Bad Kids of the World entrevistam o Grupo de Trabalhadores de Hong Kong

Os artigos sobre os protestos em Hong Kong foram reunidos em um dossiê.

A entrevista a seguir foi feita por internet durante o mês de agosto. Camaradas de diferentes partes do mundo – uns Bad Kids of the World – fizeram algumas perguntas sobre o movimento anti-extradição ao “Grupo de Trabalhadores”, um coletivo proletário sediado em Hong Kong. Nós queríamos entender como os protestos massivos se relacionam ao contexto mais amplo da luta de classes na região. O texto está sendo publicado simultaneamente em diferentes línguas (veja a versão em inglês aqui).

Bad Kids of the World [BKW]: Você pode nos contar os desafios da luta contra a Lei de Extradição? Qual o impacto dessa lei no cotidiano, tanto do ponto de vista das condições materiais de existência dos trabalhadores, quanto da capacidade organizacional dos grupos revolucionários e movimentos sociais?

Grupo de Trabalhadores [GT]: Acho que essa é uma das perguntas mais difíceis de responder. É bastante claro que as pessoas em geral não serão afetadas diretamente, mesmo que a lei possa vir a ser aprovada. Existem três tipos de pessoas que estão seriamente ameaçadas. O primeiro tipo são os super-ricos da China, que estão fugindo do sistema judiciário chinês para escapar de acusações de crimes comerciais ou de disputas internas do Partido Comunista. O segundo tipo de pessoas são os ativistas políticos em Hong Kong. Uma vez que não há absolutamente nenhuma liberdade política na China, não há partidos de oposição organizados. Por outro lado, podemos dizer que Hong Kong é o único lugar dentro do território chinês onde existem alguns partidos de oposição. Por isso, muitos de nós acreditamos que esses ativistas políticos são o segundo grupo de pessoas que estão ameaçados pelo projeto de lei. Existe um terceiro grupo, que não necessariamente são cidadãos chineses ou de Hong Kong: são pessoas de todo o mundo que se relacionam com a China, porém não são bem-vindas pela China. Podem ser trabalhadores de ONGs, religiosos, gente de negócios ou qualquer pessoa que o governo chinês não goste.

Quando se fala de trabalhadores e da vida cotidiana, é muito importante entender que quase toda população de Hong Kong é de imigrantes chineses ou descendente de imigrantes da China. Muitos têm parentes na China continental e voltam às suas cidades natais anualmente para encontros de família. Por outro lado, desde os anos 80, os laços econômicos entre Hong Kong e China têm ficando mais complicados. Muitas pessoas de Hong Kong estão realmente cruzando as fronteiras para trabalhar. Especialmente nos setores de negócios. Primeiro, os gerentes de fábrica e os empresários vão à China continental para montar fábricas. Posteriormente, não apenas para trabalhar nas fábricas, mas também como contadores, designers, engenheiros, trabalhadores de ONGs, assistentes sociais ou mesmo professores universitários; muitos setores diferentes foram desenvolvendo ligações e cooperação com a China. Por outro lado, muita gente de Hong Kong que não pode pagar por um apartamento aqui acaba escolhendo comprar um apartamento na China continental afim de manter seus bens com um bom valor. É esse, então, o vínculo mais próximo das pessoas comuns com a China.

Muita gente também tem medo que qualquer coisa que lhes aconteça na China possa resultar numa acusação criminal. Se passar a Lei de Extradição, essas pessoas também podem ter o problema de serem enviadas à China.

Sobre a capacidade organizacional de grupos revolucionários e movimentos sociais… Eu diria que a capacidade organizacional é minúscula. O que quero dizer com minúsculo é que, falando no nosso Grupo de Trabalhadores, consistimos em apenas de dez a vinte membros ativos. Estamos fazendo coisas muito diferentes durante a luta, nós não trabalhamos de maneira muito coordenada. Mas uma característica de movimentos de massa desse tipo é ter muitos manifestantes que estão indo pela primeira vez e querem fazer muita coisa. É por isso que também estamos aproximando novas pessoas e participando de diferentes atividades. Por exemplo, aproximamos algumas pessoas para ajudar em exibições de rua, para passar nos bairros vídeos sobre o que está acontecendo nas lutas. Por outro lado, também aproximamos algumas pessoas novas para visitar os trabalhadores que precisam trabalhar à noite. Muitos deles sofrem com o confronto entre a polícia e os manifestantes. Por exemplo, os trabalhadores da limpeza são expostos diretamente ao gás lacrimogêneo sem nenhum dispositivo de proteção. Então, vamos visitar esses trabalhadores para conversar com eles sobre como se proteger e sobre o que o movimento está reivindicando.

Na sexta-feira 21 de julho, 100 mil pessoas tomaram as ruas e se dividiram em 3 grupos para bloquear a sede do governo, a sede da polícia e o departamento tributário. Foi o primeiro dia de ações totalmente iniciadas e coordenadas por consenso em fóruns anônimos e grupos de Telegram.

BKW: Para apresentar o movimento ao público internacional, você pode começar fazendo uma breve recapitulação da sua história? Como ele começou?

GT: Um histórico muito antigo é que, em 1984, quando o governo britânico assinou o acordo com Zhao Ziyang para devolver a soberania de Hong Kong à China, havia uma promessa muito explícita de que os sistemas tradicionais da China e de Hong Kong não iriam se fundir, que serviu para aliviar o medo da população de Hong Kong. Esse é o contexto inicial. Mas no início de 2019 aconteceu uma coisa. Uma pessoa de Hong Kong matou sua namorada em Taiwan e fugiu para Hong Kong. Porém, como Hong Kong e Taiwan não têm nenhum acordo de extradição, essa pessoa não pôde ser julgada pelo assassinato em Taiwan. Aí o governo de Hong Kong está aproveitando esses eventos para propor uma emenda à Lei de Extradição. Mas na verdade, o conteúdo do projeto de extradição não tem nada a ver com esse caso, porque o governo está tentando expandir a cooperação de extradição para a China, que não tem nenhuma relação. No passado, já houve situações de Hong Kong trocar criminosos com Taiwan sem nenhuma emenda na Lei de Extradição. Portanto, está ficando cada vez mais claro que o projeto de extradição tem uma intenção política muito clara de enviar pessoas para a China, em vez de trazer justiça pelo assassinato em Taiwan. E, como resultado, desde abril de 2019, eles estão recebendo cada vez mais protestos, e mais e mais objeções na comunidade internacional, incluindo o consulado da União Europeia e dos Estados Unidos. Mas o governo de Hong Kong não vai ouvir esses conselhos. Com isso, em 9 de junho, ocorreu uma grande manifestação, a maior desde 1989. Cerca de um milhão de pessoas estavam envolvidas. O que aconteceu depois desse ato você pode ver nos noticiários, então não vou repetir.

