Por João Bernardo

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A ecologia foi formulada pela primeira vez por Ernst Haeckel, um cientista de renome que no final da vida haveria de participar activamente na gestação dos embriões do fascismo alemão, e a ligação directa da ecologia, nomeadamente da agro-ecologia, aos fascismos não pode suscitar dúvidas a quem leia os ideólogos fascistas e estude obras históricas factualmente sérias sobre aquele período. É sugestivo que todos os que atacam as minhas críticas à ecologia — e são muitos — se mantenham silenciosos sobre as abundantes referências bibliográficas que indico. Com efeito, é mais fácil ter convicções do que argumentar com factos.

Ao mesmo tempo que, por um lado, procuravam estimular a industrialização e acelerar a modernização da economia, os regimes fascistas esforçavam-se por manter também sociedades rurais arcaicas e promoviam o mito de um campesinato primitivo, saudável e imune às contradições da modernidade. O ruralismo marcou com um selo indelével todos os fascismos sem excepção, limitando-me aqui a salientar os casos italiano, português e japonês, e foi notório na Roménia, especialmente na Legião do Arcanjo São Miguel e na sua Guarda de Ferro. Por vezes, algumas das páginas escritas por Codreanu recordam-me as apologias de Mao Tsé-Tung sobre os camponeses da China. Este lirismo político ruralista surgiu muito cedo entre os Wandervögel, que nas primeiras décadas do século XX mobilizaram a juventude escolar alemã na recusa da sociedade urbana e no louvor da vida campestre e da rudeza das montanhas. Os Wandervögel formaram um dos terrenos mais férteis para o surgimento do nacional-socialismo e germinou entre eles a noção do universo como organismo, com duas consequências ideológicas imediatas, o vitalismo e o espiritualismo neopagão, que depois marcariam profundamente o Terceiro Reich, onde a ligação da ecologia ao fascismo se pode constatar com facilidade.

A agricultura biodinâmica, que Rudolf Steiner havia inventado em 1924 no ambiente espiritualista e teosófico da antroposofia, foi adoptada em 1933 como doutrina oficial do Terceiro Reich por Walther Darré, ministro dos Abastecimentos e da Agricultura, que por conveniências de táctica política a denominou agricultura orgânica. Mas a teia de relações foi muito mais ampla. Não só Hitler e Göring, as duas principais figuras do Estado, eram ambientalistas e zelavam pela ecologia, mas também Heinrich Himmler, agrónomo e membro do Conselho dos Camponeses do Reich, manifestou a sua hostilidade à indústria alimentar e orientou em defesa da ecologia a poderosa máquina política, militar e económica dos SS, de que ele era o supremo comandante.

Blut und Boden, Sangue e Solo, um dos lemas centrais do nacional-socialismo, fundia numa noção única o racismo (o sangue) e a ecologia (o solo). Como sempre no Terceiro Reich, não se tratava de uma convicção materialista, mas espiritual, e a ecologia foi indissociável do movimento dos Gottgläubige, os Crentes em Deus, que os historiadores geralmente denominam neopagãos, para quem a raça e o solo eram objecto de um culto anticristão. Os nacionais-socialistas consideravam que os nórdicos, nomeadamente os germânicos, seriam dotados do sangue superior porque os uniria ao solo um elo espiritual de carácter especial, que os levaria a respeitar a natureza e a preservar-lhe o equilíbrio, enquanto o Judeu Errante era o símbolo de uma anti-raça constituída por nómadas sem raízes, tão destrutivos da natureza como da sociedade. Não sou eu quem o diz nem é uma dedução minha. Está textualmente nas declarações de Hitler, de Himmler e de outros dignitários, aliás era um lugar-comum no Terceiro Reich, basta ler as referências bibliográficas, mas é por isso que não as lêem. Compreende-se, assim, que o movimento ecológico actual esteja estreitamente ligado aos identitarismos que, como terei ocasião de mostrar, reproduzem os aspectos definidores do racismo nacional-socialista, nem é por acaso que o reaparecimento da ecologia foi acompanhado pelo misticismo neopagão da New Age.

No Terceiro Reich nunca se tratava apenas de ideias, mas ainda da sua execução. A ecologia, especialmente a agro-ecologia, fundiu-se indissoluvelmente com o racismo nacional-socialista nos seus aspectos mais destrutivos. O mesmo SS-Obergruppenführer que superintendia a administração económica dos campos de concentração recorria à agricultura orgânica para cultivar as terras de que era proprietário. E um dos principais antropósofos especialistas de agricultura biodinâmica, que entretanto já fora crismada de orgânica, ficou encarregado de dirigir a quinta (fazenda) experimental que Himmler fundara junto ao tragicamente célebre campo de concentração de Dachau. Foi ali que os SS estabeleceram a empresa de agricultura orgânica mais vasta e com maior êxito comercial de todo o Reich, o Instituto Germânico de Pesquisa Nutricional e Alimentar, onde os prisioneiros eram usados como escravos para cultivarem plantas pseudo-medicinais. Não se tratava de casos particulares, mas de uma norma geral, e quando Himmler promulgou em Dezembro de 1942 um decreto acerca da forma como o solo devia ser tratado nos territórios eslavos conquistados a Leste, ele determinou especificamente o respeito pelo equilíbrio de toda a natureza e a aplicação de uma agro-pecuária sustentável. Não é só por preguiça que os partidários do movimento ecológico não estudam a história, é por conveniência também, porque, se não a ignorassem, teriam de reconhecer que a agro-ecologia se filia nas ideias e na política do Terceiro Reich. Hoje as abominações da guerra contra a União Soviética são recordadas apenas pelas perseguições e as chacinas, quando seria interessante ver os ecologistas lembrá-las pelo lirismo da natureza e pelo paraíso da sustentabilidade.

