Por Isadora de Andrade Guerreiro

As eleições municipais de São Paulo costumam ser relevantes do ponto de vista nacional, dando parte do tom das eleições presidenciais daqui dois anos. A considerar o quadro que tivemos por aqui no primeiro turno, as coisas serão, no mínimo, movimentadas para além da polarização que caracterizou a disputa de 2022.

Nesse pleito, em primeiro turno, tivemos a presença disruptiva de extrema-direita de Pablo Marçal (PRTB), que conseguiu embaralhar o cenário paulistano de maneira contundente – para além da “terceira via” antes representada pelo PDT de Ciro Gomes e, agora, pelo PSB de Tabata Amaral, que parece fazer apenas cócegas no cenário mais amplo. Além disso, pela primeira vez a frente de esquerda não foi encabeçada pelo PT, mas sim pelo PSOL na figura de Guilherme Boulos – que, na verdade, veio para ofuscar o sol não só da legenda, mas de toda a frente do que sobrou da esquerda. Foi também a morte política definitiva do PSDB na capital, que não elegeu ninguém para o legislativo e, de maneira bastante significativa, apresentou candidato ao executivo (José Luiz Datena) que textualmente se arrependeu de disputar e protagonizou a cena da cadeirada ao vivo em Marçal – cena que, simbolicamente, representa bem o sentimento de parte desta elite ex-PSDBista em relação à nova direita popular, que não entende de onde surgiu nem sabe como lidar. Ricardo Nunes (MDB), por fim, que aparece como favorito para a reeleição, traz consigo também parte do simbolismo do fim do PSDB paulista: prefeito depois da morte de Bruno Covas (neto de Mário Covas, figura histórica da tradição tucana), de quem era vice, pode ser caracterizado como a nova cara do centrão que, de maneira antropofágica, trouxe para dentro de si a face oculta da neo-privatização do Estado – o submundo das articulações do capital financeiro quando toca o chão dos territórios periféricos. O centrão dos vices (à esquerda e à direita, como sempre) parece tomar corpo próprio, levando os bastidores para o palco principal e não dando confiança nem à esquerda (de quem não precisa mais, dada sua fragilidade), nem à direita (veja-se o apoio tímido de Bolsonaro a Nunes).

Gostaria de falar um pouco mais dessas questões tendo em vista a territorialização dos votos na cidade, que me parece ser bastante significativa para entendermos como o chão político está se movendo. O LabCidade FAU-USP fez uma cartografia da votação procurando matizar o mapa da imprensa que mostra apenas os vencedores das zonas eleitorais, que simplifica muito o cenário de disputa acirrada em toda a cidade. Fato é que, quem venceu em cada zona, o fez por muito pouco, sendo o páreo entre Marçal, Nunes e Boulos sempre muito intenso, de maneira quase generalizada em toda a cidade. As maiores diferenças em relação à média geral da cidade se deram na parte de mais alta renda da cidade, o chamado vetor sudoeste – único em que Tabata deu uma mexida no jogo, mas sem oferecer perigo. Em seguida, chamam a atenção o vetor nordeste próximo ao centro; a Zona Sul, periferia próxima aos mananciais; e o extremo leste. Cada uma dessas regiões teve disputas específicas, que têm a ver com processos históricos de constituição desses bairros, que são significativas para refletirmos sobre os rumos da política atual.

