Se há mais de uma década o PT governa o país enquanto esquerda pró-capital, por que o capital quer a saída do PT do poder? Por Pablo Polese

O texto visa contribuir com a análise de conjuntura. É o resultado de uma pesquisa sobre quais setores capitalistas estão por trás da oposição de direita ao PT. O tema surgiu depois das mobilizações de massa em março e abril deste ano, as quais ocuparam as ruas e colocaram em pauta a saída do PT do poder, tema que segue até o momento. Se há mais de uma década o PT governa o país enquanto esquerda pró-capital, por que o capital quer a saída do PT do poder? Além de levantar os dados de financiamento das campanhas eleitorais de PT e PSDB em 2014, a fim de observar quem já almejava a saída do PT do poder desde as eleições, trago ainda outros dados de inúmeras espécies, sempre no intuito de rastrear as contradições entre capitais influentes no Estado e atuantes (ou querendo atuar) no Brasil. Ao mesmo tempo, problematizo alguns dos desafios postos à extrema esquerda nessa conjuntura em que por um lado temos protestos de massa sendo mobilizados pela direita contra a ex-esquerda e por outro temos essa esquerda pró-capital tentando se legitimar como a melhor opção de governo, seja para os capitalistas (implantando o pacote de medidas de austeridade e de ataques a direitos dos trabalhadores) seja, paradoxalmente, para os próprios trabalhadores, reforçando o medo do “golpe” da extrema direita e a tese de que o PT é o “mal menor”. A extrema esquerda não pode ser massa de manobra nesses atritos entre frações do capital e, por isso, precisa formular sua própria estratégia, o que exige uma realista análise de conjuntura.[1]

Introdução

4Segundo os dados recentes da economia mundial, a queda do preço do petróleo em todo o mundo, a alta do dólar e o excesso de oferta de commodities – em especial por conta da diminuição da demanda chinesa – criaram a “tempestade perfeita” para queda no preço dessas mercadorias. A título de exemplo, observe-se que de março de 2014 a março de 2015 o preço da soja teve queda de 30,9%, o do milho 21,69%, do trigo 5,29%, do açúcar 25,69%, do café 27,82% e do minério de ferro 58%. Como a economia brasileira está largamente assentada no setor exportador, as implicações econômicas e políticas da desvalorização das commodities (incluída a “commodity especial”, o petróleo) não poderiam ser maiores. Mas a tal “tempestade perfeita”, em sua aclimatação brasileira, vai muito além desse cenário estritamente relacionado à crise econômica, o preço das commodities e a cotação do dólar [2], e não por acaso Paulo Arantes chegou a escrever um ensaio norteado pela ideia.

A tempestade perfeita brasileira aparece já como tentativa de resposta, como engendramento de solução ao problema que emerge, trazendo para o olho do furacão da crise econômica outros elementos, dentre os quais uma “crise institucional” que levou o governo do PT a enfrentar momentos de instabilidade política e, ao que parece, um risco real de impeachment contra Dilma. Ao criar um clima conjuntural confuso e turbulento, favorecendo o manejo social e institucional de pressões econômicas e políticas tanto contra o governo petista quanto contra os trabalhadores, a tempestade perfeita foi uma benção para o capital.

Foi durante a tormenta que um setor do capital abocanhou parte da Petrobras. Inclusive, os beneficiários foram também setores do capital externo, que veio com dólares valorizados comprar os ativos desvalorizados da empresa brasileira, incluindo o pré-sal. Mas a crise da Petrobras não passou de um episódio – importante, é verdade – na configuração da tempestade perfeita. No imediato pré-eleição a empresa estatal era apresentada por analistas do jornal Valor Econômico como uma empresa que, embora apresentasse um alto nível de endividamento, se destacava “com folga” em face das principais concorrentes mundiais do setor “como aquela que mais investe e, portanto, como a que tem as melhores perspectivas em termos de crescimento de reservas e de produção de petróleo para os próximos anos”. Longe do cenário catastrófico que enredou a empresa, em fins de 2014 era previsto que as ações da estatal subiriam no pós-eleição, como resultado das expectativas positivas em virtude da consolidação dos investimentos e aumento da produção, além da perspectiva de um reajuste do combustível e diminuição da exposição negativa da empresa na mídia (cf. Valor Econômico, 20/08/2014). O que vimos foi o contrário: um ataque em massa contra a estatal, ancorado em denúncias de corrupção.

2Foi a “tempestade perfeita”, enquanto articulação de crise econômica e crise política amplamente divulgada na mídia, canalizada contra o governo e pesando contra a classe trabalhadora, que permitiu avançar o “pacote de maldades” que inclui a lei da terceirização (ver aqui e aqui) e os ajustes da austeridade à brasileira (aqui e aqui).

Abrangentes, as medidas do “pacote de maldades” englobam os cortes de orçamento [3] estatal em setores ligados ao “social” e a retomada de direitos trabalhistas (por exemplo a MP 664, que limita a pensão por morte, ver aqui e a MP 665, que mudou as regras do seguro-desemprego, ver aqui) visando aumentar os lucros das empresas e controlar um setor potencialmente rebelde da classe, deixando-o em situação ainda mais precária e economicamente vulnerável (ver aqui). Além disso o “pacote de maldades” inclui a mudança na legislação quanto ao trabalho escravo (ver aqui), a indicação e aprovação na calada da noite (depois de rejeitada a proposta no mesmo dia) da redução da maioridade penal (ver aqui, aqui e aqui) e outras pequenas, porém significativas pautas de direita que aproveitaram a maré e passaram, com pouco ou nenhum protesto popular. Não por acaso, os dados da Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE, apontam 10% de desvalorização real da força de trabalho, de novembro de 2014 a maio de 2015 (ver aqui). Não bastasse, em início de julho o governo lançou uma Medida provisória autorizando as empresas a reduzir o salário e a jornada de trabalho em até 30%, alegadamente com o objetivo, que não deixa de ser uma ameaça aos trabalhadores, de “reduzir os gastos com seguro-desemprego” e manter a arrecadação de INSS e FGTS (aqui). Assim, impõe-se uma medida drástica e já se alerta, nas entrelinhas: ou aceitam o arroucho ou serão demitidos. Em resumo, a tempestade perfeita do início de 2015 significou um dos piores trimestres da história dos trabalhadores no Brasil.

tempestade_07Dado que muitos desses “pacotes de maldades” já vinham sendo pressionados e já estavam previstos para 2015 independentemente de quem vencesse as eleições, é preciso olhar atentamente para a conjuntura, evitando a fácil e superficial leitura de que o PT fora atacado pela direita e seus interesses. De fato passar as medidas do “pacote de maldades” era de interesse do próprio PT e dos setores econômicos que o sustentam no poder, por isso há que se perguntar se essa tempestade não teria sido aproveitada pelo PT e sua base política e econômica enquanto o clima perfeito de instabilidade conjuntural que permitiria passar várias medidas de interesse do capital e do governo, sem que a classe trabalhadora se rebelasse e conseguisse barrar os ajustes, dado o temor da oposição de direita, do golpe militar e demais fantasmas que ressurgiram com força nessa conjuntura, em parte graças ao papel da grande mídia. Outro divulgador em massa da amedrontadora tese de que se estaria em preparação um golpe militar e um cenário social ainda pior que o atual, foram, evidentemente, os próprios petistas, alarmados e/ou buscando se armar com a tese do “mal menor”, em ambos os casos levando-os a autolegitimar a permanência do PT no poder.

