A presença da ocupação, colocando para funcionar o bandejão de forma autogestionária, passou a ser um norte tático Por Belchior


Diante da situação de calamidade que se encontra o estado do Rio de Janeiro, depois de alianças dos governos Garotinho-Cabral-Pezão com empresas-consórcios-gestores para ampliar seus super-lucros em gestão de serviços urbanos, era inevitável que a UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) fosse parte integrante da crise econômica promovida com esse modelo, ficando refém da gestão burocrática e do (não)repasse de verbas. Nele, pelo objetivo de lucrar, consórcios fazem parcerias com gestores públicos, falsificando custos e dados de produção, que justificam a iniciativa privada ter apoio do Estado em licitações e medidas, seja em parcerias público-privadas ou nas privatizações. Os últimos dois governos desoneraram mais de R$183 bilhões de empresas desses serviços, onde a estratégia foi garantir uma troca de benefícios. Posteriormente, uma série de crimes financeiros e de gestão público-administrativa foram denunciados e investigados em ramificações da “operação Lava-Jato” da Polícia Federal. Os ex-Governadores Anthony Garotinho e Sérgio Cabral foram detidos pela justiça, junto com outros gestores e empresários de diversos setores (transportes públicos e sua cúpula, por exemplo). Por último, o caso de Carlos Arthur Nuzman e seu esquema nas Olimpíadas 2016 revela a conexão do Rio de Janeiro como ponta de lança de projetos dessa fase do capitalismo brasileiro. E sua queda como um ensaio ou sinal de esgotamento de um ciclo de produtividade, que foi colocado como estratégia de lucros após a crise econômica de 2008, quando o Brasil passou a atrair capitais e a ter altos índices de crescimento financeiro. Melhor leitura sobre isso pode ser encontrada no texto “Perspectivas do capitalismo na actual crise econômica“.

A narrativa anticorrupção parece atuar como uma cortina de fumaça. Apesar de apresentar alguns esquemas e culpados, com ações policiais e judiciárias indo às casas de figuras públicas e fazendo um espetáculo com suas prisões, as políticas privatizantes e cortes em serviços públicos permanecem sendo trazidas como uma solução diante da crise econômica instalada, com força total no estado do RJ. Enquanto o governo alega falta de verbas, quem paga é a classe trabalhadora, seja pelos cortes de vagas, seja em termos das relações trabalhistas de servidores. A UERJ, que há muitos anos sofre problemas de precarização, passa a ser um evidente alvo de cortes. Como se não bastasse, a cartilha de austeridade é colocada em cena, por intermédio de uma negociação entre o estado e o governo federal: propondo como condição ao socorro financeiro vindo do Palácio do Planalto, a abertura de processos de privatizações, demissão de servidores e aumentos na tributação. A já realizada privatização da CEDAE foi um sinal de atendimento das medidas desse acordo. O mais escandaloso foi a exigência de privatizações de universidades públicas. No entanto, diante disso, o diálogo entre governo e população segue no impasse e sem resolução.

Na prática, mesmo sem uma decisão clara do governo estadual, prossegue a precarização da UERJ: corte de bolsas, de assistências estudantis, salários de professores, terceirizados e demais servidores. O temor prossegue diante da possibilidade e ameaça da privatização. Principalmente depois da aprovação do STF [Supremo Tribunal Federal] na liberação de cursos pagos em pós-graduação, com uma “revisão interpretativa” da Constituição Federal, para a conveniência de alguns de seus representantes ministrarem cursos na própria UERJ e cobrarem mensalidades. Se já não é caótica a situação com os ataques, onde a classe dominante consegue construir discursos para fundamentar a destruição das universidades estaduais fluminenses, ela pode ainda piorar. As categorias de trabalhadores e o seguimento estudantil seguem em extrema dificuldade de mobilização. O problema é para além das diversidades políticas do espaço, ou das questões que envolvem a burocracia estudantil e sindical (para não dizer “capitalismo sindical”), mas também de uma normalização cotidiana da precária realidade universitária.

A situação da UERJ envolve seu papel na realidade social e sua relação mútua entre as categorias. A dificuldade de unidade entre os segmentos se dá pela “diferença de estações”, desde professores sem receberem seus salários, enquanto técnicos prosseguem com uma greve de quase seis meses; funcionários terceirizados sem receber, enquanto estudantes cotistas permanecem no “vai e vem” de bolsas que não são pagas ou são atrasadas. Sem falar da crise em torno da assistência estudantil: sem o “bandejão”, conhecido formalmente como Restaurante Universitário, muitos estudantes não conseguem manter suas vidas acadêmicas. Nisso, contrariando as previsões de parte da esquerda, o ataque a diversos segmentos da universidade estava desarticulando e não unificando a luta contra a crise. Tal situação, somente reforça o trágico e permanente problema da assistência estudantil, que foi radicalizado em debates cotidianos ou de auditórios, desde a aprovação dos projetos de cotas raciais e sociais, no qual a UERJ é pioneira no Brasil. Assim, a dificuldade se deu entre exemplos, como uma greve de professores acabar quando parte de suas demandas são atendidas, mas os servidores continuam sua paralisação e os estudantes continuam sem bolsas. O cotidiano passou a ter aulas esvaziadas, com estudantes criando soluções próprias para acompanharem os cursos, como revezamento em casas de colegas usadas como dormitórios, para contornar a falta de dinheiro com passagens. Enquanto bibliotecas e secretarias seguem paralisadas, funcionando em alguns dias da semana.