Primeiramente, não é possível mais fazer a análise por meio da clássica divisão concêntrica da cidade, com maior renda próxima ao centro e as mais baixas para as periferias, a primeira com voto majoritariamente conservador ou centrista e as periferias com tendência à esquerda. Assim como há fragmentação nas periferias, há nitidamente cada vez mais uma fragmentação da elite. Atualmente a antiga elite, do vetor sudoeste, parece ter se dividido em dois grupos: a tradicional elite proprietária e financeira (do Jd. Paulista e Indianópolis, onde ficam os centros empresariais da cidade e os bairros elitizados) – que tem preferência por Nunes, mas com disputa de segundo lugar entre Boulos (Jd. Paulista, de maior renda) e Marçal (Indianópolis, de classe média variada), com presença relevante de Tabata; e a elite intelectualizada e mais jovem (Perdizes e Pinheiros), que teve preferência por Boulos, disputando com Nunes no segundo lugar. Nesses locais Marçal teve seus piores índices, mas que ainda assim giram em torno de 20%, porcentagem relevante e em disputa próxima com os melhores índices de Tabata. Ficam claras aqui as consequências da morte do PSDB, que antigamente dava coerência à toda esta região. Surgem desde tendências esquerdizantes (fruto da polarização com o bolsonarismo, de difícil aceitação) a um mal estar em relação ao centrão, que leva mais por falta de opção do que por adesão apaixonada. Interessante notar que são próximas as tendências vinculadas ao empreendedorismo entre a extrema-direita popular de Marçal e o discurso de inovação empresarial de Tabata.

Mais interessante ainda é que estes dois grupos da elite tradicional da cidade se veem subitamente pressionados na sua hegemonia política pelo vetor nordeste da cidade, que tem se transformado cada vez mais em local de uma nova elite (cultural e econômica), fruto da ascensão de classes trabalhadoras tradicionais da Zona Leste e de uma nova classe média, ligada a valores mais empreendedores do que a antiga elite. Já falei em outro momento das tendências fascistizantes do Tatuapé (que se transformou na “Little Italy” paulistana, por conta da enorme presença da cúpula do PCC no bairro, em referência ao bairro nova iorquino que sediava a máfia italiana nos EUA), e é de se notar a mudança urbana via mercado imobiliário de classe média ali, na Vila Maria e na Móoca, antigos bairros operários. É nesta região toda, que se expandiu de forma incrível para a periferia na Zona Norte e Leste, que Marçal teve suas melhores votações, ainda que muito próximas à Nunes. Quanto mais à leste, mais essa disputa de segundo lugar vai ficando com Boulos – e aqui esses votos são principalmente da herança petista.

Vemos que aqui, diferente da disputa com Tabata nos centros empresariais, ficam muito claras as articulações entre o empreendedorismo popular, a extrema-direita e todo um arcabouço moral ligado à tradição da família (operária) e à segurança da (relativamente pequena) propriedade, na forma de condomínios fechados – cenário muito diferente das grandes mansões da Zona Oeste. O disruptivo é que essas classes estão disputando seu espaço nas elites, e de maneira bastante violenta – como seu candidato atual expressa cabalmente, tendo também origens profundas com o malufismo da região que, no entanto, era também o candidato do “lado de lá” do centro (Jd. Paulista que é, aliás, o local onde Paulo Maluf morava e Pablo Marçal recentemente mora… dois “PM” que gostam particularmente da sigla). Essa conexão entre a elite tradicional e a antiga elite operária e uma classe média conservadora é que parece estar se movendo com o fenômeno Marçal.

É que o “lado de lá” do centro está, realmente, sem candidato. Tabata não convence e Nunes não é um candidato tradicional da elite. Sua trajetória política e articulações atuais são muito típicas do centrão clássico, cujos votos são em maior quantidade vindos de currais eleitorais onde, territorialmente, há ganhos diretos para a população, numa articulação clientelista. É muito significativo que, no mapa de concentração de votos de Nunes, seu centro irradiador seja a Pedreira, bairro periférico da Zona Sul – e não o Jd. Paulista. Se o Jd. Paulista está votando com a Pedreira, há algo a ser dito. No caso, não me parece ser paixão, mas falta de opção e a continuidade da máquina da prefeitura – e da Câmara –, além da herança de ter sido vice de Bruno Covas – elementos bastante frágeis para esta elite meio amorfa.

