Por Nicolas Lorca

 

Urubu veio de cima
Com fama de dançador
Urubu chegou na sala
Tirou dama e não dançou
Ora dança, urubu
Eu não senhor
Tira a dama, urubu
Eu sou doutor

(Braguinha – Urubu Malandro)

O movimento autônomo sempre foi um alvo, tanto da esquerda quanto da direita. Desde o Grupo da Autonomia Operária (GAE) (que foi ignorado — ou até mesmo tratado como inexistente — pelos anarquistas espanhóis, tendo depois seu legado absorvido pela CNT), quanto dos diversos coletivos existentes na Itália (décadas de 1960-1970), na França (década de 1960), na Alemanha (década de 1960) e em Portugal (a seguir ao 25 de Abril de 1974).

O fato é que atualmente a autonomia operária e igualmente o movimento autônomo tornaram-se um saco de gatos. Suas lutas, suas organizações, suas pautas e perspectivas sempre estiveram e continuam estando ausentes na história hegemônica.

O movimento autônomo segue desfigurado, marginalizado e tomado como sinônimo de lutas e militantes independentes. Desde as ocupações “autônomas”, as organizações e os inúmeros “blocos autônomos”, o que se percebe é que há um esvaziamento do seu sentido prático e político — feito de forma propositada ou não.

As diversas mudanças nas relações e nas condições materiais de produção, a uberização do trabalho, a precarização, a privatização, etc., colocam em primeiro plano uma forma singular de fragmentação dos trabalhadores. Esta, por sua vez, culmina numa ausência de solidariedade de classe, numa impossibilidade de construir lutas (nos locais de trabalho, estudo e moradia), de apoiá-las e, fundamentalmente, de se indignar com a barbárie.

Desse modo, existe uma crescente moralização do debate político, uma perspectiva de intensa vigilância, uma subsunção da apatia. É talvez por causa disso que cada vez mais as esquerdas, e sobretudo a extrema-esquerda, não vislumbram uma “conscientização dos trabalhadores” e constantemente esbravejam aos quatro cantos que “falta consciência de classe”.

Para além disso, cria-se uma falsa perspectiva, que fundamentalmente está ligada a um sentimento de vanguarda das lutas, como se os trabalhadores devessem se indignar e deixar de se indignar dependendo dos pretensos dirigentes. “Nada disto se apresenta como uma política popular. Nada disto inspira o entusiasmo popular. Pelo contrário, pressupõe a apatia” [1].

Mas onde efetivamente encontra-se inserido o movimento autônomo, a autonomia operária? “(…) Se a classe operária quando luta diretamente pela diminuição da exploração não atua nas instituições existentes no capitalismo, onde é que ela atua? (…) Ela atua fundamentalmente nas organizações que cria no próprio processo de luta — nas instituições autônomas. Esta é uma contradição muito importante do capitalismo. É a própria dinâmica de seu desenvolvimento que determina o surgimento de relações sociais que lhe são antagônicas. Relações sociais igualitárias e não especializadas, que destroem o sistema da ‘representatividade’, característico do capitalismo” [2].

Nesse sentido, é preciso então haver uma distinção bastante clara no que diz respeito ao movimento autônomo e à autonomia operária. Não pretendo afirmar que ambos são sinônimos, pelo contrário, existe uma relação entre eles, mas são duas realidades completamente distintas.

Desse modo, o primeiro caminho a ser percorrido é o de compreender o que é a autonomia operária, qual sua forma de organização e suas perspectivas. Se tomarmos, por exemplo, os textos publicados na Biblioteca Virtual Revolucionária, especificamente na sessão autonomia operária, perceberemos uma tentativa de esclarecer essa relação [3].

