Por Taras Tarasiuk & Andreas Umland

A extrema-direita ucraniana, o Kremlin e o caso Korchinsky

Os contatos já mencionados entre ativistas neonazis russos pró-Ucrânia dentro da extrema-direita ucraniana são — quando vistos como parte da contextualização aqui feita — no fim das contas não tão surpreendentes. Um tipo de racismo peculiarmente não-imperialista defendido por russos fugindo para a Ucrânia explica a cooperação deles com a extrema-direita ucraniana. Além disso, esse tipo de cooperação ocorreu entre, de um lado, grupos politicamente marginais, numericamente pequenos e relativamente novos de emigrados russos na Ucrânia, e alguns atores políticos ucranianos de franja no outro. O caso de Dmytro Korchinsky constitui, em contraste, uma história mais complicada do ponto de vista ideológico e quanto às motivações. Ele relaciona um agrupamento ucraniano ultranacionalista, o Bratstvo, e seu conhecido líder político, Korchinsky, a certos agentes políticos russos anti-ucranianos que são relevantes (e não meramente marginais) na Rússia. No rescaldo da Revolução Laranja de 2004, por dois anos houve uma curiosa associação entre um cofundador da UNA-UNSO (e anteriormente um proeminente líder da extrema-direita ucraniana), Korchinsky, e o líder do Movimento Eurasiano Internacional, Alexander Dugin, um notório ideólogo fascista russo.[159]

Antes dessa aliança oficial temporária em 2005-2006, Korchinsky já havia estabelecido contatos na Rússia, como revelou em uma entrevista para a televisão em 2017: “Nós cooperamos com os moskals [termo pejorativo para moscovitas ou russos] desde 1992, de um jeito ou outro, em várias regiões […]. sempre foi uma relação difícil. Tínhamos a ilusão de que poderíamos fazer algo com eles”.[160] Quando o entrevistador, surpreso, perguntou qual o motivo para essa cooperação, Korchinsky respondeu que ele queria encorajar um separatismo cossaco dentro da Rússia. No entanto, como mencionado anteriormente, durante o período referente a Korchinsky aqui (o começo dos anos 90), a sua UNA-UNSO estava do outro lado da fronteira sudeste ucraniana com a Moldávia, protegendo os ucranianos da Transnístria e involuntariamente apoiando o separatismo pró-russo transnístrio na região.

Os contatos e visitas de Korchinsky a Moscou nos anos 2000 também eram estranhos já que desde os anos 90 ele havia feito uma série de declarações anti-russas, tendo, por exemplo, declarado que “a Crimeia será ou ucraniana ou então será despopulada”[161] O falecido pesquisador do nacionalismo russo Vladimir Pribylovskii escreveu: “Em 1996, [Korchinsky] lutou na Tchetchênia no lado dos separatistas tchetchenos. Em suas memórias da Guerra da Tchetchênia, publicadas em 2005 (em seu livro Revolution Haute Couture), [Korchinsky] entre outras coisas, fala sobre como presenciou os soldados russos capturados serem mortos (suas gargantas foram cortadas e então baleados para garantir que estivessem mortos).”[162]

Amizades inesperadas: cooperação de ultranacionalistas ucranianos com agentes russos

Além disso, após a intensa cooperação de Korchinsky com Dugin (falaremos mais sobre isso depois), houve outro episódio curioso. Durante a Revolução Euromaidan de 2013-2014 surgiram alegações na imprensa ucraniana que depois de um mandado de prisão ter sido emitido para Korchinsky, devido ao seu envolvimento num confronto violento em frente ao prédio da Administração Presidencial da Ucrânia em 1o de dezembro de 2013, o ultranacionalista ucraniano teria se tornado foragido. De acordo com diferentes relatórios, ele se mudou para a Rússia ou para a Transnístria (controlada por um regime satélite pró-russo).[163] De acordo com relatos da imprensa, ele deu uma entrevista por Skype de dentro de um abrigo de asilo russo para uma emissora ucraniana de televisão.[164]

Se sua localização naquele momento — que Korchinsky depois negou — for confirmada, seria algo notável. Durante o fim de 2013 e começo de 2014, a mídia do Kremlin já estava conduzindo campanhas de desinformação em larga escala sobre uma grande ameaça que o nacionalismo radical ucraniano estaria supostamente impondo aos falantes de russo na Ucrânia. A televisão e os jornais do estado russo apresentavam o Euromaidan como um levante fascista, anti-russo, e começou a demonizar especialmente o líder do Setor Direita, Dmytro Yarosh, como fascista e supostamente figura decisiva nos eventos que se desdobravam em Kiev.

Enquanto Yarosh era procurado pela polícia na Rússia, é possível que outro ultranacionalista ucraniano, Korchinsky, estivesse recebendo a oportunidade de escapar da prisão ucraniana se refugiando na Rússia e/ou na Transnístria. Outro aspecto dúbio dos contatos de Korchinsky com Moscou e os atores pró-russos da Ucrânia desde os anos 90 é que desde aquela época — da fundação da UNA-UNSO, no começo dos 90, até o presente — Korchinsky havia colaborado periodicamente com Yuriy Shukhevych, uma figura icônica no movimento nacionalista ucraniano. Yuriy Shukhevych é o filho de Roman Shukhevych (1907-1950), o antigo comandante líder da UPA [sigla em ucraniano para o Exército Insurreto Ucraniano] e único chefe da ala radical banderista [de Stepan Bandera] da Organização dos Nacionalistas Ucranianos.[165] Entre 2014 e 2019, Yuriy Shukhevych, junto a dois deputados ligados a Korchinsky (um deles a esposa de Korchinsky), foi membro de uma corrente do autodenominado Partido Radical de Oleh Lyashko, estridentemente patriótica, na Verkhovna Rada [Conselho Supremo da Ucrânia, o parlamento nacional daquele país].[166]

Apesar de um tal histórico aparentemente inequívoco, Korchinsky, como líder da Bratstvo, se tornou membro do Alto Conselho do Movimento Eurasiano Internacional em Moscou entre 2004 e 2006.[167] Somente mais um ucraniano foi incluído no grupo, a presidente do Partido Progressista Socialista da Ucrânia e doutora em ciências econômicas Nataliia Vitrenko (n. 1951). O partido “Bloco de Oposição Popular” de Vitrenko chegou a conquistar 2,93% do resultado das eleições parlamentares de 2006. Ela era então a maior representante do anti-ocidentalismo radical na Ucrânia, e era conhecida por suas opiniões pró-Rússia, assim como por seus frequentes ataques aos políticos mainstream ucranianos, os quais chamava frequentemente de “fashisty” (fascistas).[168]

Entre 2004 e 2006, Vitrenko e Korchinsky, apesar de formalmente estarem em lados opostos no espectro político da Ucrânia e de manterem abordagens manifestadamente diferentes quanto à Rússia, constavam listados juntos no diretório de membros do Alto Conselho do Movimento Eurasiano Internacional sediado em Moscou.[169] Também foi anunciado em fevereiro de 2005 que Vitrenko e Korchinsky haviam ingressado no Conselho Superior da recém criada União da Juventude Eurasiana.[170] A nova organização representava o setor jovem do Movimento Eurasiano Internacional e era parte de uma reconfiguração “para-totalitária” mais ampla da esfera pública russa, em reação à Revolução Laranja da Ucrânia através, entre outras coisas, da criação de vários movimentos juvenis pró-Kremlin.[171] Ambas as organizações, o Movimento Eurasiano Internacional e a União da Juventude Eurasiana, eram guiadas e inteiramente devotadas às ideias do notório publicista fascista e doutor em ciências políticas Alexander Dugin (n. 1962).[172]

O nome de Dugin se tornou amplamente conhecido na Ucrânia em 2007, relacionado ao escândalo que emergiu quando o Conselheiro Presidencial ucraniano Mykola Zhulinsky teve sua entrada na Rússia barrada durante uma viagem particular a São Petersburgo. Esse movimento foi uma retaliação pelo país negar o visto de entrada de Dugin na Ucrânia alguns meses antes. Em junho de 2006 a Ucrânia declarou Dugin persona non grata até 2011 por violar a lei ucraniana. Quando ele chegou no aeroporto de Simferopol no início de 2007 para participar do festival “A Grande Palavra Russa”, organizada pela comunidade russa da Crimeia, ele foi deportado para a Rússia.[173]

Dugin se fez conhecido como um “neoeurasiano” e antiamericano fanático.[174] Ele descreve a si mesmo como “Nacional Bolchevique”, fazendo referência ao publicista alemão anti-democrático Ernst Niekisch; como um “tradicionalista”, na linha do esotérico francês René Guénon e do fascista italiano dadaísta Julius Evola; e como um “conservador revolucionário”, fazendo referência a um movimento intelectual alemão do entreguerras.[175] Dugin também já referenciou positivamente outras fontes não-russas como o Satanismo Britânico, o ocultismo europeu, a Nouvelle Droite francesa e o misticismo japonês. A visão de mundo de Dugin é em grande parte uma variação das ideias antiocidente que tiveram origem fora da Rússia. Posando como um crente ortodoxo devoto, seus principais conceitos são importados de vários pensadores católicos e protestantes do entreguerra e do pós-guerra da Europa ocidental.

