Por Passa Palavra

O recente desenvolvimento da guerra que ocorre na Faixa de Gaza tem sido tema principal de jornais televisivos e impressos, marcando as discussões nas redes sociais, sendo assunto comentado nos meios de transporte e suscitando muitas proclamações das mais diversas vertentes da esquerda. Como seria inútil mais um texto com palavras de ordem sobre assunto, pontuamos alguns elementos para reflexão.

O atentado contra o Charlie Hebdo evidenciou a guinada de certos elementos da esquerda que, entre defender um grupo de origem libertária fuzilado por terroristas e defender fundamentalistas com fuzis, optou por dizer que era preciso acabar com a “islamofobia”. No lugar do laicismo radical que já caracterizou os revolucionários, ganhou espaço a defesa da religião dos oprimidos, mesmo que essa religião possa ser ainda mais opressora. Como já alertara o próprio Charb, essa era uma maneira de ocultar o racismo contra árabes e ao mesmo tempo defender práticas religiosas opressivas contra essas mesmas populações. Ainda naquele longínquo 2015, evidenciava-se que a resposta dos governos aos atentados terroristas seria a intensificação de bombardeios que afetam mormente os civis. Se em França pouco adiantou parte dos sobreviventes dizer “não em meu nome”, poderá agora em Israel ser diferente?

Anteriormente aos ataques realizados pelo Hamas, o governo de Benjamin Netanyahu enfrentava as maiores mobilizações da história recente de Israel. Os manifestantes denunciavam a centralização do poder e a crescente influência religiosa nos assuntos de Estado, contrapondo-se a uma coalizão na qual o Likud conseguia ser o partido mais moderado! Entretanto, mesmo nesse cenário houve uma enorme resistência a incluir nos protestos uma crítica ao aumento do número de colonatos judeus na Cisjordânia, com receio de associar os protestos à causa palestina. Houve quem levantasse a hipótese de o massacre perpetrado pelo Hamas pôr um freio à queda de popularidade do governo; porém, as enormes falhas dos serviços de inteligências serviram para ampliar a parcela de insatisfeitos. Simultaneamente, houve um fortalecimento do aparato de Estado em favor da guerra com a formação de um governo de união nacional e a convocação de reservistas para operações de guerra. Ainda assim, nos parece que será decisivo para o desenrolar dos acontecimentos o quanto a insatisfação dos israelenses com Netanyahu conseguirá pôr-se novamente em movimento.

A ideia de imperialismo como fase superior do capitalismo, acompanhada pela noção de que o imperialismo corresponderia sobretudo a uma expansão nacional, é de tal maneira hegemônica na esquerda que as análises parecem substituir por completo a luta de classes pela geopolítica. E assim se desconsidera a dinâmica das relações de produção, incluindo os possíveis conflitos em locais de trabalho, para apresentar a guerra como uma luta entre povos, onde um é uma potência ocupante apoiada pelo Império e outro é o legítimo sujeito oprimido e revolucionário, para quem todos métodos de combate seriam válidos. Quando a perspectiva de luta entre povos passa a ser determinante nas análises esquerdistas, deve-se percebê-las como um eco das temáticas da direita, e esta troca de elementos caracteriza o fascismo.

Nem sequer é surpreendente o aparecimento destas temáticas no tocante à questão palestina. Se observarmos a documentação histórica, há de se perceber a influência do mufti de Jerusalém, Hadj Amin el-Husseini, nas mobilizações contra a imigração judaica na época anterior à segunda guerra mundial. Na imediata sequência desta actividade, o mufti de Jerusalém colaborou ativamente no recrutamento da seção árabe dos SS, que os nacionais-socialistas justificavam a partir de uma suposta descendência romana. Simultaneamente, não foram poucos os sionistas que gozaram do apoio de governos fascistas para estabelecer-se no então mandato britânico da Palestina, como estratégia para o enfraquecimento do Reino Unido. Se ao Estado israelense se mostrou conveniente o apagamento dessas bisonhas alianças, não menos oportuno tem sido à esquerda esquecer ao papel do mufti, assim como esquece também a influência activa do Terceiro Reich na promoção do nacionalismo árabe, desde a Argélia e a Tunísia até ao Egito e ao Iraque.

A presença de honra de el-Husseini na conferência de Bandung, onde se consolidou o terceiro-mundismo, e a influência do nacional-socialismo árabe nos militares, incluindo Nasser, que lideraram a independência egípcia, nos ajuda a entender certos desenvolvimentos futuros. É nesta perspectiva que devemos interpretar a ação do Hamas, e não só. Talvez possamos assim compreender melhor o motivo por que as lutas pela independência, que avivaram tantas esperanças nos anos de 1960 e de 1970, tiveram afinal como resultado autocracias, ditaduras e fundamentalismos. E são justamente essas experiências históricas, reivindicadas por setores cada vez mais amplos da esquerda – uma esquerda assumida como “anticolonialista” ou “decolonial” – que se veem representadas pelo irracionalismo antiocidental de grupos como o Hamas.

