Por Passa Palavra
As recentes manifestações nos EUA, motivadas pelo assassinato de George Floyd pela polícia, têm sido assunto frequente tanto na mídia tradicional quanto nas discussões entre a esquerda. Localmente, as manifestações de grupos fascistas provocaram a reação de grupos antifascistas, levando às ruas das principais cidades brasileiras setores da esquerda. E todas essas revoltas, antirracistas e antifascistas, articuladas ou separadas, dividiram organizações de esquerda que eram até então consensuais em torno da defesa das medidas de isolamento social.
O Brasil, assim como os EUA, tem um governo de extrema-direita que se assinalou por ignorar a ciência no combate à pandemia. O presidente Bolsonaro tratou de minimizar os efeitos da covid-19, insistindo em dizer que era necessário que as pessoas continuassem trabalhando, que poucos iriam morrer — o que tem sido desmentido pelos crescentes números diários. Em conformidade com esse discurso, a ala mais radical do fascismo bolsonarista tem semanalmente ido às ruas, pedindo uma maior radicalização do governo, ataques ao Congresso e ao Judiciário e exigindo o fim do distanciamento social. Por mais que essas manifestações sejam diminutas, é patente o incômodo que isso gera, pelos seus possíveis desdobramentos na estruturação de um movimento fascista articulado, ao qual estaríamos assistindo atônitos e sem nada fazer. Além disso, parte da esquerda permanece confinada em casa há mais de dois meses e sente estar perdendo espaço para os fascistas nas ruas.
Outro fator de pressão contrário ao isolamento tem sido sua violação diária por questões materiais, tanto de patrões dos mais variados setores que não liberaram seus trabalhadores — transformando em uma pauta de luta dos trabalhadores o que em outros lugares foi uma ação dos próprios capitalistas — quanto pela queda bruta de renda de diferentes grupos de trabalhadores (informais, vendedores, barbeiros, garçons, manicures, etc.) que, na melhor das hipóteses, tiveram acesso — muitas vezes com grande dificuldade — ao auxílio emergencial do governo, cuja prorrogação é incerta e poderá ser feita com o pagamento da metade do valor dos dois primeiros meses. Ademais, os governadores e prefeitos das grandes cidades, que vinham sustentando a política de distanciamento social, começaram a relaxar as medidas em nome da reativação da economia; parecem achar o número diário de mortes aceitável. Com esse regresso ao trabalho e a normalização de algumas atividades econômicas, ganha relevo o argumento de que, se o trabalhador já está voltando a ser explorado, por que apenas os protestos não devem voltar a acontecer?
Soma-se a isso a urgência expressa de lidar com os recorrentes assassinatos de crianças, adolescentes e jovens negros e moradores de periferias cometidos pela polícia no Brasil; de fato parece ter pouco sentido apelar para ficar em casa àqueles que têm seus filhos mortos dentro dela, ou quando estão fazendo ações de solidariedade. Esses absurdos fazem com que a esquerda reforce o seu entendimento de que “o capitalismo assassina pessoas todos os dias”, o que serve de denúncia, mas normaliza as mortes. Aliás, no Rio de Janeiro, a covid-19 em três meses superou as mortes violentas de todo o ano passado. A questão que se coloca é: como nós, trabalhadores, podemos nos mobilizar protegendo as nossas vidas?
Em tempos em que é necessário falar o óbvio, não dizemos que o fascismo não deve ser combatido, nem que a revolta contra a violência policial não é justa. A questão é: quais os meios para combatê-los em tempos de pandemia? A autoproclamação antifascista resgata símbolos e histórias da luta contra o fascismo, mas não observa que surgiram quando não havia, como hoje, uma pandemia de proporções inéditas a ameaçar a vida de setores expressivos da classe trabalhadora. Este elemento torna fútil e perigoso o resgate acrítico de experiências como a Guerra Civil Espanhola e a resistência antifranquista, e a luta da Aliança Nacional Libertadora e a Frente Única Antifascista contra o Estado Novo varguista. Fútil, inclusive, porque tal resgate não reflete sobre as razões da derrota das forças antifascistas daquele tempo. Ser revolucionário é ser, fundamentalmente, criativo: trata-se de inventar formas de luta adequadas à situação presente, não de idolatrar formas de luta do passado. Ganha-se mais olhando para esse passado de forma crítica, inclusive entendendo suas limitações em cada contexto, que defendendo a simples agitação de bandeiras, o puro enfrentamento de rua ou o combate estritamente simbólico, afirmando uma suposta identidade antifascista.