Nunes é o centrão que ganha cada vez mais lugar autônomo em relação à polarização entre a extrema direita e a frentona de centro-esquerda, sem precisar ser vice de nenhum lado, como tem sido desde o fim do MDB. A “terceira via” que cresce não é a luminosidade do empresariamento inovador de “impacto social” de Tabata, mas sim a obscuridade de um clientelismo que se renova em meio à financeirização dos direitos. Esta, que parece muito limpinha quando vista do ponto de vista da bancarização, das Parcerias Público-Privadas e dos auxílios que “redistribuem renda” e “dão oportunidades”, quando toca no chão da cidade mostra seu lado perverso. Endividamento, remoções violentas e extrajudiciais, crescimento de segurança privada, empreendedorismo competitivo, encarceramento, avanço do mercado imobiliário informal em áreas comuns das comunidades, acesso aos direitos básicos pelo mercado popular precário, violência policial e uma relação com o poder público que se dá pelas margens, pelos intermediários das políticas públicas e forças ligadas ao poder legislativo que conformam um “bazar de mercadorias políticas” (Michel Misse) que já não é tão paralelo. A privatização acompanha o crescimento de dinâmicas rentistas vinculadas aos territórios periféricos, e seus agentes são de mercado, importando pouco sua conformação legal. Aliás, esta passagem de fronteiras entre o legal e o ilegal fica bem borrada quando cada vez mais vem a público as relações entre o PCC (Primeiro Comando da Capital) e os grandes contratos públicos – que sempre existiram, como sempre existiu o centrão, mas que ganham cada vez mais centralidade política quando as expectativas políticas diminuem.

Nunes é um candidato que dá resposta pragmática a uma nova precariedade periférica (que não é miserável), ao promover articulação de lideranças com financiamentos de obras e empresários pequenos e médios, na fronteira da legalidade. Seus subprefeitos – responsáveis pela intermediação das obras públicas nos territórios – tiveram sucesso na eleição para o legislativo, e a parte da Zona Sul no qual teve mais votos é aquela disputada entre diferentes formas de clientelismo encabeçado por vereadores (entre a família Tatto do PT e a família Leite do União Brasil). A queda (histórica) de um dos Tatto (Arselino) e ascensão de “Silvão”, dos Leite, na região dos mananciais, demonstra que a disputa está se desequilibrando. Não é para menos: a gestão Nunes teve muito dinheiro em caixa1 e o aplicou na casa dos bilhões em dois grandes programas vinculados à habitação: o Programa Mananciais (que teve investimento recorde e desproporcional em relação às duas décadas anteriores) e o Pode Entrar, enorme programa habitacional lançado após o fim do Faixa 1 do MCMV durante a gestão Bolsonaro – que beneficiou movimentos de moradia variados e empresários da construção civil, que passam por um boom local de lançamentos, sendo mais da metade em habitação de interesse social, parte dela comprada pelo programa. Do lado dos movimentos, é importante frisar outra alteração histórica: pela primeira vez o Conselho Municipal de Habitação tem maioria de votos de movimentos de moradia vinculados ao centrão, deixando sem ação os movimentos ligados à frente de esquerda. Nunes, portanto, é a vitória de uma máquina clientelista que ganha muito mais espaço do que tinha antes, dando nova cara à gestão de populações por lideranças políticas “renovadas” pelo empreendedorismo político empresariado pela informalidade, expulsando – violentamente – o que poderia restar de resistência de esquerda vinculada à rede política da hegemonia anterior.

Já Boulos, do ponto de vista da territorialização dos votos, representa bem o significado de uma política de frente ampla – cuja baixa força eleitoral no segundo turno demonstra cada vez mais fragilidade. Seus votos têm significados diferentes em cada região onde se concentram: o vetor sudoeste das elites intelectuais de Perdizes e Pinheiros (que votam majoritariamente contra o bolsonarismo, na verdade), por um lado e, por outro, a Bela Vista, bairro negro e mobilizado da região central; a extrema Zona Leste de São Mateus e Cidade Tiradentes, marcadas historicamente pela mobilização de movimentos de base do PT, com muitos empreendimentos habitacionais autogeridos e ocupações organizadas e, hoje, com forte presença de coletivos culturais periféricos; e a parte da Zona Sul mais antiga e consolidada de Valo Velho, Jd. Ângela, Capão Redondo e Campo Limpo, também de forte herança petista e, também, local de presença relevante do MTST coordenado por Boulos. Esta parte da Zona Sul, aliás, tem o segundo lugar extremamente disputado entre Nunes e Marçal, com a dianteira do último no Campo Limpo e no Capão e empate no Jd. São Luís (regiões mais consolidadas e com a presença de uma nova classe trabalhadora que ascendeu no lulismo), o que não ocorre na região dos mananciais, mais jovem e menos consolidada, de prevalência do clientelismo de Nunes. O fio da navalha fica claro quando se vê a votação de vereadores: fora o fundão do Jd. Ângela, essa região toda da ZS foi loteada pelo “Silvinho”, dos Leite, e por Isac Félix, do PL – ambos a mais fina flor do clientelismo velho de guerra.