Nesse contexto desfavorável é que foi realizada a ocupação do Bandejão da UERJ. Enquanto a precarização tomou conta da vida estudantil, foi preciso a ocupação para “sair do roteiro” e imprimir uma inovação tática para a luta social. A dificuldade de mobilização tinha um bastião para rompê-la, diante das amarras táticas enquanto a base estudantil ficava sem propostas, submetendo a maioria das perspectivas para a assembleia geral de estudantes, cuja convocação depende do DCE (Diretório Central dos Estudantes), atualmente sob gestão de membros da UJS (União da Juventude Socialista, do PCdoB) e do PT. Nesse sentido, a disputa foi colocada enquanto paradigma de ação política, em assembleias de professores e de estudantes. A declaração de membros da gestão foi de que “a ocupação é legítima, porém sectária”, enquanto criticavam a tática como pertencente a grupos colocados como autores da ação: o MEPR (Movimento Estudantil Popular Revolucionário, de orientação marxista-leninista-maoísta) e a RECC (Rede Estudantil Combativa e Classista, de orientação diversificada, abrangendo desde marxistas a anarquistas). Apesar dos mais divulgados serem estes, muitos outros coletivos, movimentos sociais e militantes independentes atuam na manutenção da ocupação, mas os ataques políticos foram destinados às duas organizações citadas. Diante das acusações de que a organização da ação era sectária, um dos ocupantes disse numa assembleia: “o DCE é contra nossa tática, pois ela funciona”. Talvez seja tarde para afirmar o êxito em conquistar a pauta, mas o fato da ocupação romper com o pacto institucional no qual o movimento estudantil está inserido – em respeito às instituições de conselhos e departamentos que gerem a universidade – traz uma verdade nessa afirmação. Talvez, o apego ao que “não funciona” resida nas barreiras burocráticas que tais entidades não pretendem romper.

Diante das tensões com o DCE, a controversa decisão foi colocada entre os ocupantes: alguns membros dessa gestão não poderiam estar presentes na ocupação. A dificuldade de diálogo traz em si a dificuldade de mobilização e solidariedade, que não colocaria tal decisão como urgente numa organização com uma perspectiva autônoma bem enraizada no movimento estudantil, que superaria o boicote do diretório. O debate sobre unidade não pode atropelar as necessidades táticas, como a autonomia de ação de seguimentos, assim como o inverso não é obrigatório. Isso traz a legitimidade da ocupação, mesmo sem a articulação com o DCE e o resto das correntes estudantis. Assim, a ação tática com seu canal de diálogo, passou a ser uma referência dentro da UERJ, pois a política de revitalizar o bandejão deu fôlego à mobilização, apesar do pequeno esvaziamento da universidade e do conflito com as burocracias do movimento estudantil. Uma nova greve dos professores, diante do não recebimento de salários, foi colocada em prática pela ASDUERJ (Associação Sindical de Docentes da UERJ), dando um norte para uma possível unidade nas lutas, assim como greves estudantis sendo votadas nos cursos. A existência da ocupação, colocando para funcionar o bandejão de forma autogestionária, passou a ser um norte tático. Principalmente diante da apresentação de novas propostas de greve, com ações políticas ao invés da mera paralisação das atividades. Seria uma possível superação das “greves passivas”, até então implementadas pelas entidades.

Outra controvérsia se deu quando, diante das dificuldades de mobilização, outras propostas passaram a tomar conta da ocupação. O funcionamento autogestionário do bandejão, expandiu suas atividades por alguns dias para moradores da favela da Mangueira (vizinha ao campus) que participavam como alunos do projeto da ADEP (Ação Direta em Educação Popular), ligado a um projeto de extensão da UERJ com atividades de educação. Foram chamadas crianças e outros moradores, depois de aprovação em assembleia. No entanto, alguns membros da organização desse projeto passaram a pressionar a ocupação a aderir a proposta de distribuição de 100 senhas para moradores almoçarem. Diante da inviabilidade material, não houve adesão e nem concordância dos ocupantes com isso. E no debate sobre a percepção de que provavelmente a ocupação estivesse sendo atropelada por propostas que comprometiam seu funcionamento, em detrimento da pauta de retorno do bandejão para as necessidades universitárias, foi decidido que somente estudantes matriculados poderiam ter voto nas assembleias internas.

Nisso, a discordância entre militantes da ADEP e outros ocupantes extrapolou para situações que estavam além das disputas nas assembleias. Um caso complicado foi o incidente com uma mulher trangênero. Convidada pelos militantes da ADEP, ela promovia diversas violações de acordos coletivos, como sons alto com músicas de facção, o que era criticado pelos seguranças no local, pois gerava uma exposição e desgastes com o crime na favela da Mangueira. Ao pedir para baixar o volume, ela passou a atacar as pessoas, gritando e ameaçando de agressões. Passou ainda a tirar fotos de pessoas ali dentro, o que aumentou o receio com suas ações, pois muitos não queriam ser expostos por questões de segurança. Sem falar do uso de drogas, sendo que estava deliberado que isso não seria permitido, pelos mesmos motivos.

Houve declarações, de que por ela ser transgênero, seria mais oprimida do que os ocupantes que reclamavam de sua conduta. Assim, alguns militantes e outros da ADEP, defenderam que ela deveria falar por 10 minutos, enquanto outros ocupantes falassem muito menos. Logo se estabeleceu um clima de acusações, onde quem se colocasse contrário a postura da moça, era prontamente acusado de “transfóbico”, de que estava “oprimindo” e silenciando sua voz. Para não dizer que se estabeleceu um clima de exclusões e difamações públicas de quem questionou tais atitudes. Enquanto isso, os mesmos que faziam as acusações, alegavam estar apoiando a menina, mesmo que desrespeitando as normas coletivas, pois as assembleias da ocupação não seriam mais legítimas, por não ter mais votos de pessoas não matriculadas na UERJ.

