Por Tridni Valka[*]

O Passa Palavra traduziu esta intervenção devido à relevância política de voltar as atenções para o proletariado, e não para disputas entre as classes dominantes, no que diz respeito à guerra na Ucrânia e às guerras em geral. Contudo, não corroboramos com a visão de que trabalhadores e soldados sejam proletários no sentido político ou sociológico do termo, ou tenham interesses convergentes na luta de classes.

 

“Rumores de guerra ressoam ruidosamente na Europa novamente, canhões são carregados, bombardeiros são equipados com balas e bombas mortíferas, mísseis apontam suas ogivas nucleares para seus objetivos futuros.”

Estas palavras que escrevemos em 2014 não poderiam ser mais relevantes diante do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Se o capitalismo é, visceralmente, um criador de mazelas, gerando miséria, crises climáticas e de saúde, nós quase “esquecemos” que ele foi e continua sendo indubitavelmente um promotor de guerras.

Proletários em uniforme russo. Há anos vocês têm sido enviados ao redor do mundo para proteger os interesses da “Nação Russa”. Começou com a “defesa da integridade territorial da Rússia” contra os separatistas do norte do Cáucaso, depois a “proteção dos ossetianos na Geórgia”, para culminar com a “proteção dos irmãos e irmãs russos contra as hordas de [Stepan] Bandera na Ucrânia” e o “governo legítimo da Síria, contra os terroristas islâmicos”.

História semelhante foi contada a gerações de proletários, tanto “soldados” como “civis”, em todos os conflitos capitalistas anteriores em todo o mundo, a fim de fazê-los sangrar na frente militar ou nas fábricas atrás das linhas, na frente de produção, na frente doméstica… Eles lutavam pelo “Czar”, o “Socialismo”, a “Nação”, a “Democracia”, o “Lebensraum” [“espaço vital”], o “Cristianismo” ou o “Islamismo”. E o mesmo conto de fadas é contado aos proletários de uniforme dos EUA, Turquia, Reino Unido, Israel, Ucrânia, a Síria de Assad, o Daesh, Rojava, Geórgia, Donetsk e Lugansk, Irã, regiões governadas pelo Hezbollah, Hamas… e qualquer outra comunidade nacional, regional, religiosa ou outra falsa comunidade.

Proletários em uniforme ucraniano. Sua própria burguesia os faz acreditar que vocês têm uma pátria para defender do “agressor russo”, que vocês devem se juntar a seus exploradores e exigir que a Ucrânia ingresse na União Européia ou na OTAN. Mas como todos os proletários do mundo, vocês só têm a perder os grilhões da escravidão assalariada.

Proletários colaborando com o esforço de guerra. Mais uma vez, é dito a vocês que se sacrifiquem, que sejam “mais produtivos”, que sejam “mais flexíveis”, que “adiem” a satisfação de suas necessidades imediatas (mesmo ao ponto de passar fome em vez de comer a “comida do inimigo”), etc. Tudo isso para o bem maior da Nação. É dito a vocês que apoiem inquestionavelmente esta ou aquela “Guerra Santa”, que esqueçam as greves e a interrupção da produção de material de guerra, que enviem voluntariamente seus filhos, irmãos, maridos e pais para se tornarem mártires para os lucros de seus mestres burgueses.

O capital e seu Estado sempre encontraram uma maneira de transformar os proletários em bucha de canhão e deixá-los matar uns aos outros sob a bandeira desta ou daquela “Mãe Pátria”. Como se nós, o proletariado, a classe explorada, tivéssemos qualquer país a defender. Como se os “interesses nacionais” representassem algo mais do que os interesses da classe dominante. A guerra e a posterior disputa pela reconstrução não são mais do que uma forma concreta de competição entre várias facções capitalistas. É uma expressão de sua necessidade de expandir o mercado para compensar a diminuição da taxa de lucro. Ao mesmo tempo, a guerra serve para dividir nossa classe em linhas nacionais, regionais, religiosas, políticas, etc., a fim de suprimir a luta de classes e quebrar a solidariedade internacional do proletariado. Em última instância, a guerra serve para descartar a força de trabalho redundante. Ou em outras palavras, para nos massacrar.

Soldados “russos”, vocês estão destacados na Síria ou na Ucrânia para matar e ser mortos por pessoas que, como vocês e seus parentes em casa, são forçados a vender sua força de trabalho ao Capital para sobreviver, pessoas que fazem parte da mesma classe explorada que vocês, pessoas que são seus irmãos e irmãs proletários do “outro lado”. Todas essas aventuras militares, exercícios e corridas armamentistas estão começando a prejudicar a capacidade do Capital de apaziguar o proletariado com migalhas da burguesia.

O capitalismo só nos pode trazer exploração, miséria, alienação, guerra e destruição, como sempre fez. O proletariado global está na encruzilhada: erguer-se contra ele ou cair no maior moedor de carne humana da história. Em todo o mundo, conflitos militares mais ou menos abertos e impasses entre várias facções burguesas estão se exacerbando. Alianças e contra-alianças são formadas e rompidas, com uma centralização cada vez mais evidente em alguns superblocos. A Ucrânia está no centro de tudo isso e a guerra por lá ameaça escalar num conflito global, com potencial para acabar com toda a vida neste planeta.

Assim como no Irã, Iraque, Chile, Líbano, Colômbia e recentemente no Cazaquistão, a única alternativa para o proletariado na Rússia e na Ucrânia é intensificar o confronto com o Estado, atacar diretamente suas instituições e expropriar os bens e os meios de produção. Não nos limitemos a protestar nas ruas, vamos difundir e generalizar as greves e desenvolver a luta de classes no front da produção! Vamos fazer da luta dos familiares dos soldados, que no passado demonstraram reiteradamente uma forte postura antiguerra, uma luta revolucionária generalizada e derrotista[2], sem limitações de qualquer ideologia legalista!

O derrotismo revolucionário pressupõe orientar nossas ações com o objetivo de minar o moral das tropas, bem como impedir o envio de proletários para o massacre…

O derrotismo revolucionário pressupõe organizar a deserção e um cessar-fogo massivos entre proletários de uniforme nos dois lados da linha de frente, abandonar fronts distantes e fazer a guerra não entre proletários, mas entre classes, ou seja, uma guerra de classes que chegue às superpotências…

O derrotismo revolucionário pressupõe incentivar a fraternidade, motins, voltar as armas contra os organizadores da carnificina, ou seja, “nossa” burguesia e seus lacaios…

O derrotismo revolucionário pressupõe a ação mais determinada e ofensiva para transformar a guerra imperialista em guerra revolucionária para a abolição desta sociedade de classes baseada na fome e na guerra, uma guerra revolucionária em direção ao comunismo…

Vocês, “soldados russos” e “soldados ucranianos”, proletários dos exércitos da burguesia russa e ucraniana, não têm outra alternativa (se querem viver em vez de continuar sobrevivendo, se não forem abatidos nos próximos campos de horror!) senão recusarem-se a servir uma vez mais como capangas globais de interesses que não são os seus!

Assim como muitos de seus antecessores na guerra da Tchetchênia, vamos quebrar as fileiras e não lutar mais! Assim como os soldados do “Exército Vermelho” no Afeganistão ou os soldados americanos no Vietnã, você pode atirar ou estilhaçar seus próprios oficiais! Assim como os proletários com ou sem uniforme na Primeira Guerra Mundial, vamos amotinar e levantar-nos juntos e transformar a guerra capitalista global em guerra civil para a revolução comunista!

É claro que não queremos nos limitar a nos dirigir apenas aos proletários com uniformes russos ou ucranianos, mas também aos irmãos e irmãs de classe em dificuldades por todo o mundo, incentivando-os a seguir e desenvolver os exemplos de derrotismo revolucionário já existentes, como por exemplo os de soldados no Irã que expressaram sua recusa em serem usados na repressão contra movimentos de classe em 2018, ou de policiais e milicianos no Iraque que fizeram o mesmo por meses durante os motins que envolveram metade do país de Basra até Bagdá, ou da polícia e dos militares no Cazaquistão, no início desse ano, que se recusaram a suprimir a revolta proletária, forçando a guarda russa a intervir para restaurar a ordem capitalista…

Proletários com e sem uniforme, vamos nos organizar contra o sistema capitalista de exploração do trabalho humano, que está na raiz de toda a miséria, de toda opressão do Estado e de todas as guerras!

Proletários, nunca se esqueçam que foram nossos irmãos e irmãs de classe que pararam a 1ª Guerra Mundial, fazendo deserções massivas, rebeliões coletivas e a revolução social!!!