É curioso que na política a perversidade de uns e os erros dos outros se conjuguem, porque o empenho que levou os fascistas, após a segunda guerra mundial, a dissimularem a sua malignidade foi favorecido pela censura que os Aliados vitoriosos exerceram sobre a literatura e a arte fascista. Uns queriam fazer-se esquecer e os outros queriam que eles não fossem lembrados, mas a História serve para recordar e não para ignorar. Ora, no antigo Reich as autoridades ocupantes confiscaram e destruíram os manuais escolares, incluindo os que difundiam as teses nacional-socialistas sobre ecologia, e assim se interrompeu uma memória que hoje ninguém parece interessado em reavivar. É certo que a agricultura orgânica continuou a ser defendida por alguns sobreviventes do nacional-socialismo, como o antigo ministro dos Abastecimentos e da Agricultura, e a ser aplicada na Grã-Bretanha graças a alguns excêntricos da fidalguia rural, mas só ressurgiu verdadeiramente na década de 1970, ao mesmo tempo que se dissolviam as esperanças suscitadas pelas lutas autonomistas e estudantis da década anterior. E então a contracultura, em vez de criar algo novo, ressuscitou o passado, promovendo a ecologia, acompanhada por um neopaganismo mascarado de New Age.

O fascismo surge sempre como um cruzamento entre extrema-esquerda e extrema-direita, em que certos temas provenientes de um lado repercutem no outro, e inversamente. Assim, aqueles que hoje pretendem situar na esquerda o movimento ecológico, ou parte dele, estão simplesmente a mostrar que esta modalidade de fascismo dos nossos dias emana da esquerda, mas foi um movimento gerado a partir da extrema-direita que lhe imprimiu o cunho originário. O facto de a ecologia ser hoje hegemónica na esquerda não indica nada acerca da ecologia, mas confirma tudo acerca do fascismo, e em vez de oferecer uma solução representa o problema.

Todavia, a minha crítica à ecologia enquanto componente do fascismo pós-fascista não se limita à filiação histórica e tenho sobretudo insistido no seu arcaísmo tecnológico e procurado mostrar as suas consequências económicas funestas. Faço-o sobre uma base de factos concretos e dados empíricos, porque não me interessam deduções a partir de especulações filosóficas. Uma teoria é um instrumento, e quando não serve para analisar a realidade ou se mostra parcialmente inadequada, deita-se fora ou remodela-se. Ora, como a realidade vai permanentemente mudando, as teorias têm sempre de ser substituídas ou adaptadas.

Há dez anos publiquei no Passa Palavra um ensaio intitulado Contra a ecologia. Para aí remeto quem estiver interessado em conhecer com algum detalhe os dados económicos que me levam a pôr em causa a ecologia e a agricultura orgânica, e pretendo agora apenas prolongar as conclusões desse ensaio de maneira a reatá-las com a génese fascista da agro-ecologia. Terá um especial interesse a quarta parte, A agroecologia e a mais-valia absoluta.

Em primeiro lugar, a agro-ecologia recorre a técnicas obsoletas que levam obrigatoriamente a uma baixa produtividade, calculada em função do número de trabalhadores e do tempo de trabalho, com a consequente pressão ao aumento do preço dos produtos. Em concorrência com géneros mais baratos, produzidos pela agro-indústria com formas modernas de cultivo, a única possibilidade de sobrevivência da agro-ecologia é orientar a sua produção para a gama de luxo, em que vigoram preços mais elevados. Ora, como os produtos da agro-ecologia têm pior aspecto, geralmente pior sabor e se deterioram com mais facilidade, a sua inclusão na gama de luxo deve-se à conjugação de dois tipos de operações. Por um lado, uma campanha de propaganda insidiosa faz crer que os alimentos produzidos pela agricultura industrializada seriam prejudiciais para a saúde. Por outro lado, o apelo a convicções de teor político ou místico, ou ambos em conjunto, tenta persuadir que a aquisição dos produtos da agricultura orgânica seria um acto politicamente correcto. Na história do capitalismo, só nos regimes fascistas encontro um semelhante recurso a valores ideológicos contra o pragmatismo económico.