A situação fica muito mais complexa por conta da pandemia. As manifestações podem de fato ser um foco de infecção: pessoas reunidas, com alto grau de proximidade, gritando. Das duas uma: ou reúne-se um número mínimo de participantes em manifestações respeitando o distanciamento entre eles, ou provoca-se uma revolta generalizada e se perde também de vista que podemos causar mortes entre os nossos. Isso gera uma situação contraditória de pessoas que acham que se deve ir às ruas, desde que não sejam elas a fazê-lo. Proteja-se quem puder, quem não puder que lute. É a ressignificação no “eles que lutem”.
As lutas dos trabalhadores visam a um maior controle de suas vidas. Não faz sentido isso incluir uma política que levará à morte de mais trabalhadores. Afinal é disso que estamos falando, o maior número de mortos está entre os estratos mais baixos da classe trabalhadora, por conta das piores condições de saúde advindas de uma inclusão mais precária na sociedade capitalista. A tarefa é, de um lado, nos organizarmos para desfazer as bases populares do fascismo em ascensão em locais de trabalho e moradia, evidenciando, de outro, que a defesa da volta ao trabalho beneficia aos patrões, e não aos trabalhadores.
Este artigo foi ilustrado com obras do artista americano Lyonel Feininger (1871–1956).
Caríssimos, faz tempo que não passo por aqui, saudades.
As manifestações não estão levando pessoas às ruas, elas já estão lá! O bozo-vírus em grande medida ganhou, tanto nas ruas, nos trabalhos, nas lojas abertas clandestinamente, nos corona festi, quanto forçando a flexibilização das medidas de contenção dos governadores. E eu pergunto, em termos de infecção, o que é uma aglomeração na praça perto de um metrô ou ônibus lotado?
abraços, fora bozo.
Conversava com um amigo dias atrás falando da sensação de impotência que vivemos nesse momento, salta a olhos vistos os milhares de pessoas morrendo, a ação governamental incentivando mais mortes e nos sentimos incapazes de intervir para mudar os rumos das coisas.
Imagino que parte das pessoas que chamam essas manifestações estivessem sentindo a mesma coisa e acreditam que com as manifestações a política de morte irá se desfazer. A sensação de poder em momentos de ir para rua é de fato inebriante, parece que naquele momento tudo podemos. Entretanto, esse poder é, por vezes, ilusório. As lutas sociais costumam ter desenvolvimentos mais complexos que sair na rua e se a presença nas passeatas não estiver ancorada em algo mais dificilmente se fará algo além de “lindas manifestações”.
Ganhou menos publicidade na esquerda algumas das iniciativas concretas para mobilizar locais de trabalho. No início da pandemia um callcenter foi interditado por questões sanitárias, por iniciativa de trabalhadores e não do poder público, foi pontual e não durou um dia inteiro, mas aponta alguma criatividade. Em outro caso criativo, coletivos de solidariedade entre trabalhadores combinaram de invadir a live de um gestor cobrando um posicionamento sobre o desligamento de terceirizados, o que permitiu a recontratação deles. Outro caso, foi a exigência regular – em outro call-center- do cumprimento de protocolos de distanciamento, na prática isso implicou na liberação das pessoas para trabalho em home-oficce.
Essas inciativas dão menos visibilidade em redes sociais, mas se aparentam mais com o trabalho da velha toupeira.