Mas, ao falar sobre a história do movimento, quero acrescentar alguns antecedentes. Acho que os eventos dentro da luta são importantes, mas nunca são completos. Nós precisamos conseguir entender a intenção da Lei de Extradição. Muitas pessoas em Hong Kong não entendem por que o governo chinês escolheu fazer o projeto de extradição justamente neste período específico. Eu acredito que eles têm um cronograma para isso. O que quero dizer é que, desde 2012, quando Xi Jinping se tornou presidente da China, ele começou a aumentar seu controle sobre todo o país. Ele fez muitas ações. Primeiro, reformou a estrutura do governo para que o poder se concentre em uma pessoa: ele próprio. Em segundo lugar, há muita repressão à sociedade civil dentro da China. Os movimentos – incluindo as famílias, advogados, ativistas trabalhistas – foram todos suprimidos. E o governo está tendo um controle ainda mais rígido sobre a mídia do que antes. Por outro lado, o Partido Comunista exige que todas as empresas, inclusive as privadas, estabeleçam um núcleo do Partido Comunista. O que significa que o PC está se expandindo e tentando ser o líder de qualquer instituição social. É isso que está acontecendo na China.

Em segundo lugar, o governo chinês está tentando obter controle completo sobre os lugares onde ele não pode controlar completamente, ou seja, o que aconteceu em Xinjiang. Xinjiang fica na parte noroeste da China e está conectada ao Cazaquistão, Paquistão e ao restante da Ásia Central. A maioria das pessoas não são realmente chinesas, são uigures. Como o lugar nunca foi de fato, tradicionalmente, um território chinês, o governo está explorando muito e colonizando aquela região, e sempre há um sentimento nacionalista e movimentos de independência. Desde 2013 ou 2014 o governo chinês está construindo aí campos de concentração e enviando pessoas uigures para eles, que têm sido chamados de campos de “reeducação” ou de “desextremização”. O que acontece nesses campos é que essas pessoas sofrem lavagem cerebral e recebem educação patriótica por 8 horas, ou mesmo 10 horas por dia, com algum trabalho forçado. Esse problema é amplamente noticiado, e muitos acreditam que isso acontece porque Xinjiang é a janela do projeto “Um Cinturão, Uma Estrada”, que conecta uma rodovia e um gasoduto com o Cazaquistão. É por isso que eles vão impor um controle mais rígido sobre o território.

Outra parte da ação é obter controle completo sobre Hong Kong e Taiwan. Como Hong Kong e Taiwan vivem cenários totalmente diferentes, não nos podem enviar para campos de concentração. Porém, o que estão fazendo é uma série de passos para estreitar o controle do governo chinês, o que inclui estigmatizar o partido da oposição e obter maior controle sobre a mídia de Hong Kong, também inclui empresas de jornais e televisão, a compra de muitos empresários e gângsteres e o apoio a algumas das forças políticas afiliadas ao governo chinês. Por fim, suprimir a liberdade de imprensa e liberdade de expressão nos meios acadêmicos. Isso está acontecendo simultaneamente em Hong Kong e no Taiwan. Mas Hong Kong é muito mais problemático que o Taiwan, porque é um lugar onde a China se conecta ao resto do mundo. Todo mundo do Ocidente, e também do resto do mundo, que quer fazer alguma coisa na China – não importa se negócios, religião, política, caridade, ou seja lá o que for – vai precisar passar por Hong Kong. Hong Kong é um lugar muito complicado nesse sentido. Então eu entendo que a Lei de Extradição é uma tentativa de colocar Hong Kong sob um controle mais duro do governo chinês. Eu acho que se formos falar sobre a Lei de Extradição, temos que analisar o que aconteceu na China nos últimos anos e como eles estão tentando obter um controle total sobre esse território. A Lei de Extradição é apenas parte desse projeto.

BKW: Qual é a composição social do movimento? Quem são as pessoas que vão às manifestações? Quais setores participaram das greves? Essas pessoas estiveram no movimento desde o começo, ou estão entrando agora?

WG: É definitivamente um movimento que atravessa classes diferentes. Mas, falando de composição, eu vejo dois grupos mais importante. O primeiro são os estudantes. Quando falo de estudantes, estou falando de pessoas da faixa dos 10 aos 20. É bem maluco ver gente de 10 anos indo às ruas e lutando, mas sim, é o que está acontecendo agora. Quanto a essas pessoas, eu não tenho certeza do seu contexto familiar. Quem teve mais contato com os estudantes me falou que são contextos familiares bem diversos. Alguns vindo de famílias bem de vida, e outros de famílias muito pobres. São condições bem diferentes.

Hoje os estudantes em Hong Kong enfrentam muitos problemas, por uma série de razões. Primeiro, é a pressão dos estudos. Há algumas pesquisas que mostram que o tempo que os alunos de Hong Kong têm que passar estudando por dia é maior do que a carga horária de um trabalhador comum. São cerca de 55 horas semanais, e a jornada média de um trabalhador em Hong Kong são 50 horas. O segundo problema é que hoje está ficando claro para os estudantes que simplesmente não existe qualquer tipo de mobilidade social. Não importa se você tem uma graduação universitária ou não, você definitivamente não vai conseguir comprar um apartamento ou ter um bom salário após se formar. Um tópico bem preocupante é que nos últimos anos houve uma alta recorde de casos de suicídio entre os estudantes. Até agora, ninguém conseguiu concluir qual a verdadeira razão para tantos casos de suicídio, mas está bem claro que se relaciona com o problema da educação e com a falta de perspectiva de futuro.

Outro grupo muito importante de pessoas são os trabalhadores jovens, que podem ou não ser recém-formados na universidade. Eles têm entre 20 e 30 anos. Essas pessoas são outro grupo ativo, que assume diferentes papéis nos protestos. Dá pra dizer que há diferenças no nível salarial, mas tenho certeza que, em meio a eles, há muitos desempregados e também trabalhadores freelances, que não trabalham em tempo integral. São os trabalhadores desempregados e freelances que tem mais flexibilidade para comparecer a todos os protestos. O motivo é que, por um lado, eles não têm salário; mas, por outro, eles têm controle total sobre seu tempo. Eu conheço um monte de amigos que simplesmente largaram seus empregos para ter mais tempo para participar da luta. Eles são as pessoas que mais facilmente podem participar da greve porque não estão preocupados em serem demitidos ou sofrerem sérias consequências após se recusarem a trabalhar em um dia específico.

Esses são os dois grupos mais importantes. Mas, por outro lado, eu diria que a classe média ainda tem tido um papel importante neste movimento por doar muito dinheiro para todo tipo de coisa, incluindo impressão de materiais de propaganda, e por comprar muitos equipamentos de proteção para os manifestantes. Até esta luta, nós nunca tivemos capacetes e filtros de gás nos protestos, esses itens são muito caros. No entanto, um monte de gente está fazendo doações para comprar esses equipamentos de proteção para os manifestantes. Então eu acho que esses três grupos de pessoas são os que mais facilmente se identificam nos protestos. Mas eu certamente esqueci um monte de outros grupos que também fizeram um monte de coisas importantes.

[Atualização em 06/09] O relatório de uma pesquisa de campo cobrindo todas as manifestações de 9 de julho a 4 de agosto mostrou que a proporção homem/mulher no movimento está mudando de 1:1 para 3:2. 70-90% dos manifestantes possuem graduação universitária, e cerca de metade deles tem de 10 a 30 anos. Além disso, metade dos manifestantes se descreve como “classe média”.

1º de julho foi particularmente importante porque os manifestantes invadiram o prédio do parlamento e fizeram um pronunciamento com as 5 reivindicações. (Foto: Jimmy Lam @ USP United Social Press)

BKW: Como você vê a relação entre o movimento e a vida no local de trabalho? O movimento produziu conflitos no trabalho ou conflitos no trabalho que se conectaram ao movimento? Você poderia falar um pouco sobre a iniciativa do seu “Grupo de Trabalhadores”?