Assim, a discordância de militantes da ADEP, diante da não realização do bandejão gratuito para moradores da Mangueira e da votação somente de matriculados, virou uma disputa desleal, ao apoiar o desrespeito ao coletivo e intimidando membros com argumentos identitários, sob uma suposta defesa da pauta contra a “transfobia” e pela construção de suposto espaço plural e aberto. A situação chegou a nível insustentável depois de ocupantes sofrerem ameaças de morte, com a moça transgênera ameaçando com facadas e anunciando que incendiaria a ocupação. Logo, o problema foi divulgado e a situação ficou mais tensa quando militantes da ADEP foram para o espaço da ocupação distribuindo panfletos, acusando-o de “elitista” e “racista”. Uma assembleia extraordinária foi convocada com pauta urgente, para discutir os problemas estabelecidos. Nela, foi notável a falta de autocrítica tanto da menina em questão, como de militantes do grupo citado, que estavam apoiando suas práticas e corroborando a critica aberta à ocupação, deixando claro um vínculo entre a desestabilização do coletivo e a intenção em fazer valer suas propostas práticas e políticas. Diante disso, foi votado, pela expulsão da mesma, assim como de outros militantes ligados a este coletivo.

O importante a se observar aqui, é que posteriormente prosseguiram acusações que já estavam sendo feitas, de que o MEPR e a RECC estariam atropelando a ocupação e impondo suas regras. No entanto, esses eram um dos agrupamentos dos ocupantes, que simplesmente tinham suas propostas aprovadas em espaço de assembleia. Apesar dos excessos cometidos, como a expulsão de um ocupante, por uma acusação de machismo, que poderia ser contornada por outros meios e a citação nominal da professora que participa do projeto da ADEP; as deliberações da assembleia seguiram uma razoabilidade racional. Longe de tratar qualquer decisão coletiva como justa, o objetivo desse texto é apresentar aspectos desorganizativos e, talvez, conservadores, que se colocam no movimento de luta, apresentando-se como supostamente mais radical e mais avançado do que a configuração do próprio espaço. Não é a primeira vez que argumentos identitários são usados para servir aos objetivos políticos de determinados agrupamentos. Mas para além disso, estando como um meio a ser utilizado dentro dos debates e acontecimentos cotidianos, é provável que o “identitarismo” seja um fim em si mesmo, como uma linha ideológica que se coloca acima da luta dos movimentos, independente do objetivo político que seja utilizada.

Não se trata de condenar quem conspira para modificar os rumos de um movimento de luta em que se atua, quando os objetivos são fazer este avançar politicamente. Esse é um “direito” que deve ser respeitado a todos. Para não usar de sarcasmo, já que não existe nenhum dispositivo que impeça tal fenômeno. No entanto, os meios que são utilizados devem ser discutidos. Muito além da máxima imputada, principalmente ao leninismo: “os fins justificam os meios”. Na perspectiva dada a este, é pensada com temor a experiência do Capitalismo de Estado em diversos países durante o século XX, como se a qualquer momento uma aliança tática com grupos, partidos ou militantes que defendam essa linha teórica pudesse representar uma implementação real (socialismo real?) de seus objetivos estratégicos. Seria isso um sacrifício da estratégia autonomista, classista e de independência de classe? Sem entrar na seara do debate sobre “tática x estratégia”, em pleno aniversário de 100 anos da Revolução Russa, seria possível perguntar: sob argumento de combater uma perspectiva burocrática e hierárquica, estariam alguns críticos dessa linha construindo uma perspectiva desorganizadora, também hierárquica, para domesticar os movimentos sociais? A nota da ocupação citou que compareceu ali, a Wescla Vasconcelos, assessora parlamentar do vereador Tarcisio Mota, eleito pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). Talvez tenham se precipitado em dizer que existe um objetivo escuso e prévio do partido, em desestabilizar a luta e conseguir frutos para sua estrutura política. Mas, de fato, em termos práticos, a presença dela ali como “intermediadora” já traz uma visibilidade e papel social, com resultado em dar um sentido institucional e uma valorização para sua entidade. Para outros militantes e internautas de Facebook, ao defender uma transgênero, sendo supostamente “oprimida” por sutilezas não explicadas aos ocupantes, seria preciso eleger culpados: a própria ocupação, que votou pela sua expulsão. Ou seja, tal conflito cai como uma luva em seus desejos e objetivos. Nada melhor para esse setor do que fortalecer e desenvolver essa narrativa.

Não foi desavisado que a versão de que a ocupação seria racista, “transfóbica” e contra a presença de “favelados” fosse divulgada como a real e única existente. Se o simples fato de pessoas discordarem das ações de uma transgênero foi tratado como um ataque opressor, com “olhares transfóbicos” para a mulher que desrespeitava sistematicamente o coletivo, ameaça fisicamente e moralmente os ocupantes; não é de surpreender que prevalecesse a versão de que o inimigo a ser combatido é o movimento em si. Para isso, precisam tirar publicamente a noção da ocupação como um movimento social legítimo, que é tratar as decisões como tiradas por um grupo específico e separado da base: o MEPR e RECC. Assim, qualquer estrutura, por mais burocrática que seja, passa a ser legitimada como uma força contra a suposta instituição autoritária na luta estudantil que reproduz a opressão. E assim, tal causa toma eco e fôlego entre outras pessoas que se solidarizam honestamente à causa, transformando a ocupação em algo análogo à classe dominante. Pois, o identitarismo, uma ideologia com diversas contribuições práticas e teóricas, trata os que não se enquadram em suas identidades, como “privilegiados”. Ou seja, como inimigos na luta contra opressão, caso não sejam “desconstruídos”.