Abaixo os exploradores! De Moscou a Teerã, de Washington a Kiev, para o mundo inteiro!

Contra o nacionalismo, o sectarismo, o militarismo, nos colocamos pela solidariedade proletária internacional e internacionalista!

Transformemos esta guerra numa luta de classes pela revolução comunista global!

[*] Tridni Valka é uma organização comunista libertária da República Tcheca.

Notas da tradução

[1] Derrotismo não é, no caso dessa tradução, o ato de fazer-se sentir derrotado, mas de ativamente provocar a derrota militar de modo que a luta entre países se converta em uma luta entre classes. Optamos por manter o termo por entendermos que o texto faz uso proposital dessa ambiguidade.

Esta é uma tradução do Passa Palavra do original em inglês. Para ver o original e/ou as versões em russo e francês acesse aqui.

As obras reproduzidas no artigo são de Kazimir Malevich (1879 – 1935)

52 COMENTÁRIOS

  1. É simplesmente inacreditável a facilidade com que uma parte substancial do que hoje se entende como esquerda abraça a narrativa de um imperialismo pretensamente contrahegemônico. Poucas vezes uma guerra é tão explicitamente ofensiva quanto essa. E fazem isso em nome de Marx e dos proletários. Não sei. Me parece que isso mostra como os proletários, quando são evocados por esse pessoal, tem apenas a função de serem peões no jogo geopolítico internacional. Se trata de mobiliza-los para que defendam os interesses do capitalismo periférico. Nenhuma palavra sobre o capitalismo (e seu produto último, as guerras), sobre a exploração, sobre o militarismo, sobre os custos humanos e econômicos de tudo isso. E tudo isso sustentado pela riqueza produzida pelos trabalhadores, e que lhes é espoliado. Enfim… Temos a esquerda que acha razoável que os proletários de dois países se matem para defenderem suas respectivas nações e classes dominantes. E não são poucos.

  2. Na esteira do ulisses, sugiro mais dois a conferir:

    https://criticadesapiedada.com.br/2022/02/28/a-redivisao-do-mundo-capitalista-comecou-parte-i-pantopolis/

    http://barbaria.net/2022/02/25/ucrania-russia-e-a-importancia-das-perguntas/

    Fiquei espantou a rapidez com que surgiram posições na esquerda a favor do Putin (anti-imperialismo) mas também a favor da Ucrânia (autodeterminação) e até da Otan/EUA/UE (defesa dos direitos/ordem internacional). Daqui a pouco tem gente votando créditos de guerra

  3. Segundo o New York Times, «As antiwar protests continued across Russia, the police detained at least 411 people in 13 cities on Monday, an activist group said. The group, OVD-Info, said there had been at least 6,435 detentions in Russia since the invasion of Ukraine on Feb. 24.» («Enquanto continuam por toda a Rússia os protestos contra a guerra, na segunda-feira a polícia deteve pelo menos 411 pessoas em treze cidades, segundo um grupo de activistas. Este grupo, OVD-Info, disse que na Rússia houve pelo menos 6.435 pessoas detidas desde a invasão da Ucrânia em 24 de Fevereiro.»)

    Contrariamente àquela esquerda, ou dita “esquerda”, que trocou a luta social pela geopolítica, numa guerra a nossa solidariedade deve dirigir-se àqueles que se erguem contra a guerra. Eram 6.435 ontem, quantos serão hoje? E amanhã? É com os 6.435 e com todos os que se lhes somarem que devemos estar solidários.

  4. João,
    Nesse sentido você acha que as vigílias e protestos convocados por toda a Europa (e também aqui no Brasil) a favor ou em defesa da Ucrânia, podem se tornar mais um ponto de contato entre essa esquerda “geopolítica” e certa extrema-direita?

  5. Não é só que podem tornar-se, como escreve Pedro Seeger. É que em boa medida já se tornaram, e de ambos os lados.

    A invasão russa está a ser defendida pelos Partidos Comunistas e por governos e forças políticas considerados de esquerda, contando ao mesmo tempo com o silêncio ambíguo, se não mesmo com a aprovação, de organizações fascistas ou da extrema-direita. Não espanta. Putin tem subsidiado ambas estas vertentes e, aliás, o fascismo é uma das componentes determinantes do actual regime russo. Sobre este assunto remeto para o Labirintos do Fascismo e, enquanto não estiver disponível uma 4ª versão em papel, que deve ser publicada muito brevemente, indico as págs. 1358 e segs. da 3ª versão.

    Mas do lado ucraniano a componente fascista não é menos notável. Numa declaração muito recente Putin classificou o governo de Kiev como «neonazi», o que deixou perplexa muita gente. Ele referia-se, evidentemente, aos seguidores de Stepan Bandera, um nome que por estas bandas todos ou quase todos ignoram, mas que é familiar na Ucrânia. Uma vez mais remeto para a 3ª versão do Labirintos, págs. 924-925, nota 323, onde vem indicada bibliografia. Aquando da ocupação da Ucrânia pelas tropas do Terceiro Reich, o problema residia no facto de os ucranianos serem eslavos, tal como os russos, e, portanto, serem considerados sub-homens, incapazes de coesão e desprovidos de sentido de Estado. Só entre os originários da Galícia é que os SS procederam a recrutamentos e, mesmo assim, com uma grande selecção (ver as págs. 935-936, notas 398-399 e 409, com a respectiva bibliografia).

    Aliás, é curioso observar que de um e outro lado das linhas de frente no Donetsk e no Luhansk, quando se iniciou o movimento separatista, o papel mais activo coube aos fascistas pró-russos e aos fascistas pró-ucranianos. Isto só pode parecer estranho a quem ignorar a história do fascismo, e basta aqui recordar que o chanceler austríaco Dollfuss, fascista aliado de Mussolini, foi assassinado por nacionais-socialistas pertencentes ao partido de Hitler, o mesmo Hitler que enviaria para um campo de concentração o chanceler Schuschnigg, fascista continuador de Dollfuss, aquando da anexação da Áustria pelo Terceiro Reich. Deparamos com os mesmos labirintos na invasão da Ucrânia pela Rússia. E quem quiser acrescentar uma nova circunvolução, pode recordar que o presidente da Bielo-Rússia, Alexandr Lukachenka, o mais próximo aliado de Putin, expressou publicamente, em 1995, a sua admiração por Hitler.

    O comentário de Paulo Henrique dá indicações neste sentido, para que possamos ver os desdobramentos actuais do labirinto.

    Fora do labirinto estão aqueles milhares de russos que na Rússia se opõem à guerra e o meio milhão de ucranianos (números de ontem, amanhã serão muitos mais) que votaram com os pés e que em condições dificílimas conseguiram sair do país e encontrar refúgio na União Europeia.

  6. O que mais essa invasão bárbara nos mostra (desculpa ao bárbaros), através das mídias sociais e declarações de gente “progressista” é que, depois do pobre de direita, que pensa que é capitalista, temos agora o esquerdista de palácio, que pensa que é czar, rei ou chefe de Estado.

    Para ser esquerdista de palácio tem que operar a desumanização das pessoas, dos trabalhadores que tem seus lares e vidas destruídas pelas bombas.

    E só não enxerga quem não quer que essa desumanização não têm no bolsonarismo sua única expressão, atravessa a esquerda também, e tem no neostalinismo sua expressão mais evidente.

    A barbárie não só venceu o socialismo como tem transformado os próprios socialistas em bárbaros.