Há que se notar, ainda, que parte do Grajaú, na região dos mananciais – que teve maioria de Nunes e da família Leite – foi bastante disputada com a tradição de lutas de esquerda (a diferença entre eles foi de 1%), mesmo com a injeção pesada de recursos da prefeitura na região. É possível que talvez até mesmo tivesse ganho se parte dos cerca de 50 mil votos perdidos por Boulos pelo voto no número 13 (do PT que, por não estar no páreo, foi anulado) tivesse acompanhado a mudança dos tempos. Mas, como parte do cenário atual, tal perda de votos me parece bastante significativa – na medida em que não é, de fato, um voto em Boulos, e isso precisa ser considerado seriamente e não como “mais uma ignorância do povo”. É um prenúncio catastrófico para a esquerda institucional, na verdade: demonstra que sua renovação não tem a força eleitoral que propagandeia ter e que, com o tempo, parece que será perdida – já que os mais jovens eleitores da cidade têm preferência por Marçal.

Tal fragilidade tem muitas razões, mas como estou falando do ponto de vista urbano, me limitarei ao tema. Boulos é um legítimo representante – e agente ativo – do direcionamento da energia radical do pré-2013 para políticas públicas de habitação, urbanização e regularização fundiárias produtivistas, mercantilizadas, corporativistas e pacificadoras. Nesta mesma Zona Sul hoje disputada, precisamos lembrar que ocorreram mais de 20 ocupações de terra no segundo semestre de 2013, com grande energia combativa ao cenário de devastação promovido pelas remoções do Programa Mananciais – e que hoje foram tomadas pela lógica clientelista, pelo empresariamento social ou pelo controle territorial criminal mesmo. Precisamos lembrar que as ocupações do MTST no Campo Limpo e na vizinha cidade de Taboão da Serra se direcionaram para um empreendimento habitacional que negou toda a tradição autogestionária na moradia, com a entrada da Empreitada Global como forma cada vez mais hegemônica de produção habitacional pelos movimentos de moradia no geral. Bem, para fazer isso, o clientelismo faz melhor, de forma muito mais pragmática e eficiente. Fica bem clara a disputa em jogo, e a fragilidade de uma esquerda que abandonou sua especificidade e não se faz diferenciar por um projeto próprio nem mobiliza as energias transformadoras e radicais que existiam naquele e em muitos outros territórios.

Com quem essa frente ampla está falando afinal? Do ponto de vista das políticas urbanas e habitacionais, está difícil ver algo fora do consenso – que caminhará com Nunes, com a perda progressiva de espaço (e de unidades habitacionais) pelos movimentos de esquerda. Pois, para fazer um quantitativo abstrato de moradia, mercado e clientelismo fazem com certeza mais – na medida em que o “melhor” está fora de questão, a ponto de nem se saber mais o que é a cidade que queremos como contraposição à cidade capitalista. A esquerda deixou de se colocar como representante de outro projeto de cidade e de outra forma de produzir cidade, qualquer que seja. Se a promessa é mais mercadoria, e se a revolta contra a espoliação e exploração é capturada pela extrema-direita, o que nos sobra? Votos contra o bolsonarismo (que está em plena transformação, mostrando vitalidade de prescindir de Bolsonaro) e uma herança petista em declínio geracional não parecem poder sustentar isso por muito tempo.