Uma análise histórica do tipo pode nos ajudar a compreender por que a esquerda optou por apoiar e justificar as ações do Hamas, mas não se preocupou em mobilizar qualquer apoio aos revolucionários sudaneses. Há não muito tempo as organizações de trabalhadores do Sudão conseguiram desenvolver uma ampla luta de classe que derrubou o regime e instaurou formas democráticas. E agora são trucidadas pela guerra que se instaurou entre facções militares, que, além dos mortos, levou à fuga e ao exílio de centenas de milhares de pessoas, perante a silenciosa indiferença da esquerda mundial. Não faltaram em certos meios da esquerda anticolonialista menções ao suposto “fim da hegemonia francesa” diante da ascensão do militarismo em África. Mas, diferentemente do caso sudanês, o novo massacre que Israel faz em Gaza não é uma reação a um processo revolucionário, mas sim à ação de um grupo fundamentalista e ditatorial que tem como principais vítimas os próprios trabalhadores e trabalhadoras palestinos. Não é uma novidade a presença de milhões de refugiados palestinos no Oriente Médio, e as ordens dadas pelo governo de Israel de evacuar um milhão de pessoas do norte de Gaza agravam ainda mais o cenário. Com efeito, o governo egípcio evoca o fato de ter acolhido 280 mil refugiados do Sudão para impedir a fuga de palestinos por Rafah.

De que maneira a esquerda irá se mobilizar para receber e acolher estes refugiados? Apenas repetirá que os palestinos têm o direito a continuar em suas casas? Que casas, que paredes, que telhados? Ao mesmo tempo em que o governo de Israel dava ordem para a fuga da população do norte de Gaza, o Hamas esforçava-se por dissuadir a população de fugir, dizendo que se tratava apenas de propaganda psicológica sionista e apelando para que as pessoas ficassem em casa. Com efeito, essa população civil que o exército israelita bombardeia nas suas residências, nas suas escolas e nos seus hospitais é o indispensável escudo humano sob o qual o Hamas se protege. Não poderia haver um desmentido mais oportuno para a hipocrisia da esquerda, que supõe a existência de uma identidade de interesses entre o Hamas e o povo palestino. De um lado e do outro, porém, o desprezo pela população civil é o mesmo.

Aliás, o Hamas escolheu um método de ataque que é completamente indiferente ao destino da população palestina. Não se tratou só de terrorismo na forma como o Hamas matou e raptou vítimas civis. Trata-se de terrorismo também na forma como essa organização expõe aos bombardeamentos israelitas uma população que não consegue defender. Historicamente, em circunstâncias como estas usava-se o método da guerrilha. Mas para isso seria necessário estabelecer relações estreitas com os israelitas contrários ao apartheid, o que o Hamas não faz porque é profundamente racista. Ou seja, não é anti-sionista, é anti-semita. O Hamas opta por um método de luta que expõe e sacrifica a população palestina.

Mas será que os recentes acontecimentos farão a esquerda desistir de quaisquer relativizações do fundamentalismo, em nome do anticolonialismo? O histórico recente e antigo não nos deixa otimistas.

25 COMENTÁRIOS

  1. A esquerda cansa. Na época do 11 de setembro, muita gente comemorou, como se os trabalhadores que ganhavam a vida dentro e nos arredores do World Trade Center representassem o imperialismo. Quando do ataque ao Charlie Hebdo, as críticas voltaram-se ao Charlie Hebdo, por criticar o reacionarismo e o obscurantismo em várias religiões, algo que, no passado, foi caro à esquerda. Com Samuel Paty, coisas do mesmo gênero. Agora não poderia ter sido diferente. É uma pena, pois a esquerda cansa e não cansa de perder a oportunidade de apontar um outro caminho, que não redunde no nacionalismo e seus derivados e não justifique a solidariedade a grupos fascistas.

  2. A postura crítica em relação à descolonização e às lutas anti-coloniais é fundamental. A postura acrítica a esse respeito é o mais resistente dogma stalinista. Sem retomar a perspectiva da luta internacional pelo socialismo, ficamos presos na miséria da geopolítica. Acredito que Lênin ainda é uma referência a esse respeito, e acho estranho associá-lo ao geopoliticismo, como é feito no início do 4o parágrafo do artigo. Dizer que o imperialismo é a última etapa do capitalismo não quer dizer que o anti-imperialismo de corte nacionalista seja a forma atual da luta pela emancipação da humanidade, substituindo a luta pelo socialismo. Pelo contrário, são as possibilidades e limites das lutas contra a opressão nacional que passam a ser determinadas pela luta pelo socialismo.

    Os palestinos são vítimas sacrificiais no altar da geopolítica. São usados pelo Irã via Hamas para intervir nas negociações entre Israel e Arábia Saudita. Eles não parecem estar em condições de serem sujeitos de sua própria luta anti-apartheid. A sociedade civil americana e a sociedade civil israelense estão em melhor posição para isso, em conjunto com a diáspora palestina.