Em segundo lugar, a baixa produtividade da agro-ecologia e o carácter arcaico das técnicas empregues inserem-na num quadro de exploração que na terminologia marxista se denomina mais-valia absoluta. A baixa produtividade por trabalhador e por tempo de trabalho faz com que esse tipo de agricultura necessite de mais mão-de-obra e, para concorrer no mercado, pratique jornadas mais longas. Ora, este carácter trabalho-intensivo, e não capital-intensivo como sucede na agricultura industrializada, vocaciona a agricultura orgânica para as unidades de produção familiares, onde o tempo de trabalho não é claramente contabilizado e onde é comum o aproveitamento do trabalho infantil. Este é também um aspecto em que a agro-ecologia reproduz os seus precedentes no fascismo, especialmente no Terceiro Reich, quando o Ministério dos Abastecimentos e da Agricultura, ao mesmo tempo que promovia a agricultura orgânica, reforçava o enquadramento familiar da pequena propriedade agrícola, num sistema de morgadios que, além de se expandir no Reich propriamente dito, deveria presidir à colonização dos territórios conquistados no Leste. A ecologia, através da exploração familiar, entrelaçou-se com os aspectos raciais mais agressivos do nacional-socialismo.

Finalmente, a baixa produtividade da agricultura orgânica, com a consequente quebra no volume de produção, faz com que ela seja incapaz de sustentar a população mundial. Basta olhar para as estatísticas e comparar o crescimento populacional e as extensões disponíveis de terra arável com as limitações impostas à produtividade pela agricultura orgânica. A palavra genocídio, se for correctamente empregue, aplica-se apenas a uma cultura ou uma etnia, mas neste caso ocorreria um massacre de muitos milhões de pessoas, indiferente à qualidade das vítimas. É mais uma vez o precedente do Terceiro Reich que devemos invocar, aquele metacapitalismo que se pretendeu instaurar e em que a produtividade económica era um critério deliberadamente secundarizado quando, por imperativos ideológicos, se massacrava a força de trabalho qualificada, no Reich e também nos territórios conquistados a Leste, além de se destruírem as indústrias nesses territórios. Ainda aqui o fio das recordações foi cortado, mas mesmo quando não o é, como no caso dos Khmers Vermelhos e mais recentemente do Sri Lanka, o esquecimento ocorre automaticamente. A repulsa pelo empírico é indispensável a toda a fé, e nada lhe é mais oposto do que a memória dos factos.

Os fascistas pretendiam-se anticapitalistas, mas isto significava um metacapitalismo em que a ideologia prevalecia sobre a economia, naquele misto de modernismo e primitivismo que caracterizou todo o fascismo. Durante a recente pandemia tivemos um exemplo trágico desse primitivismo, e do desprezo pela vida humana que ele implica, quando activistas de extrema-esquerda e de extrema-direita se uniram e confundiram nas ruas em protesto contra as vacinas e o que apelidavam de ditadura sanitária. Esta convergência de práticas e de temas contribuiu poderosamente para a gestação do fascismo actual, e não foi por acaso que muitos agro-ecológicos, defensores das mezinhas tradicionais, participaram nesses protestos. O fascismo não surge de uma única vez, feito para sempre, mas é repetidamente gerado, quando as circunstâncias históricas levam ao cruzamento de extremos.

Neste panorama, onde devo situar os marxistas ou, talvez mais exactamente, os que fazem parte das variadíssimas capelas que hoje se reivindicam do marxismo? Eles não lêem os autores fascistas nem as obras empiricamente sérias sobre o fascismo, e preferem ler Marx, que escreveu antes de o fascismo existir. Como seria de esperar, não ficam a saber nada. Mesmo Engels, quando escreveu sobre Dühring e sobre o general Boulanger, dois personagens antecipadores daquilo que o fascismo viria a ser, foi incapaz de intuir um fenómeno político que então mal despontava. Não devemos censurá-lo por isso, raros são os que se revelam capazes de interpretar os presságios. Quem devemos censurar são os que se circunscrevem a certos autores para indagar questões que esses autores não trataram.

Ainda mais curioso, ou mesmo hilariante, é vermos marxistas invocarem Marx para defender o movimento ecológico, quando ele e Engels foram apologistas do progresso das técnicas e entenderam a sua irreversibilidade. Para os dois fundadores do marxismo, o capitalismo alcançara um grau superior na emancipação tecnológica e social da humanidade, que permitiria chegar mais longe e sustentar uma sociedade libertada das necessidades materiais. Aliás, eles consideravam que o crescimento das forças produtivas ultrapassaria em dado momento os quadros jurídicos do capitalismo e precipitaria o advento do socialismo. O que na realidade sucedeu foi que esse crescimento obrigou a uma intervenção económica activa do Estado, tanto sob a forma de capitalismos de Estado como de sistemas mistos em que a propriedade estatal existe ao lado das empresas particulares. E sucedeu também que se desenvolveram formas colectivas de apropriação, mas respeitantes unicamente a uma classe capitalista, a classe dos gestores. O crescimento das forças produtivas, todavia, não alterou o carácter fundamental do capitalismo, que decorre das relações sociais de trabalho, assentes na exploração de mais-valia. É esta uma das ambiguidades cruciais do marxismo, ao admitir que a conexão entre as forças produtivas e as relações de propriedade acarretaria algo que só poderá ser conseguido — se o for — no plano das relações sociais, pela luta dos trabalhadores.