“Muitos questionarão a adoção dessas medidas, dizendo que os trabalhadores correm pouco risco realizando uma assembleia ou um ato comparado ao cotidiano no transporte público e nos locais de trabalho. Afirmação que favorece apenas a acomodação e a negligência, refletindo o espírito dos manifestantes bolsonaristas nos atos do dia 15/03 e do próprio presidente, assim como dos vários comentários em defesa dos banhistas nas praias ou frequentadores de praças. Se os próprios trabalhadores reconhecem a urgência da situação e estão lutando por suas vidas, qual o sentido de os incentivar a se reunirem de forma próxima e descuidada? Não é necessário mais do que um intervalo de segundos para a propagação do vírus. Este engano da militância custará vidas, e a única forma de ‘democracia proletária’ que pode decorrer disso é uma democracia zumbi.” Disponível em: https://passapalavra.info/2020/03/130409/
Concluir que não há mais motivos para continuar se precavendo porque a política de isolamento não está implementada com rigor é adotar a negligência como tática política. É reconfortante para suprir o desejo dos abstêmios de manifestações de ruas privados de postar novas fotos “combativas” em redes sociais, mas mortal para aqueles por quem se diz estar lutando.
Nos encontramos no próximo Coronafest, quero dizer… manifestação, Marcelo.
Abraços do Zumbi Democrata.
O ato falho do Zumbi democrata é se auto-intitular morto, ou seja, ele sabe no fundo que ele já está morto e admite, que o melhor do morto, é não fazer nada. A parte zumbi do morto não é tirar fotos, mas defender a continuidade da política da morte do bozo.
Morto, levanta-te e anda, aí eu te abraço.
e agora José ?
se fica o bixo come , se corre o bixo pega .
o que propõem aqueles que acham que não devemos ir a ruas ? esperar essa pandemia acabar , contar os corpos , lavar os corpos e seguir normal !
quem vai lutar depois que um possível cenário de 5000 mortes diárias pode ocorrer . ? Vamos achar normal , assim como depois quando mandaram mataram umas dúzias em manifestações , também acharemos normal ??
Acordem , tirem suas bundas da cadeira . não é só de teoria que se vive.
Esse texto é extremamente pertinente.
Primeiro porque colocarem primeiro lugar a questão da segurança daqueles que são os oprimidos – e essa segurança envolve que eles mesmos não se coloquem em risco desnecessário. E isso cria a contradição imediata: os motivos pelos quais há maniestações são válidos, mas é esse o momento de levar a cabo? Que efeitos esperamos ter? Será que não estamos apenas agitando bandeiras por aí, sem conseguir ganhar mais corpo – mesmo porque muitas pessoas não vão pois não querem se arriscar – e correndo ainda o risco de perdemos os nosso próprios companheiros?
Mas reconhecemos que é urgente a situação, especialmente das pessoas que já vão ter que ir pra rua de todo jeito. Como conciliar a urgência do desespero por uma situação material ruim e que se deteriora com o cuidado necessário para a situação? Esse é um debate que precisa haver – ou não, talvez seja mais necessário uma ideia prática e funcional, e os dabates virão depois que o vírus passar.
Segundo – esses protestos no Brasil e em outros lugares do mundo ganharam força e assumiram essa bandeira do ”antifascismo” em decorrência da onda de protestos anti-racismo nos EUA. Ora, não devemos banalizar as mortes, nunca. Cada vida importa. Mas em que medida esse espectro chamado ”esquerda brasileira” ou ”antifasistas” de maneira geral está sendo pautado? Não cabe pensar se esse movimento não está apenas surfando na onda da revolda que ocorre nos EUA e sendo alimentado pela mídia local (que nem sempre dá tanta atenção assim a manifestações populares, não é mesmo?) e pelo acirramento da disputa de poder contra o Bolsonaro e seus seguidores invés de organizar sua luta com base na sua própria realidade atual?
Me solidarizo com LL, que aparentemente teve seu comentário ignorado pelo Marcelo e pelo Giovanni. É cômodo dizer que os que estão em casa não estão fazendo nada, já que ir às ruas parece ser a única coisa que se pode fazer na luta de classes. Mas eu não me surpreendo, é um reflexo de como os trabalhadores e suas resistências permanecem invisíveis, e só deixam de o ser quando estão sob a direção de suas bandeiras.