Em primeiro lugar, a autonomia operária pode ser compreendida como produto das lutas, uma característica da recusa das formas de organização do capitalismo, uma forma de resistência à hetero-organização do capital. Fundamentalmente, uma forma de organização que surge a partir das lutas, das contradições do cotidiano. De acordo com o Coletivo Autonomia, “a Autonomia não é uma ideologia, nem mesmo uma política, mas uma alternativa à política. Única tendência revolucionária que não se deixou rotular, monopolizar ou rebocar por velhos dogmas, clichês ou hábitos, a Autonomia se define como anticapitalista e antiautoritária, combatendo sem tréguas o patriarcado, o capital, o estado e todas as opressões ditas específicas” [4].

Nesse sentido, o Coletivo Rede Operária observa alguns princípios da autonomia operária: 1) recusa da submissão às leis da economia que o capital apresenta como naturais. Na prática, recusa do produtivismo e da ideologia da hierarquia do trabalho; 2) organização da violência proletária como ilegalidade e anti-institucionalidade, capaz de se contrapor à violência estatal, na defesa da classe. Entenda-se isto não como formação do braço armado proletário, mas como autogestão das lutas pelos próprios proletários; 3) crítica e superação das concepções hierárquicas e autoritárias, seja no plano social ou individual (moralismo, repressão, etc.), seja no das submissões funcionais dos proletários à ideologia da classe dominante. Tudo isso construindo momentos de organização que, negando a divisão em funções de dirigentes e executantes, comecem a unificar a atividade material e intelectual, hoje na própria organização, amanhã em todo o complexo da vida social [5].

Decerto, se podemos tomar essas perspectivas como corretas ou ainda coerentes, não haveria sentido algum construir um texto sobre a autonomia operária e o movimento autônomo. No entanto, é possível observar a constante rotulação e até mesmo uma “degeneração” da autonomia operária. Talvez por fruto do refluxo das lutas ou ainda uma moralização crescente fruto dos movimentos identitários, a autonomia operária tem perdido seu caráter “classista” — seja lá o que isso quer dizer.

Nesse sentido, “Essa perda de conteúdo classista coloca o autonomismo em contato com outros setores ideológicos, como o autonomismo liberal (o cooperativismo clássico, a economia solidária, produtores culturais, artesãos, hortas e bicicletas); com o autonomismo biologizante (excludentes de raça e sexo); com o autonomismo ready-made (black blocs), etc. Mas talvez o pior produto desta operação, de se tomar a horizontalidade como horizonte, seja o autonomismo ingênuo, que se apaixona pelo momento, pelo processo, como se ele bastasse. Como se militar uma ideia para além de um processo fosse excessivo e contaminante” [6].

Ainda outro problema encontra-se inserido nesse debate. A autonomia operária tornou-se motivo de intensas disputas, que muita das vezes tendem a ideologizar essa forma de luta. Por causa disso é muito frequente vermos “blocos autônomos”, ocupações autônomas, grupos de estudo, de bicicletas, de motociclistas, sessões estudantis, etc. Tudo é autônomo e tudo diz representar a autonomia operária. Nos círculos militantes, muito se fala, se reivindica, mas pouco — quase nada — se sabe da autonomia operária. “A forma de organização ‘autônoma’ renomeia o que tradições marxistas e anarquistas têm reivindicado há mais de um século como organização de base da classe trabalhadora” [7].

Essas disputas ideológicas dão origem a uma disputa de narrativa das lutas, como se determinado grupo fosse o responsável e o único agente nesse processo. Por causa disso afirma-se com muita frequência que determinada luta é anarquista, é marxista, é isso ou aquilo. A tentativa de monopolizar a narrativa histórica está diretamente associada a uma tentativa de se manter como referência de determinado movimento — ou até uma vanguarda.

Essas e outras coisas impactam direta e indiretamente na compreensão da autonomia operária. Por causa disso 1) as lutas ficam restritas ao nicho político-ideológico de determinado movimento — o que cria uma espécie de seletividade no que diz respeito à solidariedade de classe; 2) a autonomia operária torna-se restrita, ou seja, não alcança projeção e não sai dos limites da fábrica; 3) surge um distanciamento entre trabalhadores, que muitas das vezes impacta nos processos de luta e 4) cria-se uma perspectiva de que somente determinada organização pode levar os trabalhadores à autonomia.