Dada essa hipótese do caráter providencial da tempestade perfeita, ao contrário do que toda a aparência indica, a oposição de direita – embora de fato exista – teria proferido um ataque que acabou criando um ambiente conjuntural útil aos interesses gerais do governo petista: como o PT conseguiria passar o “pacote de maldades” que já vinha sendo gestado desde antes das eleições, num ambiente político de recém-eleição muito apertada e onde precisou-se mobilizar toda a base militante e se levantou fortes expectativas de viragem à esquerda do governo de “Dilma coração valente” etc.? Isso, somado ao fato de que tanto a oposição de direita quanto o governo da ex-esquerda estão se ancorando e encontrando respaldo político e ideológico em estratos da classe trabalhadora, traz à tona uma série de questões e desafios para a extrema esquerda, tanto do ponto de vista da luta social e prática quanto do ponto de vista da elaboração teórica realista que permita uma crítica contundente aos projetos capitalistas em disputa.

Já é contado em décadas o balanço de que o governo do PT é um governo que chega ao poder em 2003 e apresenta uma Carta aos Brasileiros, carinhosamente apelidada de “Carta aos Banqueiros”, progressivamente se consolidando enquanto partido de esquerda pró-capital. Desde então transcorreu uma década de lutas da esquerda contra a direita e contra a ex-esquerda no poder, sendo que o ápice desse processo ocorreu nas Jornadas de Junho de 2013.

tempestade_06Com a recente onda de protestos da oposição de direita ao governo da ex-esquerda, que tiveram seu ápice no dia 15 de março de 2015, ganhou força o tema do impeachment de Dilma Rousseff. Meses atrás, vimos uma vitória apertada de Dilma na disputa eleitoral com Aécio Neves (PSDB), e não restou mais dúvidas de que amplas forças sociais queriam a saída do PT do poder. O que surpreendeu, e deixou a todos com uma pulga atrás da orelha, foi perceber que as próprias classes dominantes queriam a saída do PT. Ora, se o PT vem governando o país há mais de uma década com a mão direita, por que a direita está contra o PT? A questão então nos pareceu ser a de que há direitas, do mesmo modo que há capitais, ou seja, existem divergências políticas e econômicas entre setores sociais das classes dominantes em disputa. Restava então saber: quais são esses setores da direita que estão descontentes com o PT, e por quê? A quem interessa a saída do PT do poder?

Nossa primeira hipótese partia das mudanças levadas a cabo pelos governos petistas no âmbito da estrutura econômico-social. Como o campo do trabalho e da geração petista de empregos deu luz a uma “nova classe média” que labora e recebe tal como qualquer classe proletária de trabalho precarizado, não justificando, portanto, o uso da designação “nova classe média”, voltamos nosso olhar para as alterações no plano do consumo: a chamada classe média tradicional estaria perdendo poder de compra, e as estatísticas de distribuição de renda comprovariam isso. De outra parte a classe trabalhadora estaria ganhando poder de compra, e bastaria ver a evolução real do salário mínimo, no gráfico a seguir, para o constatar. Em primeiro lugar, essa tese já chega torta ao se apoiar no conceito de “classe média”. A nosso ver essa categoria, que aparece noutros pensadores metamorfoseada em “pequena burguesia”, é bastante problemática: nela se engloba tanto os estratos superiores de trabalhadores qualificados quanto os estratos inferiores de gestores e tecnocratas, bem como profissionais bem remunerados dos setores de serviços. Inclui-se num só conceito, portanto, trabalhadores qualificados e capitalistas de baixo escalão. Na leitura da estrutura social que se apoia nessa categoria as “razões” por trás da oposição de direita estariam enraizadas na oscilação das condições de vida no centro da pirâmide social brasileira, e tal oscilação constituiria o lastro material do ganho de expressividade de um conservadorismo que estaria histórica e estruturalmente arraigado nessas camadas médias de trabalhadores de alto e capitalistas de baixo escalão. Esse conservadorismo teria transbordado nos últimos tempos, em especial depois de junho de 2013 acirrar as contradições sociais até então mais ou menos subterrâneas, contribuindo com o delineamento mais nítido das posições políticas de cada classe ou fração de classe nas lutas sociais cotidianas. Alguns analistas que partiram desse modelo chegaram a falar em “nova direita”, a qual seria, invariavelmente, antipetista (ver: aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

imagem p1

Em suma, nessa hipótese, amplamente defendida e difundida não só pelos petistas, mas também por setores da esquerda que transitam em torno do eixo do programa democrático-popular, seria a chamada classe média reacionária e protofascista brasileira o pivô a empolgar a insatisfação de direita ao governo do PT. Essa vertente de esquerda passou então a defender, mais do que já defendia desde que o PT chegou ao poder, a tese da retomada do programa estratégico democrático-popular, que teria sido abandonado pelo partido, seduzido pelo poder etc.

Quanto aos conflitos no âmbito dos estratos de classe superiores, ou seja, a luta entre capitalistas, notamos que antes de lançar qualquer hipótese seria preciso fazer a análise mais ou menos detalhada do desempenho recente dos setores da economia, uma vez que a prática política é sempre expressão de interesses materiais. Nosso estudo mostrou, por exemplo, que dentro da agropecuária brasileira há tanto setores que vêm se dando muito bem quanto subsetores “na quebradeira”: a safra anual de alguns setores agrícolas pode ser boa, mas o valor de venda não compensar o esforço produtivo etc. Os resultados econômicos é que fornecerão o substrato para a prática política dos setores capitalistas envolvidos. Na indústria o cenário é semelhante ao do setor agrário. Já no setor financeiro notamos a quebra recorde de lucros em sequência, a cada ano de governo petista, o que supostamente os desligaria dos interesses na saída do PT do poder. Deslindar de modo mais aprofundado a relação entre setores da economia e seus representantes no parlamento seria então o passo seguinte fundamental para entender a “crise política atual” e mapear quais são as forças econômicas por trás da oposição de direita ao PT.

Para alguns de nós, da extrema esquerda, o tema talvez pareça sem importância, já que indica tão somente uma disputa entre inimigos em comum e, portanto, nos restaria lavar as mãos e eles que são gregos que se entendam. Mas a coisa se complica quando atinamos que aquele que julgávamos como nosso habitat (se não de jure, ao menos de facto), as ruas, numa continuação extemporânea da Revolta dos Coxinhas (ver aqui e aqui), estão sendo ocupadas, mesmo que minoritariamente, por elementos da classe trabalhadora. Ou seja, atos da direita mobilizando a classe trabalhadora. Ao longo da história isso nunca foi e jamais será um bom sinal. Que maldição é essa, nós da extrema esquerda nos perguntamos, enquanto pensávamos a que se destinava nossa existência (ver aqui).

tempestade_05Então seguimos com a dúvida acerca dos fundamentos dessa conjuntura maluca, convencidos de que respondê-la é importante porque distintos espectros políticos, da extrema direita à extrema esquerda, estão mobilizando a classe trabalhadora, de modo que faz-se necessário, então, compreender o que está havendo, a fim de delinear nossas estratégias políticas com mais realismo e contundência.