Apesar de tantas fontes dúbias — dentro da tradição nacionalista russa —, Dugin, durante sua proximidade com Korchinsky e Vitrenko,[176] esteve em companhia de diversas figuras políticas e sociais russas de importância, como o Ministro de Cultura entre 2004 e 2008 Aleksandr Sokolov, o Porta-voz e Deputado do Conselho da Federação entre 2001 e 2015 Aleksandr Torshin, e o Conselheiro Presidencial Aslambek Aslakhanov. Esses oficiais, assim como Vitrenko, Korchinsky e outras figuras pós-soviéticas, foram (e parcialmente ainda são) membros do Conselho Superior do Movimento Eurasiano Internacional.[177]

Ao longo dos anos 90, Dugin repetida e afirmativamente escreveu sobre o fascismo da Europa Ocidental. Ele criticou os fascismos da Alemanha, Itália e outros em seu artigo “Fascismo — sem fronteiras e vermelho”, que se tornou um capítulo da versão eletrônica do seu livro de 1997, Templários do Proletariado.[178] No artigo, Dugin culpava os movimentos e regimes fascistas da Europa do entreguerras por serem moderados demais, incoerentes demais, suaves demais, e não verdadeiramente revolucionários. O fascismo, argumentava Dugin, é em princípio uma boa ideia; mas nunca foi implementado consistentemente. De acordo com Dugin, na Rússia irá emergir um verdadeiro “fascismo fascista”. Nos seus artigos mais antigos como o “Revolução Conservadora” (1991), “A Grande Guerra dos Continentes” (1991-1992) ou “Nacionalismo de Esquerda” (1992), Dugin discorria sobre o porque acreditava que o fascismo russo era uma ideologia benevolente. Ele apresentava a SS [Schutzstaffel, Tropa de Proteção, força paramilitar do Partido Nazista] como uma organização com características positivas e lamentava a dissolução da aliança de 1939 entre Hitler e Stálin como um evento infeliz. A bandeira do notório Partido Nacional-Bolchevique que Dugin cofundou e liderou entre 1994 e 1998, junto com o notório escritor Eduard Limonov (1943-2020), era uma adaptação das cores da bandeira nazi com a foice-e-martelo soviética substituindo a suástica negra.

Amizades inesperadas: cooperação de ultranacionalistas ucranianos com agentes russos

Já nos anos 90 Dugin se tornou conhecido por suas declarações destacadamente estridentes sobre o futuro da Ucrânia. Apesar de serem bastante extravagantes — até mesmo para os padrões do nacionalismo russo da época —, elas se revelaram proféticas quanto às políticas posteriores de Putin vis-à-vis com a Ucrânia.[179] Por exemplo, Dugin escreveu em seu manual principal, “Fundações da Geopolítica”, publicado pela primeira vez em 1997 e reimpresso em 2000, que

a soberania ucraniana é tão negativa para a geopolítica russa que ela poderia, em teoria, desencadear um conflito armado […]. A Ucrânia como Estado não faz nenhum sentido geopolítico. Ela não tem nenhum sentido cultural universal, nenhuma distinção geográfica ou exclusividade étnica. O significado histórico da Ucrânia pode se extrair de seu nome. A palavra “Ucrânia” vem da palavra russa “okraina” [limites externos, periferia] ou “região fronteiriça”. […] Um imperativo absoluto da geopolítica russa nas margens do Mar Negro é o total e ilimitado controle por Moscou [desses litorais] em toda sua extensão — da Ucrânia ao território Abecázio.[180]

No desdobramento da Revolução Laranja, Dugin publicou um artigo programático sobre a Ucrânia no jornal oficial do parlamento da Rússia, Rossiiskaia gazeta, em 26 de janeiro de 2005, afirmando que

a Rússia perdeu a Ucrânia, e não é necessário encobrir esse triste fato. Não será possível desenvolver relações positivas com a Kiev de [Viktor] Yushchenko, é irresponsável e historicamente criminoso sonhar com isso. Nós estamos lidando com um país “laranja” sob controle direto americano, cuja adesão à OTAN é uma questão de um futuro bem próximo. Portanto, a Rússia tem de apoiar a federalização da Ucrânia, usar de toda sua influência para criar nesse país irmanado uma zona geopolítica sudestina voltada à autonomia em relação a uma Kiev antirrussa e pró-americana. Somado a isso, certos passos devem ser tomados já de imediato para criar uma nova oposição política ao regime de Yushchenko, usando todas as contradições em seu governo, todas fricções de clãs e erros políticos. Se Moscou perdeu seu poder na Ucrânia, ele deve fazer todo o possível para formar uma oposição eurasiana real, efetiva e eficiente ali.[181]

Em 2006, Dugin sugeriu que a Ucrânia deveria ser dividida em dois estados via uma “delimitação” (razmezhevanie) com a perspectiva de que a Ucrânia do leste e do sul se tornassem de facto — se não de jure — parte da Rússia.[182]

As declarações explicitamente anti-ucranianas tornam aparentemente paradoxal a sua cooperação temporária oficial com o ultranacionalista ucraniano Korchinsky e seu partido Bratstvo. Essa conexão não era natural, tanto em termos de ideologia de extrema-direita russa e ucraniana, de modo geral, quanto em termos das ações e anúncios de ambos os protagonistas, em particular. Viktor Shnirelman notou que, ainda assim, Korchinsky apareceu publicamente “na manifestação da União Jovem Eurasiana de Dugin em 21 de Setembro de 2005, na Praça Eslavica de Moscou no 625º aniversário da Batalha de Kulikovo [onde Korchinsky] pediu por uma guerra implacável contra a civilização Atlântica, declarando que a guerra estava mais próxima do que nunca”.[183] Em uma entrevista de 2005 com um curioso investigador do site Censor.net, Korchinsky defendeu suas conexões em Moscou:

Censor.net: O [partido] “Irmandade” trabalha bem próximo da União Jovem Eurasiana, que defende o estabelecimento de um Império Eurasiano da Rússia, Ucrânia e Belarus. Como a parceria de nacionalistas de Korchinsky com essa organização se tornou possível?

Korchinsky: O movimento eurasiano, liderado por Dugin, está tentando estabelecer relações entre nacionalistas de diferentes nações. Não há nada de surpreendente nisso.

Censor.net: Como você enxerga o futuro da Rússia e da Ucrânia? Teriam os dois países a possibilidade de um futuro comum?

Korchinsky: O principal problema é que, como em qualquer família, as relações entre irmãos são bastante complicadas. Nunca há uma relação sem turbulência numa relação assim. Somado a isso, há obviamente uma competição entre a Rússia e a Ucrânia no espaço pós-Soviético. A Ucrânia, é óbvio, gostaria de dominar esse espaço algum dia. Mas o futuro das relações Ucrânia-Rússia é determinado antes de tudo pelo fato que eslavos são discriminados no mundo moderno […]. As grande forças políticas, a burocracia americana e europeia, negam soberania a qualquer estado nacional. A única forma real de resistir a essas forças é através do esforço e ações conjuntas. É claro, os eslavos têm um futuro em comum. Se existe algum futuro, só pode ser um que nos seja comum.[184]

No verão de 2005, o líder do Bratstvo junto com o futuro coordenador de Putin para questões ucranianas, Dmitrii Surkov, o tecnólogo político pró-putinista Gleb Pavlovskii e o líder da juventude pró-Putin GONGO [uma ONG montada pelo governo] chamada “Nashi” (Nossa), Vasyl Yakymenko, realizaram uma série de seminários para o acampamento anual de verão da Nashino Lago Seliger.[185] O tema da apresentação de Korchinsky era como enfrentar os protestos “coloridos”, isto é, como impedir ações de desobediência civil similares à Revolução Laranja na Ucrânia ou a Revolução Rosa na Geórgia.[186] Esse foi um engajamento incomum de Korchinsky dentro do contexto da política de extrema-direita ucraniana.

Também era um problema para o escritor nascido na Ucrânia, ex-líder do Partido Nacional-Bolchevique da Rússia, e colaborador de longa data de Dugin, Eduard Limonov. Em 2003, Korchinsky e Eduard Limonov foram presos juntos após um protesto de rua conjunto em Moscou.[187] Naquela altura, Limonov era parte da oposição russa e defendia posições anti-putinistas. Sendo assim, a colaboração de Korchinsky com a Nashi em 2005 levou Limonov a interromper seu contato com a Bratstvo. Ironicamente, não foi o nacionalismo ucraniano de Korchinsky que fez Limonov romper laços, mas o colaboracionismo de Korchinsky com uma corrente particular — isto é, putinista — de nacionalismo russo. Curiosamente, Limonov, ele próprio, mais tarde, se tornaria pró-Putin após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014.[188]

Sobre esses contatos entre ultranacionalistas ucranianos e russos, Hanna Hrytsenko relata mais detalhes relacionados a Oleksandr Matiushin, um antigo coordenador do braço local de Donetsk do Partido Nacional-Bolchevique moscovita de Limonov, e certa vez ativista no já citado micro-partido “Imagem Rússia”, cooperando secretamente com a administração presidencial russa:

Matiushin, no passado também um membro do “Irmandade” de Dmytro Korchinsky e da União Jovem Eurasiana, afirmava que no final de 2013 uma unidade de combate composta de jovens de direita havia surgido a partir do [micro-grupo separatista ucraniano] “República de Donetsk”. Essa ala, chamada de “turma de Variag”, como Matiushin aponta, teve um papel especial nos eventos da assim chamada “Primavera Russa” [ou seja, o suposto levante do leste e sul da Ucrânia na primavera de 2014].[189]

Uma outra faceta curiosa dessa história em zigue-zague é que, em sua citada entrevista de 2005 para o Censor.net, Korchinsky indicou que esteve nas conversas de coalização preliminares com Viktor Yanukovych para enfrentarem de forma conjunta o campo político “Laranja”. A tal aliança prevista, no entanto, fracassou e não se concretizou. Korchinsky explicou: “Inicialmente, nós tentamos criar um bloco de oposição poderoso. Após Yanukovych decidir não ser mais o líder da oposição mas sim o líder de um pequeno partido, assinando o memorando com o [então presidente Viktor] Yushchenko, nós quisemos criar ao menos um bloco eleitoral radical de oposição”.[190] Nessa entrevista Korchinsky também concordou com uma extensão na concessão da base naval russa no Mar Negro na cidade portuária ucraniana de Sevastopol — uma ideia com a qual a maioria dos nacionalistas ucranianos se opôs.[191]

Amizades inesperadas: cooperação de ultranacionalistas ucranianos com agentes russos

Mais tarde, Korchinsky repetidamente assegurou que seus contatos dúbios na Rússia ficaram no passado. Apesar de em dado momento ter declarado apoio a Yanukovych, quando Yakunovych se tornou presidente em 2010, Korchinsky e membros da Bratstvo acabaram sofrendo ações criminais postas contra eles em juízo. Na Rússia, Korchinsky é procurado desde 2005 por causa dos já mencionados supostos delitos na Tchetchênia. Sua relação amigável com Dugin, nas palavras de Korchinsky, acabou com a “queima do escritório de Dugin em Moscou”, dando a entender que ele ou seu pessoal atearam fogo no quartel general do movimento de Dugin.[192] Verdade ou não, a Bratstvo e Korchinsky deixaram oficialmente o Movimento Eurasiano Internacional após três membros da União Jovem Eurasiana desacralizarem símbolos do Estado ucraniano no Monte Hoverla no leste da Ucrânia em outubro de 2007.[193] Desde então, Korchinsky parece não ter tido nenhum vínculo público com representantes próximos ao Kremlin e retornou ao ativismo e publicidade da extrema-direita ucraniana tradicional.