    Aqui, um bom texto de um socialista ucraniano que está pegando em armas contra o exército invasor: https://jornalggn.com.br/crise/uma-carta-a-esquerda-ocidental-de-kiev-por-taras-bilous/?fbclid=IwAR3C15X_JdLSv7Q4E5WfC7qjEj-Y7nlKo1z1gAdNe7ARRQHezkraF37w_Vw

  7. Vejam mais essas duas notícias:

    https://amanajeanarquista.blogspot.com/2022/02/nenhuma-guerra-senao-guerra-de-classes.html mais atual, sobre o posicionamento de grupos anarquistas

    https://nigrakorodistro.com/guerra-e-anarquistas-perspectivas-anti-autoritarias-na-ucrania/?mc_cid=d1d9ecb7a8&mc_eid=36627f26d8 uma contextualizada desde o Maidan sobre os posicionamentos de grupos de esquerda

    O que me chamou a atenção, a luz do que já foi dito, é que combatentes voluntários, seja individualmente ou em pequenos grupos, se integraram nas forças voluntárias ucranianas, algumas vezes ao lado ou mesmo dentro de organizações da extrema-direita. E agora, frente a invasão russa, o mesmo se repete enquanto voluntários nos grupos de civis para defesa. No primeiro caso, o artigo menciona o fato de a extrema-direita estar melhor organizada e ser inclusive capaz de repelir ataques policiais, o que lhe garantiu um papel proeminente nos protestos (e depois), já no caso mais recente é a necessidade de fazer frente a invasão territorial. Muita coisa pode ainda sair desse labirinto… Combatentes, experientes ou não, estão se deslocando para a Ucrânia, desde grupos paramilitares neonazistas a ex-combatentes de Rojava, segundo divulgações nas redes sociais.
    Por outro lado, a decisão do governo ucraniano de armar civis e inclusive libertar prisioneiros pode aumentar a tensão. O rescaldo do conflito pode ser inúmeros senhores da guerra se espalhando pelo país

  8. O Botão do Fim do Mundo já estava ligado, nós é que havíamos selecionando o canal errado pra ver o que está passando.

  9. João Bernardo,

    Se não me falha a memória, em algum comentário seu em algum artigo no Passa Palavra tempos atrás, você escreveu que Putin era o maior fomentador da extrema-direita na Europa, ou algo assim.
    Se minha memória não está falha, você poderia explicar novamente aqui e/ou colocar as fontes para essas articulações que Putin realiza com partidos e organizações de extrema-direita na Europa?

  10. Leo,

    A sua memória não lhe falha, não. Quanto a fontes, porém, é-me impossível aqui citá-las de maneira concisa, porque não conheço nenhum livro que trate do assunto. Você terá de usar os mecanismos de busca de bons jornais e procurar referências cruzadas, por exemplo, a Putin e Marine Le Pen ou Putin e Matteo Salvini, sobretudo estes. De igual modo, é fácil documentar as estreitas relações de Putin com Viktor Orbán. Dos políticos que navegam entre a extrema-direita e o fascismo, são estes os mais importantes na Europa.

    Mas o retrato fica manco se não lhe acrescentarmos a outra perna, que são as estreitas relações que a extrema-esquerda europeia tece com Putin. O Partido Comunista Português é um caso exemplar, já que na actual invasão da Ucrânia tomou uma posição pública favorável a Putin e os seus deputados no Parlamento Europeu votaram contra a moção de apoio à Ucrânia. Já há alguns anos os deputados deste Partido haviam votado contra a moção do Parlamento Europeu crítica às medidas francamente reaccionárias que Orbán está a impor na Hungria. Mas o Partido Comunista Português não é um caso único na Europa, e mais uma vez lhe será necessário usar os mecanismos de busca. A colheita será abundante.

    Esta actuação de duas faces, apoiando por um lado a extrema-direita e os fascistas e, por outro lado, apoiando os comunistas, explica-se por um dos principais objectivos estratégicos de Putin, que é o de minar por dentro a União Europeia. Mas compreende-se também quando vemos que no meio político que rodeia Putin convergem tanto o antigo comunismo como o fascismo clássico. O melhor exemplo é o do Partido Comunista da Federação Russa, o segundo maior desse país. Remeto-o para as págs. 1359-1361 da 3ª versão do Labirintos do Fascismo, com as respectivas referências bibliográficas. O mesmo meio sofre a influência de Aleksandr Dugin, cuja ideologia se gerou na área do fascismo esotérico, quase um meta-fascismo. Então, estas duas faces da estratégia de Putin não se devem só a um oportunismo político, mas igualmente à estrutura do meio ideológico em que ele se apoia. Note que o Partido Comunista da Federação Russa está na origem imediata da actual guerra, porque foi ele que apresentou no parlamento a proposta de reconhecimento da independência de Donetsk e de Luhansk.

    Aliás, não seria necessário você atravessar o mar, porque aí mesmo tem uma certa esquerda (ponha-lhe aspas ou tire-as, já nem sei) a apoiar a invasão russa da Ucrânia ao mesmo tempo que o presidente Bolsonaro visita Putin praticamente no auge da crise, sem esquecermos a influência exercida por Dugin sobre uma vertente dos fascistas brasileiros.

  11. Essa certa esquerda brasileira, a esquerda da bala tupiniquim, é a galerinha do “golpe de 2016”, que dizem que a Lava Jato afundou o Brasil e as jornadas de 2013 foi organizado pela CIA, Guerra Híbrida pra cá, atlantistas pra lá, quinta coluna acolá… Dilma Rousseff, Brasil 247, TVT, PCO. Para o chefe do PCO o nazismo hoje é organizado pelos judeus. E na órbita desse bloco hegemônico de “esquerda” uma extrema esquerda nonsense garganteira.

  12. Segundo a versão de parte dos nossos lúcidos revolucionários brasileiros, que vão de anarquistas a stalinistas (cujos discursos parecerem com propaganda russa é ou não mera coincidência), a maior usina nuclear da Ucrânia acaba de ser bombardeada pela Otan, ou por culpa dela.
    Segundo eles, correr o risco de catástrofe nuclear é ok pra “desnazificar” um país, isto é, matar milícias neonazis junto com os socialistas e a população (sim, eles acreditam que a Rússia invadiu a Ucrânia e coloca sua própria economia em risco pelo bem do antifascismo).

    E o que poderia e pode acontecer com usinas nucleares foi bola cantada essa semana pelo professor da UFABC Giorgio Romano Schutte.
    Se depender da capacidade de raciocínio, leitura da realidade e capacidade de solidariedade com os oprimidos de boa parte da esquerda brasileira, estaríamos num mundo muito pior do que estamos hoje.

    Segue uma fala lúcida de Yanis Varoufakis, Ministro das Finanças no governo grego do partido Syriza e que hoje é deputado. Infelizmente o que ele diz em tempos normais, em que a ascensão fascista não draga para dentro de seu redemoinho os socialistas, seria lugar comum na esquerda.

    Yanis Varoufakis

    Num momento na história em que um povo é invadido por um exército de ocupação, quando seus lares são violados, quando seus bairros são bombardeados, quando jovens e velhos que nunca tocaram em uma arma pegam em armas para defender sua terra, nesse momento temos que simplesmente inclinar nossas cabeças a essas pessoas para apoiá-las, para fazer tudo a nosso alcance para empoderá-las, independentemente se são ucranianos, palestinos, curdos, iraquianos, rebeldes polisários do Saara ocidental.
    Diferente da mídia do sistema, que chama de terrorista uma mulher palestina que pega uma pedra para jogar nas forças israelenses prestes a demolir sua casa; tratamos ela assim como uma mulher em Kiev que junta vários coquetéis molotov, como lutadoras pela liberdade. Não fazemos nenhuma distinção entre elas.
    Agora, sejamos claros sobre o Sr. Putin. Ele escolheu a guerra. A guerra não foi imposta a ele. Não foram os ucranianos, não foi Washington, não foi a Otan, não foi algum deus. Foi escolha dele e ele será condenado nos anais da história por essa barbárie.
    A escolha da guerra é um crime em si próprio. Se ele de fato cometeu crimes de guerra, de acordo com a definição formal das Convenções de Genebra, é algo que será visto depois. Mas no que me diz respeito, ele é um criminoso de guerra de qualquer forma. E tenho dito isso desde o início dos anos 2000, por causa dos crimes contra a humanidade que Putin pessoalmente instigou de modo a se tornar o primeiro presidente da Rússia a reivindicar território de volta. Isso ocorreu na Chechênia, onde ele arrasou completamente Grozny, matando 250 mil pessoas sob falsas alegações com o objetivo de consolidar seus poder. Esse é o tipo de homem que estamos falando. Não se trata de algo novo para mim, tenho dito isso desde 2001. Eu me arrepio de pensar o que ele fará com Kiev se a resistência continuar. Eu quero que a resistência continue, eu quero que a resistência vença, mas me arrepio de pensar que ele possa tentar em Kiev o que ele fez em Grozny.
    Eu me arrepio de pensar no que ele está fazendo nesse momento a nossos companheiros russos nas prisões em toda a Rússia por terem se manifestado contra seu regime perverso. Lembro alguns anos atrás quando estive em Edimburgo, na Escócia, com Maria Alyokhina da Pussy Riot, ouvindo em detalhes as terríveis torturas que ela sofreu nas prisões da Sibéria.