GT: Poucas lutas foram articuladas nos locais de trabalho, por várias razões. Primeiro: a lei de extradição não está totalmente relacionada a locais de trabalho específicos. Segundo: as lutas nos locais de trabalho nunca são um tema nos principais movimentos sociais de Hong Kong. Temos só uma ou duas greves a cada ano (e mais de dez movimentos selvagens de trabalhadores da construção civil subcontratados, que sempre sofrem por não receber salários). As pessoas em geral nunca realizam greve como forma de protesto. No entanto, durante as assembleias de trabalhadores de setores específicos (como a que foi organizada por trabalhadores da saúde), muitas questões do local de trabalho foram mencionadas, além de se falar sobre a Lei de Extradição. Isso ocorre porque os profissionais de saúde do setor público sofrem com longas horas de trabalho e redução do quadro de funcionários, mas o governo se recusou a tomar medidas. Em janeiro, eles quase organizaram sua primeira greve na história para protestar contra isso.

Além das greves gerais, não há muitas ações coletivas de trabalhadores em torno do movimento anti-extradição. A única exceção são os operadores do metrô. O motivo é que o metrô é o transporte mais importante para os manifestantes e há duas semanas atrás os policiais lançaram gás lacrimogêneo nas estações de metrô, o que significa que os trabalhadores e outros passageiros correram risco. Agora muitos operadores do metrô estão exigindo que sua empresa impeça a polícia de entrar nas estações, para proteger a segurança pessoal dos trabalhadores. Este é o conflito mais direto.

Outro conflito – bem, não vou dizer que é “conflito”, porque é só unilateral, vindo dos patrões – acontece em algumas grandes empresas de capital chinês. Eles forçaram a equipe a assinar algumas petições para apoiar o Projeto de Extradição e condenar os baderneiros, e alertaram a equipe para não estar ausente no dia da greve – caso contrário, seriam demitidos na hora. É por isso que não direi que é um conflito: como os trabalhadores desses lugares não tiveram força para revidar, eu prefiro chamar de “repressão”. Quanto a outros locais de trabalho, não me parece haver conflitos muito agudos. Uma vez que o trabalhador comum em Hong Kong não fala sobre sua visão política no seu local de trabalho, ele acaba não sabendo o que seus colegas estão pensando.

O nosso Grupo de Trabalhadores está oferecendo ajuda para alguns trabalhadores que ficaram com problemas nesse tipo de conflitos, mas não recebemos muitos casos. Ah sim! Há outro conflito muito importante que eu preciso mencionar. Não está diretamente relacionado a uma visão política, mas está diretamente relacionado aos protestos. Hong Kong é uma cidade muito movimentada e há muitas lojas nas ruas. Então, você pode imaginar, durante os protestos, em muitos casos, ainda é no período da tarde, ou seja, todas as lojas e restaurantes estão funcionando. E então a polícia dispara gás lacrimogêneo nas ruas. O resultado é que os funcionários de restaurantes e lojas também ficam sob risco. Quando os policiais estão investindo contra os manifestantes, alguns vendedores inocentes podem ser, também, espancados. Em algumas empresas, assistimos a um tratamento realmente ruim de patrões contra vendedores que decidem parar de trabalhar mais cedo por causa do confronto nos protestos. O patrão simplesmente desconta seus salários. Então essa é uma luta muito importante que estamos tentando acompanhar, pois acreditamos que muitas pessoas estão sendo afetadas dessa maneira.

BKW: E quanto às pessoas que estão sendo demitidas quando os chefes descobrem que estão indo nos protestos?

GT: Uma pessoa veio até nós por causa desse problema, mas não acho que isso seja muito comum. Eu não vi esse tipo de reclamação em fóruns online ou nas mídias sociais. Então, suponho que não seja um fenômeno muito comum. Pois muitas pessoas optam por solicitar um dia de folga para a greve, e como isso é completamente legal, ninguém pode cobrar.

BKW: Os protestos anti-extradição começaram meses atrás, mas só agora, em 5 de agosto, eles se transformaram em uma greve geral… Como isso aconteceu?

GT: Houve três chamados de greve geral durante o movimento: 12 de junho (quando o projeto seria aprovado no Conselho Legislativo, ou seja, o parlamento de Hong Kong), 21 de julho (depois que bandidos atacaram pessoas vestidas de preto na volta do ato) e 5 de agosto. Esses apelos à greve geral não têm nada a ver com ideologia marxista, e a greve geral é vista apenas como uma maneira de protestar e de não cooperar com o governo. Além disso, em 12 de agosto não houve greve, mas muitas pessoas deixaram de trabalhar para ir ao aeroporto como forma de reagir ao tiro que os policiais deram em um enfermeiro, mirando no seu olho direito.

Em 12 de agosto, nós invadimos o aeroporto em resposta a um socorrista que ficou cego por um tiro da polícia. Após 100 voos serem cancelados, nós deixamos o aeroporto a pé.

BKW: Como foi organizada essa greve geral? Qual foi o papel dos sindicatos?

GT: Todas essas três greves gerais não foram organizadas no sentido tradicional, e o sindicato quase não teve nenhum papel nisso. Grosso modo, essas greves foram organizadas seguindo uma lógica muito simples.

Primeiro passo: sobre a data. É escolhida pela importância do dia (12 de junho), um dia depois de algo particularmente sério acontecer (21 de julho), ou decidido por consenso na internet (5 de agosto). O consenso é uma mistura de discussão anônima no fórum e votação anônima no Telegram.

Segundo passo: o desenho do plano de ação. O dia 12 de junho foi simples: todos vão ao parlamento porque o objetivo é interromper o projeto de lei. O dia 5 de agosto foi mais bem coordenado. Havia assembleias em sete lugares, além de bloqueio de tráfego pela manhã. As assembleias em sete lugares foram iniciadas por algumas pessoas na internet, conectando mais ativistas e membros do sindicato para participar; o bloqueio do metrô em 4 estações foi proposto na internet; o bloqueio nas estradas através da redução da velocidade foi decidido entre grupos de motoristas (não sindicalizados, principalmente proprietários de automóveis).

Essa greve geral não foi organizada no sentido tradicional. São alguns materiais de propaganda que circulam pela internet e ajudam a coordenar as pessoas. Existem duas fases de coordenação: a primeira é pedir às pessoas que parem o transporte público na manhã do dia, e a segunda parte da coordenação é ter assembleias em sete lugares diferentes em Hong Kong. Eu acho que a razão de ter sete lugares é não focar todo mundo em um local específico, mas sim se espalhar pela cidade. Não acho que planejem fazer isso, mas as sete assembleias imediatamente se tornam ocupações em sete lugares. Em todas as assembleias, vão dezenas de milhares de pessoas e ninguém quer sentar e ouvir algo por muito tempo; muitas pessoas simplesmente andam direto e tomam as ruas. Nesse dia, em todos os lugares diferentes de Hong Kong, houve confrontos [com a polícia], gás lacrimogêneo e esse tipo de coisa. A greve está realmente se tornando, vamos dizer, um “dia de ação em toda Hong Kong”. Até então, as ações eram focadas apenas em uma região específica, mas naquele dia havia ações em Hong Kong, em seis ou sete lugares.

BKW: Então foi um tipo de “greve urbana”, parando a cidade?

GT: Sim.

BKW: Existem espaços ocupados pelo movimento?