Um cuidado necessário é com a justificada crítica dos argumentos das lutas identitárias ao movimento social da classe trabalhadora, que historicamente ignorou suas pautas, por motivos desonestos ou por simplesmente não ter espaço e tempo hábil para promover uma fusão, ou discussão de tais questões. Tirando das citações ou esquecendo, é claro, de exemplos históricos onde a pauta específica de alguns trabalhadores foi levada em prática para alianças de classe, com uma luta anticapitalista: movimento de trabalhadores negros, LGTBs, como por exemplo o grupo armado “Gay Liberation Front”, que fez alianças táticas com o Partido dos Panteras Negras. Além da compreensão dessas pautas em espaços de lutas econômicas, como lutas por direitos de trabalhadores LGBT, com movimentos classistas pautando contra as demissões e perseguição nos empregos. Muitos antes de ONGs e projetos privados se formarem para pautar isso. Portanto, não é novidade tais experiências. As lutas precisam de tais debates, para se fortalecer enquanto unidade e compreensão das suas demandas específicas, em termos de cultura, gênero, etnia e sexualidade. No entanto, pode se discutir a difícil solução da atual fragmentação da classe trabalhadora, onde ao mesmo tempo em que a proletarização é ampliada para largos setores da população, as unidades de produção são pulverizadas, enquanto a classe dos gestores se afirma como catalisador político das lutas sociais. Ou seja, enquanto os debates são feitos em termos políticos e criando acordos públicos para a abertura de práticas culturais, que é um resultado da mobilização das lutas de trabalhadores contra a opressão ao longo das décadas passadas; nas instituições e unidades produtivas prevalecem mecanismos de controle dos trabalhadores cada vez mais sofisticados, promovendo novas margens de lucros e normalização das relações capitalistas de produção. Isso não se deve às pautas identitárias em si, mas à fragmentação da classe e suas lutas, onde a dinâmica de reprodução do capital é tão ampliada, que parece óbvio que para ter conquistas é preciso a adaptação nessa lógica. Mesmo que por escolha.

Tal qual foi preciso uma árdua revolução proletária e sua fragmentação nacionalista, para se constituir o Capitalismo de Estado do “socialismo real”, em menos tempo as burocracias de ONGs, partidos e demais entidades se afirmam pelas lutas identitárias e na fragmentação de trabalhadores. Feita esta comparação grosseira, diante de um assunto que o texto não pode e nem pretende se aprofundar, é preciso perceber as justificações ideológicas que fazem os objetivos de um setor do movimento estudantil se afirmar com o risco de promover a dispersão da pauta inicial. Não foram sutis as propostas e acusações de militantes da ADEP contra a assembleia da ocupação, de racismo e de ser contra a favela. O debate metodológico e estratégico foi deixado de lado, para insistir que uma ocupação, que reivindica um recurso específico de assistência estudantil, deveria atender às demandas de um projeto de extensão na favela da Mangueira e deixar uma mulher atropelar o coletivo, usando a sua condição própria, de ser transgênera, como argumento. Enquanto alguns militantes autônomos, independentes e anarquistas construíram uma narrativa de combate à suposta burocracia instalada pelo MEPR e pela RECC, é visível que tal dinâmica de atropelo a movimentos de base, usando pautas identitárias como argumento, está operando de forma cada vez mais agressiva. Não foi a primeira e nem será a última vez que tal fato ocorre. Cabe aos militantes de uma perspectiva classista e de base, analisar e debater como lidar com tais condições que se estabelecem.

Se há a necessidade de debater sobre o norte estratégico do marxismo-leninismo-maoísmo do MEPR e o os princípios táticos da RECC, certamente a condição disso acontecer foi abortada pelos militantes independentes e da ADEP que lançaram mão de tal prática destrutiva de movimento social. Ao inverso das críticas feitas – de que a ocupação seria uma aliança de militantes “anarquistas confusos” com “setores autoritários” – é preciso analisar que é mais possível os militantes classistas e de base (também organizados nos grupos citados) terem talvez feito uma aliança tática e desastrosa com as práticas dos autores de tal crítica. Durante outros momentos, políticas de falta de diálogo e ataques morais foram realizadas em debates políticos. Como em 2015 na luta contra o aumento da passagem, quando a FIP (Frente Independente Popular, composta por membros dos coletivos citados) acusava publicamente o Movimento Passe Livre de fazer alianças com o governismo, fazer políticas de criminalizar e silenciar a pauta pela liberdade dos 23 perseguidos pela Operação Firewall da DRCI (Delegacia de Repressão a Crimes de Informática, da Polícia Civil). Ou dentro do próprio MPL, quando foi usada a perspectiva identitária e de calúnias, quando um setor detratava outro de diferente perspectiva organizativa, como se pode ver nos textos de críticas internas publicadas, aqui, aqui e aqui.

É preciso tirar um saldo positivo de tal acontecimento na ocupação do bandejão da UERJ, nem tudo são trevas. Muito menos se trata aqui de lamentar ou detratar o “espírito de tretas”, como se houvesse alguma neutralidade na disputa colocada. O fato é que a unidade tática entre setores classistas, combativos e de base foi priorizada, frente a outros que estão usando de calúnias, atropelos e detrações contra uma ação legítima do movimento estudantil. Independentemente das divergências teóricas e estratégicas (entre autonomistas, anarquistas, marxistas e maoistas, para início de conversa), é preciso analisar e detectar precisamente o cerne de tal tipo de prática, que recentemente atacou a ocupação. Foi mais agressiva que em outras situações vistas e tende a ser mais ainda nas que virão. É análogo a críticos às burocratizações de movimentos, mas que atuam contra seu norte tático e de conquista da pauta necessária, criando as diversas justificações para atacar a organização de sua luta em vez de uma disputa construtiva. Nisso, o efeito acaba sendo inverso, que é de fortalecer a perspectiva burocrática, quando entidades e seus gestores surgem como abutres nos movimentos, para cooptá-los. É conveniente chamar tais autores dessas práticas como “Buro-ácratas”.