Nota

[1] Principalmente pelo saneamento das contas feito pela gestão de Haddad, que negociou a dívida da cidade com o governo federal; e pela venda do Campo de Marte por Nunes para o governo federal sob gestão Bolsonaro em 2021.

3 COMENTÁRIOS

  1. Muito boas as análises!
    Não sei se vocês no LabCidade chegaram a ver, mas a folha publicou também um mapeamento do voto de vereadores, com bem mais nuances do que ao de prefeitos, penso que ajudam a mapear as relações clientelísticas que você debate no texto.
    https://www1.folha.uol.com.br/poder/2024/10/votos-em-vereadores-mostram-ilhas-ideologicas-em-bairros-de-sao-paulo.shtml
    O grande problema é que eles usam o GPS político deles como critério, que faz a Janaína Paschoal ser considerada mais ao centro do que a família leite.

  2. Isadora, não entendi os seguintes conceitos: “de maneira antropofágica”, neo-privatização e elite operária. Poderia esclarecer?

  3. LL,

    Obrigada pela indicação, eu já tinha visto a matéria, que sofre irremediavelmente de falta de precisão por conta desse GPS político esquisito da Folha. Internamente ao LabCidade foram cartografados os votos no legislativo, certamente isso vai para os nossos dados abertos em breve.

    Liv,

    Obrigada pelas questões, me ajudam a explicar melhor meu ponto de vista.
    Quando falei que o centrão age de maneira antropofágica em relação à neo-privatização do Estado, estava me referindo, primeiramente, ao movimento antropofágico na arte modernista brasileira da década de 1920. Tal movimento pretendeu criar uma arte nacional a partir da “deglutição” e “digestão” de elementos do modernismo europeu que, assim, passariam por uma repaginação brasileira. Ao usar esse termo, eu estava dizendo que o centrão faz a “digestão” dos elementos da financeirização, dando a este processo uma cara brasileira própria (considerando que ele acontece em todo o globo). Essa cara seria a renovação do clientelismo, na medida em que o mesmo é a face primitiva da privatização do Estado.
    Por neo-privatização, portanto, estou entendendo que é uma nova fase de privatização diferente daquela da década de 1990, na qual empresas públicas eram transferidas para o setor privado. Hoje, a privatização se dá pelas vias da financeirização, que mantém os bens e relações estatais e captura apenas os fluxos de rendimentos que esta ação pode trazer. O clientelismo cabe bem aí, pois mantém o vínculo estatal, mas privatiza seus rendimentos políticos. No caso das políticas urbanas, cada vez mais essa captura de rentabilidade é diretamente financeira através da securitização de processos privados de regularização fundiária, das PPPs de moradia e de serviços urbanos e de ações de impacto social (reformas de casas e regularização fundiária). Há também rentismo na monopolização da captura dos auxílios-aluguéis e da valorização de urbanização de favelas, com articulação de agentes locais também bastante relacionados ao clientelismo.
    Por fim, por “elite operária” eu me referia àqueles trabalhadores fabris de maior especialização técnica e maiores salários, que historicamente foram morar na região da Zona Leste mais próxima ao centro da cidade, mais consolidada e antiga (sua origem de ocupação é do final do século XIX com vilas operárias) do que o subúrbio e as periferias autoconstruídas ou realizadas por programas públicos durante a década de 1970, que conformam as regiões mais longínquas e precárias da ZL. Sempre houve diferença política entre estas frações da classe operária, na medida em que a elite operária se transformou em proprietária de sua moradia e com nível de consumo maior do que os demais operários, ainda que pouco comparável às elites tradicionais proprietárias dos meios de produção, ou gestores e profissionais liberais, na Zona Oeste. Esta elite operária não está tão exposta ao clientelismo pois vive em regiões consolidadas da cidade, e tem maior distanciamento da esquerda pois quer se diferenciar da classe trabalhadora (que também é) e acenar aos patrões (muito do sindicalismo pelego nasce daí). Minha tese aqui no texto é de que esta fração de classe está se autonomizando seja das elites proprietárias e intelectuais, seja da esquerda clássica, por conta da ascensão da extrema-direita popular, que lhe cai bem ao resolver sua esquizofrenia.

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