Se para Marx e Engels o capitalismo é um estádio histórico destinado a ser superado e as forças produtivas que ele desenvolve são a condição para alcançar o socialismo, considerado como emancipação dos constrangimentos materiais, a crise da esquerda transformou o marxismo no seu oposto — a emancipação tecnológica foi convertida numa catástrofe tecnológica, entendida como um conflito da sociedade contra a natureza, e a superação do capitalismo foi substituída pelo afã de eliminar e apagar todos os vestígios técnicos do capitalismo. Em suma, a transformação interna da sociedade mediante a luta de classes no plano da economia foi substituída pelo colapso exterior do capitalismo, profetizado pelo movimento ecológico, o que explica o desinteresse que a generalidade dos marxistas manifesta hoje pela análise económica. E assim a crítica social do marxismo deu lugar a uma apologia mística da natureza. Em vez da revolução social, temos o apocalipse. A dialéctica marxista converteu-se numa forma laica do dualismo religioso, o Bem contra o Mal.

Aliás, a noção de natureza propalada pelo movimento ecológico é mística, porque não existe natureza independente da nossa acção. Desde que se formaram as primeiras comunidades humanas elas inventaram técnicas para se protegerem de uma natureza destruidora, e a sobrevivência da sociedade foi assegurada por esse domínio técnico exercido sobre a natureza. Os grupos populacionais mais primitivos caçavam extensivamente, e antes de serem conhecidas formas de conservação dos alimentos o desperdício era enorme e, portanto, a razia de animais devia ser muito vasta. Em regra, quanto mais primitivas eram as técnicas, tanto mais destrutivas eram, em proporção dos benefícios obtidos. Depois, a acção da humanidade sobre a natureza deixou-lhe marcas ainda mais profundas e definitivas, e desde o início do neolítico que a domesticação dos vegetais e dos animais lhes provocou alterações genéticas, transmitidas muito para além da intervenção humana. Hoje, no cimo da mais alta montanha ou no centro da floresta mais densa e longínqua, a natureza está multimilenariamente alterada pela humanidade. A natureza natural não existe, a não ser nos delírios místicos do movimento ecológico. E quando as sociedades percebem a existência de um desequilíbrio entre as técnicas ou na relação das técnicas com a natureza, corrigem-no mediante a utilização de novas técnicas, eventualmente criando outros desequilíbrios, que serão depois corrigidos. Por isso não há nenhum equilíbrio natural, e o que denominamos desequilíbrio é, na verdade, a dinâmica da evolução das sociedades. Desde o Clube de Roma, se não antes, os ecologistas recorrem sistematicamente ao artifício demagógico que consiste em apresentar as projecções como se fossem uma previsão. Ora, na diferença entre estes dois métodos reside precisamente a criatividade humana, mas não é pelo facto de as projecções dos ecologistas nunca se terem verificado que eles desistem de anunciar a iminência da catástrofe.

O que Marx e Engels escreveram acerca das forças produtivas materiais é muito relevante enquanto nos restringirmos a elas. Mais relevante ainda, como sempre, é o estudo empírico da História, que nos mostra uma sucessão de técnicas nascidas no interior de um conjunto tecnológico e depois assimiladas por outros conjuntos tecnológicos, sem ficarem vincadas às tecnologias de origem. Uma tecnologia é uma estrutura que dita a posição e a função dos elementos técnicos que a compõem, tal como sucede às palavras numa língua, por exemplo. E assim como uma palavra pode mudar de língua e adquirir na nova estrutura linguística outra acepção, outro valor e até alterar a sua forma, também uma técnica pode ser inserida numa tecnologia diferente daquela em que se gerou e obter novas características, ditadas pela estrutura tecnológica em que se integrou.

Um exemplo clássico é a domesticação do fogo. O fogo teve uma enorme repercussão na vida material de todos os povos que aprenderam a domesticá-lo e conservá-lo e, em seguida, aprenderam a produzi-lo. Ora, as consequências desta técnica sobre a vida material foram inseparáveis da vida espiritual, porque os guardiães do fogo eram sacerdotes, encarregados de conservar viva a chama, e os principais deuses eram senhores do fogo, dos raios e trovões, com a sua capacidade simultaneamente destrutiva e benéfica. Passados muitos milénios, em civilizações urbanas já bastante evoluídas, o fogo continuava a ser um elemento central dos cultos, e ainda hoje, no catolicismo, o que são as velas senão uma pálida reminiscência do carácter sagrado das chamas? Agora vejo com frequência à entrada das igrejas velas eléctricas, possíveis de acender mediante a introdução de uma moeda. Este acidentado percurso, quase tão longo como a história da humanidade, ilustra a relação entre técnica e tecnologia. O fogo nunca deixou de ser imprescindível, embora deixasse de ocupar o centro da vida espiritual e depois se laicizasse, e tem sido um elemento técnico adoptado por todas as tecnologias. Outro exemplo é a roda, uma técnica que só raras tecnologias não usaram. Aliás, quais são as técnicas importantes que escapam a esta reflexão? Mas os adeptos dos movimentos ecológicos que se pretendem críticos da sociedade actual, e os eco-marxistas entre eles, imaginam que as técnicas geradas na tecnologia capitalista carregam inevitavelmente as características do capitalismo. Deixaram de considerar o capitalismo como um sistema de relações sociais de trabalho e resumiram-no gradualmente a uma tecnologia, entendida não como uma estrutura, mas como um bloco maléfico. Para eles a liquidação do capitalismo passou a cingir-se à eliminação de uma tecnologia.