    A islamofilia da esquerda foi muito bem discutida pelo marxólogo Moishe Postone no artigo ‘History and Helplessness’, que periodicamente se torna atualíssimo: https://platypus1917.org/wp-content/uploads/readings/postonemoishe_historyhelplessness.pdf

  3. Emerson,
    Ontem houve a libertação de duas reféns pelo Hamas, uma delas chamada Yocheved Lifshitz, de 85 anos, que foi sequestrada junto do marido Oded Lifshitz (ainda preso), de 83 anos. Suas histórias são similares à da outra refém que você menciona.

    “Yocheved e o marido são ativistas de direitos humanos, ajudavam moradores de Gaza. Ele é jornalista e, em nota, o Sindicato Britânico de Jornalistas [ National Union of Journalists] disse que Oded Lifshitz trabalhou durante décadas pela paz e pelo reconhecimento dos direitos palestinos, e diz que, nos últimos anos, ele era voluntário de uma associação que transporta voluntariamente palestinos da Faixa de Gaza que recebem autorização para cruzar a fronteira e fazer tratamento de saúde em hospitais israelenses. A nota pede a libertação do jornalista de 83 anos.”

    https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2023/10/24/mulher-descreve-surras-e-pavor-nos-17-dias-que-passou-sequestrada-pelo-hamas-fui-ao-inferno.ghtml

  4. Uma das mudanças mais drásticas introduzidas pelos identitarismos foi a substituição da noção de explorado pela noção de vítima. A classe explorada, ao lutar contra a exploração, pretendia uma transformação da estrutura social; mas uma identidade que se afirma como vítima pretende apenas ser indemnizada, ou seja, pretende ascender nas hierarquias da sociedade existente e, por aí, consolida essa sociedade. A noção de vítima adquiriu uma tal hegemonia que já não é necessário alguém ser directamente vítima. Basta invocar que os seus antepassados ou predecessores, reais ou ilusórios, alguma vez tivessem sido, ou podido ser, vítimas. É este quadro que tem presidido às análises do actual conflito na Palestina.

    Os defensores do Estado de Israel consideram-no imune à crítica pelo facto de o Terceiro Reich ter prosseguido o genocídio dos judeus. E os defensores do Hamas consideram-no imune à crítica pelo facto de os palestinianos terem sido espoliados e serem perseguidos e bombardeados por Israel. E pretende-se resolver esta competição de vítimas fazendo a contabilidade dos mortos. A esta abjecção se chegou!

    Quanto à legitimação do Estado de Israel pelo facto de os judeus terem sido vítimas do genocídio nazi, remeto para um estudo que publiquei aqui há quase uma década e meia, «De perseguidos a perseguidores: a lição do sionismo». Quanto à legitimação do Hamas pelo facto de os palestinianos serem hoje os perseguidos do sionismo, chamo a atenção para algo que o artigo «A esquerda, o nacionalismo e a Palestina» indicou muito brevemente, a influência decisiva do nacional-socialismo germânico na promoção do nacionalismo árabe, inclusivamente na Palestina, encetando uma filiação histórica que até hoje não foi rompida.

    Nisto tudo a questão fundamental é que os identitarismos — e o nacionalismo enquanto modalidade originária do identitarismo — obscurecem as contradições internas. A população civil de Gaza é duplamente vítima: de um lado é vítima do Hamas, que prossegue os seus ataques usando os civis como escudo protector; do outro lado é vítima do exército israelita, que para atingir o Hamas atinge sobretudo milhares de civis palestinianos. Depois de recordar que «em circunstâncias como estas usava-se o método da guerrilha», este artigo chama a atenção para o problema central: «Mas para isso seria necessário estabelecer relações estreitas com os israelitas contrários ao apartheid, o que o Hamas não faz porque é profundamente racista». Os comentários de Emerson e de Davi ilustram a questão. Para prosseguir uma acção de guerrilha contra o Estado sionista seria necessário aproveitar as fissuras e contradições da sociedade israelita e, antes de mais, procurar o apoio dos judeus que defendem os direitos dos palestinianos e estão dispostos a ajudá-los. Mas o Hamas fez precisamente o contrário, porque, como afirma este artigo, «não é anti-sionista, é anti-semita».

  5. Que esquerda é essa que você tanto se refere nesse texto? Você começa falando sobre o descontentamento atual sobre o governo de Israel como se fosse um movimento de esquerda que tivesse por trás dos protestos. Aliás, esquece de mencionar que o Hamas foi financiado pelo governo Israelense em busca de suprimir os movimentos populares que nasciam na Palestina. E que surpresa, agora lidam com esse problema anteriormente patrocinado atacando os palestinos. Sinceramente, não entendi esse texto, na próxima manda uma DM pra essa pessoa que defendeu o Hamas.