Há inúmeros relatos de lutas cotidianas publicados neste site que expressam a criatividade daqueles que se indignam contra os patrões, e a baixa audiência desses relatos diz muito sobre o que se tornou a esquerda. Mesmo o relato que “hitou”, o dos trabalhadores da Livraria Cultura, na segunda parte do texto, quando foram mostradas as estratégias daqueles trabalhadores, o interesse se dissipou. É por isso que quando dizemos “não vá para as manifestações DURANTE UMA PANDEMIA” soa para essa esquerda como se estivéssemos dizendo “não façam nada, fiquem nas suas casas se puderem”. Para além do momento do espetáculo, nada mais existe.
Outro dia me mandaram um relato de uma expropriação em Portugal que ficou famosa por causa dos seus novos clientes, a “Revolta dos Garçons” da Cervejaria Galiza: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/revolta-dos-garcons/. Respondi de volta, após elogiar a ação dos trabalhadores portugueses, com o exemplo da luta completamente ignorada dos trabalhadores da Seta Atacadista: https://passapalavra.info/2020/02/129972/. O fato é que poucas dessas lutas cotidianas e radicais, cheias de criatividade, nos interessam. Os garçons da Cervejaria Galiza romperam a bolha, que é como falamos atualmente, mas é uma exceção. Os trabalhadores da Livraria Cultura, idem. Mas por quais motivos? Será que não estamos mais preocupados em perder o produto oferecido pelos patrões desses empreendimentos do que na luta desses trabalhadores?
Enquanto não olharmos para essas experiências, jamais perceberemos a capacidade dos trabalhadores não só de reinventarem as formas de luta, mas também de criar um mundo novo. Ficaremos sempre a espera de um novo MPL, de torcidas antifas ou de coisas que até ontem nem sabíamos da existência, para segui-los nas ruas e logo a frente jogá-los fora, quando não ajudando na criminalização desses movimentos, culpando-os pelas nossa impotência e falta de criatividade. Não vai demorar muito para esses coletivos e movimentos migarem para o IFood, assim poderemos consumi-los com menos culpa e mais pressa.
A esquerda — aquela que agora se chama esquerda — perdeu a tal ponto a noção da luta de classes, da luta contra a exploração, que já não sabe que o terreno dos trabalhadores é nas empresas. Enquanto os militantes (com muitas aspas) se divertirem a brincar na rua, os capitalistas continuam sossegados onde lhes interessa, nas empresas. Os múltiplos conflitos quotidianos nos locais de trabalho permanecem anónimos, sem apoio nem divulgação, para os jornais e a televisão e as redes sociais se ocuparem com o barulho nas avenidas. É esta uma das formas como o capitalismo se protege.
“A direita nos roubou nossa única arma – ocupar as ruas – e agora a estamos tomando de volta”.
Quantas vezes ouvi essa frase do mais recuado liberal-democrático-popular PCdoB ao extrema-esquerda-crítica-da-crítica-crítica de camaradas nem tão camaradas assim entre si.
Rudá Ricci também fala que essas manifestações de agora são a possível renovação da esquerda: https://revistaforum.com.br/rede/a-renovacao-da-esquerda-brasileira-pode-ter-iniciado-neste-domingo/
“São jovens, saíram às ruas porque saem todos os dias. E continuarão saindo. Eles enfrentam a PM há tempos, nos seus bairros, no morro, nos jogos de futebol. Conhecem esta violência institucional desde crianças. Parte deles está chegando na política por esses dias. Começaram a perceber que os ataques ao bolsonarismo não eram discurso despeitado de quem perdeu as eleições. Nem gente que quer a ter uma boquinha. Começaram a perguntar o que é ditadura. (…) Esta possível renovação das esquerdas é mais ousada, mais curtida pela vida, menos classe média, menos branca, menos masculina. Aprenderá a lidar com o jogo de xadrez, mas, agora, prefere boxe”.
O que me parece comum em todas essas manifestações é o quanto abriram mão ou recusam qualquer discussão que relacione o individual ao social. São indivíduos que operam sobre si mesmos. Se aglomeram durante uma pandemia, preferem o contato ao xadrez, às emoções às responsabilidades e ao jogo político frio de interesses. Se mover, até que se move, mas pra onde? E enquanto se move vai formando que tipo de gente? Porque me parece um amontoado de gente desesperada, disposta a sacrificar os outros pelos seus interesses individuais, até mãe e pai e avô e avó e especialmente os mais vulneráveis se o desespero for suficiente. Se essa for a renovação da esquerda, se for essa manifestação, acho que podemos entender que a sua cara explícita tem um nome: EUGENIA.