    1 de março de 2022

  13. Mas não é verdade que há apenas seis meses houve toda uma esquerda que saudou como uma grande vitória da libertação dos povos a entrada dos talibans em Kabul? Então é lógico que essa mesma esquerda saúde Putin como um libertador, tanto mais que ele até deixa as mulheres andarem de cabeça ao léu. O paradoxo aqui é que os libertadores costumam ser vitoriados pelas populações que libertam, e na Ucrânia sucede exactamente o contrário. Segundo a ONU, em pouco mais de uma semana já mais de um milhão de ucranianos fugiram para a União Europeia, entre os quais, segundo a Unicef, mais de meio milhão de crianças. Quantos serão ao fim do dia de hoje? E amanhã? E nos dias seguintes? Está bem, eu não quero ser mesquinho na argumentação, admito que todos aqueles adultos, e as crianças também, sejam neo-nazis fugindo ao exército libertador. Mas este seria um perigo grave, porque significa que a União Europeia estaria a importar diariamente centenas de milhares de neo-nazis. E os paradoxos não param, senão vejamos. Em 2019 os ucranianos eram a quarta maior comunidade imigrante em Portugal, e nos últimos dias o governo, numerosos municípios e várias organizações não governamentais têm estado a tomar medidas para acolher os refugiados, já que tradicionalmente os imigrantes buscam países onde já existam comunidades com a mesma origem. Ora, o Partido Comunista Português, que tem repetidamente manifestado o seu apoio à luta de Putin para libertar a Ucrânia dos neo-nazis, ainda não se mobilizou contra esta gravíssima ameaça para a democracia portuguesa, que é a de acolher uma catadupa de neo-nazis, todos de uma assentada. Resta-nos esperar que a esquerda putinesca desperte para mais este perigo.

  14. A esquerda kardecista-stalinista, que considera Putin uma reencarnação de Stalin, andava cabisbaixa por não ter conseguido colocar seu bloco de carnaval na rua, os Filhos de Putin. Agora devem estar contentes com as novas peripécias de seu herói mítico…

  15. SitRel #1

    1. A respeito da Guerra na Ucrânia, assim como em relação ao sistema de vacinação contra a COVID, o PassaPalavra se encontra perdido, vagando em seu próprio labirinto de almas vencidas, noites perdidas e sombras bizarras.

    2. Eventos como a pandemia e a guerra não permitem abordagem binária, devendo ser analisados sob o prisma de sua complexidade tanto de causas como de consequências.

    3. Putin é um nacionalista conservador de Direita, com forte viés fascista – como tende a ocorrer com lideranças com as características mencionadas.

    4. Qualquer Estado-Nação na atual situação enfrentada pela Rússia seria inevitavelmente obrigado à opção militar, tanto por todas as demais alternativas terem se esgotado como para garantir sua imediata sobrevivência.

    5. Este não é um conflito localizado entre Rússia e Ucrânia, e sim uma guerra entre potências capitalistas imperialistas, disputado a hegemonia global para definir uma nova configuração geopolítica.

    6. O atual cenário mundial consiste num mix entre os períodos imediatamente anteriores à I Guerra (com fronteiras obsoletas de impérios decadentes) quanto à II Guerra (crise econômica não superada de 1929 e ascensão do Fascismo).

    7. Em tal contexto devemos recorrer à experiência passada e ao conhecimento então gerado:

    《No caso da guerra estourar, temos o dever de forçar para a fazer cessar prontamente. E de utilizar, com todas nossas forças, da crise econômica e política criada pela guerra para agitar as camadas populares, as mais profundas, e precipitar a queda da dominação capitalista”.》
    II Internacional – Resolução de Stuttgart, 1907

    «A burguesia de todas as grandes potências imperialistas, da Inglaterra, França, Alemanha, Áustria, Rússia, Itália, Japão e Estados Unidos, tornou-se tão reacionária e tão penetrada da aspiração ao domínio mundial, que toda guerra por parte da burguesia destes países só pode ser reacionária.
    O proletariado deve ser não só contra toda guerra deste tipo, mas também deve desejar a derrota do ‘seu’ governo em tais guerras e aproveitá-la para uma insurreição revolucionária.»
    Lênin – 1916
    https://www.marxists.org/portugues/lenin/1916/09/programa.htm

    8. Do ponto de vista estritamente militar, as operações russas na Ucrânia devem ser compreendidas dob o conceito de “Batalha Profunda”, criado pelos soviéticos após a Revolução de Outubro e ainda hoje adotado pela Rússia.

    9. As operações em profundidade, também conhecidas como Batalha Profunda Soviética, é um princípio militar que enfatiza destruir, suprimir ou desorganizar as forças inimigas não só na linha de contato, mas em toda a profundidade do campo de batalha. 

    10. Consiste em sitiar o inimigo em múltiplos bolsões de cerco, em vez de destruí-lo imediatamente. Foi como o Exército Vermelho agiu em Stalingrado, e depois na ofensiva em direção a Berlim, na II Guerra.

    11. As sanções econômicas contra a Rússia são o colapso final da ordem mundial estabelecida em Bretton Woods, conferência realizada em 1944 quando a derrota nazista se mostrou inelutável.

    12. As sanções tendem a ser pouco eficazes e se tornarem um tiro pela culatra, pois transformam (não mais dissimuladamente) em armas de guerra o Dólar não conversível como padrão monetário, e as instituições criadas em Bretton Woods (FMI,BIRD, OMC/GATT).

    13. A impossibilidade dos EUA darem uma resposta militar à Rússia revela sua incapacidade de se manter como Hegemon.

    Epitáfio:

    O mundo em que vivemos já está morto: é um zumbi nos arrastando para o inferno da extinção, seja pelo armagedon nuclear ou por um apocalipse climático.

    Este mundo precisa ser destruído para que outros mundos possam nascer: mundos onde caibam muitos mundos.

    A destruição deste mundo só pode ser feita pela força, inclusive pela via militar, mas isto não pode acarretar a destruição das condições de vida no planeta.

    Nenhuma potência capitalista imperialista é capaz de cumprir esta agenda, tampouco o frágil, inconsistente e disperso atual movimento revolucionário comunista.

    Eis a questão…

  16. Enquanto mais de um milhão de ucranianos fugiam das forças armadas russas que invadiram o seu país, mais de um milhão de russos assinavam uma petição contra a guerra. Desde o começo da invasão da Ucrânia tem havido manifestações de repúdio em numerosas cidades russas e a polícia já deteve cerca de sete mil manifestantes. Hoje o parlamento russo aprovou — note-se que sem debate prévio e por unanimidade — uma proposta de lei que estipula penas até ao máximo de quinze anos de prisão para quem divulgar notícias e opiniões, consideradas falsas, acerca das forças armadas. É perante estas acções convergentes, de um e outro lado, que nós devemos avaliar quem é e quem não é a esquerda.

  17. arkx Brasil,

    “Qualquer Estado-Nação na atual situação enfrentada pela Rússia seria inevitavelmente obrigado à opção militar, tanto por todas as demais alternativas terem se esgotado como para garantir sua imediata sobrevivência.”

    O Putin agradece seu comentário, afinal, segundo você, ele não teve escolha. Foi levado a isso por forças externas. O que não é verdade. Ele fez escolhas, e escolhas a partir de valores e ideologia. Você que acompanha o Passa Palavra já deve ter se deparado com artigos sobre Dugin e a ideologia de Putin, por exemplo. É impossível explicar a ação de Putin satisfatoriamente sem se reportar a seu horizonte político, a seus objetivos ideológicos e imperialistas.
    Você já deve ter ouvido falar na Chechênia, na Georgia… Todas ações inevitáveis pelo jeito. Coitado do Putin, sentado nessa cadeira sendo escravo das forças da história.

    Vendo tantos brasileiros de esquerda dizendo coisas parecidos, não tenho dúvida que encontrariam justificativa para a invasão da Polônia por Hitler ser inevitável.

  18. Leo V,

    Seu exemplo sobre a invasão da Polônia por Hitler não se aplica a situação atual entre Rússia e Ucrânia, por motivos óbvios que não caberia sequer mencionar.

    Entre eles:

    – a Polônia não representava nenhum perigo militar para a Alemanha, enquanto a Ucrânia sim. Não só por sua participação informal na OTAN, como pela viabilidade de seu território ser usado como plataforma de armas nucleares e biológicas.

    – não havia na fronteira entre Alemanha e Polônia um território reivindicando autonomia, como o Donbass, e há anos sob constante ataque dos Ukro-Nazis.

    Cabe lhe indagar: quais opções restaram a Putin? Caso a Rússia fosse uma federação comunista, como deveria agir?