O efeito dessas práticas pode ser tratado como parte da barbárie, no sentido de que, ao invés da superação das relações capitalistas, estabelecem-se práticas conservadoras e destrutivas ao movimento social. Tal situação é ampla, ao confundir no discurso um recuo da luta pelo bandejão com um suposto avanço da luta. Condicionado, claro, a aceitar o desvio de sua pauta para colocar almoços diários aos moradores da favela da Mangueira, sem ter condições materiais para isso, além de tolerar a imposição autoritária de uma mulher contra as normas coletivas. O combate desse campo “autônomo”, é justificado, como já foi dito, num combate contra uma suposta tal burocracia recém instalada no movimento. A promessa que mobiliza tais ideias, é a de avançar a luta para limites inimagináveis, como se ali fosse se iniciar a construção de uma universidade popular, onde a barreira entre universitários e a favela pudesse ser rompida dessa forma. Mas, anos de políticas de cotas raciais e sociais, com submissão ao governo estadual, mostram que a UERJ não é popular simplesmente por ter pessoas negras e ex-estudantes de escolas públicas, matriculadas. Muito menos, tendo elas simplesmente transitando em seu espaço. É preciso uma rede complexa de unidade de classe e de avanço tático, como já foi realizado pela ocupação do bandejão. Para a primeira intenção, é preciso trabalho de base e longas discussões entre os atingidos pela crise universitária. Desde dentro da universidade até para fora, como estudantes secundaristas, trabalhadores de diversos segmentos e outras lutas, como pela moradia (contra a remoção da favela Metrô-Mangueira), saúde (hospital Pedro Ernesto, ligado à UERJ). E inclusive o apoio a trabalhadores precarizados no acesso ao ensino superior, como ocorre no pré-vestibular da ADEP, junto com outros, que consegue garantir o ingresso de muitos na universidade. Estes ingressam nas lutas, pela necessidade de sua manutenção na vida acadêmica, principalmente pela assistência estudantil. Assim, é preciso denunciar a pauta da democracia de base esvaziada do trabalho de base e da estratégia, como uma perspectiva insuficiente aos movimentos, quando não é destrutiva. Como já foi discutida em outros textos (“Democracia de Base sem trabalho de base?“), tal problema persiste.

O norte colocado é de uma pequena esperança, porém de desafio. Mesmo com um “racha” no campo independente e uma política de boicote à ocupação em curso, há uma unidade sendo delineada, seja dentro da luta específica do bandejão como para fora. A prioridade das alianças entre setores atingidos com a crise da UERJ, está sendo ampliada a partir da greve de professores em curso e da manutenção dela pelos funcionários. A ocupação ainda se apresenta como um norte tático interessante a muitos estudantes, que deliberaram greve estudantil. Outros setores em luta de outras universidades estão se articulando e se organizando, com perspectiva nas novas ações táticas realizadas. Uma plenária na Universidade Rural Federal do Rio de Janeiro foi marcada. E um ato massificado em defesa dos serviços públicos foi realizado, saindo da UERJ. O futuro não está dado, o desafio é de construir uma ampla mobilização e superar as táticas previstas pela repressão, burocracias e cooptação do poder público. Principalmente, ampliar o apoio social às lutas da universidade. Ou seja, é possível que a tática de ações diretas sejam exemplos de construção de redes de solidariedade, que superem as relações capitalistas. Essa é uma perspectiva, que se for levada com firmeza e serenidade, pode superar a situação atual, que tende a ficar entre as precárias condições da crise capitalista e as soluções conservadoras que se apresentam. Apesar do recente conflito, o bandejão ocupado permanece como um espaço de solidariedade entre pessoas de diversas origens, etnias, crenças, sexualidades e gêneros. Matriculadas na universidade ou não. Com acolhimento, responsabilidade e apoio mútuo não somente entre si, mas também para outras pessoas que se aproximam do espaço. Foi batizada como Ocupação Bruno Alves, com o nome de um de seus membros que faleceu recentemente. Quando saindo de um dia na luta, foi atropelado por um trem ao passar pelos trilhos na Estação Maracanã, próxima da universidade. Era um companheiro de anos de militância em movimentos e coletivos, inclusive foi baleado por um policial numa das manifestações de Junho de 2013. Tal fato, que não pode passar em vão, é um dos elementos que não permitem razoabilidade quando se trata de defender estratégia, uma perspectiva consequente e combativa para a luta contra a austeridade.

10 COMENTÁRIOS

  1. esse relato me trás a lembrança de um estudante que vinha às reuniões do Centro Acadêmico do qual fiz parte para sustentar que todo o dinheiro que o CA arrecadava deveria ir para a favela pois lá é onde realmente fazia falta, e não na mão de meia dúzia de “playboys”. Quando via que sua posição não era aceita pela maioria (por outra pessoa mais sequer), partia para o discurso violento e à ameaça física. Este mesmo estudante reclamava com contundência do nome do jornalzinho dos estudantes, “Boca”, pois remetia à boca-de-fumo e isso supostamente irritava os traficantes da favela. Ele havia sido internado já uma vez por problemas psiquiátricos e um dia apareceu na faculdade com 2 facões na mochila (o que terminou de forma triste para toda a comunidade, todos muitos assustados e ele sendo levado pelo SAMU, dopado à força, para uma nova internação). Será que estávamos oprimindo esta “dissidência psíquica” ao não acatar suas ordens?

    Que uma agrupação política demande que um bandeijão autogerido por estudantes sirva comida não apenas aos estudantes mas também à sua base social tem um nome muito claro aqui onde eu vivo atualmente: APARELHAMENTO. E ainda usam pobres e transgênero para conquistar seu objetivo. Sinceramente, esta agrupação merecia um escracho público por fazer um uso tão escroto destas pessoas. Se já estávamos acostumados com o populismo usando pobre como desculpa para todo tipo de jogada política execrável, agora os “libertários” parecem estar lançando mão dos identitarismos também para fazer o indefensável.

  2. Excelente texto para compreensão e discussão do movimento de ocupação na UERJ.

    Como já exaustivamente discutido neste Passa Palavra, o identitarismo de vários setores da esquerda é utilizado de forma bastante oportuna para fins meramente políticos. Dança-se num pé ou noutro conforme a música para, ao fim, alcançar algum fim político alheio à questão identitária. Parece, mais uma vez, ser o caso: deslegitima-se uma ação da classe por qualquer dessas questões para, então, implodir o espaço. Joga-se o bebê, a água, a banheira e todo o resto fora.