Nos parece certo que a extrema esquerda, não apenas brasileira, atravessa uma crise, e que “crise não é mais sinônimo de abertura de oportunidades” (Paulo Arantes), mesmo se a crise em questão for a crise do capital. Ainda assim a porta histórica que se fechou com os sequentes fracassos e derrotas da esquerda mundial segue sendo uma porta, e na busca por caminhos alternativos para abri-la estamos apalpando, ainda aos caquinhos e mais ou menos no escuro, é verdade, mas apalpando, curiosos por saber o que nos atingiu e levemente impacientes. Após a assimilação histórica dos principais órgãos de luta da classe trabalhadora brasileira à ordem do capital, a qual tem em seu centro o principal partido forjado pela classe, o PT, além das principais centrais sindicais (CUT etc.) e movimentos sociais (MST, MTST etc.) restou uma esquerda fragmentada que vem tentando forjar caminhos. Nessas fileiras nos parecem promissores aqueles movimentos e coletivos que estão a buscar uma remodelação crítica dos conceitos de autonomia e de trabalho de base. O que foi que não fizemos, ou que fizemos mal feito, ou que fizemos bem feito demais e nos levou à ossificação e à integração à ordem contra a qual lutávamos? Não sabemos ainda muito bem o porquê desse destino, mas algo deu errado na estratégia, e a crise da esquerda é mais que evidente, já que as ferramentas de luta que historicamente forjamos – teóricas e organizativas – não se afinam mais com as exigências atuais da luta anticapitalista.

Se a paralisia intelectual ou política tem como única consequência relegar-nos à insignificância política, sigamos no desbravamento de vias e fissuras no seio de um sistema assentado em bases políticas sólidas (já as econômicas assentam em homéricas bolhas de crédito – c.f.: aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e especialmente o Relatório completo, aqui). Uma dessas vias, complementar a essa do repensar e refazer do trabalho de base e da nossa prática autonomista, reside na compreensão o mais profunda possível da conjuntura (ver, quanto à estratégia política para os próximos 4 anos “A saida de Gilberto Carvalho e a Frente de esquerda do PT”; e quanto às recentes medidas de austeridade “Austeridade à brasileira”). Reside, portanto, em tirar essa pulga de trás da nossa orelha, e entender o que nos trouxe a essa tempestuosa conjuntura onde sugerimos que a classe trabalhadora não fosse às ruas no 13 e ficasse em casa no 15 de março, sem havermos construído qualquer outro ato que canalizasse a insatisfação dos trabalhadores com o status quo. A esquerda sem prática se torna escolástica, mas quê fazer quando ainda se está a compreender o que não se deve fazer, para não repetir os erros recentes do passado?

Não se faz a história como se deseja, e é no rastreio da conjuntura e dos interesses políticos e econômicos em jogo, no rastreio dos motivos ocultos por detrás dessa “tempestade perfeita” em que ganha expressividade uma oposição de direita ao governo da ex-esquerda, que partimos. Esse texto é o resultado provisório, que colocamos na roda para pensarmos em conjunto as saídas da tempestade.

Um rápido resgate histórico

sonhar-com-tempestadeA forma da pergunta determina as respostas possíveis. Quem pergunta se vai chover hoje certamente não ouvirá como resposta que seus sapatos estão embaixo da cama. Saber, portanto, quem quer o PT fora do governo exige entendermos quem, e em quais condições, o quis ou o aceitou dentro do jogo.

Do ponto de vista histórico, o PT chegou ao poder em consequência de uma dupla crise apresentada pelo governo do PSDB: crise econômica, no sentido de esgotamento dos potenciais do “projeto neoliberal” de gestão do Estado no capitalismo brasileiro, e crise política, no que tange à incapacidade de contenção dos conflitos sociais no campo, na cidade e dentro das empresas. Nos três últimos anos do segundo governo FHC os conflitos eram reprimidos violentamente, quando o mais interessante para o capital é que eles sejam assimilados e apassivados pela via dos mecanismos de mais-valia relativa. Desde a redemocratização, o modelo de gestão do Estado encabeçado pelo PSDB cumprira sua missão histórica e se tornara dispensável, anacrônico. A continuidade dos projetos do capital para o Brasil demandava, em primeira mão, o apassivamento da classe trabalhadora, a qual desde o fim da ditadura ensaiava formas de retomar um projeto de mudanças sociais potencialmente anticapitalista, interrompido com o golpe de 1964. É por ter a capacidade de manejar de perto a classe trabalhadora, negociando e apassivando seus setores mais rebeldes, que o PT chega ao poder. A defesa de que a chegada do PT ao poder se dá como imposição da classe trabalhadora e impossibilidade dos setores capitalistas repetirem a tática manipulatória da campanha de 1989 (quando em grande medida graças à estratégia da Rede Globo Collor venceu Lula), apenas reforça essa tese, pois assim seria a chegada do PT ao poder a virtual concessão apassivadora dos ânimos mais rebeldes ou potencialmente rebeldes de uma classe trabalhadora que via no PT a expressão de seus anseios e a possibilidade de realização de suas demandas pela via institucional. Foi o caso, por exemplo, do Movimento dos Sem Terra.

Estando dada a aposta da esquerda e da classe trabalhadora em geral em Lula, bastava o capital apoiar a candidatura petista, financiando-a e não lançando mão de subterfúgios manipulatórios tais como aqueles de 1989, para que Lula chegasse lá. E a aposta capitalista foi certeira: com esforços militantes centrados desde 1989 na via eleitoral, a chegada do PT ao poder em 2003 significou arrefecimento das lutas contra o capital, tanto no plano sindical, com a CUT atrelada ao governo, quanto no plano dos movimentos sociais. Com respeito ao MST e demais organizações de luta pela terra, o que se viu foi uma postura de apoio crítico ao governo “em disputa”, com leve aumento do número de ocupações de terra em 2003 e 2004, seguida de uma redução das ações mais radicais a partir de 2005, chegando a apenas 184 ocupações em 2010, o menor número desde 1995. De início, o decréscimo de lutas se deu porque havia a esperança de que a reforma agrária seria posta em prática por Lula, e de fato em 2005 e 2006 houve um número expressivo de novos assentamentos (o ápice foi 2005, ano em que foram assentadas 89.738 famílias). Não obstante, em todos os demais anos de governo petista de Lula a Dilma o índice foi baixíssimo, chegando ao número de apenas 3.904 famílias assentadas em 2010. A partir de 2005 a conjuntura das denúncias do Mensalão deu ao MST novo estímulo ao arrefecimento das lutas, em virtude da avaliação de que um confronto mais radical contra a ordem e contra o governo daria mais força à oposição. A tese do PT enquanto “mal menor” não nasceu em 2014.