  6. Pouco importa,

    Não sei se vc está se referindo ao texto ou a um comentador. De qualquer forma, você realmente não viu ninguém do campo da esquerda defendendo, ou mesmo comemorando o ataque do Hamas?! Nenhum blog, nenhuma página de algum coletivo, nenhuma “mídia alternativa”, nada?! Estranho. Quanto aos protestos em Israel, de fato não há como afirmar, talvez nem considerar que haja algo que se possa chamar de esquerda por trás. O que se está dizendo é que havia um conflito social iniciando, uma oposição interna ao fascismo israelita. Inclusive, estão ocorrendo manifestações até de judeus ortodoxos contra a invasão de Gaza. O que se está de fato afirmando é que isso pouco importa ao Hamas, pois se trata de um movimento antissemita, não antissionista. O fato de Israel ter apoiado o Hamas no início, conhecido de todos, não altera em nada o conteúdo deste texto e as posições aqui defendidas.

    Saudações,

  7. Anteontem a Foreign Affairs publicou um extenso artigo de Amaney A. Jamal e Michael Robbins, What Palestinians Really Think of Hamas, que reúne os resultados das sondagens de opinião realizadas em Gaza, desde 2006 até agora, pelo Arab Barometer. Lendo esse artigo, pode verificar-se que é reduzida a percentagem de palestinianos de Gaza que apoia o Hamas ou tem qualquer confiança na sua capacidade de governar, e o mesmo sucede relativamente à Autoridade Nacional Palestiniana eleita na Cisjordânia.

    E ontem a 1843, revista gémea de The Economist, publicou um artigo de Wendell Steavenson, The “war schizophrenia” of Israel’s peaceniks, relatando as perseguições de que são vítimas os israelitas de esquerda ou extrema-esquerda que se declarem anti-sionistas, ou mesmo de algum modo demonstrem a sua solidariedade com o povo palestiniano e a sua oposição aos bombardeamentos levados a cabo pelo exército de Israel. Eles opõem-se à política antipalestiniana prosseguida pelo Estado de Israel, mas são igualmente contra o Hamas e contra a acção terrorista que o Hamas realizou em 7 de Outubro. «É uma ironia que não passou despercebida aos activistas da paz em Israel», escreve a autora do artigo, «que aqueles que mais sofreram com as atrocidades do Hamas — os habitantes dos kibutzim na região fronteiriça e os jovens que dançavam no festival de música Nova — tendiam a ser de esquerda». E do outro lado? «Também o Hamas tenta, desde há muito tempo, romper os elos entre os habitantes de Gaza e os israelitas», relata um activista da esquerda israelita. «Palestinianos que trabalharam em conjunto com organizações de paz e com instituições de apoio médico foram presos».

    Estes dois artigos desvendam uma realidade que, na Europa e no continente americano, a esquerda que apoia o Hamas persiste em ignorar, e confirmam a análise do Passa Palavra quando escreveu: «Historicamente, em circunstâncias como estas usava-se o método da guerrilha. Mas para isso seria necessário estabelecer relações estreitas com os israelitas contrários ao apartheid, o que o Hamas não faz porque é profundamente racista. Ou seja, não é anti-sionista, é anti-semita. O Hamas opta por um método de luta que expõe e sacrifica a população palestina». É este o cerne da questão. É isto que está agora em causa.

  8. Para haver luta de classes é mister a existência de gente. Dps dos últimos acontecimentos, não haverá Hamas, nem Fatah, nem proletariado, nem revolucão, nem luta alguma.

    O estado de Israel matou todos indistintamente.

  9. Ou seja: o fascismo sionista é mais eficiente do que o fascismo hitlerista e o fascismo stalinista, juntos & misturados…

  10. Vou enumerar minha argumentação, para que o texto fique mais organizado. Antes, é preciso dizer que sim, a esquerda precisa fazer autocrítica, assim como qualquer campo ideológico. E ela faz autocrítica sim, mas sempre dentro dos seus preceitos ideológicos que estão intimamente ligados à luta de classes e por direitos. Não à toa há muito mais variantes de esquerda do que de direita, que basicamente se divide em direita conservadora, direita liberal, extrema direita e ultradireita. Mas certamente o que une a direita são os interesses das elites dominantes, e o que une a esquerda é, basicamente, a luta por direitos e igualdade, contra as injustiças. Isso não significa que a esquerda não tenha suas contradições. E que bom que as tem! Bem, dito isso, vamos aos problemas do texto que vc mandou:

    Trata-se de um blog opinativo, não jornalístico, ou de discussão acadêmica. Nem um problema em ser um texto opinativo, mas é preciso dar ao leitor o direito de saber quem está escrevendo, quais são suas credenciais para escrever, e quais referências foram utilizadas. O texto não é assinado, tão pouco apresenta referências de fontes acadêmicas, de artigos de cientistas políticos e historiadores. Ninguém é uma ilha de conhecimento. Como disse, o conhecimento surge do debate, e também surge a partir de outros conhecimentos, de referências que usaram outras. Referências amplamente aceitas por estudiosos.
    O texto é majoritariamente contra a esquerda, não sobre o genocídio em curso. Faz retórica citando alguns dados (sem citar as fontes), apenas para criticar a esquerda. Usa alguns dados históricos, mas descontextualizando-os ou simplesmente distorcendo-os, isso tudo para confundir o leitor menos avisado. Me parece coisa de gente ressentida com a esquerda, sabe-se lá o motivo. Me vem à cabeça alguém como o Ciro Gomes que, rejeitado pela esquerda, optou por duas campanhas rancorosas e deletérias cujo propósito principal foi atacar a esquerda e se apresentar como outsider, um nem lá nem cá. Errou feio e ainda deu uma força para o Bozonaro, indiretamente.
    Falando em nem lá, nem cá, outro problema grave no blog está em “quem somos”. Se apresenta, entre outras coisas, como contrário às causas identitárias! Isso é um absurdo! É a negação das injustiças, do racismo, da LGBTFobia, da luta indígena, do direito à terra, moradia etc. É um ré com cré irresponsável, escrito por alguém que provavelmente nunca pisou em uma aldeia ou em um assentamento do MST. A luta global atual é por inclusão e aceitação da diversidade, e o primeiro e fundamental passo é aceitar que existem grupos excluídos. Confesso que senti nojo quando li isso no blog. Não se combate o racismo, negando-o, e negando o direito à mobilização anti racista.
    Em vários momentos o texto perde a coerência e a coesão textual. O texto também é cheio de inferências sem minimamente atender os preceitos da lógica da argumentação. Se maquia com alguns nomes e dados, sem fazer a devida argumentação lógica para chegar à conclusão que defende. Vamos a elas:
    “Será que a esquerda vai parar de relativizar o fundamentalismo”. É uma inferência desonesta, pois não encontra amparo nos fatos. Uma parte considerável da esquerda não está negando que o que o Hamas fez foi terrorismo. Hamas e fundamentalismo religioso não são a mesma coisa, aliás. O que se faz, é contextualizar a origem desse terror. O Hamas não surgiu do nada, o Hamas é resultado de décadas de uma política colonizadora violenta, opressora, supressora de direitos básicos. Gaza é uma imensa prisão a céu aberto. Israel pratica terrorismo de estado contra palestinos em Gaza, e não é de agora. Ninguém tá defendendo o Hamas. Assim como dizer que “Israel tem o direito de se defender do Hamas” também é um argumento falacioso para justificar o massacre em curso. Usando a mesma argumentação, podemos inferir que o povo palestino tem o direito de se defender da política de apartheide e de limpeza ética praticada por Israel. Não?
    O autor anônimo faz outra inferência desonesta no caso do atentado ao Charlie Hebdo, ao afirmar que a esquerda preferiu discursar contra a intolerância religiosa ao islamismo, do que defender o militantes libertários mortos por terroristas argelinos. Isso é nojento! Primeiro porque é apenas a opinião do autor, que mais uma vez mistura ré com cré: mais uma uma vez a, esquerda não defendeu os terroristas argelinos, mas contextualizou os fatos históricos, e chamou a atenção para a tendência predominante (e preconceituosa) de associar islamismo e terrorismo. Não são a mesma coisa, assim como nem todos os judeus não são sionistas. Aliás, há muitos judeus, eu diria a maioria, contrários ao governo de ultra-direita do Benjamin Netanyahu, um terrorista paparicado pelos EUA. E por falar em terroristas argelinos, vc já leu sobre a colonização violenta feita pela França na Argélia? Terror gera terror, e os atentados na Fraça são fruto do terror colonizador francês. Não falha: veja o que a história diz sobre a colonização européia na África e em outros continentes.
    Isso aqui não só é desonesto, como é um delírio no melhor estilo Ciro Gomes: “A ideia de imperialismo como fase superior do capitalismo, acompanhada pela noção de que o imperialismo corresponderia sobretudo a uma expansão nacional, é de tal maneira hegemônica na esquerda que as análises parecem substituir por completo a luta de classes pela geopolítica. E assim se desconsidera a dinâmica das relações de produção, incluindo os possíveis conflitos em locais de trabalho, para apresentar a guerra como uma luta entre povos, onde um é uma potência ocupante apoiada pelo Império e outro é o legítimo sujeito oprimido e revolucionário, para quem todos métodos de combate seriam válidos. Quando a perspectiva de luta entre povos passa a ser determinante nas análises esquerdistas, deve-se percebê-las como um eco das temáticas da direita, e esta troca de elementos caracteriza o fascismo…”. Não, e não! Falar de geopolítica não elimina a noção de luta de classes, que está na base da esquerda. Meu Deus! Chega a ser cômico…É uma retórica rasa, simplista a do texto. Maniqueísta, que coloca uma coisa, oposta a outra. Entender aspectos geopolíticos da colonização, não anula o entendimento da luta de classes, que aliás, também está inserida no atual conflito: as vidas de israelenses não valem mais do que a vida de palestinos.
    Voltando um pouco sobre entender a existência de grupos terroristas (não é justificar, ou concordar, é entender as raízes históricas que levaram ao terrorismo), vou fazer uma parábola: imagine vc, vivendo em sua casa, com sua família, e de uma hora para outra, um grupo fortemente armado, economicamente muito superior à sua família, decide que a casa que vc mora, é a “terra prometida por Deus”. À força, trancam vc e sua família em um quarto, e dizem que de agora em diante, alí será o teu território. O grupo invasor, controla tudo que chega ao quarto (água, luz, comida, remédios), e sua família, sempre que precisa ir ao banheiro, passa por revistas vexatórias, por agressões verbais e físicas. Um dos teus filhos resolve desobedecer às novas regras, e é morto pelos invasores. Imagine essa situação durante décadas. Como vc e sua família reagiriam? É uma parábola simples. Claro que há muitos outros fatores a serem analisados.
    “Mufti”: . Amigo, aqui mais uma inferência desonesta e sem sustentação acadêmica. O autor joga “mufti”no texto apenas para temperar sua sopa de letrinhas, sem contextualizar e citar, mais uma vez, referências que baseiam sua afirmação. Como nos argumentos do Ciro Gomes, por exemplo, há uma simplificação dos fatos, de modo a levar o leitor ao ponto de vista do autor. Cita uma liderança (dentre muitas) islâmica, para imediatamente generalizar (isso tem nome: racismo religioso).
    “a esquerda optou por apoiar o irracionalismo fundamentalista do hamas”. Mais desonestidade, do mesmo tipo das mencionadas anteriormente. Isso é uma inferência que usa premissas deturpadas, como a de condenar a colonização violenta de Israel, significa imediatamente apoiar o Hamas. Nada mais desonesto…Repito: a maior parte da esquerda não defende o Hamas, mas condena a política de apartheid de Israel, e a contextualiza historicamente. São coisas completamente diferentes.
    “influência decisiva do nacional-socialismo germânico na promoção do nacionalismo árabe” outra inferência desonesta, sem citar fontes que baseiam tal inferência. Leia aqueles artigos acadêmicos que mandei lá no grupo democracia. Houve sim, em um curto período, um interesse de Hitler de se aproximar dos árabes, porque tinham um “inimigo em comum”, mas rapidamente os árabes perceberam que era roubada. Daí a dizer que o Nazimo influenciou o nacionalismo árabe não só é desonesto, mas também é uma afirmação que não encontra eco entre os pesquisadores do assunto.
    Por último, porque já me alonguei demais, e porque vc parece ser uma pessoa ponderada, te sugiro sempre questionar o que vc está lendo, sempre, por sua conta, buscar fontes miniamente confiáveis. Independentemente da visão de mundo do autor do texto, eu não posso confiar em quem não assina sua opinião, não cita fontes, mas se coloca como opinador que se quer deixa espaço para dúvidas ou reflexão. O texto todo é afirmativo, cheio de inferências de descontextualizadas. Um desserviço.