Extrema-direita ucraniana e atores pró-Kremlin na Ucrânia

A cooperação de Korchinsky e de alguns de seus seguidores com agentes russos anti-ucranianos foi um episódio excepcional. Ainda assim, não foi a única vez que algo assim ocorreu dentro da extrema-direita da Ucrânia. Também não foi uma característica que marcou apenas Korchinsky e afins em contraste a outros ultranacionalistas ucranianos, cujas ações e anúncios também vinham sendo contraditórios. Os seguintes episódios ilustram as posturas públicas às vezes confusas dos ultranacionalistas ucranianos.

A extrema-direita ucraniana e os oligarcas relacionados à Rússia
O Movimento Azov, Medvedchuk, Muraev e outros

Em março de 2018, membros da Bratstvo de Korchinsky e alguns outros ativistas estavam tentando bloquear a entrada do escritório principal do canal de TV ZIK em Kiev.[194] Esses nacionalistas protestavam por causa da venda dessa emissora, antes pró-ucraniana, para uma entidade relacionada ao político ucraniano e oligarca Viktor Medvedchuk (n. 1954). Medvedchuk é conhecido por seus fortes vínculos com o Kremlin: o padrinho de sua filha é Vladimir Putin. Reagindo ao protesto dos ultranacionalistas contra a venda do ZIK, forças policiais e um grupo vigilante apareceram no prédio da emissora. O ultranacionalista Natsional’nyy druzhyny (Esquadrões Nacionais) — afiliado ao National Corps do movimento Azov — foi ali não para protestar, mas para defender a funcionamento do canal de TV com os novos donos e com a nova orientação de programação. De acordo com a liderança do movimento Azov, os gestores do canal haviam pedido proteção aos Esquadrões Nacionais.[195] Serviços de proteção são, certamente, um instrumento comum entre grupos nacionalistas paramilitares da Ucrânia. Ainda assim, essa ação foi peculiar já que um notório representante de Putin na Ucrânia, Medvedchuk, havia se tornado o dono de facto do canal de TV (e a emissora foi fechada em 2021 por esse motivo).[196]

Dois anos após esse episódio, em maio de 2020, os mesmo Esquadrões Nacionais que haviam protegido o canal de TV de Medvedchuk em 2018, atacaram em Kiev o escritório do partido de Medvedchuk, o “Plataforma da Oposição—Pela Vida” (veja abaixo).[197] Na verdade, radicais ucranianos de direita, contrastando com a ação do movimento Azov de 2018 de proteção à emissora afiliada a Medvedchuk, vinham repetidamente atacando canais de TV pró-russos. Por exemplo, em 2016, devido à retórica pró-russa do famoso canal de TV Inter, representantes do movimento Azov bloquearam o prédio e organizaram ações contra o canal por toda Ucrânia.

Um padrão de contradição similar se revela nas outras relações do movimento Azov com centros de mídia relacionados aos oligarcas e políticos pró-Rússia. Entre os últimos, por exemplo, está Dmytro Muraev, que era um convidado frequente no ZIK depois da virada pró-Rússia, e era ou é co-proprietário de outros canais de TV pró-Rússia: 112.ua (fechado em 2021), Nash (Nosso) e NewsOne (fechado em 2021). Apesar da retórica geralmente antinacionalista e parcialmente anti-ucraniana, esses conglomerados de mídia, junto com outros canais de TV relacionados a vários oligarcas ucranianos de posturas políticas ambivalentes, deram por muitos anos um considerável tempo de exibição midiática a representantes do movimento Azov.[198]

Tal atenção é curiosa considerando a constante baixa porcentagem do National Corps nas pesquisas de opinião pública e nos resultados eleitorais nacionais, geralmente alcançando bem menos do que o limite mínimo de 5% para entrar na Verkhovna Rada [parlamento nacional]. Na verdade, algumas notas de imprensa das agências de pesquisa da Ucrânia nem listam o National Corps e seu líder Andriy Biletsky em razão do apoio irrisório de 1% ou menos entre os participantes das pesquisas.[199] A contradição entre a alta exposição na TV do National Corps e seu pequeno peso político repete um padrão anterior de maciça presença midiática do partido então extra-parlamentar e nacionalmente marginal Svoboda em vários canais de TV próximos ao Partido das Regiões, durante o período de 2010-2012 (veja abaixo).

Além disso, o surpreendentemente grande interesse no National Corps pela mídia de massa oligárquica, ambivalente e pró-russa, sendo ele um partido ucraniano menor, promoveu uma presença desproporcional da liderança do movimento Azov, incluindo Andriy Biletsky, nas reportagens diárias e programas de debate desses canais de TV.[200] Um dos líderes informais (e especialmente notório) do movimento Azov, o já mencionado ex-ativista neonazi bielorrusso e russo, o emigrado Sergei Korotkikh (em ucraniano: Serhiy Korotkykh), também se beneficiava nos últimos anos da alta e incomum visibilidade numa mídia de massas relativamente pró-russa.[201] Como indicado, essa surpreendente colaboração é reminiscente de um episódio estranho anterior na história da extrema-direita ucraniana pós-soviética.

Svoboda e Yanukovych

Conectado às eleições presidenciais dos EUA de 2016, as atividades do gerente de campanha de Donald Trump na Ucrânia, Paul Manafort, ficaram sob escrutínio.[202] Manafort havia aconselhado Yanukovych em 2007-2009 na preparação para sua bem sucedida candidatura presidencial ucraniana de 2010. Manafort aparentemente recomendou, entre outras coisas, a jogar com a polarização política na Ucrânia. Ele parece ter recomendado ao Partido das Regiões usar da retórica anti-semita e anti-russa dos ultranacionalistas ucranianos a seu favor durante a campanha de Yanukovych. Essa tática tinha intenção de criar uma imagem de ameaça nacionalista radical para a integração da Ucrânia com o ocidente, e mobilizar o núcleo eleitoral de Yanukovych nas regiões leste e sul russófonas da Ucrânia a votarem em candidatos pró-russo e no Partido das Regiões.[203]

A estratégia de Yanukovych — talvez inspirada por Manafort — envolveu até mesmo o apoio financeiro direto do Partido das Regiões para a extrema-direita da Ucrânia via “contabilidade às escuras”. Tal operação já se suspeitava desde da ascensão do Svoboda em 2012. No entanto, só foi documentada e veio totalmente à tona depois que Viktor Yanukovych fugiu da Ucrânia em fevereiro de 2014.[204]

Em agosto de 2016, Serhiy Leshchenko — um conhecido jornalista ucraniano investigativo, ativista anticorrupção e então membro do parlamento — tornou público evidências da contabilidade paralela do Partido das Regiões. A evidência foi encontrada no antigo condomínio de Yanukovych em Mezhihiria, próximo a Kiev, em 2014. Leshchenko postou a fotografia de uma tabela não-oficial dos gastos do Partido das Regiões que listava pagamentos não só a Manafort, mas também registrava uma transferência em 2010 de US$ 200.000 ao partido Svoboda, seu oponente político mais virulento. Ao publicar esse documento, Leshchenko indicou que não se tratava do único incidente do tipo e que talvez houvesse mais evidências de pagamentos adicionais durante os anos de 2007 a 2009, antes de Yanukovych se tornar presidente na primavera de 2010.[205]

Após a vitória de Yanukovych nas eleições presidenciais de 2010, diversos comentaristas, incluindo um editor da revista de esquerda de Kiev Commons, começaram a acusar publicamente o Svoboda e o Partido das Regiões de cooperação não-oficial.[206] Isso porque — talvez também por recomendação de Manafort — Yanukovych e seu partido não apenas apoiou, em segredo, o Svoboda com transferências financeiras diretas. O Partido das Regiões e seus oligarcas afiliados, com seus canais de TV, destacadamente aumentaram a presença midiática do Svoboda.[207] O propósito de promover um partido marginal e ainda desconhecido para muitos eleitores era abalar todo o espectro de partidos políticos da Ucrânia, e desse modo complementar a vitória presidencial de 2010 de Yanukovych com uma vitória parlamentar em 2012 para o seu Partido das Regiões.

Aparentemente havia uma plano detalhado dos “tecnólogos políticos” do Partido das Regiões para fortalecer o Svoboda e assim dividir a oposição nacionalista entre os campos moderado e extremista. O ascensão do Svoboda supostamente deveria também criar um espantalho para o núcleo eleitoral russófono do Partido das Regiões e os mobilizar a votar. Quanto as relações da Ucrânia com o Ocidente, o ultranacionalismo do Svoboda forneceria uma distração conveniente para o próprio anti-ocidentalismo e autoritarismo de Yanukovych. Aparentava ali haver um esquema de longa data para crescer a popularidade do presidente do Svoboda, Oleh Tiahnybok, a tal ponto que ele, junto com Yanukovych, iriam chegar ao segundo turno das próximas eleições presidenciais regulares de 2015. O cálculo era de que Yanukovych talvez não fosse capaz de ganhar uma segunda vez contra um nacionalista moderado na disputa, mas que seria capaz de conseguir contra um nacionalista radical.