Militância que deixa pra morrer e descarta quem “fica pra trás” e “vai morrer de qualquer jeito” pra mim é indiferenciável da extrema direita que está no poder. Prefiro ficar com essa gente apolítica e mesquinha que não enfrenta os “grandes debates sobre a quarentena”, mas arrisca o emprego e o conforto pra não ter que arriscar a morte dos mais vulneráveis. Essas pessoas não estão desesperadas, ainda, mas por mérito próprio delas. E a esquerda que tem medo demais deu mais uma arma pro patrão delas, afinal de contas, que argumento vão falar se o próprio sindicato de suas categorias ou seus militantes mais combativos estão falando que está ok ir pras ruas desde que para propósitos tais e quais – sem levar a pandemia como determinante do qual se parte?
Acho que o que Leo e João Bernardo comentaram tem que ser destacado.
Precisamos olhar para as formas reais que as lutas têm assumido, as iniciativas locais, organizadas pelos próprios trabalhadores em conjunto.. essas iniciativas não ganham volume midiático justamente porque são locais, são práticas e muitas vezes têm objetivos imediatamente opostos ao de forças dominantes. Não são espetáculos promovidos por ”lideranças”
Quando um evento como esse, de grandes manifestações, movimentos que ganham essa repercussão na mídia, nas redes sociais, nos grupos de ”esquerda”.. esse evento é justamente em prol de um tema nobre como a ”democracia”. Será a toa? Por que é que não vemos esse tipo de entusiasmo, vigor, repercussão, etc, agindo sobre os locais de trabalho?
Ao mesmo tempo, entendo o conflito. É uma situação urgente, a pandemia, o desespero com emprego, comida, contas, em ficar vivo. E não é negativo que exista vontade de se mexer, pelo contrário. Mas o como se mexer e quando também são questões importantes. Talvez nessa hora fique clara a importância dessas ”lideranças” porque têm tanto a capacidade de puxar um movimento para cima quanto para afundá-lo em si mesmo
A questão não dizer que a única saída é a rua ! a rua é um balaio de gato . vocês acham que de um dia para outro vai ter uma manifestação coerente, com pessoas organizadas pelo mesmos ideias e objetivos ? isso é ilusão . A cidade é diversa e é ali na rua aonde as diversidades se encontram , é ali que se da o verdadeiro xadrez ….é entre a rua e depois suas reflexões e teorias e depois ruas que o processo ocorre …..Vamos lembrar de 2013 . Vemos os mesmos comentários ….não é o momento , nao tem organização , é midiatico …..e a rua , a massa , o povo que ve a midia foi levado para o lado da direita !
Sim , a luta local nos lugares de trabalho é essencial , é a base , é aonde existem criatividades , mais são locais , aos poucos precisam ganhar massa ! essas lutas dependem de pessoas que estejam la e não pessoas de fora . Eu posso atuar na minha base , nas bases dos outros preciso de alguma especie de organização , e as ruas acabam por ser a união dessas lutas ou ainda servem de exemplo e motivação para aqueles que estao na base , no local de trabalho …..se eles não vem ninguém fazendo isso ,terão mais receio de romper .! A rua serve como propaganda …divisões de comentarios devem ter repercutido entre todos ..aqueles que pensarem , gente louca , essa esquerda é burra , suicida ….mas aposto e ouvi ( trabalho cm educação e eletricidade ) que legal , isso mesmo , tem que lutar ….!
Avaliar riscos e agir . Se as pessoas acharem que não é valido se arriscar , beleza . Se acham que da para se arriscar , sair as ruas . !
Solidariedade é também correr riscos pelo outro !
ficar é casa é fácil para quem pode, que faz seu home oficce , ai dizem que estão se sacrificando . Ou só estão preocupados com a sua própria sobrevivência ? Mais ai sejamos sinceros , não a nada de errado nisso , ! eu me preocupo com minha individualidade. mas não vamos se gabar de que ficar em casa é somente por solidariedade .