GT: Não. Se resume a ir a lugares diferentes para causar problemas todos os sábados e domingos. Isso é em parte uma revisão de estratégia após o fracasso da Revolução dos Guarda-Chuvas [N.T.: movimento ocorrido em 2014], na qual as pessoas ficaram exaustas durante a ocupação, sem atrapalhar efetivamente a economia e a rotina de funcionamento do governo.

[Atualização em 06/09] Agora há conflitos entre as pessoas e a polícia em todos os lugares, todas as noites. Isso é porque os policiais estão vendo todos os cidadãos como seus inimigos. Com muita frequência, eles param e procuram pessoas. Tal tipo de abuso enfureceu muitos moradores, e toda noite as pessoas dos bairros estão expulsando os policiais das áreas aonde vivam. Outra forma típica de enfrentamento agora é quando um monte de gente fica fazendo barulho nas redondezas das estações policiais, por exemplo xingando e cantando músicas anti-polícia. Algumas vezes os policiais correm para fora das estações, tentando prender alguns.

BKW: Os trabalhadores tentam roubar ou expropriar coletivamente mercadorias?

GT: Nunca. Julho de 2019 foi a primeira vez em que muita gente de Hong Kong pulou a catraca no metrô. Antes disso, todo mundo ficava na fila para comprar passagem de metrô após o protesto.

[Atualização em 06/09] Os primeiros grandes atos de destruição de propriedade privada só começaram a ocorrer após 31 de agosto, quando o metrô cooperou com os policiais, deixando-os entrar nos trens para baterem em todas as pessoas que vissem – agora nós chamamos esse incidente de “ataque terrorista 831”. Depois disso, os manifestantes estão quebrando máquinas de bilheteria, portões e vidros das estações de metrô em resposta.

BKW: Vimos muitos tipos diferentes de bloqueios – desde motoristas que diminuem a velocidade nas rotatórias até passageiros deitados nas portas do metrô para parar os trens. Você pode nos contar mais sobre as táticas de greve?

GT: Para impedir que as pessoas trabalhem:

  1. Acidente de trânsito falso;
  2. Dirigir devagar;
  3. Deitar-se nas portas do metrô.

Para não ir trabalhar:

  1. Greve declarada;
  2. Licença médica falsa;
  3. Solicitar folga;
  4. Simplesmente parar de trabalhar (chefes de pequenas empresas, freelances e trabalhadores temporários).

BKW: Além das empresas chinesas, qual é a posição dos chefes de outros locais de trabalho?

GT: Empresas transnacionais, incluindo bancos e empresas de contabilidade, estão incentivando os funcionários a falar sobre a greve indiretamente, por meio de emissão de aviso interno dizendo que ” é aconselhado trabalhar de casa por conta da possível situação caótica amanhã“. Como resultado, não apenas a equipe contratada diretamente pode entrar em greve, mas também os parceiros de negócios são sabotados.

[Atualização em 06/09] Muito mudou desde a nossa discussão. Nas companhias aéreas, a Administração da Aviação Civil da China ordenou que a Cathay Pacific – principal empresa aérea sediada em Hong Kong, com um sindicato forte – que entregasse uma lista de nomes de funcionários que participaram dos protestos, ameaçando proibir a linha de voar sobre a China. O CEO recusou e foi forçado a se demitir. Ele foi substituído por empresários chineses que rapidamente demitiram uma série de funcionários por seu engajamento político. Eles foram tão longe que estão encorajando trabalhadores a denunciar seus colegas por participar politicamente. O metrô, agora cooperando completamente com os policiais, também está demitindo operadores que aderiram à petição de greve.

Nós levamos cartazes com imagens de ativistas laborais, advogados de direitos humanos e defensores dos direitos das minorias étnicas da China para fazer com que os demais manifestantes associassem nossa luta aos problemas do povo na China.

BKW: Qual é o lugar do nacionalismo na luta, e quem carrega esse projeto político? Existem pontes entre trabalhadores de Hong Kong e da China em termos de luta nesse momento?

GT: A tendência nacionalista na luta está ficando mais complicada. De 2010 a 2016, a retórica xenofóbica anti-chinesa (imigrantes e turistas) se tornou muito popular. Algumas pessoas começaram a falar sobre a “identidade nacional de Hong Kong” e três candidatos deste campo venceram nas eleições parlamentares em 2016 (3 de 70 deputados). Também existe uma forte retórica sobre a separação completa de Hong Kong da China, e a população em geral não está interessada em conhecer a China. Em 2019, está bem claro que a maioria dos manifestantes (especialmente os jovens) não se considera chinesa, e o slogan “Hong Kong não é China” ou mesmo “Sem China” [No China] sempre aparece. A participação chinesa na repressão (por exemplo, polícia chinesa armada se juntando à polícia de Hong Kong na repressão; agentes provocadores enviados pela força de segurança nacional chinesa foram capturados; estão verificando dados de telefones celulares quando as pessoas atravessavam a fronteira; o exército está se posicionado na fronteira; declarando manifestantes como terroristas, etc.) agitaram ainda mais os manifestantes, de modo que ninguém quer ter qualquer conexão com este governo.

O “sentimento nacionalista” se desenvolve ainda mais quando os manifestantes em diferentes partes de Hong Kong são atacados por policiais. Após esses confrontos, as pessoas não apenas falam sobre “proteger Hong Kong”, mas também se orgulham de fazer parte desse bairro, porque as pessoas lá lutaram bravamente contra a polícia, contra os invasores que representam o interesse nacional chinês.

O outro lado da história é que agora há menos retórica xenofóbica do que antes, embora seja mais uma consideração estratégica do que uma mudança no modo de pensar. Porque os manifestantes querem que o maior número de pessoas se envolva, a tal ponto que até os políticos famosos pela retórica xenofóbica falam menos nesse assunto.

BKW: Quais são as diferentes identidades étnicas locais que existem na população de Hong Kong? As pessoas se veem e se organizam através dessas etnias? Existem rivalidades entre elas?

GT: A demografia de Hong Kong é muito complicada. 6 milhões de chineses, aproximadamente 1 milhão deles, são imigrantes vindos da China, que vieram para Hong Kong nos últimos 20 anos. As rivalidades entre velhos e novos imigrantes é um tema da direita, que alega que os novos imigrantes são preguiçosos, enquanto ao mesmo tempo afirmam que “roubam nossos empregos”, “tiram dinheiro dos mais velhos através de casamentos”, e também “são culpados por apoiar o governo”. Os novos imigrantes são discriminados e muitos deles estão trabalhando em empregos mal remunerados. Nos últimos anos, como a comunidade tem crescido rapidamente, eles se tornaram mais e mais apartados dos velhos imigrantes, falando mandarim e obtendo informações a partir de sites chineses (que são firmemente controlados pelo governo chinês). Este tipo de segregação é um problema sério em Hong Kong. Existe ainda uma pequena comunidade de chineses vindos da Indonésia. 46.000 pessoas do Nepal, Índia e Paquistão. Seus pais e avós vieram para Hong Kong, na maioria das vezes trabalhando como oficiais militares ou outros tipos de funcionários do Império Britânico. Nos anos 1990, lhes foi concedida cidadania em Hong Kong. Entretanto a educação fornecida para estes grupos é tão diferente da educação dos estudantes chineses que eles não puderam aprender muito da língua chinesa na escola. Como resultado, eles não têm muitas opções de trabalho (principalmente em restaurantes e em construções) e são discriminados pelos chineses. Você pode conferir nesse artigo.