    Por outro lado, é necessário abrir a discussão a respeito de alguns métodos utilizados pelo MEPR e pela RECC para centralizar esse movimento. Não se trata de fazer balanço de organização nenhuma, mas a citação nominal de uma militante já perseguida pelo Estado (por supostamente ter levantado a voz em uma assembleia – algo comum em assembleias, convenhamos), a proposta de expulsão em bloco de uma organização discordante e, mais ainda, as ameaças sofridas por essa mesma professora (por meio de perfis hackeados) são práticas, no mínimo, questionáveis. Os responsáveis por essas ações devem sim ser cobrados por ações policialescas como essas.

    Abç

  3. Achei este texto muito ruim porque compra uma narrativa mentirosa. É preciso averiguar melhor os fatos antes de julgar por isso vou colocar a minha versão, enquanto ocupante do bandejão que presenciou todos esses acontecimentos – e que não é membro de nenhum dos coletivos citados – para que o leitor possa formar sua opinião. Em primeiro lugar vamos dar um quadro geral da ocupação. Ela foi iniciada pelo MEPR e pela RECC e depois se agregaram um conjunto de outras organizações e independentes de dentro e fora da UERJ, a maioria adeptos da autogestão e da unidade da classe trabalhadora independente do pertencimento a uma categoria profissional ou regional. Neste sentido grande parte deles eram secundaristas. o ADEP contava com pouco mais de três pessoas na ocupação, mas naturalmente seria mais fácil reduzir todos a uma organização para combatê-la. Estes grupos adeptos da autogestão criticava a postura que o MEPR e a RECC assumiam na ocupação, com supressão de falas pela mesa, gastar tempo para postergar votação e principalmente, sobretudo no caso do MEPR, usar o espaço para autoconstrução daí o uso de faixas e panfletos com o Slogan, cores e grafia do MEPR, dai a exibição de um vídeo do DCE que eles conquistaram antes da assembleia, daí a formação de uma comissão política que dava a linha da ocupação, daí a adoção de um modelo de comissões com poder deliberativo e acesso restrito, o que progressivamente foi alterado pela atuação destes grupos não-alinhados que atuou ali dentro. Agora é preciso entender que a ocupação tinha um formato de duas assembleias. Uma interna e outra aberta; Elas não tinham funções definidas. Mas permitiam que quando o MEPR e a RECC não tivessem maioria uma proposta fosse transferida para outra assembleia. O critério não era claro, mas o mesmo tipo de proposta julgava-se que cabia a tipos diferentes de assembleia quando não se formasse uma maioria em torno da RECC e do MEPR. foi o que aconteceu com as três polêmicas que deram origem as expulsões:
    1 O DCE na assembleia geral dos estudantes propôs uma ocupação geral da UERJ realizada junto com movimentos sociais dos atingidos pela crise, ligados ao PT e PSOL, e a decisão acerca disso foi adiada. Então MEPR propôs que a ocupação do bandejão se opusesse a ocupação geral da UERJ. Os grupos não alinhados, de modo geral, foram contrários afirmando que uma ocupação não pode deslegitimar outra. Como éramos maioria MEPR decidiu levar essa proposta para assembleia aberta, embora na última assembleia interna houvéssemos decidido que esse tipo de questão deveria ser tratada internamente.
    2. MEPR quis colocar seu slogan no panfleto. A ocupação de modo geral foi contrária, inclusive alguns membros da RECC, no entanto MEPR argumentou que não havia unidade ideológica para uma palavra de ordem geral e que se a frase deles não poderia entrar no panfleto deveriam ser tirados os cartazes as paredes com a frase autogestão. Por ser minoria o MEPR recuou e adiou a votação.
    3. Finalmente a polêmica em torno de servir alimentação para os moradores da mangueira. A proposta de separar 100 fichas para moradores da comunidade não é completamente verdadeira. A proposta seria reservar um número aleatório de fichas que poderia ser hoje 20, 40, 50, mas que pelo crescimento do apoio poderia aumentar também chegando a 100 que foi apenas um exemplo. Na reunião interna chegamos a um quase consenso de realizar um estudo sobre o tema. No entanto, como MEPR era minoria, foi decidido tratar desse tema em outro tipo de assembleia.
    Todas essas diferenças deixam evidente a divergência em torno do projeto de ocupação. Mas poderiam ter sido tratadas de forma coerente no debate político. Não foi o que aconteceu. Ao transferir as votações para assembleia aberta MEPR e RECC se organizaram para ter maioria através de suas bases externas que chegaram na assembleia com esse intuito. Assim, sem que isso houvesse sido discutido em nenhum espaço. Na última fala o MEPR propôs que só pudesse votar quem fosse aluno da UERJ. Os secundaristas e estudantes de outras universidades que ali estavam presentes não deveriam poder ter voto mesmo que construíssem a ocupação a semanas. Naturalmente, os secundaristas e militantes externos da RECC e do MEPR votaram em massa nesta proposta. O suposto risco que eles apresentaram de militantes de fora da UERJ votar foi o que eles utilizaram para ganhar a votação. Atitude oportunista, mas ainda sim, ratificada por maioria e neste sentido não foi o maior problema. De todo modo com base nisso a linha do MEPR e da RECC conseguiu ser aprovada e o debate em torno da comunidade da mangueira encerrado.
    Em meio a esses acontecimentos o ADEP fez uma nota defendendo a ocupação e reafirmando a importância da presença da mangueira e dos secundaristas no espaço e, ao contrário do que foi dito, não foi uma nota de repúdio, mas afirmativa de suas posições, alegando não que a ocupação era elitista e racista, mas que a UERJ não deveria e sê-lo e, por isso, as luta da mangueira e dos secundaristas deviam se integrar a dos estudantes da UERJ (ver integra: https://adepuerjmangueira.wordpress.com/2017/10/13/por-uma-universidade-verdadeiramente-popular/ ).
    No entanto o MEPR divulgou, na assembleia, uma nota falsa alterando o conteúdo da proposta do ADEP que continuou compondo a ocupação. Aí que começaram ama série de mentiras como acusação mentirosa de machismo, com base na argumentação identitária, para expulsar militante não alinhados, como a invenção de que o ADEP havia trazido menina expulsa para implodir a ocupação e que esta teria ligações com o PSOL. Com base nessas ligações que não foram nem comprovadas nem sequer debatidas e com base em outras tantas mentiras como a invenção de que certos militantes teriam rasgados cartazes e derrubados cadeiras, o ADEP foi expulso da ocupação numa assembleia extraordinária convocada, a principio, para expulsar a jovem, portanto que não se sabia que isso seria debatido ali. Todos as organizações não alinhadas a política do MEPR e da RECC acabaram sendo, de uma forma ou de outra, expulsas ou perdendo direito a voto.
    A linha adotada da ocupação foi de, para defender-se de sectarismo, escrever uma nota com diversas mentiras e que escolheu como alvo principal uma professora que compõe o ADEP, uma das 23 presas políticas e ainda perseguida como grevista, que teve seu nome exposto, apesar de ter frequentado a ocupação, para além de visitas pontuais, basicamente três vezes, duas delas para dar aula de filosofia, projeto da própria ocupação, e outra para defender-se de uma expulsão. Não estava presente em nenhum dos acontecimentos mencionados nem em nenhuma assembleia não sendo responsável por nenhuma das propostas apresentadas. Neste sentido foi criminalizada através de mentiras. Mais do que isso, a partir de então professores, alunos e até o centro acadêmico de filosofia que saiu em sua defesa recebeu e continua a receber ameaças pela internet. Não há indícios que isso tenha sido por membros da ocupação, provavelmente não foi, mas só ocorreu porque ela teve seu nome e sobrenome expostos nesta nota.
    Aqui o debate que estava sendo travado de forma oportunista e através de manobras deixou de ser mesmo travado, impondo-se maioria por métodos que nada tem de democráticos. Todas as divergências políticas poderiam ter sido tratadas sem expulsões, mentiras ou manobras e mesmo as duas polêmicas tão estruturais, o voto de todos que constroem a ocupação ativamente ou o voto apenas por alunos da UERJ e a inclusão ou não da comunidade da mangueira e arredores no bandejão, poderiam ter sido tratadas sem subterfúgios, e mesmo sendo aprovada a linha contrária a dos não-alinhados ao MEPR e a RECC, tudo seguiria com tranquilidade, mas, dessa forma, estas forças, mesmo sendo maioria pelo não voto de estudantes de fora da UERJ, teriam sua hegemonia ameaçada e o MEPR não conseguiria impor sua política de autoconstrução em detrimento do movimento, o que é típico do leninismo. Tudo isso deixa algo muito claro, todos que ameaçarem a estratégia dessas forças serão escorraçados da ocupação por meios oportunistas e antidemocráticos ou não. Isto significa que devemos combater a ocupação? ao contrário, deve ser travada uma luta contra as organizações oportunistas que ali se inserem pela massificação e participação ativa de toda base da UERJ. Nada disso é irreversível.