    Esta guerra é um evento complexo, reduzí-la a uma abordagem binária, além de inútil, beira o ridículo.

    O PassaPalavra pode fazer muito melhor do que isto. Estamos num cenário perigoso e volátil. De um jeito ou de outro, todas as bolhas irão estourar. Será uma dura aterrisagem na verdade dos fatos.

    Trata-se exatamente da mesma situação quanto ao sistema de vacinação orientado a mercado.

    Tentei inutilmente aqui expor um abordagem no sentido de abrir a questão. Minha argumentação principal foi inclusive recentemente referendada pela própria OMS.

    Em 11/01/2022, a OMS urgiu à indústria farmacêutica a desenvolver vacinas específicas para cepas, visto que a variante Ômicron tornou as atuais vacinas contra COVID-19 quase redundantes.

    《A estratégia de vacinação baseada em repetidas doses de reforço da composição original da vacina é improvável que seja apropriada ou sustentável.》

    https://www.who.int/news/item/11-01-2022-interim-statement-on-covid-19-vaccines-in-the-context-of-the-circulation-of-the-omicron-sars-cov-2-variant-from-the-who-technical-advisory-group-on-covid-19-vaccine-composition

  19. Leo,

    Prolongando o seu último comentário, com o qual concordo inteiramente, a principal justificação que Hitler apresentou para conduzir o Partido Nacional-Socialista e para iniciar a guerra foi a necessidade de lutar contra a situação ignominiosa imposta à Alemanha pelo Tratado de Versailles. E a anexação da Áustria pelo Terceiro Reich foi explicada pela necessidade de corrigir a grande injustiça do Tratado de Saint-Germain. Por seu lado, os fascistas húngaros reclamavam das espoliações sofridas em virtude do Tratado do Petit Trianon. Do mesmo modo, a justificação invocada por Mussolini para o movimento fascista foi o facto de a Entente ter marginalizado a Itália naqueles três tratados. Finalmente, a convergência do Partido Comunista Alemão com o Partido Nacional-Socialista, que levaria a um resultado desastroso nos últimos dias de Janeiro de 1933, foi precisamente a necessidade de lutar contra o Tratado de Versailles. A hostilidade à República de Weimar e à social-democracia, que constituía o seu principal esteio e procurava singrar dentro dos limites impostos em Versailles, servia aos comunistas alemães para legitimar a sua aproximação aos nacionais-socialistas. Tratava-se, na terminologia que todos os fascistas empregavam, da luta das «nações proletárias» contra as «nações plutocráticas». Ora, são exactamente estes argumentos, estas concepções e estas práticas que encontramos hoje naquela esquerda que, despudorada ou veladamente, defende Putin e a invasão da Ucrânia.

    Não existe fascismo sem uma extrema-esquerda convergente com uma extrema-direita. É o que sucede agora, perante os nossos olhos.

  20. Como muito bem deveríamos saber, ainda mais num site com um consagrado pesquisador sobre o tema:

    • o Fascismo é forma mais crua, descarada, opressiva e traiçoeira do Capitalismo.

    Não se pode combater o fascismo sem também combater frontalmente o Capitalismo.

    Uma das mais fortes características do Fascismo é a interdição do contraditório, com a supressão de toda e qualquer oposição – inclusive pela eliminação física.

    O Fascismo extirpa da realidade sua complexidade, reduzindo toda e qualquer questão a um: “ou se está incondicionalmente comigo, ou se está contra mim”.

    Além disto, o Fascismo é também um modo de vida, portanto permeia microscopicamente o cotidiano.

    Basta uma não muito minuciosa consulta nas áreas de comentário do PassaPalavra, aos longo dos anos em diversas postagens, para constatar como abundam os exemplos de posturas claramente fascistas na condução dos debates.

    Isto sim é um retumbante exemplo de convergência de extremos, entre a Esquerda e a Direita.

  21. arkx Brasil,

    Quando havia o troll comentando em outro artigo querendo te rotular de antivaxx eu fiz um comentário dizendo que o Passa Palavra não deveria permitir aquele tipo de comentário, que apenas rotulava para tentar eliminar alguém do debate.

    Esse não é o caso aqui. Não há “fascismo” nenhum aqui. Há argumentos de fatos.

    E continuo:

    “a Polônia não representava nenhum perigo militar para a Alemanha, enquanto a Ucrânia sim. Não só por sua participação informal na OTAN, como pela viabilidade de seu território ser usado como plataforma de armas nucleares e biológicas.”

    Desculpa dizer isso, mas novamente você reproduz propaganda russa pra legitimar a invasão. A Rússia já tem fronteira com uma série de países da Otan, inclusive com a Polônia. Ou seja, é uma questão lógica que se esse fosse o problema a invasão da Ucrânia não resolveria. Segundo, mesmo que você não tenha lido os artigos sobre A Russia de Putin e sobre Dugin no Passa Palavra, deve ter ouvido o Putin dizer o que ele pensa da Ucrânia… basicamente que ela não deveria existir e ser parte da Rússia. Impressiona que você e outras pessoas que se colocam na esquerda simplesmente fazem de conta que não ouviram isso. Ele sequer fez questão de esconder o motivo de fundo, ideológico, que o fez invadir a Ucrânia.

    Sobre Donbass, se a questão fosse essa simplesmente, ele colocaria o exército dele lá, e tão somente lá, e evitaria provavelmente grande parte das sanções e reações contra ele.

    Enfim, o que eu vejo entre a “esquerda” que justifica Putin é uma série de pseudo argumentos que não passariam num teste de lógica. No fundo é propaganda de guerra reproduzida.

  22. “Essa Europa, numa cegueira incurável sempre a ponto de apunhalar-se a si mesma, se encontra hoje entre duas grandes tenazes, com a Rússia de um lado e a América de outro. Rússia e América, consideradas metafisicamente, são ambas a mesma coisa: a mesma fúria sem consolo da técnica desenfreada e da organização sem fundamento do homem normal. (…) Estamos entre tenazes. A Alemanha, estando no meio, suporta a maior pressão das tenazes. É o povo que tem mais vizinhos e, desse modo, o mais ameaçado, mas, em tudo isso, é o povo metafísico”.

    “Esses dois homens, Hitler e Mussolini, que introduziram, cada um de maneiras essencialmente diferentes, um contramovimento ao niilismo, aprenderam com Nietzsche. O reino metafísico de Nietzsche ainda não foi, no entanto, realizado.”

    Pergunta Jaspers: “Como você pode pensar que um homem tão inculto quanto Hitler pode governar a Alemanha?” Responde o filósofo: “Não é uma questão de cultura. Dê uma olhada em suas mãos maravilhosas!”

    “O verdadeiro e, em cada caso único, o Führer em seu ser, de fato, aponta para o reino dos semideuses. Ser um Führer — um líder — é um destino e, portanto, um ser finito”.

    Estas são apenas algumas citações, entre tantas outras, incontáveis, de Heidegger, escritas em diferentes obras, no auge de seu nazismo e que jamais o abandonaria. Heidegger que é um dos alicerces do Pós-Estruturalismo, campo teórico que nutre a “esquerda” identitária. O mesmo Heidegger que é a principal referência filosófica de Dugin e sua “Quarta Teoria”, o “guru” de Putin. O mesmo Putin que se vê entre as “tenazes” da OTAN e dos EUA. Eis o lodaçal em que amplos setores da esquerda estão se enfiando…

  23. Leo V,

    Um segunda pergunta (apesar de vc nao não ter respondido a primeira):

    👉🏼 Quando vc se posiciona contra Putin isto lhe torna automaticamente um aliado dos EUA/OTAN?

    Minha própria opinião quanto a isto se expressa nos pontos 5, 6 e 7 de meu comentário inicial.

    Uma análise crítica do sistema de vacinação orientado a mercado não é, necessariamente, uma posição anti-vaxx.

    Principalmente quando a própria OMS caracteriza a atual estratégia de vacinação como inapropriada e insustentável.

    Do mesmo modo, reconhecer que à Rússia (ou qualquer outro Estado-Nação soberano na situação dela) restou apenas a opção militar, não implica num apoio (mesmo velado) a Putin.

    É apenas não negar a obviedade dos fatos: o expansionismo imperialista, via OTAN, atingiu a fronteira da Rússia numa situação estratégica que exige sua reação.

    Não há diferença alguma com a Crise dos Mísseis em Cuba, 1962, pois os EUA (ou qualquer outro Estado-Nação soberano) não poderia admitir tal ameaça tão perto de sua fronteira.