BKW: Sobre a situação dos trabalhadores migrantes em Hong Kong: quantos são, de quais países, como são tratados pela população local e como se organizam? Eles participaram da luta em conjunto com a população local? Como as pessoas do movimento veem os imigrantes?

GT: Duzentos mil trabalhadores domésticos filipinos e duzentos mil trabalhadores domésticos indonésios. Desde o fim dos anos 1970 esses trabalhadores domésticos, imigrantes do Sudeste Asiático, estão trabalhando para famílias em Hong Kong, ganhando um salário muito inferior ao salário mínimo de 4.520 dólares de Hong Kong e muito inferior ao salário mínimo por hora de 37,5. Eles estão desenvolvendo suas próprias organizações, baseadas em grupos religiosos, em pessoas vindas da mesma cidade natal, grupos políticos, e também sindicatos, parcialmente com a ajuda de igrejas. Os locais se recusam a respeitar os direitos dos trabalhadores domésticos imigrantes e alguns grupos conservadores se aproveitam para apelar para os empregadores de classe média, defendendo que eles não melhorem as condições de trabalho destes trabalhadores. Existe ainda uma pequena fração de trabalhadores domésticos da Tailândia, Myanmar, Camboja, Nepal e Sri Lanka. Os tribunais decidiram que estes trabalhadores não poderão jamais se candidatar para obter a cidadania em Hong Kong. Para detalhes sobre suas condições de trabalho, você pode conferir esse artigo.

Trabalhadores imigrantes são muito ativos no apoio a lutas locais. Na verdade, eles foram o grupo mais numeroso no protesto do 1º de Maio, mais do que qualquer outro sindicato local. O sindicato dos trabalhadores imigrantes é muito favorável a este movimento e eles traduziram alguns materiais para o [idioma] bahasa da Indonésia para que outras pessoas entendessem o que está se passando agora em Hong Kong. Alguns trabalhadores imigrantes estão participando dos protestos, mas não muitos. Então eu ainda não tive a oportunidade para perguntar a outros manifestantes o que eles pensam disso.

BKW: Você acha que esse movimento tem possibilidades de ultrapassar o horizonte da organização e da luta reivindicando a identidade de cidadão que tem sido dominante na maioria dos movimentos recentes?

GT: Quando Carrie Lam, Chefe Executiva de Hong Kong, chegou ao poder, ela criou o slogan “nós conectamos”. O engraçado é que este movimento realmente conecta vários grupos que não era visíveis ou muito respeitados no passado. Estes grupos incluem donas de casa, pessoas cegas, pessoas surdas, novos imigrantes, idosos e paquistaneses. No passado eles não eram a principal força nos protestos. Mas neste movimento muitos deles apareceram com suas identidades para se manifestarem.

BKW: Existe uma continuidade dos protestos atuais com movimento dos Guarda Chuvas de 2014? Podemos explicar a situação pelo mero desencantamento após o episódio de luta anterior?

GT: Sim e não. Sim: muitas pessoas participaram em 2014. Não: mais da metade dos manifestantes estão nas ruas pela primeira vez. Muitos deles disseram que não aderiram ao protesto de 2014 porque pensavam que o sufrágio universal não é importante/relevante o suficiente para que participassem, em parte porque é uma luta por algo que não tínhamos no passado. Mas eles se juntaram desta vez pois acham que é uma situação de regressão.

Do ponto de vista estratégico, as pessoas aprenderam muito com a lição do movimento dos Guarda Chuvas:

• 2014: a longo prazo ocupando um local fixo; 2019: não há ocupação. O ato de ocupar não é eficiente o bastante para perturbar a sociedade.

• 2014: liderança muito clara; 2019: sem liderança. Acontece que, sem liderança, um monte de gente tem a iniciativa de ações e ideias para pôr em prática, e o movimento se torna muito mais criativo.

• 2014: muitos conflitos internos para lutar pela posição de liderança; 2019: logo no início do movimento, alguém sugere um slogan de “Não se separar” e ele se torna uma diretriz central.

• 2014: manifestantes “pacíficos” e “violentos” se condenam; 2019: por causa do princípio “Não dividir”, essa tensão é suprimida, e muita gente agora está mais simpática ao uso da violência, por raiva contra os policiais e o governo.

BKW: A mídia internacional costuma limitar o movimento ao campo político, apresentando-o como uma luta por democracia liberal. Após a greve de 5 de agosto, a própria Carrie Lam disse que vai além. Quais poderiam ser as razões mais profundas, considerando especialmente a evolução das condições socioeconômicas e a subsistência das pessoas?

GT: A situação socioeconômica das pessoas de Hong Kong está fodida em todos os aspectos:

• Trabalho: sem regulamentação sobre a jornada de trabalho, muitos jovens estão se tornando slash workers [N.T.: trabalhadores que alternam constantemente entre áreas diversas]]. Jovens trabalhadores desempregados ou freelances são um grupo importante de manifestantes. Muitos deles lutaram na linha de frente.

• Habitação: as pessoas gastam 30-60% de sua renda em moradia, e não há controle de aluguel; escassez de habitação pública. Demora de 5 a 10 anos para entrar em um apartamento público.

• Aposentadoria: nenhum regime de pensões administrado pelo Estado. Assistência médica: escassez de trabalhadores médicos e leitos no sistema público de saúde. Temos que esperar 3-6 horas até receber tratamento na sala de emergência.

• Educação: um número recorde de casos de suicídio de pessoas com menos de 18 anos nos últimos anos, e a hora média semanal de estudo dos alunos (55 horas) é maior que a média da hora semanal de trabalho (50 horas). Estudantes de 10 a 20 anos são um importante grupo de manifestantes. Muitos deles lutaram na linha de frente.

• Gastos públicos: o governo não tem planos de implementar um sistema de bem-estar social de longo prazo. Em vez disso, eles estão continuamente construindo custosos megaprojetos de infraestrutura. Esses projetos foram uma das principais fontes de indignação antes do movimento, e é a única questão social que provocou protestos em massa no passado.

“Se nós queimarmos, vocês queimarão conosco” (ou “Ngor Yiu Laam Chao” em cantonês), é uma palavra de ordem importante para o movimento, mostrando nossa determinação em destruir os interesses das classes dominantes de Hong Kong e da China mesmo se todos nós formos ser destruídos juntos.

BKW: O governo chinês enviou ameaças evocando o uso da força. Isso é crível? Existem mais contra-ataques concretos para impedir a propagação dos protestos no resto do território chinês?

GT: Eles estão fazendo esse tipo de ameaça desde 1997, e isso nunca aconteceu. Desta vez, estamos apenas rindo dos vídeos que afirmam que o PLA está bem na fronteira, dizendo “venham nos matar, sabemos que vocês não se atrevem a fazê-lo”. No entanto, o governo chinês está fazendo muitos contra-ataques:

  1. Policiais de elite do PLA/Chineses foram enviados para Hong Kong para reprimir o protesto. Há muitas provas, por exemplo imagens de policiais conversando em mandarim em vez de cantonês; a maneira de lutar e prender que nunca antes observada nos policiais locais.
  2. Envio de agentes de segurança nacional para se infiltrar nos manifestantes. Os manifestantes capturaram três deles em 13 de agosto e suas identidades foram verificadas como policiais de Shenzhen e um Agente de Segurança Nacional de Pequim.
  3. Muitas pessoas de Hong Kong foram interrogadas e as informações dos seus celulares foram inspecionadas ao atravessar a fronteira. Algumas pessoas cujos telefones contêm fotos de protestos são forçadas a escrever uma carta de arrependimento e prometem nunca mais participar de nenhum protesto.
  4. Propaganda em massa na China para nomear a luta como “independência de Hong Kong” e um “movimento anti-China”.
  5. Pessoas na China que demonstraram solidariedade com Hong Kong foram detidas.