Se tivesse sido o capitalismo a domesticar o fogo e a inventar a roda, os adeptos do movimento ecológico pretenderiam deixar-nos às escuras e a andar a pé. É com este fundamento que eles procedem à apologia das sociedades arcaicas e do ruralismo primitivo. Não entendem que se uma grande ruptura social levar à criação de uma nova tecnologia, as técnicas originariamente capitalistas podem ser inseridas na nova estrutura, onde adquirirão outras conotações. Na vaga de lutas autónomas durante as décadas de 1960 e 1970, as ocupações de empresas, em vários casos, esboçaram a integração das técnicas existentes numa possível remodelação da tecnologia, ao serviço de uma libertação dos trabalhadores. As técnicas do capitalismo da abundância podem ser assimiladas pela tecnologia de um eventual socialismo da abundância, mas os ecológicos pretendem instaurar uma sociedade de penúria.

Este ensaio é composto por seis partes. Pode ler aqui a primeira parte, a terceira parte, a quarta parte, a quinta parte e a sexta parte.

As obras que ilustram este texto são da autoria de Francis Picabia (1879-1953).

13 COMENTÁRIOS

  1. João Bernardo,
    recentemente estive buscando bibliografia sobre ecologia e nazismo, e encontrei na internet os livros de Anna Bramwell, autora de um livro bastante detalhado sobre Walther Darré. Faz pouco tempo também encontrei em pdf, em inglês, um livro da mesma autora sobre “Historia da Ecologia”. Parece ser uma autora interessante, pois nos poucos capítulos que li do livro sobre Darré, e nos prólogos, ela fala sem “papas nas línguas” sobre a relação entre ecologismo e nazismo, aparentando um grande entusiasmo pelas propostas ruralistas adotadas por Darré, dando a entender que eram excelentes ideias que infelizmente encontraram espaço num movimento político problemático.
    Você conhece outros autores que trabalhem nesta linha historiográfica da ecologia?

  2. Caro Lucas,

    No que diz respeito a bibliografia sobre estes assuntos, aconselho-o a ver a edição definitiva do Labirintos do Fascismo (São Paulo: Hedra, 2022). Mais não lhe posso indicar. Quanto à Anna Bramwell, é uma excelente autora, por duas razões. Em primeiro lugar, porque é uma académica, professora de uma boa universidade, e, portanto, é atenta aos factos e as indicações que fornece são correctas. Ora, não existe boa história que não seja factualmente exacta. A história não se faz com deduções a partir de teorias, faz-se com factos e a partir de factos. Em segundo lugar, porque a Anna Bramwell é defensora da agro-ecologia e simpatiza com o Walther Darré. Não se faz boa história se você restringir a bibliografia aos autores de quem seja partidário ideologicamente. A bibliografia deve pressupor um diálogo ou mesmo um confronto.

  3. Se tivesse sido o fascismo a domesticar o fogo e a inventar a roda, João Bernardo pretenderia deixar-nos às escuras e a andar a pé…

    Parece, pelo ensaio, que o avanço das forças produtivas da agricultura industrializada se fez somente em benefício da espécie… e que falta somente corrigir o último detalhe para que tenhamos em nossas mãos a técnica final que permitirá emancipar os povos (claro, após a revolução social). Nenhuma palavra sobre os malefício dessa agricultura, sobre as inúmeras pesquisas que demonstram como elas deterioram o planeta e pioram nossa saúde. Faz-se crer que tudo não passa de uma conspiração agroecológica para vender tomate orgânico…
    Ora, entre o que aqui se crítica e a hashtag o agro é pop, deve haver uma terceira via, não?
    Seria mais produtivo, já que a produtividade está tão em alta, que o texto apontasse para ela…

  4. O parágrafo inicial do Adorfo mostra a qualidade de sua atenção aos detalhes da crítica construída pelo João Bernardo. Imagina se tivesse lido o seguinte no ensaio: “todavia, a minha crítica à ecologia enquanto componente do fascismo pós-fascista não se limita à filiação histórica e tenho sobretudo insistido no seu arcaísmo tecnológico e procurado mostrar as suas consequências económicas funestas.”… nos pouparia a leitura de sua conclusão sem nexo. Ou talvez seja só má-fé mesmo.