  4. Eu faço parte do ADEP e são tantos absurdos nesse texto que eu não vou me dar o trabalho de responder a todos. Quem nos acompanha sabe que fazemos trabalho sério e contínuo desde 2014, e nos reduzir a “defensores do identitarismo” é extremamente irresponsável. Eu só digo duas coisas.

    Primeiro é que eu não confiaria na palavra de movimentos que criminalizaram abertamente outro movimento social e uma militante já perseguida pelo Estado em uma nota pública, e ainda panfleta essa nota no local de trabalho dela (sim, eles imprimiram e panfletaram a nota na Assembleia de Professores da UERJ).

    Segundo é que, pra quem está de fora e não sabe na palavra de quem confiar, tanto a página da Ocupa Bandejão no facebook quanto a do ADEP, estão disponíveis na internet pra qualquer pessoa tirar suas próprias conclusões. Verifiquem as fontes das informações antes de sair acreditando em qualquer coisa que falam por aí. A nota do ADEP onde nós AFIRMAMOS a necessidade da ocupação dialogar com a favela e com secundaristas, sem acusar a ocupação nem ninguém de nada, está na página do ADEP no facebook, você pode ver lá se isso procede. A nota mentirosa que nos criminaliza está na página da Ocupa Bandejão, você também pode ler ela diretamente em vez de saber por terceiros. A nota que publicamos depois disso em nossa defesa também está na página do ADEP no facebook. E nessas páginas também tem as atividades de cada movimento e formas de conhecer tanto a ocupação quanto o ADEP mais de perto.

    Acho muito problemático um blog como o passapalavra publicar um texto desses, repetindo acusações que o MEPR e a RECC fizeram a nós, e baseado em que??? Em palavra de X9??? Repito aqui o que dissemos em resposta àquela nota mentirosa: o ônus da prova recai sobre quem acusa. Isso que estão fazendo é trairagem e difamação, é muito sério!!!

  5. Na minha opinião, Belchior conseguiu empreender uma análise distanciada da totalidade dos acontecimentos, sem perder-se em querelas ou paixões partidárias, para, ao fim, refletir sobre o futuro desse movimento da classe. Por isso julgo importante sua contribuição.

    Aparentemente, ele não é militante da RECC, nem do MEPR, o que, de certa forma, facilita o preparo de uma análise distanciada. O que faltou neste texto, a meu juízo, foi um comentário a respeito da centralização do movimento empreendido pelas 2 organizações mencionadas, e, a partir disso, uma reflexão sobre estratégias de como lidar com esse processo. Por isso seu texto deve ser lido em conjunto com os comentários de Gabriel e D.