Nesse sentido, a autonomia operária perde seu caráter fundamental, ou seja, uma prática de classe que se manifesta historicamente sempre que a classe operária se torna protagonista; uma forma de luta contínua (isto é, não só pelas campanhas salariais, por melhores condições de trabalho, etc.) e pela ação direta como única forma de intervenção massiva dos trabalhadores (greves, sabotagem, piquetes, ocupações e autodefesa); contra a divisão da luta em partes, divisão que atribui aos sindicatos a luta econômica e aos partidos a luta política; onde não há dirigentes nem líderes e não se quer representar uma vanguarda “iluminada”, modelo tão gasto quanto nefasto. Baseia-se unicamente na experiência proletária e é, antes de tudo, uma prática [8].

Nesse sentido, o que seria o movimento autônomo? Qual sua função? Para tentar solucionar essas questões deve-se partir das experiências de luta autônoma e de suas perspectivas. O sentimento antivanguarda, a luta por autorrepresentação, a auto-organização e a busca pela ruptura com o capitalismo fazem parte da linha corrente da autonomia operária. “A questão da militância não é menor, especialmente em um contexto nacional onde a esquerda esteve por muitas décadas tradicionalmente organizada em grandes máquinas partidárias estatistas (o trabalhismo e o comunismo), onde o sindicalismo é completamente fracionado pelas disputas partidárias. O autonomismo tem sua mística no auge das lutas, nas mobilizações ‘sem lideranças’ (um belo conto de fadas para convocar pessoas que nunca se organizaram), nas assembleias, na estética libertária, nos momentos de radicalização” [9].

Recorrendo novamente à Biblioteca Virtual Revolucionária, podemos observar um outro texto do coletivo Autonomia, onde é possível compreender, de acordo com os autores, que “autônomos são os coletivos e individualidades que se propõem viver a Revolução hoje, sem esperar orientação de ninguém, sem aceitar a direção de vanguardas autoproclamadas, cujo dogmatismo e autoritarismo serve apenas para manter a exploração com outro nome. Reconhecemos, no entanto, o papel desempenhado pelos autênticos revolucionários comunistas e anarquistas na luta contra o sistema capitalista” [10].

Concomitantemente, o texto expressa uma necessidade de se criar coletivos e organizações autônomas, militantes e demasiadamente estruturadas. Os coletivos e organizações autônomas que temos hoje são fruto de uma tentativa de ideologizar a autonomia operária. Como já foi brevemente discutido aqui e aqui, os coletivos autônomos têm marcado seu fim, colocando como aditivo o identitarismo e fundamentalmente uma tentativa de burocratizar a autonomia operária. Após quase vinte anos, a autonomia operária alcançou o centro do debate da extrema-esquerda. Criaram-se organizações, coletivos, grupos de estudo, espaços comuns, associações e, fundamentalmente, apresentaram-se lutas muito diversas como lutas autônomas. Por dentro e por fora, a autonomia operária tem se transformado numa estrutura burocrática. Os coletivos, por mais horizontais que se definam, acabam por criar uma espécie de burocracia interna, fortemente presa a um sentimento de vanguarda. O vanguardismo coloca como possibilidade a compreensão das organizações autônomas como operacionalizadoras de um processo que busca se colocar na cena militante como única opção viável para a emancipação dos trabalhadores (como se a tradição da autonomia operária fosse representada somente por determinada organização), pretendendo por isso que todos os militantes “autônomos” devam se vincular a ela ou ainda que uma determinada luta só seja verdadeiramente autônoma se essa organização a estiver dirigindo.

