças russas começaram uma grande repressão contra os tártaros muçulmanos, fechando seu canal de TV, proibindo suas organizações e mesmo espancando até a morte os manifestantes tártaros que reagiram à invasão, acreditando que seus direitos seriam afetados se a Crimeia ucraniana fosse anexada pelo regime russo de Putin. Como resultado, milhares de tártaros foram forçados a deixar suas casas e fugir. Sua comunidade se absteve do referendo sobre a anexação russa da Crimeia em 2014, que foi uma fraude perpetrada sob a mira de armas e com cédulas transparentes. Mas esta não é a primeira vez que os tártaros muçulmanos sofrem com o autoritarismo russo. Em 1944, durante o período soviético, mais de 180.000 tártaros da Crimeia foram forçados a embarcar em trens de gado e exilados para o Uzbequistão sob ordens de Joseph Stalin. Na época, a propaganda estatal soviética justificava essa política racista acusando todos os tártaros de serem colaboradores nazistas, apesar do fato de muitos tártaros terem servido no Exército Vermelho antes disso. Não esqueçamos, além disso, que em não poucas vezes a propaganda soviética justificou a prisão/expulsão em massa de várias minorias e opositores políticos (anarquistas, etc.) sob a sempre popular acusação de que eles eram “aliados ideológicos do fascismo”. É claro que esta política racista contra os tártaros muçulmanos não foi uma invenção do regime soviético. No Império Russo, o Czar, já no século XVIII, havia iniciado uma política de “eslavização” da Crimeia, iniciando as primeiras perseguições contra os tártaros. A URSS, como um bom sucessor do império, simplesmente continuou o trabalho do czar. Putin continua a fazer o mesmo hoje em dia, em apoio a suas ambições imperiais. Mais informações aqui.

Entrevista traduzida pelo Passa Palavra a partir da tradução para o inglês publicada pela revista anarquista britânica Freedom, disponível aqui .

 

As artes que ilustram o texto são da autoria de Alla Horska (1929-1970).

6 COMENTÁRIOS

  1. Quando você tem uma guerra entre nações ou por conta do governo de uma nação as pessoas são arrastadas para o conflito, portanto os lados acabam por se igualar, um vai ter que exterminar o outro e ambos sempre estarão “com a razão”. E os soldados o que são senão mercenários pagos para matar? Adotar um dos lados por quê? O que temos que focar é no fim do conflito seja da forma que for. Basta que cesse o conflito pare para se perceber que nada de substancial foi mudado por conta dele.
    Se este conflito tem uma singularidade é o fato de a Ucrânia poder ser uma nação refugiada ou imigrante em um certo sentido. Ela adota o mesmo comportamento dos imigrantes que fogem da miséria ou do “subdesenvolvimento” através da entrada Europa. Isto não pode ser condenado, afinal todos querem melhorar de vida e acham que encontraram o caminho de alguma forma. Entretanto não foram aceitos e já sabem que não serão aceitos, no entanto receberam uma promessa e o governo apostou todas as vidas humanas nesta promessa enganosa.
    O fato é que os soldados ucranianos, como previsto, estão sendo triturados pelo exército russo e o único destino previsível é o desmantelamento do país. Já perdeu territórios do lado russo e vai começar a perder pelo lado polonês, restando apenas um pequeno território sem saida para o mar. Antes que isto aconteça o melhor haver um acordo de paz ou rendição; queiram dar o nome que acharem melhor, pois dá na mesma.
    Pelo lado de fora penso que é mais fácil os ucranianos derrubarem seu governo que os russos derrubarem o deles. Quem está sofrendo mais é o lado ucraniano e perceberia os benefícios imediatos.
    Aproveitando o momento, gostaria de observar que esta visão estreita do conflito, onde aparecem apenas dois nacionalismos se enfrentando, não era esperada por mim ao visitar o Passapalavra, pois há muito mais envolvido nesta questão. Penso que deve ser observado que esta guerra não é movida pelos anseios do povo ucraniano, que está sendo usado como bucha de canhão de interesses maiores. Tem tudo a ver com o abastecimento de gás, petróleo russo e com o enfraquecimento da relação entre Rússia e Europa e também com o “ecologismo”.
    Os envolvidos diretamente no conflito vão sempre ter a visão obscurecida pelas suas aflições imediatas, bélicas, e como disse sempre terão razão sem necessariamente ter por isto condições de avaliar a própria situação. Espero assim ver algum artigo mais crítico a respeito desta situação.

  2. É simplesmente asqueroso – repito, asqueroso – ler um comentário onde a invasão imperialista de um país pelas forças armadas de um regime fascista é apresentada como uma guerra onde nações são “arrastadas” para o conflito – pobre Putin, “arrastado” para o conflito – e onde o comentador escreve que não se deve tomar um lado e o “melhor [é] haver um acordo de paz ou rendição” e que os ucranianos deveriam derrubar o seu governo – Putin fica bem onde está – , pois isto seria melhor para eles do que resistir à invasão fascista.

  3. No que diz respeito à guerra na Ucrânia, Ricardo Ronaldo Pinto só vem ao Passa Palavra para dizer que não gostou do que leu. Ora, ele bem poderia fazer o esforço de escrever o artigo que tanto espera ler, e também tentar publicá-lo em algum lugar. Só assim se entenderá o que espera.

  4. Fagner Henique, você se parece muito com a esquerda petista que vê o fascismo por toda parte. Tem afetação nacionalista e se comove com a soberania das nações (não vou cair na armadilha de dizer soberania dis povos). Tem que tapar os olhos como se não existisse a OTAN, como se não houvesse crise energética, como se não estivessem sendo enviadas armas e bilhões para a região, como se não estivessem caindo governos por conta de sanções bumerangue, como se não houvesse China. Tudo se resume a Puitin e sua vontade pessoal ou ao seu fascismo. E as usinas nucleares que firam substituídas pelo gás russo, onde entraram nisto? E a destruição das duas pipelines da Alemanha, onde entram? Tenha santa paciência! Não sou obrigado a acompanhar a miopia de ninguém. Quero maus e não menos. Estou sempre solicitando análises mais amplas porque acho de fato que há talentos aqui que possam faze-la melhor que eu. Uma coisa porém estou certo, não espero nada de quem tem visão limitada. Infelizmente é o seu caso.

  5. Ricardo vc suas frases são bastante confusas e um tanto chatas. Nem dá para comentar kkkk. Acho que tem passagem one-way para Moscovo saindo da Turquia, porque não pega um voozinho? Só sugerindo…

    PS força pessoal anti-autoritário Ucraniano. Eu nem presto atenção mais à “esquerda”.

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