BKW: O movimento está conectado a potências estrangeiras como os EUA?

GT: Não é de forma alguma controlado/liderado/financiado por potências estrangeiras em nenhum sentido. Eu diria que esse movimento nem sequer é controlado por quaisquer mentores, nem locais nem estrangeiros. Sim, os EUA têm uma longa história de financiamento de políticos, mídia e sindicatos de oposição em Hong Kong, e os políticos da oposição de Hong Kong costumam fazer lobby em Washington ou Genebra. Mas não vejo essas pessoas desempenhando papéis importantes em protestos em massa nos últimos anos, de 2003 até agora. Na verdade, a influência deles está diminuindo porque a maioria das pessoas pró-democráticas em Hong Kong não confia mais em líderes políticos, especialmente aqueles que têm entre 10 e 35 anos de idade.

Se vamos falar sobre influência estrangeira nessa luta em particular, eu diria que há três questões particularmente importantes:

  1. As pessoas pró-independência de Taiwan estão muito atentas à situação de Hong Kong, usando-a como um forte argumento para a independência. Por outro lado, a eleição do parlamento e presidente em Taiwan ocorrerá em 2019 e 2020, e a luta em Hong Kong impulsionou o apoio do partido pró-independência (o atual partido no poder).
  2. Trump e seus aliados estão aproveitando o caos em Hong Kong para dar pressão extra à China sobre a negociação de tarifas.
  3. Grupos de manifestantes de Hong Kong estão fazendo lobby no exterior (EUA, Reino Unido e Reino Unido), apelando a esses governos que apliquem sanções aos membros do governo de Hong Kong, porque a maioria deles são na verdade cidadãos do Reino Unido ou de outros países ocidentais.

[Atualização em 09/09] BKW: Qual sua opinião sobre essa marcha em frente ao consulado dos EUA, pedindo por apoio de Washington? É uma bandeira da maioria dos manifestantes ou de poucos?

GT: Não é um número grande, mas há mais gente levantando a bandeira americana agora. De uns poucos em julho para cerca de cem no dia 8 de setembro. Eles até cantaram o hino nacional dos EUA! Eu não fui nessa marcha porque eu tinha uma outra coisa para fazer nesse dia, então não tenho informações de primeira mão sobre algum contraprotesto (de qualquer forma, se eu for, levarei algo relacionado ao Assange e ao Wikileaks como um protesto contra todo tipo de extradição política). Eu só vi uma foto de uma americana carregando um cartaz com a mensagem “pense no Afeganistão, Iraque, Síria e você vai saber que os EUA não são seus amigos”. Para mim, pedir apoio externo pode ser razoável, mas idolatrar o símbolo de um outro país é simplesmente sem sentido. A intenção de ir ao Consulado dos EUA era persuadir o congresso americano a aprovar a “Lei dos Direitos Humanos e da Democracia em Hong Kong”. Se aprovada, pessoas chave no governo de Hong Kong que foram responsáveis por repressão poderiam sofrer sanções do governo americano. Muitos manifestantes acreditam que seria uma boa ideia, como uma forma de revidar contra o governo de Hong Kong, seguindo o espírito de “se nós queimamos, vocês queimam conosco”. Uma vez que eu não estive lá, não pude perguntar a opinião dos presentes sobre isso, mas acredito que uma postura comum seja a de “não importa tentar, nós não temos nada a perder”. Por outro lado, 200 mil pessoas marchando para pedir intervenção estrangeira é por si só muito esquisito, provavelmente o único caso na história mundial (por favor me conta se tiverem outros). Isso mostra que a população de Hong Kong não tem identidade nacional e ninguém liga para a acusação do governo chinês quanto à colaboração de conspiradores estrangeiros. Isso é definitivamente alarmante para o Partido Comunista Chinês. [Fim da atualização]

BKW: Lemos na grande mídia que vocês usam diferentes tipos de aplicativos, como Telegram, Uber e até Tinder, para organizar. Como vão as coisas?

GT: Ok, não estamos usando o Tinder para organizar, hahaha!

O aplicativo mais importante é chamado Telegram. É tão popular por conta de duas funções importantes. A primeira função é que ele pode formar grupos com um número ilimitado de usuários participando. Isso significa que a discussão pode ter dezenas de milhares de pessoas envolvidas. Mas, é claro, esse tipo de discussão seria extremamente confusa, porque há muitas mensagens a cada hora (cerca de mil, quando se trata de um grupo ativo). Uma segunda função importante que ele possui, além desses grupos, é criar um canal. Um canal é apenas unilateral, ou seja, posso usá-lo para fornecer informações a muitas pessoas instantaneamente. Então estão usando esse tipo de função para fornecer atualizações ao vivo sobre os protestos. Por exemplo, algo assim: “[17:43] há dez policiais na rua A”; “´[17:48] agora eles têm outros 30 policiais e muitos deles estão com armaduras e armas”; “[18:18] na rua B, há outro grupo de policiais”. Esse tipo de atualização ao vivo é muito importante para os protestos. Essas duas funções importantes tornam o aplicativo chamado Telegram se tornam muito importantes no movimento.

Mas acho que atualmente há mais pessoas tentando se encontrar para ter reuniões diretas para pensar o que fazer a seguir. Isso está acontecendo especialmente em diferentes bairros. Não me lembro se mencionei que em muitos lugares em Hong Kong algumas pessoas estão colando alguns boletins nos quais escrevem algo e grudam na parede (são os chamados “Murais Lennon”, em homenagem aos murais de mesmo nome que serviram como um espaço de expressão da dissidência política na Praga dos anos 1980). Muitos estão fazendo isso e mostrando apoio ao movimento e falando suas próprias opiniões. E há alguns voluntários que ajudam a manter esse tipo de “murais de opinião”. Portanto, o mural de opiniões se torna um local para as pessoas ativas na comunidade se conhecerem. Agora eles estão tentando muitas coisas diferentes, além da manutenção do muro, alguns deles também estão exibindo na rua e mostrando vídeos dos protestos, como nós. Algumas pessoas estão até planejando alguma organização de defesa comunitária. Quer dizer, uma vez que os policiais estão cooperando com os bandidos para nos atacar, por que não criar nossa própria força para nos proteger?

Acredito que a ação de 24 de agosto foi especialmente importante porque seu foco não foi apenas nas cinco reivindicações, mas também contra a instalação de equipamentos de vigilância escondidos em postes de luz em toda Hong Kong. Nessa foto, os manifestantes derrubam um desses postes. (Foto: Stand News)

BKW: Qual é o lugar do anonimato no movimento? Durante o movimento Coletes Amarelos, os manifestantes gastaram muita energia nessa busca pelo anonimato. O anonimato era possível em manifestações massivas ou em ocupações de rotatórias, que de certa forma liberam uma força que está completamente detida na estrutura do trabalho, onde o anonimato é impossível, exceto pela sabotagem. Houve sabotagens durante o movimento? Como os manifestantes assumem pertencer ao movimento? Como os manifestantes se organizam para o anonimato?