  11. Nos últimos dias, na Europa e nos Estados Unidos, para nem sequer evocar a grande maioria dos países muçulmanos, numerosas manifestações de apoio aos palestinianos têm defendido explícita ou implicitamente o Hamas ou promovido figuras ligada a essa organização. A mesma atitude é recorrente nas páginas de uma certa imprensa de esquerda e de extrema-esquerda, sobretudo a que reflecte posições identitárias ou nacionalistas. Mas como há quem não queira ver esta realidade, repito o que já escrevi num comentário a outro artigo:

    Aquela esquerda que agora aplaude acções do Hamas com o argumento de que se dirigem contra a ignomínia do apartheid sionista recorda-me a esquerda que há cem anos aplaudia a actuação de Hitler quando ele atacava a ignomínia do Tratado de Versailles.

    Passou um século e não aprenderam nada.

  12. Leo, você não enumerou. Ficou confuso. Não deu nem pra entende se o texto é teu ou se o texto é uma resposta que te deram. Quem é o “você” do texto? Vamos precisar do currículo do outro você, do você que que escreveu o texto, caso contrário não será possível interpretar as informações do texto.
    Mas pra facilitar a vida dos proximos comentadores, vou enumerar com números um resumo do exaustivo comentário: 1) Sem o anexo da capivara de quem escreve, o exercício de interpretação de texto fica prejudicado; 2) Ser de esquerda é ser um defensor amplo e irrestrito do identitarismo, por este motivo o Passa Palavra não é de esquerda; 3) Quem escreveu o texto tem sintomas gástricos quando se depara com pensamentos contrários aos seus; 4) Ciro Gomes é um ressentido e quem escreveu o texto não gosta dele.

  13. EXÉRCITO ZAPATISTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL.
    MÉXICO.

    Outubro de 2023.

    Há quase 15 anos, em nossas palavras, advertimos esse pesadelo.

    (…)

    Aqueles que eram menores de idade na época, há quase 15 anos, e sobreviveram….

    Há aqueles que foram responsáveis por semear o que está sendo colhido hoje, e há aqueles que, impunemente, repetem a semeadura.

    Aqueles que há poucos meses justificaram e defenderam a invasão da Ucrânia pela Rússia de Putin com base em seu «direito de se defender contra uma ameaça em potencial» devem agora estar fazendo malabarismos (ou apostando no esquecimento) para invalidar esse argumento diante de Israel. E vice-versa.

    Hoje, na Palestina e em Israel – e em todo o mundo – há crianças e jovens aprendendo o que o terrorismo ensina: que não há limites, nem regras, nem leis, nem vergonha.
    Nem responsabilidades.