Entre 2010-2012, o sinal mais visível dessa estratégia foi o rápido crescimento na presença do partido Svoboda na mídia de massas ucraniana controlada por vários oligarcas. Isso dizia respeito, acima de tudo, aos vários talk shows populares de política da noite na TV, onde representantes do extra-parlamentar e majoritariamente centrado na Galícia,Svoboda, se tornaram convidados recorrentes. Como indica a Tabela 2 composta por Anton Shkhovtsov: Depois que Yanukovych se tornou presidente na primavera de 2010, até novembro de 2012, o número de aparições de representantes do Svoboda em talk shows populares nos dois canais cuja sua influência é mais direta aumentou rapidamente.

Tabela. Talk shows populares de política que incluíram destacadamente ao menos um participante do partido Svoboda em 2005-2012 [208]

Período “Svoboda Slova” (“Liberdade da Palavra”, canal ICTV) “Velyka polityka z Evheniem Kysel’ovym” (“Política Grande com Yevgenii Kiselev”, canal “Inter”) “Shuster LIVE” (canais “Ukraina”/Primeira Nacional)
Segunda metade de 2005 1 Sem programas Sem programas
Primeira metade de 2006 1 Sem programas Sem programas
Segunda metade de 2006 0 Sem programas Sem programas
Primeira metade de 2007 0 Sem programas Sem programas
Segunda metade de 2007 0 Sem programas Sem programas
Primeira metade de 2008 1 Sem programas Sem programas
Segunda metade de 2008 1 Sem programas 0
Primeira metade de 2009 0 Sem programas 2
Segunda metade de 2009 1 1 2
Primeira metade de 2010 0 6 6
Segunda metade de 2010 3 10 7
Primeira metade de 2011 3 11 10
Segunda metade de 2011 4 5 5
Primeira metade de 2012 3 3 7
Somatória 17 36 39

 

Dois anos depois, o Svoboda conseguiu colher os ganhos do apoio midiático manifesto dos canais conectados ao novo presidente Yanukovych, da situação financeira do partido melhorada secretamente, e de algumas outras circunstâncias políticas favoráveis a ele. Svoboda aumentou drasticamente sua fatia nas eleições nacionais do Verkhovna Rada em outubro de 2012. Enquanto normalmente angariava menos de 1% de apoio eleitoral nos resultados parlamentares anteriores, sua fração de votos saltou para 10,44% na parte proporcional das eleições de 2012 da Rada.[209]

O apoio ao Svoboda, no entanto, caiu pela metade duas vezes nas eleições parlamentares seguintes de 2014 e de 2019. Primeiro caiu para 4,71% nos resultados de outubro de 2014 da Verkhovna Rada. E depois, apesar da unificação de todos os principais partidos de extrema-direita ucranianos baixo o guarda-chuva Svoboda em uma única lista, seu apoio de eleitores caiu ainda mais, para 2,15%, na eleição parlamentar de julho de 2019. Essa constrangedora queda nos números ocorreu apesar de condições demográfica eleitorais novas e mais favoráveis. Em 2014 e 2019, uma grande parte daqueles cidadãos ucranianos que esmagadoramente não teriam votado no partido galiciano Svoboda, estavam vivendo na Crimeia, nos territórios ocupados do Donbass ou na Rússia, onde não poderiam participar das eleições. Assim, a queda geral no apoio popular ao maior partido ultranacionalista da Ucrânia foi ainda maior do que o indicado pelas porcentagens publicadas nas eleições parlamentares de 2014 e 2019.

Desde então, o Svoboda não chegou realmente a cair ao nível mais baixo da sua performance eleitoral nacional pré-2012. Ainda assim, os ultranacionalistas da Ucrânia voltaram à franja da política ucraniana.[210] Paradoxalmente, na história da extrema-direita ucraniana pós-soviética, foi somente durante o governo do presidente mais pró-russo da Ucrânia, Viktor Yanukovych, que o Svoboda recebeu brevemente um apoio maior do que os 5% da barreira de entrada do parlamento. Foi somente durante a presidência de um homem que tinha o apoio de Vladimir Putin que a extrema-direita da Ucrânia foi capaz de formar sua própria facção na Verkhovna Rada. Durante todas as outras eleições nacionais, seu apoio se manteve regional e escasso.

Svoboda e os Oligarcas da Ucrânia Ligados a Moscou

Havia outros episódios dúbios na história do partido de Tiahnybok. Por exemplo, cerca de um ano antes da queda de Yanukovych, no início de 2013, o Svoboda havia se manifestado publicamente contra a exploração das reservas de gás de xisto na Ucrânia. Essa era uma posição que se alinhava firmemente com a, já apresentada, defesa concomitante de Viktor Medvedchuk aos interesses da indústria de gás da Rússia na Ucrânia. [211] Quando as empresas ocidentais Shell e American ExxonMobil começaram a explorar o desenvolvimento de gás de xisto, o Svoboda organizou protestos “defendendo o ecossistema da exploração ocidental”.[212] Alguns observadores especularam que as ações do Svoboda talvez tivessem sido planejadas para promover os interesses do notório oligarca ucraniano pró-Rússia, Dmytro Firtash. Era sabido que Firtash era um parceiro de negócios de um dos maiores doadores do partido Svoboda e de seu deputado em 2012-2014 no Verkhovna Rada, Ihor Kryvetsky (n. 1972).[213]

Certas formas de colaboração indireta ente o Svoboda e políticos pró-Rússia, assim como empresários ligados a Moscou, continuaram após a vitória do Euromaidan. Em setembro de 2015, o jornalista ucraniano Oleksandr Paskhover publicou uma investigação sobre o partido Svoboda:

Em maio de 2015, em conexão com a a abertura do caso [legal] contra Serhii Kliuev, o deputado popular do Bloco Poroshenko, Serhiy Leshchenko, descobriu um documento interessante. Era uma cópia de uma correspondência entre a Alta Comissária da UE, Catherine Ashton, e o ativista do partido Svoboda, Oleh Makhnitsky, quando ele comandava o Escritório Geral do Procurador [da Ucrânia], na primavera de 2014 [ou seja, imediatamente após a vitória do Euromaidan]. Graças às cópias recebidas, Leshchenko descobriu que as listas de funcionários ucranianos de Yanukovych, contra o qual a UE impôs sanções pessoais, haviam sido preparadas não em Bruxelas, mas em Kiev, para ser mais preciso — no Escritório Geral do Procurador [naquele momento comandado por Makhnitsky do Svoboda]. E aí está o que surpreendeu Leshchenko: inicialmente 18 pessoas foram incluídas na lista, e mais tarde [a lista] foi suplementada por mais quatro políticos da velha guarda (Serhiy Arbuzov, Oleksandr Klymenko, Yuriy Ivaniushchenko e Eduard Stavytsky). Mas figuras odiosas como o antigo chefe da administração presidencial, Serhiy Lovochkin, o magnata do gás e parceiro da RosUkrEnergo, Dmytro Firtash, o ex primeiro ministro deputado Yuriy Boyko, que “se distinguiu” com um acordo para adquirir equipamentos de perfuração para a produção de petróleo (o caso multimilionário de dólares conhecido como ‘Equipamentos de Boyko’), e Serhiy Kliuev não foram inclusos na lista negra fornecida por Makhnitsky [na posição de Procurador Geral]. “Isso pode ser evidência de uma conspiração entre o [partido] Svoboda e esse grupo [de oligarcas]”, Leshchenko explicou e especificou: “Naquele momento Poroshenko não era o presidente ainda. Como resultado, Bruxelas tendo recebido a lista de Makhnitsky em março de 2014, bloqueou os fundos e ativos dos companheiros-de-luta de Yanukovych—aqueles que caíram sob suspeita de ‘roubar fundos do estado’. Mas Firtash, Lovochkin, Boyko e Kliuev continuaram—como se fossem ‘Esquadrões de César’ — para além de qualquer suspeita.”[214]

Amizades inesperadas: cooperação de ultranacionalistas ucranianos com agentes russos

Certamente, a proteção dos interesses empresariais pelo Procurador Geral de um país não é incomum na política pós-soviética. No entanto, nesse caso, o representante de um partido estridentemente anti-russo e manifestadamente ultranacionalista, Oleh Makhnitsky do Svoboda, estava aparentemente blindando de sanções certos oligarcas e políticos que tinham perfis publicamente pró-russos e relações conhecidas com Moscou.

A extrema-direita ucraniana e atores políticos relacionados à Rússia

Em razão da vitória da pró-ocidental Revolução da Dignidade e do começo da Guerra Russo-Ucraniana em 2014, a maior parte dos contatos internacionais existentes da extrema-direita ucraniana foram cortados, inclusive aqueles com parceiros na Rússia. Rapidamente, contudo, novas relações internacionais passaram a ser estabelecidas, principalmente com o cada vez mais ambicioso Batalhão Azov. Existem várias razões para esse novo desenvolvimento e para o papel do Batalhão Azov como o principal agente internacional da extrema-direita ucraniana. Ele pode ser explicado, entre outras razões, pela relativa juventude dos seus líderes, da não-conformidade no seu discurso moderno e de haver uma cisão da imagem do movimento Azov com relação ao discurso nacionalista ucraniano mainstream mais tradicionalista e introvertido.

Shariy e Azov

Uma faceta curiosa do movimento Azov foi, por certo período, o surpreendente tratamento neutro que ele recebeu nos videoblogs feitos em língua russa do notório blogger anti-Maidan Anatoliy Shariy. O popular comentarista tem um partido próprio que leva seu nome, na Ucrânia. Ainda assim ele vive fora do país e é sempre acusado de implementar uma agenda política inspirada pelo Kremlin através da Internet [215].