Giovanni escreve que:
“A cidade é diversa e é ali na rua aonde as diversidades se encontram , é ali que se da o verdadeiro xadrez ….é entre a rua e depois suas reflexões e teorias e depois ruas que o processo ocorre …..Vamos lembrar de 2013 . Vemos os mesmos comentários ….não é o momento , nao tem organização , é midiatico …..e a rua , a massa , o povo que ve a midia foi levado para o lado da direita !”.
Mas, na verdade, é justamente o oposto. Como eu escrevi num artigo publicado neste site (https://passapalavra.info/2020/03/130222/), o conjunto de mobilizações ao redor do mundo do qual fizeram parte as Jornadas de Junho tinha, entre suas limitações:
“[…] o fato de que tais mobilizações foram facilmente sujeitas a uma rápida pulverização de suas reivindicações, a meu ver exatamente pelo fato de as ocupações de espaços públicos, as manifestações, etc., não terem sido capazes — quando a isto se propuseram — de articular as lutas nas ruas com lutas no âmbito das relações de trabalho: na verdade, as lutas nos locais de trabalho eram o terreno soberano das burocracias sindicais, em sua generalidade hostis a movimentos que buscavam construir lutas autônomas, os quais, por sua vez, lhes eram igualmente hostis e lhes fugiam ao controle. Daí a facilidade com que a direita e a extrema-direita no Brasil se apropriaram de mobilizações, formas de luta e palavras de ordem dos trabalhadores e grupos de esquerda; e daí também o fato de no Brasil as lutas de uma parcela muito expressiva de trabalhadores seguirem tuteladas e subordinadas às burocracias sindicais e por aí ao PT e a Lula”.
Agora, por outro lado, é interessante como Giovanni atribui ao Passa Palavra – que noticiou, apoiou e refletiu sobre as lutas não apenas em 2013 como em muitas outras ocasiões – um suposto papel desmobilizador, quando, na verdade, foi exatamente o contrário naquela época e é exatamente o contrário agora: o Passa Palavra, mantendo uma preocupação fundamental com a grave crise de saúde pública em curso e levando em conta os motivos que nos pressionam a sair às ruas, defende que “ser revolucionário é ser, fundamentalmente, criativo: trata-se de inventar formas de luta adequadas à situação presente”.
Analisar criticamente um processo de luta em curso, buscando contribuir para o seu aperfeiçoamento, não é o mesmo que desmobilizar, embora a maior parte da esquerda seja – o que é lamentável – muito avessa a críticas feitas à esquerda e as confunda com ataques objetivando anular a combatividade deste ou daquele movimento, deste ou daquele grupo. É, pelo contrário, levantar problemas, dilemas, e pensar soluções.
Sobre a gravidade da crise sanitária, por exemplo, foi noticiado ontem que: “[a] Universidade de Washington, prevê um total de 165.960 mortes ocasionadas pela Covid-19 no Brasil até o dia 4 de agosto. […] As previsões atuais apontam que o Brasil está entre as piores lugares da epidemia de Covid-19. Os EUA têm o próximo número mais alto de mortes projetadas para a Covid-19 até agosto, com 140.496 mortes cumulativas; no entanto, os EUA têm cerca de 100 milhões a mais de pessoas do que o Brasil. Isso significa que, em relação ao tamanho da população de cada país, a epidemia de Covid-19 no Brasil pode ser a maior e mais letal do mundo (https://veja.abril.com.br/blog/matheus-leitao/instituto-eleva-previsao-de-mortes-por-covid-19-no-brasil-ate-agosto/)”. Ou seja, é preciso levar a sério tais estimativas e debater a melhor de enfrentar a situação.