GT: Os participantes do movimento têm um senso muito forte de anonimato. Durante o protesto, os manifestantes simplesmente não confiam nas outras pessoas nem tentam conversar com elas. Por outro lado, todo mundo está usando uma máscara, portanto, as pessoas que não se conhecem ou não lembram do rosto não podem reconhecer-se. Mas isso também depende da atmosfera. Às vezes, muitos estão dispostos a conversar, mas em outros momentos, eles simplesmente não respondem quando você tenta puxar conversa.

Para se organizar, é bastante comum que as iniciativas sigam essas etapas:

  • Propor uma ação num fórum anônimo;
  • Deixar meu contato do Telegram na postagem;
  • Quem estiver interessado em discutir essa ação, vai entrar num grupo de Telegram para formular algumas ideias.

Este é o modo de se organizar nesse movimento, mas é apenas para organizar ações, e não para organizar pessoas. E há uma grande diferença entre esses dois tipos de organização. Portanto, os agrupamentos que se formam para diferentes ações podem ser muito diferentes. Toda vez são pessoas diferentes iniciando tipos de ação diferentes, e ninguém sabe a verdadeira identidade dessas pessoas. Esse tipo de anonimato também traz maior proteção às pessoas que lançam as ideias, porque os policiais não vão conseguir encontrá-las, de modo que as ações acabam não sendo ameaçadas pelo risco dos líderes serem presos.

Por outro lado, os manifestantes estão tendo um consenso de que precisam ter algum tipo de representação. Mas agora, a maneira como eles representam o protesto é muito informal. A cada dois dias, as pessoas de um fórum anônimo realizam uma conferência de imprensa que chamam de “A Coletiva de Imprensa do Povo”. Nela, três ou quatro pessoas que usam máscaras e capacetes aparecem para conversar e comentar sobre os recentes desenvolvimentos dos protestos e para responder ao governo. Eu vejo algum nível de abertura neste círculo de organizadores da coletiva de imprensa, porque eles ficam procurando pessoas que gostariam de falar. E cada vez as pessoas que falam são diferentes. Portanto, não se trata de algumas pessoas tentando se tornar líderes e sequestrar o movimento.

BKW: Uma vez que estamos falando sobre representação e liderança, como estão as forças políticas dentro do movimento? Qual o espaço da direita e da esquerda dentro do movimento?

GT: Nenhuma organização pode aparecer no movimento. Entende? Eles só podem falar que estão participando do movimento. Nos momentos de ações, ninguém segura suas próprias bandeiras ou algo assim, porque as pessoas simplesmente não se importam. Eu diria que nenhuma das linguagens mais ideológicas existe no movimento. Refiro-me tanto da direita quanto da esquerda. É claro que a linguagem da direita é mais prevalente entre muitas pessoas, especialmente na linha de frente. Das pessoas que estão enfrentando a polícia diretamente, muitas são de extrema direita, mas não vão falar disso abertamente. Não porque pensam que ser de direita seja algo ruim, mas simplesmente porque não acham que é hora de falar sobre questões controversas. Ao invés disso, também se atêm aos cinco temas.

BKW: E a esquerda? Como está a situação da esquerda de Hong Kong?

GT: Parecida. Aqueles que estão atuando nas diferentes partes do movimento não escrevendo muita coisa. (Eu acho que essa entrevista está sendo um jeito muito bom de me forçar a escrever algo!) O problema é quanto às pessoas que não participam diretamente do movimento nas ruas: elas escrevem muito, mas para mim o que elas escrevem é simplesmente bobagem. Portanto é um grande problema, devo dizer. O que eu quero dizer com “simplesmente besteira” é que algumas pessoas … é como o que os camaradas franceses contam sobre os Coletes Amarelos: algumas pessoas de esquerda dirão que é um movimento de direita, um movimento nacionalista, então nós não vamos participar disso. Algo sempre idêntico acontece em Hong Kong. E nem sequer temos tempo para discutir.

O termo “esquerda” tem um uso muito confuso em Hong Kong. O motivo é que a esquerda deveria se referir a socialistas ou radicais, mas, no contexto de Hong Kong, se você falar sobre a esquerda, seria o Partido Comunista – o Partido Comunista Chinês. O que não é nada radical ou de esquerda, mas o rótulo dessas pessoas como esquerda ainda existe. Portanto, a esquerda é sempre usada para descrever pessoas relacionadas ao governo chinês. Esse é o chamado “Campo de Esquerda”, que inclui o maior sindicato de Hong Kong, que é o HK-FTU (Federação Sindical de Hong Kong), que na verdade fez um trabalho bastante importante na fase inicial da organização dos trabalhadores de Hong Kong (1950-1980). Mas desde os anos 90, quando a China assume Hong Kong, eles simplesmente se tornam operadores do regime para apoiá-los, trazendo seu interesse político a Hong Kong, em vez de continuarem a se tornar uma força importante no mundo do trabalho. Então este é o primeiro tipo de pessoas.

O segundo tipo de pessoas é… Hong Kong é um lugar estranho, onde há muitas pessoas que estão fugindo da China comunista desde 1949. A maioria delas são pessoas ricas (ou que possuem algumas terras), então precisaram fugir do Partido Comunista para escapar da reforma agrária e da Revolução Cultural. Mas uma pequena minoria, que apenas poucas pessoas notam, são os dissidentes políticos de dentro do Partido Comunista. Muitos deles são trotskistas. Eu diria que o trotskismo é uma origem bastante importante dos ativistas de Hong Kong. A origem é a vinda da China, porque precisaram escapar da forte repressão do Partido Comunista Chinês, foram a Hong Kong e começaram novos movimentos. Alguns desses trotskistas mais velhos realmente fizeram muita coisa para manter algum tipo de propagação da ideologia de esquerda em Hong Kong de forma bem discreta por, digamos, 30 anos. Essa ideologia só se tornou conhecida no início de 2000, quando a economia estava realmente ruim e as pessoas começaram a pensar que o partido tradicional da oposição não servia mais. As pessoas começaram a pensar no problema do Estado de bem-estar social, dos projetos de privatização e de infraestrutura, e desde então há mais jovens se tornando ativistas – o que inclui eu, é claro. Portanto, esta é uma história muito breve do desenvolvimento da esquerda em Hong Kong.

Mas, por outro lado, a geração jovem da esquerda quase não absorveu a velha tradição. Não por qualquer tipo de conflito, ou seja, lá o que for, mas porque o jeito como eles entraram no movimento é muito diferente da geração mais velha. E muito pouca gente está interessada em procurar essa tradição, ler os documentos e esse tipo de coisa. Então estamos quase fazendo muita coisa a partir do zero, eu acho.

23 de agosto foi o 30º aniversário da “Cadeia Báltica”. Inspirados por essa ação, algumas pessoas em fóruns anônimos lançaram a ideia de fazer o mesmo. Acabou sendo um grande sucesso. Agora muitos estudantes secundaristas estão fazendo ações parecidas antes do começo das aulas, como uma forma de greve escolar.

BKW: Você mencionou durante suas respostas o “Grupo de Trabalhadores”, mas não o apresentou. Talvez seja bom se você explicar o que é essa organização: como começou, que tipo de atividades políticas fazem?