A despeito das posições normalmente tidas como anti-nacionalistas e, alguns diriam, anti-ucranianas de Shariy, seus primeiros comentários sobre o Batalhão Azov eram ambivalentes, documentais e sem julgamentos, em flagrante contraste com a ideologia geral de seus amplamente assistidos vídeos. Shariy também criticou os oponentes do Batalhão Azov e forneceu uma plataforma para representantes do Azov responderem a críticas negativas no que diz respeito às atividades do movimento [216]. No começo de 2018, o programa de Shariy realizou uma entrevista com Eduard Yurchenko, um dos principais ideólogos do movimento azovista [217]. Yurchenko lidera a ala conservadora do movimento, Orden (Ordem), a qual possui conexões com o partido Svoboda e o grupo “Tradição e Ordem”.

Em 2017, Shariy liberou dois vídeos que podem ser vistos como apologias parciais das atividades dos National Corps, o grupo miliciano de vigilantes desarmado e extra-governamental do Batalhão Azov. Um de seus vídeos incluía uma breve entrevista com o exilado político russo Aleksei Levkin, um membro do Centro Russo e um dos auto-proclamados ideólogos dos National Corps (ver acima). Antes de se mudar para a Ucrânia, Levkin foi um membro do partido Russkoe Natsional’noe Edinstvo (RNE), ou Unidade Nacional Russa. O RNE foi fundado nos anos 90 e era a mais conhecida organização política abertamente neonazista da Rússia, usando uma suástica vermelha como seu principal símbolo [218].

Numerosos voluntários paramilitares russos da Unidade Nacional Russa/RNE tomaram parte ativa no conflito do Donbass [219]. Um dos primeiros líderes ucranianos do movimento separatista no Leste da Ucrânia na Primavera de 2014 e o primeiro assim chamado “governador popular” de Donetsk foi Pavlo Gubarev (em russo: Pavel Gubarev). Ainda que nascido na Ucrânia e um cidadão ucraniano, Gubarev é um ultranacionalista russo. Ele foi antes de ser governador um membro do braço russo da Unidade Nacional Russa/RNE e recebeu treinamento em um de seus acampamentos. Existem fotos e vídeos de Gubarev em seu uniforme da Unidade Nacional Russa/RNE, envergando sua suástica vermelha [220].

Desde que chegaram na Ucrânia, os antigos membros da Unidade Nacional Russa/RNE e atualmente ativistas do movimento azovista, Levkin e Korotkikh, aparentemente deixaram para trás os aspectos anti-ucranianos da ideologia da Unidade Nacional Russa/RNE. Durante a fase de seu maior interesse pelo movimento de Biletsky, Shariy focou suas entrevistas com membros do Azov naqueles que eram menos proeminentes que Levkin ou Yurchenko. Ele falou com membros mais baixos na hierarquia do Batalhão Azov, os quais podem ter travado contato com ou sem aprovação da liderança do movimento [221]. Desde 2018, porém, Shariy mudou seu tom para ativamente criticar o movimento do Batalhão Azov. Desde 2020, após a formação e ativação do Partido Shariy, um grande número de conflitos e escaramuças ocorreram em várias partes da Ucrânia entre os membros do Batalhão Azov e apoiadores do Partido Shariy. Esses confrontos estavam mais alinhados com as ideologias oficiais do Azov e do Shariy e não representavam mais fenômenos paradoxais.

Outra peculiaridade foi o relativamente baixo nível de ativismo público do movimento azovista voltado contra demonstrações públicas comunistas e/ou pró-Russas na Ucrânia. Por exemplo, entre Maio de 2015 e Outubro de 2018 ocorreram cerca de 1.535 ações públicas do movimento do Batalhão Azov, como documentado no projeto de pesquisa por um dos autores do presente estudo. Todavia, apenas 51 foram direcionadas contra forças ou valores comunistas e pró-russas na Ucrânia. Isso é, em termos relativos, um número surpreendentemente pequeno de ações dessa natureza para um movimento ultranacionalista ucraniano [222].

Também devemos apontar que o movimento azovista recebeu atenção e publicidade de Dmytro Hordon (em russo: Dmitrii Gordon), um famoso jornalista ucraniano no espaço midiático pós-soviético. Em um episódio de seu programa, “Noite com Dmitrii Gordon”, o jornalista entrevistou extensivamente Andriy Biletsky [223], o líder do Batalhão Azov, o qual Hordon descreveu como um “homem muito esperto e sábio”. O Hordon conduziu suas entrevistas em russo, e foi um comentador ativo nos já mencionados canais de TV favoráveis à Rússia, NewsOne e 112.ua [224]. Esses antigos canais de mídia, agora fechados, estavam sob controle direto ou indireto de oligarcas pró-russos. Em suas abordagens do radicalismo de direita ucraniano, Hordon criticou o partido Svoboda e o Pravy Sektor (Setor Direito). Em contraste, Biletsky foi caracterizado por Hordon como um patriota da Ucrânia: “A maior parte dos nacionalistas são pessoas normais, mas costumamos ter problemas com líderes nacionalistas. Nós temos também, porém, bons líderes nacionalistas, como Andriy Biletsky, por exemplo” [225].

Illia Kyva, o OPPZh e a extrema-direita ucraniana

Outro caso de cooperação paradoxal entre os radicais de direita ucranianos e atores pró-russos na Ucrânia diz respeito a Illia Kyva, um deputado da Verkhovna Rada desde 2019 do partido Opozytsiyna Platforma – Za zhyttia (Plataforma de Oposição – Pela vida) (OPZZh). Desde 2019, Kyva se tornou amplamente conhecido na Ucrânia em razão de numerosos escândalos (um deles sendo um vídeo mostrando Kyva se masturbando no parlamento). Em 2014, Kyva se tornou major de polícia e foi nomeado comandante do Serviço de Patrulha Policial Especial Batalhão “Poltava”, mais tarde renomeado como “Poltavshchyna” [226]. Em 10 de Dezembro de 2014, por ordem do Ministro do Interior Arsen Avakov (no cargo entre 2014 e 2021), Kyva foi nomeado representante chefe do Departamento Regional do Ministério de Assuntos Internos na região de Donetsk [227]. Nesse cargo, ele foi um dos primeiros entre os administradores de departamentos regionais do Ministério de Assuntos Internos a usar o banco de dados do notório projeto “Myrotvorets” (Pacificador), o qual lista pessoas tidas como inimigas da Ucrânia [228].

Nos anos seguintes, Kyva ostentava com orgulho e publicamente a sua amizade com Dmytro Korchinsky, membro do Bratstvo, o qual ele conheceu em 2014 [229]. Por exemplo, Kyva viajou com Korchinsky para Florença, o chamando de seu “amigo” [230]. Em 2017, Kyva declarou em uma entrevista com Oleksandr Lirchuk que ele estava “pronto para praticar violência sob a orientação do [Ministro do Interior Arsen] Avakov e [Dmytro] Korchinsky” [231]. Em uma entrevista televisiva concedida a Natalia Vlashchenko, televisionada em Abril de 2017, Kyva revelou o seguinte: “No geral eu gosto de falar com Korchinsky. […] Se eu tenho tempo livre, eu tento passar com ele. […] Ele não é só um amigo para mim, ele é um professor também para mim em alguma medida” [232].

Em Março de 2014, Kyva começou a liderar o braço do Pravy Sektor em Poltava e também se tornou o líder regional do Pravy Sektor para a Ucrânia oriental, abrangendo os oblasts Poltava, Kharkiv, Donetsk e Lugansk [233]. Ao mesmo tempo, ele funcionava como um representante do candidato presidencial Dmitri Yarosh na lida com autoridades públicas, governos locais e outras entidades legais na Ucrânia durante a campanha eleitoral [234]. Então, de Outubro de 2016 a Junho de 2017, Kyva foi conselheiro do Ministro do Interior, o linha-dura Arsen Avavkov [235].

Mais tarde, a carreira política de Kyva virou no sentido totalmente oposto. Nas eleições parlamentares de 21 de Julho de 2019, ele saiu candidato pelo mais importante partido pró-Rússia da Ucrânia: o OPZZh [236]. Isso foi uma jogada peculiar já que tanto o “conselho político interno” quanto o “conselho estratégico” são liderados por Viktor Medvedchuk (para mais sobre ele, ler acima) , dada a carreira política anterior de Kyva. De 24 de Julho a Agosto de 2019, Kyva foi o apresentador do programa de televisão “Pergunte ao Kyva”, no canal ZIK —um canal que se acredita ser controlado por Medvedchuk [237]. No dia 21 de Janeiro de 2020, durante uma conferência em Poltava da qual participaram os líderes do OPZZh, Medvedchuk e Vadym Rabinovych, Kyva foi eleito chefe da seção de Poltava do OPZZh [238].

No dia 15 de Junho de 2020, Kyva apresentou seu novo movimento social, “Patriotas – para vida toda”, um braço paramilitar e jovem do OPZZh [239]. Desde sua fundação em Junho de 2020, os “Patriotas – para vida toda” se envolveram em vários conflitos com membros do Batalhão Azov [240]. Como mencionado acima, em 3 de Fevereiro de 2021, os National Corps atacaram um ônibus com ativistas do “Patriotas – Para vida toda” próximo a Kharkiv [241]. No verão de 2021, o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) iniciou uma investigação sobre a organização de Kyva [242].

A publicação deste artigo foi dividida em cinco partes, acessíveis nos links abaixo à medida em que forem publicados:
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 5

A tradução se deve ao grupo Camarilha Rachada.