Por causa disso uma organização que leva o nome de “autônoma” tem de ter em mente o método de luta que defende. Para além da confusão, essa organização precisa ter certeza de que “dizer-se” autônomo é completamente diferente de “ser autônomo”. Concomitantemente, o primeiro problema encontra-se justamente nesse ponto, pois a Autonomia Operária, embora não seja antiorganização, não está vinculada às organizações vanguardistas, mesmo que tacitamente. Nesse sentido, creio que este debate ainda é bastante incipiente em nosso meio, não há a mínima reflexão, nem crítica e muito menos autocrítica dentro do suposto campo autônomo. Como o sindicalismo, os partidos políticos, os conselhos operários, as comissões de fábrica, etc., as organizações da classe trabalhadora foram absorvidas pela hetero-organização do capitalismo. Essas organizações e formas de organização, que em um passado mais ou menos distante foram criadas no seio da luta de classes, transformaram-se hoje em verdadeiras formas de dominação e repressão das lutas auto-organizadas. Nos defrontamos novamente com a questão da autonomia operária.

A forma de organização “autônoma” renomeia o que tradições marxistas e anarquistas têm reivindicado há mais de um século como organização de base da classe trabalhadora. Por causa disso tem se tornado muito frequente a utilização desse conceito. Então, o que nos torna “autônomos”? Nossa perspectiva anti-institucional? A recusa das organizações representativas? A pretensa — e pretensiosa — “auto-organização” que fazemos em nossos coletivos e movimentos? Estes pontos não significam necessariamente que somos “autônomos”, pelo contrário, significam que 1) podemos estar alinhados ao autonomismo liberal, que carrega os mesmo traços; 2) que estamos criando uma instituição que em pouco tempo se transformará numa nova e sublime forma de dominação. Afinal, os trabalhadores inseridos na dinâmica da uberização dizem-se autônomos, os clubes de bicicleta e algumas lutas — por mais escusas que sejam — também reivindicam a autonomia. O que me parece é que ou não sabemos o que é a Autonomia Operária ou qual é a nossa função. De todo modo, este é um problema que precisa ser pensado coletivamente e, entre as derrotas e as vitórias, as cartas precisam estar na mesa.

As obras que compõem a ilustração deste artigo são do artista venezuelano Oswaldo Vigas

Notas

[1] BERNARDO, João. Se a sociedade é tão entusiasmante, por que tanta apatia? Palestra no Ateneu Comercial do Porto em 7 de Abril de 1994, no ciclo Conferências do Inferno, organizado pela revista Última Geração.

[2] BRUNO, Lúcia. O que é autonomia operária. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1985. Fragmento extraído e disponível aqui

[3] A Biblioteca Virtual Revolucionária, no ar desde 1999, foi um dos primeiros sites a possibilitar um debate político e igualmente uma formação política. Nela é possível encontrar diversos dossiês (Autonomia Operária, Comunismo de Conselhos, Anarquismo, etc.) e compreender os debates políticos e organizacionais da extrema-esquerda a partir dos anos 1970.

[4] COLETIVO AUTONOMIA. Autonomia: como é e como funciona. Kaos, 1997. Disponível aqui

[5] COLETIVO REDE OPERÁRIA. O que entendemos por Autonomia Operária. Bolonha, 2001. Disponível aqui

[6] LUCAS. Autonomismo, classismo e ressaca. Passa Palavra, 16/12/2015. Disponível aqui

[7] Ibid.

[8] SENZA FRENI. 8 pontos sobre a autonomia operária. Bolonha, 2000. Disponível aqui

[9] LUCAS, 2015.

[10] GRUPO AUTONOMIA. 1997.

8 COMENTÁRIOS

  1. O link para a biblioteca virtual revolucionária não está funcionando. Teria outra forma de disponibilizar os textos?

  2. Caro/cara, até a ocasião de escrita deste texto a Biblioteca Virtual Revolucionária continuava operando no finado Geocities. No entanto, acabo de confirmar que o site saiu do ar e com isso perdemos um importante espaço de formação política.