    A centralização é muito clara: o slogan do movimento de ocupação é uma frase do MEPR, as cores das bandeiras são as do MEPR e da RECC, e, como Gabriel comentou, há uma série de artimanhas em assembleias e reuniões para que as diretivas políticas sejam as de tais grupos.

    Pra mim, o ponto é: como os grupos/militantes que não caíram na fita pega-moscas do governismo/reformismo devem agir para que a democracia de base não sucumba frente à necessidade de auto-construção de organização X ou Y?

    Abç.

  6. Os companheiros “libertários” perderam tanto tempo em política assistencialista e em sua desorganização que não conseguiram ser razoáveis na luta política. Ninguém ali pensou em projeto de autogestão para o R.U., ali não houve debate político, perdemos tanto tempo em picuinhas que a nossa finalidade foi apenas o fato político para futura eleição do DCE, que era a intenção dos setores organizados. Uma pena perceber a limitação e desorganização do campo libertário, da qual faço parte, ao final quem trabalhará para o bandejão serão os terceirizados, reivindicamos a lógica capitalista de gestão burguesa. Uma pena a falta de disciplina e comprometimento das organizações libertárias com a luta. Abraços.

  7. Gostaria de fazer minhas as palavras do Gabriel e de Duda. Sou Mônica Lima e prezo por movimentos classistas sérios e pessoas realmente comprometidas na prática e vivência. Vários e sérios equívocos estão tomando este tema e pior, pessoas que julgo sérias estão erroneamente rompendo a solidariedade de classe e o classismo.

  8. Parece que os comentadores acima tentando acusar o texto de comprar “narrativa mentirosa” não entenderam que nele está repleto de reconhecimentos de críticas às perspectivas burocráticas e centralizadoras do coletivo em questão, o MEPR, inclusive de excessos cometidos: como a citação nominal da professora envolvida no projeto de extensão da ADEP e expulsão de um dos ocupantes sob uma alegação de machismo, totalmente contornável e sem necessidade de tal procedimento.
    No entanto, o comentário do Gabriel já expõe detalhes do processo, que na verdade confirmam a tese do texto. Essa é exatamente a de que mesmo com o MEPR e suas perspectivas centralizadoras, elas passaram por dentro da estrutura organizativa da ocupação, com um rigor racional mínimo de debate interno. Tudo isso é reconhecido no texto, que tal foi a condição da ocupação, onde as propostas do MEPR foram acatadas pelo coletivo, que não reduzia a esse e nem a suas “linhas auxiliares”, como é tentado fazer entender em tal comentário sobre as “organizações alinhadas”. Não cabe aqui fazer uma disputa de versões, mas sim de discutir o mais pontual que é a que ponto chega as disputas politicas dentro de um movimento social, enquanto o identitarismo e atropelos se fortalecem sob argumentos de mobilização “autônoma”. Enquanto as propostas feitas foram negadas, dentro dos fóruns deliberativos da ocupação, mais do que simplesmente se alinhar com o MEPR, foram dentro dos dispositivos e das pessoas que constroem o movimento. Por exemplo, uma das reclamações que ouvi na ocupação sobre a proposta de distribuição de senhas para moradores da Mangueira, foi de que ela seria melhor se fosse combinada com a comissão da cozinha, dado que nem todos que pressionaram por tal proposta contribuíam integralmente com seus trabalhos.
    Confirmando a tese do texto, mesmo com a dinâmica centralizadora que estaria sendo implementada pelo MEPR, ela foi realizada nos espaços organizativos. Mesmo concordando com as críticas a tal perspectiva desse coletivo, nada justifica a dinâmica autoritária de atropelo que foi implementada por mais pessoas que alguns militantes da ADEP, sendo que ela não foi integralmente expulsa da ocupação, somente alguns principais agentes da desestabilização levada a cabo até então. Sendo que alguns militantes dela permanecem no espaço, apesar da prática de difamação e perseguição constante para com esses que pertencem ao projeto e insistem em apoiar a ocupação. É um exemplo de centralização de pessoas por meio de grupos de afinidades, onde os mecanismos de exclusão são a pressão externa a qualquer fórum de decisão racional. Tal prática não somente foi defendida por quem se dizia contra as deliberações da ocupação, onde independentemente das discordâncias, os métodos utilizados são muito piores do que qualquer perspectiva centralizadora do “marxismo-leninismo-maoísmo”. O preocupante é a cruzada que se estabelece contra um movimento social, simplesmente por ele não atender algumas perspectivas e propostas feitas. E pior, a ideologia e narrativa reinante como uma cultura, que coloca como legítimo tais ações. Inclusive de reduzir os que apoiam a ocupação como adversários.

    As outras colocações, como “ocupação x9” e acusações sobre a ameaça virtual que tem sido recebida pela professora, não necessitam de resposta. Dado que é óbvio tal colocação reflete uma falta de exercício, em saber separar algumas questões do movimento real. Assim como nega a obviedade de que os ocupantes discordam.

  9. A qual os ocupantes discordam, reitero que me refiro às ameaças virtuais sofridas pela professora. Inclusive, que devem ser investigadas.

    Penso que isso faz parte do mesmo processo de desestabilização politica de um movimento, junto com a que foi implementada por alguns militantes da ADEP e outros. Como as descritas no texto. Nada justifica tal procedimentos, além da barbárie de perspectivas conservadoras.
    Não é simplesmente “reversível”, principalmente quando se leva em conta a situação de desmobilização na UERJ, já descrita no texto. Mas pela contundência do movimento e contrariando as previsoes, incluindo as minhas, a reitoria esta dando sinal de atender às reivindicações do movimento. A licitação do bandejão esta em processo de conclusão e está dando sinais que retornará ao funcionamento.

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