Por Passa Palavra

No dia 13 de dezembro de 2018, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, determinou a prisão de Cesare Battisti para fins de extradição, e no dia seguinte o presidente Michel Temer assinou o decreto autorizando sua extradição para a Itália. Para além do absurdo em uma decisão monocrática que vai contra decisão anterior do STF e que coloca sob risco a própria figura do asilo político, há outras implicações importantes de serem retomadas.

Desde a fundação deste site, participamos ativamente da campanha de libertação de Cesare Battisti. Para nós, estava claro que a prisão de um militante abria caminho para a criminalização de toda a atuação política de esquerda. Durante toda a campanha, defendemos que a prisão era arbitrária, baseada nas perseguições perpetradas pelo Estado italiano, uma afronta à constituição brasileira, e que os crimes atribuídos a Battisti não tinham sido cometidos por ele. Defendemos também a militância de Cesare e a importância da atuação da esquerda revolucionária italiana, pois se os militantes são perseguidos é pelo incômodo que suas práticas causam nos poderes estabelecidos.

Por outro lado, o posicionamento de Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral, e agora que está prestes a assumir a presidência da República, de que rapidamente iria extraditar Cesare Battisti demonstra sua propensão a criminalizar ativistas políticos e mesmo movimentos sociais inteiros, indicando muito provavelmente que o discurso exibido em São Paulo, na avenida Paulista em 21 de outubro de 2018, não será apenas um jogo de cena. Além disso, com a extradição de Battisti, Bolsonaro buscar se aproximar ainda mais do governo proto-fascista italiano, cujo Vice Primeiro-Ministro e Ministro do Interior Matteo Salvini se dispôs a vir pessoalmente buscar Battisti em solo brasileiro após sua pretendida prisão.

Nesse sentido, a decisão de Fux nos sinaliza que novos ataques virão e nos lembra que as vitórias que obtivemos são todas provisórias. Por isso, cerrar fileiras na defesa de Cesare Battisti continua nos parecendo fundamental. Como dizem nossos companheiros, “Hoje Battisti, amanhã tu!”.

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7 COMENTÁRIOS

  1. Battisti é um caso mais conhecido, com maior atenção. É impressionante como a esquerda ignora a repressão efetiva que cai contra os milhares de lutadores anônimos nesse brazilzao profundo.

    Conheço caso no qual os poderosos da cidade mobilizaram contra um militante os funcionários da empresa de ônibus, os taxistas, funcionários da empresa onde ele trabalhava, polícia civil, faziam uso de envenenamento, difamação, isolamento, perseguição com carros e ameacas constantes e, em último caso, sinalizavam que usariam a rede criminal pra por fim na pessoa. Chegaram a entrar na cada dela. Até a pessoa ceder.

    Isso é o Brasil real. O fascismo que já existe aqui e agora, ainda não largamente conhecido. A esquerda atual simplesmente ignora do que é realmente capaz os poderosos. E ignora porque ignora a situação dos militantes reais que existem nesse brazilzao afora.

  2. Que coisa, hein? Battisti foi entregue por Evo Morales!

    Alguém poderia comentar melhor esse fato?

  3. ”Que coisa, hein? Battisti foi entregue por Evo Morales!

    Alguém poderia comentar melhor esse fato?”

    Um ato covarde que sepulta de uma vez por todas a ”onda progressista’ dos anos 2000. A revolução bolivariana está definitivamente morta.

  4. Haydin, o caso Battisti não é importante por sua dimensão midiática. Mas, por sua dimensão e profundidade políticas. Estamos falando de uma das maiores fraudes jurídicas da história, contra um militante de esquerda, que uniu juristas fascistas e stalinistas. Estamos falando de um ato de vingança e perseguição internacional de 4 décadas. Estamos falando de um caso em que a ultradireita e a esquerda do capital aturam juntas em vários momentos, como no papel podre prestado pelo Partido Comunista Italiano e agora por Evo Morales e Garcia Linera. Estamos falando de um caso de linchamento midiático em escala internacional, levado a cabo inclusive por veículos ditos “progressistas”, vide a revista Carta Capital com seu ex-“comunista” italiano à frente, o Sr. Mino Carta. Portanto, o velho argumento de que uma luta específica e notória pode obscurecer outras tantas lutas desconhecidas, não cabe neste caso.

  5. Cesare Battisti havia pedido recentemente asilo político na Bolívia, sem receber resposta das autoridades. Agora, como não existe acordo de extradição entre a Bolívia e a Itália, o governo de Evo Morales — que se diz tão cioso da sua soberania — autorizou a polícia italiana a penetrar no território boliviano, ordenou que a polícia local a auxiliasse, não colocou obstáculos a que uma polícia estrangeira se apoderasse de uma pessoa no interior do país e permitiu que Battisti fosse levado de imediato, sem passar sequer sumariamente pela justiça boliviana. Não se tratou de uma extradição, mas de um rapto.

  6. Pior do que um simples sequestro político – como já realizado pelo Mossad, que entra num país supostamente sem permissão para raptar um alvo qualquer e depois assume o ato, pede “desculpas” e fica por isso mesmo. Morales e Linera entregaram Battisti de bandeja. Exatamente como afirmou Pior ainda. Colaboração direta. A negociata foi pesada e a recompensa deve ter sido grande, muito grande.

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