    Por outro lado, os arquivos da biblioteca podem ser encontrados através deste link aqui

  3. Tantas e boas perguntas para poucas respostas e nenhuma resposta prática.

    Aqueles que se autodenominam revolucionários já são uma fração residual na esquerda e entre os trabalhadores. Dentro dessa fração, os que se aproximam de alguma ideia de autonomia chegam próximo a 0.

    Tenho a impressão de que numa eventual aventura fascista seriam todos varridos do mapa sem grande esforço do lado de lá.

  4. Quantidade das perguntas e qualidade das perguntas, ‘tantas e boas’, eis uma questão pessoal e intransferível. Dialeticamente, boa pergunta é a que está grávida de sua resposta.

  5. Caro, Eddie!

    As respostas práticas surgem no dia-a-dia, infelizmente não posso prever ou apresentar respostas prontas. Como já foi discutido nesse texto aqui https://passapalavra.info/2019/04/125920/ o movimento autônomo, ou aquilo que se reivindica enquanto tal, reproduz as mesmas dinâmicas burocráticas.

    O objetivo deste texto era retornar a este debate, tentando pensar esse tal “movimento autônomo”. Agora, sobre a segunda parte do seu comentário, acho que esta ai para observarmos que o pretenso movimento autônomo foi tragado pelo identitarismo e que flerta em grande medida com o fascismo.

  6. Nicolas, o debate que você propõe me faz lembrar algo que nunca foi saldado na minha cabeça, mas que é também parte de uma bagagem histórica difícil de definir. O que é um “movimento”?
    Recentemente li a novela “Os Invisíveis”, de Nanni Balestrini, e parecia haver uma compreensão quase espontânea de que se estava no meio de um movimento que se entendia assim, mesmo sem contar com uma identidade fixa, com órgãos de centralização, etc. Era a prática comum, os lugares de encontro, um sentimento de momento, na minha interpretação desta e de outras obras sobre esta época, o que dava a estas pessoas uma noção de participar em um mesmo “movimento”.
    A questão da organização sempre cria problemas de delimitação; isso ocorre até na hora de organizar uma festa de aniversário. Não é eludindo esse problema que se avança, mas é claro que não há respostas prontas.
    Então, como entender a prática? Se se trata de encarar as práticas comuns como fator de aglutinação, contra a tradição ideologista dos programas, das bandeiras e dos “blocos”, acho que existe uma tarefa dupla de nossa parte: por um lado, identificar práticas comuns, entender quais delas são mais potentes, em que contextos, etc; em segundo lugar, criar e propor novas práticas. Se ficamos apenas na primeira tarefa, nos tornamos simples antropólogos analisando e admirando a classe trabalhadora. Se ficamos apenas na segunda, nos tornamos seita ou um clube de amigos. Mas como não somos apenas militantes nem apenas proletários, é necessário criar coisas novas a partir do material bruto de nossa própria existência. Pesquisa e criação. Como um compositor popular.

  7. Caro, Lucas

    Compartilho da mesma problemática, afinal me parece demasiadamente difícil compreender algo tão complexo. Acho que em grande medida ficamos presos ao conceito de “movimento social” e tentamos enquadrar diversas coisas como se fossem as mesmas (e olha quem nem falo sobre movimentos sociais de esquerda ou direita). Para além disso, encontra-se a questão prática. Lembro-me que no alto da minha juventude, todos os que tornavam-se “militantes” eram por causa do anarquismo. Estava na moda ser “anarquista”, ser contra o estado e a ação direta. Atualmente, com o MPL, com as Ocupações secundaristas e universitárias, a moda é ser autônomo. Entre o primeiro e o segundo exemplo, essa prática existe com base nos métodos de luta largamente ultrapassados, na construção de narrativas que observam muito mais os pouco avanços, do que os inúmeros retrocessos. Por outro lado, existe a prática que surge no dia-a-dia, nas experiências cotidianas, nos avanços e retrocessos. Uma prática que se constrói fora das disputas por hegemonia política. Esta última é que me toma e me assombra, pois como conseguimos apoiar e se solidarizar sem romper a barreira da burocracia?

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