    -*-

    Nem o Hamas nem Netanyahu. O povo de Israel sobreviverá. O povo da Palestina sobreviverá. Eles só precisam dar uma chance a si mesmos e se ater a ela.
    Enquanto isso, cada guerra continuará a ser apenas um prelúdio para a próxima, mais feroz, mais destrutiva, mais desumana.

    Das montanhas do sudeste mexicano.
    Subcomandante Insurgente Moisés.
    México, outubro de 2023.

  14. Este texto parece ter circulado fora dos leitores habituais do Passa Palavra, um desses leitores eventuais teve a coragem de vir aqui exibir sua ignorância sobre o assunto, quando basta um Google para confirmar a presença do Mufti na conferência de Bandung. Recebi um comentário de um dirigente de esquerda em privado que faz um eco parecido, ao defender que a crítica à religião é eurocêntrica. Pobre das mulheres iranianas já foram cooptadas pelo eurocentrismo.
    Para quem duvidava da permeabilidade que esse tema escancara entre temas da direita na esquerda os últimos dias devem ter sido duros.
    O site “ocafezinho” publicou a tradução de um texto Alexander Prokhanov, quando descobriram que se tratava de um notório antissemita de extrema-direita apagaram o texto. Mas se engana que pensa que fizeram isso pelas ideias contidas nele disseram textualmente “apesar de muita gente ter gostado, foi escrito por um autor extremamente reacionário” e em discussão posterior afirmaram que o texto pareceu apenas “uma denúncia contra o genocídio na Palestina”.

    Anos atrás o coletivo Wu Ming fez uma seleção de trechos do Stalin e colocou para circular como se fossem do Hakim Bay. A esquerda autônoma da época compartilhou empolgada o artigo, antes que eles revelassem a piada. Parece-me que hoje as consequências de fazer piada semelhante com textos fascistas seriam mais nefastas, porém bastante emblemáticas.

  15. A Foreign Affairs de hoje publica um artigo de Cole Bunzel, Gaza and Global Jihad, cuja leitura recomendo a quem deseje entender melhor o conflito na Palestina. O autor mostra as grandes divergências ideológicas e práticas que separam o Hamas do ISIS, ou Estado Islâmico, e da al Qaeda. Os conflitos entre as várias correntes políticas no Estado de Israel são bem conhecidos, mas o mesmo não sucede relativamente ao lado contrário. Daí a importância desse artigo.

  16. Este artigo “esquece” o ponto essencial em comum entre o Hamas, a Al Qaeda e o Isis. Os três acreditam na destruição do estado de Israel, na expulsão dos judeus (se ficam em vida) e, possivelmente, em deixar alguns vivos com o estatuto discriminatório de dhimmi. Veja este excerto de uma entrevista com um dirigente do Hamas que promete repetir os pogroms de 7 de outubro tantas vezes quantas as necessárias. O MEMRI é uma fonte de informação muito próxima dos serviços secretos americanos e israelitas (e nao esconda a sua natureza de organismo de propaganda), pelo que pedi a uma amiga “anti-sionista” que verificasse a tradução inglesa. Ela teve de admitir que os extractos (porque são extractos) estão impecavelmente traduzidos. Assim, a vontade genocidaria do Hamas, do ISIS e da Al Quaida é de facto comum, o que este jornalista não diz e porque ???. https://www.memri.org/tv/hamas-official-ghazi-hamad-we-will-repeat-october-seven-until-israel-annihilated-victims-everything-we-do-justified

  17. ASSINTOTICAMENTE: 5,4566341183228029867892016082711
    now and (t/w)hen?
    p.s.: mais ovo & menos galinhagem…

  18. Pensei que aqueles números fossem familiares a todos os leitores do Passa Palavra. No dia em que escrevi o comentário, tratava-se da quantidade de palestinianos mortos pelos bombardeamentos de Israel sobre a Faixa de Gaza, contraposta aos israelitas mortos pelo Hamas na incursão de 7 de Outubro, acrescida do número de soldados israelitas mortos durante as actuais campanhas em Gaza. No dia seguinte, o ministro israelita do Património, Amichai Ben-Eliyahu, membro do partido fascista Otzma Yehudit, sugeriu a possibilidade de Israel lançar uma bomba nuclear sobre a Faixa de Gaza. Se esta proposta tivesse sido aceite, a operação ficaria zerada.

  19. KITSCHNECROPOLÍTICO
    Desde que ninguém, à guisa de comentário, se disponha a atualizar (?) o cadavérico -posto que sumário- balanço…

  20. Caros,

    Segue uma informação interessante que eu acabei de ver no X (Twitter): o crescimento vertiginoso da audiência de nacionalistas brancos que são pró-Palestina:
    https://x.com/eladnehorai/status/1731902722813898991?s=46&t=NuiSs9tlhSv4tHJD-aqDPw

    E isso de maneira alguma diminui as barbaridades que Israel está neste momento cometendo em Gaza. É que, como tanto se discute neste site, a discussão não é sobre defender ou não a vida dos árabes palestinos (é claro que a gente precisa se solidarizar com eles), mas da forma como se defende. Defender os palestinos falando em “lobby judaico dos EUA”, teorias conspiratórias inevitavelmente envolvendo George Soros (porque ele é judeu), e dizendo que “Israel é um estado colonizador, e por isso merece ser destruído” (como se houvesse estado que não fosse colonizador) não dá.