    Compreender que então não havia aos EUA outra alternativa senão se opor pela via militar, não implica automaticamente em apoiá-lo como potência imperialista.

    Aos que sempre vêem o fascismo como onipresente (exceto em si mesmos, é claro) cabe não dissociá-lo do Capitalismo, portanto da potência imperialista hegemônica contemporânea: os EUA.

    Contudo, nesse debate há uma importante questão de fundo: a guerra.

    Não se pode ser contra ou a favor de uma guerra, abstratamente. Uma guerra é um evento concreto, com causas complexas e sujeito a determinações históricas.

    Nenhum processo de emancipação de classe e de povos pode ser levado a cabo sem guerras, porque as potências imperialistas jamais permitiriam.

    O mais forte exemplo histórico é a Rússia em 1917, da Revolução à Guerra Civil – com intervenção de todas as potências imperialistas da época.

    Se a Rússia de então não tivesse travado e vencido a guerra, teria sido sujeitada a uma situação de colônia.

    Sob o manto imaculado do pacifismo, se abrigam e se justificam as mais abjetas opressões e explorações.

    Sempre foi em nome do pacifismo que se fechou os olhos, e se virou as costas, para repugnantes campanhas de extermínio.

    O pacifismo sangra por todos os poros, e quase sempre o sangue alheio.

  24. As repúblicas bálticas já fazem parte da OTAN. arkx Brasil sabe disso. Argumenta com base na escola realista de relações internacionais, mas silencia sobre este fato básico: a OTAN já está na fronteira russa há bastante tempo, muito antes da invasão da Ucrânia. Além disso leu o comentário de Leo V e faz que não leu. Além de antivax, arkx Brasil é pró-Putin.

  25. Mais de 8.200 pessoas detidas na Rússia por protestarem contra a guerra. É este o concreto. São eles (e quem os apoia) a esquerda.

  26. Reproduzir discurso sem lógica e metafísico que justifica e legitima a invasão não é apoio velado a Putin, é apoio aberto. E não importa quanto se diga que não se apoia Putin. Para ele basta a reprodução da sua propaganda de guerra.

    Quando o fenômeno do bolsonarismo surgiu no Brasil, vimos com muito desgosto familiares, colegas de trabalho, pessoas comuns embarcarem nesse neofascismo. Muita gente que teve possibilidade de estudar e ter uma compreensão mais ampla do mundo a sua volta. Respiramos fundo e inevitavelmente para tentar reconstruir as lutas da classe trabalhadora tivemos que l abstrair as preferências eleitorais de cada trabalhador (aliás, como deve ser sempre).

    Principalmente com essa invasão da Ucrânia por Putin, mas não só, agora vermos uma grande parte da esquerda, de militantes, de pessoas que deveriam ter discernimento político por obrigação, embarcarem igualmente no neofascismo. E pelas mesmas vias da irracionalidade, de busca de um pai forte que vai nos defender dos nossos medo (do fantasma em abstrato do “nazismo” como Bolsonaro nos defende do “comunismo”), de busca da potência perdida através das armas (o discurso que circula na esquerda em favor de Putin é bastante revelador disso, inclusive com imagens… “a maior potência militar do mundo” como uma espécie de exibição ou legitimação, imagens comparando o tamanho dos falos das explosões atômicas, mostrando a da Russia muito maior que todas as outras).

    Quando se trata de pessoas que teriam por obrigação serem mais racionais politicamente e manterem princípios básicos que distinguem alguém de esquerda ou socialista, quando são essas pessoas que do conforto da sua casa escrevem ou falam pseudo justificativas para legitimar o bombardeiro das casas e cidades de outros trabalhadores, eu apenas tenho a oferecer o meu mais profundo e mais sincero desprezo. São pessoas desprezíveis. Tão desprezíveis quanto fascistas pois é isso que são. Se seguissem princípios básicos de perspectiva e solidariedade de classe, jamais estariam com posições equivocadas, mesmo que não tivessem nenhum conhecimento de fatores políticos da invasão.

    E tenho as desprezado não só pela internet, mas pessoalmente também.

  27. 2.500.000 refugiados ucranianos na União Europeia. 2500 detidos hoje, domingo, em 49 cidades russas por protestarem contra a invasão da Ucrânia. A esquerda (ponham-lhe as aspas que quiserem) que volta as costas a isto chegou ao último grau da abjecção. Trocar a luta social pela geopolítica é trocar o socialismo pelo fascismo.

  28. Qual a diferença para a classe trabalhadora na Ucrânia entre dois exércitos invasores: o da grã Rússia de Putin ou o fascista dissimulado de EUA/OTAN?

    Nos dois casos a Ucrânia é um território ocupado e sob um status neo-colonial.

    Exemplo de convergência e embaralhamento de extremos:

    – por um lado, parte da Esquerda saúda a invasão de Putin como se fosse uma campanha de libertação dos povos;

    – de outro, uma feroz campanha midiática de Direita (com repercussão aqui neste PassaPalavra) apresenta Putin como um novo Gengis Khan, devorador de criancinhas ucranianas no café da manhã.

    Curioso com tanta indignação seletiva manifestada nos comentários anteriores, fiz algumas consultas no Google.

    • site:passapalavra.info “Stepan Bandera”.
    • site:passapalavra.info Odessa massacre.
    • site:passapalavra.info Donbass.

    O resultado é uma abjeção!

    Revelador da verdade de um coletivo (sabe-se lá se com ou sem aspas) que volta as costas e despreza o martírio histórico da população ucraniana.

  29. El País noticia mais de 3500 pessoas detidas na Rússia por se manifestarem, em dezenas de cidades, contra a invasão da Ucrânia.
    The Economist informa que, de acordo com a OVD-info, mais de 4300 pessoas foram detidas.
    É esta a esquerda.

  30. Por que o tal do arkx Brasil faz uma associação automática entre denúncia da invasão russa e apoio da OTAN? De onde ele tira que o Passa Palavra e vários outros indivíduos e organizações estão apoiando a OTAN?

  31. Arkx Brasil insiste em dizer que a situação é “complexa”. Foram quatro de cinco comentários insistindo nesse ponto: 04/03 às 14:30, 04/03 às 18:41, 04/03 às 19:31 e 05/03 às 06:19. Mas este é um daqueles casos em que a situação é muito, mas muito simples do ponto de vista dos trabalhadores, e também de uma perspectiva humanitária e humanista. Para os trabalhadores o que importa, sempre e invariavelmente, é 1) sobreviver, 2) lutar por melhores condições de vida e 3) tentar libertar-se das relações de opressão, exploração e da pobreza material e cultural a que são submetidos. Assim, o que importa no momento é 1) prestar solidariedade aos refugiados e 2) prestar solidariedade a quem é perseguido na Rússia por opor-se à guerra. Isso é o que se chama de internacionalismo, condição indispensável para a libertação da classe trabalhadora. Além disso, não podemos esquecer da perspectiva humanitária e humanista: opor-se à guerra significa opor-se aos massacres, à fome, às doenças, aos estupros, à destruição irracional de bens e infraestruturas que viabilizam patamares mínimos de civilização, e defender o ser humano, o único capaz de transformar a realidade e realizar o progresso cultural e material. Ser de esquerda é ver tudo isso muito claramente, não se deixando levar por quaisquer outras considerações, políticas ou geopolíticas, teóricas, ideológicas, etc. A linha que separa a perspectiva proletária, humanista e humanitária da perspectiva capitalista, nacionalista, imperialista, racista e fascista é muito nítida, e a escolha é muito simples. Não há espaço para ambiguidade, a abordagem é sim binária. Ou se está do lado de cá, ou se está do lado de lá.

  32. Bom. Não vou nem falar que é o caso do Arkx Brasil (mas também pode ser, não sei), mas se a crise econômica de anos atrás fez emergir o que há de mais abjeto no campo da direita, essa guerra tá fazendo a mesma coisa no campo da esquerda. Perderam a vergonha e passaram a defender guerras de expansão, bombardeios de civis, Estados expansionistas, etc. Os ratos saem do esgoto por todos os lados. Falta alguém para unir esses dois campos, e aí sim a barbárie vai comer solta.

  33. A coisa tá mesmo braba.No Canal “maisanarquismos” do Telegram os Tankies já estão apelando para a ideia de que a invasão russa foi necessária para impedir a produção de armas biológicas pela Ucrânia. O que esse povo anda lendo,o Pravda?