imagesNos dois governos de Lula um conjunto de fatores ainda se somaria ao rol de benesses da gestão petista, para alegria dos capitalistas em ação no país. Em primeiro lugar, as condições favoráveis no mercado internacional dariam ao Brasil potenciais de crescimento econômico via ampliação dos tentáculos de integração econômica para além da clássica dependência para com os EUA e a Europa. Em segundo lugar, uma aproximação com a China e outros países fora desse eixo, especialmente com vistas à exportação de commodities, que apresentavam um “superciclo” de valorização que só agora, em 2015, está se esgotando. Em terceiro lugar, a atração de investimentos estrangeiros lastreados na manutenção de altas taxas de juros e na garantia de estabilidade política que só um partido intimamente ligado à classe trabalhadora podia dar. Em quarto lugar, o comprometimento do Estado brasileiro com o financiamento e a garantia dos lucros dos capitalistas, não só pelas costumeiras medidas de isenção tributária, financiamento e concessões etc., mas pela encomenda de megaprojetos relativos ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como também pela via da atuação incisiva do BNDES no financiamento de megaoperações de grandes empresas. Além disso, havia ainda o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal financiando a produção de pequenas e médias empresas ao mesmo tempo em que oferecia uma sólida linha de crédito aos consumidores; isenções de impostos garantiriam superlucros ao setor automobilístico e eletroeletrônicos. Em quinto lugar, um política monetária de valorização do câmbio e manutenção de uma alta taxa de juros (SELIC) que, aliadas às demais medidas de política econômica garantiram para o setor financeiro não só uma sequência de recordes de lucro dos bancos privados como ainda altos índices de superávit primário e o pagamento religioso dos juros da dívida externa.

Tudo isto enquanto a Central Única dos Trabalhadores (CUT), maior central sindical do Brasil, da América Latina e quinta maior do mundo, se consolidava enquanto central pelega que pré-negociava os ajustes salariais em termos benéficos aos patrões e se convertia, junto aos principais sindicatos, em administradores de fundos de pensão. Um dos mais visíveis indicadores do recuo das lutas coletivas dos trabalhadores, a partir dos anos 1990, foi a diminuição do número de greves, refletindo a passagem dos sindicalistas de uma estratégia de conflito para uma de negociação, de um modelo de sindicalismo combativo e classista para outro de sindicalismo de resultados. Se em 1989 ocorreram cerca de 4 mil greves em todo o país, a partir de então as greves viveram um ciclo declinante: 1.228 greves em 1996, 525 em 2000, 298 em 2002 e 299 em 2005.

Nebraska Supercell

A nosso ver o baixo número de greves ainda durante o último governo FHC – na contramão do ascenso de lutas dos movimentos sociais do campo – já está diretamente ligado à concentração de forças da CUT e PT nas eleições de 2002. A conjuntura de altos índices de desemprego e de pesada precarização do trabalho, aliada ao apassivamento dos órgãos sindicais resulta em uma conjuntura de difícil manejo pelos trabalhadores. A conjuntura desfavorável poderia ter sido combatida por meio de práticas mais incisivas, inclusive por fora da estrutura sindical, mas o que se viu via de regra foi o sindicalismo aprofundando sua prática defensiva e conciliatória, onde os interesses dos trabalhadores ficam em terceiro plano. A massa de desempregados foi usada pelos patrões como lastro atemorizante contra os grevistas, e há que se levar em conta também o fato de as antigas críticas cutistas à estrutura sindical oficial terem sido abrandadas à medida em que sindicalistas ligados à CUT passaram da oposição às diretorias sindicais, captando, portanto, os recursos oriundos do imposto sindical e direcionando-os à construção da central (e a outras coisas).

Além do mais, há o fato de a chegada do PT ao governo federal em 2003 ter resultado no direcionamento dos círculos mais altos da estrutura sindical à gestão de fundos de pensão e a cargos governamentais de alto escalão (inclusive ministérios e secretarias de Estado). Nesse processo vimos a transformação da CUT em correia de transmissão não só do PT (o que já era havia tempos), mas do próprio governo, o que foi complementado por uma modificação na legislação sindical que tirou as centrais sindicais da “informalidade” e incorporou-as, efetivamente, à estrutura sindical. Tudo isto, enfim, numa retroalimentação, influiu e contribuiu para a passagem concomitante tanto da CUT quanto dos governos petistas para o centro, e com a aproximação e simpatia, quase amor, que o PT passou a nutrir pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e sua maioria parlamentar no Congresso, a qual garantia a governabilidade do PT no âmbito institucional.

7Paralelamente, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o maior movimento social da América Latina, vivenciou um abandono progressivo da combatividade presente na organização maciça de ocupações de terras, que questionavam diretamente a propriedade privada, e que foi sendo substituída por um projeto de associação subordinada ao desenvolvimento capitalista do campo através de parcerias públicas e privadas que promovessem uma agroindústria de menor escala e assentada na produção agroecológica, uma “agroindustrinha” que muitas vezes sequer chegava a isso (ver aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Além disso, o MST vivenciou uma mudança de sua base social, que era majoritariamente de trabalhadores rurais expulsos e acampados, para trabalhadores urbanos expulsos para o campo, o que inclusive levou o movimento a ensaiar experiências organizativas na cidade, como as comunas urbanas, e outros processos que acabaram dando origem ao MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). Concomitantemente, a base do MST passou de acampada para majoritariamente assentada, e em virtude disso e de interesses econômicos o movimento passou a focar na luta pela consolidação dos assentamentos via créditos agrários e programas sociais (Luz para Todos, Programa Nacional de Alimentação Escolar etc.), aumentando sua já enraizada relação com o Estado e governos. Defendendo quase incondicionalmente as políticas do PT no governo, com a eventual e pontual crítica à política econômica, o MST viu o agronegócio mudar o perfil dos velhos latifúndios rurais improdutivos que combatia para o avanço avassalador da agroindústria em larga escala, da produção agropecuária com uso intensivo de tecnologia de ponta etc., o que, somado ao quadro geral, contribuiu com o arrefecimento de sua combatividade. Tendo perdido a “mordida” ao longo dos anos, conforme sua base social passava a ser prioritariamente de assentados, e tendo censurado quem entre seus integrantes ainda ousasse “morder”, o MST desde 2011, quando importantes lideranças deixaram o movimento, se vê diante de extremas dificuldades de mobilização, quase paralisado e cercado, atônito pela percepção de que a reforma agrária não viria nem mesmo com “Lula lá” e, face a isso, acaba se mostrando anestesiado tanto pelo fetiche de fazer parte do poder e do governo “em disputa” quanto pela sedução das linhas de crédito agrário para seus assentamentos. O resultado é que desde então o MST é a sombra do movimento social combativo e de massas que um dia foi.