Notas

[159] Anteriormente sobre a cooperação entre Dugin e Korchinsky, Andrea Umland em, “Dobrovol’cheskie vooruzhennye formirovaniya i radikal’nyi natsionalizm v poslemaidannoi Ukraine: nekotorye osobennosti vozniknoveniia polka ‘Azov’,” Forum noveishei vostochnoevropeiskoi istorii i kul’tury 12:1 (2016): 141-178. Os seguintes pontos são baseados parcialmente em: Umland, “Irregular Militias and Radical Nationalism in Post-Euromaidan Ukraine.”
[160] “Hard z Vlashchenko: Dmytro Korchynsʹkyy, literator,” ZIK channel, 3 de Junho de 2017, https://www.youtube.com/watch?v=Z-s5nIIL4Os.
[161] M. Balutenko and V. Pribylovskii, Kto est’ kto v politike na Ukraine: Biograficheskii sbornik (Мoskva: Panorama, 2007): 141-143.
[162] Balutenko and Pribylovskii, Kto est’ kto v politike na Ukraine, p. 143. Veja também: A. Pridonov, “Dmitrii Korchinskii otvetit za Chechniu,” Utro.ru, 20 de Março de 2006, http://ukraina.utro.ru/articles/2006/03/20/531851.shtml.
[163] “Korchyns’kyy pislia shturmu Bankovoi vyikhav do Rosii, a polkovnyk ‘Berkutu’ mih zaymatysia provokatsiiamy,” TSN, 5 de Dezembro de 2013, http://tsn.ua/politika/korchinskiy-pislya-shturmu-bankovoyi-viyihav-do-rosiyi-a-polkovnik-berkutu-mig-zaymatisya-provokaciyami-323778.html; “Lidera ‘Bratstva’ Dmitriia Korchinskogo zaderzhali v Izraile,” UNIAN, 7 de Fevereiro de 2014, http://www.unian.net/politics/881762-lidera-bratstva-dmitriya-korchinskogo-zaderjali-v-izraile.html.
[164] “Dmytro Korchinsky skype,” YouTube, 8 de Dezembro de 2013, https://www.youtube.com/watch?v=BzGabLUMcQM (não está mais acessível publicamente).
[165] Rudling, “The Cult of Roman Shukhevych in Ukraine.”
[166] Umland, “Irregular Militias and Radical Nationalism in Post-Euromaidan Ukraine.” [167] “Evraziiskii antioranzhevyi front,” Evrazia.org 23 de Maio de 2005, http://evrazia.org/modules.php?name=News&file=article&sid=2242.
[168] Andreas Umland, “Fashistskii drug Vitrenko: strannyi soiuz mezhdu ukrainskim ‘progressivnym sotsializmom’ i rossiiskim ‘neoevraziistvom’,” Ukrainskaia Pravda, 26 de Outubro de 2006, http://pravda.com.ua/ru/news/2006/9/27/46953.htm; idem, “Aleksandr Dugin, evropeiskii fashizm i Vitrenko: chto obshchego?” Ukrainskaia Pravda, 20 de Julho de 2007, http://pravda.com.ua/news/2007/7/20/61687.htm.
[169] Em 11 de Maio de 2020, Vitrenko ainda era, entre outros, mencionada na lista de membros do Alto Conselho do MEI: http://med.org.ru/article/1908.
[170] “Korchinskii i Vitrenko budut gal’vanizirovat polutrupy,” Ukrainskaia pravda, 18 de Fevereiro de 2015. www.pravda.com.ua/rus/news/2005/02/18/4385803/; “Korchinskii and Vitrenko v vysshem sovete Evraziiskogo Soiuza Molodezhyi,” Politicheskoe obozrenie, n. d., https://politobzor.net/27801-korchinskiy-i-vitrenko-v-vysshem-sovete-evraziyskogo-soyuza-molodezhi.html.
[171] Andreas Umland, “Russia’s New ‘Special Path’ After the Orange Revolution: Radical Anti-Westernism and Paratotalitarian Neo-Authoritarianism in 2005-8,” Russian Politics & Law 50:6 (2012): 19-40.
[172] Sobre Dugin, em ordem cronológica, nos anos 2000: Leonid Liuks [Luks], “‘Tretii put’,’ ili nazad v Tretii Reikh?” Voprosy filosofii 5 (2000): 33-44; idem, “Zum ‘geopolitischen’ Programm Aleksandr Dugins und der Zeitschrift Ėlementy – eine manichäische Versuchung,” Forum für osteuropäische Ideen- und Zeitgeschichte 6:1 (2002): 43-58; Andreas Umland, “Toward an Uncivil Society? Contextualizing the Recent Decline of Parties of the Extreme Right Wing in Russia,” Demokratizatsiya 10:3 (2002): 362-391; idem, “Formirovanie fashistskogo ‘neoevraziiskogo’ dvizheniia v Rossii: Put’ Aleksandra Dugina ot marginal’nogo ekstremista do ideologa postsovetskoi akademicheskoi i politicheskoi elity, 1989-2001 gg.,” Ab Imperio 3 (2002): 289-304; idem, “Kulturhegemoniale Strategien der russischen extremen Rechten: Die Verbindung von faschistischer Ideologie und gramscistischer Taktik im ‘Neoeurasismus’ des Aleksandr Dugin,” Österreichische Zeitschrift für Politikwissenschaft 33:4 (2004): 437-54; Leonid Luks, “Eurasien aus neototalitärer Sicht – Zur Renaissance einer Ideologie im heutigen Rußland,” Totalitarismus und Demokratie 1:1 (2004): 63-76; Andreas Umland, “Postsowjetische Gegeneliten und ihr wachsender Einfluss auf Jugendkultur und Intellektuellendiskurs in Russland: Der Fall Aleksandr Dugin 1991-2004,” Forum für osteuropäische Ideen- und Zeitgeschichte 10:1 (2006): 115-47; John B. Dunlop, “Aleksandr Dugin’s ‘Neo-Eurasian’ Textbook and Dmitrii Trenin’s Ambivalent Response,” Harvard Ukrainian Studies 25:1-2 (2001): 91-127; Markus Mathyl, “Der ‘unaufhaltsame Aufstieg’ des Aleksandr Dugin: Neo-Nationalbolschewismus und Neue Rechte in Russland,” Osteuropa 52:7 (2002): 885-900; idem, “The National-Bolshevik Party and Arctogaia: Two Neo-fascist Groupuscules in the Post-Soviet Political Space,” Patterns of Prejudice 36:3 (2003): 62-76; Stefan Wiederkehr, “‘Kontinent Evrasija’ – Klassischer Eurasismus und Geopolitik in der Lesart Alexander Dugins,” in: Markus Kaiser, ed., Auf der Suche nach Eurasien: Politik, Religion und Alltagskultur zwischen Russland und Europa (Bielefeld: Transcript, 2004): 25-138; Marlen Lariuel’ [Marlène Laruelle], “Aleksandr Dugin, ideologicheskii posrednik,” in: Aleksandr Verkhovskii, ed., Tsena nenavisti: Natsionalizm v Rossii i protivodeistvie rasistskim prestupleniiam (Moskva: Sova, 2005), 226-253; Marlène Laruelle, “Aleksandr Dugin: A Russian Version of the European Radical Right?” Kennan Institute Occasional Papers 294 (2006) http://www.wilsoncenter.org/news/docs/OP294.pdf; idem, “(Neo)evraziitsy i politika: ‘vkhozhdenie’ v gosstruktury i bezrazlichie k obshchestvennomu mneniiu?” Vestnik Evrazii – Acta Eurasica 1(31) (2006): 30-43; Alexander Höllwerth, Das sakrale eurasische Imperium des Aleksandr Dugin: Eine Diskursanalyse zum postsowjetischen russischen Rechtsextremismus (Stuttgart: ibidem-Verlag, 2007); Anton Shekhovtsov, “The Palingenetic Thrust of Russian Neo-Eurasianism: Ideas of Rebirth in Aleksandr Dugin’s Worldview,” Totalitarian Movements and Political Religions 9:4 (2008): 491-506; Marlene Laruelle, Russian Eurasianism: An Ideology of Empire (Washington, DC: Woodrow Wilson Press/The John Hopkins University Press, 2008); Anton Shekhovtsov, “Aleksandr Dugin’s Neo-Eurasianism: The New Right à la Russe,” Religion Compass 3:4 (2009): 697-716.
[173] Andreas Umland, “Vitrenko’s Flirtation with Russian ‘Neo-Eurasianism’,” Kyiv Post, 4 de Junho de 2007. www.kyivpost.com/article/opinion/op-ed/vitrenkos-flirtation-with-russian-neo-eurasianism-26787.html
[174] Anton Barbashin e Hannah Thorburn, “Putin’s Brain: Alexander Dugin and the Philosophy behind Putin’s Invasion of Crimea,” Foreign Affairs, 31 de Março de 2014. https://www.foreignaffairs.com/articles/russia-fsu/2014-03-31/putins-brain; Anton Shekhovtsov, “Putin’s Brain?” Eurozine, 12 September 2014. www.eurozine.com/putins-brain/; Marlene Laruelle, ed., Eurasianism and the European Far Right: Reshaping the Europe-Russia Relationship (Lanhan, MD: Lexington Books, 2015); Kirill Kalinin, “Neo-Eurasianism and the Russian Elite: The Irrelevance of Aleksandr Dugin’s Geopolitics,” Post-Soviet Affairs 35:5-6 (2019): 461-470; Andreas Umland, “Alexandr Dugin: Kreuzzug gegen den Liberalismus und Verbindungen nach Deutschland,” in: Christoph Becker and Ralf Fücks, eds., Das alte Denken der Neuen Rechten: Die langen Linien der antiliberalen Revolte (Berlin: Zentrum Liberale Moderne, 2019): 109-120.