  34. Fagner Henrique, Paulo Henrique, nina

    Tanto a situação atual com a invasão da Rússia é complexa, que demanda tanta dificuldade para seus aspectos mais simples serem compreendidos.

    Por isto mesmo tomei o cuidado, em meu comentário inicial no ítem 7, de recorrer a duas citações para não deixar qualquer dúvida quanto a posição por mim defendida.

    Além disto, encerrei o comentário com um tópico “Epitáfio” para resumir exatamente onde situa-se o ponto central da complexidade da situação.

    Em comentário posterior, questionei sobre o “pacifismo” e suas cômodas e perigosas ilusões que tanto tem feito sangrar a classe trabalhadora.

    Por favor, se de fato pretendem dialogar, ao menos leiam o que escrevi.

    Agradeço.

  35. Não, a questão da invasão da Ucrânia não é complexa, como dizem todos aqueles que são incapazes de criticar de maneira frontal o imperialismo da Rússia de Putin. No actual conflito entre o imperialismo russo e o imperialismo dos países hegemónicos da Nato, perante a passividade interessada do imperialismo chinês, a situação é simples. Tal como The Economist noticia esta manhã, na Rússia já mais de 13.000 pessoas foram detidas por protestarem contra a guerra. São eles quem torna a situação muito clara.

  36. Quanto mais se tentar negar a complexidade da situação, nada se consegue a não ser reafirmá-la.

    Denunciar a Rússia como invasor é correto, mas incompleto. E exatamente no complemento fica revelada a complexidade da situação.

    A Rússia é o invasor de um país já invadido por EUA/OTAN.

    E mais: de um país que jamais conseguiu consolidar sua independência política e territorial.

    As raízes da situação na Ucrânia devem ser buscadas na traição dos Bolcheviques (em especial Trotski) a Maknho, após o Exército Negro ter sido decisivo para a vitória na Guerra Civil Russa.

    A situação só não é complexa para quem se informa pelo The Economist, aliando-se veladamente com EUA/OTAN.

    Se em sua época Marx também recorria à imprensa burguesa, era por ser a única fonte de dados e estatísticas para fazer avançar sua pesquisa e análise.

    Hoje esses dados e estatísticas se encontram amplamente disponíveis na Internet, a qual mesmo sendo um meio de informação controlado pela burguesia ainda permite uma vasta pluralidade de fontes.

  37. Participantes e frequentadores do PassaPalavra: não somos inimigos! Sequer adversários.

    Como qualquer um pode constatar fazendo as 3 consultas que indiquei, seja pelo Google ou pelo DuckDuckGo, não há nenhum resultado (a não este artigo e o dos Zapatistas).

    [Nota: a pesquisa sobre ‘Odessa massacre’ se refere a 2014].

    Ou seja: o PassaPalavra não publicou nenhum material sobre a situação contemporânea da Ucrânia.

    Só passou a se indignar a partir da invasão russa. E como se constata nessa área de comentários, para se alinhar veladamente com EUA/OTAN.

    MUITO EMBORA, reconheço e sendo justo, o artigo principal desta postagem seja muito claro e correto quanto a situação na Ucrânia.

    Neste sentido, com uma posição convergente com aquela aqui por mim defendida, NO ENTANTO o foco do artigo não foi abordado nos comentários.

    Basta pesquisar quantas ocorrências há nos comentários da palavra “Putin” e quantas de “EUA” (excetuando as feitas por mim).

    Abandonar a zona de conforto analítica, e mergulhar na complexidade da guerra em curso (que está escalando), exige enfrentar as questões difíceis. Como:

    《4. Qualquer Estado-Nação na atual situação enfrentada pela Rússia seria inevitavelmente obrigado à opção militar, tanto por todas as demais alternativas terem se esgotado como para garantir sua imediata sobrevivência.》

    Exato por isto citei um trecho do texto de Lenin “O Programa Militar da Revolução Proletária”.

    O pacifismo não nos leva a lugar algum, além dos cemitérios.

    Denunciar a invasão russa sem ser frontalmente contrário a ocupação militar da Europa pelos EUA, é se alinhar com a potência hegemônica dominante (erro cometido até mesmo pelos Zapatistas).

    A guerra na Ucrânia não se inicia com a invasão russa, já havia uma guerra civil em curso num país controlado pelos EUA.

    É um engano supor que mesmo alcançando seus objetivos na Ucrânia, a Rússia irá se deter. Ao contrário.

    A única solução para o impasse em curso é a completa retirada das armas nucleares dos EUA da Europa. Num acordo semelhante ao da Crise dos Mísseis de Cuba, com maior espectro.

    Isto é viável?

    Vivemos um momento de extremo perigo, caracterizado pelo negacionismo e pela perda e embaralhamento de referências.

    Repito: não somos inimigos, sequer adversários.

    Até mesmo porque, arkx é completamente irrelevante. E o PassaPalavra NÃO.

  38. Arkx você ainda não entendeu o fundamental? O nosso papel é claro e não é discutir/esmiuçar quais as motivações ideológicas (certas, erradas, complexas, simples etc) das nações capitalistas/blocos imperialistas que levaram ao conflito bélico atual. Essa guerra não diz respeito à construção de relações sociais comunistas/anarquistas. Não há dúvidas quanto a isso.

    No caso, você (in) diretamente quer que não sejamos contrários (‘pacifistas’) a uma guerra com motivação exclusivamente imperialista/capitalista/estadista? Cadê o ponto de vista da classe trabalhadora? A crítica revolucionária? Não temos que ‘ser servos’ das possíveis justificativas para quaisquer das intervenções bélicas realizadas no interesse da manutenção do sistema capitalista (e das necessidades do complexo industrial/militar decorrentes). Essa guerra é da classe dominante e se assenta em justificativas de manutenção/expansão do sistema capitalista. E só.

    “Qualquer Estado-Nação na atual situação enfrentada pela Rússia seria inevitavelmente obrigado à opção militar, tanto por todas as demais alternativas terem se esgotado como para garantir sua imediata sobrevivência.”. Mesmo que essa análise esteja correta (o que seria apenas do ponto de vista do capitalista/estatista, é claro), qual seria sua serventia para a construção de uma via revolucionária que atendesse aos interesses da classe trabalhadora? Deixe essa análise/fundamentação para os ideólogos da burguesia e gestores do capital, porque só serve a eles.

    Não se esqueça: “Paz Entre Nós, Guerra aos Senhores”. No presente momento, e você sabe bem, a guerra atual é ‘entre nós’ para dar paz aos senhores.

    Cuidado com o atual “momento de extremo perigo, caracterizado pelo negacionismo e pela perda e embaralhamento de referências”. Sua análise pode ser fruto dele e ajudar a perpetuá-lo…

  39. arkx Brasil diz que “o PassaPalavra não publicou nenhum material sobre a situação contemporânea da Ucrânia”. Com isso, dá um tapa no coletivo e depois estende-lhe a mão, dizendo que “não somos inimigos, sequer adversários”.

    Factualmente, o comentário de arkx Brasil se dá… num artigo sobre a situação contemporânea da Ucrânia. O artigo, aliás, nem é do Passa Palavra, é tradução de um manifesto da organização comunista libertária tcheca Třídní Válka (“Guerra de Classes”).

    arkx Brasil erra, portanto, ao dizer que “o PassaPalavra não publicou nenhum material sobre a situação contemporânea da Ucrânia”. Se arkx Brasil discorda do conteúdo do artigo, tem todo o direito, mas não pode cobrar que outros ajam como deseja.

    Além disso, ao publicar este artigo de fonte externa para promover debate sobre a guerra na Ucrânia, o Passa Palavra está sendo coerente com o que já publicou em momentos anteriores. Toda a história do site é de tentar refletir sobre fatos do cotidiano político a partir de quadros de referência mais amplos, que permitam discernir tendências e orientar a ação.

    Vejamos o que já foi publicado no Passa Palavra sobre as tendências gerais da ação russa na política e economia globais:

    Insistir no erro?, do Passa Palavra (30/10/2020)
    https://passapalavra.info/2020/10/134871/
    O assassinato do professor francês Samuel Paty por um jihadista checheno é inserido no contexto e tratado como uma consequência, remota e distante, no âmbito das relações pessoais, das intervenções russas na Chechênia, que forneceram o quadro geral de radicalização fundamentalista de certas frações do islamismo.

    Apoiar ditadores não é anti-imperialismo, artigo de Meredith Tax (13/02/2020)
    https://passapalavra.info/2020/02/129811/
    Resenha do livro Indefensible: Democracia, Contra-Revolução, e a Retórica do Anti-Imperialismo (Haymarket Books, 2018), onde a posição da Rússia na geopolítica global é tratada em seu contexto.