Com todo este cenário, o Brasil sob os governos do PT apareceu aos empresários como algo parecido ao paraíso. Não foi por acaso, aliás, que nessa onda o país acabou sendo escolhido para sediar megaeventos que turbinariam ainda mais os lucros de vários setores, especialmente os da construção civil. De repente, com a descoberta do pré-sal a Petrobras escalou vários degraus no ranking de maiores empresas do mundo. Tudo conspirava a favor e parecia que a velha profecia do Brasil como país do futuro finalmente se realizara. Quando veio a crise de 2008/2009 e o PIB recuou 0,2% Lula lançou a metáfora da “marolinha” e a aparência fora de que o Brasil seguia a mil. No ano seguinte, último dos 8 anos de Lula na presidência, o país chegou à marca de 7,6% de crescimento; estavam dadas as condições para o novo Vargas indicar seu sucessor; foi então que veio Dilma Rousseff, representando a continuidade do projeto, na falta de outro nome depois do estrago que a crise do mensalão causara nas fileiras de quadros do partido, em 2005 e 2006.

tempestade_09Diante do frenesi “neodesenvolvimentista”, mesmo a população foi seduzida pelas benesses do Programa Bolsa-Família (ver aqui e aqui), voltado às franjas da extrema pobreza, e da ampliação do acesso a bens de consumo duráveis via linhas de crédito, isenções tributárias, financiamento do ensino superior etc., tanto à classe trabalhadora como um todo quanto às camadas médias. Os dados de desemprego apresentavam bons índices; o salário mínimo foi reajustado continuamente acima da inflação até que uma política de gatilho de produtividade foi pactuada por lei em 2011; tudo isto encobria o fato de que a tal “nova classe média” propagandeada pelo governo era composta de gente pobre que ganhava até 1 salário mínimo e meio por mês (para um panorama da estrutura econômico-social do Brasil recente ver Reflexões sobre a autonomia (6): classe e autonomia na era PT).

A propaganda governamental da “nova classe média” ocultou também que o trabalho desta “nova classe”, conquanto mais formalizado, se dava em piores condições laborais; que o endividamento entre os trabalhadores crescia vertiginosamente, alimentado pela facilitação ao crédito e a inserção das massas no sistema bancário e creditício formal; que à maior qualificação da classe trabalhadora correspondeu uma degradação laboral e salarial das profissões mais bem remuneradas exercidas por esta mesma classe; ocultava, enfim, que melhorias no nível de vida não significam o fim da exploração capitalista, que a formação de uma “sociedade de classe média” é ilusão ideológica antiga (as literaturas acadêmica e militante sobre o assunto são vastas e antigas) e que mesmo as mais sólidas condições de mercado e economia impulsionadoras deste bem-estar são precárias e provisórias enquanto durar a exploração capitalista do trabalho.

A classe trabalhadora estava historicamente acostumada a ser colocada em situação de “anomia” em face da sociedade civil: além dos direitos políticos podados na prática, os trabalhadores tinham seu acesso ao mercado consumidor interno historicamente reprimido. Nas últimas décadas eles foram sendo inseridos no circuito do consumo, o que, do ponto de vista subjetivo, levou-os a serem facilmente encantados pelas pequenas, mas impactantes melhorias no nível de vida, pelo modesto processo de desconcentração de renda, pelas expectativas de fato abertas de ascensão social via financiamentos estatais de educação (FIES) e qualificação profissional, etc. Na medida em que a classe aproveitou tudo ao máximo numa perspectiva individualista e fragmentária, fortaleceu uma identidade esquizofrênica de classe em que os “guerreiros” e “batalhadores” têm como horizonte não mais alternativas secularizantes, humanas e associativas que foram priorizadas no passado, conquistas de pautas crescentemente progressistas e tendentes à ruptura com o capitalismo, mas alternativas individualistas, plenamente inseridas nos marcos políticos, sociais, econômicos e ideológicos do capitalismo, o chamado empreendedorismo de si mesmo, em detrimento da organização coletiva visando mudar a sociedade. E assim chegamos a alguns dos problemas políticos do presente.

Notas

[1] Agradeço ao Manolo pelo apoio e pela ideia da pesquisa, embora eu só tenha conseguido executar metade do roteiro. Obrigado ao João Bernardo e ao Leo Vinicius por terem lido uma versão preliminar do texto.
[2] A queda no preço do petróleo começa em agosto de 2014 com a interrupção da importação do “sweet oil” (“óleo doce”, o petróleo com baixo teor de enxofre) pelos EUA. Se agrava em novembro, quando a OPEP não age contra o excesso de oferta, e o preço do barril cai abaixo dos US$ 50. Essa queda leva à queda do preço das commodities que usam petróleo como insumo, mas também baixa os custos de produção de algumas delas. O petróleo é combustível para máquinas na produção e na distribuição (transporte) das commodities, além de ser base da ureia, um tipo de fertilizante. Os dados apontando a recuperação econômica dos EUA levam à alta do dólar e isso é ótimo para os exportadores, porém o excesso de produção e a desaceleração econômica da China (maior compradora de soja e outras matérias-primas agrícolas, metálicas e energéticas) levam à novo impulso na queda nos preços. Analistas apontam que a China parece estar mudando o ciclo ligado à infraestrutura para um ciclo mais ligado à urbanização, sempre aumentando a população, o que muda o tipo de demanda de commodities, por isso acreditam que a queda dos preços é temporária e faz parte de um ajuste econômico decorrente das mudanças no plano da geopolítica do petróleo e especialmente em relação à economia estadunidense e chinesa.
[3] Curiosamente, em meio aos esforços do ajuste fiscal, o governo – mais especificamente a Camara, presidida por Eduardo Cunha – passou em quase sigilo uma MP aumentando o prazo de validade da isenção tributária para as Igrejas.

8

As fotografias que ilustram o post são de Sean Heavey.

18 COMENTÁRIOS

  1. O texto é muito interessante e trás uma reflexão super atual num momento em que a câmara dos deputados discute a “reforma” política e se questiona o financiamento de campanhas como fulcro de lobbys e muita corrupção. É um debate urgente frente as investigações do TSE do lava-jato, das contas da campanha de Dilma no pleito de 2014 e do questionamento dos malabarismos fiscais de seu governo pelo TCU.
    Ademais, analisar as frações de classe burguesas em disputa no interior do bloco no poder capitalista permite delimitar quem é quem no seio da frente neodesenvolvimentista e suas dissidências. Tal estudo ajuda a compreender quais as alianças e os interesses que estão em jogo neste momento decisivo e cheio de incertezas, no qual o governo aponta para um enfraquecimento das relações sul-sul e realiza um movimento, melancólico e sem brios, de realinhamento as políticas norte-americanas, além de um ajuste fiscal rudimentar que tem angariado os piores resultados da dinâmica econômica brasileira em décadas. Assim, é urgente compreender qual a estrutura e conformação desta frente policlassista, que tem o PT como instrumento político, para vislumbrarmos os possíveis caminhos a serem trilhados frente sua desintegração e eminente esfacelamento.

  2. Uma brilhante análise de conjuntura. Leitura obrigatória para todos aqueles que se esforçam em compreender o tempo presente e o atual projeto em curso no país.

  3. De um modo geral, a análise é certeira. 1) gostei particularmente do parágrafo da página 2 em que se responsabiliza o próprio PT pela hipervalorização que se faz da direita, abrindo com isso os caminhos para implantar o pacote de maldades. 2) na página 3, a discussão adentra o plano das contradições entre o ser e a consciência de classe. Pablo não fala nesses termos exatamente, mas entendo que seja disso que trata quando fala da “nova classe média”, um engodo composto de trabalhadores precários com consciência de consumidor pequeno burguês. É essa classe que, ao ser despolitizada pelo PT, hoje encontra nas críticas elaboradas pela direita formas de repolitizar. O fascismo já fez isso e o João Bernardo em seu monumental estudo Labirintos do fascismo trata do problema. 3) acho que seria necessário precisar melhor o conceito de neodesenvolvimentismo petista como resposta à crise do neoliberalismo. Eu, particularmente, não acho que sejam divergentes. O PT, com suas políticas sociais, deu novo fôlego ao neoliberalismo. 4) 89 não era ainda a hora do PT, aquela foi uma derrota anunciada. Parabéns pela análise, concordando ou não com toda ela, constitui um grande e generoso instrumento para nossas próprias análises. Esperemos pelas próximas partes, e pela discussão das saídas nacionais ou internacionais que historicamente se apresentaram às frações burguesas em disputa no Brasil.