Por fim, não devemos ser apenas criativos: devemos também pensar para além da “massa” ocupando as ruas… Devemos pensar em termos de trabalhadores enfrentando, com autonomia e preocupando-se com a segurança e a saúde de quem luta e por quem se luta, a exploração. Enquanto a classe trabalhadora, em sua maioria, não se reformular nesse sentido (pois as experiências positivas mencionadas por outros comentadores ainda são muito minoritárias e isoladas), ela continuará podendo ser absorvida por uma massa manipulável, na qual as diferenças de classe vão sendo turvadas e a revolta que une vários grupos socais antagônicos assume o protagonismo; continuará podendo ser absorvida, portanto, por uma massa manipulável à direita.
Giovanni escreve: ” *Solidariedade é também correr riscos pelo outro!*
ficar é casa é fácil para quem pode, quem faz seu homeoffice , ai dizem que estão se sacrificando . Ou só estão preocupados com a sua própria sobrevivência? Mais ai sejamos sinceros, não há nada de errado nisso! Eu me preocupo com minha individualidade. mas não vamos se gabar de que ficar em casa é somente por solidariedade. ”
Não deixem passar Este Flagrante Delito.
A maior parte da classe trabalhadora no Brasil não deixou de trabalhar fora de casa desde o início da quarentena flexível. Por isso, todos dias lota os ônibus e o transporte coletivo em geral, convive nos locais de trabalho sem o distanciamento e fazendo aglomerações, muitas vezes faltando equipamento ou sem nenhum. Além disso, os governos e as classes dominantes não tem nenhum comprometimento em assegurar a saúde, a renda e a moradia necessária para uma quarentena eficaz.
Agora, em pleno agravamento da pandemia, as classes dominantes estão flexibilizando ainda mais a quarentena, que na prática não existirá mais. Isso tudo vai muito além de consciência e disciplina individual.
Por esses e muitos outros problemas, não são protestos nas ruas que estão determinando o agravamento da pandemia. Para tentar mudar a situação atual, além de lutas nos locais de trabalho, se faz necessário também os protestos e a revolta popular na ruas, mesmo causando aglomerações. Então, cabe lutar tomando cuidado na medida possível, mas sem deixar todos meios possíveis e necessários para a organização e a luta popular combativa.
Aqui tem um contraponto a este posicionamento do Passa Palavra:
Do Negacionismo de Esquerda às Falsas Polêmicas Contra os Protestos de Rua
https://kaosenlared.net/do-negacionismo-de-esquerda-as-falsas-polemicas-contra-os-protestos-de-rua/?fbclid=IwAR1iZQWgLJXVl1sCkgv1YOGdvgprNkmnB8Y3Acud48CiDPFQ0sl-Un9efvw
Fagner Enrique : não foi ao passa palavra o comentário ! foi genérico aos comentários que aqui estão e vemos nas discussões por ai ! ao que eu entenda esse site é um coletivo e textos não necessariamente mostram a intenção o coletivo . é um debate e existem pontos discordantes ;
voce escreveu ” “[…] o fato de que tais mobilizações foram facilmente sujeitas a uma rápida pulverização de suas reivindicações, a meu ver exatamente pelo fato de as ocupações de espaços públicos, as manifestações, etc., não terem sido capazes — quando a isto se propuseram — de articular as lutas nas ruas com lutas no âmbito das relações de trabalho: na verdade, as lutas nos locais de trabalho eram o terreno soberano das burocracias sindicais, em sua generalidade hostis a movimentos que buscavam construir lutas autônomas, os quais, por sua vez, lhes eram igualmente hostis e lhes fugiam ao controle. ”
acho que a classe trabalhadora não é só uma ! existe aquela parcela sob tutela dos sindicatos oficiais , e existe uma parcela gigante de outra parcela que se encontra ” sem organizações consolidadas ” a tal da uberização…. o questão urbana como o trasnporte publico era central no inicio, ligada diretamente a relações de trabalho .
concordo com o restante que foi analisado aqui no passa palavra ja em outras ocasiões …..mais temos que lançar a autocritica sobre a esquerda institucional e a esquerda que se diz anticapitalista mesmo !
e se vai ser essa gigante tragédia desenhada ao Brasil , o que restara depois ? teremos forças , pessoas para lutar . a opinião publica que se acostumou a ter tantas mortes por dia , não vai se acostumar quando mandarem matar algumas dezenas ???