    Sobre os ombros de Putin e Assad?, de Rodrigo Oliveira Fonseca (16/10/2019)
    https://passapalavra.info/2019/10/128621/
    Artigo onde a posição russa na guerra civil síria é comentada em seu contexto.

    A ilusão da convergência — Rússia, China e os BRICS, por Bobo Lo (28/03/2017)
    https://passapalavra.info/2017/03/111248/
    Artigo analisando a situação dos BRICS a partir das interações entre Rússia e China, com especial destaque para a estratégia russa de construção de uma ordem global pós-americana.

    Um raio-X da Rússia no cenário global atual, de Pablo Polese (15/03/2017)
    https://passapalavra.info/2017/03/111544/
    Série de artigos que analisa as condicionantes históricas, econômicas e políticas da inserção russa na geopolítica internacional das últimas décadas, com especial destaque para a anexação da Crimeia e a guerra na bacia do Donets.

    Todas as publicações convergem com a linha exposta neste artigo, e em muitos dos comentários.

    arkx Brasil quer que o Passa Palavra, mantido totalmente por voluntários, tenha o mesmo ritmo de produção e de publicações que um portal de notícias da mídia corporativa, ou que a antiga “blogosfera progressista”, até seis ou sete anos atrás mantida por verbas públicas para fazer adesismo a governos de esquerda, que agora vive de vaquinhas e patrocínios. (Nada contra quem puxa saco de governos de esquerda ou de direita, há espaço também para isso, mas não parece ser a opção do Passa Palavra.)

    Se o que arkx Brasil pretendeu foi estender a mão ao Passa Palavra, e por meio dele a seus leitores, começou mal, e terminou pior ainda.

  40. Nenhum de vocês parece ter lido o que escrevi. Exemplos:

    -> “a noção de que a Ucrânia era, antes da ocupação russa, um país sob ocupação dos Estados Unidos, e de que ela é um constructo do imperialismo ocidental”

    Não escrevi que a Ucrânia é “constructo do imperialismo ocidental”, mas reafirmo: “A Rússia é o invasor de um país já invadido por EUA/OTAN. E mais: de um país que jamais conseguiu consolidar sua independência política e territorial.”

    -> “Factualmente, o comentário de arkx Brasil se dá… num artigo sobre a situação contemporânea da Ucrânia.”

    Enquanto já deixei claro que: “Como qualquer um pode constatar fazendo as 3 consultas que indiquei, seja pelo Google ou pelo DuckDuckGo, não há nenhum resultado (a não este artigo e o dos Zapatistas).”

    -> “Se arkx Brasil discorda do conteúdo do artigo, tem todo o direito”

    É exatamente ao contrário: “MUITO EMBORA, reconheço e sendo justo, o artigo principal desta postagem seja muito claro e correto quanto a situação na Ucrânia.”

    -> “Se o que arkx Brasil pretendeu foi estender a mão ao Passa Palavra, e por meio dele a seus leitores”

    Não se trata de estender a mão, e sim de mais uma tentativa de mostrar que uma postura crítica não é, necessariamente, beligerante.

    -> “Voltei só para pedir ao arkx Brasil que tire e poste uma foto de seu rosto no momento exato em que ficou sabendo que o Putin simplesmente retirou de suas exigências a tal da “desnazificação” da Ucrânia.”

    Em tudo que aqui postei, minha posição sempre foi a de caracterizar Putin como aquilo que de fato é: “3. Putin é um nacionalista conservador de Direita, com forte viés fascista – como tende a ocorrer com lideranças com as características mencionadas.”.

    Além disto, trata-se também de um exemplo de como, muitas vezes, o debate se desvirtua para ataques pessoais.

    E como fonte da notícia foi citado nem The Economist, mas o IG. Sem comentários, pois a escolha da fonte fala por si.

    -> “Mesmo que essa análise esteja correta (o que seria apenas do ponto de vista do capitalista/estatista, é claro), qual seria sua serventia para a construção de uma via revolucionária que atendesse aos interesses da classe trabalhadora?”

    Mais uma vez insisto: uma das respostas possíveis está no texto que citei de Lenin, é preciso lê-para compreender.

    Para encerrar, reproduzo o ítem 1 de meu comentário inicial:

    “1. A respeito da Guerra na Ucrânia, assim como em relação ao sistema de vacinação contra a COVID, o PassaPalavra se encontra perdido, vagando em seu próprio labirinto de almas vencidas, noites perdidas e sombras bizarras.”

    O que muito lamento, um terrível desperdício.

  41. Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht se retorceriam no túmulo, se tivessem um, ao ler que dizer “não” a uma guerra imperialista é sinônimo de “pacifismo”. Mas, tenho que concordar com uma coisa que Arkx afirmou… “arkx é completamente irrelevante”.

  42. O Passa Palavra recorda aos leitores que, tal como anunciamos, “O Passa Palavra publica comentários aos textos desde que […] b) não sejam pessoalmente insultuosos […]”. Procuramos aplicar esta norma com latitude, de modo a não prejudicar o debate, mas insistimos que os leitores se abstenham de insultos.

  43. Enquanto isso, no imaginário conspiratório da extrema-direita, as esperanças de um novo amanhã acelera as orações:

    “A luta convulsiva de toda a humanidade como se estivesse à beira da morte inexorável começou há dois anos, com o lançamento da fase final da conspiração oculta que visava o despovoamento do planeta. Nada parecia ser capaz de reverter o curso dos acontecimentos. Mas será que esta guerra pode agora deter o genocídio global e acabar com o assassinato em massa por injeção, ou irá simplesmente acelerar o fim implacável da civilização humana?

    Nossas orações são dirigidas ao nosso bom Deus para permitir a vitória das forças da luz e para nos dar um pouco mais de tempo para viver. Diante de uma morte iminente, estamos sempre em uma crise de tempo para nos arrependermos.

    Nossa esperança é que a tragédia sangrenta da guerra na Ucrânia não apresse o fim do mundo, mas apenas o fim deste mundo caído, para ser seguido por um novo começo.

    PS: E aqueles que ainda hesitam, sem saber a que lado da linha de frente enviar sua simpatia, seria bom lembrar apenas algumas figuras monstruosas que estão no campo dos pacifistas antirrussos: o predador financeiro e o oligarca sujo George Soros, a superestrela satânica Madonna e Marina Abramović, famosa por suas sinistras improvisações artísticas com rituais satânicos de canibalismo, assassinatos de bebês, perversões sexuais, etc., sendo esta pessoa demoníaca intimamente ligada ao clã Illuminati dos Rothschild.

    Todo o exército de mercenários de todo o mundo, que há dois anos se juntou à trama Covid-19, usando suas máscaras protetoras e nos chamando para nos injetar, agora usa outra máscara, a de amantes da paz e ao mesmo tempo aliados dos guerreiros de Kiev. Por trás dessas máscaras esconde-se o sorriso feio das forças globalistas do mal”

    O link: http://novaresistencia.org/2022/03/06/os-desafios-da-guerra-na-ucrania-uma-perspectiva-metafisica/

  44. Pedro Seeger parece ter só um olho a funcionar, coitado! Cita um artigo, mas limita-se a resumir o conteúdo da primeira parte, sobre a participação das milícias fascistas na defesa da Ucrânia perante a invasão do exército russo. Ora, o artigo tem uma segunda parte, que se intitula Extrema-direita russa mobiliza-se. Depois de mencionar a participação de voluntários tchetchenos e sírios, bem como das milícias Wagner, na invasão russa, essa segunda parte do artigo recorda o desenvolvimento do fascismo na sociedade russa nas últimas décadas, para concluir no penúltimo parágrafo: «A extrema-direita russa é, desde que Putin chegou ao poder, usada como força de choque e desestabilização, com o FSB [a polícia secreta] a desempenhar um papel de controleiro. Daí que sejam vários os grupos que estiveram no Donbass – um deles foi o Russian Imperial Movement. E mais se poderão seguir, prolongando e intensificando a guerra». Espero que na próxima vez Pedro Seeger seja, digamos… mais atento.

    Mas não se trata apenas de um confronto militar animado por fascistas de um lado e fascistas do outro lado, porque não só a influência dos fascistas ucranianos se diluiu agora, como há também anarquistas e outros libertários a lutar contra a invasão russa e em defesa da população da Ucrânia, nomeadamente no Comité de Resistência, tal como podem ver neste meu outro comentário.

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