  4. ERRATA(*)
    SAI: “commoditie especial”
    ENTRA: “commodity especial”
    (*) Descontada alguma liberdade poética…

  5. Caro Ulisses,

    Agradecemos pela errata. Já fizemos a correção.

    Cordialmente,
    o coletivo do Passa Palavra.

  6. ERRATA
    DE: porque o capital quer a saída do PT do poder?
    PARA: por que o capital quer a saída do PT do poder?

  7. Caro Ulisses,

    Agradecemos novamente pela errata. Já fizemos a correção.

    Cordialmente,
    o coletivo do Passa Palavra.

  8. Texto genial com uma análise de conjuntura precisa! aguardo ansiosamente a continuação do texto. parabéns Pablo.

  9. Este excelente texto nos faz um importante convite “para pensarmos em conjunto as saídas da tempestade”. Neste sentido posto aqui algumas observações para a discussão que acredito pertinentes.

    Creio que o lapso temporal para compreender a “tempestade perfeita” deva ser ampliado para que as “respostas possíveis” possam ser mais precisas.

    O João Bernardo afirma que “Actualmente temos uma economia transnacionalizada, capitalistas internacionalizados e trabalhadores repartidos por nações”, mas que “Nem sempre foi esta a situação. (…) Assim, durante a primeira guerra mundial, precisamente quando os capitalistas mais divididos se encontravam pelas rivalidades entre nações, os trabalhadores foram capazes de impor a sua solidariedade internacional. Nada unia ou separava as classes dominantes senão as fidelidades e hostilidades nacionais, ou até dinásticas, enquanto os trabalhadores depressa desenvolveram um quadro comum, o socialismo, que ultrapassou todas as fronteiras. (…) A crise económica que eclodiu em 1929 alterou completamente o panorama. Geraram-se então as condições para a internacionalização dos capitalistas e para o recomeço da fragmentação nacional dos trabalhadores” (https://comunism0.wordpress.com/internacionalizacao-dos-capitalistas-e-fragmentacao-dostrabalhadores/).

    Assim, se é importante entendermos as conjunturas, também é fundamental compreendermos as estruturas em que estas conjunturas se realizam e se sustentam. A conjuntura aqui delineada, no âmbito nacional, mais ou menos dos anos 1980 à atualidade está diretamente ligada a este passado histórico da fragmentação nacional dos trabalhadores em nível mundial e que se inicia no Brasil na “Era Vargas” (cujo os traços fascistas são marcantes e determinantes), por exigências das transformações do capital neste período. Dentre as exigências estão, obviamente, a subordinação dos trabalhadores e a cooptação dos seus instrumentos de luta, como bem nos lembra Anton Pannekoek: “O desenvolvimento do poder dos sindicatos permite uma normalização do capitalismo, uma certa norma de exploração é universalmente aceite e estabelecida. Uma norma para os salários, que corresponda às exigências vitais mais modestas e tal que os trabalhadores, empurrados pela fome, não sejam conduzidos à revolta, é necessária para que a produção não se faça aos solavancos. Uma norma para os horários de trabalho, não esgotando de todo a vitalidade da classe operária – ainda que as reduções de horários sejam largamente compensadas pela aceleração da cadência e pela intensidade do esforço – é necessária ao capitalismo em si mesmo; é preciso ter em reserva uma classe operária utilizável pela explorarão futura. Foi a classe operária que, com as suas lutas contra a mesquinhez e estreiteza de espírito da capacidade capitalista, contribuiu para estabelecer as condições de um capitalismo normal. Sem parar, deve bater-se para preservar este precário equilíbrio. Os sindicatos são os instrumentos destas lutas, por isso preenchem uma função indispensável no capitalismo. Alguns patrões menos espertos não compreendem isto, mas os seus chefes políticos, mais avisados, sabem muito bem que os sindicatos são um elemento essencial ao capitalismo, e que, sem esta força reguladora que são os sindicatos operários, o poder capitalista não seria completo. Finalmente, se bem que produzidos pelas lutas dos operários e mantidos vivos pelos seus esforços e sacrifícios, os sindicatos tornaram-se órgãos da sociedade capitalista. (http://guy-debord.blogspot.com.br/2009/06/anton-pannekoek-o-sindicalismo.html).

    Ora, neste sentido, embora as bases da CUT e do PT trouxessem consigo o desejo de luta e de transformações, já de início estes ideais estavam condenados a se perderem ou se diluirem nas diversas formas alienadas e alienantes do capitalismo, posto que compunham e organizavam fragmentariamente, não só formal, mas, também, na “prática”, a classe trabalhadora, como nos ensina Guy Debord: “Uma organização revolucionária existente antes do poder dos Conselhos – deverá encontrar lutando a sua própria forma – sabe já, por todas essas razões históricas, que não representa a classe. Deve somente reconhecer-se a si própria como uma separação radical para com o mundo da separação”.

    Sem querer subestimar (nem superestimar) a classe trabalhadora, não foi ela, infelizmente (mas dependendo do ponto de vista, felizmente…), que impôs o PT no poder, até porque, o PT só chegou ao poder através de uma aliança totalmente pérfida e contraditória (ao menos em teoria) com o PL (Partido Liberal) de José Alencar e, portanto, teve “literalmente” por “base” o empresariado e a classe média. Além do mais, não se pode dizer, no meu entender, que o PT tinha a capacidade de manejar de perto a classe trabalhadora, até porque, embora tivesse uma base aguerrida e militante, nunca fora um partido verdadeiramente de massas. A composição do poder nas esferas municipais, estaduais e, inclusive, revelam isto com tamanha clareza. Não é à toa que PSDB reina absoluto no mais populoso dos estados, São Paulo. Resumidamente, quando o PT chega ao poder, a classe trabalhadora já tinha sofrido tantos e tamanhos golpes que, embora não estivesse morta e vez ou outra pudesse engendrar reações importantes mas não tão revolucionárias, não seria tanto ela a determinar o PT no poder (embora tenha sido relevante), e sim uma fração da burguesia nacional que precisava se enquadrar e enquadrar o Brasil dentro das novas transformações exigidas pelo capital.

    Só através de um olhar verdadeiramente crítico que leve em consideração os reais limites e potencialidades da classe trabalhadora, tanto no passado como no presente, é se pode fazer propostas emancipatórias para o futuro.