[175] Sobre, por exemplo, o fascismo de Evola e sua importância para Dugin, veja a discussão em: Mark Sedgwick, Against the Modern World: Traditionalism and the Secret Intellectual History of the Twentieth Century (New York: Oxford University Press, 2004); A. James Gregor, “The Problem,” in: Roger Griffin and Matthew Feldman, eds., Fascism. Vol. I: The Nature of Fascism (London and New York: Routledge, 2004), 339-340; Andreas Umland, “Dugin kein Faschist? Eine Erwiderung an Professor A. James Gregor;” A. James Gregor, “Andreas Umland and the ‘Fascism’ of Alexander Dugin;” Andreas Umland, “Some Addenda on the Relevance of Extremely Right-Wing Ideas in Putin’s New Russia;”A. James Gregor, “Response to Dr. Andreas Umland;”Andreas Umland, “Classification, Julius Evola and the Nature of Dugin’s Ideology;” A. James Gregor, “Once Again on Fascism, Classification, and Aleksandr Dugin,” in: Roger Griffin, Werner Loh and Andreas Umland, eds., Fascism Past and Present, West and East: An International Debate on Concepts and Cases in the Comparative Study of the Extreme Right (Stuttgart: ibidem-Verlag, 2006): 459-499; Anton Shekhovtsov and Andreas Umland. “Is Aleksandr Dugin a Traditionalist? ‘Neo-Eurasianism’ and Perennial Philosophy,” The Russian Review 68:4 (2009): 662-678.
[176] Havia também um contato entre Dugin e uma das teóricas ideológicas do movimento Azov, a filósofa Olena Semeniaka. No entanto, parece ter sido apenas um único encontro e uma breve comunicação entre Dugin e Semeniaka, motivo pelo qual essa conexão não é profundamente explorada aqui. Veja: Leonids Ragozins [Leonid Ragozin], “Why did we write this,” Re:Baltica, 13 de Dezembro de 2019, en.rebaltica.lv/2019/12/why-did-we-write-this/; Nonjon, “Olena Semenyaka.”
[177] Andreas Umland, “Pathological Tendencies in Russian ‘Neo-Eurasianism:’ The Significance of the Rise of Aleksandr Dugin for the Interpretation of Public Life in Contemporary Russia,” Russian Politics and Law 47:1 (2009): 76-89.
[178] Aleksandr Dugin, Tampliery proletariata (Moskva: Arktogeia, 1997), http://www.my.arcto.ru/public/templars/.
[179] Aleksandr Dugin, Osnovy geopolitik: Geopoliticheskie budushchee Rossii. Myslit’ prostranstvom (Moskva: Evraziia, 2000): 348-349, 799.
[180] Aleksandr Dugin, “Chast’ 5. Vnutrennyaya geopolitika Rossii,” Tsentr konservativnykh issledovanii, 13 September 2009, http://konservatizm.org/konservatizm/books/130909011417.xhtml.
[181] Aleksandr Dugin, “Viktor Yushchenko kak zerkalo rossiyskoi geopolitiki,” RG.ru, 26 de Janeiro de 2005, https://rg.ru/2005/01/26/yushenko-geopolitika.html.
[182] Aleksandr Dugin, “Razmezhevanie Ukrainy – geopoliticheskaia neobkhodimost’,” Mezhdunarodne evraziiskoe dvizhenie, 22 de Agosto de 2006. med.org.ru/article/3223.
[183] Viktor Shnirel’man, “Evraziya ili Evropa? Rol’ Ukrainy v evraziiskom i Evrazii v ukrainskom diskurse,” Forum noveshei vostochnoevropeiskoi istorii i kul’tury 5:1 (2009): 141.
[184] “Korchinskii: U slavian – obshchee budushchee, esli ono voobshche est’,” Censor.net, 11 de Novembro de 2005, https://censor.net.ua/resonance/2162/korchinskiyi_u_slavyan__obschee_buduschee_esli_ono_voobsche_est_rosbalt.
[185] “Korchinskii nauchil rossiiskikh ‘nashikh’ borot’sia s revoliutsiei,” Censor.net, 27 de Julho de 2005, https://censor.net.ua/resonance/1689/korchinskiyi_nauchil_rossiyiskih_quotnashihquot_borotsya_s_revolyutsieyi_gazetaru.
[186] “Korchinskii nauchil rossiiskikh ‘nashikh’ borot’sia s revoliutsiei.”
[187] “V Moskve zaderzhany Limonov, Korchinskiy i s”emochnaia gruppa telekanala ‘1+1’,” Podrobnosti, 2003, https://podrobnosti.ua/91773-v-moskve-zaderzhany-limonov-korchinskij-i-semochnaja-gruppa-telekanala-11.html.
[188] Eduard Limonov, “Izvini, Dmitro!” Livejournal, 6 de Dezembro de 2013, https://limonov-eduard.livejournal.com/402436.html.
[189] Grytsenko, “Ukrainskie sviazi Boevoi organizatsii russkikh natsionalistov.”
[190] “Korchinskii: U slavian – obshchee budushchee, esli ono voobshche est’.”
[191] “Korchinskii: U slavian – obshchee budushchee, esli ono voobshche est’.”
[192] “HARD z Vlashchenko: Dmytro Korchynsʹkyy, literator,” Telekanal ZIK, 3 de Junho de 2017, https://www.youtube.com/watch?v=Z-s5nIIL4Os.
[193] “‘Bratstvo’ ob”iavilo rozysk vandalov iz Evraziyskogo soiuza molodezhi,” Liga.net, Outubro de 2007, https://news.liga.net/politics/news/bratstvo-obyavilo-rozysk-vandalov-iz-evraziyskogo-soyuza-molodezhi.
[194] “Blokuvannia telekanalu ZIK: Iak vse rozpochynalosia,” ZIK, 3 March2018, https://zik.ua/news/2018/03/28/blokuvannya_telekanalu_ziku_yak_vse_rozpochynalosya_1294755; “Korchynsʹkyy zaiavyv pro piketuvannia telekanalu ZIK,” Slovo i Dilo, 3 de Março de 2018,https://www.slovoidilo.ua/2018/03/28/novyna/suspilstvo/Korchinskyj-zayavyv-pro-piketuvannya-telekanalu-zik.
[195] “‘Natsionalʹni Druzhyny’ vzialy pid okhoronu telekanal ZIK,” Ukrains’ka Pravda, 3 de Março de 2018, https://www.pravda.com.ua/news/2018/03/27/7175935/; Evhen Krapyvin, “Telekanal ZIK pid okhoronoiu ‘Natsdruzhyn’: iaki povnovazhennia ta shcho dozvoleno aktyvistam?” Slovo i Dilo, 3March 2018, https://www.slovoidilo.ua/2018/03/28/pogljad/suspilstvo/telekanal-zik-oxoronoyu-naczdruzhyn-yaki-povnovazhennya-ta-dozvoleno-aktyvistam.
[196] “Vlasnyk ‘112’ i NewsOne Kozak kupyv Zik – kilʹka zhurnalistiv zaiavyly pro zvilʹnennia,” Radio Svoboda, 9 de Junho de 2019, https://www.radiosvoboda.org/a/news-kozak-kupyv-zik/29999891.html; “Vlasnyk ‘112 Ukraina’ ta NewsOne kupyv ishche y telekanal ZIK,” Ukrinform, 14 de Junho de 2019, https://www.ukrinform.ua/rubric-society/2721693-vlasnik-112-ukraina-ta-newsone-kupiv-ise-j-telekanal-zik.html.
[197] Valeriy Saakov, “Aktsiiu pid ofisom Viktora Medvedchuka provodyv ‘Natskorpus’,” Deutsche Welle, 23 May 2020, https://www.dw.com/uk/aktsiiu-pid-ofisom-viktora-medvedchuka-provodyv-natskorpus/a-53545845.
[198] Ex.: NewsOne. https://www.youtube.com/c/newsoneua/search?query=азов;
[199] Ex.: “Otsinka hromadianam sytuatsii v kraini, riven’ doviry do sotsial’nyk instytutiv ta politykiv, elektoral’ni orientatsii hromadian (zhovten’-lystopad 2020 r.),” Razumkov tsentr, 10 de Novembro de 2020, https://razumkov.org.ua/napriamky/sotsiologichni-doslidzhennia/otsinka-gromadianamy-sytuatsii-v-kraini-riven-doviry-do-sotsialnykh-instytutiv-ta-politykiv-elektoralni-oriientatsii-gromadian-zhovten-lystopad-2020r.
[200] Ex.: “‘Azov’ ne soglasen s provdeniem vyborov na okkupirovannykh territoriiakh,” NewsOne, 20 May 2016 www.youtube.com/watch?v=lt0DhHKQGKQ.
[201] Veja: Natsional’nyi korpus, https://nationalcorps.org/?s=коротких.
[202] Franklin Foer, “The Quiet American,” Slate, 28 de Abril de 2016. https://slate.com/news-and-politics/2016/04/paul-manafort-isnt-a-gop-retread-hes-made-a-career-of-reinventing-tyrants-and-despots.html#lf_comment=500595474; “Ukrainsʹki ‘druzi’ Manaforta: khto, koly i za iaki hroshi naymav polittekhnoloha,” BBC Ukraine, 30 de Julho de 2018, https://www.bbc.com/ukrainian/features-45003132; “The Mueller Report’s Secret Memos,” BuzzFeed.News, 3 de Novembro de 2019, https://www.buzzfeednews.com/article/jasonleopold/mueller-report-secret-memos-1.
[203] Christopher Miller e Mike Eckel, “On the Eve of His Trial: A Deeper Look Into How Paul Manafort Elected Ukraine’s President,” Radio Free Europe – Radio Liberty,27 de Julho de 2018, https://www.rferl.org/a/on-eve-of-trial-a-deeper-glimpse-into-how-paul-manafort-elected-ukraine-s-president/29394601.html.
