Por A Voz Rouca

👩🏽‍🏫 DIÁRIO DA QUARENTENA #15
💻 Educação nos tempos de corona

“AHH, MAS SUA AULA PODERIA SER MELHOR!”

Hoje, lembrei-me de meus primeiros anos de magistério. Preparava provas na máquina de escrever, colocando um estêncil no lugar da folha de papel. As figuras geométricas eram feitas com régua. Se errasse, teria que raspar o erro no estêncil com uma gilete. Em algumas ocasiões, tive que “rodar” a prova no mimeógrafo a álcool. Tinha que arrumar lugar pra colocar aquele monte de prova pra secar. Quando as provas passaram a ser xerocadas, comprava suplementos de vestibular nas bancas de jornal, recortava questões e colava em uma folha pra montar avaliações e simulados. Os trabalhos eram feitos em papel almaço (ainda existe isso?!). A capa geralmente era escrita com “pilot” e uma régua vazada. Pesquisa? Só nos livros. Não havia computador, internet, nada disso. Google? Que nada! O negócio era Barsa, Delta Larousse. Quem não tinha, pegava emprestado de quem tinha, porque eram bem caras. Escrevia o quadro com giz. E era legal quando tinha giz colorido. Dava pra incrementar o quadro.

(sei que tem professor lendo esse texto balançando a cabeça, pensando: “eu também!”)

Hoje, estou envolvido em tantas ferramentas tecnológicas – “Hangout”, “Meets”, “Classroom”, “Zoom”. Coisas que, há 35 dias, eu nunca tinha ouvido falar. Mas tive que aprender rapidamente a usar. E sozinho. Talvez não tenha nada demais pra quem é da geração digital, pra quem já nasceu imerso na informática. Mas sou da geração analógica. Isso tudo é muito novo pra mim. Aprendi algo diferente todos esses dias. Não se passou um único dia neste período sem que eu tivesse aprendido alguma coisa nova. Hoje consigo fazer coisas que não conseguia no mês passado. E amanhã, certamente conseguirei fazer algo que não consigo hoje. Jamais havia preparado uma “videoaula” em minha vida. Hoje, consigo preparar. Levo horas e horas, mas consigo. Chegará o dia em que levarei apenas alguns minutos. Meu computador, velho companheiro de guerra com “Windows 7”, sempre deu conta. Hoje, já não dá mais. Está obsoleto para as novas exigências.

“Ahh, mas sua aula poderia ser melhor!” Sim, claro que poderia. Já poderia quando era presencial. Meu trabalho sempre poderá ser melhor. Sabe que dia minhas ações não poderão melhorar mais? No dia de minha morte. Enquanto estiver vivo, poderei sempre melhorar. E estou me esforçando para isso. Sei que, mesmo com todo este meu “avanço” tecnológico, posso não estar atendendo às expectativas de alguns alunos ou pais. “Tem gente aí que faz melhor!”, poderão dizer.

Mas acreditem:

Nós, professores, especialmente os da geração analógica, estamos fazendo todo o esforço possível para minimizar as perdas decorrentes de nossa distância física. E, quando retornarmos às aulas presenciais, espero, de coração, que continue toda essa exigência dos alunos por aulas de máxima qualidade. Detestaria retornar ao colégio e presenciar estes mesmos alunos com descaso aos estudos. Isto só provaria que a avalanche de críticas que nós, professores, temos recebido não tem fundamento nenhum.

(…sei que tem professor lendo esse texto balançando a cabeça, pensando: “eu também!”)

Christian Ramos – Nova Friburgo, RJ

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(A Voz Rouca irá publicar na sua página relatos de abusos cometidos pelas escolas contra os trabalhadores durante a crise do Coronavírus. Caso você queira compartilhar alguma história, é só nos procurar ).

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