    Gisil Beraht

  10. olá, pablo e pessoal, mto interessante o artigo.
    tenho uma dúvida e uma contribuição ao debate, não minha mas zapatista.

    a dúvida é para o pablo, que num momento do texto diz: O que vimos foi o contrário: um ataque em massa contra a estatal, ancorado em denúncias de corrupção.

    eu não entendi essa parte, vc está dizendo que as denúncias de corrupção são um subterfúgio para se “atacar” a Petrobrás? em que se consistem esses ataques e com que interesses, tipo gente querendo desvalorizar as ações, gente querendo privatizar a empresa (se é que já não é ne)…? eu não entendi.

    pq pra mim como leigo me parece que a corrupção é algo bem arraigado na Petrobrás – óbvio que todas as denúncias midiáticas são sempre vazadas por alguém, mas a impressão que eu tinha era que foram tantos séculos de rapina pesada, em todos os níveis, que uma hora a coisa estourou – pra vc, pablo, é mais do que isso? um exemplo é uma matéria na piauí de março, chamada “a outra história americana”, e que fala não sobre o caso mais famosos de Pasadena, mas sobre uma outra transação, que não chegou a ser concluída, mas na qual a Petrobrás pagaria 200 e tantos milhões pra comprar blocos de exploração que valiam cerca de 40 – narrando isso a jornalista mostra a estrutura corrompida da empresa toda.

    enfim, e a contribuição era a respeito da crise, pensando-a não só como nacional mas global ne, esse foi um eixo importante das falas zapatistas no seminário sobre pensamento crítico realizado em chiapas em maio. pro debate aqui eu recomendaria principalmente esta intervenção do marcos/galeano

    http://enlacezapatista.ezln.org.mx/2015/05/04/el-metodo-la-bibliografia-y-un-drone-en-las-profundidades-de-las-montanas-del-sureste-mexicano-supgaleano-4-de-mayo-de-2015/

    achei bastante interessante a reflexão de como por exemplo em praticamente todo o mundo ninguém sabe o que vai acontecer, isso parece claro aqui, no méxico, na grécia, na argentina, na venezuela… “No tienen permitido decir la verdad: no tienen ni la más remota idea de a dónde conducirá esta crisis.”

    tbm acho q esse trecho abaixo pode dialogar com o texto, ao apontar a contradição de que os de cima, com medo dos debaixo, acabar sendo espoliados pelos mais de cima ainda, pelo capital financeiro. talvez isso tbm esteja na raiz da briga de foice entre o capital no momento, o bolo ficando cada vez menor pq as fatias do capital financeiro são cada vez maiores, e aí as máfias (partidos/empresas) se degladiando cada vez mais pelo que sobra…

    “Aunque las viejas estructuras del poder político y económico todavía aparezcan de tanto en tanto a decir alguna insensatez, no son sino escombros de lo que fueron. La mayoría de las grandes empresas antes nacionales, ahora no son sino prestanombres de los grandes capitalistas mundiales, y todos, absolutamente todos, están atados y sometidos por la banca internacional. Ironías: temerosos siempre de los de abajo, fueron despojados por los de más arriba. ”

    enfim,
    abraços!

  11. Ao ler o artigo senti,pela sua capacidade de determinar a vida dos homens individuais e a dos organismos sociais, e isso com tanto eficácia, uma forte inclinação em fazer reverência a essa entidade abstrata – e ao mesmo tempo tão concreta: divina mesma- o Capital. Quanto poder!! E o Lula, o grade catalizador e canalizador dos desígnios desse Deus perverso: um profeta mesmo.
    Só não entendi uma coisa. Há, segundo o artigo, duas direitas, uma favorável e condutora do PT ao poder e outra contrária, que trabalha para sua expulsão. Não entendi qual é a direita a favor e qual é a direita contra o PT, e porque uma é a favor e a outra contra?
    Também não consegui visualizar elementos que de fato permitam à Esquerda estabelecer uma vitória contra esse Capital tão poderoso.

  12. Caros leitores/comentadores, peço desculpas por não ter dialogado com vocês ainda, estou tendo uma semana corrida e prometo dialogar em breve.

    Ao Sinomar Ferreira do Rio, adianto que o texto aqui é a parte primeira de três; nas outras duas (especialmente na terceira) vou expor a pesquisa dos financiamentos de campanha etc. delineando melhor quem é o capital contra e a favor da permanência do PT no poder.

  13. A ÍRIS DO OLHO DE DEUS TEM MUITOS ARCOS
    O divino Capital só existe em suas metástases, que são bem mais do que a unitrina ou triuna ménage paifilho&holyspirit. Objeto abstrato formal, universal concreto, hipóstase &/aut conceito reificado são (in)definições pragmatizáveis do Capital.
    Mas, empiricamente, o que há são capitais. Os quais, aliás, não estão nem aí (aqui ou lá), nem tampouco “contra e a favor da permanência do PT no poder”. Pela simples razão de que o PT nunca esteve no poder. E pela menos simples razão de que o poder não é um lugar a ser tomado ou ocupado, com “bases políticas sólidas” (seja lá o que isto pretenda significar) ou sem elas…

  14. Caro Felipe, concordo que o governo vem apontando para um realinhamento (mais que nada político) com os EUA, mas acho que ainda não temos elementos para dizer que esteja havendo um enfraquecimento das relações sul-sul (leia-se Brasil-China). Os EUA tem mostrado inclinação para vir com mais ofensiva retomar o “quintal”, mas a China não reduziu em nada suas operações por aqui. O que “ajudou” nessa impressão de que os EUA estão mais próximos e a China mais afastada é o fato de que o preço das commoditys caiu e a China passou a encomendar menos, por outro lado a América do Sul é espaço de venda dos produtos chineses, talvez até mais do que espaço de obtenção de matéria-prima barata. A coisa é tão forte que o Brasil chega a impor tarifas não-alfandegárias a países do Mercosul, porque a China tem feito passar seus produtos por meio deles, a fim de se beneficiar dos acordos do Mercosul. Ou seja, os produtos chineses chegam pelo Atlântico e pelo Pacífico. Concordo com vc ainda sobre a “frente policlassista que tem o PT como instrumento político”, mas não sei se ela está se desintegrando. Creio que ela esteja sendo atacada por outras frações do capital, como vou mostrar nas partes seguintes da série, e que esse ataque a fez entrar em “descompasso”, já que o instrumento político deixou de atender satisfatoriamente às demandas do pacto social, deixando descontentes tanto os tabalhadores quantos os capitalistas naquilo que vc chamou de “frente policlassista”.

    Cara Maria Pinassi, achei interessante a ideia de que a “nova classe média” é um “engodo composto de trabalhadores precários com consciência de consumidor pequeno burguês” e que ela foi despolitizada pelo PT e hoje encontra nas críticas elaboradas pela direita formas de se repolitizar. Ainda assim, olho com reservas a ideia de “despolitização”, pois quando ela passa à maior passividade, debaixo da asa do petismo, ela está pondo em prática uma política, que é a política da assimilação à ordem visando interesses materiais. Justamente por ela ter na última década aprofundado sua “consciência de consumidor” ela passa a criticar o governo quando a economia deixa de lhe proporcionar o ascenso nos níveis de consumo. A plataforma política dela é defensiva, pelega, mas eu não chamaria de despolitizada e sim de adoção acrítica da política do consenso. Quanto ao ponto 3, concordo inteiramente que o neodesenvolvimentismo petista é uma resposta que deu novo fôlego ao neoliberalismo, uma resposta que continua e aprofunda o neoliberalismo pela via da maior atuação do Estado. Claro, o conceito de neoliberalismo aqui não é sinônimo de política econômica de quebra de barreiras e “Estado mínimo” e sim de “racionalidade” que espraia a lógica da competição e da mercadoria por todos os poros da vida social, inclusive onde não se produz mercadorias, como por exemplo dentro de casa ou em uma Universidade pública.