[204] “Khroniky ‘Svobody’,” Chesno, 1 de Janeiro de 2020, https://www.chesno.org/post/3763/. [205] “Leshchenko: U ‘chorniy bukhhalterii’ Partii rehioniv e platezhi dlia partii ‘Svoboda’,” Hromadske.ua, 19 August 2016, https://hromadske.ua/posts/leshchenko-u-chornii-bukhhalterii-partii-rehioniv-ie-platezhi-dlia-partii-svoboda.
[206] Vitaliy Atanasov, “Osoblyvosti natsional-radykal’noi dzhynsy,” Spil’ne, 13 de Maio de 2011, https://commons.com.ua/uk/osoblivosti-natsional-radikalnoyi-dzh/.
[207] Serhei Shcherbina, “Politychni tok-shou: Iak vony tse robliat’?” Ukrains’ka Pravda, 7 de Junho de 2011, http://www.pravda.com.ua/articles/2011/06/7/6275793/.
[208] Anton Shekhovtsov, “Vseukrainskoe ob’’edinenie ‘Svoboda’: Problema legitimnosti bor’by za vlast’,” Forum noveishei vostochnoevropeiskoiistorii i kul’tury 10:1 (2013): 22-63. Coleta de dados encerrou em 5 de Maio de 2012.
[209] Serhiy Vasylchenko, “‘Svoboda’ proty vsikh: korotkyy ohliad rezulʹtativ radykalʹnykh pravykh na vyborakh 1994-2012 rr.,” Ukranian Centre of Social Data, 2016, https://socialdata.org.ua/svoboda-proti-vsikh-korotkiy-oglyad-r/.
[210] Umland, “The Far Right in Pre- and Post-Euromaidan Ukraine.”
[211] Dmytro Shurkhalo, “Slantsevyi haz nepokoitʹ ‘Svobodu’ i… Medvedchuka,” Radio Svoboda, 1 de Fevereiro de 2013, https://www.radiosvoboda.org/a/24890573.html.
[212] “‘Svoboda’ proty vydobutku slantsevoho hazu na Donbasi,” UNIAN, 18 de Janeiro de 2013, https://www.unian.ua/politics/740428-svoboda-proti-vidobutku-slantsevogo-gazu-na-donbasi.html. [213] Oleksandr Paskhover, “Shcho soboiu predstavliae VO Svoboda – doslidzhennia NV,” Novoe vremia, 7 de Setembro de 2015, https://nv.ua/ukr/publications/shcho-soboju-predstavljaje-vo-svoboda-doslidzhennja-nv-67371.html.
[214] Paskhover, “Shcho soboiu predstavliae VO Svoboda – doslidzhennia NV.”
[215] “Feiki Shariia. Kak Sharii pokryvaet ubiits ukraintsev. Chast’ 1,” Mil.in.ua, 18 de Julho de 2019, https://mil.in.ua/uk/blogs/fejky-sharyya-kak-sharyj-pokr-d1-8bvaet-ubyjcz-ukraynczev-chast-1/; “Feyki Shariia. Kak Sharii pokryvaet ubiits ukraintsev. Chast’ 2,” Mil.in.ua, 18 Julho 2019, https://mil.in.ua/uk/blogs/fejky-sharyya-razoblachenye-propagandysta-chast-2/.
[216] “‘Azov’ otvechaet Sergeiu,” Anatoliy Shariy, 5 Julho 2018, https://www.youtube.com/watch?v=_qp5ybzq5rg.
[217] “Natskorpus iznutri Ch1,” Anatoliy Shariy, 24 Fevereiro 2018, https://www.youtube.com/watch?v=KY5u4duvMDI.
[218] “‘Natsional’nye druzhiny’. To, chego vam ne pokazali,” Anatoliy Shariy, 29 Janeiro 2018, https://www.youtube.com/watch?v=aQ36dxjY4cg&t=112s.
[219] Vyacheslav Likhachev, “The Far Right in the Conflict between Russia and Ukraine,” Notes del l’Ifri: Russie.Nei.Visons 95 (2016), https://www.ifri.org/en/publications/notes-de-lifri/russieneivisions/far-right-conflict-between-russia-and-ukraine.
[220] Mitrokhin, “Im Namen des Staates: Russische Nationalisten im Ukraine-Einsatz.”
[221] “‘Natsional’nye druzhiny’.”
[222] Dados não publicados coletados por Taras Tasiuk e colegas. A questão problematizada aqui foi discutida em publicações como Ukrainska Pravda ou Obozrevatel, assim como em sites do movimento Azov nas redes sociais como Facebook e Telegram. Note-se que não há dados sobre a dinâmica do período entre Janeiro e Setembro de 2015 e entre Janeiro e Maio de 2018.
[223] “Andrei Biletskii. ‘V gostiakh u Dmitriia Gordona’ (2019),” V gostiakh u Gordona, n. d., https://www.youtube.com/watch?v=paQBjBdAmbY.
[224] “Gordon: Nas mogut zhdat’ bol’shie potriaseniia – Ukraina mozhet raspast’sia,” Nash, 21 Março 2020, https://www.youtube.com/watch?v=5w4n6magrqU.
[225] “Gordon: Bol’shinstvo natsionalistov normal’nye liudi,” 112.UA, 17 Março 2019, https://www.youtube.com/watch?v=1LlGgfIS8e8.
[226] Nadiia Kucher, “Korsun porivniav novostvorenyy batalʹion ‘Poltavshchyna’ iz shtrafbatom,” Kolo.Poltava, 8 Setembro 2014, http://kolo.poltava.ua/novini-poltava/kiva-22726.html.
[227] “Ministr pryznachyv poltavtsia Illiu Kyvu Zastupnykom holovnoho militsionera Donechchyny,” Poltava.to, 10 Dezembro 2014, https://poltava.to/news/31462/.
[228] “Roman Zaytsev: ‘Dlia Kremlia my kost’ v gorle. Ogromnye sily i resursy brosheny na nashe unichtozhenie’,” Fakty, 4 Novembro 2015, https://ukrainenews.fakty.ua/208139-roman-zajcev-dlya-kremlya-my-kost-v-gorle-ogromnye-sily-i-resursy-brosheny-na-nashe-unichtozhenie.
[229] “Illia Kyva rozpoviv pro stosunky z Korchynsʹkym,” Telekanal ZIK, 1 Setembro 2017, https://www.youtube.com/watch?v=bwbqMRfKR3w&ab_channel=%D0%A2%D0%B5%D0%BB%D0%B5%D0%BA%D0%B0%D0%BD%D0%B0%D0%BBZIK.
[230] “Illia Kyva rozpoviv, khto dlia nʹoho Korchynsʹkyy i kudy vin z nym podorozhuie,” Telekanal ZIK, 1 Abril 2017, https://www.youtube.com/watch?v=Kjzva8kw1no&feature=emb_logo&ab_channel=%D0%A2%D0%B5%D0%BB%D0%B5%D0%BA%D0%B0%D0%BD%D0%B0%D0%BBZIK.
[231] “Illia Kyva: Za Korchynsʹkoho ta Avakova ia perehryzu horlo,” Online.UA, 24 Abril 2017, https://www.youtube.com/watch?v=iLAvY3K6b9k&ab_channel=ONLINE.UA.
[232] “Illia Kyva rozpoviv, khto dlia nʹoho Korchynsʹkyy i kudy vin z nym podorozhuye.”
[233] “Iarosh formue novyi pidrozdil ‘Pravoho sektoru’ na skhodi Ukrainy,” UNIAN, 12 Março 2014, https://www.unian.ua/politics/895587-yarosh-formue-noviy-pidrozdil-pravogo-sektoru-na-shodi-ukrajini.html.
[234] “‘Kyva soldatom nikoly ne buv’: holova ‘NatsKorpusu’ rozpoviv, khto z politykiv zaymavsia ‘viisʹkovym turyzmom’,” 5.ua, 4 Junho 2020, https://www.5.ua/suspilstvo/kyva-soldatom-nikoly-ne-buv-holova-natskorpusu-rozpoviv-khto-z-politykiv-zaimavsia-viiskovym-turyzmom-216584.html.
[235] “Avakov, Kyva i pryvatnyy zahin pid krylom MVS (‘SKHEMY’ | VYPUSK № 186),” Radio Svoboda, 25 Setembro 2018, https://www.radiosvoboda.org/a/schemes/29509362.html.
[236] “Kyva Illia Volodymyrovych”, CVK.gov.ua, https://www.cvk.gov.ua/pls/vnd2019/wp407pt001f01=919pf7201=16838.html.
[237] “Prem’era: Zapytay Kyvu”, Telekanal ZIK, 24 Setembro 2019, https://www.youtube.com/watch?v=ehHn5VOvCI0.
[238] “Il’ia Kiva izbran glavoi partiinoi organizatsii g. Poltava,” Zagittya.com.ua, 21 Janeiro 2020, https://zagittya.com.ua/news/novosti/ilja_kiva_izbran_glavoj_partijnoj_organizacii_glpoltava.html.
[239] “Odioznyi Kiva khochet sozdat’ dvizhenie ‘Patrioty — Za zhizn’: podrobnosti i video,” Dsnews.ua, 15 Junho 2020, https://www.dsnews.ua/politics/odioznyy-kiva-hochet-sozdat-dvizhenie-patrioty-za-zhizn–15062020192100.
[240] Evhen Solonyna, “‘Bytva ‘patriotiv’: shcho oznachaiutʹ sutychky mizh orhanizatsiiamy Biletsʹkoho ta Kyvy,” Radio Svoboda, 3 Setembro 2020, https://www.radiosvoboda.org/a/30818339.html.
[241] “Pid Kharkovom aktyvisty Natskorpusu zablokuvaly avtobus z ‘titushkamy Kyvy’, iaki ikhaly na protesty na pidtrymku 112 Ukraina, NewsOne ta ZIK,” NV.ua, 3 Fevereiro 2020, https://nv.ua/ukr/ukraine/events/nackorpus-ne-vipustiv-z-harkova-avtobus-z-titushkami-opzzh-foto-video-novini-ukrajini-50139445.html.
[242] Liza Semko, “SBU exposes pro-Kremlin organization allegedly connected to Ukrainian MP,” Kyiv Post, 3 Agosto 2021, www.kyivpost.com/ukraine-politics/sbu-exposes-pro-kremlin-organization-allegedly-connected-to-ukrainian-mp.html.

As fotos que ilustram este artigo são de Aleksandr Rodchenko (1891 – 1956).

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