  21. O célebre romancista Salman Rushdie declarou a um podcast alemão divulgado na semana passada e citado esta segunda-feira pelo jornal britânico The Guardian e em Portugal pelo Observador: «Defendi um estado palestiniano durante praticamente toda a minha vida — provavelmente desde os anos 80 — [mas] neste momento, se houvesse um estado palestiniano, seria liderado pelo Hamas, o que o tornaria num estado tipo-Taliban, que seria um estado cliente do Irão». «É isto que os movimentos progressistas da esquerda ocidental querem criar? Ter mais um estado tipo-Taliban, tipo-Ayatollah, no Médio Oriente, mesmo ao lado de Israel?», perguntou Rushdie. «A verdade é que, na minha opinião, qualquer ser humano devia estar perturbado pelo que está a acontecer em Gaza, devido à quantidade de mortes inocentes». «Simplesmente, gostaria que alguns dos protestos mencionassem o Hamas. Porque foi aí que isto começou e o Hamas é uma organização terrorista. É muito estranho que um grupo de jovens estudantes progressistas apoiem, de certa forma, um grupo fascista terrorista», acrescentou ainda Rushdie.

  22. Em Animal Farm, a irônica distopia de Orwell, todos os animais são iguais mas os porcos são mais iguais do que os outros.
    Na necrófaga distopia de Rushdie, um estado palestino continuaria defensável – desde que cliente de Israel, posto que geograficamente “ao lado de Israel”.
    Well: rush[&]die ok bye-bye…

  23. Afirmar que foi do Hamas “que isso ai começou” é uma ignorância ou uma espécie de propaganda, que trata como se não houvesse história antes de 7 de outubro ou que não houve história para o Hamas ganhar poder ou hegemonia na Faixa de Gaza.

    Salman Rushdle, por essa fala, antes de tudo supõe que os manifestantes “pró-Palestina” estão pedindo um Estado palestino. Quando se pede liberdade, ou fim de apartheid, ou fim de genocídio não se está pedindo um Estado novo. Para não ficar na utopia curda da construção de um não-estado, o fim do apartheid não implica necessariamente mais um Estado, mas implica nesse caso o fim de um Estado étnico. O apartheid existe em Israel porque é um Estado que nasceu para ser majoritariamente judeu ou supremacista judaico.

    Dito, isso, a ascensão do Hamas nunca esteve desvinculado do próprio interesse de Israel. Não é segredo que a política de Israel sempre foi a de minar a criação de um Estado palestino. E para isso buscaram cindir a política palestina na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Se eles não tivessem unidade de objetivos ficaria mais difícil avançar a ideia de Estado palestino como “solução”. Para buscar a fonte mais fácil e mais recente, que é a declaração de um alto funcionário israelense: In March 2019, Netanyahu told his Likud colleagues: “Anyone who wants to thwart the establishment of a Palestinian state has to support bolstering Hamas and transferring money to Hamas … This is part of our strategy – to isolate the Palestinians in Gaza from the Palestinians in the West Bank.” (https://www.theguardian.com/commentisfree/2023/oct/20/benjamin-netanyahu-hamas-israel-prime-minister).

    Existe algo de cruel, se não se trata de ignorância, afirmar Hamas que começou… Isso é naturalizar a vida num campo de concentração, ou prisão a céu aberto, como tem sido retratado pelas principais organizações de Direitos Humanos quando não por representante de governo israelense, mesmo antes do bloqueio após a eleição do Hamas.

    E aí não se trata de ter simpatia pelo Hamas, de achar que eles colocaram a população para sacrifício etc. Trata-se de propagar um discurso que apaga a história e normaliza uma situação que estava sendo normalizada. Porque se Hamas começou algo, então havia paz? A paz do cemitério edos campos de concentração.

    A fala do Salman Rushdie é do tipo, o “inimigo do meu inimigo é meu amigo”, o que sabemos que está longe de ser verdade. Ele simplesmente reproduz toda a propaganda absurda dos sionistas, de que os manifestantes a antissionistas, ou pela liberdade e vida dos palestinos defendem o Hamas! Já virou piada isso pelo mundo, todo mundo que critica Israel é antissemita e pró-Hamas. Salman Rushdie gostariam que os manifestantes falassem do Hamas pra mentira que eles está propaganda deixar de ser, simples assim.

    O embaixador de Israel na ONU esses dias afirmou, em mais uma afirmação lunática de Israel na ONU, que “sabíamos que o Hamas se escondia em Gaza, mas não sabíamos que ele estava se escondendo em Harvard e Columbia”.

    O que estamos vendo é gente que diante de um um massacre já considerado um genocídio plausível pela Corte Internacional e uma limpeza étnica de pessoas que já vivem sob apartheid, está se escondendo atrás do Hamas.

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