    Quanto ao restante do comentário, lembrei-me de “Post-scriptum: contra a ecologia. 4) a agroecologia e a mais-valia absoluta”(https://passapalavra.info/2013/09/83203/). Se tiver vontade, leia o ensaio, bem como o debate decorrente de sua publicação.

  5. Caro João Bernardo,

    E quanto ao estabelecimento dos “santuários animais” (zapovednik) nos primeiros anos da URSS?

    Certamente aqui a iniciativa não foi movida, como no caso das reservas florestais criadas pelo regime nacional-socialista, por uma ideologia anti-moderna do tipo ‘sangue e solo’. O que temos no zapovednik é muito mais o reconhecimento do dever da humanidade de garantir que o prazer estético da contemplação da natureza seja possível para as gerações futuras – uma meta totalmente moderna, na medida em que a relação estética com a natureza só se torna possível no momento em que esta já foi dominada pela técnica e não é mais um perigo à auto-preservação dos homens ou um objeto de culto.

    Mesmo Trotsky, que em uma bela passagem de Literatura e Revolução afirma que a humanidade não deve temer seu próprio potencial de mudar montanhas e lagos de lugar, de interferir nos mecanismos mais íntimos da vida natural, foi pescar e contemplar a natureza para se consolar de seu fracasso histórico-mundial (https://www.nytimes.com/1937/07/08/archives/trotsky-on-fishing-trip-is-tired-of-civilization.html). Mesmo ele, cuja defesa do direito da humanidade de dobrar a natureza a sua vontade chegava ao ponto da defesa da eugenia, não se opôs à criação de reservas ecológicas.

    Os socialistas devem defender a abundância contra o malthusianismo, o anti-humanismo e a austeridade verdadeiramente genocida propostos pelos ambientalistas. Mas isso não significa que o mundo da abundância não incluirá abundantes reservas naturais, com uma abundância de espécies animais para serem contempladas e caçadas, com uma abundância de rios para andar de caiaque e pescas etc. Nem que não se reconhecerá a necessidade de administrar tecnologicamente o clima da melhor maneira possível, tendo em vista o florescimento do potencial humano futuro.

    Os socialistas devem se pautar pela ecologia de Thomas Jefferson: “Suponho ser evidente que a terra pertence ao usufruto dos vivos e que os mortos não têm poderes nem direitos sobre ela.(…). Portanto, nenhum homem pode, por direito natural, obrigar as terras que ocupou, ou as pessoas que o sucedem nessa ocupação, ao pagamento de dívidas contraídas por ele. Porque se o pudesse fazer, poderia, durante a sua própria vida, consumir o usufruto das terras por várias gerações vindouras, e então as terras pertenceriam aos mortos, e não aos vivos, o que seria o inverso do nosso princípio” (https://founders.archives.gov/documents/Jefferson/01-15-02-0375-0003).

  6. Caro Paulo Sampaio,

    Agradeço o seu comentário, que me permite esclarecer uma questão central.

    Eu não critico a ecologia enquanto ciência. Não critico as ciências. A minha crítica dirige-se aos movimentos ecológicos, que consideram que toda a sociedade industrial é destrutiva da natureza quando, pelo contrário, a tecnologia desenvolvida pela sociedade industrial é a primeira que permite a) detectar e b) evitar os efeitos nocivos exercidos pelos grupos humanos sobre a natureza. Ao longo da história, quanto mais rudimentares eram as técnicas, tanto maiores eram as destruições que provocavam, proporcionalmente à dimensão dos grupos humanos que as empregavam e ao volume de benefícios obtidos. Dominar a natureza, aproveitar ao máximo a natureza e, ao mesmo tempo, preservar a natureza — estes três objectivos só puderam ser formulados em conjunto na sociedade industrial.

    Eu abordei frequentemente esta questão, mas dou agora um único exemplo, de um período que estudei minuciosamente, o regime senhorial europeu. No Poder e Dinheiro observei, a respeito da madeira: «Esta matéria-prima ocupava o lugar crucial, não tendo decerto existido nenhum outro sistema tecnológico tão inteiramente dependente de um material único» (Porto: Afrontamento, vol. I, pág. 322). Aliás, a obra foi digitalizada por alguma boa alma e remeto-o para o que escrevi sobre o assunto nas págs. 315-322. O emprego extensivo do carvão no início da sociedade industrial foi uma consequência da destruição dos bosques durante o regime senhorial, devida a uma tecnologia centrada no uso da madeira. O estudo das sociedades pré-industriais pode resumir-se ao estudo da destruição maciça da natureza vegetal e animal. Aumentar a produtividade sem provocar essas destruições é algo que só a sociedade industrial conseguiu realizar. É este o alvo da minha crítica aos movimentos ecológicos.

    Você aponta exemplos soviéticos de preservação do meio ambiente, precisamente num regime que promoveu uma industrialização acelerada e maciça. Mas você não encontra no regime soviético a apologia de técnicas pré-capitalistas ou de mitologias pré-capitalistas, como sucede com a agricultura orgânica.