GT: Ok. Quatro membros do grupo de trabalhadores vêm de uma organização comunitária… que, na verdade, tem assento no parlamento. Porém, houve muitos conflitos internos dentro dessa organização após o movimento dos Guarda Chuvas de 2014, pois algumas pessoas acreditavam que devíamos nos envolver mais nesse tipo de movimento. Mas a outra parte dos membros, principalmente os membros mais velhos e a pessoa que ocupa a cadeira no parlamento, são muito mais conservadoras e não queriam se envolver nesse tipo de questões controversas. Desde então, houve algumas diferenças dentro da organização. Mais tarde, o grupo de pessoas que queria participar mais ativamente dos movimentos de massa estava pensando em novas formas de se organizar, em vez daquela que fizeram no passado – que podemos descrever como “clientelismo”. Depois disso, como eles conheceram muita gente da classe trabalhadora ativa durante o movimento dos Guarda Chuvas, eles se tornaram mais confiantes para incentivar os trabalhadores a agirem diretamente, a confrontar seus chefes, em vez de apenas ajudá-los a resolver seu próprio problema. Então, eu diria que essa é a origem do Grupo de Trabalhadores. Ou seja: não ajudamos mais os trabalhadores a fazer algo; em vez disso, quando eles nos encontram, descrevemos mais o que podem fazer e deixamos que eles tomarem a decisão sobre que tipo de ação querem fazer para lutar contra seus patrões. São eles que têm que fazer isso. Claro que também apoiamos. No confronto com os chefes, sempre encontramos outros trabalhadores – especialmente os que contatamos no passado – para expressar solidariedade e encarar os patrões juntos.

Então, acho que essa é a característica mais importante do Grupo de Trabalhadores. Isto é, eu diria que abandonamos o modelo de organização trabalhista de ONGs em Hong Kong. Primeiro, não temos funcionários remunerados, usamos só o nosso próprio tempo e dinheiro para fazer as coisas. Em segundo lugar, não vemos os trabalhadores como alguém que precisa de nossa ajuda, mas queremos que eles se tornem nossos membros. Queremos que eles desenvolvam habilidades e usem-nas, realizando e liderando os conflitos por si mesmos.

Acho que esse é o coração do Grupo de Trabalhadores. Para os demais assuntos, como a Lei de Extradição e a participação neste movimento, acho que são ideias vieram depois que ampliamos nossa noção sobre o que são as demandas dos trabalhadores. O que quero dizer é que as organizações trabalhistas mais antigas de Hong Kong são altamente apolíticas, incluindo os sindicatos. É por isso que eles não tiveram um papel muito importante na greve geral em 5 de agosto. Os motivos de serem apolíticos se deve, em parte, ao modelo de ONG que assume que os trabalhadores só têm problemas econômicos.

Mesmo quando se fala em problemas econômicos, se encara isso de forma muito restrita. Muitos dos funcionários das ONGs imaginam que os trabalhadores são fracos demais e não têm muito tempo; portanto, os funcionários acabam simplesmente lidando com todos os problemas para os próprios trabalhadores. O resultado, portanto, é que os trabalhadores acabam deixando de aprender muita coisa durante sua própria luta e estão continuamente dependendo das ONGs, que na verdade são provedores de serviços para lidar com todas as coisas por eles. Portanto, não é empoderador e é apolítico. Acho que nossa tentativa é tentar mudar esse tipo de situação. Tanto para mudar a prática de como se envolver nas questões dos trabalhadores quanto, por outro lado, para incentivar os trabalhadores a se envolverem em outros tipos de questões.

BKW: Para terminar esta entrevista, é importante perguntar-lhe quais são as perspectivas agora para o movimento. O Projeto de Extradição foi suspenso, as manifestações em massa continuam… então, para onde está indo o movimento, em que direção? E também: qual é o sentido de participar desse movimento como trabalhador e revolucionário?

GT: Falando em perspectivas, você leu algumas notícias dizendo que o exército chinês está bem na fronteira entre a China e Hong Kong?

BKW: Sim.

GT: Sim, ok. Eu diria que isso é apenas uma ameaça e na verdade não vai acontecer. Porque a consequência de enviar o exército chinês a Hong Kong para reprimir a luta será mais prejudicial do que a própria Lei de Extradição. Então, acho que eles não farão isso. Agora é um impasse, eu diria. Isto é, está claro que o governo chinês está enviando material e pessoal para apoiar a polícia de Hong Kong na repressão. Ou seja, muitos dos militares que agora estão participando da repressão são chineses.
Portanto, o problema é que, embora sejamos muito persistentes na luta, toda semana ainda há muitas coisas acontecendo, mas parece que estamos enfrentando um inimigo com recursos ilimitados. Mas, por outro lado, estou sempre pensando em uma possibilidade: já que Hong Kong é tão importante para a China economicamente e politicamente, há uma pequena chance da luta em Hong Kong acelerar o problema econômico da China e, com isso, a situação na China será tão séria que o governo chinês precisará fazer algumas concessões para nós.

Eu acho que seria o melhor caso possível. Estou sempre pensando em pequenas chances. Mas até agora, para a maioria dos manifestantes, o que queremos é focar ainda mais nas cinco demandas. Porque agora, eu diria que só temos metade. Meia demanda, na verdade, porque o projeto de lei não foi retirado, mas está apenas caindo, você sabe. Contudo, pensando nos efeitos de longo prazo, como os protestos afetarão a economia de Hong Kong ou a economia da China… não tenho muita ideia, mas diria que se a luta não for completamente suprimida – o que significa matar talvez milhares de nós, como o que aconteceu em Tiananmen – o poder continuará por muito tempo.

Mais cedo ou mais tarde, acho que eles terão que fazer algumas concessões conosco. Mas se for realmente esse o caso, o movimento em Hong Kong realmente fez algo pela paz do mundo. Pelo menos até agora, já estamos impedindo – estamos desacelerando – o governo chinês de obter o controle total de Hong Kong. Como resultado, estamos diminuindo a agenda deles para travar uma guerra contra Taiwan. Porque, enquanto eles não puderem obter o controle completo de Hong Kong, não será possível iniciar outra guerra que os levará por anos. Portanto, essa é minha ambição de longo prazo desses protestos. Logo no início dos protestos, eu já estava pensando que, na verdade, a luta pela Lei de Extradição não é simplesmente uma luta pela democracia de Hong Kong, mas na verdade, é uma batalha muito importante retardar os passos totalitários da China em direção a expandir o totalitarismo para outras partes do mundo.

[Atualização em 06/09] Finalmente a Chefe Executiva de Hong Kong declarou a revogação da Lei de Extradição, mas estamos longe da vitória porque nosso foco agora é a violência policial e o sufrágio universal, apresentados como as outras quatro reivindicações. Então nós continuaremos a lutar.

BKW: Você vê alguma alternativa ao regime de Pequim além do tipo de democracias ocidentais? Se sim, que base social existe para essa alternativa?

GT: Eu não faço ideia. Mas qualquer transformação progressista em Hong Kong significará o fim do papel de Hong Kong como um centro financeiro global, o que levará a uma completa reorganização de setores sociais.

Em 9 de julho, havia tanta gente indo participar do ato anti-extradição na ilha de Hong Kong que eles tiveram que esperar por horas pela balsa que atravessa o porto para chegar lá.

Traduzido ao português pelo Passa Palavra.

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