    Caro Gisil Beraht, achei importantíssimas suas colocações sobre a necessidade de entendermos as estruturas em que as conjunturas se realizam e se sustentam. A citação de Pannekoek é preciosa e creio que devemos estender a reflexão para além da forma sindicato, até a forma movimento social. Minha opinião sobre o papel da classe trabalhadora na “imposição” do PT ao poder vai no sentido da contrarrevolução permanente: para evitar qualquer radicalização das lutas colocou-se no governo o Partido que dialogava e manejava mais de perto os trabalhadores e seus órgãos de luta. Isso é pouco ou nada consciente para algumas frações do capital, mas nem por isso menos efetivo, a meu ver, até porque quando essa situação se coloca há um conjunto de interesses que confluem: são patrões se articulando com a CUT visando maiores lucros, e que na troca aceitam apoiar PT, são trabalhadores organizados no MST visando melhores condições de vida e que votam no PT por acreditar que a reforma agrária seria facilitada, são banqueiros interessados na estabilidade da ordem e que apoiam a eleição do PT a fim de “segurar as massas” descontentes etc . Discordo de você quando diz que o PT nunca fora um partido verdadeiramente de massas e quando questiona a capacidade dele manejar de perto a classe trabalhadora. O PT é o partido do manejo dos trabalhadores; pense-se a ligação dele com os principais sindicatos e movimentos sociais, pense-se os ministérios criados para dialogar com as demandas dos trabalhadores e dos capitalistas (por exemplo o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Ministério da Agricultura etc) e pense-se no papel que Gilberto Carvalho cumpriu durante anos. Já sobre as razões do PSDB reinar “absoluto” em SP (nem tanto! Veja algumas administrações da capital…) No mais, concordo que a fração da burguesia “nacional” que apoia e permite que o PT chegue ao poder “precisava se enquadrar e enquadrar o Brasil dentro das novas transformações exigidas pelo capital” em escala global.

    Caro Júlio, quanto ao ataque à Petrobras, ancorado em denúncias de corrupção: a meu ver as denúncias de corrupção são um subterfúgio para se “atacar” as frações capitalistas e de gestores que controlavam todo o esquema entre partidos-governo-Petrobrás-empreiteiras. A Operação Lava Jato desarticulou esse esquema, permitindo que outras frações do capital (inclusive externo) até então alijadas do esquema lucrativo pudessem se apropriar do butim. A corrupção é algo bem arraigado na Petrobrás e em todas as demais empresas transnacionais do mundo todo, o que leva a uma denúncia dessa proporção, e com prisão de grandes tubarões do capital brasileiro, são interesses econômicos precisos de rifagem de uma fração do capital por outra. Sobre a intervenção zapatista, não me parece adequado tratar das divisões de classe como três esferas (“temerosos siempre de los de abajo, fueron despojados por los de más arriba”). Sobre a não separação entre o financeiro e o produtivo indico o texto a seguir: http://passapalavra.info/2012/08/62764. É interessante sua reflexão sobre a crise levar a uma disputa por frações de um bolo menor, mas na repartição da mais-valia quem se apropria das fatias maiores não é o capital financeiro e sim as grandes corporações transnacionais, que são capital “financeiro”, “produtivo”, “comercial” e até “rendatário”, tudo ao mesmo tempo.

    Caro Sinomar Ferreira do Rio, peço que acompanhe as partes seguintes da série, onde acredito que serão dissipadas algumas das suas questões. As que ficarem no ar podemos dialogar a seguir.

    Caro Ulisses, de fato quando falo de “o capital” estou tratando ele enquanto “objeto abstrato formal, universal concreto, hipóstase &/aut conceito reificado” e concordo que se trata de (in)definições pragmatizáveis” do capital. O capital é sempre pluralidade de capitais, embora exista a tendência à concentração e centralização há também o inverso e por isso Marx afirmava que é impossível o capital vir a se tornar “uno”, superando a competição, por exemplo. Mas discordo que os capitais não estão nem aí com quem está “no poder”, na gestão do Estado. De fato o PT (ou qualquer Partido que chega à administração estatal) nunca esteve no poder em sentido forte, já que o poder de fato é poder de controle da força de trabalho e da apropriação do valor, mas o sentido de “poder” ali é o de “governo”, e os capitais em disputa querem ter influência no aparato estatal para entrar em melhores condições na briga intercapitalista e contra os trabalhadores, e especialmente quando sua atividade está ligada à produção capitalista das condições gerais de produção (CGP), seja porque o Estado é quem pode atribuir as bases legais da exploração capitalista nesses setores, seja porque o Estado financia as obras, elabora as licitações etc. Quando falei em “bases políticas sólidas” me referi ao fato de que o sistema capitalista, esteja ou não em crise e esteja ou não assentando em bolhas de capital especulativo e de crédito, não está passando por situações pré-revolucionárias e de afronta à ordem exploradora. Mas de fato “bases políticas” é muito ambíguo e o melhor seria dizer que o sistema é “aparentemente dotado de instituições políticas sólidas”, já que tudo isso pode vir por água abaixo se os trabalhadores se organizarem em ofensiva contra a ordem do capital.

  15. LEWIS CARROLL [sobre o (ab)uso das palavras etc.]

    – Quando eu uso uma palavra, – Humpty Dumpty disse com certo desprezo – ela significa o que eu quiser que ela signifique… Nem mais nem menos.
    – A questão é – disse Alice – se você pode fazer as palavras significarem tantas coisas diferentes.
    – A questão é – disse Humpty Dumpty – quem será o chefe… E eis tudo.

  16. No gráfico de historico do salario minimo, é importante incluir a curva de inflação pra expor o verdeiro poder de compra do dinheiro.

  17. Caro quatro pontinhos, o gráfico já conta com essa curva, tendo como base o valor de janeiro de 2014. Repare, por exemplo, que os valores anteriores ao plano real já estão em reais, e que depois da conta o ano de 1994, por exemplo, mostra um salário mínimo de R$ 310 quando ele era de R$ 65 reais.

    É interessante notar que mesmo com os benefícios capitalistas indiscutíveis de se explorar os trabalhadores via mais-valia relativa (o que implica aumento dos salários e demais “imputs”) o aumento real em 20 anos (1994 a 2014) foi de apenas 146%. O salário mínimo do trabalhador brasileiro subiu 1.019%, mas segundo pesquisa do Instituto Assaf quando se desconta a inflação do período a alta se reduz a esses 146%.

    Pior, com a retirada do PT do poder aparentemente estamos vivenciando um retorno no acento dos métodos de exploração de mais-valia absoluta (retirada mais grosseira e violenta de direitos e retomada de concessões históricas), deixando os métodos refinados de mais-valia relativa apenas para alguns setores de maior qualificação e os de fração de classe mais combativa, que não aceitam o arroucho e demais temperos do azedume da exploração mais grosseira (e, paradoxalmente, menos eficaz, menos lucrativa etc).

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here