    É curioso que você cite Trotsky a este respeito, e eu remeto-o para uma passagem do Labirintos do Fascismo, onde escrevi: «Por que motivo a paisagem, deliberadamente representada como tal, só surgiu na época barroca, quando se generalizou uma urbanização consciente e planificada? Até então a paisagem limitara-se à decoração de narrativas, que eram o assunto principal das telas, mas emancipou-se durante o Barroco, e mesmo que a história ou o episódio continuassem presentes, haviam passado a ser apenas um pretexto. É que a paisagem é o campo visto com o olhar das pessoas da cidade. Na sua autobiografia escreveu Trotsky: “Nasci e fui criado no campo, mas só em Paris me aproximei da natureza. Foi lá também que deparei com a verdadeira arte”. A associação de ideias é elucidativa. É a arte que leva o habitante da cidade a olhar para a natureza. A paisagem não é o domínio dos valores rurais, é a sua nostalgia […]» (São Paulo: Hedra, 2022, vol. V, pág. 96). A paisagem é uma construção mental do habitante da cidade, e os jardins são o domínio que essa construção mental exerce sobre a natureza, uma verdadeira arquitectura humana da natureza. Ora, isto é o exacto contrário do que pretendem hoje os movimentos ecológicos.

    Não há um antagonismo entre sociedade industrial e preservação da natureza. Pelo contrário, uma é condição da outra.

  7. Sobre as aproximações possíveis entre textos atuais e textos de um século atrás deixo algumas citações:

    “A Rússia, o bolchevismo russo, não está prestes a colapsar. Mas o sistema soviético russo não persiste por ser bolchevique, por ser marxista, por ser internacionalista, mas sim por ser nacional, por ser russo. Nenhum czar jamais compreendeu o povo russo em sua profundidade, em suas paixões, em seus instintos nacionais como Lenin fez. Ele deu aos camponeses russos o que o bolchevismo sempre significou para os camponeses: propriedade e liberdade. Dessa maneira ele tornou o mais indígena dos grupos russos, os camponeses, o real sustentáculo do novo regime.
    […]
    Para recapitular: Lenin sacrificou Marx e no lugar deu à Rússia liberdade. Você quer sacrificar a Alemanha para dar liberadade para Marx.”

    “Estamos em um momento muito especial. Falamos de cosmologia em vez de teoria e de ideologia. Falamos em território, em vez de falar de fábrica. Falamos de aldeia, quilombo e terreiro, em vez de espaço de trabalho. O mundo do trabalho não é mais o mundo em debate, não está mais impondo sua pauta, está sendo substituído pelo mundo do saber, pelo mundo do viver.”
    “Alguns pensadores do Piauí escreveram muito bem sobre os quilombos, mas usaram a perspectiva do marxismo e isto me incomodou. Penso na nossa caminhada desde dentro do navio negreiro. Saiu o primeiro navio negreiro, eis o primeiro quilombo. O primeiro aquilombamento foi ali dentro, com as pessoas reagindo, jogando-se dentro do mar, batendo e morrendo. Aí começou o quilombo. E Marx nem existia naquele tempo! O que Marx tem a ver com isso? O que Marx disse, Palmares já tinha feito 200 anos antes. Acho que Marx tem o seu papel lá na Europa. Como dizemos lá no sertão, “cada quem no seu cada qual”.”

    A primeira é uma carta de Goebbels aos “amigos da esquerda”, já a segunda e a terceira são trechos do novo autor coqueluche da esquerda brasileira Antônio Bispo dos Santos.

  8. Depois de ler, na imprensa portuguesa, as notícias sobre a criança morta na comunidade do Reino do Pineal, e as declarações dos dirigentes dessa comunidade, a minha hostilidade política contra o misticismo ecológico foi acrescida pelo nojo e a repulsa. Leiam as noticias.

  9. É minimamente curiosa a convergência de ideais entre Água Akbal Pinheiro, líder do Reino de Pineal referido no comentário anterior, e grupos fascistas (ou, mais ainda, auto-intitulados enquanto nazistas) que fizeram de plataformas como o Telegram seu terreno.

    Da constituição estética e simbólica veiculada por Akbal em redes socais como o Facebook do mesmo, à construção de uma narrativa de inspiração mística – constituída, no caso dos grupos do Telegram, enquanto um “despertar espiritual” -, ou à construção de uma independência do Estado – que no caso dos grupos do Telegram se dá sob a acusação do Estado ser o representante de uma “Nova Ordem” que deve ser repudiada – ou ainda, a constituição de uma “própria cultura” – os grupos do Telegram conseguiram construir, não apenas uma rádio germinal na plataforma, mas também uma biblioteca virtual e um grupo destinado a crianças (!) -, são muitas as convergências entre ambos (e, certamente, não são mera coincidência).

  10. Para quem quiser se inteirar do caso mencionado, duas reportagens curtas e elucidativas:

    https://observador.pt/2023/07/19/morte-de-bebe-de-um-ano-em-seita-espiritual-de-coimbra-investigada-pelo-ministerio-publico/

    https://observador.pt/2023/07/19/lider-do-reino-do-pineal-quebra-silencio-sobre-morte-suspeita-do-filho-bebe-faleceu-enquanto-tentavamos-cura-lo/

    Na última, chama atenção a audácia de quererem que a morte misteriosa e o atirar das cinzas ao mar, de uma criança não registrada e ao que tudo indica vítima de algum ritual, deveria ser tomada como “um assunto privado de família”. E não surpreende, já que a “comunidade” “se baseia num culto da natureza em detrimento dos progressos da vida moderna”.

    Insinua-se ainda que criticar o caso seria perseguição à liberdade de ter sua própria cultura sem ser perseguido.

    Me parece também claro ainda um vínculo entre identitarismo e ecologia, que é perceptível em documentos da ONU e na prática de militantes de ambas as frentes.

  11. Quem se interessa por estes temas, deve conhecer as discussões que ocorreram na Argentina, pelo caso de uma gravidez infantil em uma comunidade Wichi. Um debate público se armou em torno ao direito da comunidade indígena de praticar as relações de gênero segundo sua tradição. No caso, o direito do homem da casa de aceder às carnes de qualquer mulher sob sua dependência. E como para eles não existe adolescência, uma criação ocidental, menstruou, tá liberado.
    https://www.cosecharoja.org/argentina-abuso-sexual-en-la-etnia-wichi-expertos-e-indigenas-debaten/

  12. Sobre o trecho que diz “como os produtos da agro-ecologia têm pior aspecto, geralmente pior sabor e se deterioram com mais facilidade” e prossegue elencando os motivos de sua inclusão na gama de luxo, talvez seja interessante ponderar alguma variação possível entre a agroecologia na Europa e no Brasil, que conta com abundância de terras e uma política de apoio ideológico e material ao produtor agroecológico que talvez resulte em maior acesso a bons fertilizantes etc. Menciono isso porque os produtos agroecológicos no Brasil não têm pior sabor e pior aspecto, embora de fato deteriorem com mais facilidade. Ou melhor, têm pior aspecto devido a deteriorarem com maior facilidade. Mas com esse comentário não estou me contrapondo à argumentação do autor, e inclusive trago outros elementos que corroboram a análise:

    1) Ao contrário do que se propagandeia, os produtos agroecológicos muitas vezes têm mais agrotóxicos (defensivos agrícolas) do que os industrializados. Quem me explicou isso foi um engenheiro agrícola defensor ferrenho da agroecologia. Após uma palestra sobre o tema ele lamentou comigo que “infelizmente há produtos que não conseguimos produzir sem usar algum defensor agrícola, às vezes escondido, porque pegaria mal. Morango por exemplo é impossível produzir sem alguma ajuda [de agrotóxicos]. Só que o pequeno produtor compra esses defensivos e usa de modo irresponsável, com medidas (quantidades) incorretas. O cara coloca um copo e dilui numa quantidade de água que deveria ter só uma colher, e taca [o composto] na horta. Aí a pessoa come o produto cheio de agrotóxico achando que não tem. Já as empresas nas fazendas não cometem esse erro, porque contratam gente profissional pra avaliar o solo, as condições, e dosar certinho a quantidade de agrotóxico a ser usada em cada situação e época. Eles precisam dosar certinho pra não perder dinheiro, porque um galão custa não sei quantos mil reais, e eles consomem milhares de galões, então imagina eles usando o produto de forma errada e tendo que comprar muito mais do que precisava?”

    2) Cinco anos depois dessa conversa tive uma conversa com um militante/produtor agroecológico e ele relatou uma situação de trabalho que lembra o trecho do artigo em que João fala da “ditadura sanitária”, só que aí seria a submissão do trabalhador a uma “ditadura agroecológica”: o militante comentava indignado o “inferno” que era “ter que produzir sem” o uso de defensivos agrícolas. Que tinha muito mais trabalho e os produtos ficavam menores e se perdiam com mais frequência para pragas, se tivesse qualquer descuido. Creio que esse trabalho extra, assim como outras espécies de trabalho artesanal, em certo sentido justifica a inclusão desses produtos na gama do luxo.

  13. O que um pé de coentro sabe sobre Fascismo? Pelo que demonstram João Bernardo & seguidores, tanto quanto estes compreendem de Agroecologia…

    A questão central de todos os equívocos, e ilusões, continua sendo considerar haver uma separação entre humano e meio-ambiente. Em outras palavras: entre Natureza e Cultura.

    O mundo em que vivemos hoje (https://passapalavra.info/2023/08/148945/) é o de uma inédita crise climática, causada pelo Capitalismo e, no caso do Brasil, exponenciada pelo agronegócio e a mineração.

    O efeitos mais insidiosos desta catástrofe climática já são experimentados em nossos corpos. Seja pelos diversos distúrbios do sono; pelos desequilíbrios hormonais; ou mesmo a instabilidade psico-emocional.

    Do jeito dele, o pé de coentro percebe tudo isto. Enquanto João Bernardo & seguidores seguem incapazes de perceber o pé de coentro.

    Haja ansiolíticos!

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